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Um Drama na Livónia
Um Drama na Livónia
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Um Drama na Livónia

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About this ebook

O funcionário de um banco é assassinado e a pasta que ele trazia consigo é encontrada vazia. As suspeitas recaem imediatamente sobre o professor Dimitri Nicolef. O advogado Wladimir Yanof, que está noivo de Ilka Nicolef (a filha do professor), foge então da Sibéria para provar a inocência do seu futuro sogro...
LanguagePortuguês
Release dateOct 5, 2015
ISBN9788893158893
Um Drama na Livónia
Author

Julio Verne

Julio Verne (Nantes, 1828 - Amiens, 1905). Nuestro autor manifestó desde niño su pasión por los viajes y la aventura: se dice que ya a los 11 años intentó embarcarse rumbo a las Indias solo porque quería comprar un collar para su prima. Y lo cierto es que se dedicó a la literatura desde muy pronto. Sus obras, muchas de las cuales se publicaban por entregas en los periódicos, alcanzaron éxito ense­guida y su popularidad le permitió hacer de su pa­sión, su profesión. Sus títulos más famosos son Viaje al centro de la Tierra (1865), Veinte mil leguas de viaje submarino (1869), La vuelta al mundo en ochenta días (1873) y Viajes extraordinarios (1863-1905). Gracias a personajes como el Capitán Nemo y vehículos futuristas como el submarino Nautilus, también ha sido considerado uno de los padres de la ciencia fic­ción. Verne viajó por los mares del Norte, el Medi­terráneo y las islas del Atlántico, lo que le permitió visitar la mayor parte de los lugares que describían sus libros. Hoy es el segundo autor más traducido del mundo y fue condecorado con la Legión de Honor por sus aportaciones a la educación y a la ciencia.

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    Um Drama na Livónia - Julio Verne

    centaur.editions@gmail.com

    Capítulo 1 — Fronteira Transposta

    No meio da escuridão da noite, este homem passava como um lobo por entre os blocos de gelo acumulados pelos frios de um longo inverno. As calças forradas, o khalot, espécie de cafetã rugoso de pele de vaca, e o barrete com as abas descidas sobre as orelhas, mal o defendiam dos ataques da brisa áspera. Tinha as mãos e os lábios fendidos pelo cieiro. O frio intenso não lhe deixava dobrar as pontas dos dedos.

    Caminhava no meio de profunda escuridão, debaixo de nuvens pesadas que a todo o momento ameaçavam resolver-se em neve, porque, conquanto já fosse abril, estava-se a uma latitude de cinquenta e oito graus. De modo algum queria parar. A menor demora podia depois impossibilitá-lo de continuar a viagem.

    Entretanto, pelas onze horas da noite, este homem parou, não porque as pernas se lhe recusassem a andar, não porque lhe faltasse o fôlego, nem sucumbisse ao cansaço. A sua energia física correspondia bem à moral, e, com uma voz forte, de um inexprimível acento de patriotismo, exclamou:

    — Enfim... a fronteira... a fronteira livoniana... a fronteira da pátria!

    Com que alegria olhou para o espaço que se estendia diante dele a oeste!

    Com que força firmou o pé sobre a superfície branca do solo, como para nele o deixar gravado no termo desta última jornada!

    É porque vinha de longe, de muito longe — de milhares de verstas¹ —, entre tantos perigos, afrontados pela sua coragem, desafiados pela sua inteligência, vencidos pelo seu vigor e paciência a toda a prova.

    Havia dois meses que, fugindo, se dirigia para o poente, atravessando estepes intermináveis, arriscando-se a voltas perigosas para evitar os postos de cossacos, transpondo rudes e sinuosos desfiladeiros de altas montanhas, aventurando-se até essas províncias centrais do império russo, onde a Polícia exerce tão grande vigilância!

    Enfim, depois de ter, por milagre, escapado a encontros em que podia ter perdido a vida, dizia novamente:

    — A fronteira livoniana... A fronteira!

