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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriarñ)
APRESENTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
'.■" visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.
A d. Estévao Bettencourt agradecemos a confiaca
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
■.•ÍÜ--ÍK1S.

i
i
índice
pig.

RAULO VI, O PAPA DO DIÁLOGO 361

Matar um inocente ?
O ABORTO DIANTE DA LEÍ NO BRASIL 363

Um llvro candente:
"PECADO : O QUE É ?" 373

Em Puebla, no México:
E A III CONFERENCIA DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO? .. k389

No cinema:
"CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU" 399

LIVRO EM ESTANTE 3? capa

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

NO PRÓXIMO NÚMERO :

Dobé-proveta e Engenharia genética. — Existe no ser humano alma


espiritual ? — E a riqueza do Vaticano ?

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

Assinatura anual Cr$ 100,00

Número avu'so de qualquer mes Cr$ 10,00

BEDAQAO DE PB ADMINISTRAQAO
n t— ¥>«„*<.! ocee LIvraria Misslonárla Editora
Caira Postal 2.666 Rua Mé¡dcOi le8.B (Caatelo)
ZCMM) 20.031 Rio de Janeiro (BJ)
20.000 Rio de Janeiro (BJ) Tel. : 224-0059
PAULO VI, O PAPÁ DO DIÁLOGO
Aos 6 de agosto pp., o mundo católico (e grande parte
do nao católico) foi impressionado pela noticia do faleci-
mento do Papa Paulo VI. Fora chamado a Casa do Pai para
receber o galardáo de urna vida cheia de labutas e méritos.

Nao é fácil exprimir em poucas palavras os tragos no-


bres e grandiosos da figura de tal Pontífice. Como quer que
seja, tentaremos caracterizá-lo como «o Papa do diálogo».

Com efeito. Já na sua primeira encíclica («Ecclesiam


suam») datada de 6 de agosto de 1964 Paulo VI utilizava a
palavra diálogo, introduzindo esse vocábulo na linguagem
oficial da Igreja. Apresentava o diálogo como iniciativa do
próprio Deus em relagáo aos homens,... iniciativa que os
homens deveriam continuar uns com os outros:

"Eis, Venerávels Irmfios, a orlgem transcendente do diálogo. Está no


piano de Deus... A revelapSo sobrenatural que Deus tomou a Iniciativa de
renovar com a humanldade, podemos imaginá-la como diálogo... Esse
coloquio paternal e santo, interrumpido entre Deus e o homem pelo pecado
original, é maravilhosamente reatado no decurso dos tempos. lA historia da
salvado narra esse diálogo longo e variado... no qual Deus dá a entender
alguma colsa mals de SI... e diz em resumo como quer ser conhecldo
— Ele é Amor — e como quer ser honrado e servido por nos — amor ó
o mandamento supremo que nos Irnpde. O diálogo torna-se pleno e con
fiante ; é convite para a crianza, é consumagfio para o místico" {"Ecclesiam
suam" n? 72). ,

Consciente de que dialogar é algo de divino ou, no caso,


é a atitude do Bom Pastor, Paulo VI quis empreender o
diálogo com todos os homens dentro e fora da Igreja. Como
nenhum outro Pontífice, usando dos modernos meios de comu-
nicasáo social, viajou pelo mundo a fim de se encontrar com
os homens, ouvindo-os e falando-lhes: chegou até as Filipinas
e a Australia; esteve em Nova Iorque, onde se dirigiu a As-
sembléia Geral das Nagóes Unidas, num apelo á fraternidade
e á paz; foi a Istambul e Jerusalém, onde abragou repetida
mente o Patriarca Atenágoras, representante dos cristáos
ortodoxos; visitou Genebra para estar com os membros da
Organizacáo Internacional do Trabalho e com os do Conse-
lho Mundial das Igrejas; veio a Colombia por- ocasiáo do
39» Congresso Eucarístico Internacional, após ter estado,
como Cardeal, no Brasil... Manteve intercambio com os
dirigentes do mundo socialista, a fim de obter mais liberdade
para os fiéis católicos sufocados por regimes ateus...

— 361 —
Paulo VI sofreu nao pouco por manter esse diálogo;
nem todos compreendiam, no momento, o alcance das suas
intengóes. Os extremamente conservadores o tinham por libe
ral, enquanto os avangados o consideravam tímido. Princi
palmente as intervengóes no setor da ética sexual lhe foram
ocasióes de Intenso sofrimento por parte de uma sociedade
já embotada para valores inerentes á dignidade humana. Na
verdade, a tarefa de Paulo VI era excepcionalmente ardua,
dadas as circunstancias de transigáo em que governou a
Igreja. Ele só a pode levar a bom termo porque encontrou
na oragáo o esteio da sua vida; sim, além de hábil e ver
sado no trato com os homens, o S. Padre Paulo VI era
homem de grande vida interior e de profunda uniáo com
Deus, como atestam as suas alocugóes aos peregrinos proferi
das as quartas-feiras e aos domingos; alias, a última destas
voltava-se com especial carinho para os famintos, os deso
cupados, os que sofrem... fazendo eco aos seus documentos
referentes á questáo social e as relagóes entre os povos.

As exequias do Papa, celebradas com grande dignidade


aos 12/08 em presenga de numerosas delegagóes estrangei-
ras, deram ocasiáo a que o mundo prestasse a Paulo VI a
última homenagem... homenagem de estima e admiragáo,
expressas por palmas sucessivas, nao previstas pelo cerimo-
nial. O fiel servidor que perseverou e padeceu heroicamente
até o fim, recebeu a merecida consagragáo!

Eis, pois, um dos aspectos mais importantes do legado


de Paulo VI á Igreja e á humanidade: a prática do diálogo.
Nesta época em que a inteligencia vai caindo em descrédito
ou em crise (pois os homens tendem a relativizar os valores
mais fundamentáis), o diálogo se apresenta como uma expres-
sáo das inteligencia e da magnanimidade dos homens esclare
cidos. Só nao dialoga quem nao quer raciocinar ou quem
se obceca. Na falta de diálogo, a violencia e o totalitarismo
tendem a reger as relagóes entre os homens; multiplicam-se
as atitudes meramente emotivas ou mesmo irracionais.

Possa a humanidade guardar e cultivar fielmente essa


nobre ligáo de Paulo VI! E que o Espirito de Deus inspire
seu digno sucessor, a fim de que continué a guiar a S. Igreja
e os homens todos pelas vias da fraternidade e da concordia
em demanda do Absoluto!
E.B.

— 362 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS*
Ano XIX — N' 225 — Setembro de 1978

Matar um ¡nocente ?

o aborto (liante da lei no brasil


Em sfntese: O presente artigo, da autoría do Prof. Newton Paulo
Telxeira dos Santos, aborda o tema "aborto" principalmente sob o aspecto
jurídico. Após propor a deflnfcáo de aborto, mostra que o Código Penal
Brasllelro o considera legitimo quando terapéutico ou quando sentimental
(moral); o Código, porém, data de 1940; desde entSo a medicina adqulrlu
recursos para levar adlante a gravidez de urna mulher enferma sem Ihe extralr
o feto a titulo terapéutico, de modo que a desIgnacSo "aborto terapéutico"
está ultrapassada. Quanto ao aborto sentimental ou moral (aborto realizado
em conseqüéncia de estupro), o Código Penal promulgado em 1973, mas
nunca posto em vigor, já nao o reconhece como legitimo. Note-se aínda
que o Código de 1S40 aínda está vigente, embora em 1969 e em 1973
tenham sido promulgados novos textos que o alteravam, mas que nunca
prevaleceram, por motivos políticos.

Aguarda-se nova atitude de nossos legisladores frente ao problema do


aborto. A permisslvldade suplantará a sensatez? — Formulando votos para
que o contrario se dé, o autor encerra o seu artigo.

O autor deste artigo é o Prof. Newton Paulo Teixeira


dos Santos, da Escola de Comunicacáo da Universidade Fe
deral do Rio de Janeiro, já conhecido aos leitores de PR pelo
estudo que publicou em PR 222/1978, pp. 231-250 sobre a
nova legislagáo do divorcio no Brasil. O articulista aborda
agora a questáo do aborto, que vem sendo focalizada com
especial atengáo pelos legisladores e estudiosos do país. As
ponderacóes do Prof. Teixeira dos Santos contribuiráo para
projetar luz sobre o delicado assunto; pelo que a diregáo de
PR Ihe agradece mais esta interessante colaboracáo.

Seja permitido observar que a respeito do aborto dito


«terapéutico» PR já publicou diversos artigos, mostrando

— 363 —
4 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 225/1978

como, á luz da medicina moderna, já nao há necessidade de


recorrer ao aborto para tratar de molestias que outrora eram
tidas como exigitivas de aborto. Cf. PR 201/1976, pp. 392-
-400; 202/1976, pp. 434-443; 203/1976, pp. 485-489.

O ABORTO E A LEÍ

1. O problema

Lé-se no «Jornal do Brasil» de 20 de maio de 1978


(1' Cad., p. 11) que o Movimento em favor da Vida enviou
ao Presidente da República, Giovanni Leone, urna petigáo
assinada por 97.000 italianos, suplicando-lhe que nao assi-
nasse a lei do aborto. O requerimento pede a Leone que se
valha da prerrogativa presidencial que lhe faculta nao assi-
nar determinada lei, remetendo-a novamente ao Congresso
para novo debate.

Esta é urna das resistencias opostas aos ventos que var-


rem o mundo moderno, no intuito de destruir valores dados
como ultrapassados. O curioso é que esses valores sempre
foram questionados, desde que o homem, como animal social,
pretendeu organizar-se. O que mantém equilibrada a nossa
estrutura, é justamente essa disputa; ora prevalecem posigóes
conservadoras, ora as que se julgam «novas», sem saber que
em outros tempos as «novas» já tiveram vez, até que tor-
naram a prevalecer os valores que nao sao modernos nem
antigos, mas eternos. Jean Guitton já dizia que nos viajamos
num automóvel, com freio e acelerador. Ai de quem nao
usar com eficiencia os dois pés, o direito e o esquerdo!

O nosso Código Penal vigente data de 1940. Em 1969


ele foi julgado ultrapassado, e o Decreto-Lei n» 1.004 formu-
lou um texto novo, que nao entrou em vigor. Em 1973, a
Lei n» 6.016 introduziu-lhe inovacóes, pretendendo estimular
a sua vigencia, mas também nao teve forcas. Em ambas as
oportunidades, a questáo do aborto foi colocada: as penali
dades em geral foram abrandadas, e em 1973 o aborto sen
timental deixou de ser lícito, como veremos. Tudo sem resul
tado, pois até hoje prevalece o texto de 1940, por urna serie
de injungóes políticas.

— 364 —
O ABORTO E A LEÍ NO BRASIL

2. O aborto segundo o Direito

Mas que vem a ser o aborto, para o jurista? É preciso


distinguir o aborto ginecológico do aborto previsto em lei.
Em obstetricia, «é a interrupgáo da prenhez antes da vitali-
dade do feto, isto é, até o sexto mes» l. Para o Direito
Penal, como ensina Jiménez de Asúa,2 é «o aniquilamento
do produto da concepgáo, em qualquer dos momentos ante
riores ao término da gravidez, seja pela expulsáo violenta do
feto, seja por sua destruigáo no ventre da máe»3.

Alcántara Machado definiu o aborto em seu Projeto, no


que nao o imitou o legislador de 40, deixando á jurispru
dencia a solugáo. Talvez andasse bem, porquanto o continuo
progresso da medicina vem refletir-se no conceito desse crime
como em nenhum outro ponto do Código4. Mas creio que
podemos dizer, com Carrara, que aborto é a dolosa occisáo
do feto no útero, ou a sua violenta expulsáo do ventre ma
terno, da qual resulte a morte6.

