Discover millions of ebooks, audiobooks, and so much more with a free trial

Only $11.99/month after trial. Cancel anytime.

Ocupado
Ocupado
Ocupado
Ebook502 pages6 hours

Ocupado

Rating: 0 out of 5 stars

()

Read preview

About this ebook

ALGUMAS PESSOAS VIVEM SOB OCUPAÇÃO.
ALGUMAS PESSOAS SE OCUPAM.
NINGUÉM É LIVRE.Adquira sua cópia do romance best-seller de Joss Sheldon hoje...

Pise em um mundo que é magicamente fictício e chocantemente real ao mesmo tempo. Caminhe lado a lado com um refugiado, nativo, ocupante e imigrante econômico e observe enquanto o mundo ao seu redor se transforma de um passado pacífico a um futuro distópico.

Inspirado pelas ocupações da Palestina, Curdistão e Tibete, e pela ocupação corporativa do oeste, “Ocupado” é um visão perturbadora em uma sociedade que é muito familiar para se confortar.


Poderoso, sombrio, distópico e mágico; Ocupado realmente é uma obra única de ficção literária…
  • “Mais sombrio que 1984 de George Orwell” - AXS
  • “Cândido e inquietante” - Free Tibet
  • “Transcende o gênero” - Pak Asia Times
  • “Brilhante” - Middle East Monitor
  • “Uma leitura necessária” - Buzzfeed

  • ROLE PARA CIMA E ADQUIRA UMA CÓPIA AGORA!!!
    LanguagePortuguês
    PublisherBadPress
    Release dateSep 15, 2020
    ISBN9781547508655
    Ocupado
    Author

    Joss Sheldon

    Joss Sheldon is a scruffy nomad, unchained free-thinker, and post-modernist radical. Born in 1982, he was raised in one of the anonymous suburbs that wrap themselves around London's beating heart. Then he escaped!With a degree from the London School of Economics to his name, Sheldon had spells selling falafel at music festivals, being a ski-bum, and failing to turn the English Midlands into a haven of rugby league.Then, in 2013, he stumbled upon McLeod Ganj; an Indian village which is home to thousands of angry monkeys, hundreds of Tibetan refugees, and the Dalai Lama himself. It was there that Sheldon wrote his debut novel, 'Involution & Evolution'.Eleven years down the line, he's penned eight titles in total, including two works of non-fiction: "DEMOCRACY: A User's Guide", and his latest release, "FREEDOM: The Case For Open Borders".

    Read more from Joss Sheldon

    Related to Ocupado

    Related ebooks

    Political Fiction For You

    View More

    Related articles

    Reviews for Ocupado

    Rating: 0 out of 5 stars
    0 ratings

    0 ratings0 reviews

    What did you think?

    Tap to rate

    Review must be at least 10 words

      Book preview

      Ocupado - Joss Sheldon

      OCUPADO

      Joss Sheldon

      www.joss-sheldon.com

      Direitos Autorais © Joss Sheldon 2015

      ISBN-13: 978-1516821808

      ISBN-10: 1516821807

      EDIÇÃO 1.0

      Todos os direitos reservados.

      Este livro é vendido sujeito à condição de que não deve, por meio de comércio ou de outra forma, ser reproduzido, armazenado em um sistema de recuperação ou transmitido, de qualquer forma ou qualquer meio, sem autorização prévia de Joss Sheldon.

      Joss Sheldon assegura o direito moral de ser identificado como o autor deste trabalho, de acordo com o Copyright, Design e Patents Act 1988.

      Publicado pela primeira vez no Reino Unido em 2015.

      Design de capa por Dejan Jefremov & Marijana Ivanova design.

      PARA OS PALESTINOS,

      CURDOS & TIBETANOS

      Cada geração tem que lutar as mesmas batalhas que seus antepassados ​​tiveram que lutar, repetidas vezes, porque não há uma vitória e nem uma derrota final.

      TONY BENN

      ÍNDICE

      SEÇÃO UM: INFÂNCIA

      1)  Tamsin

      2)  Ellie

      3)  Arun

      4)  Charlie

      SEÇÃO DOIS: ADOLESCÊNCIA

      5)  Tamsin

      6)  Ellie

      7)  Arun

      8)  Charlie

      SEÇÃO TRÊS: VIDA ADULTA

      9)  Tamsin

      10)  Ellie

      11)  Arun

      12)  Charlie

      SEÇÃO UM

      INFÂNCIA

      1.  TAMSIN

      — Você sabe por que nossa vila é chamada Doomba? — Papai Tamsin perguntou a sua filha mais velha. Ele estava deitado em um tapete, cercado por pilhas de almofadas e uma variedade de canecas vazias.

      — Não, papai — Tamsin respondeu. — Eu sempre achei que era um nome um pouco bobo.

      — Bobo!?

      — Sim, papai. É uma palavra boba, "Doomba".

      Papai Tamsin sorriu.

      Ele exalou um pouco de fumaça sabor de maçã, acariciou seu queixo e passou um rosário entre seus dedos.

