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ANO III
ÍNDICE
PáB.
L FILOSOFÍA E RELJGIAO
II. DOGMÁTICA
m. SAGRADA ESCRITURA
IV. MORAL
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO
I. FILOSOFÍA E RELIGIAO
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suas, «superstites erant», isto é, «constituiam o resto ou a sobra...».
E, como essas mulheres ídssem dadas a vas e aberrantes práticas de
piedade, a «superstigáo» veio a coincidir com a religiosidade pouco
esclarecida de pessoas simplonas ou tendentes á decrepitude : cf.
In Aeneid. Vin 183.
O escritor romano Varráo (t 27 a.C.) exprimía milito bem, na
sua linguagem politeista, o que significa essa religiosidade inferior,
quando afirmava que «o supersticioso é o homem que teme os deuses
como inimigos, ao paseo que o homem religioso os reverencia como
pais» (citado por S. Agostinho, De civ. Dei 6,9,2). Quintiliano
iti20 d. CJ, por sua vez, notava que «a supersticao difere da reli-
giáo como o homem que procura por curiosidade difere do homem
que procura por amor» (De inst. orat. VIII 3).
Em suma, vé-se que já entre os romanos pagaos a superstigáo
era tida como urna deterioragao ou contrafagáo da Religiáo. Ora
é com éste mesmo aspecto que cía se apresenta também entre os
cristáos.
Focalizemo-la tal como ela aparece nos países de civilizacáo crista.
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c) ou o demonio (os espirites maus) provocam os efeitos atri
buidos a tais e tais objetos ou acontecimentos.
Analisemos cada urna destas respostas de per si.
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O argumento dos otimistas se baseia no íato de que 13 é número
aíim a 4 (1 e 3 dáo 4) ; ora 4 é símbolo de próspera fortuna... Con-
seqüentemente, na India 13 é cifra religiosa muito apreciada: os
pagodes hindus apresen tam normalmente treze estatuas de Buda.
Na China, os disticos místicos dos templos sao encabezados nao raro
pelo número 13. Também os mexicanos primitivos consideravam o
número 13 como algo de santo ; adoravam, por exemplo, treze cabras
sagradas. — Passando asora de novo a ambientes de civilizagao crista
lembraremos que nos EE.UU. da América do Norte o número 13
goza de estima, porque treze eram os Estados que inicialmente cons-
tituiam a uniáo norte-americana; além disto, o lema da Uniáo
(«E pluribus unum») consta de treze letras; a águia norte-americana
está revestida de treze penas em cada asa ; Jorge Washington has-
teou o estandarte republicano com urna salva de treze tiros. Mesmo
em outros países da América e na Europa o n« 13 pode figurar em
medalhas e bibelós como símbolo portador de felicidade; por vézes
as loterías afixam o cartaz : «Hoje sexta-feira 13, dia de boa sorte...»
Os exemplas ácima dáo claramente a ver quanto a associacáo dos
conceitos de sorte e azar com a idéia de 13 é arbitraria. Ninguém,
portanto, se deixará abalar pelos prognósticos espalhados «em nome
do número 13»...
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Donde se concluí que os fiéis háo de ser muito cautelosos
ao admitir pretensas revelacóes divinas feitas a tal ou tal santo
a respeito da eficacia de determinada oracáo ou de determi
nado objeto. Na maioria dos casos em que se apregoam fór
mulas «garantidas» ou «reveladas» pelo Céu, nao há senáo
ilusáo humana e vá superstigáo.
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rado ao pescogo de alguém. Ademáis, quando a Providencia
permite ao demonio tentar o homem, Ela sempre dispensa a
graga correspondente para que éste nao sucumba á maior
ou á única desgraca que é o pecado; Deus nunca poe a cria
tura em situagáo desesperadora, a bracos com fórcas inven-
cíveis que necessária e mecánicamente acarretem o mal para
o homem.
2. A verdadera explicacáo
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5. «O trcvo de quatro fólhas, portador do fclicidade...».
