Discover millions of ebooks, audiobooks, and so much more with a free trial

Only $11.99/month after trial. Cancel anytime.

O Salto do Perdão
O Salto do Perdão
O Salto do Perdão
Ebook274 pages4 hours

O Salto do Perdão

Rating: 0 out of 5 stars

()

Read preview

About this ebook

“April Geremia apresenta uma história cativante, cheia de reviravoltas que o fazem desejar por mais. O seu talento especial para uma escrita viva e descritiva permite-lhe sentir os medos e as emoções dos seus bem definidos personagens.” Deborah K. Stone Reader´s Favorite

“Este livro é espetacular! Desde a primeira página tive de continuar a ler para conseguir descobrir o que tinha acontecido a Grace e a Joshua. Esta é uma inacreditável história de amor e perdão. Joshua passa toda a sua vida quebrado emocionalmente por causa do suicído da sua mãe e depois começam a chegar as cartas. Esta leitura é leitura obrigatória.” CGK

“Este é o segundo livro que li de April Geremia…ela surpreende-me todas as vezes…não leio livros religiosos, mas tenho de dizer que a autora mudou a minha forma de pensar…adorei…grandes personagens, especialmente Joshua…adorei a sua personagem, a forma como cresceu, pensando que a sua mãe tinha morrido…Ri nalgumas partes, mas a maior parte do tempo chorei…Geremia escreveu uma novela que faz pensar.” Cliente Amazon

“O Salto de Perdão é um livro maravilhosamente escrito. Guia-nos gentilmente a um lugar em que todos precisamos de estar na vida. O perdão pode ser um assunto difícil para a maior parte de nós, mas no livro a autora mostra-nos como sermos pessoas melhores, muito embora tenhamos o coração partido e tenhamos sofrido tragédias. Definitivamente recomendo este livro a TODOS! Muito bem April Geremia” Terrie Urbanczk

O que acontece quando tudo o que nos disseram foi uma mentira?

Quando as misteriosas cartas de lavanda começam a chegar, assinadas “Mamã,” Joshua McKeon descobre que tudo o que lhe disseram sobre o suicídio trágico da sua mãe quando era menino, foi uma mentira. Conseguirá ele desfiar a rede de mentiras que o rodeou a vida toda? E será que Isabelle, o amor da sua vida, continuará a esperar, enquanto os segredos guardados durante muito tempo, o impedem de deixar as coisas para trás?

Um romance emocional e inspiracional sobre o amor, a loucura e o perdão, que o vão prender até à última página.

Se gosta de romances de amor inspiracionais que o fazem sentir bem, compre O Salto de Perdão hoje e comece a ler!

Esteja atento ao Livro 3 nesta Série: A Irracionalidade da Poesia – Disponivel para pré-encomenda a partir de Agosto 18, 2016

Palavras-chave:

LanguagePortuguês
Release dateMar 3, 2017
ISBN9781507175514
O Salto do Perdão

Related to O Salto do Perdão

Related ebooks

Christian Fiction For You

View More

Related articles

Related categories

Reviews for O Salto do Perdão

Rating: 0 out of 5 stars
0 ratings

0 ratings0 reviews

What did you think?

Tap to rate

Review must be at least 10 words

    Book preview

    O Salto do Perdão - April Geremia

    Índice

    Dedicatória

    Ao Jeremy. Tenho saudades tuas e mal posso esperar para te ver novamente.

    Prólogo

    A carta começou a sua queda silenciosa até ao futuro. Não havia qualquer indício, sinal ou pista subtil do seu destino, à medida que rodopiava pelo ar salgado e húmido do mar. O envelope antigo de pergaminho lavanda que guardava a esperança da vida de um homem e as últimas palavras de uma mulher moribunda, rodopiou até cair na nuvem suave da pilha de cartas. As curvas fluídas da escrita de há décadas evidenciava-se nas palavras do presente, esterilmente dactilografadas. Embora o perfume de lavanda tenha começado a desvanecer-se, o ar em volta da carta tornou-se instantaneamente mais suave e limpo. A magia da carta era tal que se alguém parasse perto da caixa de correio e escutasse atentamente, talvez pudesse ouvir as marés do amanhã a sussurrar nos seus ouvidos.

