O Olhar da Época: Imagem, comunicação e poder na Propaganda Fide Inquisitorial
()
About this ebook
Read more from Geraldo Pieroni
Boca maldita: Blasfêmias e sacrilégios em Portugal e no Brasil nos tempos da inquisição Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsMoleque & Nhonhô: Uma história em preto e branco (a criança brasileira no período escravista) Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Related to O Olhar da Época
Related ebooks
Mito, religião e ambiente midiático Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsUm Brinde a Incomunicação: Reflexões a partir da Europa Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsMarshall Mcluhan: Aforismos e profecias Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsReflexões sobre o Saber Histórico: Entrevistas com Pierre Villar, Michel Vovelle, Madeleine Rebérioux Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsHistória de países imaginários: variedades dos lugares utópicos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsUma arqueologia do ensino de Filosofia no Brasil: Formação discursiva na produção acadêmica de 1930 a 1968 Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAs Imagens na História: o cinema e a fotografia nos séculos XX e XXI Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA identidade nacional, um enigma Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsImagem: Artefato cultural: Artefato cultural Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO encantamento dos sentidos: O sublime e a beleza na teoria estética de Edmund Burke Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsLinguagens da Identidade e da Diferença no Mundo Ibero-americano (1750-1890) Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsHegel e as artes Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAs Origens Medievais do Ensino do Direito em Bolonha (Século XIII) Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsVoltaire político: Espelhos para príncipes de um novo tempo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsSobre a Universidade: o declínio da sociedade atual Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsHistória Natural Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Revolução Mexicana Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAqui se jaz, aqui se paga: a mercantilização da morte, do morrer e do luto Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsOs Robôs Fazem Amor?: O Transumanismo em Doze Questões Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsReligião e consumo: Relações e discernimentos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsParmênides: o não ser como contradição Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsRui Barbosa Leitor de John Ruskin: O Ensino do Desenho como Política de Industrialização Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEncontros filosóficos - composições sobre o pensamento: Volume 1 Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Mondego Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA ontologia em debate no pensamento contemporâneo Rating: 5 out of 5 stars5/5Vicente Ferreira da Silva: a Redescoberta da Mitologia Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsHistória em Debate: Cultura, Intelectuais e Poder Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsOdorico na cabeça Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPaisagens sobrepostas: índios, posseiros e fazendeiros nas matas de Itapeva (1723-1930) Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Agenda Social: Colecçâo de Textos Magisteriais Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Teaching Methods & Materials For You
Raciocínio lógico e matemática para concursos: Manual completo Rating: 5 out of 5 stars5/5Temperamentos Rating: 5 out of 5 stars5/5Aprender Inglês - Textos Paralelos - Histórias Simples (Inglês - Português) Blíngüe Rating: 4 out of 5 stars4/5Como Estudar Eficientemente Rating: 4 out of 5 stars4/5Ensine a criança a pensar: e pratique ações positivas com ela! Rating: 5 out of 5 stars5/5A raiva não educa. A calma educa.: Por uma geração de adultos e crianças com mais saúde emocional Rating: 5 out of 5 stars5/5Sou péssimo em português: Chega de sofrimento! Aprenda as principais regras de português dando boas risadas Rating: 5 out of 5 stars5/5Como Escrever Bem: Projeto de Pesquisa e Artigo Científico Rating: 5 out of 5 stars5/5Sexo Sem Limites - O Prazer Da Arte Sexual Rating: 4 out of 5 stars4/5Massagem Erótica Rating: 4 out of 5 stars4/5Técnicas de Invasão: Aprenda as técnicas usadas por hackers em invasões reais Rating: 5 out of 5 stars5/54000 Palavras Mais Usadas Em Inglês Com Tradução E Pronúncia Rating: 5 out of 5 stars5/5O universo da programação: Um guia de carreira em desenvolvimento de software Rating: 5 out of 5 stars5/5Pedagogia do oprimido Rating: 4 out of 5 stars4/5A arte de convencer: Tenha uma comunicação eficaz e crie mais oportunidades na vida Rating: 4 out of 5 stars4/5Jogos e Brincadeiras para o Desenvolvimento Infantil Rating: 3 out of 5 stars3/5BLOQUEIOS & VÍCIOS EMOCIONAIS: COMO VENCÊ-LOS? Rating: 5 out of 5 stars5/5Cérebro Turbinado Rating: 5 out of 5 stars5/5Piaget, Vigotski, Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão Rating: 4 out of 5 stars4/5Ludicidade: jogos e brincadeiras de matemática para a educação infantil Rating: 5 out of 5 stars5/5Pense Como Um Gênio: Os Sete Passos Para Encontrar Soluções Brilhantes Para Problemas Comuns Rating: 4 out of 5 stars4/5Sou péssimo em inglês: Tudo que você precisa saber para alavancar de vez o seu aprendizado Rating: 5 out of 5 stars5/5Tantra E Seus Segredos Rating: 5 out of 5 stars5/5Como se dar muito bem no ENEM: 1.800 questões comentadas Rating: 5 out of 5 stars5/5Guia Prático Mindfulness Na Terapia Cognitivo Comportamental Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Vida Intelectual: Seu espírito, suas condições, seus métodos Rating: 5 out of 5 stars5/5
Reviews for O Olhar da Época
0 ratings0 reviews
Book preview
O Olhar da Época - Geraldo Pieroni
final
Prefácio
A obra de Geraldo Pieroni, Wilma de Lara Bueno, Vera Irene Jurkevics e Alexandre Ribeiro Martins, O Olhar da Época: Imagem, comunicação e poder na Propaganda Fide inquisitorial, já no primeiro parágrafo, traz um conjunto de perguntas com a intenção explícita de instigar o leitor a refletir sobre a importância do estudo das imagens, a fim de se entender o significado das ações de uma instituição no esforço de eliminar as discordâncias internas e externas e, por meio de um projeto de coerção, manter o poder.