No Piemonte, na Suiga e na Franca acredita-se que guem en-
contra tal portento, pode estar seguro de que será feliz por
toda a vida. E por que? — Porque o trevo de quatro fólhas é
coisa rara, como a felicidade é rara... A guisa de comentario,
seja licito repetir: analogía meramente extrínseca nao implica
nexo intrínseco ; a associagáo de conceitos no caso obedece
a urna intuigáo infra-racional; o homem, porém, tem que
viver como ser racional.
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um beneficio corpóreo. Tal «estimulo-sinal» terá produzido
verdadeira reacáo biológica favorável á cura, por causa da
confianza e da convicgáo do paciente; será oportuno até para
recolocar em atividade um órgáo parausado do organismo do
paciente.
Estas reagóes, ditas «reflexos condicionados», elucidam
a eficacia atribuida a certos processos da «medicina» supers
ticiosa : trata-se de agentes inocuos em si, mas transforma
dos em fatóres benéficos por causa da convicgáo que o pa
ciente, após haver sido (consciente ou inconscientemente) dou-
trinado, nutre a respeito de sua «eficacia».
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tro de sinais que éles indevidamente julgam reveladores de um plano
superior ou divino (julgando assim, desembaracam-se da responsa-
bilidade de suas atitudes). Precario paliativo, que tende a levar ao
fatalismo! O supersticioso se assemelha ao doente desesperado, que
costuma acreditar em todos os remedios e receitas que lhe recomen-
dam, sem reíletir muito, impress'ionado, de um lado, pelo seu esgota-
mento e, de outro lado, pela aparente autoridade de quem fala.
Sobre estes aspectos negativos da supersticáo, veja-se «P. R.>
8/1958, qu. 8.
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II. DOGMÁTICA
1. Origem e atríbuicoes
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Quanto as atribuigóes das diaconisas, definiam-se geral-
mente pelo exercício da caridade junto as mulheres da comuni-
dade paroquial ou diocesana; assim :
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por isto, inscritas no fim do catálogo que compreendia os mem-
bros do clero.
3. Dcclínio e extincao
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em vista das modificac.6es por que ia passando a administragáo
dos sacramentos, fizeram-se ouvir vozes desfavoráveis á exis
tencia das diaconisas.
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Urna das primeiras conseqüéndas da Reforma protestante
foi a supressáo dos conventos e mosteiros nos países «refor
mados». Tal medida, porém, equivalía á extingáo das casas de
caridade, pois as comunidades religiosas eram, sem dúvida,
poderosos focos de beneficencia pública. Fizeram-se entáo
sentir ñas nagóes protestantes a necessidade e o desejo de
preencher tal lacuna. O horror, porém, do «monaquisino» e o
receio de o restaurar foram durante muito tempo obstáculo a
que se procurasse remedio para a situagáo. Contudo, na pri-
meira metade do séc. XIX (período em que os historiadores
do Protestantismo assinalam um despertar religioso), entra-
ram no cenário da historia homens decididos a agir; traba-
Iharam ao mesmo tempo, mas independentemente, os pastó-
res Teodoro Fliedner, de Kaiserswerth (perto de Dusseldorf),
Haerter de Estrasburgo e Vermeil de París.
Principalmente os esforcos de Fliedner foram coroados
de éxito: em 1833 conseguiu reunir em Kaiserswerth urna
pequeña comunidade de mulheres piedosas, que se deviam
dedicar aos doentes pobres, mas que em breve tiveram que
se consagrar também á instrugáo popular. A essas irmas
Fliedner dava o nome de «diaconisas», querendo com isto evo
car os primordios da Igreja e as generosas mulheres que os
abrilhantaram (Febe, Priscila, Perside, Trifema, Trifosa, Evó-
dia...) e que Sao Paulo designa como colaboradoras suas.
Qual seria o Estatuto observado por essas diaconisas
modernas ?
