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Ana Maria Canzonieeri Maeda1
Daaniel Feldmman2
Maria Annita Vivian Martins3
1. INTRODUÇÃ
ÃO
A fibromialggia é uma síndrome
s c
cujo fator mais
m imporrtante é a dor coexisttindo
com alteraçõess de fundo o emocionaal e até distúrbio pssíquico, o que dificu ulta o
trataamento médico. O ind divíduo apresenta múlltiplos pontos dolorossos sensíveeis ao
toquue chamado os “tender p points”, com m a presen nça de fadigga, distúrbiios do sono o e do
hummor, cefaléiaa, conceitos estes traazidos por Vancouverr Fibromyaalgia Conseensus
Grouup, em 1994 4 (Wolfe, 11996 apud F Falcão, 200 04).
O diagnósticco é basead
do em dado os clínicos,, normalmeente não háá alteraçõees em
exam
mes laboratoriais ou de imagem
m. Sabe‐se que o quaadro dolorroso modiffica o
1 Enfer
rmeira, psicólo
oga, mestrandaa em saúde na UNIFESP – Un
niversidade Fed
deral de São Paaulo.
annam maeda@accom mpe.com.br
2 Profe
essor Doutor A
Adjunto da discciplina de reum
matologia na U
UNIFESP – orien
ntador da tesee.
3 Profe
essora Doutora em Educação o na PUC‐SP – cco‐orientadoraa. vivimart@u
uol.com.br
MAEDA, A. et al. (2007) A compreensão do residente médico, em reumatologia, no
atendimento aos fibromiálgicos. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A
Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
estilo e a qualidade de vida dos pacientes, restringindo atividades, trabalho, as
relações familiares e sociais.
Decide‐se realizar uma pesquisa que demonstre como o residente médico em
reumatologia compreende o atendimento ao fibromiálgico, pois não há na
literatura dados que explanem sobre este fato. Considerou‐se o uso da metodologia
qualitativa como mais adequada devido a intencionalidade da amostra.
Admite‐se que com esta interrogação o residente fará uma pausa em seu
pensamento e se remeterá à significação interna do que é para ele atender esse
tipo de paciente, e que sua resposta expressaria seus sentimentos e
posicionamentos.
1.1. Objetivos
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Compreendendo o adoecer
A teoria da neuromatriz de Melzack, traz que a dor é o resultado de descargas de
uma rede neuronal cerebral que envolve componentes somato‐sensoriais, límbicos
e tálamo‐cortical e não somente um produto direto de estímulos sensoriais
nociceptivos desencadeados por uma lesão tissular ou processo inflamatório.
Pode‐se dizer que a fibromialgia é caracterizada por alterações no processo de
estímulos e respostas no sistema nervoso central (SNC), que podem ter causas
ligadas aos fatores: (a) Psicológico ‐ personalidade, humor e atitude; (b)
Sociológicos ‐ trabalho, status, cultura e relações familiares; (c) Biológicos ‐
neuropeptídeos.
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Ao atender um paciente com dor é visível a expressão de emoções que podem
estar relacionadas a «dor» e/ou a incapacidade por esta produzida, por isso além
do desafio da investigação diagnóstica e do tratamento, a análise sócio‐emocional
deve estar presente no atendimento, a fim de enxergar o paciente de forma
“biopsicosocial”.
Na fibromialgia o estado emocional alterado do paciente, é um fator importante,
pois marca sua dificuldade em lidar com “problemas”, anterior a doença ou
somando‐se ao aparecimento desta, formando assim, um circuito: o estado
emocional interfere na “dor” e a “dor” interfere no estado emocional.
A atitude do médico na relação médico‐paciente tem um sentido psicoterápico,
seja ou não está a intenção do médico. São importantes as atitudes, gestos e
palavras. Portanto, toda a atitude de acolhimento, conforto, compreensão e
orientação podem agir como uma ação (psico) terapêutica. Por isso, o profissional
da área da saúde deveria ser melhor preparado para lidar com pessoas, ao invés
de, ser preparado para lidarem com doentes.