      Uma vela cintilou e uma lanterna brilhou.

      — Você sabe o que são os doombas? — Ele perguntou.

      — Não, papai.

      — Bem, é por isso que você acha que Doomba é um nome bobo então!

      — Doombas são animais, sabe. Eles parecem um pouco com raposas, mas têm listras vermelhas brilhantes e barbichas cinzentas e pontudas. Eles são sempre tão raros. Mas são especiais; eles protegem todos aqueles que têm a sorte de vê-los!

      Tamsin deu uma risadinha.

      — Você já viu um? — Ela perguntou.

      — Ah, sim! Mas só uma vez, muitos anos atrás, quando eu tinha a mesma idade que você tem agora.

      — Como ele era?

      — Ele era tão sábio como um monge, tão astuto como um guaxinim e tão velho quanto o próprio tempo. Ele me olhou nos olhos, piscou, e então desapareceu em uma nuvem de fumaça!

      — Eu nunca mais o vi desde então, mas muitas vezes senti sua presença. Mas eu acredito que ele ainda está vivendo lá em cima nas colinas. Talvez você o veja algum dia, enquanto estiver brincando de esconde-esconde.

      — Talvez, papai. Eu gostaria disso. Se um doomba está escondido nas colinas, eu definitivamente vou encontrá-lo. Eu sou a melhor em esconde-esconde!

      Papai Tamsin riu, deu uma puxada no seu cachimbo e olhou para a filha. Ele sorriu. As linhas em seu rosto se aprofundaram e seus dentes proeminentes saltaram pelos lábios coriáceos.

      — Muitos anos atrás, nosso clã morava em uma vila ao sul. A terra era fértil lá. Nos dava frutos suculentos e vegetais vistosos todos os anos.

      — Mas nosso clã era tão pequeno quanto a testa de um gato e um clã maior queria nossa terra. Eles uivaram como hienas, avançaram sobre nós com lanças e nos fizeram fugir. Tivemos que fugir para as colinas e nos esconder na grama alta.

      — Foi lá, depois de muitas horas passadas que uma menina viu um doomba. Aquela garotinha tinha cabelos pretos brilhantes, bochechas rechonchudas e um pequeno nariz arredondado. Ela parecia exatamente com você!

      — Bem, ela olhou para o doomba e o doomba olhou para ela. O doomba piscou e então se afastou.

      — Mas a garotinha não deixou o doomba sair de sua vista. Ela ficou acordada por uma semana inteira e seguiu o doomba onde quer que ele fosse. Ela subiu colinas, atravessou desfiladeiros e escalou montanhas de neve. Nosso clã a seguiu porque sabíamos que os doombas traziam boa sorte.

      — Bem, depois de vários dias terem passado, o doomba foi dormir em um bonito vale. Nossos antepassados ​​estavam exaustos, então adormeceram também. Tudo o que tinham eram algumas roupas, uvas e pão. Mas estavam felizes porque tinham sobrevivido.

      — E então eles tiveram sonhos felizes. Sonharam que o vale que descobriram se tornaria uma próspera vila, cheia de seus descendentes.

      — Dormiram por quarenta anos!

      — Quando acordaram, seu pão e uvas ainda estavam ao seu lado. Mas o doomba tinha ido embora e uma vila tinha crescido ao redor deles. Eles enxugaram o sono de seus olhos e se apaixonaram por aquele lugar, que se estendia desde as montanhas ao leste até o mar a oeste.

      — Aquela vila foi chamada de Doomba, em homenagem ao animal que tinha os levado até ali. E vivemos neste Jardim do Éden desde então!

      Tamsin olhou para seu pai com admiração.

      Ela amava passar tempo com ele naquela tenda, que estava afixada ao lado da casa de sua família. E amava atender aos convidados deles; reabastecendo as brasas em seus cachimbos, servindo-lhes cerveja caseira e entregando-lhes almofadas acolchoadas.

      Aqueles homens visitavam Papai Tamsin todas as noites. Jogavam cartas até que os bolsos estivessem vazios. Fumavam até que seus olhos ficassem vermelhos. E falavam até que suas gargantas ficassem secas.

      Tamsin apreciava suas conversas. Não havia escola na vila, então as histórias que ouvia era sua única forma de educação. Eram lições contidas nas histórias que só estavam escritas nas mentes dos anciãos.

      — Mas nossas terras não se estendem até o mar, papai — ela desafiou.

      — Isso é verdade — Papai Tamsin riu. — Não mais.

      Tamsin olhou para o pai, um homem encarquilhado que cheirava a chá e tabaco. Seu corpo tinha a forma de uma garrafa de Coca-Cola e seu rosto era perfeitamente sem idade. Não era jovem nem velho. Papai Tamsin poderia ter vinte, cinquenta ou oitenta anos. Tamsin não sabia ao certo.

      — O que aconteceu, papai? — Ela perguntou.