A Instituigáo nao admite senáo viúvas e donzelas nao
casadas, que tenham mais de 18 e menos de 40 anos de
idade. Sao primeiramente sujeitas a um ano de experiencia
e a alguns anos de provagáo. Caso perseverem, emitem a
«promessa de diaconisas», que tem por objeto «obediencia,
boa vontade e fidelidade na fungáo diaconal» ; tal ato é acom-
panhado de béngáo solene com imposigáo das máos de um
ministro ou da Superiora. Nao é lícito as diaconisas casar-se;
por sua promessa, porém, elas nao se obrigam para sempre,
mas apenas «pelo espago de tempo em que o Senhor as deixar
na sua vocagáo». Podem por termo aos votos contraindo ma
trimonio ; neste caso deixam o Instituto. Conservam a admi-
nistracáo de seu patrimonio financeiro pessoal; além do que,
recebem módico salario cotidiano.
O horario das diaconisas lhes prescreve varios atos de
oragáo comunitaria ; o pastor Fliedner compós, para éste fim,
instrugóes e textos de leitura inspirados ñas antigás obras de
ascética, liturgia e hagiografía da Sta. Igreja ; sao recomen
dadas as írmás a confissáo e a absolvigao públicas das faltas.
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Principalmente ñas regióes anglicanas (que sao as mais con
servadoras), o Instituto das diaconisas tomou feicáo muito
semelhante á das Congregagóes Religiosas católicas, de tal
modo que aos 23 de agosto de 1871 o bispo Stanley, refe-
rindo-se as «Irmas da Misericordia», dizia que o seu Instituto
era «muito útil ñas escolas, sim, mas perigoso por sua orga-
nizacáo e demasiado semelhante as Ordens Religiosas ro
manas».
A. R. C. (Manaus) :
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duas questóes formuladas no cabegalho déste artigo.
Eis, porém, que exegetas contemporáneos (católicos e nao
católicos) julgam dever dar nova interpretagáo as passagens
citadas, nova interpretagáo que revolve por completo toda a
problemática referente aos dois mencionados personagens.
Vejamos, pois, como raciocinam tais comentadores.
Comegaremos pelo que diz respeito a
1) ELIAS. Eis o texto a ser considerado:
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nifestagóes de Javé na historia sagrada: o fogo e o vento forte
denotam, sem dúvida, a presenga de Javé em Éx 3,2; 24,17;
Jz 13,20 ; Is 30, 27; Ez l,4s ; Dan 7,9s ; o carro de fogo, por
tante, em 4 Rs 2,11 nao parece significar senáo a fórca divina
que atraiu Elias. E para que o terá atraído ? — Provávelmente
para um coloquio místico em lugar retirado ou elevado acimá
da térra, coloquio semelhante aos que se deram na vida dos
grandes profetas de Israel, seja no monte Sinai (com Moisés,
cf. Éx 3; 19; com Elias, cf. 3 Rs 19), seja no templo de
Jerusalém (com Isaías, em Is 6), seja no santuario de Betel
(com Amos, em Am 9,1). Terminado o éxtase de Elias (que
Eliseu, especialmente agraciado por Deus, pode contemplar),
aquele profeta terá voltado ao seu estado normal, vindo a
morrer pouco depois disso .. .A morte de Elias parece insinua
da aos mencionados exegetas modernos pelo fato de que Elias
rasgou suas vestes e recolheu o manto de Elias, ao verificar o
desaparecimento definitivo do mestre. (cf. 4 Rs 2,12s). — O
Padre Spadafora faz observar que o verbo hebraico laqah,
tomar, arrebatar, o qual domina a narrativa de 4 Rs 2,3-13,
designa «a intervengáo de Deus na morte serena do justo» em
textos como SI 48,16; Is 53,8 e até mesmo Gen 5,24 (episodio
de Henoque); cf. o artigo Elia, em «Enciclopedia Cattolica» V.