A ciência positivista contaminou a prática médica com um pensamento racional,
fragmentado e reducionista, garantindo a objetividade e a neutralidade da atitude
médica em relação ao paciente. Portanto, o acolhimento, por parte do médico, só
será possível quando ele estiver atento as suas atitudes no exercício do papel
profissional.
2.2. Formação médica
Os dados de uma pesquisa feita com trinta pessoas entre 30 e 65 anos, sobre o
que esperavam receber do atendimento médico, trouxe quatro atitudes: confortar,
escutar, olhar e tocar. Eles atribuíram a essas atitudes a missão do médico, que em
síntese era a proposta do humanismo no atendimento pregado por Asclépio e
Hipócrates.
O modelo hipocrático considera que o médico é aquele que entende que curar
envolve uma atitude humano‐científica, que compreende o biológico, o psicológico
e o cultural.
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O aprendizado e o desenvolvimento do papel profissional é produto de
interação entre o indivíduo e o meio educacional. A formação médica ocorre por
meio da vivência ao longo do curso e fora dele, com experiências adquiridas na
prática junto ao paciente e com a interação com os modelos de profissionais. O
médico deve compreender a linguagem da dor, da angústia, do medo, da
desesperança e do sofrimento, para que possa falar à alma de seus pacientes.
Nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de 2001, lê‐se como objetivos da
graduação em medicina, que a formação seja generalista, humanista, crítica e
reflexiva, que caminhe por dimensões éticas e humanísticas a fim de desenvolver
no aluno atitudes e valores voltado para a cidadania.
A educação médica, a partir de Flexner (1910), passou a ser entendida como um
processo de iniciação científica, por isso segue um modelo hierárquico e
autoritário que dá ênfase ao conteúdo e ao resultado quantificado. É uma escola
que divide o conhecimento em especialidades, sub‐especialidades, centrada no
professor e na transmissão do conteúdo, que apesar de aconselhar a prática do
humanismo, possui uma estrutura de trabalho individualista, biologicista,
hospitalocêntrica e com ênfase nas especializações.
O processo de capacitação do profissional em saúde deve envolver a articulação
entre a prática clínica e pesquisa laboratorial, sem perder de vista o «Homem» em
seu conceito mais amplo como um ser bio‐psico‐socio‐espiritual.
O adequado seria investir em treinamento de profissionais possibilitando‐os ao
uso de técnicas que facilitassem o contato e ampliassem a percepção e
compreensão dos conteúdos emocionais do paciente. Deste modo, a formação do
profissional em saúde e principalmente do médico estariam voltados para a
capacitação de escuta.
Verifica‐se na literatura que poucos trabalhos se preocupam com o vivenciar de
experiências do ato de atender do médico, normalmente as inferências são sobre:
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trabalho, doença ou o stress que o ato de exercer a medicina lhes causa. Por isso, o
foco deste estudo é a compreensão do médico no atendimento ao fibromiálgico.
Merleau‐Ponty (1999) Apud Rossi (2004) traz que fenomenologia trata de
descrever e não de explicar o fato. Resta para a Hermenêutica o processo de
explicação.
Heidegger cita que ao questionar, busca‐se o sentido e quando se investiga
propõe‐se a questão previamente concebida, por isso o sentido da pergunta é a
única direção que a resposta pode adotar, o como se pergunta interfere na
resposta. Perguntar é mais difícil que responder (Feijoo, 2000).
Toda a intenção do que se deseja saber é colocada na pergunta esperando‐se
que esta cause uma ruptura no pensamento do interrogado, este é colocado sob
uma determinada perspectiva, daquilo que se interroga permanecer em suspenso
até a exposição da resposta. O homem expressa seus diferentes estados de ânimo
pela “fala”. Mostrar‐se a si mesmo é discursar, é expressar‐se no sentido da
entidade da palavra, do gesto, do silêncio, enfim, do comportamento.
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Sem desprezar o rigor científico das medições, mas entendendo que se pode,
também, usar o conhecimento não quantificado, tornando relevante o que é
observado e não mensurável.