      — Bem, no passado, não havia nenhum policial aqui. Não havia prisões, tribunais ou juízes. Não havia um governo. Não precisávamos disso. Nós nos policiávamos, sem qualquer interferência externa.

      — A única vez que provou ser problemática foi quando surgiram conflitos com as vilas vizinhas.

      — Bem, um dia, muitos anos atrás, três ladrões de uma vila vizinha invadiram a casa de um camponês. O camponês pegou os ladrões com a boca na botija! Ele se aproximou atrás de um deles e cortou sua garganta com uma foice. O sangue jorrou por toda parte e sua laringe caiu do pescoço dele!

      — Esse assassinato colocou Doomba em um grande perigo. Os aldeões vizinhos estavam planejando matar um membro de nosso clã para vingar sua perda. Eles estavam exigindo "Uma vida por uma vida, para resolver a Dívida de Sangue".

      — Então nossos anciões organizaram uma reunião de paz. E, depois de muitos dias de negociações acaloradas, concordaram em pagar cem moedas de ouro como compensação.

      — Nosso clã não tinha esse tipo de dinheiro, mas nossos anciãos estavam determinados a pagar. Eles não queriam que mais sangue fosse derramado. Assim eles venderam a terra mais próxima do mar para uns tais de Sagrados por cem moedas de ouro e deram esse dinheiro aos nossos vizinhos.

      — É por isso que nossas terras não chegam mais ao mar.

      Papai Tamsin pensou ter respondido à pergunta da filha e estava prestes a se retirar para ir dormir. Mas Tamsin tinha outras ideias.

      — Certamente essa terra pertencia a membros de nosso clã — ela desafiou. — Qual o direito que os anciãos tinham em vendê-la?

      Tamsin olhou fixamente para o pai com olhos ansiosos.

      Uma lanterna cintilou e piscou.

      Papai Tamsin esfregou os cabelos da filha.

      — Você realmente é bem inquisitiva, não é? — Ele disse.

      Tamsin não respondeu.

      — Bem, naquela época ninguém era dono da terra. A terra pertencia a todos. Cada homem estava livre para cultivar a terra que quisesse, desde que ninguém mais já estivesse a cultivando. Então ninguém ficou rico, mas ninguém ficou pobre. Deus proporcionava para todos.

      — A propriedade privada só nos foi imposta quando fomos colonizados. Os Colonizadores alocaram parcelas de terra a cada aldeão, para que pudessem coletar imposto sobre a terra.

      — Pagamos esse imposto até hoje, embora nosso dinheiro nunca seja investido aqui. Os Colonizadores guardam tudo para si. Mas essa é outra história para outro momento.

      * * *

      Quando não estava ouvindo as histórias de seu pai, Tamsin estava brincando. E quando ela não estava brincando, ela trabalhava. Todos em Doomba trabalhavam, desde o dia em que nasciam até o dia em que morriam.

      No verão, os homens cortavam o grão, as mulheres o juntavam em pacotes, os anciãos o trilhavam e as crianças peneiraram a palha. Os homens colhiam os legumes e as mulheres os secavam ao sol. As crianças colhiam frutas e os anciãos as preservavam.

      Na primavera eles cultivavam. Os homens aravam a terra, as mulheres arrancavam as ervas daninhas e as crianças espalhavam as sementes. No inverno, os homens ajudavam a construir as casas uns dos outros e os anciãos faziam cestos com canas secas. As crianças coletavam lenha, enquanto as mulheres cozinhavam refeições tradicionais.

      Até mesmo os animais tinham um trabalho. Os cavalos puxavam os arados, as galinhas punham ovos e os cães protegiam a vila de animais selvagens. Só os gatos viviam uma vida de lazer.

      Todos tinham algo a se fazer e ninguém estava ocioso. O trabalho era difícil, os adultos muitas vezes trabalhavam do nascer ao pôr do sol, mas as pessoas eram felizes. Eles eram seus próprios patrões, ninguém nunca lhes dizia o que fazer e produziam quase tudo o que precisavam.

      A maioria do trabalho era feito coletivamente, mas todo mundo tinha responsabilidades individuais também. Havia a Parteira que nomeou sua casa de "Departamento da Vida" devido à quantidade copiosa de nascimentos que ocorria em Doomba a cada ano. Havia o Homem de Medicina que, com a ajuda das vozes dentro de sua cabeça, usava uma mistura de magia e feitiçaria para afastar os espíritos malignos. E havia o Sacerdote Corcunda, um membro da religião Divina que evocava bênçãos de Deus em nome de todos os aldeões.

      Era a tarefa de Tamsin levantar cedo todas as manhãs, enquanto as estrelas ainda estavam no céu, e ordenhar os iaques de sua família. Quando terminava, ela dava um tapa no traseiro dos animais. Eles corriam para o bosque, onde se fartavam de ervas daninhas e flores silvestres.

      Os iaques eram animais bem disciplinados que retornavam a Doomba às quatro horas da manhã todos os dias. Eles ficavam em pé, ordenados e esperavam serem ordenhados novamente. Então voltavam para a casa de Tamsin, onde moravam ao lado da família dela.

