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Os Benefícios da Morte
Os Benefícios da Morte
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Os Benefícios da Morte

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Velejar é mais fácil do que fazer negócios.

E é ainda mais difícil fechar um negócio quando não se consegue achar a pessoa que deveria assinar os papéis. De fato, tudo o que Martin Billings consegue achar é o barco do homem, e ele está queimando em uma praia venezuelana. Uma mulher misteriosa e um ex-espião britânico também estão interessados em achá-lo, porém por que? Martin precisa de algumas respostas, de preferência antes que Bill Feioso se canse da brincadeira de detetive.

LanguagePortuguês
Release dateDec 10, 2020
ISBN9781071519059
Os Benefícios da Morte

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    Os Benefícios da Morte - Ed Teja

    Costa Norte Venezuelana

    Essa história é dedicada a Bonnie June Teja,

    uma ótima mãe e uma viajante de primeira.

    CAPÍTULO UM

    (Porto La Cruz, Venezuela, março de 1995)

    O que José Renaldo viu

    ––––––––

    José Renaldo estava com sono. Maria e as crianças passaram o dia fazendo uma raquete e ele não havia conseguido dormir direito. As vezes ele pensava que ela fazia isso de propósito para puni-lo. Ele não acha justo; não era culpa dele trabalhar no turno da noite. Ele também não gostava. Trabalhar a noite significava ouvir o barulho feliz vindo da cantina perto da marina e saber que seus amigos estavam se divertindo enquanto ele estava de pé no portão do estacionamento em seu uniforme que dava coceira e em seus sapatos rígidos.

    Ele olhou para a porção de pessoas sentadas ao bar e restaurante da marina. Era um lugar aberto, posicionado para que os clientes pudessem olhar para os barcos posicionados pacificamente ao longo das docas.

    José Renaldo tinha que admitir que em noites claras, com as estrelas brilhado acima dele, aquele não era um trabalho tão ruim. Os guardas que trabalhavam de dia tinham que fazer tarefas para os clientes da marina e ajuda-los a amarrar os barcos conforme eles vinham e iam. Eles trabalhavam mais que ele. Os únicos problemas eram não poder ir a cantina e a raiva de Maria quando ele não estava em casa à noite.

    Essa era uma segunda-feira e uma relativamente calma. Um homem venezuelano que parecia vagamente familiar estava sentado ao bar apreciando uma bebida. Alguns minutos depois, um casal francês saiu de um catamarã falando alto, enquanto eles andavam pelas docas até as escadas que levavam ao bar. Ainda conversando, eles se sentaram a mesa. Enquanto o garçom anotava os pedidos, José Renaldo desejou saber falar francês, assim saberia o que eles estavam conversando. Parecia uma discussão, por mais que fosse uma discussão baixa e nada acalorada. Ele apreciava ouvir pessoas ricas discutindo. Eles brigavam por coisas diferentes do que as outras pessoas. Eles brigavam diferente também, na maioria das vezes.

    Ele os observou desejoso por um período. A mulher era alta e magra, um pouco magra demais pro seu gosto, mas era legal sonhar apesar disso. Ela era mais velha do que ele, mas era uma mulher atraente a qual não lhe incomodaria nada sair ao seu lado. Ele invejou o homem com quem ela estava, tanto pela mulher quanto pelo seu barco. Ele se perguntou como seria ter dinheiro, o suficiente para ter um barco e ser capaz de velejar para qualquer lugar apenas para ver um local novo – sempre que quisesse.

    Por mais que ele nunca tenha estado em um barco em toda a sua vida, José Renaldo decidiu que tal vida seria divertida, especialmente se você tivesse dinheiro e uma mulher atraente com você. E se você tivesse dinheiro, aquela quantidade de dinheiro, seria fácil encontrar uma mulher atraente.

    Ele ouviu o barulho de cascalho amassado enquanto um carro entrava no estacionamento. Virando a cabeça em direção ao portão ele reconheceu o Ford Explorer do Señor  Walker. Walker era dono do barco amarrado na parte mais distante das docas. Uma vez ele havia dito a José Renaldo, por razão nenhuma além de lhe falar, que ele gostava de ter o seu barco naquele lugar porque ele podia ir e vir sem ninguém prestar muita atenção a ele. Quando ele saía da marina a noite, ele podia simplesmente zarpar e deslizar silenciosamente pela brecha na doca. Ninguém se importava.

    Ao que José sabia, ninguém jamais se importaria independentemente de onde ele guardasse o barco. Que diferença fazia mais ou menos um barco? Ele ainda estaria lá, pobre e guardando o portão.

