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SINOP/MT
Novembro/2012
2
Orientador:
Prof. Dr. Marion Machado Cunha
SINOP/MT
Novembro/2012
3
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________________________________________________
Me. Roberto Alves de Arruda
Professor Avaliador
UNEMAT- Campus Universitário de de Sinop
____________________________________________________________________________________
Me. Edneuza Alves Trugillo
Presidente de Banca
UNEMAT - Campus Universitário de Sinop
SINOP
Novembro/2012
4
DEDICO.....
AGRADECIMENTOS
Vivamos com a certeza que a diferença não é nosso impedimento, mas a possibilidade de
descobrirmos o que somos na própria história da humanidade e de nossa existência
particular. Nossa luta é construirmos nossa vontade e nosso querer, superando o fetiche de
um tempo dado como liquido, cuja única liquidez que importa é da exploração de muitas
vidas para um tempo abstrato definido pela acumulação de riqueza, como critério do ser
social. Isso não é utopia.... é o vir a ser... porque lutamos.
RESUMO
ABSTRACT
SILVA, Adalgisa Marques Amorin. Inclusion, Accessibility and stay of the students with
Educational Special Needs in the University of Mato Grosso (UNEMAT) Campus Sinop-
MT. Specialization in Higher Education Teaching Final Work. Department of Pedagogy.
University of Mato Grosso/Academic Campus of Sinop. SINOP- MT – BRASIL 2012.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 11
1.2 A PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 12
1.3 OS SUJEITOS E A PESQUISA 13
2 ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO: LUTAS E CONQUISTAS DA
PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL 14
2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA INCLUSÃO SOCIAL DA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA 21
3 ACESSIBILIDADE NO ENSINO SUPERIOR 26
3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA INCLUSÃO DO ALUNO COM
NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NO ENSINO SUPERIOR
27
4 CAMINHOS DA PESQUISA E AS ORIENTAÇÕES NECESSÁRIAS
33
4.1 PARTICIPANTES DA PESQUISA 33
4.2 CRITÉRIO DE SELEÇÃO DOS PARTICIPANTES 33
4.2.1 Caracterização dos participantes 34
4.3 LOCAL DE REALIZAÇÃO DA PESQUISA E LEVANTAMENTO DE
DADOS 35
4.4 ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS
MATRICULADOS NA UNEMAT 35
4.4.1 Representante de departamento: atendimento curricular e ações
afirmativas para acessibilidade 36
4.4.2 Acessibilidade arquitetônica da UNEMAT 36
4.4.3 Professores que atendem, atenderam ou atenderão alunos com
necessidades educacionais especiais 36
4.4.4 Coleta de dados: Diário de campo 37
10
1 INTRODUÇÃO
Por várias vezes tentei iniciar este texto com alegações que nas entrelinhas
justificassem meu interesse por esta pesquisa. Levei algumas “broncas” de meu orientador,
por ficar retida nas considerações que realmente gostaria de fazer. Precisei buscar o âmago do
entrelaçamento do tema com minha história de vida. Ao fazer estas avaliações considero que
desde a construção do roteiro da pesquisa, intrinsicamente tentava buscar respostas que talvez
justificassem minha vivência escolar.
Por muito tempo considerei que a exclusão que sofri por parte de algumas pessoas no
ambiente escolar, estava relacionada com o momento histórico que o Brasil passava – no
período de 1964-1977 -Ditadura Militar- e que eu não me encaixava no padrão de aluno que
se esperava. Iniciei meus estudos aos 5 anos de idade. Era costume em minha família,
alfabetizar os filhos, antes mesmo que chegassem aos bancos escolares. Até meus 9 anos
tudo transcorreu “normal”, da forma que nosso momento social se apresentava. A partir daí
infortunadamente passei a apresentar um quadro de epilepsia generalizada1. No senso comum
acreditava-se que era uma doença contagiosa. Isto causou o afastamento de colegas e alguns
professores. Era uma discriminação silenciosa, mas afetava meu convívio social. Reprovei a
6ª série- esta “reprovação” não estava relacionada com incapacidade, mas sim com a
segregação. Alguns professores não me enxergavam na sala de aula. O sentimento que tinha
sobre isto, era de vergonha. Vergonha por gerar desconforto ao professor. Portanto não pedia
auxilio. O ápice da exclusão aconteceu quando cursava a 7º série- aos 13 anos de idade- a
discriminação ganhou voz – O Diretor de minha Escola orientou aos professores que
afastassem os alunos no momento de minhas “crises”, pois “tratava-se de uma doença
contagiosa”. Isto bastou para que se afastassem definitivamente. Passei por tratamento
intensivo até os 23 anos de idade, quando alcancei a estabilidade da doença. Conclui o Ensino
Médio aos 17anos. em 1977, iniciando o curso de Sociologia aos 18 anos, não concluindo.
Somente no ano de 2005 aos 45 anos – 28 anos após- ingressei no Ensino Superior
no curso de Licenciatura Plena em Pedagogia em uma Instituição privada, onde percebi que
havia uma colega Deficiente Auditiva (DA). A Instituição não tinha o mínimo de recurso,
que seria um interprete de libras. Para suprir esta necessidade, a aluna DA tentava fazer a
1
A epilepsia por si só é uma deficiência por alteração transitória de função. O sintoma característico da epilepsia
generalizada ou do grande mal é um ataque que afeta o corpo todo. A pessoa pode soltar um grito e cair. O corpo então se
enrijece e passa a se contrair e a sacudir incontrolavelmente. Isso pode durar um ou dois minutos e é geralmente seguido por
um período de sono profundo ou confusão mental.. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/jecn/v15n3/v15n3a07.pdf
12
leitura labial dos professores, quando estes falavam de frente para turma. Certa vez ao pedir
para professora falar de frente para a aluna, ela exclamou: “ Eu não sei o que esta menina está
fazendo aqui”. Em uma rápida análise pude avaliar que mesmo diante de todas as
transformações sociais, políticas e culturais pelas quais o Brasil passou nestes 28 anos , a
educação inclusiva no que tange o Ensino Superior se apresentava estática aos moldes de
minha experiência na educação básica.
Esta situação se apresenta muito contraditória com os fundamentos teóricos
principalmente da disciplina de “Educação Especial” no curso de Pedagogia que demanda
os conceitos da escola inclusiva, os direitos humanos , os direitos da pessoa com deficiência
para inserção social, bem como a prática pedagógica para efetivação destes direitos.
Ao ingressar no Curso de Pós graduação em Docência no Ensino Superior em 2011
na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)- Campus Sinop-MT, passei a
observar a acessibilidade arquitetônica da Universidade. Constatei a sua precariedade para
atendimento de pessoas com deficiência. Isto despertou o interesse em fazer uma
investigação de como se dá a acessibilidade ‘nas’ e além ‘das’ rampas, para a efetivação da
inclusão do aluno com Necessidades Educacionais Especiais na Instituição.