      Tamsin nunca teve nenhum problema com essas poderosas bestas. Ela até deu-lhes nomes. Seu favorito era chamado Listradinho, devido às duas listras que corriam em torno de sua barriga. Os outros eram chamados de Tilly, Nebuloso e Tigre.

      Tamsin tinha outro serviço. Ela coletava água da fonte de Doomba várias vezes ao dia. Ela a colocava em uma jarra de barro, que carregava na cabeça.

      Todos diziam que a primavera de Doomba era mágica, que sua água podia curar dores de cabeça, nas costas e de dente. Algumas pessoas diziam que poderia curar qualquer tipo de dor. Papai Tamsin disse que a fonte tinha uma história própria.

      — Quando nosso clã chegou pela primeira vez a Doomba, não havia uma única nascente aqui perto — ele disse a Tamsin uma noite. — Nossos antepassados ​​tinham que caminhar vários quilômetros para conseguir água.

      — Bem, naquela época, dois jovens estavam competindo para se casar com uma bela donzela. Um deles disparou uma flecha em seu inimigo!

      — Mas a flecha errou o alvo. Acertou o saco de água de couro que seu inimigo estava carregando. O saco rasgou. A água jorrou para fora e derramou sobre a face da rocha.

      — A água continuou a fluir. E nunca parou de fluir! Formou as nascentes que usamos hoje em dia.

      — Mas, como resultado desse caso pesaroso, casamentos por amor foram proibidos em Doomba. Atualmente, os casamentos têm que ser arranjados.

      Papai Tamsin parecia ter uma história para tudo em Doomba. Para os pessegueiros, que floresciam um branco rosado, e para o ar que cheirava a um doce chá. Para as margaridas selvagens, que brotavam em olivais, e para as visões que pareciam uma pintura. Seus ancestrais tinham morado em Doomba por tanto tempo que seu clã havia se tornado parte do cenário e os aldeões conheciam cada centímetro da terra.

      Tamsin amava aquela terra. Ela amava a sombra da árvore de romã da aldeia, cujos ramos se espalhavam como um guarda-chuva. Ela adorava o pôr-do-sol na primavera, que trazia nuvens de barriga malva e horizontes que cheiravam a gengibre. Amava as flores roxas que acarpetavam os pomares de Doomba, as abelhas que procuravam pelo pólen e as borboletas brancas que pululavam acima de sua cabeça.

      Mas Tamsin amava brincar acima de tudo.

      Ela vestia as roupas da mãe, que eram grandes demais para si. Ela colocava um vestido com as costas para frente e virava a touca para o lado errado. Inventava contos, que interpretava para seus irmãos mais novos, usando bonecas feitas de galhos. Brincava de pega-pega com seus amigos e os perseguia com uma vara com uma seiva que dava coceira, que tinha extraído de cactos selvagens.

      As crianças não eram as únicas que brincavam em Doomba. Cada semana os adultos tinham uma tarde livre, então se juntavam à diversão. As meninas brincavam com os meninos de cabo de guerra, e ganhavam tantas vezes quanto perdiam. E os adultos lutavam.

      Tamsin sempre torcia por sua mãe, Mamãe Tamsin, que era uma das melhores lutadoras da aldeia. Ela era uma mulher robusta, tinha ombros largos e olhos de cobalto. Seus movimentos eram grandes e equilibrados, como os de uma gazela selvagem. E sua pele era tão rochosa como um desfiladeiro.

      Os outros aldeões também comemoravam e tinham boas razões para isso. Antes da luta começar, todos colocavam nozes, damascos e maçãs em uma grande tigela de madeira. Se as mulheres ganhassem, teriam que compartilhar esses prêmios. Mas se os homens venciam, eles levariam os despojos.

      No entanto, de todos os jogos que Tamsin brincava, esconde-esconde era seu favorito. Isso permitiu a ela descobrir cada centímetro de sua vila.

      Tamsin escondia-se nos campos, pomares e cavernas de Doomba. Ela subia em árvores, escorregava entre plantas e se agachava atrás de rochas. Ficava imóvel e em silêncio durante alguns minutos, enquanto seus amigos se esforçavam para encontrá-la. Ela antecipava todos os movimentos deles e fugia escondida sempre que estava prestes a ser encontrada.

      — Papai! Papai!— Ela gritou quando voltou para casa. — Eu ganhei de novo! Ninguém consegue me achar! Não quer vir brincar com a gente na próxima vez? Se alguém conseguir me encontrar, será você. Te amo, papai. Você é o melhor!

      — Agora vamos — interrompeu Mamãe Tamsin. — Seu pai é um homem ocupado. Ele não tem tempo para jogos infantis.

      Essa negação não impediu Tamsin de brincar com seus amigos. Nem a impediu de encontrar outros adultos enquanto brincava. Ela conheceu os habitantes locais e conheceu pessoas como o Beduíno; um homem que tinha uma barba e um roupão brancos que fluíam.