    Capítulo 1

    A ilha de Bell Island permanecia suspensa no vasto corpo de água, possuindo pouca. Em escassez. Desejando. Embora a ilha estivesse rodeada pelo mar azul esverdeado, a pior seca na sua história estava a fazer sentir o seu impacto. A erva marinha estava queimada e murchou transformando-se em amontoados castanhos. As pessoas andavam com o cabelo emaranhado e taças fundas debaixo do braço. Não havia alívio; até tomar duche tinha sido limitado a duas ou três vezes por semana por causa do racionamento de água. A ilha estava a ser assada, e pedaço a pedaço, a sua história colorida e futuro promissor quebraram-se e caíram no mar inquieto em redemoinho.

    O sol implacável batia nas costas despidas de Joshua McKeon enquato ele atirava habilmente a rede de pesca desgastada borda fora. Limpou o suor da testa e inclinou-se sobre a rede para ver se algum peixe tinha entrado na rede. Desapontado pelo minúsculo e insignificante grupo de peixes, retirou-os da rede e deitou-os no balde de plástico manchado cheio de água salgada. Joshua olhou para o sol ofuscante e decidiu que não havia tempo para outra tentativa. Não se ele queria encontrar-se com a Isabelle.

    Joshua sorriu quando pensou nos seus cabelos vermelhos selvagens, o rosto pálido e os remendos de sardas que ela considerava uma maldição. Ele desejou, como desejava tantas vezes agora, que as coisas fossem como eram quando se conheceram. Um ano antes, ele teria entrado na livraria dela e tê-la-ia encontrado mergulhada num livro no meio das centenas ou talvez milhares de livros nas prateleiras, e ela não teria percebido que ele estava lá até ele embrulhar em volta dela os seus braços manchados de peixe. Ela teria reagido instantaneamente, teria saltado, quase caído da cadeira e ter-se-ia atirado a ele. A sua expressão estaria aberta, repleta da alegria que ela parecia possuir e dar todos os dias. Mas dia após dia, mês após mês, assim que ele estava quase a libertar e deliciar-se no amor dela, acontecia outra vez. Assim como sempre aconteceu.

    Ele retraia-se, só um pouco, mas o suficiente para que ela notasse, e lentamente ela ficava com o seu braço tenso e começava a perguntar como tinha sido o dia dele. Ele desculpava-se com os olhos e tentava alcançá-la. Ela deixava que ele a agarrasse, mas o ar desinibido, a incondicionalidade de tudo, teriam já flutuado pela janela e evaporado com o calor do sol sobre o espesso mar azul.

    Joshua não estava pronto para se apaixonar, mas quando ouviu falar na nova livraria no centro da cidade e da sua fogosa dona ruiva, ficou intrigado. Bell Island é uma pequena cidade piscatória, e não atrai as cadeias de supermercados ou de fast-food que as cidades maiores atraem, então um negócio novo é uma novidade, e visitá-lo é um acontecimento importante.

    Nessa manhã de sábado, pouco mais que há um ano, quando Joshua abriu a porta de madeira e ouviu o suave tinir do sino, entrou sem querer num outro mundo. Um mundo com sentimentos desconhecidos, conflito, dor, e a potencialidade de um amor e felicidade verdadeiros. 

    Era um mundo para o qual a sua vida o tinha preparado mal.

    Ele viu-a logo, parcialmente escondida pelo longo balcão de madeira com a caixa registadora, máquinas de café extravagantes e uma montra meia cheia de pães frescos. O cheiro do café, da canela e do mofo dos livros antigos rodopiava na sua cabeça.

    Ela apercebeu-se dele, também e parou a meio de um pagamento. Os seus brilhantes olhos verdes olharam de relance pela sala, até que finalmente, pousaram nele como um pássaro fixando-se no seu ninho. Joshua não se mexeu, ficou parado mesmo quando ela se afastou e se concentrou novamente na cliente à sua frente. Só quando contou o troco e agradeceu à mulher que comprou os livros é que ela deixou que os seus olhos o procurassem novamente.