3. MÉTODO
3.1. Tipo de Estudo
Esta é uma pesquisa qualitativa realizada em 3 hospitais escola da rede pública.
Participam do estudo todos os residentes, do segundo ano, de reumatologia:
Hospital A – seis (6); Hospital B – dois (2); Hospital C – sete (7). A pesquisa foi
realizada por meio da coleta de discursos espontâneos orais, em que o residente
discorre sobre o tema da interrogação: ‐ O que é isto para você atender ao
fibromiálgico?
A proposta não é comparativa, por isso, não entram outras Instituições e nem
outras patologias, somente a fibromialgia. Este é um estudo da compreensão do
atendimento e não da relação médico‐paciente, busca‐se compreender o tipo de
acolhimento a “dor” que é feito pelo residente e o que ele sente ao fazer isto.
3.2. Validade
A pesquisa qualitativa trata exclusivamente de significados e processos e não de
medidas, os resultados são apresentados de forma descritiva e não numérica. É de
extrema importância ressaltar que depende do rigor da intuição e da habilidade do
pesquisador em manusear técnicas e recursos para retratar o fenômeno, pois não
há hipóteses formuladas.
A autoridade do pesquisador também se manifesta pela circunstância de que
aquilo que ele pesquisa e investiga faz parte de seu mundo, o que certamente
abarca o conhecimento operativo e o científico. O pesquisador possui formação em
psicologia clínica e atua há quatro anos com fibromiálgicos, o que diminui ruídos
na comunicação e facilita a compreensão do que foi dito pelo residente.
A interrogação foi feita ao residente sempre do mesmo modo, deixando‐o livre a
falar. Em todos as entrevistas os entrevistado e entrevistador mantiveram o tom
de voz calmo e a expressão verbal e corporal tranqüila. Não houve nenhuma
intercorrência.
Não se utilizou o critério de saturação porque a intenção foi coletar a resposta
de todos os residentes, num total de quinze (15) médicos, nos três hospitais.
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Sujeitos
Todos os residentes já tinham sido avisados antecipadamente pelos chefes da
disciplina, sobre a realização da pesquisa, portanto, ninguém se mostrou surpreso
ou indisponível para a entrevista, quando abordado pelo entrevistador. Foi
agendado com o residente o dia para a entrevista. O encontro foi no ambulatório.
Toda a explicação da pesquisa foi passada verbalmente, sendo entregue a carta
convite com as mesmas informações já orientadas para que o residente lesse e
assinasse antes da entrevista. Todos aceitaram participar sem nenhum
constrangimento. A entrevista foi gravada a sós. O gravador só era mostrado após
explicações sobre o uso do mesmo, da pesquisa e a coleta da assinatura de
consentimento. Foram levados a campo 2 gravadores, digital e com fita. Foi usado
apenas o digital. A menor entrevista teve o tempo de 5 minutos e a mais longa 21
minutos, não houve predominância de tempo em relação ao Hospital.
O período entre a primeira entrevista e a última foi de 45 dias (dezembro/2004
à janeiro/2005). Hospital A ‐ duas visitas; Hospital B ‐ uma; Hospital C – três.
O primeiro período de análise das transcrições teve duração de três meses
(fevereiro à abril/2005). O segundo período de análise teve a duração de três
meses (maio à julho/2005). Refere‐se à separação das unidades significativas em
ponto comum entre os sujeitos entrevistados. O terceiro período de análise teve a
duração de dez meses (agosto/2005 à julho/2006). Todas estas etapas contaram
com auxilio de orientador especializado na área da fenomenologia hermenêutica e,
paralelamente, desenvolvia‐se o estudo teórico sobre a fenomenologia para
embasar as interpretações da fala do sujeito.
O discurso do sujeito sofre inicialmente 3 reduções para se alcançar o sentido
atribuído. Busca‐se o que é a «lei» (comum) nos discursos baseado na
fenomenologia hermenêutica.
3.4. Entrevista gravada
A qualidade da entrevista se divide em: conclusão da entrevista e registro e
armazenamento da informação, por isso todos os registros das entrevistas são
lançados diretamente no computador, pelo sistema digital do gravador, no mesmo
dia da coleta, em forma de texto corrido. As análises são feitas após o término de
todas as entrevistas.