2
Disponível em http://concursos.unemat.br/concursos/
14
Art. 69
(...)
(...)
(...)
Se consideramos que a pessoa com deficiência neste momento, também não tinha
direito a educação, e, portanto não constituía profissão, estaria agora triplamente excluído:
deficiente; analfabeto, vivendo de favores (mendigo)- Lembrando que a “incapacidade
moral” era uma denominação, também para pessoas com deficiências sensoriais: cegas;
surdas, deficiência mental- Pertencendo então ao grupo dos excluídos. Souza (1999,p.284)
coloca que, esta é uma “pertença hierarquizada”:
15
Trindade (1998, p.94) explana, que a partir desta Declaração foi necessário ser
criado uma série de mecanismos para garantia desses direitos, a maioria deles por outros
tratados Internacionais.
No que concerne a pessoa com deficiência o primeiro mecanismo foi a Declaração
Universal dos Direitos da Pessoa com Deficiência promulgada em 1975 pela Assembleia
Geral da Organização das Nações Unidas . Esta Declaração abre um novo caminho para ações
que transcendem o assistencialismo e segregacionismo deste público. Nos itens “2 “ e “6”
além do direito a assistência médica e educacional, passa a entender a pessoa com deficiência
plena de direitos para integração social..
(...)
(...)
O modelo social defendido pelo Movimento das Pessoas com Deficiência é o grande
avanço das últimas décadas. Nele, a interação entre a deficiência e o modo como a
sociedade está organizada é que condiciona a funcionalidade, as dificuldades, as
limitações e a exclusão das pessoas. A sociedade cria barreiras com relação a
atitudes (medo, desconhecimento, falta de expectativas, estigma, preconceito), ao
meio ambiente (inacessibilidade física) e institucionais (discriminações de caráter
legal) que impedem a plena participação das pessoas.
3 3
“Pessoa com deficiência” passou a ser a expressão adotada contemporaneamente para designar esse grupo
social. Em oposição à expressão “pessoa portadora”, “pessoa com deficiência” demonstra que a deficiência faz
parte do corpo e, principalmente, humaniza a denominação. Ser “pessoa com deficiência” é, antes de tudo, ser
pessoa humana. É também uma tentativa de diminuir o estigma causado pela deficiência. A expressão foi
consagrada pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da Organização das Nações Unidas
(ONU), em 2006. (MARTINS;,2010,p.32)
18
organizar. Martins (2010, p.33) coloca que começaram a surgir daí, muitas divergências para
criar-se uma Federação que fosse a única voz da pessoa com deficiência:
O mesmo processo que aconteceu no Brasil ocorreu no mundo todo, a partir do Ano
Internacional. As entidades começaram a surgir, entidades internacionais de cegos,
de deficientes físicos, de surdos, assim como as políticas internacionais para cada
área. Isto teve reflexos distintos em cada país, no Brasil, por exemplo, não se
conseguiu criar um Conselho forte.(MARTINS, 2010, p.54)
deficiência [...], pega tudo e joga ali naquela caixinha, que não só é mais fácil de
botar como é fácil de tirar; ou se integra o tema em todo o corpo constitucional, nos
tópicos do direito do cidadão, do direito à saúde, do direito à educação.
Até o final da década de 1980 no Brasil não havia políticas públicas que
amparassem a pessoa com deficiência . Só em 1986 foi criada a Coordenadoria Nacional
para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE). Apesar de estar na categoria
de Políticas Públicas a CORDE não demonstrava ainda força em prol das pessoas com
deficiência. Sua efetivação veio somente 1 (um) ano após a publicação da Constituição
Federal de 1988:
Apenas duas frases definem esta missão: “Ctrl C” e “Ctrl V”. Se voltarmos algumas
páginas , veremos que esta fala nada mais é do que uma paráfrase dos discursos já
conhecidos em toda trajetória de luta da pessoa com deficiência. Enfim, para cumprir com
estas determinações o Governo Brasileiro, fez um “apanhado”, de toda legislação que
“ampara” a pessoa com deficiência no Brasil e criou o Plano “Viver sem Limite”.
A Secretaria Nacional de Promoção da Pessoa com Deficiência – órgão fiscalizado
pelo CONADE – disponibiliza em seu site4 esta Legislação: que são respectivamente: 3
Normas Constitucionais; 32 Leis Federais e 19 Decretos.
Destes destaca o Plano Nacional “Viver sem Limite” criado pelo Decreto 7.612 de
novembro de 2011 (BRASIL,2011) :
Art. 1o Fica instituído o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência –
Plano Viver sem Limite, com a finalidade de promover, por meio da integração e
articulação de políticas, programas e ações, o exercício pleno e equitativo dos
direitos das pessoas com deficiência, nos termos da Convenção Internacional sobre
os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, aprovados por
meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, com status de emenda
constitucional, e promulgados pelo Decreto no 6.949, de 25 de agosto de 2009. :
4
http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/legislacao-0
24
(...)
art. 9o A vinculação do Município, Estado ou Distrito Federal ao Plano Viver sem
Limite ocorrerá por meio de termo de adesão voluntária ( grifo nosso), com objeto
conforme às diretrizes estabelecidas neste Decreto.
§ 1o A adesão voluntária (grifo nosso) do ente federado ao Plano Viver sem Limite
implica a responsabilidade de priorizar medidas visando à promoção do exercício
pleno dos direitos das pessoas com deficiência, a partir dos eixos de atuação
previstos neste Decreto.
(...)
Podemos destacar no que tange a educação, que todas estas recomendações já estão
elencadas nas atividades da Secretaria de Ação Continuada, Alfabetização, Diversidade e
Inclusão- SECADI-MEC, que gradativamente tem feito alguma coisa. Quanto ao acesso ao
ensino superior a “Cartilha” coloca que continua sob responsabilidade do Programa Incluir –
este existe desde 2007, e “contempla” apenas as Universidades Federais.
5
http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/viver-sem-limite/publicacoes
25
A Pessoa com deficiência conta com uma gama de direitos elencados na Legislação:
Federal; Estadual; Municipal. Todas embasadas em acordos Internacionais Específicos, mas
na tentativa de valer os seus direitos, recorrem às suas Associações que tentam advogar em
seu favor juntamente com o Ministério Público, sem grandes êxitos.
Compreendemos enfim, que a luta da pessoa com deficiência se finda no “cumpra-
se” de toda a legislação que a ampara. A acessibilidade e a inclusão, passeiam “cegas” no
direito que nascemos com ele, que é a “dignidade humana”. E assim é a figura da “Deusa
Themis” que simboliza a justiça de nosso país: “Cega”, que carrega uma balança com “Dois
pesos e duas medidas”.
26
Primeira:
Criar uma nova cultura não significa apenas individualmente grandes descobertas
“originais”: significa também, e , sobretudo difundir criticamente verdades já
descobertas, “socializa-las” por assim dizer; transformá-las, portanto, em bases
vitais, em elemento e coordenação de ordem moral e intelectual.
