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O Último Dia
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O Último Dia

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Sucesso inicial de crítica, O ÚLTIMO DIA combina a riqueza de detalhes históricos com drama, aventura e os horrores da Guerra do Paraguai.
Brasil, 1864. Bernardo era um rapaz triste. Ele amava Elisabeth, desde à infância, mas a niteroiense se casara com um diplomata paraguaio.
Às vésperas da Guerra, o marido de Elisabeth foge, levando com ele o pequeno Rodrigo, o filho de apenas três anos. Elisabeth fica desesperada. Autoridades e advogados nada podem fazer. Solano López invade o Mato Grosso e tem início a sangrenta guerra. Diante do desespero da jovem mãe, Bernardo se junta ao irmão dela e parte com o exército imperial de Dom Pedro II, em uma missão que não será nada fácil: sobreviver aos horrores do maior conflito armado da História da América do Sul e encontrar Rodrigo.
LanguagePortuguês
Release dateMay 26, 2018
ISBN9788592797218
O Último Dia

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    O Último Dia - celso possas junior

    vida.

    Capítulo 1

    "Todas as paixões são exageradas. Se não fossem

    exageradas, não seriam paixões".

    Nicolas de Chamfort, escritor francês.

    15 de outubro de 1864

    Casamento. Uma palavra que Bernardo odiava.

    Ainda mais, enlaces arranjados por interesses de casas da nobreza, como o da Princesa Isabel naquele dia. Pior do que casamentos combinados por príncipes europeus interessados em alianças políticas, só mesmo as uniões arranjadas por famílias necessitadas, como a de Elisabeth Mesquita.

    Tentava afastar os pensamentos sobre matrimônios. Pelo menos, era o dia para faturar um bom dinheiro.

    Tinha conseguido montar sua barraca em um local estratégico, no Beco dos Barbeiros, quase na esquina da Rua Direita. As autoridades proibiram os comerciantes de vender qualquer coisa no Largo do Paço e as barraquinhas acabaram espalhadas na Rua da Assembleia, Praça da Constituição e Rua dos Ourives.

    Bernardo Linhares tinha um negócio de carnes, iniciado com o pai alguns anos antes. Comprava charque do Rio Grande do Sul e carne fresca das fazendas em torno de Niterói e do resto da Província do Rio de Janeiro, além de linguiça e galinhas que mercadores traziam de muitos lugares para a pequena loja de Niterói. O estabelecimento aos poucos começava a ganhar tradição.

    Para o dia do esperado casamento, tinha preparado três caixas grandes de espetos de carne e linguiça, que ele esquentava numa churrasqueira improvisada com quatro tijolos e um saco de carvão. Atravessara cedo para o Rio de Janeiro com Samuel e mais um negro liberto, chamado Simão. Usaram o barco de um antigo pescador de Jurujuba, que faria muitas viagens naquele dia, saindo da Rua da Praia, no centro de Niterói, para a Praça XV. Uma embarcação pequena, mas que ainda fazia boa concorrência com as novas barcas de proa dupla e capacidade para centenas de passageiros.

    A população carioca, que crescera rapidamente com o inchaço das cidades e já contava com algo entre quinhentos e seiscentos mil habitantes, tinha sido incentivada a comparecer ao casório da Princesa Isabel. Não teria acesso obviamente à cerimônia na Capela Real, mas poderia ver a iluminação especialmente preparada para o dia do casamento: um show de fogos e o voo de um balão, além de um desfile de nobres e burgueses de várias regiões do Império.

    O povo tinha sido empurrado para as ruas secundárias pelo imponente desfile de carruagens, que inaugurou as festividades do dia. Os veículos e seus cavalos escovados e paramentados levavam os convidados para a cerimonia principal na Capela Real, orientados por um mestre-sala.

    A Princesa Isabel e o Conde D´Eu já estavam de joelhos sobre almofadas e mantas douradas àquela altura dos acontecimentos, repetindo suas promessas decoradas para o Arcebispo da Bahia e primaz do Brasil. Havia nobres, comerciantes e estrangeiros, vindos das diversas casas monárquicas, além de colaboradores e representantes do Núcleo Literário Fluminense.

