O Melhor Amigo do Cão: Para quem deseja retribuir esta amizade verdadeira
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Book preview
O Melhor Amigo do Cão - Marcelo Bessa
início
Não há outra forma de iniciarmos o entendimento das questões relacionadas à criação, educação, comportamento e manejo correto dos cães, se não falarmos dos conceitos básicos que norteiam o estudo e a compreensão destes animais e da relação, muitas vezes difícil, com os humanos.
1ª Parte / Seção 1 - Etologia
1ª Parte / Seção 2 - Quem você deve ser...
1ª Parte / Seção 3 - A sociedade canina
1ª Parte / Seção 4 - A Hierarquia
1ª Parte / Seção 5 - Aptidões e Raças
1ª Parte / Seção 6 - Particularidades Sexuais
1ª Parte / Seção 7 - O cão ideal
1ª Parte / Seção 8 - A escolha do cão
1ª Parte / Seção 9 - A Escolha do Nome
1ª Parte / Seção 10 - O cão na família humana
1ª Parte / Seção 11- Os Cães Falam?!?
1ª Parte / Seção 12 - O Criador Atento
1ª Parte / Seção 13 - Socialização
1ª Parte / Seção 14 - Capacidades e deficiências
Contos caninos 1 - A cauda do Totó
Num certo dia, Terezinha resolveu levar seu filho, Pedrinho, para conhecer o cachorrinho da sua tia Nana. Chegando à casa da tia, a mãe, preocupada, repetia insistentemente:
- Pedrinho, não é para tocar em Totó, às vezes ele morde, fique só olhando!
Então, eles entraram na casa, cumprimentaram tia Nana e lá estava o bichinho, curioso para ver quem havia chegado. Tia Nana, muito atenciosa, percebeu o interesse de Pedrinho no cão e disse ao garoto:
- Pedrinho, veja como Totó está te olhando e abanando o rabinho, pode brincar com ele, é seguro!
O menino, muito contente, nem olhou para a mãe, e aproximou-se do cão estendendo a mão para tocá-lo. Totó, furioso, atacou ferozmente.
A tia, sem graça, cheia de remorso, disse arrependida:
Explicando:
Na verdade, nem o cão ficou doido nem a tia Nana enlouqueceu. Totó realmente estava mexendo a cauda, a razão para o ataque é que a movimentação desta, ao contrário do que pensam as pessoas, não representa apenas alegria e mesmo neste caso nada garante que o cão aceitará ser tocado. Essa ideia se disseminou popularmente, porque, na maioria das vezes, quando os cães abanam a cauda, estão querendo brincar e ser tocados, no entanto, existem diversas variáveis que devem ser consideradas e este parâmetro (a cauda), não é realmente seguro para avaliar-se um possível ataque. Eu mesmo, quando criança, fui vítima de um ataque semelhante, já vi acontecer e ouvi relatos sobre este tipo de incidente. Portanto, não são casos tão raros quanto possa parecer. Falaremos mais profundamente sobre esta questão, quando falarmos da comunicação canina.
Todo conhecimento, sobretudo aquele relacionado à ciência, tende a ser representado por termos comuns à atividade em questão. No nosso caso, temos, entre outros, a ETOLOGIA, que se refere ao estudo do comportamento. Existem estudos etológicos para todas as espécies animais, inclusive a humana, mas, no contexto do estudo do comportamento canino, podemos dizer que a etologia dos cães, é o estudo do comportamento selvagem posto em paralelo com o comportamento do cão doméstico, ultrapassando, é claro, o significado estrito do termo (do grego ethos = costumes + logos estudo).
Mas, para nós, qual seria a importância dos estudos etológicos caninos?
O entendimento da etologia canina permitiu aos profissionais da área, uma forte mudança na compreensão da metodologia correta para a manipulação
do comportamento de um cão, gerando novas perspectivas de êxito neste trabalho. Pude perceber o ganho de eficiência no meu trabalho, à medida que avançavam (e ainda avançam) meus estudos sobre a etologia dos cães. Por essa razão é que julguei tão importante chamar sua atenção a respeito desse tema.
Na realidade, características etológicas caninas são conhecidas e, muitas vezes, deturpadas em ditos populares, o que deve despertar a busca da verdade aos bons criadores. A questão apresentada no início desta seção; A cauda do Totó
, é um exemplo de observação etológica correta interpretada erradamente pelas pessoas.
O que quero deixar claro, neste momento, é que o correto entendimento acerca da etologia canina, das verdades e mitos envolvidos neste estudo, influenciará diretamente no sucesso da sua relação com seu cão.
Voltar ao Sumário de links - Contos Caninos
Voltar ao Sumário de links - 1ª parte
Quando me perguntam o que eu espero de um bom criador, qual o criador ideal, a resposta sempre gira em torno dos conceitos de educação, do conhecimento a respeito dos cães, do interesse no bem-estar canino e, é claro, do bom senso, sobretudo para perceber o momento certo em que se deve buscar auxílio profissional. Estes são pré-requisitos básicos para considerá-lo um bom criador e, na realidade, é o que espero ajudá-lo a se tornar, através deste livro.
É claro que não existe um padrão pré-estabelecido para bons criadores. Existe, na verdade, um caminho, um norte para um destino muitas vezes tão complexo quanto a educação de uma criança, dada a dificuldade, tão corriqueiramente vista, na comunicação entre homens e cães.