Roma 1950, 233. — Observam outrossim os comentadores que o
trecho de 4 Rs 2 de modo nenhum nos diz que Elias nao mor-
reu; verdade é que a lacónica e misteriosa construcáo de frases
dessa passagem era apta a sugerir aos leitores tal conclusáo
(como, alias, se depreende de passagens biblicas posterior
mente redigidas, como Mal 3,23s [Vg 4,5s] ; Eclo 48,10 ;
lMac2, 58).
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nhar com Deus» táo característico de Henoque, assim como
pela cifra de 365 anos, que assemelha a vida déste justo a
passagem de um sol sobre a térra.
2. Onde estaráo. .. ?
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penitencia Xdai as numerosas alusOes á vinda de Elias nos SS. Evan-
gelhos; cí. Mt 17,10s; 11,14; 27,47.49; Le 1,17; Jo 1,21.25).
O companheixo de Elias no desempenho da tarefa de preparar
(mediatamente a vinda do Messias seria, conforme algumas escolas
rabinicas, Moisés. Éste nao teria morrido (embora a S. Escritura
mencione claramente o seu desenlace em Dt 34,5) ; estaría atual-
mente vivendo junto de Deus, prestes a voltar ao mundo na era
messiánica ! Todavía, ao lado de afirmaedes déste género, nao se
lé, ñas tradicSes rabfnicas, indicacao precisa sobre o lugar onde
possam estar os corpos de Elias, Moisés, Henoque, etc.; apenas al-
guns mestres ousavam afirmar que ésses justos se achavam no
paraíso terrestre (de Adáo e Eva) transferido pelo Senhor Deus
para fora déste mundo.
A tradicáo crista nao se mostrou mais segura sobre ésses
assuntos.
Ao passo que o texto hebraico de 4 Rs 2,11 diz simplesmente que
Elias subiu aos céus, os tradutores gregos désse texto, na edicáo
dos LXX, escreveram «hoos eis ton ouranon» (como que para os
céus) ; por sua vez, os primeiros tradutores latinos puseram «quasl
in caelum» (como que...).
Na Idade Media, Sao Tomaz, retomando a opiniáo de antigos
escritores cristáos (como Tertuliano, S. Ireneu e outros), propunha
o paraíso terrestre, transferido para longe déste mundo, qual man-
sáo dos corpos de Elias e Henoque:
«Elias foi arrebatado para o céu aéreo, nao, porém, para o céu
empírio (de íogo), que é a mansáo dos santos. De modo semelhante,
foi Henoque arrebatado ao paraíso terrestre, onde se eré que ele
vivera com Ellas até a vinda do Anticristo» (Suma Teológica III
49, 5 ad 2).
Nesse texto, «céu aéreo» significa o paraíso de Adáo e Eva se-
qüestrado pelo Senhor Deus para um lugar qualquer da atmosfera
terrestre, ao passo que o «céu empírio ou de fogo» designaría (con
forme, alias, o modo de pensar comum dos medievais) o lugar reful
gente (nao quente, porém) onde os justos sao premiados para todo
o sempre.
Nao se deve atribuir autoridade decisiva á opiniáo abracada por
Sao Tomaz, no caso; ela versa sobre um assunto em que nao se
podem propor senáo conjeturas. A existencia do paraíso terrestre
transferido para longe desta Térra, como, alias, t6da a geografía do
Além que é explanada na literatura exegética medieval, exprimem
pressupostos e teses dos antigos que hoje em dia estáo abandonados
pelos teólogos.
3. Voltarao a Térra ?
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seu tributo á morte, para depois serem ressuscitados e reinarem
na gloria dos justos.
