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Os Nazis e o Mal. A Destruição do Ser Humano
Os Nazis e o Mal. A Destruição do Ser Humano
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Ebook176 pages1 hour

Os Nazis e o Mal. A Destruição do Ser Humano

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O nazismo abriu a porta ao terrorismo globalizado. Traçou um mal estrutural onde ninguém estava a salvo, nem mesmo o povo alemão. O inimigo: todo aquele que fosse capaz de pensar por si mesmo de uma forma livre e contrária ao que ditavam as regras nazis. Os arianos eram pura e simplesmente «indivíduos fabricados», concebidos para a violência, isto é, autómatos inteligentes desumanizados. A socialização do crime mediante a violência convertida em cultura foi um dos objetivos que lograram estabelecer nos campos de concentração e na sociedade.

A presente obra levanta novamente a eterna questão: «O que é realmente o Homem? Um ser humano ou uma massa amorfa?»

LanguagePortuguês
PublisherBadPress
Release dateJun 11, 2017
ISBN9781507168530
Os Nazis e o Mal. A Destruição do Ser Humano

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    Os Nazis e o Mal. A Destruição do Ser Humano - Ana Rubio-Serrano

    Índice

    AGRADECIMENTOS

    PRÓLOGO

    INTRODUÇÃO

    Primeira parte: Globalização do Mal

    Capítulo I: O nazismo como Mal estrutural

    1. A medicina nazi

    1.1. Higiene Racial, fundamento bioético

    1.2. Campos de concentração, laboratórios de medicina criminal

    2. A ideologia antissemita de Hitler

    2.1. «A vontade dos judeus de dominar o mundo»

    2.2. Corrupção sexual e contaminação microbiana

    3. Religião política

    3.1. Do monoteísmo para a monoidolatria

    3.2. Ética e culto

    4. A ordem jurídica e o «princípio do Führer»

    Segunda parte: Globalização das massas

    Capítulo II: Génese da «massa» no nazismo

    5. O homem-massa, o seu papel e o seu status

    5.1. A massa anónima

    5.2. A massa nobre

    5.3. A massa excedente

    Terceira parte: O fortalecimento do Mal global estrutural na sociedade concentracionária

    Capítulo III: O domínio de Auschwitz

    6. Mal banal, irreflexividade voluntária no indivíduo

    6.1. Violência «alterativa» na massa

    6.2. Experiência expropriativa, artífice de memória e identidade

    6.3. Identidade e memória no novo amo-escravo, um «perpetrador sem rosto»

    Quarta parte: A globalização do Mal contra o Deus Omnipotente

    Capítulo IV: Terá o domínio de Auschwitz acabado com o Deus Omnipotente?

    7. A massa excedente interpela e responde

    Luzes cálidas no domínio de Auschwitz

    CONCLUSÃO

    ABREVIATURAS

    BIBLIOGRAFIA

    PÁGINAS WEB

    Em memória de Antoni Roig i Llivi,

    prisioneiro 5722 de Mauthausen.

    Um homem que, apesar da sua experiência 

    concentracionária, ainda assim acreditou até ao fim dos seus dias

    que o ser humano tinha um futuro.

    ––––––––

    Aos meus pais, sem cuja educação baseada

    no amor e respeito pelos outros, 

    com especial ênfase por aqueles que

    o mundo parece ter deixado cair no esquecimento

    – testemunhas mudas de injustiças e invisíveis perante

    o olhar do espetador indiferente –,

    nunca teria sido possível conceber este livro.

    AGRADECIMENTOS

    ––––––––

    Gostaria de expressar os meus agradecimentos a todas as pessoas e instituições que contribuiram, de uma forma ou de outra, para finalizar este trabalho. Em primeiro lugar, ao Dr. Norbert Bilbeny, professor catedrático de Ética da Universidade de Barcelona, ​​por concordar em escrever o prefácio desta obra.

    A Enrique Rubio-Serrano, licenciado em Filologia Alemã, pelo seu trabalho na supervisão das traduções dos textos alemães aqui presentes.

    A instituições alemãs, tais como o document Archiv.de, o Deutches Historisches Museum, o Institut für Zeitgeschichte e o Goethe Institut em Barcelona, às quais agradeço a procura e o envio de fotocópias de documentos originais do regime nacional-socialista.

    Além disso, não queria perder a oportunidade para agradecer à Editorial UOC, na pessoa de Lluís Pastor, diretor de gestão de conteúdos, a boa receção deste projeto, e também a Emi Fresneda, que desde o princípio ficou tão entusiasmada com este quanto eu.

    PRÓLOGO

    ––––––––

    Dir-se-ia que, ao falarmos sobre o bem e o mal, quem saiu vencedor do jogo foi o último. Pelo menos, na época contemporânea. A presente obra de Ana Rubio-Serrano lembra-nos a propósito do nazismo. Mas, não terá sido sempre assim? Quando é que o mal não preponderou sobre o bem?