27
Segunda:
Trabalhar incessantemente para elevar intelectualmente as camadas populares cada
vez mais vastas, isto é, para dar personalidade ao amorfo elemento de massa, o que
significa trabalhar na criação de elites intelectuais de novo tipo, que surjam
diretamente da massa e que permaneçam em contato com ela para tornarem-se os
seus sustentáculos. Essa segunda necessidade, quando satisfeita, é o que realmente
modifica o panorama ideológico de uma época.
A Educação Especial no Brasil, tem ganhado corpo, por uma gama de Programas
Federais balizados pela SECADI vinculada ao Ministério da Educação (MEC). Nota-se porem
que estes programas, bem como a maior parte da legislação, voltados para esta modalidade de
ensino, se limitam a promover somente a Educação Básica para as pessoas com
Necessidades Educacionais Especiais.
28
(...)
Deve-se facilitar ativamente o acesso à educação superior dos membros de alguns
grupos específicos, (...) pessoas portadoras de deficiências(...).Uma assistência
material especial e soluções educacionais podem contribuir para superar os
obstáculos com os quais estes grupos se defrontam, tanto para o acesso como para a
continuidade dos estudos na educação superior. (BRASIL,2006, p.32)
(...)
29
semântico;
O Programa em sua essência trás uma utopia que se dissipa no “virar de páginas” da
“Cartilha”. Em seu primeiro eixo “Acesso a Educação”. Quanto a acessibilidade da pessoa
com deficiência no Ensino Superior , direciona a responsabilidade de implantação de recursos
ao Programa “Incluir”, existente desde 2007.
Em seu aspecto geral essa política mais ampla mostra um certo nível de
compromisso com as pessoas com deficiência; em outros momentos parece
prevalecer a questão quantitativa de atendimento mais compatível com uma política
de resultados para justificar compromissos governamentais no âmbito internacional.
A presente pesquisa foi conduzida por uma metodologia qualitativa, utilizada nas
ciências sociais e humanas, que busca uma compreensão das experiências vividas dos
sujeitos.
P.1
1º ao 4º semestre
P.2
P.3 4º ao 5º semestre
P.4 5º semestre
(atenderá)
6
Definida pelos alunos
7
Definida pelos alunos
35
Somente a entrevista com o participante P.3 foi realizada fora das dependências da
UNEMAT- Campus Sinop- MT – tendo em vista que o mesmo é desistente.
Tendo em vista que os alunos que solicitaram atendimento especial são do curso de
Pedagogia procurou-se um Representante do Departamento deste curso. Por meio de
entrevista estruturada e semiestrutura foram feitos o roteiro para levantamento de dados sobre
o atendimento curricular e políticas internas para promoção da acessibilidade. Em razão do
atual Coordenador do Curso de Pedagogia ser o orientador desta pesquisa, foi indicado um
representante.
Participantes:
P.1- A entrevista foi agendada pelo participante. Houve duas entrevistas por conta de
perda de áudio na primeira. E por escolha do participante foi realizada na lanchonete
da Universidade. A segunda, o participante optou em receber a pesquisadora no
intervalo de 15 minutos entre uma aula e outra. Foi realizada dentro da sala de aula
na presença de alguns alunos que conversavam em grupo, portanto com interferência
sonora. Duração: 11 minutos.
P.2- Não houve agendamento, no primeiro contato com o participante, no
Departamento de Pedagogia no período diurno, o mesmo alegou que poderia
participar só se fosse naquele momento, optou em responder no pátio da UNEMAT
38
8
Texto extraído na íntegra do Plano de Desenvolvimento Institucional – fornecido pelo Departamento de Coordenação do
Campus Sinop-MT
40
A.1:
A escolha do curso (...) tem a ver com o que vivenciei, tanto positivamente de
encontrar pessoas que se disponibilizaram a buscar o conhecimento, quanto àquelas
pessoas que se retraíram na sua condição. Acredito mais do que humana...intelectual,
que preferiram ficar ali no comodismo de não enfrentar as suas próprias limitações.
Teve duas situações que me marcaram dentro desta minha trajetória educacional, e em
um dos momentos teve uma professora, que abertamente conversou comigo, dizendo
que outras professoras não queriam assumir o compromisso de dar aula pra mim,
porque não sabiam como lidar com a minha deficiência, e que, por isso ela ia
permanecer até que eu terminasse, nesse caso, o ensino....os últimos anos do ensino
fundamental... né? que anteriormente ia até a oitava série. (...) um outro caso, que até
deixou marcas..assim...não diria agradáveis.. né? – foi um trauma até ....em que uma
professora...ela me isolou na sala de aula, mesmo sabendo da minha dificuldade – esta
situação foi no 3º ano do Ensino médio – Ela sabendo que eu tinha deficiência visual,
disse: Ou você copia ou você tira zero (A.1).
9
Salas de Recursos Multifuncionais - As salas são equipadas com televisão, DVD's, equipamentos de informática, ajudas
técnicas, materiais pedagógicos e mobiliários adaptados para o atendimento às necessidades especiais dos aluno com
Necessidades Educacionais Especiais.
Disponível em http://www.governoeletronico.gov.br/acoes-e-projetos/inclusao-digital/programa-de-implantacao-de-salas-de-
recursos-multifuncionais
43
(...) mais do que um ser no mundo, o ser humano se tornou uma Presença no mundo,
com o mundo e com os outros. Presença que, reconhecendo a outra presença como
um “não-eu” se reconhece como “si própria”. Presença que se pensa a si mesma, que
se sabe presença, que intervém, que transforma, que fala do que faz, mas também do
que sonha, que constata, compara, avalia, valora, que decide, que rompe.
A2:
Indicação de alguns amigos (...) pelo fato de eu ser deficiente visual, me deram a
ideia de eu fazer o curso de Pedagogia, pelo fato de eu poder auxiliar outros
deficientes visuais (...) eu já tive vontade de fazer Direito, Letra, Teologia .
44
Percebe-se ainda, que ao revelar sua desistência, denota uma frustação não vinculada
a seus objetivos de inserção no mercado de trabalho, mas a decepção que causou aos que
acreditavam em sua capacidade.
Benakouche (2001, p.137) coloca que: “Inserção profissional é hoje um problema
dificílimo para o estudante em geral e mais ainda para o excluído social. Com efeito, quem –
excluído ou não – passe pela universidade não tem, necessariamente, garantido seu ingresso
no mercado de trabalho”.
Ao concluirmos a análise deste quesito buscamos na fala de Amaral (1994, p.89)
que, o momento da escolha profissional é marcado por dúvidas e incertezas, somadas com a
ansiedade e expectativas próprias. O sujeito com deficiência coloca também nesta balança,
além de suas limitações, as expectativas de colegas e familiares por sua inserção profissional
na conquista da autonomia.