Vé-se, pois, que a morte do feto é condigáo «sine qua


non» para que haja crime. E ela se verifica ou pela destrui
gáo do óvulo, ou pela expulsáo prematura do feto. «Se nao
se produz, afirma Asúa, e o feto expulso por violencia vive,
haverá uma tentativa de aborto penal, mas nao um delito
perfeito» °. Sobretudo nos primeiros periodos da gravidez, ao
invés de eliminado para o exterior, pode ocorrer que o em-
briáo acabe por dissolver-se e ser absorvido. Ou entáo pode
sofrer um processo de mumificacáo ou maceragáo, perma-
necendo dentre do útero como um corpo estranho. Outras
vezes é sujeito a um processo de calcificagáo. Por outro
lado, observa Nélson Hungría, pode ocorrer que, nao obs
tante a provocada expulsáo prematura, o feto nasca vivo e
vital, deixando, portanto, -de coltfigurar-se o crime de aborto,
cujo momento consumativo é a morte do feto. Ainda mais:
pode acontecer que o feto já estivesse morto antes da provo-
cagio do aborto, e, assim, apesar da sua expulsáo, nao se
apresenta o crime, mas uma tentativa inadequada, que escapa
á punigáo» 7. Tampouco pode ser objeto de crime de aborto
o produto de um desenvolvimento anormal do ovo (mola).
O feto é protegido na medida em que é um embriáo de vida
humana. Se tal nao for o caso, a figura carece de objeto8.

O agente ativo do crime deverá agir dolosamente. Deve


ser movido por uma vontade consciente e livre de interrom-

— 365 —
6 tPERGUNTE E RESPONDEREMOS* 225/1973

per a gravidez, ou eliminar o produto da concepgáo, ou, pelo


menos, concordar com tais resultados. Se a intengáo do
agente era outra, como a de abreviar o parto e alcangar
beneficios testamentarios, deixa de configurar-se o crime de
aborto, respondendq o agente por lesees ou eventual morte
da gestante. Se no caso se trata de auto-aborto, nenhum
crime haverá9.

Aborto doloso, de acordó com a nossa lei, é aquele em


que o agente quer o resultado ou assume o risco de produ-
zi-lo. Será sofrido, quando a mulher for vítima; exemplo, o
do art. 125 (provocar aborto sem o consentimento da ges
tante; pena: tres a dez anos de prisáo). Consentido, se a
mulher autorizar a agáo (art. 126: provocar aborto com o
consentimento da gestante; pena: reclusáo de um a quatro
anos, combinado com a última parte do art. 124, quando a
pena é de detengáo de um a tres anos). E procurado, na
especie a que se refere o art. 124, primeira parte (provocar
aborto em si mesma; pena: detengáo de um a tres anos) "♦.

Naturalmente, exige-se o estado fisiológico da gravidez,


e o aborto pode ser provocado ou por substancias ditas abor
tivas, ou por procesaos mecánicos. Nao existem substancias
propríamente abortivas. Sao tóxicos que, ingeridos, atingem
todo o organismo, produzindo as vezes hemorragias que des-
locam o ovo e acarretam o aborto. Citam-se a salsaparrilha,
a amida, o centeio espigado, etc. Os meios mecánicos com-
preendem as violencias que agem extra-genitalmente, e as
de agáo direta sobre o útero cheio. Temos as massagens, a
ducha vaginal, a perfuragáo ou o deslocamento das membra
nas, e métodos mais modernos, bascados no uso da eletrici-
dade e nos hormónios '".

Podemos classificar o aborto em espontáneo e provocado.


O primeiro é conseqüente de estados patológicos da máe ou
do feto, que impedem o prosseguimento da gestagáo. Evi
dentemente, nao fere a norma jurídica, nem a moral. O pro
vocado pode ser legal ou criminoso, e tanto o legal como o
criminoso atingem a norma moral.

"4 Ver o texto completo destes artigos entre as pp. 372 e 373 deste
fascfculo (Nota da redacSo).

— 366 —
O ABORTO E A LEÍ NO BRASIL

3. Legitimidade segundo o Direito

Em duas hipóteses a lei permite a provocado do aborto;


para salvar a vida da gestante quando nao houver outro
recurso, e para interromper a gravidez resultante de estu
pro. No primeiro caso, é chamado aborto médico, terapéu
tico ou necessá-rio. No segundo, é chamado aborto sentimen
tal ou moral.

Fora desses casos, todo aborto será criminoso, seja o


eugénico (para impedir prole tarada), seja o económico
(para satisfazer aos ideáis maltusianos), seja o estético (para
que a gravidez nao desfigure a mulher).

3.1. Aborto dito «terapéutico»

O aborto terapéutico, se bem que aceito pelos nossos


Códigos, inclusive pelo Decreto-Lei 1.004 e pela Lei 6.016,
é ainda discutido na sua procedencia. «Essa é a única oca-
siáo em sua vida profissional, diz Leonídio Ribeiro, em que
o clínico tem o direito, e, mais do que isso, o dever de abrir
excegáo á regra do preceito 'Nao matarás' e, ainda assim,
depois de ouvir a opiniáo de outros colegas, quando o pri
meiro nao esteja de acordó com a intervéngaos. Mas Souza
Lima assim se exprime: «Rejeito absolutamente semelhante
teoría. Nao reconhego ao facultativo o direito de escolher
vidas, sob pretexto algum; nessa emergencia, sua obriga-
cáo é procurar salvar ambas, e, sempre que um meio for
apropriado a esse desiderátum, deve ser empregado de pre
ferencia, embora arriscado. Suprimir a vida de um em bene
ficio de outro, seja quem for, por mais preciosa e estimada
que se afigure, é urna atribuigáo que escapa á algada e com
petencia do médico»". Asúa acredita que deve prevalecer
a vida da máe, «que é, sem dúvida, o ser mais importante,
e do qual, em regra, necessitam outros seres, como o marido
e os filhos anteriores»1S.

•No Brasil, a legislagáo é uniforme nesse sentido. O Có


digo Penal de 1890 dizia em seu art. 302: «Se o médico ou
parteiro, praticando o aborto legal, ou aborto necessário para
salvar a vida da gestante da morte inevitável, ocasionar-lhe
a morte, por impericia ou negligencia: pena de prisáo celu
lar por dois meses a dois anos e privagáo do exercício da

— 367 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 225/1978

profissáo por igual tempo». No Projeto da Comissáo Legis


lativa, lé-se no art. 173: «Nao será passível de pena o mé
dico diplomado que, para salvar a vida de alguma mulher,
lhe causar o aborto, como recurso extremo». Alcántara Ma
chado também admitiu a excegáo: «Nao será o aborto pro
vocado por médico habilitado quando outro meio nao houver
de salvar a vida da gestante». O Código Penal de 1940 o
autoriza em seu art. 128: «Nao se pune o aborto praticado
por médico, se nao há outro meio de salvar a vida da ges
tante», regra mantida, como se disse ácima, pelos novos tex
tos, que tiveram a vigencia protelada.

No entanto, a medicina moderna vem condenando o


aborto terapéutico, por estar superado pelas modernas técni
cas científicas. Eastman, professor de obstetricia da Johns
Hopkins University School of Medicine, dizia, em 1954, que
na sua opiniáo a orientagáo deve ser sempre a conservagáo
do produto da concepgáo13. Entre as indicagóes mais fre-
qüentes e alegadas para a prática do aborto terapéutico, figu-
ram as cardiopatias, a hipertensáo arterial, a tuberculose
pulmonar e os vómitos incoercíveis. Em todas elas, entre
tanto, os autores conscienciosos contra-indicam a intervengáo
abortiva.

O Prof. Dauve, de Anvers, observando 20.000 gestantes


cardíacas durante trinta anos, afirmou nunca lhe haver ocor-
rido a necessidade de valer-se dessa prática.

Schaeffer, Douglas e Dreispon, em 1955, após meticulosa


observagáo de tuberculosas grávidas no New York Lying in
Hospital, divulgaram as seguintes conclusóes:

Resultados dos casos Com aborto Sem aborto


observados terapéutico terapéutico
bgl;

melhorados 13% 56%

inalterados 47% 38%

agravados 33% 3%

mortes 7% 3%

— 368 —
O ABORTO E A LEÍ NO BRASIL

Nos casos de vómitos incoerciveis, o Prof. Raúl Briquet


afirmou que «nao prevalece se a gestante recebeu tratamento
bem orientado durante tres a quatro semanas» ".

Vé-se, portante, que se trata de urna questáo aberta.


Aberta, tendo em vista os textos legáis em vigor. Mas, se
considerarmos que ácima das afirmagóes citadas já trans-
correram vinte anos, há que se admitir que os progressos da
ciencia nao podem mais autorizar semelhante excegáo.

3.2. Aborto sentimental

A questáo do aborto sentimental foi provocada quando


na Franga e na Bélgica, durante a guerra de 1914, mulheres
violadas por soldados inimigos se julgaram no direito de eli
minar o produto da concepcáo que lhes fora imposta. Várjos
tribunais absolveram, entáo, máes responsáveis pela prática
do aborto, e até casos de infanticidio, sob a alegagáo de que
se tratava de frutos de estupro.

O assunto no Brasil foi amplamente discutido. Em 1915,


Leonidio Ribeiro, aínda estudante, colige opinides de figuras
destacadas da medicina e do direito, que sempre se mostra-
ram contrarias a semelhante prática. Femando de Magalháes
assim se manifesta: «O embriáo é um sujeito de direito e,
pelo Código Civil, todo sujeito- de direito é urna pessoa, é
um individuo, é alguém, e, pelo Código Penal, matar alguém
é crime. Por conseguinte, o aborto está incluido dentro do
Código Penal como um crime, porque tem perfeitamente a
figura jurídica da morte de alguém» 1B.

De outro lado, Porto Carreiro notava que a personali-


dade civil do homem só comega com o nascimento com vida.
Logo, dizia, o aborto nao deve ser assimilado ao crime de
homicidio.

Satisfazendo as duas correntes (ou a nenhuma das duas


correntes), o legislador de 1940 adotou o crime, mas abriu
excecóes. Veja-se o artigo 128: «Nao se pune o aborto pra-
ticado por médico, se a gravidez resulta de estupro».

«O aborto moral, diz Helio Gomes, é urna feliz inova-


gáo do Código Penal em vigor. A mulher, vítima de um

— 369 —
10 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 225/1978

estupro, pode engravidar. É urna gravidez acintosa, humi-


Ihante, produto de um crime monstruoso. Todo o seu orga
nismo, todo o seu sentimento, toda a sua alma se revoltam
em se ver grávida de um bruto, que a violentou. Essa gra
videz cria um verdadeiro estado de humilhagáo crónica, de
indignagáo, de inconformismo, agravado aínda mais se o estu
prador é de raga e cor diferentes das da vitima. A lei fez
bem em autorizar o aborto nesses casos. Qual seria a solu-
gáo para o desespero de urna jovem engravidada por um
bruto, se nao pudesse abortar legalmente? O aborto crimi
noso. A lei, permitindo o aborto em caso de estupro, evitou
o aborto criminoso, que seria a solugáo forgada para o caso
insolúvel» l0.

Dificuldades de ordem prática, porém, como a espera de


um prominciamento judiciário, dificultam, para nao dizer que
impedem, urna intervengáo oportuna.

4. Prospectivas e interroga$oes

O novo Código Penal Brasileiro, em sua redagáo atual,


eliminou a permissáo do aborto sentimental, como já se disse.
Permite apenas o aborto terapéutico, praticado por médico,
«quando é o único recurso para evitar a morte da gestante»,
precedido, sempre que possível, da confirmagáo ou concor
dancia de outro médico.

No momento, os ventos que sopram da Europa e dos


Estados Unidos, deixam temer que o legislador tome o lado
da permissividade. Cifras, embora nao atualizadas, dizem que,
na Rússia, 75% das gestagóes sao interrompidas; nos Estados
Unidos, registra-se um aborto para cada tres gestagóes; no
Brasil, a situagáo se aproxima á da nagáo norte-americana;
no Japáo, em 1957, o número de abortos foi avaliado em
2.000.000; ñas estatísticas suecas e dinamarquesas, o número
de abortos supera o de nascimentos. Acrescentados, se pos
sível, os abortos mantidos em segredo, os resultados seriam
bem mais elevados17. O que faz com que Heleno Claudio
Fragoso diga em obra recente;

"Numa época em que por toda parte val prevalecendo tendencia libe
ratoria, a leí braslleira camlnha para tras. Calcula-se que em nosso país
pratlcam-se tres abortos por minuto" (Realldade, julho de 1972) ">.