Para iniciarmos este caminho, creio ser importante sabermos quem não devemos ser
. A questão é simples, o comportamento dos cães posto em confronto com o comportamento humano, seus interesses e anseios, tendem a gerar padrões deficientes de criação.
Contos Caninos 2 - O proprietário orgulhoso
João Grandão é um homem solitário, morador da bela Salvador. Frequenta as praias, pratica esporte, malha sem parar e tem baixíssima autoestima. Ele vive frustrado, pois apesar de tanto empenho não consegue chamar a atenção das meninas soteropolitanas. Um dia, na praia, lá estava João, sentado, anônimo, quando de repente avistou um magrelão
, esquisito, passeando com um Rottweiler, lindíssimo, atraindo todos os olhares. Logo, ele concluiu; agora é minha vez!
Pensando assim, comprou um filhote.
Acontece que o Grandão nunca teve a menor afinidade com cães e nunca soube como lidar com eles, então, veja o desastre: O cão destrói tudo, faz a maior algazarra, não obedece a ninguém e para o desespero de João não cresce da noite para o dia.
Bem, o tempo passou, o cão cresceu, ficou lindão e João, feliz da vida, imaginou; hoje é meu dia
, pegou o bichão e foi correndo para a praia.
Imagine então a cena: João Grandão, que não tem nem ideia de como controlar um cão de guarda; o cachorro, mais forte que o dono e doido por liberdade; na praia, domingo, verão, praia cheia. A confusão está formada, o cão tentando morder a todos, derrubando cadeiras, sombreiro voando, fim de mundo...
João irritado enrola a guia na mão esquerda, apoia com a direita e puxa com força o enforcador. O cachorro coitado
, mal consegue ficar em pé, salivando, com a língua para fora, quase desmaiando. E lá se vão…
As meninas, à distância, vão xingando o torturador
de cães de tudo que é nome; a dupla passando e a multidão indignada.
Resultado, o plano de João Grandão fez água em plena praia!
Conclusão:
Cães não são troféus, nem uma forma esperta ou sutil de chamar atenção. Todo bom criador, naturalmente, tem orgulho do seu cão, mesmo que ele não seja lá um fenômeno estético. O que não dá, é pra usar um pretexto tão pequeno como o de aparecer
, para adquirir um cão. Aos inconsequentes ávidos por chamar a atenção dos outros aconselho que comprem uma moto barulhenta ou pendurem uma melancia na cabeça, mas deixem os cães para quem realmente irá tratá-los com respeito.
Além do proprietário tipo orgulhoso
(e isso acontece, acredite!), existem outros tipos que classifiquei em separado no anexo I. É difícil traçar todos os perfis deficientes possíveis, mas decidi frisar alguns que, em minha observação, são mais problemáticos.
Um bom criador é, antes de tudo, um educador. Educar, por sua vez, requer muita atenção, vigilância e sacrifício, já que existem atitudes que gostamos de ter e outras que gostamos que os cães tenham, que não condizem com um correto processo educacional. Outro ponto importante é o correto manejo dos cães, tanto no aspecto comportamental, quanto no geral. Disso depende uma boa saúde e qualidade de vida, o que refletirá invariavelmente no processo educacional canino.
A correta percepção das necessidades do animal representa, também, uma prática muito importante para o bom criador, que será eficiente à medida que ele aprofunde seu conhecimento geral sobre cães. Em acréscimo, virá a sensibilidade necessária para que você, como bom criador, perceba seus limites.
Voltar ao Sumário de links - Contos Caninos
Voltar ao Sumário de links - 1ª parte
Um dos pontos coincidentes entre os cães e os humanos, e que, sem sombra de dúvidas, propiciou a tão longínqua aproximação entre estas duas espécies é o caráter social que permeia as relações em ambos os casos. Certamente, para você, importa entender qual a forma correta de estabelecer uma inter-relação entre as distintas sociedades, o que nos leva a uma pergunta crucial:
O que se deve fazer. Favorecer a inserção do cão na sociedade humana ou do homem na sociedade canina?
Obviamente, a inserção do cão na sociedade humana se deu há muito tempo (haja vista a interpretação de pinturas rupestres demonstrando a relação cão x homem primitivo), mas, no contexto educacional importa, na verdade, a inserção do homem na sociedade canina, por razões muito fáceis de entender:
Imagine uma turma de jardim de infância. Você acharia possível ensinar física quântica nesta turma? Claro que não! Uma criança no início da educação básica, jamais alcançaria a complexidade de um tema como este. Se você observar o trabalho de uma boa professora do jardim de infância, irá perceber que, muitas vezes, ela precisa se colocar no universo
das crianças para ser bem compreendida e ensiná-las num nível satisfatório.
Com os cães não é diferente. Esperar que eles entendessem as complexas leis que regem as relações humanas é o mesmo que superdimensionar suas capacidades. Além do mais, é certo que todo cão interpreta sua família humana como uma matilha, não por enxergar mal (o dono com focinho, patas e cauda), mas por entender que aquele é seu ambiente familiar, o grupo com o qual deve interagir naturalmente e usar seus códigos de comunicação.
Um bom educador terá que interagir com o cão, tal qual a professora com as crianças do jardim de infância. Entrar no universo canino, usando uma linguagem familiar, sem perder a autoridade, assumir seu papel na matilha
e fazer-se entender.
Na realidade, o entendimento, a aceitação e a prática desta realidade etológica é imprescindível ao correto desenvolvimento do processo educacional de um cão. De outra