    Um homem com um chicote e um chapéu de aparência europeia se oferecia para castigar escravos rebeldes de alguma senhora por apenas dois réis a chibatada. Mas foi expulso por Bernardo e um rapaz da Glória, que vendia uma cerveja de tonel típica da Alemanha. Ninguém ia consumir espetinhos de carne fresca e beber chope assistindo a chicotadas.

    Casamento. A união de um homem e uma mulher, abençoada pela Igreja e pela Casa Real. Era tudo que Bernardo queria até maio de 1861. Era tudo que odiava desde então. Quantas vezes ficara na porta de casa, esperando até que Elisabeth passasse, segurando sua sombrinha sob o sol tropical ou o próprio chapéu, para que não voasse com o vento quente da praia de Icaraí? Quantas vezes disfarçaram, na entrada da missa de domingo, para poderem sentar em lugares com visão perfeita um do outro? As conversas rápidas, os olhares longos. Seu coração disparava cada vez que ela sorria.

    Quantas vezes imaginara seu próprio casamento com Elisabeth, as famílias reunidas, uma festa com música, bebidas e muitos convidados? Tantas noites imaginara as núpcias com ela, o corpo magro, os seios firmes, poder beijá-la sem pressa, sem medo do flagrante, noites inteiras com ela, dentro dela.

    Mas o pai de Elisabeth estava doente, morrendo de tuberculose. Não conseguia mais sustentar a mulher, o filho Tomás e as quatro moças da casa. A oferta de casamento do diplomata paraguaio aparecera como um presente dos céus para a família, um valor que sustentaria as necessidades da casa até que as outras meninas pudessem se casar também e Tomás já tivesse terminado os estudos. Elisabeth teria que fazer o sacrifício pela família.

    Era uma coisa comum, nada raro. As famílias brasileiras tentavam usar o casamento das filhas para obter alguma ascensão social. Ou garantir um futuro estável, mesmo que o interessado fosse um mulato burguês. Negros livres não eram tão bem-vindos entre as famílias da nascente classe média – mulatos, sim. O diplomata paraguaio não se encaixava em nenhum rótulo tradicional, mas era educado e oferecera uma soma considerável em dinheiro para a família. Andrés Aronés ficou louco por Elisabeth e faria qualquer coisa para desposá-la.

    Bernardo tentara impedir o casamento – implorara a ela que não fizesse aquilo contra o próprio coração. Prometera arrumar dinheiro, substituir a oferta do diplomata por algum sustento, pelo menos honroso, aos vizinhos da Rua Teresa. Mas não adiantou. Em poucos meses, Elisabeth casou e foi morar na capital, perto da sede da diplomacia paraguaia.

    Bernardo também saiu da vila – não queria mais encarar os olhares de todos, que sempre comentavam o quanto ele havia lutado para impedir o casamento. Morava agora num quarto alugado perto da loja de carnes e iguarias.

    Tentou afastar o pensamento mais uma vez.

    Não queria pensar tanto em Elisabeth, mas era raro um dia, uma hora sequer, em que tivesse sucesso. Tentava estratégias diversas, como odiá-la, pensar nela com o diplomata. Imaginava a linda mulher de olhos acinzentados recebendo o marido com beijos, tirando a roupa dele, servindo-o à mesa e na cama, abrindo as pernas para ele. Obrigava-se a pensar nos detalhes mais íntimos, elevar seu ódio, tentar, enfim, interromper o sofrimento. Mas sempre acabava odiando a niteroiense de dia, para sonhar com ela à noite. Sonhos lindos e tomados por desejo. Acordava dividido, furioso com a presença dela em todas as noites e, ao mesmo tempo, frustrado que o sonho já tivesse acabado.