— 370 —
O ABORTO E A LEÍ NO-BRASIL 11

Ora, nunca a proliferagáo de um crime justificou a frou-


xidáo da lei; ao contrario! Ao legislador cumpre, sobretudo
em materia penal, ser mais rigoroso quando urna realidade
social se mostra decadente e permissiva. O Estado nao é
um espelho da sociedade, mas o seu mentor. Tem o dever
de formá-la e dirigi-la. Problema idéntico ocorre no uso
de tóxicos, ñas infragóes de tránsito e em outras áreas, como
na dissolugáo da familia. Amoldo Medeiros já notava, há
alguns anos, que o número de divorcios se acentúa quando a
jurisprudencia é frouxa e a legislagáo o consente. Dizer-se
que nao adianta punir o mal, porque ele existirá apesar disso,
seria o mesmo que condenar o Código inteiro, porque o
crime existe e existirá sempre. Como, em outro plano, seria
o mesmo que condenar definitivamente o Homem, porque ele
peca e pecará sempre.

Aqui reside o misterio da nossa condigáo, que aproxima,


e até mesmo identifica, o apostólo e o jurista: ambos pro-
curam permanentemente a perfeigáo, mesmo na certeza, e
na dor, de que jamáis a alcangaráo.

No quadro que vem a seguir, pode-se comparar o texto


legal vigente (1940) com as inovagóes trazidas em 1969. As
vezes a penalidade foi majorada, como no caso do auto-
-aborto, mas em regra foi abandonada. Foram introduzidas
algumas modificagóes técnicas, e criou-se urna nova figura
como a do aborto por motivo de honra, onde a penalidade
ficou bem aliviada: detengáo de seis meses a dois anos. Outra
especie de abortó nao prevista pelo Código em vigor vem
consignada no art. 129, a do aborto preterdoloso, que é cau
sado involuntariamente pelo emprego de violencia contra
mulher cuja gravidez o agente nao ignora, ou é manifesta.

As duas hipóteses de aborto legal foram mantidas. Em


1973, no entanto, o aborto sentimental foi abolido. Na ver-
dade, a permanencia dessa excegáo é que seria um ato senti
mental: já nao há argumento que a justifique.

Vamos, agora, esperar pela vigencia do novo Código,


fazendo votos para que a sensatez prevalega sobre a permis-
sividade, nessa materia que é táo grave, mas que vem tra
tada, muitas vezes, com tanta tolerancia.

— 371 —
12 «PERGUNTE'E RESPONDEREMOS> 225/1978

NOTAS

» Flaminio Favero. Medicina Legal, p. 25.

2 Libertad de Amar y Derecho de Morir, p. 319.

3 "O Código, ao incriminar o aborto, nao discrimina entre óvulo fe


cundado, embriáo ou feto: Interrompida a gravidez antes de seu termo
normal, há o crime de aborto. Qualquer que seja a fase da gravidez (desde
a concepcáo até o inicio do parto, isto é, até o rompimento da membrana
antiótica), provocar a sua Inlerrupcao é provocar o crime de aborto. A
occisáo do feto (alheia á sua maturidade ou ao emprego dos meios aborti
vos), depols de iniciado o processo do parto, é infanticidio, e nSo aborto
criminoso" (In Nelson Hungría. Comentarios ao Código Penal, p. 252).

4Ass¡m, por exemplo, definicoes como as de Tardieu, Carmignani,


Garraud e outros já envelheceram, pois exigiam a expulsáo do fruto con
cebido.

= iApud Enciclopedia Saraiva de Direito, S. Paulo, 1977. Vbt. Aborto.

«Ob. crt, p. 319.

7 Ob. cit., p. 215. Também: Soler, Derecho Penal Argentino III, p. 113.

»V. Soler, ob. cit., p. 111. Também: "No caso de gravidez extra-ute
rina, diz Helio Gomes, ¡mp6e-se o aborto necessário, a fim de salvar-se a
vida da gestante, de outro jeito condenada á morte certa, pela ruptura tuba-
rica inevitável. Provocar a expulsáo da mola — produto conceptivo dege
nerado, intransformável em ente humano — nao será também aborto cri
minoso; será licita intervencao médica" (In Medicina Legal, p. 126).

»V. Soler, ob. cit., p. 114; Hungría, ob. cit., p. 254.

«V. Helio Gomes, ob. cit, p. 129 e segts.

" V. Leonldlo Ribeiro. O novo Código Penal e a Medicina Legal,


p. 46 e 49.

" El Estado de Necessidad, pp. 36 e 53.

" Cfr. Enciclopedia cit.

"Cfr. Enciclopedia cit.

"Apud Leonídio Ribeiro, ob. cit., p. 75.

18 Ob. cit., II, p. 127 e sgts.

"Cfr. Enciclopedia cit.

"Llcóes de Direito Penal. S. Paulo, 1976, I, p. 139.

— 372 —
19 4 0

-Aborto provoca- Art. 124 — Provocar aborto em si mesma ou consentir em que outrem c
do pefa gestante provoque,
ou com seu con-
sentimento. Pena : detencSo de 1 a 3 anos.

-Aborto provoca- Art 125 — Provocar aborto sem o consentimiento da gestante,


do por terceiro.
Pena: reclusio de 3 a 10 anos.

Art. 126 — Provocar aborto com o consentimento da gestante.

Pena: reclusio de 1 a 4 anos.

§ único — Aplica-se a pena do artigo anterior se a gestante


nao é maior de 14 anos, ou é alienada ou débil mental, oí
se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameag<
ou violencia.

- Aborto qualifi- Art. 127 As penas cominadas nos dois artigos anteriores sao aumen
cado. tadas de 1/3, se, em conseqüéncia do aborto ou dos meios
em pregados para provocá-lo, a gestante sofre lesao corpora
de natureza grave; e sao duplicadas, se, por qualquer dessas
causas, Irte sobrevém a morte.

■Aborto necessá- Art. 128 — Nao se pune o aborto praticado por médico:
rio.
I — Se nao há outro meio de salvar a vida da gestante;

II — Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedidc


de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de sei
representante legal.

Art. 129 — Empregar violencia contra mulher cuja gravidez nao ignc
ou é manifesta, causando-lhe involuntariamente o aborto.

Pena: detencSo de 3 meses a 1 ano, além da pena corres


pondente á violencia.
19 6 0

— Auto-aborto. Art 124 — Provocar a gestante o próprio aborto.

Pena: detencao de 1 a 4 anos.

- Aborto com o Art. 125 — Provocar aborto, com o conhecimento da gestante.


conhecimento da
gestante. Pena: detencao de 1 a 4 anos.

§ único — Na mesma pena incorre a gestante consenclente.

-Ausencia ou ¡n- Art. 126 — Provocar aborto sem o consentimento da gestante, ou, se esta
validade do con é menor de 16 anos, doente, ou deficiente mental, ou se seu
sentimento da consentimento é obtido mediante fraude ou coacáo.
gestante. Pena: reclusáo de 2 a 8 anos.

-Aborto qualifi- Art. 127 — As penas cominadas no caput do art. 125 e no art. 126 sao
cado. aumentadas de 1/3 até a metade, se, em conseqüéncia do
aborto ou dos meios empregados ou do modo de empregá-los,
a gestante vem a morrer ou sofre lesáo grave.

-Aborto por mo Art 128 — Provocar aborto em si mesma, para ocultar desonra própria.
tivo de honra.
Pena: detencao de 6 meses a 2 anos.

§ único — Na mesma pena incorre quem provoca o aborto com


o consentimento da gestante, para evitar a desonra.

-Aborto preterdo- Art. 129 — Empregar violencia contra mulher cuja gravidez nSo ignora
loso. ou é manifesta causando-lhe involuntariamente o aborto.
Pena: detencao de 3 meses a 1 ano, além da pena corres
pondente á violencia.

-Aborto terapéu Art. 130 — Nao constitui crime o aborto praticado por médico:
tico ou quando
a gravidez re- I — Quando é o único recurso para evitar a morte da gestante;
sulla de estupro.
II — Se a gravidez resultou de estupro, seja real ou presumida
a violencia.

§ único — No caso do número I, deve preceder, sempre que


possível, a confirmacao ou concordancia de outro
médico, e, no caso do número II, deve anteceder o
consentimento da vítima ou, quando esta é incapaz,
de seu representante legal, desde que comprovada
a existencia do crime.
19 7 3

Art 123 — Provocar a gestante o próprlo aborto.


Pena: detenc.60 do 1 a 4 anos.

Art. 124 — Provocar aborto, com o conhecimento da gestante.

Pena: detencio de 1 a 4 anos.

§ único — Na mesma pena ¡ncorre a gestante consenciente.

Art. 125 — Provocar aborto sem o consentimiento da gestante, ou, se esta é menor
Art. 125 ™c^o°D^oentei ou deficiente mental, ou se seu consentimento é obtido
mediante fraude ou coacáo.

Pena: reclusSo de 2 a 8 anos.

Art 126 — As Denas cominadas no caput


Art 126 - As penas^omma ^
do art. 124 e no art. 125 sao aumentadas
MncIa do aborto ou dos meios empre-
gadM ou do modo de empregá-los, a gestante vem a morrer ou sofre
lesáo grave.

Art 127 — Provocar aborto em si mesma, para ocultar desonra própria.

Pena: detencfio de 6 meses a 2 anos.

§ único — Na mesma pena incorre quem provoca o aborto com o consen


timento da gestante, para evitar a desonra.

Art. 128 - Empregar violencia contra a mulher cuja gravidez nao ignora ou é mani-
festa, causando-lhe o aborto. (1)
Pena: detencáo de 3 meses a 1 ano, além da pena correspondente á
violencia.

Art 129 - Nao constituí crime o aborto praticado pelo médico, quando é o único
recurso para evitar a morte da gestante.
§ único - No caso previsto neste artigo, deve preceder, sempre que pos-
sível, a confirmacáo ou concordancia de outro módico.

(1) — N.B. : Como se vé, foi cancelado o adverbio involuntariamente.


Um Hvro candente:

"pecado: o que é?"


de Ambrosíus Kart Ruf

Em sfnlase: O autor é um dominicano alemSo que, após mostrar


a crise do conceito de pecado (concebido de maneira demasiado jurídica),
percorre a historia de tal nocSo e finalmente propde uma pista para a solu-
5S0. Tendo sugerido que nao pode haver pecado grave ou mortal senSo
na hora da morte do individuo, parece voltar atrás e termina o seu livro
propondo tres tipos de pecado: o pecado para a morte (1Jo 5,16s), o qual
só pode ocorrer no momento do desenlace final; o pecado grave, que se
dá desde que com intensidade o homem opte pelo mal no decorrer desta
vida; e o pecado leve, que é um ato humano imperfelto e só impropria
mente pode ser tldo como pecado.

Esta tese de Piet Schoorienberg, reafirmada por A. K. Ruf, reconhece


que pode haver pecados graves no decurso mesmo da vida terrestre de
cada homem. Ora isto é suficiente para salvaguardar a doutrina ortodoxa.
Embora o homem nao seja sempre capaz de moblllzar todas as suas poten
cialidades quando faz as suas opcoes ou mesmo quando faz sua opcfio
fundamental, pode haver opcSes relativamente fundamentáis que empenhem
a plena consclencla e a responsabilidade do sujeito e que, por conseguinte,
podem ser gravemente pecaminosas.

O llvro, de resto, é por vezes obscuro e revela certa Inseguranca de


pensamento do autor. Após haver discorrido por diversas teses, concluí a
sua obra em termos corretos e aceitáveis.