Quais os fundamentos dessa crenca ?
a) No tocante a Elias, a tradicáo judaica pré-cristá admitía
que Elias voltaria como Precursor do Messias. O texto do
profeta Malaquias (3,23s; Vg 4,5s), dava expressáo a essa
expectativa judaica. Contudo o Senhor Jesús explicou qual o
sentido da apregoada yolta de Elias á Térra: as qualidades de
ánimo do profeta — zélo pela causa de Deus, destemida exor-
tagáo á penitencia — deveriam manifestar-se na pessoa de
Joáo Batista, o ¡mediato Precursor do Salvador; de fato, o Ba
tista, pregando enérgicamente no limiar da era crista, realizou
tarefa paralela á de Elias no séc. IX a. C. Por isto também
Cristo houve por bem por o ponto final á expectativa judaica
asseverando, com explícita referencia a Sao Joáo Batista qué
Elias já veio; cf. Mt 17,10.12s.
b) Entre os cristáos, apesar das palavras de Cristo, persis-
üu a crenca na volta de Elias, alimentada, em parte, por famoso
texto do Apocalipse (11,1-13), ao qual voltaremos agora nossa
atencáo:
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Como se vé, o autor sagrado, ao descrever uma cena que
alguns comentadores (erradamente) julgam ser a do fím do
mundo, afirma que
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A duracáo désse pronunciamento é de 1260 dias o que vem
a ser: 42 meses ou 3 1/2 anos, isto é, a metade de 7 anos. Visto que
7 exprimirla, segundo a mentalidade antiga, plenitude e consumacáo,
3 1/2 designa, no nosso caso, justamente urna época de demanda da
plenitude. Tal é, sem dúvida, o período de combate contra o erro em
prol da verdade, que caracteriza a historia da Igreja entre a priméira
e a segunda vinda de Cristo. — É, pois, durante 1260 dias, isto é, du
rante toda a sua historia, que a Igreja (representada pelas duas
testemunhas) apregoa o Evangelho neste mundo. E é durante tres
dias e meio, isto é, em segmentos de sua historia, que a Igreja su
cumbe aqui e ali aos golpes do Adversario, em virtude de persegui-
c6es, heresias ou cismas nesta ou naquela regiáo. A voz da Igreja,
porém, será finalmente vitoriosa.
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historiadores cristáos: há quem diga que a eílgie resulta do ato ple-
doso da mulher ácima referida, como há quem recorra a explicares
independentes dessa, como abaixo veremos. Tomado na accepcao de
«Imagen», o apelativo latino «Verónica* proviria, conforme alguns
filólogos, do dístico greco-latino «Vera Eicon» (= Verdadeira Ima-
gem, a saber, de Cristo), distico certa vez colocado junto á imagem
exposta á veneracáo dos fiéis.
O fato é que o nome de «Verónica» vem a ser hoje em dia ponto
de cristalizacáo para o qual através dos séculos confíuem varias tra-
dicCes populares, geralmente inspiradas pela piedade simples, pouco
ou nada critica, num intervalo que vai do séc. IV até o séc. XVL
Procuremos discernir através da historia a evolucáo das idéias
concernentes & «Verónica».
1. A Verónica no Oriente
— 113 —
acordó com o seu bom senso. Um dos tragos do episodio, por
exemplo, que nao agradou as geragóes posteriores, foi a supo-
sifiáo de que Jesús se tenha postado perante a tela do pintor
Ananias ; isto parecía pouco reverente, quase escandaloso...;
em conseqüéncia, S. Joáo Damasceno (f 749), Hamartolo
(séc. IX), Nicéforo Calisto (séc. XIV) referem que Ananias
tentou, sim, reproduzir com o pincel os tragos de Cristo, mas
nao o pode, pois foi ofuscado pelo fulgor do semblante de
Jesús; outros escritores, como Cedreno, Xavier, dizem que
Ananias, após haver tragado as primeiras linhas, as comparou
repetidamente com as do Modelo e verificou que estas haviam
mudado... Entáo, continuam os comentadores orientáis, Jesús,
que causara tal embarago ao pintor, houve por bem auxiliá-lo:
tomou a tela, dizem uns, aplicou-a ao próprio rosto e nela
deixou gravado o seu Divino semblante ; outros relatam que
Jesús pediu agua, lavou o rosto, enxugou-o com a tela do
pintor ou até com urna toalha comum, nela imprimindo seus
tragos.
