O "outro" sentido da arquitetura: Introdução a obra de Edgar Graeff e ensino
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Como resposta a tais interpelações, sua obra de Graeff adquire contornos de um "tornar-se humano", de um afeiçoar-se ao injuriado. Não por acaso, uma obra muito representativa disto, recebe o título de Arquitetura e o homem, cujos objetivos mais importantes da formação teórica do arquiteto estariam implícitos em sua tarefa central que é a edificação de ambientes para a existência humana. Graeff sabia e pontuava seu horizonte, mais importante que a arquitetura e ou cidade é o humano que vive dentro delas, esse humano vai assumir a dimensão ética da morada e de quem não tem morada, uma aproximação a ética de Emmanuel Levinas. Wilton nesse breve livro não só vai explanar sobre as obras de Graeff mas principalmente de seus livros e de seu pensamento como obras, o caráter performativo do mestre como bra também. Toda sua vida é pautada por essa crítica social. Nesse tempo no qual vivemos sobre a mazela dos estudos revivalistas modernos e de sua retóricas e gramaticas; como se a arquitetura fosse um objeto autônomo e afastado da realidade; Wilton traz indiretamente essas contundentes questões aos arquitetos, confrontar as duras realidades sociais que vivenciamos e se agravam dia a dia; de lá pra cá a coisa só piorou. Como bem apontava Graeff esse formalismo é destituído de conteúdo por excluir o "conteúdo humano", reafirmando continuamente que o sentido da arquitetura é e deve ser sempre a "morada humana". O sentido da arquitetura é o humano, fora disso não há sentido.
Para muitos arquitetos que se formaram a partir dos anos 90, em plena pós modernidade, a obra e principalmente o legado teórico dos livros de Graeff pode parecer ultrapassado e incompreendido. A pós modernidade na arquitetura esvaziou totalmente a questão ideológica e o humano entranhado nas fundações da arquitetura e do ensino de arquitetura. Como atesta Wilton em uma frase emblemática "podemos apenas imaginar que o seu legado escrito é sobretudo uma postura ética sobre como "tornar-se humano". Um abrir de possiblidades para se dizer como Guimarães Rosa, que, 'mestre não é quem ensina, mas quem, de repente, aprende". Wilton pensa Graeff com Derrida e Levinas, como um desconstrucionista que luta contra o ensino da arquitetura que privilegia as elites. O "outro" sentido da arquitetura: introdução à obra de edgar graeff e ensino é uma importante porta que se abre, um convite para que outros trabalhos venham a se somar, visto que a obra escrita de Graeff é bastante extensa e ainda pouco estudada.
Fernando Freitas Fuão
Prof. Titular da Faculdade de Arquitetura. UFRGS.
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O "outro" sentido da arquitetura - Wilton Medeiros
Wilton Medeiros
O outro
sentido da arquitetura
Introdução à obra de Edgar Graeff e ensino
Goiânia - GO
Kelps, 2019
Copyright © 2019 by Wilton Medeiros
Editora Kelps
Rua 19 nº 100 — St. Marechal Rondon- CEP 74.560-460 — Goiânia — GO
Fone: (62) 3211-1616 - Fax: (62) 3211-1075
E-mail: kelps@kelps.com.br / homepage: www.kelps.com.br
Fotografia de Capa: Amaury Menezes
Diagramação: Alcides Pessoni
designer.pessoni@gmail.com
Dados Internaconais de Catalogação na publicação = CIP
Bibliotecária responsável legal: Dartony Diocen T. Santos CRB-1 (1º Região) 3294
Medeiros, Wilton.
O outro
sentido da arquitetura - Introdução a obra de Edgar Graeff e ensino. - Wilton Medeiros. - Goiânia: Kelps, 2019.
164 p.: il.
1. Liminal. 2. Histórico - contingencial. 3.Espaço - urbano. 4. Arquitetura. I. Título.
CDU: 728
ISBN: 978-85-400-2725-1
DIREITOS RESERVADOS
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610 de 19/02/1998, artigo 29 e seus incisos. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito dos autores, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográfico, gravação ou quaisquer outros.
ESTE TRABALHO FOI ELABORADO E PUBLICADO COM O APOIO DA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS, POR MEIO DO EDITAL PRÓ-PROJETOS
Dedico este trabalho (In memoriam) ao professor Edgar Graeff.
Embora não o tenha conhecido pessoalmente, tomei consciência de sua grandeza e importância como arquiteto e professor, quando era estudante na Universidade Católica de Goiás. Por causa de diversas homenagens dadas a ele, como dar o seu nome a Biblioteca Setorial, e ao próprio curso de Arquitetura e Urbanismo.
