Um na estrada
By Caio Riter and Amanda Grazini
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Um na estrada - Caio Riter
Poe
o trajeto
Some da minha frente. Desaparece. Esquece que eu existo, foi o que a minha mãe me disse, e é o que tento fazer agora. Eu também, cansado de tantos xingamentos, de tantas incompreensões, de não me sentir amado. Afinal, que culpa tenho de ser do jeito que sou, de pensar como penso?
– Tá quente – fala o homem do meu lado.
– Aham – eu concordo, apenas pra não deixar o comentário dele voando solto por dentro do ônibus, apenas porque a minha mãe sempre diz que não é educado deixar de responder. E eu aqui, fugindo dela, sumindo conforme ela pediu, ainda obedeço aos seus conselhos. Só eu mesmo. Sinto vontade de rir, de bater na minha própria cara diante de tamanha imbecilidade. Minha mãe e seus conselhos que se explodam.
– É capaz que a gente pegue chuva na viagem.
O homem insiste. Talvez tente fazer com que o longo trajeto se torne menor. Não sei.
– Aham – respondo e olho para a rua.
Nuvens escuras, pesadas, aproximam-se de mim. Ando, há muito, cercado de nuvens, todas cinzentas, prontas a desabar sobre a minha cabeça. A qualquer momento. E desabaram, mais uma vez, quando a minha mãe entrou em casa e me encontrou na frente do PC, e viu a louça na pia, e viu meu quarto ainda desarrumado. Pô, qual o problema? O quarto é meu e eu não me incomodo – até gosto – da cama desfeita, das roupas na cadeira, dos tênis pendurados na porta do guarda-roupa. É meu jeito, me organizo assim. Foi o que eu disse a ela. Mas e ela me ouviu? Que nada. Minha mãe não escuta ninguém. É a dona da razão, sempre. Começou a desfiar o seu rosário de lamentações, a dizer que ralava o dia todo só pra me dar o que eu preciso, que eu nem ligava, que não ajudo ela, que sou mal-agradecido. Custa arrumar o teu quarto? Custa, Davi? Ficou gritando, acho que queria que o prédio inteiro soubesse da incompetência do filho dela. Adora se sentir uma coitada.
Abro um livro. Quero evitar a conversa com o meu companheiro de banco, quero evitar pensar nos gritos da minha mãe. Some da minha frente, desaparece.
Devia ter convidado o Glauco pra vir comigo. Viagem mais chata.
Quero sumir, como ela mesma pediu. Ergo os olhos do livro, as nuvens escuras acompanham o ônibus, e o homem ao meu lado abre o jornal. Será que ele também tá fugindo de algo ou de alguém? No fundo, como diz a minha vó, a gente tá sempre em fuga. Gosto da minha avó, do jeito dela, da forma como ela encara a vida. É corajosa, a minha avó Berenice. Por isso, tô indo ao encontro dela. Ela vai saber me entender, eu acho. Acho, não, tenho certeza. A vó Berenice é especial, sempre senti falta dela, depois que ela resolveu viver em Buenos Aires. O ônibus corre, casas e árvores passam, carros e motos, por vezes alguma ponte, e riacho, e cavalos. Alguém sozinho, caminhando na beira da estrada.
Mergulho a cabeça no livro de contos do Poe. Um deles tem o mesmo nome da minha vó. Mas, conhecendo o Allan Poe, duvido que a Berenice dele tenha alguma coisa a ver com a minha. Capaz que tenha a ver com a minha mãe, aquela que me mandou sumir. Será que ela já se deu conta do meu desaparecimento? Já percebeu que minha cama tá vazia e que eu não tô no quarto? Se sim, nem vai ligar muito, decerto vai achar que dormi na casa do pai, que tô com ele agora. Gostaria de saber quanto tempo ela vai demorar pra ligar pra ele pedindo notícias minhas. Um dia? Dois? Uma semana? Isso, claro, se ela se arrepender do que me disse. Se se arrepender. Droga, não consigo me concentrar no livro, só fico vendo a minha mãe gritando, caminhando pelo apartamento, dizendo pra eu sumir.
