Oto
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Oto - Leopoldo Nereo Romero filho
FICHA TÉCNICA
OTO, O LEGADO MALDITO / Romero filho, Leopoldo Nereo
© 2013 / LEOPOLDO NEREO ROMERO FILHO / Todos os direitos reservados.
lerofilho@yahoo.com.br
Capa: Leopoldo Nereo Romero filho
E-Book ISBN: 978-3-95830-631-8
GD Publishing Ltd. & Co KG, Berlin
E-Book Distribution: XinXii
www.xinxii.com
Este eBook, incluindo suas partes, é protegido por Copyright© e não pode ser reproduzido, revendido ou doado sem a permissão do autor.
Leopoldo Nereo Romero filho
OTO
O LEGADO MALDITO
PARTE 1
2013
Capítulo I
OTO
Um frio janeiro de 1965, nascimento conturbado de Glenda Froyer, em uma cabana no interior dos Estados Unidos, parto trabalhoso, segundo filho não desejado de Klara e Kurt Froyer, alemães, vindos ainda pequenos para os EUA, trazidos pela família, antes do término da segunda Grande Guerra, em 1945. Não se teve mais notícia dos pais, depois que eles atingiram a maioridade, alguns diziam que voltaram para a Alemanha, depois do fim da guerra, outros que foram morar em outra cidade. Ninguém sabia ao certo, nem as autoridades. O que se cogitava como verdade inconteste nas redondezas, era que Kurt e Klara Froyer, eram irmãos, motivo pelo qual seus pais os teriam abandonado, após a descoberta da relação entre eles. Dessa relação incestuosa nasceram os filhos, Otavio e Glenda.
O pai, Kurt, mantivera a casa durante a infância dos filhos caçando pequenos animais nas redondezas e pescando, enquanto esperava a época da colheita do milho. Não que se importasse muito com isso, já que preferia os bares da região, ao trabalho no milharal. Nessas ocasiões, costumava aprontar grandes arruaças, no caminho de volta para casa, além de espancar os filhos. O xerife da região, conhecendo o temperamento de Kurt, preferia ignorar seus pequenos delitos, a enfrentar a ira do alemão, de compleição física semelhante a de um urso. Sua mãe, Klara, acompanhava as bebedeiras do marido, e quando estavam juntos, bebendo, não queriam os filhos por perto. Quando isso acontecia, o primogênito, Oto, costumava passar a noite, no milharal ao lado de casa.
Oto passara toda a sua Infância morando ao lado de uma comunidade Amishe, lá conhecera vários meninos de sua idade, com quem costumava correr pelos caminhos da região, ou então, divertirem-se no lago. Entre eles, conhecera uma menina chamada Cindy, e logo, entre os dois, nascera uma amizade infantil e ingênua, daquelas que só meninos de 13 anos conseguem ter. Os dois passavam horas no grande milharal, que separava suas casas, e a comunidade. Ao contrário de sua casa, sentia-se cuidado e protegido ali. Amava aquele grande milharal. Sempre que sentia-se triste ou pretendia se esconder do pai espancador, ia para lá. Estratégia que nem sempre funcionava, pois seu pai, sabe-se lá como, apesar de toda bebida ingerida, sempre o encontrava.
Nas ocasiões em que, o pai buscava-o, preparava-se já, para a surra, pois, ele, detestava entrar no milharal, principalmente ao entardecer. Tempos atrás, colocara dois novos espantalhos na plantação, perto da estrada, no canto oposto ao espantalho preferido de Oto, apelidado por ele de face tow
, por sempre apresentar um ar jocoso, em sua cara de estopa. Era o preferido, também, das aves da região, que, o desmoralizavam em sua função, ao usarem seus braços, como poleiros. Os novos, estes, as aves detestavam. Sentiam pavor, até em sobrevoá-los.
Sua irmã mais nova, Glenda, quase não saía de casa, o que fazia dela alvo constante do pai. Crescera apática e triste, apesar de seus 12 anos, representava, pelo corpo franzino menor idade. Nascera muito doente, algo talvez na genética, dissera uma vez um médico que a examinara. Ela nunca brincava fora de casa, e apresentava sempre, um ar de cansaço e palidez intensa. Os pais, também nunca a incentivavam a sair de casa. Oto, sempre observava intrigado, os vários hematomas no corpo da irmã, parecia que sua vida se esvaia por ali. Seu corpo era cadavérico, e quando ganhava algum peso, durante o inverno, logo caía de cama, doente, retornando a condição de intensa palidez e desamparo. Glenda, nascera com um estranho estigma, que lhe sugava a vida, a cada dia que passava.
Uma tarde, Oto, depois de banhar-se no lago e divertir-se no milharal com os amigos, retornava contente e cansado para casa. Naquele instante, irrompera do meio do milharal, a bizarra figura de um Amishe, com seu chapelão característico. Oto reconhecera-o, tratava-se do pai de Cindy. Não esperando reação por parte do velho, irrompera em disparada alucinada. Conseguira ouvir, ainda, algumas palavras que eram ditas por ele, fazendo menção a suas visitas à comunidade. Pensando ter conseguido uma grande dianteira, diminuira a velocidade. No momento seguinte, o velho, segurando-o pela camisa esbravejava:
-Sua maldita família só trouxe o mal para estas terras e nossos filhos!!!
Antes de dar um forte tirão, na camisa, rasgando-a, e novamente sair em disparada, pareceu-lhe escutar também uma referência ao nome do pai, que ele não conseguiu contextualizar. Entretanto, a simples menção daquele nome, o fizera estremecer. O velho, continuava em seu encalço, até que, parecendo assustado com algo, desistira de persegui-lo, talvez por entender, que já não estava em seus domínios.
Anoitecia, quando Oto se aproximava de casa. Antes de entrar, percebera uma estranha agitação no quarto dos fundos da casa, o quarto de Glenda. Ao aproximar-se sentira um grande desconforto, como a prenunciar, o que estava para presenciar. Esgueirando-se por entre a casa e o celeiro, Oto conseguira vislumbrar o interior do quarto, subindo em um balde de roupa. Recuara, quase caindo, com uma expressão assustadora no olhar, segurando um grito na garganta. A cena, que se descortinava a sua frente, era estarrecedora, e de uma violência indescritível: O pai, com as calças arriadas, babando de luxúria, investia furiosamente sobre o corpo da filha, completamente nu, prostrada sobre a cama, num abandono perturbador e aparentemente inconsciente. Em um dos cantos do quarto, a mãe, gargalhava histericamente, denunciando estar embriagada, ou sob o efeito de drogas.
Algo que Oto, não conseguia explicar se modificara dentro dele. Passado o primeiro momento de torpor, decidira passar a noite no milharal. Não conseguiria voltar para casa, não naquela noite.
Capítulo II
A FRIA MORTE
Não dormira. De madrugada, os corvos e os espantalhos, antes, tão familiares e amistosos, transformaram-se em pesadelos macabros em sua mente. Dançando, em espasmos, lentamente, um dos espantalhos, se aproximara de seu ouvido, sussurrando: -Esse é o seu legado, Oto!… Seu legado. Não há como fugir dele.
Ao amanhecer, o som de sirenes, acordara o jovem. O dia que se apresentava era cinza, e com espesso nevoeiro. Num desnível de terreno, onde o milharal ficava menos cerrado, conseguira