    Também buscava se interessar por outras mulheres. Cortejara algumas e até beijara a filha de um pescador, a primeira vez que seus lábios tocavam outra boca que não a de Elisabeth. Às vezes, gastava um pouco do seu lucro na casa das meretrizes, onde podia experimentar os prazeres da carne, mas que em nada ajudavam quanto à amargura que carregava. No fundo, sabia que jamais amaria outra mulher. Elisabeth fora sua paixão, desde a primeira vez em que brincaram juntos na vila de Icaraí. Desde aquela manhã, quando a ensinara a segurar uma bola de gude entre as pontas do indicador e do polegar, não havia espaço para outras. Nunca haveria.

    Samuel avisou que a carne estava acabando – as vendas foram muito melhores do que o previsto. O povo gostava de festejar ali, entre o Paço e a Alfândega, fosse uma malhação do Judas ou o casamento da Princesa, que quase ninguém tinha visto, sempre entocada no Palácio em São Cristóvão. E a presença do vendedor de cerveja alavancava as vendas – os bebuns cariocas precisando forrar o estômago.

    Bernardo disse a ele para aumentar o preço. Pegou um pedaço de carvão e escreveu na madeira clara: espeto a trinta réis.

    Estourou uma briga para os lados da esquina do Banco do Brasil e dois guardas se deslocaram, um deles mancando por causa das bolhas. Todos haviam recebido botas novas da Inglaterra para o dia da festa, mas os números não eram iguais aos dos portugueses e ele acabara com uma bota pequena demais.

    Para sua surpresa, viu o irmão de Elisabeth, um tipo inconfundível: cabelo loiro, óculos fabricados com casco de tartaruga e uma barba ruiva em formato triangular, que lembrava a de um mosqueteiro francês. Tomás parecia procurar alguém, a cabeça mais alta que o populacho em volta. Ele era alto – tinha 1,80, mais do que Bernardo e seus 1,75, já bem acima da média dos brasileiros e portugueses. Diziam os estudiosos, que faziam o censo, que a altura dos homens estava aumentando – a média saíra de 1,60 no início do século, para 1,64 em 1850.

    Bernardo colocou dois dedos na boca e assoviou alto, um som agudo, treinado nos tempos do colégio que frequentaram juntos, a décima-terceira Escola de Niterói, na Rua Santa Rosa, ao lado do córrego que seguia pela Rua Miguel Couto. Foi imediatamente reconhecido pelo amigo da vila da Rua Teresa, que acenou sobre as cabeças do populacho.

    Tomás se aproximou. Abraçou Samuel, que entregou a ele um dos últimos espetos de carne.

    – Estava te procurando – falou, arrancando um naco do espetinho em seguida.

    Ficou curioso. Tinham se visto pouco nos últimos meses, Bernardo tentando se afastar até mesmo de Tomás, irmão mais novo de Elisabeth. O estudante de medicina acabava sempre falando nela, despertando lembranças e sentimentos. Bernardo quase não encontrava mais as famílias da vila, todos agora símbolos do que amara tanto e não podia ter. Até os próprios pais, ele andava visitando apenas em ocasiões especiais, como Natal e aniversários.

    – Que houve? – perguntou.

    – Estou indo para Niterói. Mamãe mandou me chamar.

    – Alguém morreu?

    – Não. Mas é uma desgraça.

    O olhar de Tomás indicava que falaria algo sobre Elisabeth, os olhos verdes quase o preparando para ouvir algo sobre ela.

    Um senhor, com um pano em volta do rosto inchado, esbarrou neles e entrou na barbearia, vendo o letreiro que anunciava um homem de sete instrumentos. Significava que o habilidoso proprietário, além de trabalhar nas barbas e cabelos com navalhas e tesouras, também possuía alicates, boticões e lâminas de aço alemãs para pequenas cirurgias e extração de dentes.

    – Conte logo.

    – O marido dela, Andrés, o paraguaio.

    O coração de Bernardo disparou.

    Por uma fração de tempo, pensou nele morto, Elisabeth viúva, livre, disponível. Todo o ódio e o sofrimento transformados novamente em paixão. Sentimentos que tentava combater, reanimados num milésimo de segundo, como uma chama que recebia lenha e oxigênio.

    – Raios! Fala logo.

    – Lembra que ele voltou de Paris há algumas semanas?