Comentario: Acaba de ser publicado mais um livro sobre


o tema «pecado», que hoje em dia vem sendo amplamente
estudado. O autor é um dominicano alemáo, que, dotado de
ampia erudigáo, expóe o problema da conceituacáo de «pe
cado» em nossos días e sugere pistas de solugáo que susci-
tam reflexóes. Ambrosius Karl Ruf pondera os diversos fato-
res e as variáveis do problema, usando de linguagem um
tanto difícil, que a tradugáo brasileira nem sempre concorre
para aclarar. Dada a importancia do assunto, vamos abaixo
apresentar o conteüdo desse livro, ao qual aporemos algumas
ponderacóes.

— 373 —
14 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 225/1978

1. O corteado do Hvro

1.1. O problema

1.1.1. Crise do conceito clássico de «pecado»

O autor observa, logo de inicio, que o tema «pecado»


hoje em dia é tido como impropria e antiquado; nao obstante,
diz, «em nenhuma época a pregagáo crista poderá deixar de
falar de pecado» (p. 12).

E quais seriam as razóes pelas quais hoje em dia o con


ceito de «pecado» caiu em descrédito?

O autor assinala as seguintes:

a) Acentua-se exageradamente o aspecto jurídico do


pecado. Este é tido como contraveneno á leí de Deus ou a
urna ordem de coisas instituida pelo Senhor Deus, sem se
ponderar suficientemente o relacionamento do pecado com o
Amor.

b) A ordem violada é concebida como algo de estático


e fixo, de tal modo que nao se levam em conta situagóes
pessoais e contingencias novas acarretadas pela vida contem
poránea.

c) Nao se consideram suficientemente os matizes de


responsabilidade e liberdade com que a pessoa humana cos-
tuma agir. Em outros termos: nao se tem bastante presente
o fato de que os atos humanos nem sempre sao igualmente
imputáveis a quem os pratica; as reagóes espontáneas, instin
tivas e passionais, podem, em grau maior ou menor, deter
minar o conteúdo e as modalidades do agir humano.

1.1.2. As coflseqüéncios da crise

Dado que a nogáo de pecado parece nao corresponder


aos referenciais da vida contemporánea, verifica-se que

1) Sob a influencia da ciencia e á técnica, para muitos,


os criterios do bem e do mal já nao sao os valores éticos,
mas os pragmáticos e utilitarios. «É moralmente bom o que

— 374 —
«PECADO : O QUE É ?» 15

é útil»; esta tese vem a ser, para muitos, o referencial para


se escalonarem os diversos tipos de comportamiento humano.

2) A pluralidade de atitudes filosóficas e religiosas pro-


fessadas pelos cidadáos que compóem a sociedade civil, leva
muitos cristáos ao relativismo ético; nao reconhecem mais a
necessidade ou a realidade de urna ordem moral objetiva, Já
que, afina! de contas, varias atitudes «boas e honestas» se
cotejam em nome de principios filosófico-religiosos diferentes.

3) A opiniáo pública — em grande parte, suscitada e


alimentada pelos padrees dos protagonistas das novelas e dos
filmes — contribuí para abalar as convicffóes éticas de nao
poucos cidadáos. Perguntam se realmente é pecado aquflo
que a Moral teórica considera como tal, contrariamente á
opiniáo de 60, 80 ou 90 % dos homens (leve-se em conta o
modo de pensar assaz generalizado a respeito das relagóes
pré-matrimoniais, da masturbagáo e do homossexualismo...).
Nao estariam engañados aqueles que, em nome de Deus,
estabelecem exigencias que, para a maioria dos cidadáos,
parecem irreais e as quais, por isto mesmo, nao se julgam
obrigádos?

Diante da perplexidade em que muitos se véem em vir-


tude do problema do pecado hoje, alguns mestres propóem
o que se chamaría «a Moral nova».

1.1.3. A Moral nova

As novas tendencias da Moral, consoante os rumos da


filosofía moderna existencialista, tendem a fazer do sujeito
— e do sujeito posto em sua situac&o concreta e pessoal —
o criterio para se aferir o bem e o mal. Nao se diga mais
que cada individuo constitui um caso de aplicacáo de prin
cipios imutáveis e eternos; ao contrario, dizem, toda decisáo
moral tem caráter único, irrepetível e definitivo, que só se
pode entender através da situacjío e das circunstancias em
que ela é tomada. Tal é a ética da situacáo, segundo a qual
o bem e o mal háo de ser apontados táo somente mediante
a consideracao do quadro em que o sujeito deve tomar suaa
decisóes.

O filósofo existencialista S. Kierkegaard (t 1855) é o


inspirador remoto de tal concepcáo. Recentemente o bispo

— 375 —
16 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 225/1978

anglicano John Robinson, em seu livro «Honest to God»,


desenvolveu tais idéias, postulando urna Moral indutiva em
lugar de urna Moral dedutiva. Isto quer dizer: em vez de
olhar para principios e leis eternos a fim de deduzir a qua-
lificagáo moral de determinado ato, examinem-se indutiva-
mente as circunstancias em que o sujeito se acha e procla-
me-se a conseqüente qualificacáo do agir dessa pessoa. A lei
de Cristo está recapitulada na lei do amor; é este — subje
tivamente entendido — que define o que naja de bom e o
que haja de mau no agir humano.

J. Fletcher retomou os conceitos de Robinson, acen


tuando com grande énfase o aspecto subjetivo do ato moral:
a boa intencáo de quem age, produz sempre atos moral-
mente bons. Por conseguinte, o fim justifica os meios. — Os
adeptos desta tese pouco se interessam por normas e leis
existentes, mas valorizam o aspecto concreto e prático do
problema que se coloca a quem queira tomar decisóes éticas.

Mais aínda: a Moral nova enfatiza altamente o conceito


de consciéncia... Alias, este também é importante na clás-
sica Moral. Todavía, ao passo que classioamente se diz que
a consciéncia subjetiva tem de procurar orientar-se em nor
mas objetivas, a Moral nova faz da consciéncia o supremo e
definitivo criterio de avaliagáo dos atos humanos. É conce
bida como um farejar ou spüren, isto é, como ■ forma de
conhecimento que, além de um juizo racional, incluí intuigáo
e sentimento.

A esta altura observa o autor do livro em questáo,


K. A. Ruf:

"Quandó se ve como hoja que, na opInISo do grande público, os mais


variados modos éticos de agir sSo legitimados com referencia á cons
ciéncia do individuo, nfio se deve estranhar que muitos críticos das novas
idéias desconflem de tal nocSo de consciéncia e da concepcfio de decisSo
ética que a ela se prende. Com toda razáo pode-se multas vezes duvidar
que mullos dos que se gabam de urna nova concepcSo da Moral, já nao
possuem urna nocfio daqueles fenómenos essenclals que sempre pertence-
ram ao núcleo da ética crista" (p. 31).

Como se vé, A. K. Ruf nao apregoa a Moral nova, em-


bora aceite a insuficiencia ou inadequagáo da Moral conce
bida nos termos clássicos. K. Ruf julga que a nova Moral
enfatiza exageradamente o aspecto individualista dos crite
rios da moralidade; ela supóe urna iluminagáo direta da

— 376 —
. «PECADO : O QUE É ?> 17

parte de Deus que indique ao cristáo o que deva fazer, sem


levar em conta o caráter eclesial e comunitario da vida
crista:

"A 'teoría da lluminacSo', á qual deve conduzir conseqüentemente a


'moral nova', enquanto ela se desenvolve no terreno da ética crista, nSo ó
compatlvel com as defendidas concepcSes básicas da teología. Ela leva a
urna supervalorlzac&o do individuo, provocando urna dlssolucáo do rela-
clonamento eclesial, no qual o balizado se encontra existencialmente. Na
questáo do conhecimento moral, especialmente na dlstlncfio do bem e do
mal, a direta lluminacao por Deus nfio pode valer como via normal" (p. 34).

Rejeitando o subjetivismo ético, A. K. Ruf também se


mostra contrario ao aforismo: «O fim santifica os meios» ou
a chamada «ética da intengáo». Esta coloca todo o significado
do ato moral na intengáo de quem o pratica, sem levar em
conta suficiente o ato externo ou aquilo que se faz concre
tamente «com boa intengáo». Ora na verdade tanto a inten
gáo subjetiva como a realidade material do ato praticado con-
tribuem para qualificar moralmente o ato humano.

Assim enunciado o problema da conceituagáo do pecado


em nossos dias, A. K. Ruf passa a consulta das fontes bíbli
cas, as quais sao imprescindíveis para se reformular auténti
camente a nogáo de pecado.

1.2. A doutrina bíblica

1. O pecado é tema de todas as confissóes religiosas.


Na Biblia ele aparece desde as primeiras páginas como ato
do qual o homem é responsável e que acarreta graves con-
seqüéncias para o futuro da humanidade. Significa ruptura
do diálogo do homem com Deus, diálogo, porém, que o Se-
nhor Deus retoma cheio de misericordia. Cf. Gn 2-3, onde
se expóem a transgressáo original e a promessa de alguém
que esmagará a cabega da serpente.

Posteriormente, no Antigo Testamento manifesta-se urna


concepgáo de pecado fortemente objetiva: pecado é qualquer
infracáo da Lei do Senhor, ainda que praticada inconsciente
mente; levava-se em conta o ato muito mais do que a inten-
§áo ou o ánimo de quem o praticava. Contra tal nogáo os
profetas levantaram a voz, acentuando, porém, principalmente
o significado da intengáo ou o papel do coragáo do homem:

— 377 —
18 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 225/1978

o pecado nasce no coragáo e, para extirpá-lo, é necessário


converter o coragáo.

2. No Novo Testamento aparece a figura de Jesús


Cristo, que veio para salvar os pecadores. Jesús condena o
pecado, mas demonstra compreensáo para os que erram a
fim de que possam retomar o caminho certo. Tal atitude
se manifesta por excelencia no episodio da mulher adúltera
(Jo 8,1-11): Jesús nao diz que o adulterio já nao é um mal
e, por isto, nao merece punigáo, mas tenciona oferecer nova
chance á mulher pecadora: «Vai, e nao tornes a pecar»
(Jo 8,11). Algo de semelhante ocorre na parábola do filho
pródigo: o pai recebe de bracos abertos o jovem que retorna
arrependido. Isto significa que Deus nao retira do homem a
sua amizade, mas está sempre pronto a recebé-lo e ajudá-lo
a combater o pecado (cf. Le 15,11-32). Alias, Jesús mesmo
venceu a tentagáo, obtendo para os homens a graga de supe
rar as insidias do Maligno (cf. Mt 4,1-11).

Nao se deve esquecer que, tanto no Antigo como no


Novo Testamento, o pecado tem também um caráter social.
Quando alguém peca, reforga o pecado que domina o mundo,
e ao mesmo tempo se torna instrumento do pecado. Por con-
seguinte, cada pecado, por mais secreto que seja, acarreta
daño para a comunidade; por isto a comunidade se preocupa
com o pecado e procura ajudar seus membros a vencer
o mal.

1.3. Um pouco da historia do concertó

1. Nos primeiros sáculos a Igreja deu grande relevo


ao fato de que o pecado nao é só ofensa a Deus, mas tam
bém lesáo á comunidade dos irmáos. Dai a instituigáo da
reconciliagáo pública, que a Igreja ministrava aos pecadores
após um periodo de penitencia pública, cuja duragáo era ava-
liada segundo a gravidade das faltas cometidas. A penitencia
pública foi praticada até a Idade Media, embora a partir do
sáculo VI houvesse ao seu lado formas de reconciliagáo par
ticular.

S. Agostinho (t 430) teve o mérito de enfatizar que o


pecado nao é um ato mau por sua natureza, mas, sim, um
ato que carece do bem que ele deveria ter; essa carencia é

— 378 —
«PECADO ; O QUE É ?» 19

devida ao livre arbitrio do homem e, por isto, imputável á


responsabilidade deste; é no fato de que o homem decida
contra Deus e sua ordem, que se encontra o aspecto especi
fico de todo pecado.