    Procura alguma coisa em especial? perguntou ela. Não, espere disse enquanto saia do balcão, revelando uma saia de algodão branca e uma t-shirt verde confortável. Deixe-me adivinhar. Fechou os olhos e apoiou o queixo nas mãos. Após uns minutos de silêncio, os seus olhos renasceram. Já sei. É um Emerson. Tenho um livro de ensaios dele em condições bastante boas. Quer vir comigo?

    Joshua viu os caracóis vermelhos desaparecerem atrás de uma estante de livros alta. O seu primeiro instinto foi dizer-lhe que nunca tinha lido Emerson, e de facto, nem sabia bem quem ele era. Riu-se consigo próprio quando se lembrou da pilha de livros sobre a pesca que tinha ao pé da cama, os únicos livros que possuía. Mas ele não lhe disse. Em vez disso, seguiu-a e ficou surpreendido com o suor a formar-se nas palmas das suas mãos.

    Foi ali, no meio dos clássicos que cobriam as prateleiras antigas, quase a cederem, que ele se apaixonou. Ele viu-a baixar-se e a empurrar os livros para o lado, balbuciando, sem se importar verdadeiramente se ele respondia, à procura do livro que estava tão certa que ele procurava. Foi com um ar de entusiasmo envergonhado com que ela encontrou o livro e lho entregou, como se envolto por um troféu. No seu rosto ele viu uma franqueza que, até aquele momento, ele não imaginava ser possível.

    De perto, ele viu que ela era mais nova do que inicialmente pensou, mais nova que os seus vinte-cinco anos. Não existiam linhas leves espalhadas pelos seus olhos ou boca, mas quando sorria, linhas minúsculas tocavam a ponde do nariz, que ela provavelmente enrugava em criança.

    Joshua folheou o pequeno e esfarrapado livro castanho. Eu levo-o.

    Ele seguiu-a silenciosamente até à entrada da loja e pediu um café para prolongar a compra. Ele observou as suas mãos a mexer. As suas unhas eram curtas e os seus dedos voavam no equipamento com uma facilidade exercitada, até que, finalmente, ela lhe deu a chávena fumegante.

    Ele começou uma conversa banal sobre se ela gostava da ilha e sobre o negócio dela, mas outro cliente exigiu a atenção dela, então ele saiu da loja rapidamente, levando a Isabelle na sua mente.

    Joshua ficou acordado toda a noite, a nadar pelas palavras estranhas, e, pela manhã já tinha lido todo o livro de ensaios. Até encontrou forma de memorizar algumas passagens. Ele decidiu passar pela livraria no dia seguinte com a intenção de a convidar para sair, mas ela não percebeu e pensou que ele tinha ido lá porque queria outro livro. Nesse dia ele saiu da livraria com um Hemingway, e não com Isabelle, e durante a semana, saiu com um Faulkner, O´Connor e Thoreau.

    No fim da semana, ele estava em frente à registadora, com os olhos vermelhos e cansado, depois de ter estado toda a noite a ler, e deu-lhe uma nota de vinte para pagar um Scott. Ela agarrou o saco em vez de lho dar com o troco. O leitor mais rápido do mundo, hã? Perguntou ela com um cintilar malandro no olhar.

    Nada como um bom livro, disse ele, agarrando o saco.

    Sabe, disse ela, tirando o saco do alcance dele, Vai ficar falido se não me convida para sair, entretanto.

    Joshua paralisou congelado, apanhado. A sua boca abriu-se num sorriso, seguido de um riso, e rapidamente, na loja, todos olhavam para ele. Apanhaste-me, disse ele, levantando as mãos num gesto de rendição.

    E assim tinha começado.