    – Sim.

    – Disseram que ele andava meio esquisito. Mal falava com Elisabeth. Até para o filho, ele parecia não dar muita atenção.

    – E?

    – Há algumas noites, ele saiu de casa e levou Rodrigo. Quando Elisabeth acordou, não estavam os dois.

    – Eles não voltaram?

    – Não. Ela estranhou, mas Andrés não dava muitas satisfações, fazia o que queria e, às vezes, levava o filho para algum passeio e nem avisava a ela se ia demorar. Mas, desta vez, passaram-se dias e ela abriu a gaveta dele na escrivaninha que ela nunca mexia. Ele não gostava nem que limpassem.

    – Puta merda. Conta logo – Bernardo exasperava-se com o amor de Tomás pelos detalhes.

    – Andrés foi embora, talvez para o Paraguai. E levou o pequeno Rodrigo com ele.

    Cerca de duas horas depois do aparecimento de Tomás no Beco dos barbeiros, os dois acenderam um cigarro de palha na popa do barco de madeira, atrapalhados pelo vento quente que vinha da entrada da Baía da Guanabara. O céu carregado ameaçava uma tempestade a qualquer momento, típica dos dias de muito calor.

    – Será que ele foi mesmo para o Paraguai? – perguntou Bernardo.

    Tomás lutava para manter o rolinho de palha aceso com a ventania e os primeiros pingos de chuva.

    – Certamente. E ele fez de propósito, ao esconder a carta – respondeu.

    – Como assim?

    – Ele deixou uma carta na gaveta, sabendo que Elisabeth ia aguardar alguns dias, antes de ficar desesperada a ponto de abri-la. Andrés fugiu à noite e queria alguns dias de vantagem antes de começarem as buscas. Ele imaginou que Beth não abriria a gaveta antes de três ou quatro.

    Olhavam para o centro do Rio, onde o dia acabava, uma multidão de brancos e negros ainda se misturando no Largo do Paço e na Praça XV. Uma salva de Artilharia já havia anunciado o fim das cerimônias oficiais. Fogos erráticos subiam ao céu cheio de nuvens e pequenos balões coloridos erguiam flâmulas e pequenos retratos em litografia da Princesa Isabel.

    O final da festa não ocorreu como os homens de Dom Pedro II haviam planejado. Grande parte da iluminação, especialmente preparada para o dia do casamento, falhou. As novas luminárias a gás, espalhadas por todas as esquinas, não funcionaram e velas surgiam às pressas de todos os lados, bem como antigas lanternas de cerâmica e óleo. Uma das velas caiu e, antes que percebessem, incendiou uma birosca.

    A grande atração do final do dia também foi um fiasco. Um estrangeiro chamado Wells subiria em um grande balão com mais de vinte metros e o nome dos noivos, Isabel e Gastão. Mas um problema fez com que o artefato não ficasse completamente cheio e mal saísse do chão.

    Para piorar, a chuva caiu – uma tempestade de verão fora de época, com direito a rajadas de vento e até granizo em algumas partes da capital. Vários jornais, dedicados a espezinhar a monarquia, trataram de redigir manchetes, ridicularizando a festa.

    No grande baile oferecido por Dom Pedro II, cerca de dois mil convidados consumiam quinhentos quilos de camarão e lagosta, dois mil frangos, perus e faisões, uma tonelada de carne de vaca e porco, além de duzentas caixas de vinhos e champanhe e cinco mil litros de cerveja.

    – Filho da puta. Será que ele foi por terra?

    – Não. Elisabeth dizia que ele era importante, inclusive amigo de Solano López. Devem ter planejado tudo, com a passagem de algum navio deles ou de país amigo.

    – Não vamos conseguir pegá-lo. Nem se a Marinha quiser mandar um barco atrás dele.

    – É verdade. E, a essa altura, já deve estar no Rio da Prata.

    A chuva engrossou. Os dois amigos entraram na pequena cabine sob o teto de madeira, espremendo-se com Samuel, que segurava um saco marrom com o dinheiro da venda dos espetinhos, e Simão, que roncava tão alto que quase abafava o ruído da chuva.