Na Idade Media registra-se inicialmente a consciéncia de


que nem todos os pecados sao igualmente graves. Após os
estudos de teólogos anteriores, S. Tomás de Aquino (t 1274)
propós a tese de que o pecado grave é sempre urna opgáo
contra Deus, ao passo que o pecado leve é urna faina no
tocante ao uso das criaturas ou & atitude correta para com
estas. Esta faina pode ser urna expressáo de indiferenca ou
negligencia para com Deus; ela significa urna disposigáo psí
quica e moral do pecador que poderá levar ao pecado grave
ou á direta ruptura para com Deus. Todavía tal negligencia
leve nao é ainda, no sentido próprio, urna repulsa a Deus;
por isto falta-lhe o momento constitutivo do pecado; só em
sentido transíate pode-se dizer que o pecado leve é pecado
(cf. S. Tomás de Aquino, Suma Teológica I/n, qu. 88,
a. 1, ad 1).

Nos séculos subseqüentes, os teólogos passaram a se


preocupar menos com a intencao de quem comete um ato
tido como pecaminoso; mais se interessaram pelo objeto ou
pela materia dos atos tidos como pecados. A razáo deste
novo enfoque talvez fosse o intuito de esclarecer e facilitar
a administragáo do sacramento da Penitencia, ao qual devia
servir a casuística. Esta, considerando a materia dos peca
dos, procurava saber se determinada agáo ainda deveria ser
considerada como pecado leve ou se já seria um pecado grave.

Foi no sáculo XIX que a Teología Moral conheceu novo


surto: os teólogos comegaram a utilizar mais a Biblia para
déla deduzir a nogáo de pecado; reavivaram também o con-
ceito de consciéncia moral, faculdade pela qual o homem,
concretamente situado, dá a sua resposta ao Senhor. A filo
sofía moderna, de resto, acentuando fortemente os valores
subjetivos, fez que o estudo do pecado voltasse a levar em
conta a responsabilidade e o papel do sujeito agente, o que
tem ocorrido mesmo de maneira exagerada e errónea, como
se viu sob o título 1. 1. 3 («A Moral nova») deste artigo.

Expostas as grandes linhas da historia do conceito de


pecado, A. K. Ruf passa á quarta e última parte do seu tra-
balho, que estuda novos principios na compreensáo do pecado.

— 379 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 225/1978

1.4. Novos principios na compreemóo do pecado

Eis o que o teólogo dominicano propóe:

1) Para conceituar o pecado, é necessário levar em


conta tanto o aspecto objetivo (ou seja, a materia) do ato
mau quanto o seu aspecto subjetivo (a intencáo e as dispo-
sicóes do sujeito agente). A consideracáo do aspecto mera
mente objetivo acarreta o perigo do legalismo, ao passo que
a ponderacáo exagerada do momento subjetivo leva a afir
mar o principio de que o fim (a intengáo) santifica os meios
e semelhantes normas arbitrarias. Todavía A. K. Rui julga
que o momento subjetivo do pecado merece prioritariamente
a atencáo do estudioso.

2) O aspecto subjetivo do pecado há de ser elucidado


pela nocáo (hoje em dia, cada vez mais estudada) de opcao
fundamental.

Opcáo fundamental é a escolha do valor supremo que


deve nortear todas as demais opgóes e todos os atos da pes-
soa. O cristáo faz sua opcáo fundamental por Deus e pelo
convite de amor que este lhe dirige. Acontece, porém, que o
homem na térra só imperfeitamente conhece a Deus; esse
conhecimento naturalmente admite graus; nunca, porém, é a
visáo face-a-face reservada para o Além. Conseqüentemente
é variável a intensidade da opgáo do homem por Deus aqui
na térra, visto que a adesáo a determinado bem é propor
cional ao conhecimento que a pessoa tenha desse bem. A
variedade de graus na intensidade da opcáo por Deus expli-
ca-se também pelo fato de que a pessoa que opta está asso-
ciada á natureza humana, ou seja, a um conjunto de elemen
tos instintivos, cegos, irracionais, que dificultan! ou dimi-
nuem a agáo plenamente consciente e livre do sujeito.

Ora todo abrandamento da intensidade oom a qual a


pessoa age, implica um abrandamento do caráter moral da
agáo correspondente. A responsabilidade e a imputabilidade
moral de um ato sao proporcionáis ao empenho com que
alguém o pratica. O programa de vida de todo cristáo con
siste em fazer que sua opcáo fundamental e as opcóes decor-
rentes desta sejam cada vez mais pessoais, intensas e livres.
— Estes principios sao agora aplicados á elucidagáo do con-
ceito de pecado.

— 380 —
«PECADO : O QUE £ ?» 21

3) O pecado vem a ser uma opgáo fundamental contra


Deus, ou seja, uma opcáo oriunda das profundezas da pessoa
humana. Quando nao ocorre plenamente esse tipo de opgáo
fundamental, só se pode falar de pecado leve ou em' sentido
análogo. Note-se, porém, que a opeáo fundamental pecami
nosa nao precisa de traduzir-se mima rebeliáo plenamente
consciente contra Deus: o pecado mortal geralmente nao tem
o caráter de revolta explícita contra o Senhor Deus.

A luz destas afirmagóes, torna-se, por vezes, difícil reco-


nhecer se determinado pecado é leve ou grave. Fica sempre
lugar para a pergunta: com que grau de intensidade eu agi
bem ou mal?

4) Levando as últimas conseqüéncias tais proposigóes,


A. K. Ruf ainda pondera: a atual condicáo de existencia
do homem imerso na materia e na corporeidade faz que
praticamente todas as suas agóes estejam sob o signo da
natureza ou do semi-instintivo, semiconsciente, semi-irrespon-
sável. Coloca-se, pois, uma questáo decisiva: ainda existe
pecado grave ou pecado mortal? (p. 89). Diante desta per
gunta, A. K. Ruf insinúa que realmente, no comum dos
casos, o homem nao é capaz de uma opgáo fundamental táo
intensa que possa ser considerada pecado grave; todavía, diz
ela, há os casos extraordinarios em que é possível uma opgáo
oriunda das profundidades do homem, a ponto de ser equi
valente a um pecado grave.

5) Se no decorrer da sua vida mortal o homem nao


tem condigóes de realizar uma opgáo realmente fundamental,
esta chance lhe é dada na hora. da morte: em tal momento
o homem está livre de todas as determinagóes e influencias
que atuam sobre o seu conhecimento e a sua. liberdade;
defronta-se diretamente com Deus, que lhe aparece como o
Sumo Bem. A morte é, pois, a ocasiáo única que o homem
tem de decidir segundo a medida plena de suas capacidades.
Como se compreende, a opgáo final que o homem faz com
toda a lucidez na hora da morte, estará sempre em conti-
nuidade com as opgóes feitas anteriormente no decorrer desta
vida terrestre. «Cada um morre como viveu», diz a sabe-
doria popular.

Por conseguinte, é somente na hora da morte que o


homem se torna capaz de um pecado propriamente dito. Este

— 381 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 225/1978

ocorre caso a pessoa rejeite o convite ao amor que o Senhor


Deus com toda a clareza entáo lhe dirige.

6) Esta afirmacáo talvez parega insinuar que durante


toda a sua vida o homem nao comete senáo pecados leves ou
impropriamente ditos. Todavía A. K. Ruf nao aceita tal
conclusáo!... Em conseqüéncia, no final do seu livro (pp.
95-97), distingue tres tipos de pecado:

a) o pecado para a morte (cf. Uo 5,16s), que é o


pecado propriamente dito; este é possível táo somente na
hora do desenlace final, porque só este proporciona ao ho
mem a lucidez c a intensidade de intengáo pressupostas pelo
pecado estritamente entendido. A opcáo para a morte feita
na hora da morte é irrevogável.

b) O pecado grave. Este é urna opcáo para o mal rea


lizada com ponderável intensidade no decorrer desta vida,
mas nao definitiva nem irrevogável.

c) O pecado leve, opgáo efetuada com pouca intensi


dade ou ato imperfetamente humano.

Assim A. K. Ruf concluí a sua obra. Encerra-a talvez


um pouco brusca e sumariamente. Seria para desejar que
explanasse melhor as suas consideracóes fináis (principal
mente a nogáo de pecado grave), e as pusesse em harmonia
com as ponderacóes anteriores. O Ieitor se senté interpelado
pelo contato com o livro e desejoso de refletir sobre os dize-
res do mesmo. — É o que vamos fazer em seguida.

2. Comentarios ao livro

As varias ponderagóes que a obra de A. K. Ruf sugere,


podem ser resumidas em quatro ítens.

2.1. Reflexño geral

O Ieitor nao pode deixar de perceber os numerosos


«vai-evem» por que passa o pensamento do autor; propóe
opinióes, parece derrubá-las, mas volta a estudá-las e afir-
má-Ias. Ora dir-se-ia que é partidario do relativismo e do

— 382 —
<PECADO : O QUE fi ?> 23

esvaziamento dos conceitos; ora dá a impressáo de querer


guardar equilibrio sadio e construtivo. Ademáis note-se que
o estilo do autor é assaz pesado; a tradugáo brasileira guar-
dou muito de tal estilo, de tal modo que, nem sempre com
facilidade, se compreende o que certas passagens querem
significar. — Na verdade, o pensamento de A. K. Ruf parece
nao se ter cristalizado de maneira clara e definitiva; alias,
o próprio autor adverte no prefacio da obra: «Este livro foi
escrito para os que nao se contentam com solugóes prontas,
mas procuram eles mesmos urna resposta, servindo-se das
reflexóes que lhes sao proporcionadas pela teologia... O
leitor, portento, nao espere urna fórmula que lhe resolva as
dúvidas» (p. 10).

Esta observaeáo, feita no inicio do livro, merece ser


relida ao término da leitura da obra, pois corresponde bem
ao tipo de conteúdo do livro.

2.2. A tese da üvro

1. Segundo os dizeres das pp. 89s, poder-se-ia crer que


o autor só admitiría duas formas de pecado: a) o grave ou
mortal, possível táo somente na hora da morte ou em oca-
sióes extraordinarias da vida terrestre; b) e o pecado leve
ou impropriamente dito, por se tratar de um ato humano
incompleto ou prejudicado por elementos irracionais e instin
tivos. Estaría entáo distante a possibilidade de pecado grave
durante a trajetória de vida do homem mortal; via de regra,
nao haveria mais pecado propriamente dito a nao ser na hora
da morte!

Todavía A. K. Ruf parece ter-se espantado diante de tal


sentenga incluida nos dizeres das pp. 89-94 do livro. Por isto
ñas tres ultimas páginas da obra houve por bem admitir com
Piet Schoonenberg a distincáo entre pecado para a morte,
pecado grave e pecado leve. O pecado grave fica reservado
para os dias mortais de todo homem. Desta maneira, A. K.
Ruf volta praticamente a distinguir entre pecado leve e pe
cado grave (ou pecado venial e pecado mortal, na termino-
logia clássica).

2. A respeito do pecado para a morte, irrevogável por


que cometido no último instante desta peregrinacáo, pode-se
perguntar: será que realmente todo homem usufrui, na hora

— 383 —
24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 225/1978

da morte, da clareza de intuigáo que A. K. Ruf e outros


autores lhe atribuem? Nao poucos individuos morrem em
condicóes de arteriosclerose, semiconsciéncia, anamnesia...,
mostrando ter nogáo cada vez menos lúcida do que concerne
á sua própria pessoa e ao respectivo ambiente. A doenoa, a
velhice e achaques diversos fazem que, para muitos, os últi
mos tempos da vida terrestre sejam os menos rentáveis, mar
cados como estáo por urna diminuigáo geral das atividades
mais típicas (o que nao quer dizer nao haja também o con
trario). Como entáo admitir, de modo geral, que toda pes
soa, no instante da morte, possa exercer urna atividade cons
ciente mais lúcida do que no decorrer da sua existencia ter
restre? Esta perspectiva parece ilusoria; seria, antes, para
desejar que todo homem procurasse exercer as suas ativi
dades com o máximo de consciéncia e intensidade nos belos
dias de saúde e vigor da sua peregrinagáo terrestre.