    O primeiro encontro deles foi num dia pegajoso e ameno, no meio de vendedores do Carnaval e uma roda gigante que se esticava alto no céu sem nuvens. A ida à feira à beira mar tinha sido ideia de Isabelle. Joshua teria preferido algo mais previsível como um jantar no único restaurante agradável da ilha E quando ela sugeriu que fossem ao Carnaval, ele ficou um pouco desiludido com a escolha dela. Mas em breve se aperceberia, e com o tempo aprendeu a esperar, que qualquer tempo com a Isabelle era um acontecimento, uma completa celebração da vida. 

    Logo que passaram a vedação de grades de ferro que cercava a feira, Isabelle protegeu os olhos do sol e colocou a sua atenção na enorme roda gigante. Vamos dar uma volta na roda primeiro, disse ela, puxando-o naquela direção.

    Podíamos, disse ele. Ou podíamos guardar para o fim

    E porque quereríamos fazer isso?

    Porque é a melhor coisa aqui e se formos andar já não teremos mais nada a esperar.

    Ela olhou-o com curiosidade. És sempre assim tão pessimista?

    Pessimista? Sempre pensei que fosse guardar o melhor para o fim.

    Não sei. disse ela encolhendo os ombros. Parece-me que terias muitos arrependimentos ao viver a vida dessa maneira.

    Olharam um para o outro e riram-se, não deixando que o significado das suas diferenças se instalasse, da maneira que os casais recentes fazem quando descobrem incompatibilidades inconvenientes.

    À medida que o dia continuou, cheio de passeios e jogos e riso que vinha de um lugar bem fundo da alma, Joshua viu em Isabelle o que ele sabia faltar nele próprio. Ela tinha sede de viver, um sentido de propósito tão bem definido que seria impossível para alguém que o possui, alguma vez sair fora do percurso.

    Eles andaram na roda gigante, uma e outra vez, e de cada vez que a roda mergulhava em direção ao chão, eles ficavam maravilhados como o mar parecia estar tão perto que o podiam tocar. No fim da sua quinta viagem, os seus dedos entreligaram-se, e os seus corações apelaram para que continuassem a viagem.

    Eles ficaram juntos até que as estrelas encheram o céu da noite de poeira e só havia meia dúzia de pessoas espalhadas ao redor dos chãos vazios.

    Não estou pronta para te deixar, sussurrou ela enquanto ele jogava o último jogo de bola da noite.

    Deixa-me levar-te a um sítio.

    Ele aceitou prontamente, embriagado com emoções desconhecidas com as quais não sabia lidar muito bem. Ele estava lá - no momento – e pela primeira vez em muitos anos, não se sentia esmagado com as incertezas do seu passado brutal.

    Eles caminharam pela cidade em direção à grande praia pública que ficava mesmo por baixo do calçadão. Um dos hotéis tinha um quebra-mar privado reservado para os clientes, mas a Isabelle passou por debaixo do sinal que dizia privado e puxou-o. Joshua olhou em volta desconfortavelmente e depois seguiu-a. Andaram pelo calçadão e a água noturna agitava-se debaixo deles fazendo com que o quebra-mar balançasse. Finalmente, alcançaram uma cabana desgastada e descolorida. Era pequena com bancos de madeira em toda a volta menos num dos lados. Isabelle andou em direção à frente da pequena construção, inclinou-se e fechou os olhos.

    Joshua ficou fascinado, a vê-la a beber os cheiros, os sons do surf. Ela era linda, ali de pé com o vento a soprar na t-shirt leve, amarela pálida, contra o seu corpo. Ela parecia estar em controlo completo da sua vida, e ele duvidou que ela alguma vez tivesse conhecido o medo ou hesitação. Ele imaginou o que ela diria se soubesse como ele se sentia terrivelmente receoso a maior a parte dos dias, como ele se sentia com medo mesmo naquele momento.

    Ela abriu os olhos e estendeu-lhe a mão. Quando ele a pegou ela puxou-o para si. Não consegues sentir a vida neste sítio? perguntou ela suavemente. Venho aqui todos os dias depois de fechar a livraria.

    E fazer o quê?

    Ler. E pensar.

    Joshua olhou para o mar, sentiu por um momento, uma pequena fração de segundos, a felicidade, a magia da vida de que ela falava, mas depois o sentimento desapareceu, como o vislumbre fugaz de alguém de quem sentia a falta.