3.4.1. Discurso Integral
Escolheu‐se aleatoriamente 1 discurso para acompanhar o método de análise:
Hospital A ‐ Discurso 3
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ENTREVISTADOR: Gostaria que você respondesse da forma mais ampla
possível. O que é isto para você atender ao fibromiálgico?
ENTREVISTADO: Bom, é um paciente complexo, Você tem que ver vários
parâmetros, não só reumatológico, principalmente psicológico. Eles são passivos,
têm uma relação passiva com a doença. Muitos deles, na grande maioria, acho que
fundamental para o tratamento é mudar essa visão da doença. Parece que o médico
tem obrigação de melhorar. E dá impressão que eles não sabem, não tem o que fazer,
não querem fazer nada para melhorar. Essa é a grande impressão que eu tenho.
Quando eles percebem que eles estão fazendo exercício físico, tomando a medicação,
fazendo as atividades que a gente manda, eles se motivam a fazer mais isto. Se
motivam a tratar a doença, aumentar a carga de exercício, a fazer o tratamento. O
aspecto psicológico é fundamental.
3.4.1.1. Analise Idiossincrática
As unidades significativas sofrem uma nova análise, são sintetizadas e reescritas
de forma a expressar a essência do pensamento do sujeito, é o sentido por ele
atribuído e, recebem o nome de asserções articuladas.
São quinze (15) discursos analisados e sintetizados em trinta es sete (37)
asserções articuladas.
Discurso na linguagem do Unidades
Asserções articuladas
sujeito significativas
2‐ Atender pacientes
fibromiálgicos tem relação 2‐ O médico residente
com a passividade do necessita preparo para
2‐ Eles são passivos, tem uma
paciente e ainda dispõem avaliar e intervir na
relação passiva com a doença...
sobre o médico a ambigüidade da condição
expectativa da melhora do paciente. (2, 3)
obrigatória. (2, 3)
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3‐ O paciente fibromiálgico
3‐ Parece que o médico que melhora quando percebe
obrigação de melhorar. como eficaz a orientação
médica. (4)
4‐ Quando eles percebem que
fazendo exercício físico, tomando a
medicação, fazendo atividades que a
gente manda, eles melhoram, eles se
motivam.
Quadro 1. Análise Idiossincrática: Discurso 3 – Hospital A
3.4.1.2. Analise Nomotética
As asserções articuladas são separadas e agrupadas de acordo com o significado
transmitido, unem‐se as asserções articuladas por semelhança de conteúdo, anota‐
se o número do discurso geral proveniente e a qual asserção se refere, nesse
discurso.
O resultado será uma proposição final que expressa todo o sentido atribuído no
discurso de todos os residentes, traduzindo a compreensão e o sentimento do
residente ao atender o fibromiálgico.
Asserção articulada Discurso Asserção Proposição
1‐ O atendimento ao
fibromiálgico
dependerá dos
efeitos desse
paciente sobre o
estado de espírito
do médico. Esse
1‐ O atendimento
atendimento
ao fibromiálgico
entedia, causa
1‐ Os médicos entediam‐se dependerá dos
frustração, traz
e sentem‐se indispostos a 1 2 efeitos desse
sentimento de
atendê‐los. paciente sobre o
impotência gera,
estado de espírito
inclusive,
do médico. (5)
indignação. Produz
cansaço, exaurindo
o médico pela
exigência do
paciente que tem a
expectativa de
cura.(1,2)
2‐ O atendimento
2‐ O atendimento ao médico ao
paciente fibromiálgico traz fibromiálgico
5 2
sentimento de impotência entedia, gera
do médico. frustração, traz
sentimento de
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impotência,
gerando
indisposição no
atendimento.
Produz cansaço,
exaurindo o médico
pela exigência da
expectativa de cura.
(1,2,3,4,6)
3 No atendimento à
paciente fibromiálgico tem‐
se a sensação de impotência
e o profissional se cansa, 6 1
pois dispõe sobre ele toda a
expectativa de solução de
seus problemas.