      O Beduíno levava uma vida simples. Ele meditava em sua caverna, preparava chá em uma panela enegrecida e tocava seu oud enquanto suas cabras vagavam por conta própria. Ocasionalmente visitava Doomba para trocar carne e lã por grão. Mas passava a maior parte de seu tempo nas colinas, onde morava com sua tribo, numa tenda feita de pelos de iaque.

      Tamsin não conseguia entender como os beduínos podiam ser felizes sem um lar permanente. Não que sua casa fosse um palácio. Não era. Consistia de uma grande sala, com um anexo para os animais. Vigas de madeira apoiavam um telhado de palha. As paredes eram feitas de pedras, lama e folhas. Mas a casa de Tamsin oferecia a sua família uma sensação de segurança que os beduínos, ela raciocinou, deviam ansiar.

      — Você não quer viver em uma casa de verdade? — Ela perguntou.

      — Não — ele respondeu.

      — Por que não?

      — Porque eu gosto de me mover por aí. Faz eu me sentir livre.

      — Eu vivo onde quer que escolha. Todo o planeta é minha casa! Nenhum governo pode me governar! Nenhuma fronteira pode me encaixotar!

      — Ah — Tamsin respondeu.

      Ela se agitou com um pedaço de grama, olhou para uma águia subindo e mudou de assunto.

      — Meu papai nunca brinca de esconde-esconde comigo — ela meditou.

      O Beduíno olhou para Tamsin e sorriu.

      — Não se preocupe — ele replicou. — Seja feliz!

      Não se preocupe, seja feliz?

      — Não se preocupe, seja feliz!

      O Beduíno bebeu um pouco de chá, inclinou a cabeça e fechou os olhos.

      * * *

      Tamsin encheu o cachimbo de seu pai com tabaco sabor de maçã e acrescentou algumas brasas brilhantes do fogo. Ela passou o aparato para o Homem da Medicina, que o colocou na boca.

      Aqueles lábios eram tensamente esticados. Todo o rosto do Homem da Medicina era tensamente esticado. Sua pele se agarrava bem firmemente aos ossos e ele possuía um olhar permanente de perplexidade. Mas Tamsin ainda podia dizer que ele estava de mau humor.

      Ele tinha passado o dia inteiro sugando a vida de um cadáver.

      O cadáver tinha acordado no meio da noite. Tinha se sentado perto da fogueira e fumava um cachimbo. Então a Viúva dele tinha chamado o Homem da Medicina para ajudar.

      O Beduíno tinha acertado o torso do cadáver com a tíbia de um iaque, apertou os lábios contra a boca do cadáver e sugou.

      Depois de muitas horas, o sangue do cadáver estava jorrando pela boca. Parecia uma fonte diabólica.

      O beduíno desenhou alguns símbolos espirituais em um pedaço de pergaminho, o dissolveu em vinagre e deu à Viúva para beber. Ele só foi embora quando a mulher estava calma.

      Mas, tendo chegado à tenda de Papai Tamsin, o Homem estava longe de se acalmar.

      — O Sacerdote Corcunda estava lá como de costume, resmungando para si mesmo e brigando — ele reclamou. — Ele disse que o cadáver deveria ter sido cortado em pedacinhos e jogado às águias.

      — Mas o que ele sabe? Ele acha que pode se conectar com o mundo espiritual só porque carrega um livro Divino. O homem não sabe nem ler!

      — Se ele tivesse tido sucesso em seu caminho, teria criado uma assombração que teria assombrado nossa aldeia para sempre. Eu digo a vocês, não há lugar para homens como esse em Doomba, com seus livros Divinos, seus templos e seus profetas. Pfft! E o quem vem depois?

      Papai Tamsin consolou o Homem da Medicina. Ele compartilhou de sua cerveja caseira e cumprimentou cada convidado novo que chegava.

      Um Frágil Idoso disse: — Que todos os sinais auspiciosos cheguem a esta tenda.

      Um Aldeão Magro disse: — Eu saúdo o Deus dentro de você.

      E um Aldeão Corpulento disse: — Que a paz esteja contigo.

      Todos usavam calças largas e tênis plimsoll apertados. Todos se relaxavam em torno de um fogo cintilante e compartilhavam o cachimbo.

      Não demorou muito para o Cantor começar uma série de odes. Notas doces encheram o ar e as melodias dançaram de parede em parede.

      Este é o berço da civilização — aquele homem de cabeça pequena cantarolou. — Estamos aqui tanto tempo quanto o sol, e mais tempo do que as estrelas. Nosso clã é tão velho quanto o próprio tempo!

      A noite continuou como de costume até que o Marido da Parteira entrou. Suas desgastadas mãos tremiam enquanto coçavam a pele manchada. Seus olhos apertados brilharam sob sua testa suada. E seus lábios tremeram quando ele abriu a boca para falar.

      — Os colonizadores perderam a guerra — ele sussurrou apressado. — Os colonialistas estão dividindo o império. Eles vão dar nossa terra para os Sagrados!