    Em que pensas?

    Em tudo. Ela sorriu. E, por vezes, em absolutamente nada.

    Ele assentiu, fingindo compreender, completamente encantado por esta mulher peculiar com espírito livre. Está-se bem aqui. E ele sentiu o que disse. Era o melhor momento que ele tinha à anos.

    Na manhã seguinte, Joshua tinha acordado com uma nova sensação na profundidade da sua barriga que ele não sabia definir muito bem. Apenas sabia uma coisa: Tinha de ver Isabelle novamente.

    Em breve.

    Então saiu para o mar nesse dia, içando as suas redes alto no sol brilhante, nunca deixando o barco ir tão longe que ele perdesse de vista a cabana branca no fim do quebra—mar. Ele sentiu-se atordoado, desatento, e embora sentisse os seus medos à espreita dentro dele, não os conseguia sentir naquele momento. Não pensou em mais nada sem ser na Isabelle e em como ela tinha já afetado a sua vida. Ele não a tinha beijado na noite anterior, e estava arrependido, sabia que não iria conseguir de pensar nisso até a beijar.

    Antes de quaisquer outros barcos, Joshua puxou as redes e apanhou a sua pesca ao acaso. Navegou até às docas, um homem com nada na sua mente para além do beijo de uma mulher que, apenas na noite anterior, tinha capturado o seu coração.

    Depois de ter chegado a casa e se ter lavado, conduziu o seu caminhão enferrujado até à loja de especialidades da cidade e comprou duas sandwiches e alguma fruta. Larry, o dono e amigo de longa data, olhou-o com curiosidade. Mas Joshua estava tão absorvido com os seus planos para a noite que nem reparou.

    Momentos mais tarde, Joshua dirigiu-se para o calçadão e desligou o motor. Conseguia vislumbrar os caracóis vermelhos a voarem ao vento, sentir a presença dela a atraí-lo para ela como o sol a atrair a flor do chão. Ela estava linda quando se sentou na cabana enquando o sol se punha. Ele saiu, passou por debaixo da corrente e caminhou em direção a ela. Ela não o viu até ele estar lá, na cabana, e o seu sorriso imediato e olhos a dançar, disseram-lhe tudo o que ele precisava de saber.

    Ela também o sentiu.

    Quando ele se sentou, ela susteve o seu olhar, sossegada e gentilmente, e depois tocou o seu rosto. Hesitantemente puxou-o para si, e depois parou, insegura. Quando ele sentiu a sua relutância, beijou lentamente a mulher que estava certo que tinha sido posta na terra só para ele.

    Depois, timidamente, mas com uma nova audácia no ar, acomodaram-se um no outro e comeram. Falaram sobre as suas vidas até àquele dia, e Isabelle contou ao Joshua sobre o seu corajoso pai e como ela tinha aprendido sobre a vida enquanto o via morrer de cancro.

    A doença roubou-lhe os sonhos.

    Lamento, disse ele. Foi recente?

    Não. Ela abanou a cabeça. Eu era jovem, doze, mas suficientemente adulta para perceber o significado.

    Ele olhou para ela, obviamente perplexo.

    Ela respirou fundo. O meu pai, até saber que estava doente, sempre fez o que era esperado dele em vez do que realmente queria fazer. Ela olhou para o Joshua e podia ver que ele ainda estava confuso. Ele trabalhava como gerente numa máquina de impressão, mas todos os dias quando saia da garagem para ir para o trabalho, era outro dia em que ele não iria fazer o que realmente gostava.

    E o que era isso?

    Ele queria escrever um romance. Eu costumava sentir pena dele porque ele estava sempre a falar sobre a história que tinha na sua cabeça, e de como estava certo de que se encontrasse tempo para o escrever, o mundo ouviria. Eu costumava ter uma estranha vaidade no facto de ele ser um romancista frustrado, porque de alguma maneira isso tornava-o diferente dos pais dos meus amigos. Mas nunca me ocorreu naquela idade que falar simplesmente sobre um sonho, em vez de trabalhar para isso é apenas isso – falar. A verdade é que me apercebi que ele simplesmente não tinha coragem para começar o livro. Até adoecer.