4‐ O desenvolvimento do
atendimento médico
7 2
dependerá dos efeitos de
seu estado de espírito.
5‐ O tratamento do paciente
de fibromialgia exige muito
do médico, causando‐lhe 15 3
até certa indisposição no
atendimento.
6‐ Atender paciente
fibromiálgico é uma
experiência pessoal ruim,
demanda desgaste 2 3
emocional que frustra o
médico na tentativa de
melhorar seu estado
Quadro 4: Proposição 1
3.4.1.3. Analise de Proposição
O resultado da análise nomotética dá origem a cinco (5) proposições finais que
resumem o significado de todas as respostas dadas por todos os residentes.
PROPOSIÇÃO
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Componentes sociais e a não adesão ao tratamento exigem um exaustivo
exercício de perseverança do médico.
3) O médico necessita de preparo emocional para atender o fibromiálgico,
são requisitos necessários : saber ouvir, ter paciência, solidariedade,
compaixão e, ainda, ter compreensão da relação paciente‐doença, pois o
paciente possui, além do adoecimento físico, uma carência emocional.
Atender e tratar o fibromiálgico depende mais do paciente do que da
ação médica devido a um não comprometimento grave do organismo, o
que inspira maior tranqüilidade no atendimento.
4) O diagnóstico é marcado pela falta de comprovação laboratorial, pela
subjetividade da anamnese, por múltiplos fatores que dificultam o
atendimento médico e a compreensão do tratamento por parte do
paciente. Todos estes fatores podem levar a uma inadequação de
diagnóstico.
5) O médico necessita do apoio da psicologia para auxiliá‐lo na orientação,
na explicação e na mudança de atitude do paciente em relação à doença,
pois o resultado do tratamento tem eficiência na mudança de hábito e
não na utilização da medicação. É um tratamento que requer uma equipe
multidisciplinar devido à complexidade de fatores presentes no
adoecimento. Sabe‐se da necessidade de exercício físico e
acompanhamento psicológico aliado a medicação para obtenção de
resultado positivo.
4. RESULTADO E DISCUSSÂO
A primeira proposição traz que o atendimento ao fibromiálgico dependerá dos
efeitos desse paciente sobre o estado de espírito do médico causando frustração,
sentimento de impotência gera, inclusive, indignação.
Sabe‐se que o paciente fibromiálgico possui alterações emocionais em função de
sua própria personalidade e/ou em função da dor sentida, por ser está até
incapacitante e prejudicando em muito todas as relações e a qualidade de vida.
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Neste ponto, cabe ao médico uma reflexão quanto ao que lhe incomoda no
atendimento ao fibromiálgico: é não estar preparado para lidar com a angústia do
paciente ou não estar preparado para lidar com a sua própria angústia?
A segunda proposição aborda que o paciente fibromiálgico sofre preconceito e
resistência médica em virtude de múltiplas pressões, tais como: idiossincrasias do
paciente, componentes sociais e a não adesão ao tratamento.
Se o residente sente‐se desgastado devido ao preconceito em relação a este tipo
de paciente, levando‐o a ter resistência no atendimento, sentindo‐se pressionado
em virtude das idiossincrasias do paciente e da dificuldade diagnóstica, talvez falte
por parte do profissional maior preparo para atender o sofrimento humano e dar
conta de suas próprias angústias e limitações de seu papel profissional.
Os componentes sociais e a não adesão ao tratamento que exigem do médico um
exaustivo exercício de perseverança, tornam‐se importantes em função do
despreparo em atender “os males humanos” e em ser continente, pois qualquer
doença é marcada por vários fatores (físicos, emocionais, sociais, familiares,
financeiros, etc), a fibromialgia não foge a esse contexto. Inclusive, enquanto
doença é marcada por sintomas emocionais e que estão intimamente ligados as
características da personalidade dos pacientes, sendo que a dor, que é tida como o
fator mais importante, e sofre influência direta do estado emocional do paciente,
afetando assim, corpo, mente e ambiente.
Cabe a formação de médico um modelo de “cuidador”, aquele que acolhe a “dor”.
