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O Caso de Billy B
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O Caso de Billy B

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About this ebook

É necessária toda uma comunidade para educar uma criança. Chris é um jovem pai que se vê forçado a criar o seu filho sozinho. Depressa se apercebe de que o mundo tem os seus próprios planos e que o seu filho, Billy, não é uma prioridade. Será Chris capaz de tomar as decisões certas para manter Billy em segurança?

LanguagePortuguês
PublisherBadPress
Release dateNov 4, 2018
ISBN9781386695196
O Caso de Billy B
Author

Cindy Vine

Born in Cape Town, South Africa, I have traveled to many different countries working as an international school teacher. Following a bout with breast cancer and being ripped off yet again, I wrote a self-help book called Fear, Phobias and frozen Feet, which deals with how to break the pattern of bad relationships in our lives. Last year, I self-published Stop the world, I need to pee! It's a fictional tale of how a headstrong woman manages to escape from an abusive husband. Currently, I am teaching at an international school in Tanzania. The Case of Billy B is my third book.

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    O Caso de Billy B - Cindy Vine

    Este livro é dedicado a Kenny Thorp, que é corajoso que nem um leão.

    Agradecimentos

    Um obrigada especial a Rich Thorp que partilhou parte da sua história comigo, uma completa desconhecida, e que me deixou usá-la como a base para o enredo.

    Obrigada ao meu caro amigo Robert Stark, que verifica a gramática e ortografia e outras convenções literárias e que está sempre presente quando preciso de comentários positivos.

    Obrigada a Charlie Campbell, que se assegurou que a minha escrita era americana, me deu ótimas ideias e impressões e sem o qual nunca teria sido capaz de terminar este livro.

    Obrigada a Diane Bowe e ao seu lápis mágico, pela edição da versão de correção e por me tornar ainda mais americana.

    Obrigada aos meus filhos, que aguentam os meus olhares distantes e desatenção e sempre acreditaram em mim e me apoiaram em todas as coisas. Adoro-vos a todos.

    Louis MacNeice - Oração Pré-Natal

    Ainda não nasci; oh, escutai-me.

    Não deixeis que o vampiro, a ratazana ou o diabo coxo se acerquem.

    Ainda não nasci, consolai-me.

    Temo que a raça humana com altos muros me emparede, com fortes drogas me intoxique, com sábias mentiras me tente,

    Em negros potros me torture, em banhos de sangue me trague.

    Ainda não nasci; abonai-me

    Com água que me embale, erva que por mim cresça, árvores que me falem,

    Céu que me cante, pássaros e uma luz branca no fundo da mente que me guie.

    Ainda não nasci; perdoai-me.

    Pelos pecados que em mim o mundo cometerá, pelas minhas palavras quando me falam, pelos meus pensamentos quando me pensarem, pela minha traição engendrada por traidores para além de mim,

    Pela minha vida quando matarem pelas minhas mãos, pela minha morte quando me viverem.

    Ainda não nasci; ensaiai-me

    Nos papéis que devo desempenhar e nas deixas a que devo atender quando velhos me pregarem sermões, burocratas me intimidarem, as montanhas me franzirem o sobrolho, os amantes me rirem,

    As alvas ondas me chamarem à loucura e o deserto me chamar à desgraça e o pedinte recusar a minha esmola e os meus filhos me amaldiçoarem.

    Ainda não nasci; oh, escutai-me,

    Que o homem que é besta ou Deus se julga não se acerque de mim.

    Ainda não nasci; oh, enchei-me

    De força contra os que me congelariam a humanidade, me reduziriam a um autómato letal, de mim fariam uma peça da engrenagem, uma coisa com

    Uma cara, uma coisa, e contra todos os que me dissipariam a integridade, que me sopram como serralha, de lá para cá ou de cá para lá

    Como água entre dedos me derramasse.

    Que não façam de mim pedra e que não me derrubem.

    Caso contrário, matai-me.

    Capítulo 1

    Billy

    Escuridão. Sem qualquer claridade, apenas uma escuridão pesada que obriga a usar as mãos para me orientar. Sem nada para fazer, apenas aqui encafuado neste espaço apertado. Tem um cheiro algo bafiento. O barulho é contínuo. Quem é que disse que a escuridão é silenciosa? É como uma espécie de câmara sonora onde podemos testar diferentes sistemas de som e verificar a qualidade acústica. Os sons e barulhos veem de todo o lado, penetram-me os pensamentos, não me deixam dormir. Tiques, baques, gorgolejos, e silvos. A vida em surround.