Imagino assim:
Ela:
– Oi, Cássio, sou eu. Posso falar com o Davi?
Ele:
– Com o Davi? Mas ele não tá aqui.
Ela, meio nervosa:
– Como assim não tá aí, Cássio? Onde ele tá, então?
Ele:
– Quem tinha que saber onde o nosso filho tá não sou eu. Ele mora contigo, esqueceu?
Ela:
– Sem sarcasmo, Cássio. O fato é que o Davi saiu de casa faz dois dias e… (Não, dois dias, não. Cinco. Uma semana. Isto: uma semana.) …faz uma semana. Achei que ele tava contigo. A gente discutiu e…
Ele:
– Uma semana? Uma semana e só agora você me liga, sua irresponsável?
Ela:
– Sem ofensas.
Ele, fazendo-se de pai preocupado:
– Irresponsável, sim.
E aí meu pai diz que irá à polícia, pergunta se levei roupas, se tinha dinheiro, essas coisas que, no desespero, tenta-se saber, a fim de adivinhar por onde o filho anda. Não, não deixei bilhete algum e, quando chegar à casa da vó, digo que o pai e a mãe mandaram lembranças, finjo que telefono pra eles, dizendo que cheguei e que tá tudo bem. Assim, a vó não desconfia que fugi. Quer dizer, não é bem uma fuga, apenas atendi ao que minha mãe pediu. Vão me procurar no colégio, vão ligar pro Glauco, vão fazer o diabo, mas não vão me achar. Tomara que não lembrem que assinaram autorização faz um mês mais ou menos pra eu passar as férias de julho com a vó. Não vão lembrar. Claro que não. O pai sempre envolvido com a mulher dele e as filhas; a mãe preocupada com o trabalho. Acho que nem lembram mais que, para adiantar tudo, agilizar, foram até o fórum e autorizaram que eu viajasse solito para Buenos Aires.
Mas eu lembrei. Na hora do desespero, lembrei.
Na hora em que ela ficou me acusando de imprestável, eu lembrei.
E agora tô neste ônibus, rumo à liberdade, rumo ao desaparecimento. Meu celular ainda não vibrou nenhuma vez. Minha mãe deve ter acordado cedo, já deve tá em alguma reunião importante. Se foi até meu quarto, me dar um tiau arrependido, encontrou a porta fechada. E à noite, quando retornar, vai encontrar tudo no seu devido lugar. Tudo certinho. Talvez nem perceba a ausência do filho indesejado. Eu.
Tem coisas na vida que a gente até desconfia que vai passar por elas, mas, quando elas ocorrem, são susto. Talvez a gente fique mesmo negando, sei lá. A tal da psicóloga a que a minha mãe me obrigou a ir, acho que pensa assim. Ficava fazendo perguntas o tempo todo e eu nem um pouco a fim de falar de mim ou das minhas brigas com a mãe, ou do pouco contato com meu pai, com a família do meu pai, com as bastardinhas, mas, quando dava por mim, tava lá falando, falando. Às vezes, contava sobre o colégio, sobre os meus amigos esquisitos (como a minha mãe fala. Aliás, ela adora rotular os meus amigos, implicar com eles. O preferido é o Glauco. Até com a barba dele, sempre por fazer, ela implica. Um saco), sobre o desejo de não estudar, sobre como achava (e ainda acho) as aulas um tédio. Lembro da primeira sessão, ela – a psicóloga – atrás da mesa, sorriu e pediu que eu me sentasse numa poltrona, depois sentou numa outra, bem na minha frente, mas eu permanecia em pé. Aí ela disse que eu me sentisse à vontade, nem se dando conta de que o meu desejo era mesmo sumir dali.
– Senta – convidou de novo.
Sentei.
Ela sorriu mais uma vez e disse assim:
– Então?
Baixei a cabeça. Aqueles olhos verdes bem dentro dos meus