    Señor Walker parecia estimar viajar a noite. A julgar por outros gringos com barcos, aquilo era incomum, mas por que não sair à noite, quando o céu estava claro e o ar estava quente? Era romântico. E essa era claramente a razão de Walker gostar de sair à noite. Ele vinha quase sempre com uma maleta numa mão e uma chica em seus braços. Geralmente não em uma segunda feira, mas por que não uma segunda? Era um dia como qualquer outro. E Señor Walker parecia prestar mais atenção em ter uma mulher atraente ao seu lado do que nos dias da semana. Homens ricos podiam fazer isso.

    Ele sabia que havia uma Señora Walker, mas ela quase nunca vinha a marina. Isso era inteligente da parte dela. Ela poderia evitar confronto com as mulheres jovens que o marido levava para velejar.

    Sim, José Renaldo decidiu que ele estava com muito mais inveja do Señor Walker do que do homem francês. As señoritas do Señor Walker apeteciam mais a José Renaldo do que a mulher francesa atraente.

    Nas luzes baixas que iluminavam o casal enquanto eles andavam em direção ao barco ele não conseguia ver a garota claramente. Ele conseguia ver a figura dela em silhueta, pelo menos, e ela tinha curvas adoráveis que o excitavam. Ela andava próxima a Walker, esfregando os quadris contra ele. José Renaldo se arrepiou ao pensar na ideia de uma garota como aquela andando ao seu lado, indo em direção a um barco caro. É claro, se ele fosse rico que nem Walker, José teria um barco poderoso com dois motores – o tipo de barco que fariam seus amigos terem inveja e temerem por suas namoradas.

    Ele observou o casal subir a bordo, a garota de pé com as mãos na cintura enquanto o homem destrancava e abria a escotilha. Depois a garota adentrou o barco e desceu, para a cabine, enquanto Walker checava algumas coisas com os controles e barulhinhos. Satisfeito, ele a seguiu, desaparecendo cabine adentro.

    Depois de um tempo, José ouviu o rugir suave do motor do barco ganhando vida, o som reverberando das pedras que protegiam o barco dos distúrbios das tempestades marítimas. Ele ouviu o som suave e abafado ecoar pela marina.

    As luzes se acenderam na parte de dentro, brilhando, porém difusas, pelas cortinas nas portas. As cortinas não importavam - José Renaldo conseguia imaginar a cena no barco. Ele viu na sua mente enquanto ela se desenrolava. Se ele fosse o homem rico, ele iria gosta de levar a sua garota deliciosa para o quarto e usa-la para o seu prazer enquanto o motor esquentava. Depois, quando ele já teria zarpado o barco da marina, ele sentaria ao manche e se reclinaria contra o mastro. Ele faria a garota lhe trazer uma bebida e depois sentar no seu colo. Enquanto eles dirigissem pela noite escura com apenas as luzes do barco ligadas, ele a acariciaria até que eles chegassem a alguma baía iluminada pela lua. E aí ele faria amor com ela novamente.

    Enquanto José Renaldo assistia a essa fantasia em sua mente, substituindo o seu barco poderoso pelo barco a vela e ele mesmo pelo gringo, ele notou de repente uma figura nova as sombras, se movendo ao fundo da doca. Ele não conseguia pensar de onde ela, e era uma mulher – uma gringa até onde ele podia ver, tinha vindo. Ela tinha a mesma forma longa e magra da mulher francesa, mas se movia como um gato.

    Ele sorriu para si mesmo. Essa era uma gata que ele não se importaria de conhecer no escuro. Ela foi diretamente ao barco do Walker, passando por cima das cordas de segurança para o deck. Ele a notou olhar em volta, hesitando por um momento antes de adentrar o barco.

    José Renaldo sentiu seu respeito pelo Señor Walker aumentar. Hoje à noite ele tinha duas amáveis chicas a bordo do seu iate. Sim, se ter uma garota era bom, ter duas que queriam brincar era mais do que o dobro de bom.

    Enquanto ele olhava, as luzes se apagaram dentro do barco. Então a figura graciosa de uma nova mulher apareceu no deck. Ele tinha certeza de que era a segunda pelo jeito que ela se movia. Ela desfez as cordas que seguravam o barco na doca e depois foi para o manche. Ela botou o motor pra funcionar e dirigiu para fora da marina.