    Era este então o país hospitaleiro aonde o ausente voltava passados muitos anos, sem ter nada a temer; a terra natal em que a segurança lhe é garantida; onde os amigos o esperam; onde a família lhe vai abrir os braços e uma mulher e filhos estão ansiosos pela sua chegada, a não ser que ele lhes queira dar a alegria de lhes aparecer de surpresa?...

    Não! Só poderá atravessar este país como fugitivo. Procurará alcançar o porto de mar mais próximo. Tentará embarcar sem despertar suspeitas, e não estará seguro sem que o litoral livoniano desapareça ao longe no horizonte.

    — A fronteira! — tinha dito este homem.

    Mas que fronteira seria esta que não era assinalada por nenhum curso de água, nem pela vertente de uma cadeia de montanhas, nem pelo maciço de uma floresta? Não havia ali mais que um traço convencional, sem nenhuma determinação geográfica?

    Efetivamente, era a fronteira que separa o império russo dos territórios da Estónia, Livónia e Curlândia, compreendidos pelo nome de províncias bálticas. E, neste sítio, a linha limítrofe dividia de sul para norte a superfície sólida de inverno e líquida de verão do lago Paipous.

    Quem era este fugitivo, com a idade aproximada de trinta e quatro anos, alto, vigoroso, ombros largos, tronco forte, membros sólidos e passo firme?

    Por debaixo do capuz descido sobre a cabeça escapava-se uma barba loira, forte, e, quando o vento o levantava, poder-se-iam ver dois olhos vivos, cujo brilho o vento glacial não conseguia turvar.

    Cingia-lhe os rins um cinto de grandes pregas, que dissimulava um pequeno saco de coiro onde levava o dinheiro, reduzido a alguns rublos em papel², importância que lhe não chegaria para acudir às exigências de uma viagem de alguma duração.

    O seu fornecimento de viagem completava-se com um revólver de seis tiros, uma faca metida na sua bainha de coiro, um saco com uns restos de comida, uma cabaça meia de schnaps³ e um forte cajado.

    Tanto o saco como a cabaça eram para ele objetos menos preciosos do que as armas, que estava disposto a empregar no caso de ser atacado por feras ou perseguido pelos agentes da Polícia.

    Por isso, viajava somente de noite, com a preocupação constante de chegar sem ser visto a um dos portos do mar Báltico ou do golfo da Finlândia. Até então, durante um percurso tão perigoso, tinha conseguido passar, não obstante não estar munido com porodojna, fornecido pela autoridade militar e cuja apresentação deve ser exigida pelos chefes dos postos militares do império moscovita. Teria, entretanto, a mesma sorte nas proximidades do litoral, onde a vigilância é mais rigorosa?

    Era quase certo que tivessem dado pela sua fuga, e, quer pertencesse aos criminosos de direito comum, quer aos condenados políticos, seria procurado com o mesmo cuidado e perseguido encarniçadamente da mesma forma.

    Com efeito, se a fortuna, até ali favorável, o abandonasse na fronteira livoniana, seria o mesmo que naufragar no porto.

    O lago Peipous, com o comprimento de cerca de cento e vinte verstas por sessenta de largura, é frequentado durante o verão por pescadores que exploram as suas águas abundantes em peixes. A navegação efetua-se por meio de barcos pesados, rudimentar conjunto de troncos de árvores apenas esquadrados, e de tábuas mal aplainadas, barcos chamados struzzes, que transportam para os escoadoiros naturais do lago, até às povoações vizinhas e ao golfo de Riga, cargas de trigo, linho e linhaça.

    Ora, em tal época do ano, e sob latitude de primavera tardia, o lago Peipous não é praticável para embarcações, e um comboio de artilharia podia passar por sobre a sua superfície, endurecida pelos frios de um inverno rigoroso.