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Edessa. Interessa-nos aqui apenas o seguinte : alguns escrito
res orientáis asseyeraram que Jesús havia enviado sua sagrada
efigie nao ao rei de Edessa, mas a urna princesa chamada
Berenice (ou Verónica) ; essa princesa, por sua vez, foi sendo
identificada com a mulher que o Salvador curou do fluxo de
sangue, conforme Mt 9,20-22, pois desde o séc. IV no Oriente
a esta mulher se deu o nome de Berenice ou Verónica.
Assim é que no Oriente «imagem aquirópita milagrosa»
e «Berenice ou Verónica» foram associadas numa só narrativa.
2. .. .No Ocidente
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haveria permanecido na Cidade Eterna convivendo com os
Apostólos Sao Pedro e Sao Paulo ; ao morrer, teria deixado
a sagrada tela ao Pontífice Sao Clemente de Roma.
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Ü6ní?ÍLhaveria aJudad° eficientemente a evangelizagáo do territorio
de Médoc; apontava-se o seu túmulo na diocese de Bordéus, em
oOUlctC
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padecente, e independentemente das origens do véu a éles apre-
sentado, se devem excitar a um amor mais ardente para com
o Salvador e sua obra de imensa misericordia. Nao se faga,
portanto, do «véu da Verónica» um documento de historia, pois
tal nao é a intencáo da Santa Igreja; colham-se antes, e apenas,
os frutos sobrenaturais que a Esposa de Cristo quer comunicar
mediante tal devogáo.
IV. MORAL
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Com efeito, todo individuo está psicológicamente predis-
posto a atribuir antoridade a um antor de livro;... autoridade,
isto é, capacidade para ensinar ou dirigir. Nao é vá a assonán-
cia que une os termos «autor» (= escritor) e «autoridaae»
(= poder maior para orientar); o fato de que alguém se torne
autor de livro parece conferir a ésse escritor soberanía e pres
tigio para insinuar atitudes e incutir doutrinas. É táo espon
tánea á natureza a tendencia a argumentar a partir do que
dizem os autores !
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Note-se, porém, que essas grandes sínteses doutrinárias
nao costumam ser de fácil acesso ao público; parecem enfado-
nhas ou obscuras a grande massa; por isto na vida cotidiana
nao constituem o tipo de leitura que mais prejudica o público.
Há outra modalidade de livros que, na realidade, maiores males
produzem; sao os chamados «romances ideológicos» ou «ro
mances de tese», aos quais vamos aqui dedicar breve reflexáo.
O romance ideológico se caracteriza por apresentar uma
doutrina, nao, porém, de forma abstraía, mas bem concretizada
num caso insinuante, que, sensível ou insensivelmente, tende
a se impor como modelo ao leitor. A Psicología ensina que toda
idéia humana é sempre acompanhada de uma imagem mental;
nao há idéia dissociada da respectiva figura concreta que a
excita e sustenta diante da inteligencia humana (basta lembrar,
por éxemplo, a origem do alfabeto : os sinais que hoje indicam
sons universais — A, B, C... — a principio indicavam os obje
tos concretos que, na mente dos homens, excitavam a reminis
cencia de tais sons). Pois bem; o romance ideológico atende
de maneira particular a ésse processo do conhecimento huma
no : descreve episodios e reproduz diálogos empolgantes, que
entram pela alma do leitor, apoderando-se de todas as suas
facuidades, despertando profundas ressonáncias; essas cenas
excitam naturalmente no leitor o senso de imitagáo, o desejo
sensacionalista (ora mais, ora menos consciente) de reviver a
aventura do herói da pega. É por isto que a literatura de ficcáo
inspirada por um fundo doutrinário se torna, junto ao grande
público, muito mais influente do que os volumes de filosofía
especulativa; estes, para ser assimilados, exigem mais esfórgo
do que os romances de tese; tem-se dito mesmo que o poder
sugestivo do romance é comparável ao de um hipnotizador; o
mau romance pode ser assemelhado também a uma toxina ou
a um cáncer que vai minando a estrutura intelectual e moral
do leitor.