    José Renaldo teve uma grande dificuldade em imaginar como uma mulher que sabia velejar seria. As mulheres que ele conhecia faziam amor, cozinhavam e traziam cerveja aos homens, mas elas nem sequer queriam operar um barco. Era por isso que elas tinham homens. Mas uma mulher que era forte e com a mente de uma gringa era um tipo diferente de criatura das mulheres que ele conhecia. Ele decidiu que ela provavelmente era uma leoa na cama. Se não, por que um homem como Walker a iria querer por perto?

    Quando o som do motor do barco sumiu, ele foi deixado sozinho com sua fantasia. Ele se perguntou se Maria estaria de bom humor quando ele chegasse em casa. Talvez depois que as crianças tivessem tomado café e estivesse a caminho da escola, ele pudesse a convencer a voltar para a cama por um tempo. Ela não era uma leoa, mas quando ela queria, ela o agradava muitíssimo.

    CAPÍTULO DOIS

    James tem um problema

    Quando desci do avião em Granada, o calor do sol me saudou, tocando a minha face. Espalhou seu calor como um carinho suave. Eu inalei o ar perfumado profundamente, esperando que ele substituísse o ar reciclado e super processado que povoava os meus pulmões por conta do voo.

    Granada é um país pequeno e nem é tão grande quanto uma ilha. O aeroporto terminal assim como as formalidades de passar pela alfândega e pela imigração pareciam refrescantes depois de lidar com os ambientes estéreis do Aeroporto Internacional de Miami. Saindo do avião você caminha um pouco sob um céu agradável, sente os bons ventos vindos do Oeste e geralmente ganha aquele boost mais do que necessário depois de passar horas amontoado em um espaço pequeno

    Porém pela primeira vez eu não estava reparando o ar puro e fresco, o a grama verde que ia até a grade. Enquanto eu andava, eu escaneava nervosamente os rostos do outro lado da cerca, procurando por um em particular. Aquele rosto seria provavelmente o único amarelo dentre os muitos negros e alguns brancos que olhavam o avião e os passageiros que dele saíam. Eu vi alguns que pareciam familiares, mas nenhum era o que eu procurava.

    Eu estava procurando pelo James. Ele iria ao meu encontro. Pelo menos era essa a intenção.

    Eu havia ligado para James da Guiana há uns dias atrás. Apesar de sermos amigos de longa data, James e eu, essa ligação tinha sido puramente negócio. Bom, na maior parte negócio, e meu pra variar. De algum modo, Bill Feioso e eu nos deparamos com a chance de comprar uma carga de madeira. Madeira, madeira boa, estava se tornando algo escasso e precioso e essa madeira era antiga, chamada de roxinho, que foi estocada em um moinho anos atrás. Bill Feioso, meu parceiro e fonte de todo o conhecimento, me informa que a madeira é chamada na verdade de Peltogyne. Cortesia de Bill, eu sei que é também chamada de amaranth, e é uma combinação de 23 espécies de plantas que florescem da família Fabaceae. Eu sei de verdade que é uma madeira extremamente densa e resistente a água. É considerada uma das mais resistentes e rígidas do mundo. Pode ser difícil trabalhar com ela, porém é linda para fazer móveis, o que mostra o quanto isso é um achado – um que geraria um grande lucro para nós.

    O que me importava muito mais do que suas qualidades finas era a percepção de que se nós a comprássemos pelo preço que estava sendo pedido e a arrastasse ilha acima, aonde era muito alto pra se quer pensar em chegar, nós poderíamos vendê-la por uma boa quantia. Infelizmente, tal tarefa exigia dinheiro, e dinheiro era a coisa da qual eu menos tinha. Na verdade, nós raramente tínhamos, fosse pouco ou muito. Afinal, nós possuíamos um barco. Você provavelmente já ouviu falar da história do capitão do mar – barco ou conta do banco; escolha um porque você não pode ter os dois. Existem uma boa quantidade de variações por aí, porque é verdade.

    James já nos havia ajudado algumas vezes antes e eu tinha quase certeza de que ele o faria de novo. A gente sempre o retribuía com tempo e interesse, então eu não me importava de voltar para esse poço. James é um cara esperto e uma vez me disse que eu estava usando o que ele chamava de empréstimo ponte. Ele poderia me chamar do jeito que ele quisesse, eu não me importava.

    Dessa vez, quando eu liguei, ele me surpreendeu.

    Eu preciso vê-lo pessoalmente, ele disse. Aí sim nós podemos falar de dinheiro.