    É então que o oiço, o barulho que mais temo. Discussão, gritos, briga. Sons abafados mas altos o suficiente para me entrarem pelo espaço adentro e me invadirem os ouvidos. Estou protegido na minha câmara de som. Sei que estou seguro, mas mesmo assim o coração acelera, à medida que os sons abafados aumentam de tom no exterior do meu santuário. Os músculos entesam-se, estou pronto para responder, para me defender se for atacado.

    Passos, oiço uma porta a bater e a ignição de um carro na entrada. O meu mundo é abalado com o começo do choro. Quem me dera poder oferecer algum conforto, mas não sei como, preso nesta minha caverna escura. A minha mão estica, mas não consigo alcançar. Há uma barreira que me mantém fechado no meu espaço. Puxar o cordão não me liberta. Já o tentei antes. Uma sensação de pânico temporária antes de me preparar para o que sei que se avizinha. Fecho os olhos e empurro os pés contra a parede para não ressaltar pela câmara quando os murros começam.

    Capítulo 2

    Carly

    — Porquê? Porquê? Porquê? — Gritava Carly enquanto esmurrava a barriga inchada. — Porque é que tinha de engravidar? — Carly virou-se de lado e olhou para o reflexo no espelho do corredor. — Lá se foi a minha linha! De vez! — Carly deu outro murro à sua barriga arredondada antes de cair desengonçada no chão.

    Não havia nada que pudesse fazer. O bebé havia sido planeado. Não é como se se tratasse de um acidente. Haviam-se conhecido numa festa de comemoração do vigésimo primeiro aniversário e não esperaram muito antes de se escapulirem da festa e se enfiarem nuns arbustos. Sexo, deviam-se ter ficado pelo sexo, mas não, ela tinha de se casar. Felizmente, o sacana passava a maior parte do tempo fora, a pecar em nome de Deus, da América e sabe-se lá mais do quê. Podia ter continuado a carreira de stripper, a fazer mais dinheiro, sem preocupações. Foi então que ele regressou do Kuwait e quis um bebé.

    Carly limpou as lágrimas da cara à manga da sua camisola larga. Podia ter dito que não. Podia ter dito que não. Devia-lhe ter contado sobre todos os outros. Porra, a vida da mulher dum soldado era solitária. Era nova demais para estar sozinha. Mas agora ele estava de volta e ela estava grávida. Ele esperava que ela fosse fiel. Mas a excitação, a adrenalina de dormir com outro homem na cama do marido era demasiado emocionante para parar. E agora alguns dos seus amantes habituais afastavam-se por causa da gravidez.

    — Raios! — e deu um último soco na barriga antes de se levantar e percorrer o corredor até à casa de banho pequena para passar água pela cara.

    — Talvez fosse melhor parar com os outros até isto sair, — disse Carly em voz baixa, passando os dedos pelo cabelo sem se aperceber enquanto olhava para o seu reflexo no espelho da casa de banho. Apercebeu-se de que a sua cara parecia estar a ficar mais arredondada e tinha os indícios de um segundo queixo a aparecer. — Se ele quer esta coisa, ele que fique com ela. Assim sempre recupero a minha vida. É só o que eu sou, o raio duma incubadora! — Carly voltou-se quando ouviu a porta da frente a bater. Era óbvio que Chris apenas conduzira até ao fundo da entrada da casa e voltara. Carly suspirou. Era tão previsível. Talvez isso fosse parte do problema. Era sempre assim. Todos os dias havia uma disputa sobre qualquer coisa. Ela beber álcool enquanto estava grávida, ela meter-se com os amigos dele, ela não cozinhar para ele, a casa estar sempre de pantanas. Quando pensava nisso, a lista não tinha fim. Era claro que o casamento também não corria como ele havia planeado. — Temos pena, eu também não me estou a divertir muito! — Carly lavou as lágrimas da cara e olhou para o seu reflexo uma última vez. — Queres ver a minha cara triste e deprimida, o meu sorriso falsou ou a cara de estou-me a cagar para ti e para o que tu pensas? — Por vezes, Carly julgava que toda a vida era uma encenação. Uma novela, e ela era uma das estrelas.