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mórbido que vamos lendo; recalcaremos assim a fórca sugestiva do
mal, mas nem por isto a teremos debelado por completo. Como ja
dizia Voltaire, alguma coisa da mentira ou do erro sempre fica... O
que lemos passa a fazer parte do nosso psiquismo, desee á subcons
ciencia e mais tardé dai subirá como estimulo ao mal, como tentacáo
perigosa ; é um soldado inimigo que se introduziu na praca forte...>
(paráfrase do texto de L. Franca, A formacáo da personalidade 376).
3. Os ditames da Igreja
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sem dúvida, que nao é licito a qualquer homem ler qualquer
livro; a Santa Igreja, porém, frisa bem que tal restricáo,
antes de ser imposta por alguma lei eclesiástica, já é ditada
pela própria lei natural. Sim; se a palavra é o alimento da
alma, a palavra do erro ou da maldade é alimento venenoso
para a alma ; ora, assim como no plano corpóreo a lei natural,
anteriormente a qualquer norma do médico, veda ao individuo
tomar veneno conscientemente, assim também no plano espi
ritual a lei natural proibe a comunháo com a palavra vene
nosa ou com a má leitura. E ninguém, ao ingerir veneno,
alegue ter saúde bastante forte para se imunizar contra todo
e qualquer efeito do tóxico... A alegacáo seria tida como te
meraria e inconsistente.
Por conseguinte, na materia de que vimos tratando, a
fungáo da Santa Igreja consiste em lembrar a injungáo da
natureza e em explicitá-la, a fim de garantir os frutos da
mesma. A Igreja é Máe a quem o Senhor confiou a palavra
da Vida ou o depósito da Verdade para ser transmitido aos
homens. Consciente disto, a Esposa de Cristo julgou, e julga
sabiamente, ser sua missáo ir indicando e vedando aos seus
fílhos no decorrer dos sáculos os livros nocivos á vida da alma;
nao há pai nem máe que nao detenham seus filhos de brincar
com o fogo ou de manusear urna arma perigosa. Como se com-
preende, as leis da Igreja, neste setor, tém que ser universais,
abrangendo os fiéis de toda e qualquer carnada social; váo
seria legislar apenas para os fiéis que «nao tenham ma-
turidade de pensamento ou formacáo sólida», pois a fraqueza
humana é inerente aos próprios santos e doutos até o fim
desta vida.
— 122 —
Sem dúvida, a Santa Igreja, ao explicitar o direito na
tural referente á leitura de livros, nao quer de modo algum
entravar o progresso da ciencia. Por isto os fiéis que real
mente necessitam de ler obras erróneas para poderem pro
pugnar a verdade ou o bem com maior conhecimento de causa,
estáo habilitados a fazer nesse sentido um requerimento á
autoridade eclesiástica, a qual lhes concederá tudo que fór
oportuno (para encaminhar devidamente tal peticáo, é conve
niente que se dirijam ao respectivo pároco ou confessor).
— 123 —
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO
— 124 —
saremos, a seguir, á consideragáo das principáis etapas históricas que
lne imprimiram sua configuracáo moderna.
1. A espiritualidade da clausura
— 125 —
em dependencias especiáis situadas junto á porta do cenobio. Mais
tarde, Sao Bento (t 543) prescrevia a seus monges, procurassem «tor-
nar-se alheios aos costumes do sáculo» ; em vista disto, quería que
os Religiosos saissem o mínimo possivel da casa de Deus e que quem
saisse, se abstivesse de narrar aos Irmáos as novidades de que tivera
noticia no mundo.