Agradeço a colaboração de seu filho Eduardo Graeff e de Antônio Manuel C. P. Fernandes, que foi seu orientado quando aluno, e depois dele se tornou amigo.
Agradeço a Universidade Estadual de Goiás pelo apoio a esta pesquisa, e ao Grupo de Pesquisa Derrida e Aproximações coordenado por Fernando Fuão.
"Vão tirar da cidade o centro da cidade, vão
tirar da cidade toda a cidade, vão fazer
o que da cidade?
"Vão plantar uma cidade nova no lugar da
cidade carcomida, vão desistir de manter as
ruínas da cidade, vão decretar que a cidade
não é mais de a gente morar?
(...)
"Vão me dar passagem entre o tapume e a
pista de corridas, entre o poço e a poça de
lama, ou não vão deixar mais que use as
pernas e os pés por estarem definitivamente
fora de moda?
(...)
"Vão dizer quantas pessoas podem sair de
casa, a quantas horas, por quanto tempo,
por onde será permitido caminhar, durante
quantos minutos, para que as turmas
não sejam prejudicadas na regalia
na cidade entupida?
Carlos Drumond de Andrade
"Arquitetura como construir portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e tetos."
João Cabral de Melo Neto
Sumário
Apresentações
1 Introdução
2 Um tornar-se humano
: arquitetura e ética outra
como sentido da obra de Edgar Graeff
2.1 O outro
é o sentido da obra de Graeff
2.2 Lembrete de uma vulnerabilidade comum
– O fundamento outro
2.3 Crenças institucionais
2.4 Outro
e morada humana
3 Arquitetura brasileira vista por Edgar Graeff e Miguel Pereira sob os fantasmas do prestígio e da mediocridade
3.1 Miguel Pereira: pensamento, prática e fuga de fantasmas
3.2 Luta x integração: polaridade no espirito do tempo?
4 A formação teórica do arquiteto e a questão do espaço urbano
4.1 A questão do espaço urbano
5 Ponderações finais
6 Referências
APÊNDICE
ANEXOS
Apresentações
Ao revisitar a vida e a obra do arquiteto Edgar Graeff, Wilton Medeiros traz subjacente algumas polêmicas: por quê Graeff não é suficientemente estudado dentro da academia como referência? Por que se estuda, atualmente tanto, as obras e não o pensamento dos arquitetos? Por que se atrela o fundamento da teoria a uma prática, se quando essa prática foi exatamente a de um professor que professou a importância do outro, uma ética da alteridade, da justiça social, em pleno período da ditadura militar nos anos 60-70? E quais as formas de resistência a arquitetura poderia fornecer, naquela época? Sobretudo qual o papel da crítica de arquitetura? Como diz Wilton: então temos aí, claramente, uma crítica não somente ao modo como se produzia conhecimento arquitetural, mas também à ingerência institucional nessa questão
.
Como resposta a tais interpelações, sua obra de Graeff adquire contornos de um tornar-se humano
, de um afeiçoar-se ao injuriado. Não por acaso, uma obra muito representativa disto, recebe o título de Arquitetura e o homem, cujos objetivos mais importantes da formação teórica do arquiteto estariam implícitos em sua tarefa central que é a edificação de ambientes para a existência humana. Graeff sabia e pontuava seu horizonte, mais importante que a arquitetura e ou cidade é o humano que vive dentro delas, esse humano vai assumir a dimensão ética da morada e de quem não tem morada, uma aproximação a ética de Emmanuel Levinas. Wilton nesse breve livro não só vai explanar sobre as obras de Graeff mas principalmente de seus livros e de seu pensamento como obras, o caráter performativo do mestre como obra também. Toda sua vida é pautada por essa crítica social. Nesse tempo no qual vivemos sobre a mazela dos estudos revivalistas modernos e de sua retóricas e gramaticas; como se a arquitetura fosse um objeto autônomo e afastado da realidade; Wilton traz indiretamente essas contundentes questões aos arquitetos, confrontar as duras realidades sociais que vivenciamos e se agravam dia a dia; de lá pra cá a coisa só piorou. Como bem apontava Graeff esse formalismo é destituído de conteúdo por excluir o conteúdo humano
, reafirmando continuamente que o sentido da arquitetura é e deve ser sempre a morada humana
. O sentido da arquitetura é o humano, fora disso não há sentido.