    — Carly! Carly! — Chris chamou-a freneticamente, batendo na mesinha de apoio perto da porta de entrada. — Desculpa ter gritado e de me ter irritado. Só quero que sejamos uma família. Eu sei que não me traíste. Sou só um gajo ciumento. Desculpa, está bem? — Chris abriu os braços para Carly, ela sob a ombreira da porta da casa de banho. Não se aproximou logo dele, ele que suasse um pouco. Carly cruzou os braços sob o peito e tentou parecer indiferente. O coração acelerou quando viu o olhar de dor agonizante na cara de Chris. Fazia-a sempre sentir-se culpada com aquela cara.

    Carly aproximou-se de Chris com um sorriso forçado na cara e encostou a cabeça ao peito forte dele. Se tu soubesses, pensou ela, sentindo Chris a intumescer à medida que se roçava contra ele. Os homens são tão previsíveis. Um toque acidental na zona da virilha e esquecem-se logo da discussão. O sexo era uma ferramenta bastante útil. Carly mostrou-lhe um ligeiro sorriso sombrio. Na sua adolescência, aprendera todas as maneiras possíveis de utilizar sexo para conseguir o que queria. Podia ser usado como distração, vingança, poder, para atribuir culpa e para convencer alguém a dar-lhe algo que ela quisesse. Claro, o sexo também podia ser por divertimento. Há quem diga que tem a ver com amor. Carly não acreditava nisso. Depois havia sexo por razões reprodutivas.

    Carly descruzou os braços e esfregou a barriga.

    — De certeza que se fizermos amor agora, não magoamos o bebé? —sussurrou-lhe Chris ao ouvido, como se temesse que o bebé ouvisse a sua pergunta.

    — Talvez seja melhor não, — sussurrou-lhe Carly de volta, pensando que ainda não tinha tido tempo de tomar banho após a visita habitual do marine da porta ao lado enquanto Chris estava no ginásio. — Li não sei onde que o sexo durante o fim da gravidez causa danos cerebrais ao bebé. Tem a ver com a pressão do pénis contra o crânio mole do bebé ou assim. — Carly sorriu, satisfeita com a sua mentira criativa. Limpou o sorriso da cara quando viu uma réstia de desapontamento rapidamente substituída por um sorriso de compreensão de Chris. O facto de Chris ser tão compreensivo roubava toda a diversão de lhe mentir. Apenas a fazia sentir-se mal.

    — Não faz mal, Carly — disse Chris. — Eu tomo um duche frio. Estamos bem? Perdoas-me? — Olhou para Carly por uns momentos, à espera de ver se ela mudava de ideias. Mas Carly já se dirigia para a cozinha para tirar uma cerveja do frigorífico. A bebida fresca curar-lhe-ia todas as maleitas e sentir-se-ia melhor por ter voltado a enganar Chris. Credo, ele era tão crédulo e sempre tão ansioso por ser prestável. Na verdade, era patético, pensou Carly, enquanto encostava a lata de cerveja fresca à cara.

    — Não devias beber álcool. Não é bom para o bebé — murmurou Chris por cima do ombro a caminho do chuveiro.

    Carly abriu a lata e mostrou um manguito às costas de Chris.

    — És um cabrão muito íntegro, tu — disse Carly baixinho quando Chris fechou a porta da casa de banho atrás de si. — Donde sacaste essa autoridade? Só porque me ajudou a fazer um bebé não lhe dá o direito de me controlar a vida. Cabrão. — Carly engoliu um trago da cerveja e saboreou a sensação fresca do líquido dourado a escorrer-lhe pela garganta. Na verdade, estava farta de estar casada, farta de ser a mulher dum soldado e farta de estar grávida. — Quando isto sair, vou-me embora. Acabou-se, — murmurou, sorvendo ruidosamente da lata de cerveja.