      O Aldeão Magro deixou o cachimbo cair.

      O Frágil Ancião entornou sua cerveja.

      O Cantor olhou fixamente para Papai Tamsin.

      — Eles querem nossa terra há anos — ele replicou. — Eles querem nosso petróleo, minerais e ouro.

      — Eles querem nosso magnésio — concordou o Homem da Medicina. — Não se esqueça do magnésio. Nosso magnésio tem poderes mágicos!

      — Eu não acredito — contestou Papai Tamsin. — Os Sagrados perto do mar têm sido nossos amigos há oito gerações. Eles comem de nossa comida, usam nossas roupas e falam nossa língua. Compram nossas frutas e nos vendem seu fertilizante. O fertilizante deles é o melhor! Não, eles não nos fariam mal.

      Os comentários de Papai Tamsin ganharam um murmúrio de aprovação.

      O Aldeão Magro pegou o cachimbo e passou ao redor. O Marido da Parteira alimentou o fogo e Tamsin sorriu. Até mesmo o Cantor concordou com a cabeça.

      — Eu me lembro de quando um dos sacerdotes deles veio do exterior para examinar nosso vale — contribuiu o Frágil Ancião. — Ele disse que contaria ao seu povo: "A noiva é bonita, mas ela é casada com outro homem". Ele percebeu que esta terra pertencia a nós.

      — Sim, isso é verdade — explicou o Marido da Parteira. — Mas os colonialistas prometeram nossa terra aos Sagrados. Os diplomatas deles assinaram uma declaração. Eles vão criar um novo país chamado "Protókia".

      — Protókia? — O Aldeão Magro zombou. — Pfft! Não seja tolo. Que tipo de nome é esse?

      — Que direito tem um diplomata estrangeiro de dar nossa terra? Os Sagrados representam apenas cinco por cento da população. Eles nunca serão capazes de nos governar. Eles não têm qualquer direito à nossa terra. Eles estão aqui apenas há algumas centenas de anos.

      — Eles estão alegando que seus descendentes moraram aqui há milhares de anos — explicou o Marido da Parteira.

      — Ouvi dizer que compartilhamos dos mesmos antepassados — acrescentou o Cantor. — Somos todos irmãos, cortados do mesmo tecido. Nós somos primos distantes!

      — Baboseira! — O Frágil Ancião retrucou. — A maioria deles descende de convertidos.

      — Meu avô se lembra do dia em que eles chegaram pela primeira vez. Ele disse que eles eram um bando de gente de várias cores. Uma verdadeira gangue de estranhos de um milhão de nações diferentes. Eles só se estabeleceram aqui porque nós os ajudamos.

      O Frágil Ancião sacudiu a cabeça.

      O Marido da Parteira estalou a língua.

      O Cantor revirou os olhos.

      O cachimbo apagou, o fogo morreu devagar e os gatos vira-latas miaram.

      A tenda caiu em um estado de estranho silêncio.

      Somente o Homem da Medicina tinha energia para falar.

      — Eles querem nosso magnésio — ele repetiu. Nosso magnésio tem poderes mágicos!

      * * *

      Tamsin não disse uma única palavra naquela noite. Ela foi para a cama em um estado de medo silencioso e confusão. Ela temia que seu clã pudesse ser expulso de Doomba e estava confusa porque todos os Sagrados que conhecia eram legais.

      Ela via os Sagrados sempre que ia pescar no mar, e conhecia o Sagrado Rotundo que vendia fertilizante ao seu pai. Ele era um homem acolhedor, que parecia um pouco com o Pai Natal.

      — Ele é órfão — Papai Tamsin tinha dito a ela. — Nós o encontramos vagando pelas colinas, quando ele tinha apenas quatro anos de idade.

      — Bem, eu tinha cinco anos na época, então ele era como um irmãozinho para mim. Nós o tratamos como um irmão também. Tudo o que fizemos, ele fazia conosco. Ele colhia tomates, assim como você e brincava de esconde-esconde também.

      — Nossa família cuidou dele por três anos, em todos os aspectos. Então, quando ele tinha sete anos foi adotado pelos Sagrados que vivem perto do mar. Seu avô achou que seria bom para ele viver com seu próprio povo. Mas ficamos amigos desde então. Ele é um bom homem.

      Tamsin chamava o Sagrado Rotundo de "Tio". Para ela, ele era seu tio. Ele trazia doces para o aniversário dela, bagunçava seu cabelo e a surpreendia com seus truques de mágica. Não importava que ele fosse um Sagrado e ela uma Divina, para ela, ele era família.

      Então ela não podia entender por que o clã dele iria querer tomar a terra dela. Ela estava tão confusa que começou a se sentir enjoada.