    Joshua colocou a mão no joelho dela. Lamento. O que aconteceu então?

    Ela encolheu os ombros, como se a memória tivesse desvanecido e já não lhe causasse dor, mas Joshua viu a dor atrás da coragem dela. Ele foi diagnosticado com cancro do pulmão. Inicialmente, foram-lhe dados seis meses de vida, e depois de ele ter ultrapassado a raiva e a tristeza que acompanham a consciência de que vais morrer, ele começou a levar o seu livro a sério. Começou a escrever com fúria. Foi como se estivesse a tentar encaixar uma vida inteira de palavras dentro dos seis meses que lhe sobravam. Eu vi-o passar de um homem que estava disposto a aceitar o que a vida lhe dava, bom ou mau, para uma cheia de paixão e propósito. Ela encolheu os ombros. O único problema era que ele estava a morrer.

    Deve ter sido difícil de ver.

    Ela assentiu. Eu costumava fazer de conta que ele não estava doente, e imaginei que ele tinha sido sempre assim, determinado e forte. Ela agarrou a mão de Joshua. Ele nunca acabou o livro. O cancro espalhou-se mais rapidamente do que se imaginava, mas ele viveu o tempo suficiente para que eu aprendesse o que ele queria desesperadamente que eu aprendesse nos seus últimos meses. Que devemos espremer o mais que podemos da vida, todos os dias.

    Ela virou-se para olhar para o mar. Era tarde demais para ele, mas jurei que não iria deixar que a sua morte fosse em vão. Eu prometi-lhe antes de ele morrer que iria sempre viver a minha vida audaciosamente.

    Parece ser um homem surpreendente.

    Isabelle anuiu. Ele era, no final. E tu? Que tipo de pessoa criou um rapaz como tu?

    Ele sorriu com tristeza. Não foram tão corajosos como o teu pai, lamento.

    Ele respirou fundo, prestes a contar-lhe o seu passado trágico quando um grupo de miúdos barulhentos a andarem pelo quebra-mar. Rapidamente invadiram a cabana com o seu riso, e na altura que Joshua e Isabelle voltaram para o calçadão, o momento tinha passado. A sua história teria de esperar.

    O barco balançou abruptamente, e agora Joshua sentiu o ar húmido e pesado a entrar forçadamente nos seus pulmões à medida que ele carregou os baldes cheios de peixe para dentro da cabine. Isto tinha acontecido à pouco mais de um ano, e Isabelle estava a ficar impaciente. Quando começaram a sair, ela tinha sido para ele como um farol numa noite escura e espessa.  Ela acenou-lhe, puxou-o mais e mais para si, até que um dia ele se apercebeu, em pânico, que as suas vidas tinham ficado tão ligadas que não conseguiam passar o dia um sem o outro.

    Ele não se tinha apercebido o quão rapidamente tinham ficado enredados porque tinha ficado demasiado consumido com a novidade do seu amor para notar. Então, no dia em que o mundo deles ficou no centro da atenção, ele entrou em pânico. Ele só tinha sido verdadeiramente próximo de uma outra pessoa na sua vida, e isso tinha acabado tragicamente. Desde então, o que ele tinha conhecido era o sofrimento. Então, quando Joshua se apercebeu precisar mais e mais de Isabelle, a sensação de carinho e  segurança que sempre tinha sentido com ela dispararam do seu corpo e voaram pelo ar da noite fria.

    Desde então, ela aludia, persuadindo-o a ver a felicidade para sempre, mas assustou-o tanto que ele começou a afastar-se. Era obvio que Isabelle estava confusa e frustrada com o seu comportamento. Ela dizia que o amava, mas o tipo de amor que desejava correria livremente na sua direção, não na direção oposta.

    Então a distancia entre eles continuou a crescer, com cada um deles a afastar-se mais e mais nos seus espaços de proteção. Joshua queria seguir Isabelle para a vida que ela imaginava,

    Enjoying the preview?
    Page 1 of 1