    Capítulo 3

    Chris

    Está bem, sou superficial. Sinto-me atraído por raparigas com pernas longas e elegantes, mamas grandes e que sejam bonitas. Não vou dizer que está tudo nos olhos, num sorriso bonito ou numa personalidade vencedora, que é isso que me atrai. Para mim, sempre me interessou o pacote exterior. Só quero que os outros tipos todos tenham inveja e que me admirem e vejam que eu tenho o que eles não têm. Fui eu que fui bom o suficiente para arranjar uma gaja toda boa. De todos os homens disponíveis naquele casamento, e acreditem que eram muitos, a Carly escolheu-me a mim. Ela sempre disse que nos conhecemos numa festa de aniversário dos 21 anos, mas eu tenho a certeza de que foi num casamento. Era um casamento militar, pelo que havia pelotões de jovens fresquinhos a cirandar com as garrafas de cerveja em riste, completamente bezanos. Um menu de homens para a escolha de uma fêmea apetecível. Sim, faço exercício e até acho que não estou nada mal. Podem achar que sou convencido, mas os factos são estes. O casamento não tinha muitas mulheres, quase nenhuma delas era boa e a Carly, bem, a Carly sobressaía entre as demais. Acho que me apaixonei assim que a vi, que ela sorriu e sacudiu o longo cabelo por cima do ombro. Soube nesse instante que a Carly era A Tal.

    Acho que comecei a ficar duro enquanto me dirigia a ela, antes de termos trocado qualquer palavra. Sabia que a queria mais do que qualquer outra coisa. E quando ela falou a sua voz era tão sensual que o meu coração se enrolou em nós. Céus, era tão boa. Tive a certeza de que a amaria e de que me partiria o coração, mas mesmo assim queria-a, se tal coisa fizer sentido. É como se não tivesse qualquer controlo sobre mim próprio e não me lembro de muito mais acerca desse casamento. As minhas hormonas apoderaram-se do meu cérebro. Quando me apresentei, disse-me que se chamava Caroline, mas que toda a gente a tratava por Carly. Fazia as flores do jardim parecerem ainda mais bonitas, o sol brilhava com mais força e o céu parecia mais azul. Falar com a Carly ajudou-me a esquecer as cruéis realidades da vida como soldado profissional. Namoriscámos. Rimo-nos. Escondemo-nos atrás de uns arbustos e comemo-nos que nem cães com o cio. Foi excelente.

    Quis casar-me antes de voltar a ser destacado. Todos os meus amigos se andavam a casar e não queria ficar para trás. Parecia a coisa certa a fazer na altura e queria ter a certeza de que a Carly era minha. Não sou do género que goste de partilhar. Eu via como os outros olhavam para ela, sabia que, quando me fosse embora, ela seria roubada por outro. Casámo-nos e a vida era bela.

    Quando voltei do Kuwait, decidimos ter um filho e começar uma família. Mas fui destacado para o Panamá e senti que as coisas entre nós mudaram. Não tenho a certeza se ela ficava aborrecida sem mim, mas por vezes não me dizia nada durante dias seguidos. Estava preso no Panamá e completamente impotente, pois não tinha como a contactar. Aquela sensação de pânico que nos faz esperar o pior. Imaginava que tinha sido assassinada por um violador e que estava deitada numa poça de sangue seco, a decompor-se lentamente enquanto eu estava mobilizado no Panamá.

    Por fim, consegui entrar em contacto com uma amiga que me dissera que a Carly tinha ido passar o fim de semana com outra amiga. Credo, porque é que ela não me diz estas coisas?

    Dava por mim a ficar cada vez mais paranoico. Que amiga, ou amigo, era este? Porque não me avisou de onde estava e com quem ia? O que estava a esconder de mim? Quando falei com ela ao telefone, tentei analisar cada nuance, cada pequena pista que indicasse que se andava a portar mal. Credo, a suspeita aumentava a cada instante, odiei-me por isso. Mas estava apaixonado pela Carly e estava ansioso por ser pai. Ouvimos imensas histórias de terror sobre abortos e tinha pavor que ela perdesse o bebé. Só queria que ela parasse de beber, que tivesse mais cuidado e que a gravidez a entusiasmasse um pouco mais. Era a parte pior de estar mobilizado. Não temos controlo sobre os nossos entes queridos que cá ficam. Mesmo casado e com amigos, senti a ansiedade da pessoa mais sozinha do mundo.