      Mal pôde dormir naquela noite. Quando o sono chegou, pesadelos vieram com ele. Ela viu um exército Sagrado de soldados de Deus, marchando como gansos, vindo em sua direção, batendo livros sagrados contra seus peitos e disparando balas de fogo de seus olhos. Ela viu uma nuvem de morcegos descer dos céus, com sangue escorrendo de seus dentes e ácido sendo borrifado de suas asas espinhosas. Viu esquadrões de ursos com garras de adagas, batalhões de bruxas com longas unhas enredadas e legiões de tigres dementes com cabeças que giravam pelo pescoço.

      Ela acordou suando frio, se sacudiu e tremeu.

      Ela continuava a tremer enquanto ordenhava os iaques na manhã seguinte e continuou tremendo enquanto trabalhava nos campos.

      Também permaneceu em silêncio até que finalmente conseguiu encontrar Papai Tamsin sozinho. Eles se sentaram debaixo de um carvalho e comeram um almoço caseiro, enquanto os outros aldeões colhiam algumas cenouras.

      — Os Sagrados vão tirar Doomba de nós? — Ela perguntou.

      Foi a primeira coisa que ela disse durante todo o dia.

      — O quê? Hahahahaha!!! — Papai Tamsin riu. — Os Sagrados tomar Doomba de nós? Hahahahaha!!! Isso é hilário. Os Sagrados tomando Doomba? E o que vem depois?  Você me faz rir.

      Ele puxou Tamsin para seu peito.

      — Mas seus amigos estavam falando disso ontem à noite, papai — protestou Tamsin. — Ouvi tudo o que disseram.

      — Ah, Tamsin, você é bobinha! Você realmente pensou que eles estavam falando sério?

      Tamsin fez uma pausa. Ela não queria parecer ingênua.

      — Não, papai — ela retrucou. — Eu não sou estúpida. Mas eu não consegui entender por que eles estavam dizendo todas aquelas coisas. Foi muito estranho.

      — Eles estavam começando o jogo da cobra — seu pai explicou.  — É o jogo que jogamos sempre que o festival da cobra chega.

      — Ah — Tamsin respondeu. Ela parecia envergonhada.

      Papai Tamsin riu, acariciou os cabelos de sua filha e despejou algumas nozes sobre o melaço de uva. Ele olhou para os campos, para o vale, para o mar. Ele podia ver a aldeia dos Sagrados à distância. Ele podia ver seus templos, tendas e árvores.

      — Você conhece a história por trás do festival da cobra? — Ele perguntou.

      Tamsin sacudiu a cabeça.

      — Bem, isso aconteceu há muito tempo atrás, quando Doomba era apenas um vale vazio.

      — Naquela época, um rei desagradável governava a terra. Aquele rei tinha pouco de um humano. Ele tinha garras ao invés de dedos, escamas em vez de pele e cobras ao invés de braços!

      — O cozinheiro do rei tinha que pegar duas crianças todos os dias, cortar suas cabeças e alimentar seus cérebros a essas cobras. Ele as servia em uma sopa feita de sangue, que era tão vermelha quanto suco de romã!

      — Mas o cozinheiro estava desanimado. Ele se sentia tão culpado.

      — Então um anjo veio até ele em um sonho. As asas dela eram feitas de algodão doce e sua auréola era feita de favo de mel! Ela disse ao cozinheiro para trocar o cérebro das crianças por cérebros de cabra. Ela disse que iria protegê-lo.

      — O cozinheiro ainda pegava duas crianças todos os dias, para manter as aparências, mas sempre as deixava ir embora.

      — "Corram para as colinas — ele dizia a elas. Vocês estarão a salvo lá."

      — Então, duas crianças escapavam todos os dias. Eles formaram uma comunidade nas colinas. Eles se escondiam nas cavernas durante o dia e buscavam comida à noite.

      — Sua comunidade cresceu. E à medida que crescia, ficava mais forte. As crianças lutavam, boxeavam e se armavam com espadas.

      — Então, quando havia mil crianças nessas colinas, elas correram para a cidade juntas, balançando suas espadas no ar. Elas invadiram o palácio e mataram o rei nojento. Cortaram as cobras de seus ombros e as jogaram em uma fogueira gigante!

      — Nenhuma criança foi morta por esse déspota novamente!

      Alguns vermes espiaram da terra enlameada.

      Alguns aldeões arrancavam cenouras.

      Alguns pássaros cantavam.

      — Bem, para comemorar essa grande vitória, recriamos a história de nossos antepassados ​​durante o festival da cobra. Os Sagrados desempenham o papel do rei desagradável e nós fazemos o papel das crianças. Os Sagrados nos perseguem até as colinas e nós nos escondemos nas cavernas. É parecido com uma versão adulta de esconde-esconde!

      — Todo mundo carrega uma romã suculenta. Se você for pego, você tem que esmagá-la com todas as suas forças, cobrir sua cabeça com o suco e cair ao chão em uma pilha. É muito importante que você fique deitado o mais quieto possível, prenda a respiração e finja estar morto.

      — Então, quando mil membros do clã se encontram, corremos juntos morro abaixo. Nós gritamos, esbravejamos e expulsamos os Sagrados de nossas aldeias. Então celebramos! Jogamos cobras em um fogo, cantamos e fazemos uma festa gigante.