    Não era mais do que uma vasta planície eriçada de blocos na parte central, obstruída por enormes massas de gelo nas nascentes dos rios. Tal era o medonho deserto que o fugitivo afrontava a pé firme, orientando-se sem dificuldade. Além disso, conhecia perfeitamente a região e avançava rapidamente, o que lhe permitiria atingir a costa ocidental antes de nascer o sol.

    — Ainda agora são duas horas da manhã! — exclamou ele então. — Basta andar mais umas verstas e encontrarei, com certeza, alguma cabana de pescadores abandonada, onde descanse até à noite. Daqui por diante, já não vou ao acaso neste país.

    Parecia esquecer as fadigas e sentir voltar-lhe a confiança. Se, por infelicidade, os agentes encontrassem de novo a pista que tinham perdido, saber-lhes-ia escapar. O fugitivo, temendo ser surpreendido pelos primeiros clarões da aurora antes de ter atravessado o lago Peipous, impôs-seum último esforço. Reconfortado com um golo de schnaps que tirou da cabaça, tomou uma marcha mais rápida sem fazer nenhuma paragem.

    Pelas quatro horas da manhã, finalmente, apareceram-lhe confusamente no horizonte algumas árvores enfezadas, pinheiros brancos da geada, bétulas e áceres.

    Lá estava a terra firme! Mas, também, seriam ali maiores os perigos. Conquanto a fronteira atravesse o lago Peipous na sua parte mediana, compreende-se que não é nessa linha que estão os postos dos guardas de alfândega. O Governo colocou-os na margem ocidental, aonde os struzzes aportam durante o verão. O fugitivo não o ignorava e por isso não se surpreendeu quando viu brilhar vagamente uma luz através das cortinas de nevoeiro.

    «Aquela luz mexe-se ou não?...», disse consigo mesmo, parando junto de um bloco de gelo. «Se se mexe, é sem dúvida de uma lanterna de mão levada por alguma ronda de guardas em marcha noturna naquela parte do lago, e não convém encontrar-me na sua passagem.»

    Se não se deslocasse, é porque iluminava o interior de algum posto da margem, porque nesta época ainda os pescadores não tinham voltado às suas cabanas, à espera do degelo, que não começava antes da segunda quinzena de abril. A prudência aconselhava-o, em todo o caso, a dirigir-se para a direita ou para a esquerda a fim de não poder ser visto do posto. O fugitivo cortou para a esquerda. Desse lado, tanto quanto podia ver-se através da bruma que se erguia ao sopro da brisa matinal, as árvores pareciam mais cerradas. Poderia, caso fosse perseguido, encontrar lugar onde se escondesse mais facilmente e de onde pudesse depois fugir. Teria ele, contudo, dado uns cinquenta passos, quando se ouviu, da direita, um sonoro — «Quem vive?»

    Este «Quem vive?», exprimido numa pronúncia acentuadamente germânica que se assemelhava ao werda alemão, produziu a mais desagradável impressão naquele a quem foi dirigido. A língua alemã é a mais empregada, se não pelos camponeses, ao menos pelos cidadãos das províncias bálticas.

    O fugitivo não respondeu ao «Quem vive?». Deitou-se de bruços por detrás do bloco de gelo, o que o livrou de ser atingido no peito por um tiro dado logo a seguir. Escaparia contudo ao grupo dos guardas? Não havia dúvida nenhuma de que o tinham sentido. O grito e o tiro indicavam-no bem.

    Entretanto, no meio do nevoeiro cerrado, talvez se julgassem vítimas de uma ilusão. Com efeito, o fugitivo reconheceu que tivera razão para assim pensar, quando ouviu as palavras trocadas pelos guardas ao aproximarem-se.

    Pertenciam a um dos postos do lago Peipous, pobres diabos de uniforme outrora verde mas que com o tempo se tornou amarelo, e que facilmente estendem a mão à gorjeta, certo como é deveras insignificante a paga que lhes dá a tamojna, a alfândega moscovita. Eram dois, que voltavam ao posto, quando lhes pareceu verem uma sombra por entre os blocos.