Alias, o próprio A. K. Ruf confessa que «a teoría da


opcáo final é urna opiniáo teológica que nem de longe foi
cabalmente debatida,... ainda deixa em aberto nao poucas
questóes, fazendo muitos teólogos desistir déla» (p. 92).

3. Quanto á incapacidade de praticar urna verdadeira


opcáo fundamental, ou seja, urna opgáo que proceda do mais
fundo do psiquismo humano, deve-se reconhecer que real
mente muitas pessoas sao superficiais ou semi-superficiais
durante os anos de sua vida terrestre; a natureza é lenta e
tende a resistir aos belos propósitos que a inteligencia ilumi
nada pela fé lhe quer incutir. Isto, porém, nao significa que
o homem se deva resignar de antemao a aceitar tal condi-
cao humilhante; resta-lhe sempre o honroso dever de pro
curar mobilizar suas mais profundas potencialidades em de
manda do mais nobre ideal. Foi o que os santos tentaram
fazer e conseguiram realmente; é também o que todo homem
que nao queira morrer anáo ou inacabado, deve almejar e
procurar por em prática.

Ademáis, para que haja pecado grave ou mortal, basta


que o ser humano se empenhe em favor do mal com as ener
gías e potencialidades de que seja capaz dia por dia durante
a sua vida mortal. A experiencia ensina que há realmente
opcóes serias e conscientes contra Deus e os valores do bem
antes da morte de numerosos individuos. A propósito, con*
vém citar o livro de Karl Menninger, psiquiatra norte-ame
ricano, intitulado «O pecado de nossa época» (Livraria José

— 384 —
«PECADO : O QUE £ ?>

Olympio Editora, Rio de Janeiro 1975): o autor, na quali-


dade de médico, verifica que a omissáo da palavra «pecado»
na linguagem moderna é ilusoria e doentia. Na verdade, o
pecado, e pecado grave, é mais do que evidente na historia
contemporánea: odios, guerras, violencias, furtos, escravizagáo
de homens, mulheres e criancas, alcoolismo e vicios diversos
maroam profundamenteavida moderna. Seriam atos come
tidos irresponsavelmente pelos seus autores? K. Menninger,
como psiquiatra, julga que nao se pode alegar isto. Seria,
pois, salutar que os homens reconhecessem a existencia do
pecado e assumissem a responsabilidade do mesmo, pois isto
os aliviaría psíquicamente; a kathársis é um processo tera
péutico de alto valor. — Entre parénteses, notamos que
tal conclusáo do Dr. Menninger coincide exatamente com
as perspectivas da teología. A respeito do livro, veja PR
205/1977, pp. 14-26.

Mais: é oportuno lembrar que um dos mais recentes


documentos da Igreja sobre o pecado emprega equivalente
mente as expressóes «pecado mortal» e «pecado grave»; nao
segué, pois, a distincáo sugerida por Piet Schoonenberg entre
pecado para a morte (ou mortal), pecado grave e pecado
leve. Cf. Declaracáo «Persona Humana» sobre pontos de
Ética Sexual, n» 10:

"Na reaildade, é sem dúvlda a opcfio fundamental que define, em


última anállse, a dlsposlc&o moral de urna pessoa. No entanto, a opcSo
fundamental de urna pessoa pode ser mudada totalmente por atos particula
res, sobretodo quando estes tenham sido -preparados — como acontece
multas vezes — por atos anteriores mais superflclals. Em todo caso tifio é
verdade que um so destes atos particulares nao possa ser suficiente para
que naja pecado mortal.

Segundo a doutrlna da Igreja, o pecado mortal que se op6e a Deus


nao consiste apenas na resistencia formal o direta ao precelto da carldade;
ele verifícale Igualmente naquela oposlcfio ao amor autentico que está
Incluida em toda transgressfio deliberada, em materia grave, de cada urna
das laía moráis...

... O homem, portante, peca mortalmente, nao só quando as suas


acSes proceden» do desprezo direto do amor de Deus o do próximo, mas
também quando ele, consciente e llvremente, faz a escolha de um oblato
gravemente desordenado; seja qual for o motivo dessa sua escolha. Nessa
escolha, de fato, está incluido o desprezo do mandamento do Deus: o
homem aparta-se de Deus e perde a carldade.

Ora bem: segundo a tradicfio crista e a doutrlna da Igreja, e con


forme reconhece também a reta razfio, a ordem moral da sexualldade com-

— 385 —
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 225/1978

porta para a vida humana valores táo elevados que toda violacfio direta da
mesma ordem ó objetivamente grave.

é verdade que ñas faltas de ordem sexual, tendo em vista as suas


condlcóes especiáis e as suas causas, sucede mais fácilmente que nfio
Ihes seja dado plenamente um consentimento llvre — o que há de levar a
proceder com cautela em todo Julzo a fazer quanto á responsabllidade
subjetiva de tais faltas. É caso para recordar em particular aquelas pala-
vras da Sagrada Escritura: "O homem olha a aparéncla, ao passo que
Deus olha o coracSo" (ISm 16,7). Entretanto o recomendar esta prudencia
no ajulzar sobre a gravidade subjetiva de um ato pecaminoso particular
nao equivale, de maneira nenhuma, a sustentar que em materia sexual nao
se cometem pecados mortafs".

2.3. Objeto do pecado e intencao do pecador

A. K. Ruf tem razáo ao apregoar maior atengáo para


o aspecto pessoal e subjetivo dos atos maus. A Moral pro
cura relacionar o ser humano, como filho, com Deus, que é
Pai e o grande Tu de cada criatura racional; nisto ela se
diferencia do Direito, que póe o homem frente a urna ordem
instituida, neutra e impessoal. Assim o pecado toma signifi
cado profundo para todo cristáo.

Além disto, dentro do ser humano é necessário levar em


conta os matizes de consciéncia e liberdade com que cada
qual age; nem tudo o que é materialmente pecado, é tam-
bém fonnalmente pecado. O pecado formal ou propriamente
dito supóe sempre tres elementos:

— consciéncia do mal a ser cometido,

— vontade de cometé-lo,

— materia grave.

Como se vé, os dois primeiros elementos sao subjetivos,


ao passo que o terceiro é objetivo. Embora se acentué a
importancia dos traeos subjetivos, nao se poderia jamáis
negligenciar o peso do objeto para avaliar ou qualificar o
ato humano que com ele se relaciona.

Os autores modernos realcam sabiamente o papel da


intencáo de quem age; nunca, porém, será lícito fazé-lo a
ponto de dizer que o fim justifica os meios ou de reduzir
os criterios de qualificagáo de um ato humano aos seus ele
mentos subjetivos.

— 386 —
«PECADO : O QUE É ?> 27

Alias, a respeito de sadia mudanga do conceito de pe


cado nos últimos tempos já foi publicado um artigo em
PR 137/1971, pp. 217-228.

2.4. Alguns pontos particulares

Aínda é de interesse chamar a atencáo para a p. 22 do


livro em questáo, onde se lé:

"Nfio faz aínda multo tempo, era proibldo ao sacerdote, sob 'pecado
grave1, recitar o canon da MIssa em vernáculo. Hoje isto nSo só é costume
tolerado, senSo prescricSo obrlgatórla. Entre os pecados graves enume-
rava-se a transgressSo das prescrlcSes do jejum; e os llvros de Moral,
que aínda algumas décadas atrás foram Impressos e (iguram ñas estantes
da maiorla dos sacerdotes, referem meticulosamente com quantos gramas
de carne — consumidos ¿s sextas-felras — comeca o pecado grave. Hoje,
de fato, nlnguém mals pergunta pelos subtilizados mandamentos da absti
nencia, pois — com aprovacSo eclesiástica — já se permite a cremacfio
dos cadáveres, ler llvros de leltura considerada pecaminosa, sobre os quals
pesavam severas penas eclesiásticas. Ao passo que antes partencia aos
mals infames sacrilegios tocar com mSos nao consagradas o Corpo do
Senhor, hoje recebe-se — como crlstSo moderno — a comunhSo nSo na
boca, mas na mSo.

Pederíamos alongar a lista, mas os exemplos bastam. Quando pen


samos que estas modificacSes se Introduzlram em menos de urna década,
compreendemos o efelto que resultará sobre a conscléncla do pecado.
A confianca em uma Instancia que 'nfio erra1, encontra-se fundamentalmente
abalada, e para aqueles acostumados a orientar-se pela autorldade da Ins-
tituicáo apresenta-se a inquietante pergunta se tudo aquilo que hoje aínda
vale como pecado amanhS será abolido, e será mandamento aquilo que
estava proibldo até agora. Eles se perguntam se nfio tém razfio aqueles
que hoje contrarlam as normas e se Interessam pouco pelas ordens atuais.
Quem quer que Indague acerca da esséncla do pecado, defronta-se com tais
problemas".

A propósito observamos:

O autor cita exemplos de mudangas das prescrigóes da


Igreja: assim as que se referem ao vernáculo na Liturgia, a
cremacáo dos cadáveres, ao jejum e k abstinencia... Ora
tais pontos pertencem á disciplina da Igreja e nao ás suas
proposigoes de fé. Foi necessário em épocas passadas que a
Igreja adotasse normas disciplinares que em nossos dias já
nao tém razáo de ser, como hoje é oportuno que adote me
didas disciplinares que outrora nao teriam sentido. A mu-
danga de disciplina em pontos que nao afetam as verdades
reveladas, é sinal de vitalidade e sadia compreensáo vigen-

— 387 —
28 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 225/1978

tes na Igreja; se ñera todos os fiéis entendem tais mudangas,


a deficiencia está nestes e nao no fato de que a disciplina
mude sadiamente.

Quanto aos «livros de leitura considerada pecaminosa»,


já nao estáo no Índex, que foi extinto em 1966. Todavia
nao foi abolida a norma moral, válida para todo cristáo, de
nao se expor, sem graves motivos, ao pecado; a ninguém é
lícito em consciéncia entregar-se a leituras lascivas ou ofen
sivas á fé e aos bons costumes por baixo prazer ou por
mera curiosidade. Peca o cristáo que cometa tais atos, mesmo
depois de abolido o Índex; este tinha significacáo jurídica;
os valores moráis que o justificavam, continuam sendo valo
res e tém em seu favor a tutela da reta consciéncia de cada
cristáo. Cf. PR 193/1976, pp. 25-28.

Sao estas algumas ponderales que nos pareciam opor


tunas a propósito do livro de A. K. Ruf. A sua leitura
poderá será útil a estudiosos especialistas e... pacientes;
nao parece contudo a mais recomendável a quem se queira
iniciar no assunto.

A propósito veja:

Sagrada Congregacáo para a Doutrlna da Fó, DeclaracSo "Persona


Humana" sobre alguns pontos de Ética Sexual.

K. Mennlnger, "O pecado de nossa época". Rio de Janeiro 1975.

L Monden, "Consciéncia renovada". Sfio Paulo 1968.

A. Moser, "O pecado ainda existe?" Sfio Paulo 1976.

PR 137/1971, pp. 217-228 (válida mudanca do concelto de pecado).

PR 193/1976, pp. 25-38 (índex e censura de Mvros).

— 388 —
Em Puebla, no México:

e a III conferencia do episcopado


latino-americano?

Em slntese: De 12 a 28/10/78 reunlr-se-á em Puebla (México) a


III Conferencia Geral do Episcopado Latino-americano, que vem desper
tando grande Interesse. Déla participarlo delegados dos blspos de cada
país da América Latina, assim como representantes da Santa Sé, a flm de
estudar o tema "A evangelizado no presente e no futuro da América
Latina". Em vista desta grande assembléla, foi elaborado um documento-
-base, o qual, enviado a cada blspo do continente, foi objeto de reflexSes
e debates em nivel diocesano ou em nivel regional. Tais debates redunda-
ram em propostas e sugestdes que foram levadas em conta pela Comlssfio
redatora a flm de se elaborar novo texto, mals correspondente aos anseios
dos pastores e dos fiéis latino-americanos.