    – Acho melhor não aparecer agora – falou Bernardo.

    – Por quê? – perguntou Tomás.

    – Elisabeth deve estar mal. Eu sempre fui contra o casamento. Esse filho da puta nunca me enganou.

    – E daí?

    – Minha presença vai deixá-la pior.

    Tomás se virou de lado para facilitar a conversa. A chuva produzia um barulho mais alto no teto de madeira do Araribóia.

    – Não foi ideia minha. Mamãe mandou um mensageiro hoje. Pediu para eu ir lá de novo e levar você.

    – Sua mãe pediu isso?

    – Não. Foi Elisabeth. Ela pediu para eu te procurar. Ela quer falar com você.

    Ficaram alguns segundos em silêncio. Samuel agora acompanhava a conversa.

    Bernardo retomou as perguntas.

    – A carta falava em detalhes?

    – Não muito. Na verdade, foi uma correspondência cruel. Andrés apenas avisava que estava indo definitivamente para o Paraguai, levando Rodrigo com ele. Disse para Elisabeth se conformar. Ela nunca mais veria o filho.

    Capítulo 2

    "O que é feito por amor sempre se

    realiza acima do bem e do mal".

    Friedrich Nietzche, filósofo alemão.

    A Rua Teresa estava mais bonita, os moradores ajeitando um trecho de pedras achatadas com os próprios recursos. Os cavalos faziam mais barulho quando transitavam, mas havia muito menos poeira e as casas ficavam mais limpas.

    A via era curta e fazia esquina com outra maior, seguindo diretamente até a praia, que os moradores já começavam a tratar como Praia de Icaraí. Mais gente chegava todo dia a Niterói. As cidades atraíam os jovens do campo, os antigos escravos e os trabalhadores livres dos engenhos – muitos, afundados em dívidas e hipotecas de bancos imperiais e ingleses.

    Os novos habitantes dos núcleos urbanos aprendiam, aos poucos, os novos ofícios remunerados, profissões diferentes de plantações e engenhos: alfaiates, marceneiros, pedreiros, quitandeiros e funileiros. Niterói crescia rapidamente com o serviço regular das embarcações, inaugurado algumas décadas antes para ligar a cidade ao centro do Rio. Já contava, em 1864, com cerca de vinte e oito mil habitantes, que se espalhavam lentamente da parte central e do tradicional bairro de São Domingos para o Ingá e Icaraí. Pequenos sítios espalhavam-se por áreas chamadas Barreto e Fonseca, além de outros pontos mais distantes: Santa Rosa e Saco de São Francisco.

    A casa da família Mesquita era a segunda da vila, vizinha à da família Linhares. Bernardo ficou um tempo com os pais e almoçou a galinha ensopada tradicional da família, que nem as cozinheiras de Dom Pedro II conseguiriam imitar.

    No início da tarde, atravessou o portão de madeira. Joana Mesquita abriu a porta e o abraçou.

    Trocaram palavras rápidas. A costureira tinha o olhar baixo e parecia envergonhada. Na semana do casamento de Elisabeth, ela o olhara com arrogância, com pena do jovem pretendente que se recusava a aceitar o casamento de sua amada com outro. Desdenhara quando Bernardo dissera que o paraguaio não parecia um bom homem. Agora os olhares seriam diferentes na casa dos Mesquita e no resto da vila. No final das contas, ele tinha razão.

    Joana estava abatida. Enviuvara havia pouco mais de um ano. Bartolomeu fora finalmente vencido pela doença pulmonar. Ela trabalhava dobrado, fazendo costuras para a burguesia e roupas para a própria família. Nos últimos dias, conseguira um bom faturamento com as encomendas de vestidos e adornos, para as mulheres de Niterói comparecerem ao casamento de Isabel e Gastão. Indicou a Bernardo que Elisabeth estava no escritório, cheio de livros empoeirados do falecido professor. Ultimamente era ocupado pela filha mais velha, que não tinha motivos para permanecer na casa do Rio de

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