Os autores, ao discutir a função das imagens como meio de comunicação e propaganda, além de destacar a sensibilidade e a originalidade do tema, convidam-nos, sem descartar as subjetividades e os intimismos, a irmos além do que eles próprios interpretaram. Suas reflexões apontam à possibilidade de novas descobertas quando, amparados por processos metodológicos e científicos, olharmos para elas e nelas lermos o que ainda não foi explicitado pela linguagem verbal. Eles nos induzem a produzir outras informações para além do já dito e, a partir de cada experiência e de cada vivência social, retirar das sombras e do silêncio aquilo que ainda não foi percebido na obra do artista.
O Olhar da Época indica que as possibilidades interpretativas de uma determinada imagem não se esgotam apenas num olhar. Ela mantém segredos que se revelam na percepção de cada leitor. Desta forma, o conjunto das ilustrações que integram o texto mostra como cada pintor buscou dialogar com a sua época e com os seus enunciatários para transmitir-lhes a mensagem que expressa a força repressiva da Inquisição sem, contudo, impor-lhes formas verbais para a compreensão dessa realidade. Deixa-os livres para supor e pressupor, pois o significado da obra e a mensagem nela contida não dependem apenas da vontade do enunciador, mas dos efeitos de sentido que ela gera no enunciatário. Assim, no encontro do enunciador e com o enunciatário, no recôndito dos seus mistérios e na profundeza do imaginário, elaboram-se e reelaboram-se leituras e sentidos que podem dizer mais do que as palavras escritas. Nesse encontro revelam-se conteúdos e explicitam-se relações entre instituições e indivíduos envoltos no cotidiano e no contexto próprio e específico de cada sociedade.
Nesta obra, os autores demonstram que, apesar de toda a complexidade, é possível tratar desta temática sem hermetismo. Pressupõem, todavia, leitores minimamente informados sobre o tema da Inquisição e do uso das imagens como forma de comunicação e propaganda. No entanto, como bons propedeutas, antecipam ao leitor que a trindade — imagem, comunicação e poder — indica a forma como uma instituição se comunica e se impõe, tanto pelo temor, quanto pelo escamoteamento dos padrões de bondade, justiça ou piedade, sejam eles humanos ou divinos.
Prof. Dr. Euclides Marchi
Universidade Federal do Paraná — UFPR
Introdução
Quais ferramentas teóricas são fundamentais para captar nas imagens da Inquisição os significados da propaganda produzida por uma instituição coercitiva? Quais os mecanismos de análises a serem utilizados para evitar o anacronismo na utilização do conceito propaganda? Quais transformações ocorreram na trajetória conceitual do vocábulo propaganda
na sua práxis histórica? Quais as rupturas e continuidades que este conceito implica? Como os estudos iconológicos podem contribuir para apreensão histórico-midiática de uma determinada época?
Não é apenas nos tempos atuais que os governantes das várias instituições se utilizam de uma eficaz imagem pública para promover as suas ideias. Alguns estudiosos expressam dúvidas a respeito da pertinência do uso de conceitos modernos, tais como propaganda
para se referir a um tempo anterior à Revolução Francesa (1789). No entanto, se debruçar sobre a eficácia da propaganda em um período anterior ao advento e do sucesso da mídia moderna só é possível por meio da utilização de mecanismos da análise histórica e de seus referenciais teóricos.
Comunicação, linguagem, imagens e propaganda são filhas de seu tempo. Nesta perspectiva, Peter Burke sugere a valorização de uma história cultural da imagem
ou, ainda, a uma de antropologia histórica da imagem
¹. O essencial é a reconstrução de imagens inseridas numa determinada cultura e, neste enfoque, o termo aplicado pelo historiador de arte Michael Baxandall é muito elucidativo: olho da época
.² Os criadores das imagens, de outros tempos, tinham suas próprias intenções e mensagens. Cabe-nos, hoje, tentar interpretá-las com o auxílio da iconologia.
Da mesma forma, o termo propaganda
possui uma gênese e uma trajetória. Sua procedência deriva do gerúndio do verbo latino propagare, correspondente ao português propagar, significando o ato de difundir alguma coisa. O vocábulo faz alusão ao alastramento da vinha no plantio.³ Em literatura, a propaganda pressupõe a divulgação de uma determinada ideia ou crença política, mística ou ideológica. Esta proclamação pública poderá ser intencional ou não, podendo revestir-se de glorificação ou oposição a um sistema vigente.
O uso desta palavra, neste trabalho, é consequência de uma pronunciação de cunho religioso denominada Congregatio de Propaganda Fide, que tinha como tarefa primordial a difusão da fé católica pelo mundo todo, além da competência de estabelecer as diretrizes e coordenar todas as forças missionárias⁴ destinadas a conter o avanço do protestantismo, ao mesmo tempo em que reafirmava seus dogmas.
Em 1622, o papa Gregório XV, por meio da bula Incrustabile Divine
, fundou a organização denominada Congregatio de Propaganda Fide (Congregação