Estando próxima a realizagSo da Conferencia de Puebla, Importa a


todos os fiéis católicos pedir ao Senhor as suas luzes a fim de que o
encontró programado seja penhor de urna evangelizacáo cada vez mals
frutuosa do continente latino-americano.

Comentario: Tém suscitado grande interesse nao só nos


meios eclesiásticos, mas também no público em geral, os estu-
dos feitos em vista da in Assembléia Geral do Episcopado
Latino-americano ou do CELAM (Conselho Episcopal La
tino-americano), a qual terá lugar em Puebla (México) de
12 a 28 de outubro de 1978. A imprensa vem noticiando
reunioes realizadas e ainda a se realizar em fungáo do
grande encontró, que vem despertando a atencáo dos obser
vadores pelas conseqüéncias que poderá ter no desenrolar
da acáo da Igreja nos países latino-americanos.

É prematuro querer esbocar os resultados de tal assem


bléia; contudo é necessário informar os cristáos e o público
em geral a respeito da estrutura e do significado da mesma.

— 389 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 225/1978

É o que tencionamos fazer ñas páginas subseqüentes de ma-


neira clara e sistemática, pondo em foco as linhas essenciais
do acontecimento.

1. O fundo histórico

Podem-se assinalar tres grandes momentos em que os


bispos da América Latina (AL) procuraran!, até os nossos
dias, refletir sobre a sua missáo evangelizadora: o primeiro
Concilio Plenário da América Latina (Roma 1899), a pri-
meira Conferencia Geral do CELAM (Rio de Janeiro 1955),
a segunda Conferencia Geral do CELAM (Medellín, Colom
bia 1968).

1.1. O Concilio plenário

Nos séculos XVI, XVII e XVIII, a Igreja na América


Latina se viu sob o severo controle das monarquías euro-
péias, que sustentavam o regime de colon'zagáo; o direito
que no Brasil se chamava «de padroado» e que tinha seus
equivalentes nos paises vizinhos, permitía aos monarcas inter
ferir ñas relagóes entre os bispos locáis e a Santa Sé, de
tal modo que a autoridade pontificia pouoo se exercia na
América Latina.

No inicio do século XIX as guerras civis em prol da


independencia contribuirán! para dividir os cristáos neste
continente, permitíndo notável influencia da Franco-macona-
ria anti-eclesiástica. Todavía em varias nagóes do continente
o estadista Simón Bolívar deu inicio a um revigoramento das
estruturas eclesiais e da acáo do episcopado. Na segunda
metade do século XIX os bispos foram recuperando sua auto
nomía perante o Estado; todavía lutavam com serios proble
mas, como o da escassez de clero, a agáo masónica, os con-
flitos internos dos povos latino-americanos.

Em 1870, o Concilio do Vaticano I fortaleceu a organi-


zagáo da Igreja Universal reafirmando a autoridade do seu
governo central ou do Pontífice Romano.

Ora no fim do século, em comemoragáo do quarto cen


tenario da descoberta da América, o Papa Leáo Xm houve

— 390 —
A CONFERENCIA DE PUEBLA 31

por bom convocar os bispos da América Latina para cele-


brarem em Roma o I Concíli» Plenário Latino-americano de
23 de maio a 9 de juiho de 1899.

Esta assembléia, notável e decisiva para o futuro do


continente, impulsionou a reorganizado da Igreja na Amé
rica Latina, promoveu a acáo conjunta dos episcopados his-
pano-americano e brasileiro. Estipulou a realizacáo de reu-
nióes periódicas de bispos do continente, a fim de estudarem
conjuntamente as linhas de pregacáo da fé e da acáo dou-
trinal... Desta forma a Igreja na AL comecou a tomar
sua fisionomia própria e assumir participagáo mais ativa na
historia da Igreja universal.

1.2. Al Conferencia Geral do Episcopado da AL (Rio 1955)

Por ocasiáo do XXXVI Congresso Eucaristico Internacio


nal realizado no Rio de Janeiro em juiho de 1955, o S. Pa
dre Pió XII, mediante a Carta Apostólica «Ad Ecclesiam»,
convocou os bispos da América Latina para nova reflexáo
conjunta sobre os assuntos que interessavam ao seu minis
terio apostólico.

O tema central da assembléia foi a escassez de clero e


os problemas daí decorrentes. Foram abordadas outrossim
questóes referentes á educagáo, as missóes, aos indígenas, á
juventude, 'ás migragóes, á responsabilidade cívico-política dos
cristáos... Foi outrossim constituido o CELAM (Conselho
Episcopal Latino-americano) como órgáo destinado a facilitar
o intercambio e a colaboragáo dos Srs. Bispos entre si; tal
organismo foi dotado de Departamentos especializados em
. vista das diversas tarefas a serem preenchidas pela Igreja
no continente latino-americano: educacáo, catequese, liturgia,
missóes, agáo social, etc.

Após a grande assembléia do Rio de Janeiro, os acon-


tecimentos desenrolaram-se com certa rapidez; o continente
latino-americano configurou-se cada vez mais com seus aspec
tos de Terceiro Mundo; os Papas Joáo XXm e Paulo VI,
mediante importantes encíclicas sociais, tentaram caracteri
za-los, tragando linhas de agáo para a Igreja; os episcopados
nacionais do continente foram, por sua vez, voltando sua

— 391 —
32 gPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 225/1978

atengáo para tais questóes. — O Concilio do Vaticano II


(1962-1965) deu ocasiáo a que se avivasse a consciéncia de
colegialidade episcopal e se pensasse na convocagáo de nova
assembléia do CELAM.

1.3. A II Conferencia Geral do Episcopado da AL

Realizada em anexo ao Congresso Eucarístico Interna


cional de Bogotá (agosto de 1968), tal assembléia foi inau
gurada pelo próprio Papa Paulo VI, contando com a pre-
senca de 8 cardeais, 45 arcebispos, 92 bispos, 70 sacerdotes
e Religiosos e 9 observadores nao católicos.

Teve por tema central «A Igreja na atual transformacáo


da AL á luz do Concilio». Os debates visavam á aplicagáo
das diretrizes do Concilio á situagáo concreta da América
Latina, daí resultando dezesseis documentos, que represen-
tam decididas opgóes do episcopado. Desses escritos cinco
versavam sobre Promogao Humana (Justiga, Paz, Familia e
Demografía, Educagáo, Juventude), e onze sobre Evangeli-
zagáo e Crescimento na Fé (Pastoral das Massas, Pastoral
de élites, Catequese, Liturgia, Movimentos de Leigos, Sacer
dotes, Religiosas, Formagáo do Clero, Pobreza da Igreja,
Pastoral de conjunto, Meios de Comunicagáo Social).

A Conferencia Geral de Medellin contribuiu vivamente


para despertar novos tipos de atuagáo da Igreja na AL.
Dez anos depois reunlr-se-á em Puebla (México) a II Con
ferencia Geral do Episcopado Latino-americano em Puebla
(11 a 28 de outubro de 1978). É esta Conferencia que
passamos diretamente a apresentar.

2. Puebla: estrutura da Conferencia

Aos 12 de dezembro de 1977, após diligentes preparati


vos, o S. Padre Paulo VI houve por bem convocar a III
assembléia geral do CELAM, que estudará o tema «A evan-
gelizagáo no presente e no futuro da AL».

Deste certame participaráo:

— 392 —
A CONFERENCIA DE PUEBLA 33

1) os presidentes das Conferencias Episcopais Nncio-


nais da América Latina;

2) os bispos representantes dessas Conferencias, eleitos


segundo os seguintes criterios:

— um por cada cinco membros ñas Conferencias que


contém até cem membros; ou

— um por cada cinco membros até a primeira centena,


e um por cada dez membros após a primeira centena, ñas
demais Conferencias;

3) o presidente, os dois Vice-presidentes, os responsá-


veis pelos Departamentos e Séceles do CELAM; o Secreta
rio Geral deste;

4) todos os componentes da Pontificia Comissáo para


a América Latina (CAL);

5) os presidentes dos organismos episcopais nacionais


que se destinam a prestar ujuda á Igreja na AL;

6) os presidentes e Secretarios Gerais das Conferencias


Episcopais dos Estados Unidos e do Canadá e do Conselho
das Conferencias Episcopais da Europa; o Simposio das Con
ferencias Episcopais da Europa; o Simposio das Conferencias
Episcopais da África e de Madagascar, o presidente e o Se
cretario Geral da Federado de Conferencias dos Bispos da
Asia;

7) os representantes pontificios (Nuncios, Delegados


Apostólicos...) na AL;

8) alguns representantes das confissóes cristas que


exercem atividades no continente;

9) vinte e dois sacerdotes (diocesanos ou regulares)


nomeados pela Santa Sé após indicacáo feita pelas Conferen
cias Episcopais;

10) quatro diáconos permanentes;

11) dez leigos, nomeados segundo os criterios do n» 9;

— 393 —
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 225/1978

12) outras pessoas nomeadas diretamente pelo Sumo


Pontífice.

Seráo presidentes da assembléia de Puebla o Cardeal


Sebastiáo Baggio, presidente da Pontificia Comissáo para a
América Latina; o Cardeal Aloisio Lorscheider, arcebispo
de Fortaleza e presidente do CELAM; D. Ernesto Corripio
Ahumada, arcebispo da cidade do México. O Secretario Ge-
ral da Conferencia será D. Afonso López Trujillo, bispo auxi
liar de Bogotá e Secretario Geral do CELAM.

Vejamos agora

3. Puebla : etapas preparatorias e objetivos

3.1. Etapas preparatorias

Os preparativos da III Conferencia Geral do CELAM


tiveram inicio em fevereiro de 1977 na reuniáo geral de
coordenacáo celebrada em Medellin. Ficou entáo estipulado
que, em se tratando de assembléia episcopal, os primeiros a
ser consultados deveriam ser os Srs. Bispos; por isto se rea-
lizariam reunióes regionais de Bispos (ñas Antilhas, na regiáo
da América Central e do México, nos países bolivarianos, no
Cone Sul), com a participado dos presidentes e Secretarios
gerais das Conferencias Episcopais.

As reunióes assim efetuadas ofereceram denso material


que foi ulteriormente elaborado por comissóes de especialis
tas, os quais assim redigiram um Documento de Consulta
(DC) a ser enviado as Conferencias Episcopais. Na segunda
quinzena de dezembro de 1977 tal documento foi enviado a
cada um dos bispos latino-americanos, á Santa Sé e a outros
organismos.

Esse Documento de Consulta foi estudado por grupos de


Bispos e sacerdotes, que procuraram aprofundá-lo e formular
suas sugestóes a respeito. Em julho de 1978 as contribuigóes
resultantes das consultas foram utilizadas pela equipe de
coordenacáo dos preparativos para confeccionar o Documento
de Base (DB), que em agosto e setembro foi finalmente
enviado a todos quantos participaráo da Conferencia de Pue-

— 394 —
A CONFERENCIA DE PUEBLA 35

bla, a fim de que em outubro, reunidos na cidade de Puebla,


tenham o substrato oportuno para suas reflexóes e debates.

3.2. Objetivos

Os objetivos almejados pela Conferencia de Puebla dedu-


zem-se do próprio título do respectivo tema. Com efeito,

a) A evangelizacao... A tarefa de comunicar aos ho-


mens a Boa-Nova de Cristo será o objeto central dos estu-
dos dos bispos latino-americanos. Alias, nos últimos anos
toda a Igreja parece estar especialmente preocupada com esse
magno encargo: em 1974, o Sínodo Mundial dos Bispos teve
por tema «A Evangelizagáo do mundo contemporáneo», resul
tando de seus estudos a Exortagáo Apostólica «Evangelii
Nuntiandb (Para anunciar o Evangelho), da lavra do S. Pa
dre Paulo VI. Em 1977, o Sínodo Mundial houve por bem
estudar um dos aspectos mais delicados do mesmo tema, ou
seja, a catequese, com referencia especial aos jovens e as
criangas. Ora é de crer que estes dois Sínodos Mundiais con-
tribuiráo para inspirar os trabalhos do episcopado reunido
em Puebla.

b) ... No momento presente da América Latina...