As avaliações dos participantes A.1, A.2 e A.3 nos revela que a edificação onde está
instalada a UNEMAT não reproduz a definição de “acessibilidade” da Norma Brasileira 9050
(ABNT, 2004):
10
Disponível em http://revistaensinosuperior.uol.com.br/textos.asp?codigo=10503
46
A.1:
São várias dificuldades; reconhecimento dos lugares referentes à : auditório; salas,
por exemplo da administração; da área financeira; do próprio departamento, porque
não há uma sinalização específica, então assim... o deficiente...principalmente no
nosso caso; o deficiente visual, nós temos que ter um mapa mental do espaço físico,
sendo que poderia com ações muito simples, deixar identificado, qual sala serve
para que... né?... seria possível. Com placa em alto relevo no Braile, no caso do (
participante A.2) que domina o Braile melhor do que eu... o piso tátil...por que...pra
ter a guia pros deficientes se localizar com a bengala.... a iluminação...que em
muitos casos...realmente é terrível.(...).
A.2:
(...) a questão do espaço, tem bancos no caminho, o deficiente visual pode tropeçar e
cair,....algumas pessoas levantam da cadeira, não põe para dentro e fica no meio do
caminho. A questão da iluminação, é muito fraca.....o piso tátil, o espaço tem que
estar livre, na questão dos corredores, dos bancos, e assim outras coisas.
A fala de A.2 revela uma questão que vai além de providencias materiais.
Inadmissível a Universidade ter que se engendrar em campanha para “conscientizar” os
alunos em não deixar cadeiras no caminho. Independente de estar prejudicando a passagem de
pessoas com deficiência, isto é uma questão de ética. É elementar que uma pessoa que chega
aos “bancos” Universitários, deva ter se apropriado de alguns princípios fundamentais de
convivência social.
Vale colocar aqui que o deficiente visual constrói um “mapa mental” dos locais que
frequenta. A alteração deste “mapa”, além de desconfigurar o caminho, coloca a pessoa em
risco de acidente mais grave.
Quanto ao piso tátil11 , este “está” para o deficiente visual, como cadeira de rodas
“esta” para o deficiente físico. Imaginemos que os nossos caminhos fossem riachos e
tivéssemos que procurar com os pés, pedras para atravessá-los, em qualquer direção que
tentássemos ir. Poderíamos até atravessar, mas levaríamos um tempo maior, comparado com a
possibilidade deste riacho ter uma ponte.
A.3 completa a avaliação estrutural da UNEMAT, descrevendo com propriedade a
impossibilidade de se construir um “mapa mental” , revelando assim um panorama geral da
falta de acessibilidade na Instituição:
A.3:
Lá no auditório (...) eu tive dificuldade pra subir lá no palco, principalmente na hora
de descer...né?....pelo que eu me lembro não tinha corrimão, pro deficiente visual,
11
Piso Tátil é o piso diferenciado com textura e cor sempre em destaque com o piso que estiver ao redor. Deve
ser perceptível por pessoas com deficiência visual e baixa visão. Disponível em
http://thaisfrota.wordpress.com/2009/08/05/o-que-e-piso-tatil/
47
não é pior subir, pior é descer...é descer, você pode perder o equilíbrio, pisar fora ali,
você se arrebenta...né?....não tinha essa acessibilidade, e não tem indicação em
Braile ou com letras ampliadas...onde fica......onde fica as coisas..né?....pra onde
você vai: biblioteca; lanchonete ou xerox ou seja lá onde você quer ir, banheiro,
você não tinha indicação, onde era o masculino, onde era o feminino...,
então......falta acessibilidade. (A.3).
Quanto à eficiência deste recurso os participantes A.1 e A.2 revelam que não é
suficiente, pois a maioria dos textos disponibilizados pelos autores pedidos pelos professores
são encontrados em “extensão pdf”12, e o programa “Jows” não realiza esta leitura.
A.1:
Eficiente como instrumento, claro que sim, porque estamos na era tecnológica
digital e o recurso de um computador, um notebook, se torna potencializador na
aprendizagem, mas o problema é quando se restringe e coloca toda esta questão da
inclusão e da acessibilidade, eleger como o único instrumento um notebook, aí não,
aí se torna insuficiente (...) .
Queremos colocar também que não se deve pensar que apenas os recursos
tecnológicos de ponta bastam para os alunos com Necessidades Educacionais Especiais, eles,
apenas superam suas limitações pontuais. Muitas vezes as particularidades da deficiência,
requerem estratégias com recursos que estão ao alcance das mãos do professor.
Os recursos que nós temos eles são minimamente suficientes, mas é lógico que eles
estão muito aquém do que se necessita para um trabalho desse, por exemplo: nós
não temos o material do Braile, nós não temos uma impressora nesse sentido, nós
não temos os equipamentos ,os acessórios, os recursos bibliográfico – livros- nós
estamos realmente neste sentido improvisando, reeditando os próprios textos numa
linguagem com o programa de computação que possa lê-las, inclusive alguns
professores de disciplinas, estão pedindo auxilio a outros professores pra dar
formato a estes textos de modo que, o aluno possa ter minimamente a atenção
necessário no sentido de poder até fazer a leitura da bibliografia básica do curso.
12
A extensão pdf (portable document format) é um arquivo de documento apenas para leitura, gerado pelo
programa Adobe Acrobat.
49
conhecimento além de sua área para minimizar o problema. Este comprometimento é a base
da inclusão.
Outro desafio elencado pelo participante R , e que trás uma nova preocupação, é de
que, até o 4º semestre os materiais didáticos se limitavam em leituras. A partir do 5º semestre
começam as práticas, o participante faz uma colocação que aborda esta preocupação:
Veja bem, as maiores dificuldades nós teremos agora, quando estes alunos começam
seus estágios, começam suas práticas. Esses acadêmicos chegaram até o 4º semestre,
no 4º semestre nós temos assim, dentro da matriz curricular uma certa divisão, você
tem aí basicamente disciplinas que são de fundamentos e agora no 5º vem as
práticas.
(...) um aluno com deficiência visual ou auditiva é um aluno que vai dar um
pouquinho de trabalho...assim....porque precisa de adaptação...não porque ele seja
menos inteligente ou menos capaz, ele precisa de material adequado pra trabalhar
(...)até no próprio trabalho, eu não gosto de ficar ocioso, eu não gosto de me sentir
inútil, eu detesto isso.....e aí...é o que revolta a gente.....de uma forma diferente, você
é capaz...e aí...é aquela questão que eu sempre bato....você não tem o acesso ao
50
material, você não tem a compreensão do professor, você vai se irritando, você vai
se enervando, você vai se desmotivando...e você vê...o que que é que eu to fazendo
aqui?...eu to perdendo tempo...eu to me arrebentando aqui....eu to cansando....eu to
me prejudicando...a questão física por causa da saúde....e sendo à toa você se sente
um bobo.