    Eu tô com um pouco de pressa, eu disse. Alguém com dinheiro poderia simplesmente aparecer e roubar essa carga bem debaixo dos nossos narizes. Eu só preciso de um empréstimo de curto prazo, James. Então nós empurramos tudo para Martinica; não vão haver tarifas e nem passagens a serem pagas. Mas enquanto eu espero, eu estou preso doca em Guiana.

    Eu não tenho problema nenhum em te arranjar o dinheiro, ele disse. É seu. Eu pago as taxas extras do meu próprio bolso, mas eu preciso te ver e conversar sobre uma coisa importante.

    Isso não soava bem. De algum modo eu podia ver minha pequena aventura de negócios se tornar outra coisa.

    Não podemos falar pelo telefone? Você pode me contar seus problemas. Eu já te disse o meu.

    Ele pausou e depois falou devagar e firme. Martin, eu preciso te ver pessoalmente. Eu realmente preciso da sua ajuda.

    A conversa acabou ali. James havia dito as palavras mágicas, as quais eu não resisto. James estava usando minha fraqueza contra mim e nós dois sabíamos disso. Eu também sabia que devia ser algo importante. Então era isso. Eu estava indo para Granada.

    Ele conseguiu me deixar uma passagem paga no aeroporto de Trindade. Eu iria pegar a barca da Guiana uma vez que não havia voos diretos para Granada. James disse que me encontraria no aeroporto de Granada. Eu esperava que isso significava que o dinheiro estaria junto. Se ele aparecesse com o dinheiro, eu poderia voltar a Trindade a tempo para jantar e a barca me levaria de volta à Guiana na manhã seguinte. O avião de Trindade dava a volta em mais ou menos duas horas, o que nos deixava tempo o suficiente para conversar sobre o que quer que o estivesse incomodando e assinar o que fosse que ele queria assinado. E então eu poderia voltar e fechar negócio na minha carga antes que alguém o fizesse.

    Eu me estiquei para ver, mas não conseguia encontrar o China no meio da multidão. Agora, antes que você fique irritado, eu sei que eu não deveria chamar um homem descendente de chineses como china. Não é legal nem politicamente correto. Eu não me importo. Eu conheço James há mais tempo do que o politicamente correto existe, e eu tenho o chamado de china estupido toda vez que eu fico bravo com ele por isso há muito tempo. Se eu parasse de o chamar assim agora ele provavelmente pensaria que eu estou triste com ele. Amizade supera política todas as vezes no meu livro de regras.

    Eu era um dos últimos passageiros do meu voo a passar pela experiencia extasiante que é alfândega e a imigração em Granada. Haviam três filas para acomodar os passageiros e, naturalmente, eu entrei na fila errada. Eu estava preso na que era liderada por um senhorzinho que além de surdo de dar dó, não tinha experiência com viagens. Inevitavelmente ele não percebe que ele precisa mostrar o passaporte para o oficial sorridente enfiado dentro de um uniforme branco porque ele já mostrou quando ele entrou no avião, por que diabos ele teria que mostrar de novo quando ele saísse? Nunca ajuda a resolver as coisas o fato de que os oficiais enfiados em uniformes brancos respondem a pessoas surdas apenas repetindo o que já falaram e esticando a mão para o documento que eles querem ver. Essa valsa pode continuar por um bom tempo sem que qualquer um dos dois perceba que eles não estão se comunicando. Ou talvez eles não liguem. Eu tenho que me lembrar que os oficiais são pagos por hora.

    Quando eu finalmente saí do carrossel de bagagens eu vi um reflexo de James. Ele estava em pé a porta, parecendo nervoso, procurando por altos capitães do mar. James é um homem baixinho e ele estava estiloso como de costume, em seu terno de grossura tropical branco. Você raramente vê um desses do lado de fora a não ser em filmes antigos, ainda mais nesses tempos de ar condicionados. Eu imaginei que ele os fazia sob medida.

    Ele acenou em direção ao carrossel e eu balancei a cabeça. Eu não tinha nenhuma bagagem para pegar – tudo o que eu achei que iria precisar estava amassado dentro da minha bolsa de ombro. Eu certamente esperava que era só o que eu iria precisar. Eu não queria ficar por muito tempo - não mais que o necessário. A bolsa também era uma apólice de seguro. Não ter roupas limpas o suficiente providenciava uma desculpa rápida para uma saída às pressas.

    Nós saímos passando do lado do guarda que deveria se assegurar de que você só levaria a sua própria bagagem, mas ele estava bem ocupado conversando com uma mocinha

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