A terceira proposição fala que o médico necessita de preparo emocional para
atender o fibromiálgico, são requisitos necessários : saber ouvir, ter paciência,
solidariedade, compaixão e compreensão da relação paciente‐doença, pois o
paciente possui, além do adoecimento físico, carência emocional.
Percebe‐se que o próprio residente aborda como um requisito necessário um
preparo, um apoio emocional para atender o sofrimento humano. Não são apenas
requisitos necessários, mas fazem parte do papel do médico saber ouvir, ter
paciência, solidariedade, compaixão e compreensão da relação paciente‐doença.
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Pensar sobre isto implica em dois pontos distintos, mas que convergem entre si:
(A) Se há necessidade de um maior preparo emocional por parte do médico para
atender ao fibromiálgico, isto implica que faltou ou não houve uma ação suficiente
no campo acadêmico para este aprendizado; (B) Se há necessidade de um maior
preparo emocional por parte do médico para atender ao fibromiálgico, e se ele
percebe isto, o que tem feito para resolver a questão?
Ponto de convergência: será que no âmbito acadêmico o estudante de medicina
foi ensinado a valorizar o aspecto emocional?
Provavelmente, não foi suficientemente orientado a fazer isto, por que, se assim
tivesse sido, não hesitaria em buscar ajuda para o seu próprio desenvolvimento. O
profissional da saúde faz terapia como um instrumento para aprimorar seu
desenvolvimento como cuidador?
Verifica‐se que apenas um residente que faz terapia.
O afastamento por parte do médico, de seu paciente, faz com que este se sinta
rejeitado. Normalmente, o fibromiálgico apresenta alterações emocionais, então, o
sentimento de rejeição fará com que ele se sinta pior e muito mais inseguro na
relação médico‐paciente, conseqüentemente cobrando maior apoio de seu médico.
Percebe‐se que há falta de escuta no atendimento ao fibromiálgico, pois a maior
preocupação do residente é que o diagnóstico é marcado pela falta de
comprovação laboratorial, ou seja, ouvir o que o paciente diz e aquilo que é
observado perde importância.
Este tipo de atendimento deveria iniciar‐se pela escuta, pois o fibromiálgico é
um paciente com dificuldades emocionais que permeiam o sentir a “dor” e cujo
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tratamento depende de múltiplos fatores. A comunicação entre médico‐paciente
quando deficitária interfere na adesão ao tratamento. Portanto, atitude de
acolhimento, conforto, compreensão e orientação podem funcionar positivamente
em relação a melhora do paciente.
A quinta proposição aborda que o próprio médico identifica como necessário o
apoio da psicologia para auxiliá‐lo na orientação, na explicação e na mudança de
atitude do paciente em relação à doença, pois o resultado do tratamento tem
eficiência na mudança de hábito e não na utilização da medicação. É um
tratamento que requer uma equipe multidisciplinar devido à complexidade de
fatores presentes no adoecimento. Sabe‐se da necessidade de exercício físico e
acompanhamento psicológico aliado a medicação para obtenção de resultado
positivo.
Sabe‐se que a satisfação, compreensão e adesão ao tratamento, por parte do
paciente, estão relacionadas ao fornecimento de informação pelo médico. Por isso,
a colocação do residente em relação a ter um apoio da psicologia para auxiliá‐lo
nos atendimentos quanto a orientação de forma mais adequada ao paciente, é
fundamental. Isto seria ideal não somente para os casos de fibromialgia, mas para
os atendimentos de um modo geral, pois todo o doente possui conflitos emocionais
pertinentes a condição de adoecimento, além de toda a estrutura de personalidade
que o permite enfrentar ou não um estado de doença.
Verificou‐se que uma disciplina da graduação em medicina trata da relação
médico‐paciente e do estudante, porém, vê‐se também, que as disciplinas ao longo
do curso não estão suficientemente integradas devido às departamentalizações
que impõe o sistema de ensino‐aprendizagem.