Para muitos arquitetos que se formaram a partir dos anos 90, em plena pós modernidade, a obra e principalmente o legado teórico dos livros de Graeff pode parecer ultrapassado e incompreendido. A pós modernidade na arquitetura esvaziou totalmente a questão ideológica e o humano entranhado nas fundações da arquitetura e do ensino de arquitetura. Como atesta Wilton em uma frase emblemática podemos apenas imaginar que o seu legado escrito é sobretudo uma postura ética sobre como
tornar-se humano. Um abrir de possiblidades para se dizer como Guimarães Rosa, que, ‘mestre não é quem ensina, mas quem, de repente, aprende
. Wilton pensa Graeff com Derrida e Levinas, como um desconstrucionista que luta contra o ensino da arquitetura que privilegia as elites. O outro
sentido da arquitetura: introdução à obra de edgar graeff e ensino é uma importante porta que se abre, um convite para que outros trabalhos venham a se somar, visto que a obra escrita de Graeff é bastante extensa e ainda pouco estudada.
Fernando Freitas Fuão
Prof. Titular da Faculdade de Arquitetura. UFRGS.
***
Espero que esta publicação preliminar do estudo da obra do arquiteto e professor Edgar Graeff seja o início de uma peculiar – e nesse aspecto, para mim, interessantíssima – interpretação do significado da contribuição de Graeff como pessoa e como intelectual – com o qual tive o privilégio de conviver, dialogar, trabalhar e aprender – para o processo de formação do arquiteto urbanista no Brasil e, em especial, no curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Católica de Goiás, hoje Pontifícia.
Pouco considerada e algumas vezes mal interpretada – tanto no âmbito regional quanto no nacional – a obra de Graeff e sua particular dedicação ao processo de formação do arquiteto urbanista merece ter sua importância explicitada e afirmada.
Acredito que este começo da pesquisa do autor é um prenúncio auspicioso dessa explicitação que aqui se esboça, como se fosse o anteprojeto da afirmação/confirmação da efetiva e sui generis forma de ser (ético) e de considerar seu (o outro
) ou seus interlocutores.
Assim sendo, fico à espera – e torcendo – que o autor continue com sua obstinada procura por informações e testemunhos que lhe permitam aprofundar e confirmar a interpretação que aqui aparece em esboço preliminar e que já me seduz!
António Manuel C. P. Fernandes
Arquiteto e Professor.
***
Intitular uma publicação que resulte de investigação sobre a obra de Graeff como introdução
, é um indicativo de que há ainda muito a ser investigado, detalhes, ângulos de visão, formulação e modos de atuar, que muitos contribuirão para que Graeff continue vivamente contribuindo para a formação discente e docente!
O professor Edgar Graeff foi educador, pesquisador, ensaísta, crítico de arquitetura e muito contribuiu para o ensino da arquitetura e também pelo reconhecimento do arquiteto na sociedade brasileira.
Considero o professor Edgar Graeff um dos grandes intelectuais brasileiros. Formou-se em 1940 na Faculdade Nacional de Rio de Janeiro, referência na formação de importantes arquitetos. Contribuiu com a introdução da arquitetura moderna no Brasil, atuando, na década de 40, na região do Rio Grande do Sul. Recebeu influências do mestre Le Corbusier e conviveu com Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Pertenceu ao grupo fundador da UnB – Universidade de Brasília – juntamente com Niemeyer, Alcides da Rocha Miranda, Lelé, Luiz Fernando Bumeister e outros. Atuou, especialmente, na fundação da Faculdade de Arquitetura da UnB e também, colaborou com Oscar Niemeyer com a programação e montagem de uma escola de arquitetura na Argélia – 1969-1970.
Após seu afastamento, em 1968, da UnB, pelo governo militar, para sobreviver e defender seu trabalho, exerceu o ofício de docente, realizando cursos de curta duração e palestras em várias escolas de arquitetura do país, ou seja, pelos quatro cantos do Brasil quando o professor Graeff encontrou semelhanças entre cidades como Brasília, Goiânia, Olinda, Fortaleza, Recife, Londrina e Belém.
Este livro dá ênfase na atuação do professor Graeff na organização de cursos para o ensino da arquitetura no Brasil. Em Goiânia, realizou um importante trabalho junto ao Departamento de Artes e Arquitetura da Universidade Católica de Goiás, hoje PUC, com significativa reestruturação do currículo da mesma.
Nesta época, no ano de 1973, conheci o professor Graeff quando era aluna da Faculdade de Arquitetura da Universidade Católica de Goiás, embora não tenha sido sua aluna. Muitas vezes o transportei de carona em meu fusca até a faculdade. Ele sempre se hospedava na área central de Goiânia. Nos anos 83 a 85, eu o encontrei algumas vezes na biblioteca do IPLAM, hoje, SEPLAM, onde trabalhei por vários anos. Graeff era um gentleman, falava baixo e media cada palavra. Vestia roupas claras, cinzas e bege, pessoa extremamente discreta e sábia. Sinto-me agraciada quando o professor Wilton Medeiros, no livro em foco, me une ao professor Graeff como precursores