A pessoa com deficiência, muitas vezes é estigmatizada, ainda hoje é avaliada pelo
simples fato de ser “diferente”. O caráter assistencialista e paternalista que normalmente as
pessoas tentam direcionar a pessoa com deficiência nega as habilidades psíquicas e motoras.
O participante clama por ser reconhecido como uma pessoa capaz, que apenas precisa de
algumas adequações materiais. Mesmo não tendo continuado o Curso de Pedagogia, o
participante, hoje é um alfabetizador do método Braile, é responsável pela preparação de
material didático em Braile para rede Municipal de Ensino.
Eu sempre digo que foi a questão do problema de saúde por causa do diabetes...mas
na verdade é uma desculpa que eu dou...né? (...) Os problemas dentro da
Universidade, você chega lá você não tem acesso a material, você não tem um
entendimento dos professores pra te auxiliar...né?......dos professores não...na
verdade é um só, que me irritava muito....mas na verdade pra mim, foi esse stress ali
dentro, pela falta de acesso a material e a discriminação que você sente ...né? (...) O
Prof. (...), não fazia e não queria saber, não falava que não queria saber, mas pelas
atitudes você via que não tava nem aí...que se dane....tipo...o problema não é
meu....eu não tenho nada a ver com isso.....a Universidade que se dane.....o aluno
que se vire....entendeu?... É aquela questão....daquele episódio de ele mandar ler
livro, a gente ficar lá feito bobo lá dentro da sala todo mundo lendo e a gente sem
material, aí um colega se dispõe a ler pra você e ele não permite sair da sala....a
aluna se dispôs a ler lá fora pra gente ouvir e ele simplesmente não permitiu que
saísse....como aquilo que eu falei....os dois que se dane né? Sair não vai.
P.1-
É, praticamente, há uma semana antes o professor (...) falou que tinha, eu até
perguntei pra ele se tinha recursos, se tinha computadores, e isso só depois foi
receber, mas como eu já tenho um certo preparo, uma certa caminhada acadêmica, a
gente tem essa visão da importância dos direitos deles de estar trabalhando, estar
frequentando a sala de aula e portanto eu tive que....a... a questão principal foi a
forma de trabalhar a abordagem e principalmente a paciência com o diálogo com a
discussão deles. (...) Não precisei solicitar, porque eu consegui ...consegui
acompanhar (...) Então, é esta questão que eu vejo que é desafiante, que é importante
e que depende do profissional que....cada profissional tem sua forma metodológica
de atuar.
Este discurso trás uma forma muito simplista de lidar com o desafio que é a inclusão
dos alunos com Necessidades Educacionais Especiais para o professor Universitário, diante
das exigências curriculares que a Universidade impõe. A princípio colocamos que, ter
paciência, significa aceitar as coisas como estão e esperar que se modifiquem por si só. O
aluno com Necessidades Educacionais Especiais precisa muito mais do que isto. Ele precisa
de autonomia. O professor precisa buscar caminhos que possibilitem adaptações curriculares
que efetivem esta autonomia. Caminhos estes observados diariamente quanto a sua eficácia.
Para qual espelho então o professor Universitário deve olhar? O que reflete as
exigências curriculares prontas e acabadas? O que reflete seu conhecimento teórico que
fundamenta as especificidades de sua disciplina e que se basta? O professor Universitário
deve olhar para o espelho que reflete uma imagem incompleta, que provoca a busca da outra
parte. Esta parte está dentro da sala de aula, não está inteira, está fragmentada na
subjetividade de cada aluno. Estes fragmentos revelam a diversidade permeada por
necessidades, crenças, valores, desigualdades de oportunidades e sociais.
Encontramos na fala da participante P.3 um outro viés, curioso até. A participante
demonstra um entendimento eficaz, na formação de professores para educação especial na
modalidade da educação Infantil que “respeita o direito da criança”. Mostra a prática docente
permeada de cuidados, para que o futuro professor compreenda e pratique este direito. Por
52
outro lado não percebe que sua prática verbera contraditoriamente quanto aos direitos de seus
alunos com Necessidades Educacionais Especiais
O curso superior não é apenas para atendimento de mercado, então não pode ter essa
visão dentro do sistema capitalista para demanda de mercado, a Instituição é para
atender demanda, para criar pessoas que sejam capazes, para serem inseridas dentro
do processo de cidadania, esta é a questão primeira da Universidade, agora se
considerar que uma pessoa de baixa visão, ela não é competente ela não é capaz,
para estar inserida em determinado espaço, então a função da Universidade pouco
tem dentro deste contexto. (Participante R)
(...) por exemplo: Na educação infantil quando vai se montar os cantinhos, vai se
elaborar a prática pedagógica com base nos direitos infantis, tem que ter um material
específico, com alguns requisitos que possa dar uma melhor compreensão, do que é
que constitui aquele espaço, quais são os materiais que estão sendo utilizados ali
naquele espaço....
(...) quando nós fomos aprender os fundamentos biológicos, pra que a gente
compreendesse a questão da reprodução humana, tinha que ter um material que
representasse isso principalmente com texturas para que o (participante A.2)
compreendesse como é isso por dentro do corpo humano (...)
A participante trás a tona, a dimensão da inclusão. Não tem como julgar, além das
necessidades básicas, o que uma pessoa com deficiência precisa se ela não indicar. Esta
indicação estará voltada para sua inclusão. A pessoa com deficiência não quer “cuidado” ,
quer interagir. Como indica P.4, os alunos têm que ser ouvidos.
O diálogo com o aluno com Necessidades Educacionais Especiais é a chave da
Inclusão. A participante demonstra um pensamento além de seus conhecimentos científicos e
transcende as barreiras do “engessamento” da grade curricular. Esta reflexão é o primeiro
passo para “cerrar” esta “grade”.
As posições dos participantes trazem manifestações bem variadas:
P.2:
Não, não foi necessário, porque eu já era sabedor do problema.(...) A orientação é
que se dê atendimento individualizado a medida das necessidades, mas não existe
54
P.3:
(...) Nós fizemos uma discussão entre os professores do Departamento que ficou de
encaminhar uma consulta em relação principalmente aos estágios né?...uma consulta
ao Conselho Estadual, mas eu não sei se isso foi feito ou não ...e para mim
especificamente, na minha disciplina não, em relação a Universidade ter feito uma
orientação não.
(...)eu pelo menos não fui chamada pra isso, eu acho que a partir de agora eles vão
entrar nos estágios e as pessoas responsáveis pelos estágios, vão... talvez ser elas que
vão provocar as discussões coletivas.