O resultado desta formação se verifica no pedido do residente, a área da
psicologia para de auxiliá‐lo a orientar e dar explicações ao paciente para que
ocorra uma mudança de atitude em relação à doença. Ou seja, o modelo de médico
hipocrático que é conhecedor da alma humana, está sendo deixado de lado na
formação do profissional.
Verifica‐se com as citações dos residentes que a atenção do médico está voltada
para cuidar do corpo, e quem cuida da mente é o psicólogo. Está visão bi‐partida,
pode fazer com que o médico valorize as doenças segundo seu grau de gravidade,
deixando por conta do paciente se resolver sozinho, com as doenças que inspiram
menos cuidado ou que envolvam mais os aspectos emocionais.
Pode‐se pensar no sistema de saúde como desestruturado, com baixa
remuneração e a falta de profissionais, porém nada disto, pode refletir como
inadequação na relação médico‐paciente. Todas essas ocorrências são
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Por mais que as diretrizes curriculares apontem para um ensino com dimensões
éticas e humanísticas com o intuito de desenvolver no aluno atitudes e valores
voltados para a cidadania, o que se percebe com as proposições citadas é que o
residente se formou em medicina, mas despreparado para atender “as mazelas
humanas”.
A fibromialgia é um tratamento que requer uma equipe multidisciplinar devido
à complexidade de fatores presentes no adoecimento. Sabe‐se da necessidade de
exercício físico e acompanhamento psicológico aliado a medicação para obtenção
da melhora. Desta forma, envolve‐se profissionais de outras áreas que em muito
podem contribuir com o paciente e, principalmente, com o desenvolvimento de
todos os profissionais, pois o maior aprendizado se estabelece por meio das
interações.
Recai sobre a disciplina de Psicologia Médica a adequação da formação do
profissional médico no estabelecimento das relações interpessoais. Talvez, caiba
aqui ampliar a visão não só da disciplina, mas da própria grade curricular em
desenvolver trabalhos com a equipe multidisciplinar, o que propiciaria realmente
um aprendizado a partir das vivências e experiências adquiridas com o paciente,
com os professores e com os outros profissionais, concebendo assim, o homem
com uma visão bio‐psico‐socio‐espiritual e a profissão como uma rede com
interfaces culturais.
a) Os médicos do Hospital A, falam mais em preconceitos, indisposição de
atendimento devido ao paciente poliqueixoso, dificuldade em relação aos
aspectos sociais, psicológicos, reumatológicos e múltiplos fatores que
interferem no tratamento. Abordam a necessidade de saber ouvir e ter
paciência. Solicitam mais preparo médico, pois vêem que o desgaste
emocional, a impotência e a responsabilidade sobre a cura afetam o
diretamente o médico. Dos seis (6) residentes entrevistados, dois (2)
pedem equipe multidisciplinar. Trazem mais seus sentimentos e a
percepção em relação ao doente.
b) Os médicos do hospital B, falam mais de exaustão e preconceitos do
atendimento pelo tipo de paciente poliqueixoso, o que faz com que o
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MAEDA, A. et al. (2007) A compreensão do residente médico, em reumatologia, no
atendimento aos fibromiálgicos. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A
Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
médico necessite de maior preparo. Resistência ao atendimento quando
aparece um ganho secundário com a doença. Dos dois (2) residentes
entrevistados, um deles, vê a necessidade de uma equipe
multidisciplinar. Trazem mais o que doente lhes causa, principalmente,
porque o ganho secundário mobiliza a indignação e a raiva.
c) Os médicos do Hospital C demonstram menor preocupação com a doença
por ela não ser grave, pois não compromete o organismo, vendo até
satisfatória a evolução na maioria dos casos. Acreditam que existe muito
diagnóstico inadequado pela falta de comprovação laboratorial e, que
fica tudo por conta da subjetividade da anamnese. Abordam que é
necessária empatia e demonstração de confiança, mas que conversar e
dar conta do emocional do paciente não faz parte do papel profissional
do médico. Acreditam que o atendimento causa indisposição por ser um
paciente poliqueixoso e que a sensação de desgaste pode ser diminuída
com a compreensão do paciente em relação a doença, por isso pensam
que buscar a Qualidade de Vida é mais importante que a cura, que só
usar medicação não funciona, por isso a equipe multidisciplinar é
importante. Dos sete (7) residentes, quatro (4) solicitam o
acompanhamento da equipe multidisciplinar. Vêem como sendo do
paciente, a maior responsabilidade no tratamento. Aqui os residentes
responsabilizam mais o paciente e colocam‐se a parte do processo.