      — É muito divertido!

      Tamsin sorriu maliciosamente. Tudo fazia sentido para ela. A conversa do dia anterior era apenas uma elaborada peça de teatro, preparando o cenário para o jogo que estava para acontecer.

      E que jogo era! Tamsin mal podia esperar para começar. Ela adorava o pensamento de finalmente poder brincar de esconde-esconde com seu pai. Mas ela tinha mais uma pergunta.

      — Um cadáver realmente veio à vida ontem? — Ela perguntou. — Ou era aquilo era parte do jogo da cobra também?

      — Aquilo não fazia parte do jogo — Papai Tamsin replicou. — Mas também não acho que tenha acontecido. Pareceu um pouco exagerado!

      * * *

      Tamsin sentiu uma sensação esmagadora de excitação enquanto os preparativos para o jogo da cobra começaram. Ela estava admirada com os adultos de Doomba, que trouxeram um senso palpável de realismo aos procedimentos. Ela tinha que se lembrar de que estavam apenas atuando.

      Alguns aldeões tinham sacos cinzentos sob seus olhos. Outros tinham um olhar oco de desespero. Uma Jovem Mãe arrancou pedaços de cabelo de sua cabeça.

      O Sacerdote Corcunda passou horas rezando. Ele virou as páginas de sua Bíblia Divina e fingiu ler. O Homem da Medicina foi de casa em casa. Ele borrifava todas as paredes com uma mistura de sangue de carneiro e vinagre. E a Parteira acordou gritando no meio da noite.

      — Está acontecendo! Está acontecendo! — Ela gritou. — Posso ouvir o zumbido das máquinas deles. Eles têm cavalos, trombetas e armas! Eles estão vindo! Eles estão vindo! Eles estão vindo!

      Mas o zumbido que ela tinha ouvido não vinha de cavalos, trombetas ou armas. Não vinha dos Sagrados de maneira alguma. Vinha dos mosquitos que estavam em grande número naquela noite, sugando o sangue das veias das pessoas.

      Tamsin arranhou as mordidas que cobriam seus braços. Isso criou feridas tão rosas que a fez parecer um flamingo.

      — Pare com isso — Papai Tamsin exigiu. — Você vai rasgar sua pele toda!

      Ele deu uma longa tragada no seu cachimbo, soprou a fumaça de maçã em direção ao telhado e olhou para o Marido da Parteira.

      — Acho que devemos criar uma guarda na aldeia — ele disse.

      — Devemos defender nossa aldeia — o Aldeão Magro concordou. — Mas não devemos ser os primeiros a atirar. Não somos nós aqueles que querem uma guerra.

      Todos concordaram com a cabeça.

      — Toda essa conversa de luta é um pouco melodramática — replicou o Frágil Ancião. — Nossa primeira prioridade deve ser garantir que tenhamos alimentos e suprimentos suficientes. Podemos estar sob cerco por semanas. Não queremos morrer de fome.

      Todos assentiram novamente.

      — Hoje colhemos cenouras — respondeu o Homem da Medicina. — Vamos colher repolhos amanhã. Nossas reservas já estão cheias de grãos.

      — Podemos usar esses sacos de grão para proteger nossas janelas — sugeriu o Aldeão Magro.

      — Com certeza — concordou o Aldeão Corpulento. — E eu vendi um iaque ontem. Vou usar o dinheiro que recebi para comprar arroz, açúcar, suco, chocolates e doces. Haverá comida o suficiente para abastecer um banquete.

      Papai Tamsin olhou para a filha e sorriu.

      — Eu te disse que haveria um banquete — ele sussurrou. — Espere e verá!

      Tamsin deu uma piscadela atrevida para seu pai, enterrou a cabeça entre as mãos e riu.

      * * *

      Toda Doomba estava ocupada com as preparações no dia seguinte. As mulheres empilhavam sacos de grãos em frente a cada janela, os homens colhiam todos os legumes que podiam encontrar e os anciãos guardavam cada caminho da aldeia.

      O Aldeão Corpulento saiu para comprar guloseimas. Ele voltou com um rifle e oito balas.

      E Tamsin contou às outras crianças sobre o jogo da cobra. Mas um garoto estranho chamado Jon, que tinha olhos curvos e espasmódicos, olhou para ela e zombou.

      — Isso é bobagem — ele disse. — Todo mundo sabe que os Sagrados vão nos atacar. Os adultos não brincam.

      — Você é bobo — Tamsin respondeu. — Todo mundo sabe que os Sagrados são nossos amigos. Eles nunca nos atacariam.

      As outras crianças olharam para Tamsin. E então olharam para Jon. Coçaram suas cabeças e deram de ombro.

      — Você deve saber a história — Tamsin desafiou. — Você deve saber sobre o rei que tinha cobras no lugar dos braços e do anjo que tinha uma auréola feita de favo de mel.

      Jon ficou

      Enjoying the preview?
      Page 1 of 1