Nao podiam deixar de influir nessa espiritualidade algumas im-
pressionantes cenas bíblicas. Foi, sim, no coragáo do deserto que Deus
se manifestou a Moisés por meio da sarca ardente (cf. Éx 3,2); foi
no deserto que Elias percebeu a brisa pela qual o Senhor assinalava
a sua presenca (cf. 3 Rs 19,12s) ; foi também no érmo que Sao Joáo
Batista ouviu a palavra de Deus e comecou a pregar penitencia
(cf. Le 3,2).
— 126 —
habitualmente nesse cubículo nao sómente para se preservar
do espirito do mundo, mas também para fazer penitencia.
— 127 —
da qual habitavam (eram chamados «dendritas»). O povo cristao
oriental sempre dedicou grande veneragSo aos santos estilitas.
Por muito estranha á mentalidade moderna que sela a historia
de S. Simeáo, os críticos, examinando as respectivas fóntes, tém a
narrativa como fidedigna.
— 128 —
plícita autorizagáo. Caso fosse absolutamente necessário que
urna Abadessa saísse para prestar homenagem ao respectivo
senhor feudal, ela o poderia fazer, acompanhada de comitiva
adequada e á condigáo de voltar quanto antes ; de resto, o
Papa Bonifacio Vin rogava a principes e senhores feudais
que se contentassem com urna homenagem prestada por
procuragáo.
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qüentes nao satisfizeram a tais normas, nem sequer foram
enumeradas, por alguns canonistas, na categoría de Religiosas
(em sentido jurídico), mas foram tidas apenas como «piae
mulieres» (piedosas mulheres).
No séc. XVIII, porém, as exigencias do apostolado obri-
garam á revisáo de táo rígidas normas : foram, já sem difi-
culdade, aprovadas pela Santa Sé familias religiosas cujos
membros só emitiam votos simples e nao ficavam sujeitos á
clausura papal, mas a um tipo mais suave de clausura, dita
«episcopal» ; as pessoas que professassem em tais condigóes
seriam doravante tidas como verdadeiras Religiosas no sen
tido jurídico (o que representava certa inovacáo no Diveito
Canónico) ; sao hoje em dia muito numerosas e constituem
as chamadas «Congregares Religiosas», jurídicamente bem
distintas das «Ordens Religiosas», que costumam emitir votos
solenes e geralmente sao anteriores ao séc. XVI.
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Igreja, é que ésse ambiente, munido de grades e cortinas como
ele é, ocasionou clima muito propicio ao desenvolvimento de
urna espiritualidade própria e intensa ; valores religiosos alta
mente apreciáveis encontram dentro da clausura estrita o seu
estimulante especial, estimulante que de outro modo éles cer-
tamente nao teriam.
A Santa Igreja nao quer que tal espiritualidade se perca;
por isto é que Ela ainda hoje conserva á instituigáo da clau-
sura^ .até mesmó com seu aparato histórico. É verdade que a
Esposa de Cristo nao faz questáo de que os cenobios désse
tipo se multipliquen! indefinidamente ; 'se as circunstancias
de saúde debilitada e de educafiáo moderna levam as" almas
em nossos dias a procurar outro.tipo dé vida religiosa menos
fechada ou mais dada ao apostolado externo, a Santa Igreja
lhes oferece longa escala de modalidades de vida conventual;
ninguém, para se consagrar a Deus, é obrigado a entrar em
clausura papal. Nao obstante, segundo a mente da Santa
Igreja, esta continua a constituir o clima mais oportuno ou
o clima por excelencia para o cultivo de determinada flor de
espiritualidade... Felizes as almas a quem o Senhor chama
para professarem tal tipo de vida !
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aos 14 de outubro de 1951 e aqui transcrito da «Revista Eclesiástica
Brasileira» 11 [1951] 967).
A guisa de ilustracao, note-se: Mary Ward (t 1645) quis fundar
sob o patrocinio da Bem-aventurada Virgem Maria urna Congregacáo
de Religiosas que nao estivessem sujeitas as leis da clausura. A Santa
Sé deu-lhe a saber que o Concilio de Trento nao reconhecera Religio
sas sem clausura.
D. ESTÉVAO BETTENCOURT O. S. B.
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