(...)não existe ação capaz de agir na realidade para o vir a ser sem a teoria que vigore
a própria ação. É desse movimento que a crítica emerge pela base das dimensões da
prática como critério de verdade, alimentando o conjunto da necessidade e
13
consciência, mas efetivado pela práxis. (informação verbal)
13
Informação verbal de Prof. Dr.Marion Machado Cunha - em rede social- na internet com alunos da
UNEMAT
56
A1 coloca ainda que este pensamento gerou uma discriminação gritante nas
atividades de prática pedagógica:
(..) A discriminação de uma forma, fica presa ao ‘reino da sutileza’ das palavras e
das ações, já teve momentos em que uma determinada professora pediu pra que eu e
o (A2)...ela não pediu diretamente.. o (A2) não sabia naquele momento, mas eu
sabia.... eu fui andar com o ele pela Universidade enquanto ela tinha uma conversa
com a turma, porque praticamente mais de 70% da sala se recusava a fazer trabalho
com o A2, por exemplo....né?....Então eu acredito que isso é um traço.... é um
resíduo...é uma evidência de algo que está ali, subentendido que as pessoas não tem
coragem de chegar e dizer...Olha é isto aqui que está acontecendo.
(...) necessita fora esse recurso material, o recurso humano, uma pratica realmente
humanizadora, tanto por parte dos professores, da compreensão, quanto por parte
deles saberem intermediar essa relação conflituosa, dessas outras pessoas que até
então muitos ali não tinham uma convivência direta com um deficiente, então, já
vem aquela cultura mesmo, aquele ranço cultural do preconceito velado....né?.... e
isso é uma questão que desgasta muito.
Esta situação reproduz a idéia de que, estes acadêmicos que convivem com os alunos
com Necessidades Educacionais Especiais, serão profissionais da educação e levarão consigo
este conceito. Ainda não encontraram possibilidade de Inclusão, pois não as vivenciaram na
formação docente.
Gatti (2010,p.16) em sua pesquisa sobre “Formação de Professores no Brasil” revela
que somente 3,8% das disciplinas nos Cursos de Licenciatura no Brasil estão voltados para a
“Educação Especial” e coloca que: “Os cursos estão incorporando tais questões em um
conjunto de disciplinas que acentuam abordagens mais genéricas ou descritivas das questões
educativas, com poucas referências às práticas possíveis e suas lógicas”.
Deste conjunto deve nascer uma nova prática. Uma célebre frase da filósofa
espanhola Maria Zambrano14, sintetiza esta ideia: “o que fabrica é o que vai do possível ao
real” e “o que nasce é o que vai do impossível ao verdadeiro”. A Universidade não é
responsável em curar as “feridas” da sociedade, mas Universidade é o espaço onde se
14
Disponível em http://anathomaz.blogspot.com.br/2011/03/do-impossivel-ao-verdadeiro.html
57
Está bem explícito que o PDI não tem um projeto com maior robustez para Inclusão
dos alunos com Necessidades Educacionais Especiais, porque não houve nenhuma iniciativa
em cria-lo. Este retrato se apresentou bem comum em nossa pesquisa. Em um levantamento
de Programas com esta finalidade, existentes no Ensino Superior no Brasil, encontramos
pesquisas que apontam três Universidades que criaram Núcleos específicos para atendimento
destas demandas. Uma delas é a Universidade Estadual de Londrina no Estado do Paraná::
16
O Programa de Iniciação a Docência, financiado pela CAPES -Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior investe na Unemat, R$ 5.294.820,00 por ano, em bolsas destinadas para acadêmicos, professores da instituição e
professores de escolas públicas. Atualmente são 580 bolsas mantidas pela Capes junto a Unemat no sentido de valorizar e
incentivar a docência.. disponível em http://www.novoportal.unemat.br/?pg=noticia/7430
60
Eu sou Bolsista e atualmente estou numa sala de recurso em que eu atendo crianças
que também tem deficiência, só que são múltiplas, não apenas a visual. O projeto
em si a proposta é muito bacana, porque tem o tempo em que você tem livre para
poder se dedicar aos estudos, que no caso, seriam dois dias, tem três dias imediatos
que você fica dentro da escola , dentro da Instituição que você fica aprendendo com
a prática, e assim, deu de se perceber, que tipo de trabalho é desenvolvido com as
crianças que tem deficiência dentro das escolas, nesse caso, dentro da escola onde eu
estou.(A1).
Exatamente, prevê este atendimento, mas está muito mais como política do que
como uma intenção de fato. Hoje não temos um...um..até o apoio ao estudante...a casa
do estudante, o restaurante universitário, transporte, que são assim...condições
universais, são direitos universais e não são entendidos. As políticas, que são políticas
focalizadas, para o portador de qualquer deficiência, que seria uma política focalizada,
que sai do direto universal, e cai no direito subjetivo, aquele direito único, focalizado,
dentro de uma política focalizada, nós não temos este atendimento específico.... então
o que a Universidade faz?.....o que o departamento faz?....que é a unidade que recebe
diretamente estas pessoas, trabalha com as condições reais e materiais, existentes que
nós temos aqui no campus.
a Legislação é interessante mas... ela ganha raiz, ela ganha corpo, ela ganha
robustez, ela ganha efetividade, a partir do momento que a Lei deixa de ser apenas
uma Lei e torna-se uma política e por meio de uma política uma ação, por meio
dessa ação, um programa. Então, se após a legislação, assinou o decreto, assinou a
portaria, assinou a lei, sancionou todos estes mecanismos institucionais, só terá força
de fato se lá na ponta tivermos um programa, uma ação dentro deste programa com
uma política implementada, enquanto a política não for implementada o que nós
temos então é apenas a legislação. Nós não temos de fato efetivamente uma política.
Como vimos, no início deste trabalho, a luta da pessoa com deficiência, a principio
foi de ser reconhecida como cidadão, com direitos políticos e civis. Alcançou este direito a
partir da Constituição Federal, mas como preconiza o participante R, a Legislação não muda
uma situação por si só, nem só por meio de um Programa, a partir deste programa tem que
haver ação. Esta ação deve contemplar todas as demandas.
São necessárias discussão coletivas. Delas devem sair projetos, que virem
programas, que nem sempre requerem recursos financeiros. Os alunos com Necessidades
Educacionais Especiais tem um importante papel nestas discussões. Eles irão indicar os
principais pontos a serem trabalhados, como já fizeram nesta pesquisa.
Pelo posicionamento de alguns participantes sobre estas questões, percebe-se que
existe um pequeno grupo de pessoas na UNEMAT com disposição para levantar esta
bandeira.