    — Tens a certeza de que o viste? — dizia um.

    — Tenho — respondeu o outro. — há de ser algum contrabandista que queria entrar na Livónia...

    — Já não era o primeiro deste inverno e verás que não é o último. O outro ainda, naturalmente, vai a correr, porque nunca mais tivemos notícias dele!

    — Safa! — disse o que tinha atirado. — Quase que se não pode atirar no meio de tal nevoeiro e lamento não ter prostrado o homem..., porque um contrabandista traz sempre a cabaça cheia... Podíamos partilhar como bons amigos...

    — E é que não há nada melhor para compor o estômago — acrescentou o outro.

    Os guardas continuaram as suas buscas, cuidadosamente, pensando, sem dúvida, mais em se aquecerem com um copo de schnaps ou vodka do que em capturarem um transgressor da lei. Todas as tentativas foram, porém, inúteis.

    O fugitivo, logo que os julgou suficientemente distanciados, retomou a marcha, dirigindo-se para a margem, e, antes de amanhecer, encontrou abrigo numa cabana deserta, a três verstas ao sul do posto.

    A prudência aconselhava-lhe sem dúvida que velasse durante o dia, e ficasse em observação, para estar prevenido contra toda a aproximação suspeita, e preparado mesmo para fugir, se os guardas levassem as suas buscas até à cabana. Mas, morto de cansaço, este homem, apesar da sua tenacidade, não pôde resistir ao sono.

    Deitou-se a um canto, embrulhado no gabão, e adormeceu profundamente, acordando a altas horas do dia.

    Eram com efeito três horas da tarde. Por felicidade, os guardas não tinham saído do posto, contentando-se com o tiro que haviam disparado durante a noite e muito dispostos a admitir terem-se enganado.

    O fugitivo só tinha que se felicitar por ter escapado a este primeiro perigo, no momento em que acabava de passar a fronteira do seu país.

    Uma vez acordado, satisfeita a necessidade de dormir, o fugitivo ocupou-se de saciar a vontade que tinha de comer. Alguns mantimentos que o saco continha chegavam para lhe garantir uma ou duas refeições.

    Seria preciso renová-los na próxima paragem, assim como o schnaps, de que havia bebido as últimas gotas que a cabaça continha.

    «Os camponeses nunca me repeliram», disse ele consigo mesmo, «e os da Livónia não repelirão um eslavo como eles.»

    Tinha razão, mas era preciso que a sorte o não levasse a casa de algum estalajadeiro de origem germânica, como há tantos nestas províncias. Estes não faziam a um russo o acolhimento que ele encontraria entre os camponeses do império moscovita.

    Demais a mais, o fugitivo não ia implorar caridade no seu caminho. Ainda lhe restavam alguns rublos, que lhe permitiriam satisfazer as suas necessidades, até ao termo da viagem, na Livónia pelo menos. É verdade que depois, para embarcar, precisava de dinheiro. Mas disso trataria ele mais tarde. O essencial era chegar, sem ser preso, a um dos portos do litoral no golfo da Finlândia ou do mar Báltico, e era para esse fim que deviam tender todos os seus esforços.

    Logo que a escuridão lhe pareceu suficiente — pelas sete horas da noite —, depois de ter preparado o revólver, o fugitivo saiu da cabana. O vento tinha soprado do sul, durante o dia. A temperatura subira a 0° centígrados e a camada de neve, salpicada de manchas escuras, apresentava tendência a derreter-se.

    A região continuava a apresentar o mesmo aspeto. Baixa na parte central, não apresentava elevações importantes senão a noroeste, não se elevando, contudo, a altitude a mais de cem ou cento e cinquenta metros. Estas grandes planícies não oferecem grande dificuldade à marcha de um viandante, a não ser que o desgelo torne o solo impraticável por algum tempo, o que era talvez para temer. Então urgia alcançar o porto, e se o desgelo se produzisse prematuramente, tanto melhor seria, porque a navegação tornar-se-ia possível mais cedo.