    Deveria haver, por sua vez, um critério muito generoso em relação ao bem. Eis a abordagem clássica: tudo o que «é», está bem. Ou a moderna: se serve, não é mau. Porém, é algo difícil de aceitar e roça o absurdo. Embora o mundo avance e a maioria sobreviva até que a morte natural sobrevenha, os grandes males de sempre persistem – como a fome, a doença, a pobreza. Assim como o próprio mal: o espírito contrário ao bem. O qual observamos na injustiça, no crime, na guerra. A ânsia, em suma, de discriminar e perseguir, de possuir e dominar. De usar o outro como um simples meio; ou excluí-lo, como um mero objeto.

    Talvez, em contraste com outrora, desde Santo Agostinho até aos epígonos do Iluminismo, não acreditemos que exista o mal porque o bem prevalece, no qual aquele seria como uma privação. Mas, pelo contrário, existe o bem porque, ironicamente, o mais evidente e credível é o domínio do mal. A Teodiceia, que queria desvendar o problema do mal no mundo, transformou-se na Antropodiceia: dada a existência do mau, criamos e cremos na qualidade do que é bom. O bem começa a ser uma inerência nossa. Mais vale um mundo com ele do que um sem ele. O momento mais representativo do século XX é aquele em que um pai e filho entram de mãos dadas numa câmara de gás. É uma insolência, aliás, um perigo, pensar noutro mais importante do que este. De modo que aprendemos a lição: que o bem seja, doravante, uma privação do mal.

    No entanto, quanto tempo decorreu desde o fim do Terceiro Reich até que a barbárie se repetisse? Apenas trinta anos, até Pol Pot ou às bombas de napalm sobre o Vietname. Meio século, até ao cerco de Sarajevo, ao massacre hutu ou à destruição de Gaza, em 2008. Para o terror de alguns e o horror de outros. «O horror, o horror», murmura o ator Marlon Brando, no final de Apocalypse Now. Depois de ambos, terror fundamentalista e horror globalizado, só podemos acreditar no bem, por necessidade e por preferência em simultâneo. Cremos nele, porque devemos fazê-lo. Se uma criança inocente morre, devemos acreditar no céu; não temos outra alternativa senão essa. Apesar do previsto e do desejável, confiamos que este céu existe em sua honra, e nada mais. Onde estava Deus no domínio de Auschwitz? Temos todo o direito de acreditar que Ele não estava ali, mas também o direito e, inclusive para alguns, o dever de pensar que a Sua presença começava a fazer notar-se, no rosto choroso do filho que abraçava o seu pai na câmara de gás, ou nas feições contorcidas do enforcado.

    Como é que o mal foi «humanamente possível» na época do nazismo? Este livro debruça-se sobre a questão. Lê-lo instrui-nos e sensibiliza-nos. Embora com um tema pungente, é um ensaio esclarecedor: descreve, analisa, reflexiona, afeta. Deixemos o nosso apreço à sua autora, a filósofa e teóloga Ana Rubio. Contudo, não são poucos os arrepios que este livro nos faz sentir. Sim: o mal, ao mesmo tempo radical e banal, foi «humanamente possível». Cometeram-no homens e mulheres; apoiaram-no muitos mais. Foi «humano». Mas, se a humanidade é algo mais do que a espécie, o mal do nazismo foi humanamente impossível e desumanamente possível. Porque ali faltou a humanidade em sentido moral, necessária e irrenunciável. A maldade do nazismo exemplifica a crueldade e a selvajaria, as duas características que mais se opõem ao humanismo, ou simplesmente à humanidade, na aceção ética da palavra. Paradoxalmente, o nazismo recriminou a arte e o pensamento «degenerados». Os seus crimes parecem, e com razão, alheios ao género humano, e mais monstruosos ainda à medida que os associamos a indivíduos supostamente civilizados. A hediondez fica aquém das expetativas no que diz respeito à qualificação de tais crimes. Não nos fazem gelar o sangue; deixam-nos incrédulos, paralisam o nosso discernimento. «Isso sim é um homem», escreveu Primo Levi.