O Participante R, desabafa que a maior dificuldade para se efetivar projetos com
ações afirmativas é a resistência que alguns colegas professores demonstram em participar de
discussões coletivas em relação a este desafio:
Esta é uma questão que precisamos aprender, e aqui é uma questão inclusive de
denuncia mesmo, há situações de discriminação dentro da própria Instituição, de
colegas que não querem aprender e não querem fazer a coisa acontecer, aí vai para
além da questão de não se colocar na posição de profissional da educação, e colocar-
se numa posição extremamente... vou usar uma palavra bem branda......antipática em
relação a essa situação. Então há colegas dentro do próprio curso, que se recusam a
fazer qualquer atividade dessa natureza, mas veja bem, como a situação é dinâmica,
é processual, e as coisas acontecem dentro deste contesto, da processualidade, a
partir do momento que os problemas vão acontecendo, a pessoa tem que mudar a
postura, desta postura de ficar arredia e fazer críticas constantemente, estas pessoas
precisam interagir no curso e buscar esta interação.
Seria, se a gente vivesse em uma Universidade democrática, mas a gente não tem
vivido isso, não temos tido momentos para pensar esta questão específica, eu pelo
menos não fui chamada pra isso, eu acho que a partir de agora eles vão entrar nos
62
estágios e as pessoas responsáveis pelos estágios, vão... talvez ser elas que vão
provocar as discussões coletivas.
O que dificulta mais ainda as ações que favoreçam os alunos com Necessidades
Educacionais Especiais na UNEMAT- Campus Sinop - pelo menos é o que se tem notado
pelos relatos- é a questão, de achar que o dever de criar mecanismos que favoreçam estes
alunos, é só de quem estiver trabalhando diretamente com eles. O DEVER é NOSSO. Será
que a participante P.3 nunca mais irá receber alunos com Necessidades Educacionais
Especiais?
Por fim, indagou-se aos participantes: Quais as maiores dificuldades que a Instituição
enfrenta para se efetivar a inclusão e a permanência destes alunos?:
P.4:
Nós temos muito, muito ainda , a atender este aluno que chega até nós...., inclusive a
questão curricular. A Universidade não está preparada, a sociedade como um todo
não está preparada, nós necessitamos de recursos arquitetônicos, nos necessitamos
mais de recursos ainda, na formação do profissional, na formação do que dá sentido
no recebimento destes alunos na universidade, até porque o que consta como
mudanças nas leis, se nós tivéssemos aqui o aluno surdo por exemplo, ele precisaria
ter sim aqui como direito dele um interprete. No nosso caso que temos os alunos
DV’s, o que se busca nessa necessidade de atendimento pro momento, são estes
recursos do que, até atender esses direitos deles. Nesse programa que foi no caso
instalado nos notebooks deles.
P.2:
Nós fomos atrás de diversos tipos de auxilio, nós buscamos a Secretaria Municipal
de Educação na época quando esse acadêmico...ingressou na Universidade,
inclusive... havia dois com deficiência visual, um acabou desistindo. Nós tomamos
conhecimento através do MEC de vários sistemas de várias fontes alternativas, as
vezes elas não se tornam viáveis até por uma questão da carência da tecnologia
interna, se veja que a aquisição dos notebooks, eles demoraram quase 5 meses para
chegarem, a Universidade é lenta em tudo....e a necessidade dos acadêmicos é
imediata.
P.1:
Eu não estou muito a par disso, mas eu penso que é a questão de investimento
mesmo, laboratórios e isso cabe a coord....de um diálogo aí de ampliação, de
instalação desses computadores, de programas e uma política de trabalho conjunto
de professores, alunos e instituição, no sentido de facilitar, viabilizar melhor dizendo
a aprendizagem destas pessoas, que tem o direito de estarem frequentando, estarem
estudando .
P.3:
63
Eu prefiro não fazer nenhuma inferência, porque faz um bom tempo que eu não
tenho conhecimento, não sou chamada para participar de decisões aqui na
Universidade, nem do departamento.....então, eu não saberia dizer pra ti sobre isso.
R:
(...) Ter uma sala adaptada para atender um portador de necessidade com baixa
visão depende da situação financeira, então dentro daqueles quesitos que vc
apontava, é ter o recurso pra isso, esta é a primeira questão, agora não basta ter o
recurso, e isso de fato, possa ser, precisa ser , necessita ser, engajado com uma
política, se a Universidade não assumir pra si uma política de ação, nós vamos ficar
aí no mero patamar do discurso.
A participante A.1, sendo a maior interessada pela resolução destes problemas coloca::
Estas ações não podem ser focalizadas somente nos cursos que recebam alunos com
necessidades Educacionais Especiais, mas sim em toda a comunidade Acadêmica.
65
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
irão prosseguir seus estudos. Seria muito interessante se a UNEMAT, fizesse uma parceria
também com as Escolas de Ensino Médio do Município para conhecer seus possíveis futuros
alunos.
Esta “colcha de retalhos” -que é a inclusão do aluno com Necessidades Educacionais
Especiais na UNEMAT- Sinop-MT – composta por peças de texturas e tamanhos diversos,
nem sempre com a mesma forma- deve ser “arrematada” com várias “linhas”. Estas tecidas
com os fios do direito; das possibilidades; das singularidades e especificidades de cada aluno.
A “agulha” que furará as barreiras do “impossível”, deve estar fundida com o aço da vontade,
da perseverança daqueles que acreditam em possibilidades e mudanças. Vale fechar este
trabalho com a frase de meu orientador; Prof Dr. Marion: “Isso não é utopia.... é o vir a ser...
porque lutamos”.
67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_________, Secretaria d Direitos Humanos, Cartilha Viver sem limites:> Plano Nacional dos
Direitos da Pessoa com Deficiência. Disponível em: http://pessoa
comdeficiencia.gov.br/app/viver-sem-limite/publicações. Acesso em 28/11/2012.
FREIRE, Paulo , Pedagogia da Autonomia : Saberes necessários à prática educativa - Ed Paz e Terra 43ª
Ed. – São Paulo -2006
ONU – Organização das Nações Unidas, Declaração Universal dos Direitos da Pessoa com
Deficiência. Disponível em: http://www.onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-e-as-pessoas-com-
deficiencia/ . Acesso em 15/01/2012.
PIMENTA, Selma Garrido, Saberes pedagógicos e atividade docente, Cortez, São Paulo,
2009.
SÁ, Elizabet Dias, Escola plural, um projeto político de gestão pedagógica: Pensando e
fazendo educação de qualidade , Editora Moderna, São Paulo, 2001
TRINDADE, José Damião de Lima. Anotações sobre a história social dos direitos
humanos: construção da liberdade e da igualdade.: Centro de Estudos da Procuradoria Geral
do Estado, São Paulo, 1998.
ANEXO I
72
INCLUSÃO18
Se você presenciar um tombo de uma pessoa com deficiência, ofereça ajuda imediatamente.
Mas nunca ajude sem perguntar se e como deve fazê-lo.
Nunca estacione numa vaga reservada para o estacionamento de veículos conduzidos ou que
conduzam pessoas deficientes. Essas vagas, demarcadas com o símbolo internacional de
acesso (um símbolo de uma cadeira de rodas pintado na cor branca sobre um fundo azul),
geralmente, são mais largas para permitir que a pessoa se aproxime do veículo e possa fazer a
transferência da cadeira de rodas para o banco do carro e vice-versa. Nunca estacione em
guias rebaixadas, nem sobre a calçada.