Ao analisar‐se as Instituições em separado percebe‐se que há um padrão que
marca a fala dos residentes, um pensamento que orienta a conduta, a visão que se
tem do paciente. Os residentes vieram de Instituições de ensino diferente daquela
que fazem a residência, portanto, o fator graduação como direcionador da conduta
é apenas parcial, mas não menos importante. Por estarem cursando o segundo ano
de residência, já adquiriram uma noção do que é esperado deles no curso.
Pode‐se pensar que a Instituição na graduação tem um papel na formação do
estudante enquanto modelo e direcionador. Nesta fase se dá a relação ensino‐
aprendizagem, portanto, é aqui que se apreende o sentido de ser médico. Porém,
na residência, os estudantes, agora já profissionais e vindos de diferentes
Instituições, se percebem inseridos no contexto da especialidade escolhida.
Buscam então, formar uma opinião, obter uma visão, adquirir competência,
habilidade e atitudes que o reportam ao mercado de trabalho como um
profissional especializado na Instituição “X”.
5. CONCLUSÕES
A conclusão deste estudo traz que a compreensão do atendimento ao
fibromiálgico é um ato difícil e elaborado, em função dos múltiplos fatores
existentes, que dificultam o diagnóstico e o tratamento e que requer habilidades de
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MAEDA, A. et al. (2007) A compreensão do residente médico, em reumatologia, no
atendimento aos fibromiálgicos. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A
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escuta mais desenvolvidas do que se tem no momento, gerando frustração ao
residente.
Alguns pontos devem ser elucidados, entre eles, (a) é que a metodologia
qualitativa é pouco usada na área da saúde e, provavelmente isto ocorra em função
do profissional ser estimulado as pesquisas quantitativas, portanto, gerando
dificuldades na obtenção de referências bibliográficas e até de exposição e
aceitação da pesquisa qualitativa. (b) A resposta do doente à doença e ao
tratamento, a própria doença, dificuldade de diagnóstico e de tratamento; e à
disponibilidade de recursos humanos e materiais não foram citados pelos
residentes como agentes estressores. Não significa que não se tornarão
estressores, porém o que fica caracterizado é que atender o fibromiálgico é mais
frustrante do que estressante, pois atinge diretamente a conduta médica, por isso
até um dos mecanismos para evitar a angústia, é o distanciamento na relação
médico‐paciente, a negação da importância do indivíduo e da doença e a tentativa
de reduzir do peso da responsabilidade e o comprometimento com o doente e a
doença, transferindo para o paciente a “cura”.
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MAEDA, A. et al. (2007) A compreensão do residente médico, em reumatologia, no
atendimento aos fibromiálgicos. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A
Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
Talvez resida aqui um momento de reflexão em que responder a pergunta:‐ O
que é isto para você atender ao fibromiálgico? É lançar a proposta de mudança de
paradigma, pois fica claro que a compreensão do atendimento ao fibromiálgico
pelo residente é que o grau de dificuldade é grande frente ao despreparo sentido e
o que este atendimento gera desgaste e frustração.
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS
Falcão, Dircilene da Mota (2004). Terapia Cognitivo Comportamental para o
tratamento de paciente fibromiálgico: estudo controlado randomizado. Tese
de Mestrado em Medicina. São Paulo: UNIFESP.
Feijoo, Ana Maria L.C. (2000). A escuta e a fala em psicoterapia. São Paulo: Vetor.
Minayo, M. C. S. (2004). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde.
8.a. ed. São Paulo: Hucitec.
Rossi, Pedro Santo. (2004). O ensino da comunicação na graduação: uma
abordagem. Tese mestrado em Medicina. São Paulo: UNIFESP.
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