    Capítulo 4

    Billy

    Entre os silvos e gorgolejos, batedelas e tiques, oiço a voz dela. Conforta-me e traz-me alegria. As palavras que pronuncia não têm significado e nunca presto muita atenção ao que diz. Sinto apenas uma ligação forte ao som da sua voz. Como se ela fosse eu e eu fosse ela, mas sei que eu sou eu. Vezes há quando subitamente tenho medo e é apenas o som da sua voz melodiosa que me acalma.

    Tenho pavor de deixar a minha caverna segura, o meu refúgio.

    Não sei o que se encontra para lá destas paredes. Sei, por instinto, que a minha fuga do santuário não acontecerá sem dor, tanto para a mulher da voz doce como para mim. É isso que me assusta. O pesadelo infindável de não saber o que se aproxima e a perceção de que, seja o que for, não será particularmente agradável. No entanto, sinto a ligação entre a mulher e eu. Sei que me apoiará, que estará lá para me ajudar na vida no exterior.

    É essa certeza que me dá segurança, que me dá confiança para deixar o santuário, o meu porto seguro, a minha escura caverna.

    Sinto os movimentos cada vez mais limitados. Já não me consigo esticar e fletir os músculos. Verdade seja dita, sinto-me um pouco apertado. Pelo menos os murros pararam. Já não parece haver fluido suficiente para me proteger dos murros e começava a temer ficar ferido ou magoado. A mulher parece mais descontraída. Por vezes, oiço-a a rir. Não reconheço as outras vozes, vozes de estranhos, não sinto qualquer ligação a elas.

    Os silvos, os gorgolejos, batedelas e tiques continuam à minha volta e infiltram-se na minha caverna. Será que o exterior é mais sossegado?

    Capítulo 5

    Carly

    Carly sentiu o coração a parar quando ouviu o telefone a tocar no hall de entrada. — Por favor, que não seja ele. Por favor, que ele não atenda. Por favor, por favor, por favor... — repetiu suavemente para si mesma, apressando-se do quarto para atender antes que Chris lá chegasse. — Tarde demais, porra, porra, porra — Carly praguejou em surdina ao ouvir Chris a pegar no telefone.

    — Estou sim, fala o Chris. Estou? Estou? Está aí alguém? Estou? — Chris poisou o auscultador e virou-se para encontrar Carly em pé atrás de si, com a cara branca. — O que se passa? — perguntou ele, preocupado. — Estavas à espera de uma chamada? Se calhar são putos a brincar, mas quando atendo o telefone têm desligado a chamada. Tem-te acontecido o mesmo? — Carly abanou a cabeça lentamente e encolheu os ombros, enquanto Chris passava por ela para pegar no casaco. — Vou só ao barracão. Quero ver se tenho umas ferramentas de que preciso para arranjar a casa. De certeza que ficas bem? Não me pareces muito bem, fofa. —

    — Estou bem, o bebé é que me está a deixar desconfortável — respondeu Carly num tom monocórdico, desejando que Chris saísse de casa antes que o telefone voltasse a tocar. Porra, ela já lhe tinha dito para não ligar enquanto o Chris estivesse em casa, de licença. Mas ele quis saber? Claro que não e, provavelmente, até foi isso que a atraiu sobre ele. Um pouco louco, sem nunca seguir as regras, o tipo de homem de que ela gostava, como o Chris era, antes de amadurecer subitamente e querer ser pai, por amor de Deus.

    Mas porquê isto de repente? Um súbito desejo de deixar a sua marca no mundo. Se ele falasse ao telefone, o Chris reconhecer-lhe-ia logo a voz. Ao fim de contas, eram amigos dos copos e tinham servido juntos no ano anterior. O pai bem lhe tinha dito, no casamento: não cagues à porta de casa. O fedor entra-te sempre pela casa adentro. Obrigada, pai. Que belo conselho para se dar à filha no dia do seu casamento! Como é que o pai sabia que precisava desse conselho? Mas agora tinha desaparecido, tal como todos os outros na sua vida, com a exceção de Chris, que ficara mesmo quando ela já não o queria.

    Carly manteve-se de pé ao lado do telefone, mirando-o intensamente, desejando que tocasse. Conseguia ouvir Chris a vasculhar no barracão, a fazer barulho suficiente para assustar

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