Se a pessoa tiver dificuldade na fala e você não compreender imediatamente o que ela está
dizendo, peça para que repita. Pessoas com dificuldades desse tipo não se incomodam de
repetir quantas vezes seja necessário para que se façam entender.
Não se acanhe em usar palavras como “andar” e “correr”. As pessoas com deficiência física
empregam naturalmente essas mesmas palavras.
Pessoas com paralisia cerebral podem ter dificuldades para andar, podem fazer movimentos
involuntários com pernas e braços. Geralmente, têm inteligência normal ou, às vezes, até
acima da média.
......................................................................................................
enxergam. Trate-as com o mesmo respeito e consideração que você trata todas as pessoas.
Proporcione às pessoas cegas as mesmas oportunidades que você tem, de ter sucesso ou de
falhar.
Fique à vontade para usar palavras como “veja” e “olhe”. As pessoas cegas usam-nas com
naturalidade. Quando for embora, avise sempre. A pessoa cega depende fundamentalmente
das informações verbais.
......................................................................................................
Como você deve comportar-se diante de um educando com deficiência. Sabemos que:
Os professores não se sentem preparados para atender adequadamente as necessidades
daqueles educandos;
Porque as crianças/jovens que não portam deficiência não foram preparadas sobre
como aceitar ou como brincar com os colegas com deficiência e chegam, por isso às vezes,
a rejeitá-los;
Porque os edifícios foram construídos para pessoas sem deficiência;
Porque muitos dos profissionais da escola se opõem à inclusão destes alunos;
Porque algumas famílias de criança/jovens que não portam deficiência, temem que
este contato seja prejudicial a seus filhos;
Porque os pais e familiares de crianças/jovens com deficiência têm receio de que seu
filho tenha dificuldade no relacionamento interpessoal na escola, preferindo mantê-lo em
casa ou em instituições especializadas;
Porque o próprio portador de deficiência não foi ensinado e encorajado a enfrentar o
mundo e a sociedade com confiança em si próprio; não sabe que tem um lugar que é seu e
que as pessoas sem deficiência necessitam da sua participação, pois mais ninguém pode
desempenhar o seu papel no grupo a que pertence. Ele tem DIREITOS E DEVERES
Sugerimos que :
Exponha as suas dificuldades, aos seus superiores para alertar e melhorar as estruturas
existentes; mantendo a ética e o sigilo profissional, procure informar-se ao máximo sobre os
seguintes pontos:
A deficiência da criança/jovem e as suas possibilidades de participar nas atividades
escolares (aulas, recreações, etc...);
A maneira como os familiares encaram a deficiência e como o aluno com deficiência
encara a sua família;
75
Os seus principais problemas, como pessoa e como professor, na relação com esses alunos
são:
Dificuldades na comunicação com eles;
Dificuldades que apresentam no aprendizado dos conhecimentos necessários ao seu
progresso escolar.
A missão do professor junto a estes alunos é acima de tudo, criar um ambiente tal a
sua volta que lhes faça sentirem-se aceitos e os leve a participar no grupo.
Procure encontrar o melhor meio de facilitar-lhes a aprendizagem, para possibilitar-
lhes um desenvolvimento global equilibrado.
ANEXO II
77
2-O item 8.1 do Edital 001/2012 de Abertura do Vestibular 2012 - COVEST – assegura ao
candidato o direito de requerer atendimento diferenciado para realização das provas. No ato da
matrícula a Universidade elabora algum questionário direcionado aos Portadores de
Necessidades Especiais –(PNE) aprovados no vestibular que possibilite conhecer suas limitações
e/ou necessidades ?
SIM NÃO
3-No caso de alunos com Necessidades Educacionais Especiais matriculados, os Departamentos
dos Cursos são informados antes do início do semestre?
SIM NÃO
31. Como as pessoas dos espaços em que estagia se relacionam com você?
32. Qual sua expectativa ao término do curso?
33. Se pudesse sugerir alguma mudança na infraestrutura da UNEMAT, o que considera urgente
para ser atendida?
34. Se pudesse intervir nas relações com os professores, os colegas e os funcionários, quanto à
situação necessidades educacionais especiais, o que proporia para que houvesse mudanças na
forma como as pessoas pensam e se relacionam?
______________________________________________
4- ENTREVISTA DIRECIONADA AOS PROFESSORES DOS CURSOS QUE ATENDEM
ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS.
4.1-Instrumento que avalia a IES quanto ao atendimento pedagógico dos professores com alunos
Portadores de Necessidades Educacionais Especiais
3.1 – Considera a Instituição preparada para cumprir estas determinações? Por quê?
3.4 – A Pró reitoria em relação ao atendimento estudantil, tem um ítem que fala deste
atendimento?
4.1 – A Instituição conta com apoio técnico e financeiro do Estado? Quais considerações acha
relevantes neste sentido?
4.2 Vocês tem uma Plano de desenvolvimento Institucional, que trata da distribuição de
recursos financeiros e sua aplicabilidade . É possível colocar um projeto de inclusão para
19
Portaria 1679/99 – Disponibilizada ao entrevistado por meio de impressão.
20
Decreto 7611/2011- Disponibilizada ao entrevistado por meio de impressão
3
avaliação no PDI?
5. O Decreto 3298/99 21 do Ministério da Educação, em seu art. 27 dispõe que: ‘As instituições de
ensino superior deverão oferecer adaptações de provas e os apoios necessários, previamente
solicitados pelo aluno portador de deficiência, inclusive tempo adicional para realização das
provas, conforme as características da deficiência’.
5.1 – Existe uma orientação específica aos professores que atendem alunos com Necessidades
Educacionais Especiais neste sentido? Quais ações efetivas o Departamento de Pedagogia
já realizou ou realiza direcionadas ao atendimento pedagógico dos alunos com
Necessidades Educacionais Especiais?
5.9 – Quais são os desafios para o Departamento para atender os alunos com Necessidades
Educacionais Especiais?
6.1 Você concorda que a Universidade, além de superar esta questão financeira, para ter um
laboratório, é um grande desafio também superar a resistência de alguns docentes?
6.2 – Se pudesse apontar os aspectos impeditivos para atender os alunos com Necessidades
Educacionais Especiais, quais sublinharia por ordem de importância e por que, sendo eles
infraestrutura, financeira, pedagógica, interpessoal, profissionais capacitados, materiais
pedagógicos específicos para trabalhar, o processo de avaliação?
6.2 – Na sua avaliação qual é o caminho importante para melhorar o que existe e superar as
dificuldades?
6.3 – A UNEMAT está preparada para realmente garantir a permanência de alunos com
21
Decreto 3298/99- Disponibilizada ao entrevistado por meio de impressão
4
Necessidades Educacionais Especiais?