    A distância que separa o lago Peipous da aldeola de Ecks, aonde o fugitivo chegou às seis horas da manhã, é de cerca de quinze verstas; mas o homem teve o cuidado de evitar a aldeia. Seria expor-se à exigência de papéis por parte da Polícia, papéis que não possuía. Não era na aldeola que lhe convinha refugiar-se. Passou o dia, a uma versta de distância, num casebre abandonado, de onde partiu às seis horas da tarde, cortando para sudoeste na direção da ribeira de Embach, que encontrou depois de uma viagem de onze verstas, ribeira que reúne as suas águas às do lago Watzjero, no seu extremo setentrional.

    Neste sítio, em vez de cortar pelo meio das matas de álamos e áceres das margens, o fugitivo achou que era mais prudente caminhar sobre o lago, cuja solidez não inspirava ainda receio.

    Caía uma chuva grossa, proveniente das nuvens elevadas, ativando o derretimento da camada de neve. Os sintomas de um desgelo próximo manifestavam-se seriamente. Dentro em poucos dias, produzir-se-ia o deslocamento dos gelos à superfície dos cursos de água da região.

    O fugitivo avançava rapidamente, desejoso de alcançar a extremidade do lago antes de amanhecer. Vinte e cinco verstas era jornada rude de mais para um homem já fatigado e elevaria a marcha daquela noite a cinquenta verstas, ou seja uma dúzia de léguas métricas.

    As dez horas de repouso, do dia seguinte, seriam bem merecidas.

    Uma circunstância que piorava a situação era a de o tempo estar chuvoso. Um frio seco tornaria a marcha mais fácil e mais rápida. É verdade que sobre o gelo compacto do Embach o pé encontrava a firmeza que o caminho da encosta nunca ofereceria, por já estar cheio de lama do desgelo. Alguns rangidos surdos e fendas indicavam já uma deslocação próxima e derretimento dos gelos.

    Por outro lado, se houvesse alguma ribeira a atravessar, era mais um obstáculo para um viajante a pé, a não ser que ele a atravessasse a nado. Por todas estas razões era necessário acelerar a marcha.

    O viajante bem o sabia e por isso empregava uma energia sobre-humana. O gabão, estreitamente apertado, livrava-o da nortada. As botas em bom estado, porque tinham sido recentemente consertadas e reforçadas com brochas na sola, asseguravam-lhe o passo naquele solo escorregadio. Além disso, no meio daquela profunda escuridão, não tinha de se orientar, porque o Embach conduzia-o diretamente ao seu fim.

    Às três horas da manhã tinha percorrido quinze verstas. Nas duas horas que precediam a aurora chegaria a algum sítio onde pudesse descansar. Desta vez, não tinha necessidade de se arriscar em qualquer aldeia, nem em procurar abrigo em nenhum albergue, visto que as provisões ainda lhe chegavam para um dia.

    Refugiar-se-ia em qualquer parte, contanto que estivesse em segurança até à noite. Nas matas que envolvem o extremo norte do Watzjero encontraria cabanas de rachadores de lenha, desabitadas no inverno. Com algum carvão que lá encontrasse e lenha seca caída das árvores, ser-lhe-ia fácil arranjar uma boa fogueira que o aquecesse pode-se dizer de corpo e alma, e não era natural que o fumo de uma fogueira o fosse trair no meio daquela vasta solidão.

    É verdade que aquele inverno havia sido rigoroso; mas, posto de parte o seu rigor, não tinha ele favorecido o fugitivo da sua chegada ao solo do império?

    Além disso, o inverno não é o amigo dos russos, segundo o ditado eslavo, e não confiam eles na sua rude amizade?...

    Nesse instante ouviu-se um uivo do lado da montante esquerda do Embach. Não fora engano: era o uivo de uma fera a alguns centos de passos. O animal aproximava-se ou afastava-se?... A escuridão não

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