    Ana Rubio-Serrano refere-se ao Mal com maiúscula. É dar-lhe uma máxima importância, revestindo-o de um caráter total e metafísico. Alguns tendem a não pensar nesses termos, pois isso afasta o mal do mal em concreto, daquilo que na verdade é a experimentação de uma lesão ou ameaça. Mas, se com um intuito de abstração, e alguma generosidade, falamos do Bem para além da qualidade do que é bom, por que razão não admitimos também o Mal como uma ideia ou essência para além das suas manifestações concretas, da sua natureza de circunstância acidental? Não é um tema dado como encerrado. No caso do nazismo, onde a malvadez se revestiu de verdade, beleza e bondade, como se o mal e causar dano ou dor fosse normal e até mesmo desejável no mundo – nada mais, nada menos do que pôr fim aos diferentes –, admito que se possa e, inclusive, se deva falar do Mal desta forma superlativa, com letra maiúscula. Não é metafísica, «coisificação» ou substancialização de uma mera ideia, mas sim denúncia e advertência – o facto de estarmos perante a lembrança chocante da maior crueldade que se possa imaginar. O mal praticado sob pretexto de um ato de civilização.

    Esta obra tampouco poderia ter sido escrita com hesitações. Na minha opinião, tem mérito a firmeza com a qual a concebeu a sua autora. Faz com que a sua denúncia seja mais credível, mas também com que os factos e argumentos que utiliza, deveras coerentes, cheguem até nós de uma forma mais vívida e precisa. Por esse motivo, o livro pode lêr-se de uma assentada e, ao concluí-lo, provoca a sensação de que é apenas o proémio do muito que ficou por dizer e refletir. Aguardam-se centenas de páginas mais sobre o assunto tratado por Ana Rubio, e deduz-se que estas virão. Esta insuficiente porção sobre um tema tão complexo, como o abordado pela autora, retrata bem, creio, o teste que agora temos entre mãos. E tal obra não teria sido escrita, é claro, se alguém não tivesse engendrado Mein Kampf, há muitos anos atrás. Mas que livro excecional! Dou toda a razão a Dom Quixote, assim como aos seus fantasmas, que espantam os demónios da negra tradição espanhola, exceto quando diz que «não existe nenhum livro tão ruim, que não possa ter algo de bom». Oxalá que o livro de Hitler nunca tivesse sido escrito, pois nem sequer tem mais estilo do que um sobre um sistema arcaico de ditadura e repressão. 

    O domínio de Auschwitz já faz parte do passado. Contudo, é tão recente que ainda toleramos o acontecimento concentracionário, a tortura e o racismo nas nossas sociedades supostamente democráticas, as quais zelam pelo «bem-estar». O Maio de 68, a Primavera de Praga, as revoltas estudantis contra a guerra do Vietname... ocorreram tão-somente vinte anos após a libertação dos campos de concentração nazis! O mundo deveria ser outro, depois desta explosão de liberdade e criatividade. Porém, agora à distância, quarenta anos mais tarde, advertimos que as marcas de 68 não são menos vigentes, infelizmente, do que as do tétrico legado nazi. Uma vez mais, as massas, a irreflexão, o conformismo face ao estado policial e a redução da política à liderança voltam a estar presentes na vida pública, hoje em dia através de meios mais asséticos, tais como a televisão, a internet e o consumo disparatado. Todavia, é tudo farinha do mesmo saco.

    O que deve ficar evidente após a leitura deste livro é que o mal do nazismo, radical e banal ao mesmo tempo, não foi um sintoma inevitável de um estado da civilização ou de um determinado momento da espécie, no qual a humanidade perdera a noção sobre si mesma e caíra num terrível desvario alheio à sua natureza, como se se tratasse de um cataclismo. Não: o mal só existe porque há responsáveis. Não só devido à existência de dano, mas, acima de tudo, devido à existência de intencionalidade ao cometê-lo. São obedecidas ordens, pois isso é da responsabilidade que acarreta o caráter de culpa e o prejuízo sofrido das consequências de obedecer a ordens que não se podem ignorar e que conduzem à aniquilação de outros seres. Neste livro, Ana Rubio-Serrano recorda-nos que o ato de parar de refletir não foi algo fortuito ou mecânico; quis-se que assim fosse.

    Foi o que aconteceu com o nazismo. Sucede também atualmente, como mencionei antes. E não apenas com a nossa passividade, mas com a colaboração, de maneira fria e calculada, de tantos executivos, diretores ou políticos, nestes planos de supressão de direitos, de postos de trabalho ou de povos inteiros, noutro canto do mundo. Eles tomam decisões, nos seus cargos, sobre vítimas que não se veem, ou que não querem ser vistas, e, portanto, não se lhe é retirado o sono ao trabalhador cumpridor – outrora um bom homem de família, agora um profissional competente. O homem «válido», odioso adjetivo. O que provocou o nazismo continua, em grande parte, vivo. Para aqueles que procuram um melhor entendimento, esta obra, arrojada e precisa, deixa tudo bem claro. 

    Norbert Bilbeny

    Professor Catedrático de Ética da Universidade de Barcelona

    INTRODUÇÃO

    ––––––––

    Após quase um século desde a ascensão de Hitler ao poder e do terror que desencadeou a sua política imperialista e exterminadora, a questão do nazismo permanece em vigor

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