A tarefa de evangelizar obriga os pastores a estudar com
sinceridade a situagáo concreta dos destinatarios da mensa-
gem. Após quatro sáculos e meio de evangelizagáo, háo de
perguntar a que ponto chegou tal missáo,... qual o seu grau
de profundidade,... que circunstancias a favorecem,... que
obstáculos se lhe opoem,... em que proporgóes se sentem
as populagóes latino-americanas comprometidas com o Evan
gelho... Sao estas algumas interrogagóes que deveráo me
recer a atengáo dos bispos reunidos em Puebla.

c)... E no futuro da América Latina. A evangelizagáo


é tarefa que deve prolongar-se em favor das geragóes yin-
douras. Por isto necessita de ser constantemente reconside
rada. Nao podem os arautos da Boa-Nova contentar-se com
a transmissáo rotineira do Evangelho, sem levar em conta
os desafios dos tempos que mudam. Será preciso indagar
quais os valores a que seráo mais sensiveis os homens do
futuro a fim de que sejam utilizados como recursos de
evangelizagáo.

— 395 —
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 225/1978

Do estudo destas interrogagóes e da formulagáo das


respectivas respostas, espera-se que a Igreja possa exercer
melhor a sua missáo no contexto do continente latino-ame
ricano.

Passemos agora á anáJise de

4. A temático de Puebla

O documento de consulta enviado aos bispos da América


Latina era assaz extenso (214 páginas e 1.159 parágrafos).
Foi objeto de estudos e debates. Duas opinides a respeito
defrontaram-se: havia, de um lado, os que o julgavam ade-
quado e apto a promover a agáo da Igreja na América La
tina, enquanto outros o tinham na conta de «antiquado»,
destoante da posicáo adotada pela Igreja em Medellin.

Os bispos em suas dioceses e as Conferencias Episcopais


Nacionais propuseram sugestñes diversas a fim de reformar
ou aperfeigoar o documento. Tais sugestóes nao sao senáo
etapas na elaboragáo de um texto-programa que só atingirá
sua forma definitiva em Puebla. Abaixo apresentamos a sín-
tese do documento-base que o teólogo Frei Clodovis Boff
elaborou em vista de suas reflexóes sobre o mesmo:

"A AL está atualmente realizando a 'transigió', 'paseo' ou 'passagem'


para o Upo de socledade chamado 'urbano-Industrial' (253-260). Ora o risco
está em ela se modelar sobre os dois únicos modelos de socledade urbano-
•Industrlal que hoje se oferecem: o 'colellvlsmo tolalllátlo' e o 'capitalismo
económico*. Mas os dois s9o 'secularlstas' (234-237). Ora é aqui que entra
o papel da Igreja: salvaguardar a religiosldade crista dos povos latino-ame
ricanos na gestacao em curso de urna nova socledade (660).

Ademáis, Junto com a Industrializante, ó só a unificacSo dos varios


povos da AL que permitirá a este continente salr de seu papel subordinado
e marginal na historia universal (246). Ora, para tal unlílcacáo a Igreja
representa um fator de primeirfssima Importancia, devldo justamente ó cul
tura profundamente crista das populacdes latino-americanas (251). Por Isto,
a mlssfio que se aprésenla a Igreja hoje tem urna dlmensáo histórica par
ticular e urna slgnlficacáo universal (243, 256, 259, 318). O 'novo servico',
a 'imensa tarefa' (269) que desalia a Igreja (19), consiste nada mals nada
menos que em conduzlr a 'superacfio' (212, 660) da 'grande contradicho
de nosso lempo' que é a 'rígida alternativa' entre liberalismo e coletivismo,
ambos ateus, cada um a seu modo (312). A mencionada 'superacáo' se
aerarla na dlrecSo de urna terceira safda — 'sínlese nova e genial' do
'espiritual e do temporal' (675) — a de urna 'Cultura crista' (218)1 Tal ó,

— 396 —
A CONFERENCIA DE PUEBLA 37

portento, a tárela histórica da lgre]a na AL de Me: 'ser Igreja animadora


da nova civilizado: a clvllizasfio do amor' (123, clt. Paulo VI)".

Frei Clodovis Boff, autor da sintese, nota:

"Reconhegamos que a perspectiva ácima esbozada n9o é carente de


grandeza. E a tarefa da Igreja se aprésenla como realmente exaltante.
Seria urna contribuidlo que marcarla deveras a historia universal e que
mudarla a palsagem atual do mundo" ("A llusao de urna nova Crlstandade"
em REB, fase. 149, margo 1978, p. 7).

Frei Clodovis julga que tal perspectiva sugerida pelo


documento de consulta é invalidada pelo fato de propor a
volta ao regime (tido como ultrapassado) de Cristandade, ou
seja, de implantagáo de urna ordem social crista e de nova
dvilizacáo crista. Tal ideal seria anacrónico; por conseguinte,
toda a programacáo concebida em vista do mesmo seria des
propositada (opiniáo esta que nos parece radical e extre
mada).

Nao há interesse em discutir aqui o documento de con


sulta e as críticas a ele feitas, visto que nao sao senáo fases
de processo que já está quase no fim e cujos resultados estáo
sendo aguardados para o mes de outubro pf. O que importa
ao povo de Deus latino-americano, é pedir ao Senhor queira
iluminar os seus bispos e teólogos a fim de que ñas próxi
mas semanas e em Puebla (12-18/10/78) consigam discer
nir o plano de Deus a respeito da AL e elaborem diretrizes
aptas a promover a vivencia do Evangelho e o Reino de
Deus, em nossas térras!

APÉNDICE

Abaixo apresentamos um quadro que define o número


de sacerdotes, seminaristas e Religiosas no continente latino-
-americano. Confirma as palavras do Senhor, segundo as
quais «a messe é grande, mas os operarios sao poucos»
(Mt 10,37s); esta averiguacáo, que se constituí em serio pro
blema para os fiéis católicos do nosso continente, exige dos
mesmos o empenho de suas preces e de seu trabalho em
favor do aumento das vocacóes aos ministerios eclesiásticos.

397 —
SACERDOTES
HABITAN
TOTAl SEMINA JURIS-
POPUIACAO
POPULACHO
PAÍS OU CONFERENCIA TES RELIGIO PAB6-
DIOCE- RELI SACER RISTAS 0IC6ES PROVÁVEL
EPISCOPAL POR, SACER SAS OUIAS 197S - 197*
SANOS GIOSOS DOTES MAIORES ECCLS ivao - i»8j
DOTE
Antilhas 204 639 843 7.019 51 1.115 16 483 4.964.000 6.000.000
2 Argentina 2.304 2.775 5.079 5.018 636 12.530 56 1.992 25.720.000 30.107.000
3 Bolívla 217 605 822 6.671 187 1.605 18 434 5.790.000 6.456.000
4 Brasil 5.146 7.545 12.691 8.546 2.267 38.517 217 6.035 109.180.000 125.503.000
5 Colombia 3.070 2.060 5.130 4.662 1.259 18.123 58 2.300 24.718.000 33.861.000
6 Costa Rica 257 126 383 5.053 103 88S 5 145 2.010.000 2.961.000
7 Cuba 104 94 198 46.600 69 208 6 227 9.528.000 11.019.000
8 Chile 732 1.306 2.038 5.157 442 3.568 25 784 10.450.000 12.540.000
9 Equador 593 758 1.351 4.635 157 8.074 22 915 7.305.000 8.473.000
10 El Salvador 193 201 394 9.609 75 6 220 4.110.000 5.907.000
11 Guatemala 191 475 766 7.510 245 971 13 400 6.260.000 8.103.000
12 Halti 199 204 403 12.254 87 1.011 7 187 4.584.000 5.988.000
13 Honduras 64 136 220 7.703 23 319 6 163 3.040.000 3.557.000
14 México 6.819 2.561 9.380 6.848 2.651 23.377 69 3.286 62.329.000 67.288.000
15 Nicaragua 107 184 291 7.483 48 693 6 173 2.330.000 3.347.000
16 Panamá 71 194 265 5.422 34 429 6 127 1.720.000 2.254.000
17 Paraguai 171 267 438 5.638 88 802 11 236 2.720.000 ! 4.121.000
18 Perú 860 1.370 2.230 6.940 402 4.395 42 1.172 | 16.090.000 ; 21.612.000
19 Porto Rico 222 465 687 4.252 94 1.405 5 240 3.120.900 4.000.000
20 Rep. Dominicana 108 394 502 9.735 129 1.276 6 190 4.840.000 6.300.000
21 Uruguai 206 395 601 4.992 47 1.432 10 216 3.100.000 3.377.000
22 Venezuela 847 1.24S 1.792 6.058 206 3.485 27 903 12.361.090 17.546.000
No cinema:

"contatos ¡mediatos do terceiro grau"

Em sintese: O filme "Contatos imediatos do terceiro grau" pertence


& categoría da ficcao científica. Apresenta a aproximacao e a aterrlssagem
de uma nave espacial, que provoca grande espanto entre os homens pelos
fenómenos sinistros assim desencadeados, mas que finalmente é portadora
de mensagem de paz. Os homens da térra chegam a embarcar-se nela.
Assim o filme pretende tranquilizar o público a respelto de habitantes de
outros planetas. Todavía o enredo de "Contatos Imediatos do terceiro grau"
é menos rico em mensagem do que o de "2.001. Odisséla no espaco"; este
filme abordava questSes fundamentáis relativas á origem e a vocagfio do
homem assim como no tocante ao problema "homem x máquina".

"Contatos Imediatos..." lembra o "misterio" do Triángulo das Ber-


mudas ou do Diabo, excitando sentimentos e emocSes corroboradas pela
grandiosldade de suas cenas e a beleza do seu colorido e do seu som.

Comentario: Está em voga o filme «Contatos imediatos


do Terceiro Grau» de Steven Spielberg, atraindo multidóes
de diversas oapitais do Brasil e do mundo. As razóes pelas
quais este fascínio se exerce, sao diversas, merecendo, sem
dúvida, a atengáo dos estudiosos. Eis por que abaixo dedi
caremos algumas reflexóes a referida película.

1. O enredo do filme

A película abre-se no deserto de Sonora (México), onde


alguns exploradores militares examinam avióes lá abandona
dos em 1945, tendo desaparecido os respectivos pilotos.

A seguir, em Municie (Estado de Indiana, U.S.A.) apa


rece um menino de quatro anos de idade, chamado Barry,
que percebe a presenga de fenómenos estranhos em sua casa
e nos arredores: luminosidade, ventanías, arremessos de
utensilios domésticos, abalos de movéis, etc. O seu pai Roy

— 399 —
40 <PERÜUNTE E RESPONDEREMOS> 225/1978

é eletricista; enviam-no a examinar as instalagóes elétricas


de Wyoming, onde falta luz em conseqüéncia de desabamento
de cabos. Roy dirige-se ao local, mas em viagem é acome
tido pelo estranho fenómeno de luminosidade, ventanias, ruido
de motores, pánico em torno de si... Tais fatos preocupam
Roy, que comega a ter a intuigáo de um bloco de rocha, em
forma de torre, que para ele deve ter alguma significacáo.
Desenha e talha tal bloco, levado pela percepgáo (telepática?
extra-sensorial?) do mesmo. Um belo día, a televisáo dá
noticia de derramamento de gas venenoso na regiáo de
Wyoming, onde existe a famosa «Torre do Diabo» (bloco
macico de rocha). Roy para lá se dirige com a sua esposa...
O menino Barry desaparecerá, arrebatado pela onda dos fenó
menos estranhos...

O Governo norte-americano, n^ regiáo da Torre do Diabo,


construirá urna enorme estagáo receptora dos discos voado-
res e de seus tripulantes, cuja presenga ñas imediagóes da
térra fora captada por técnicos. Quería estabelecer contatos
com tais seres extra-terrestres mediante sinais musicais, que
o engenheiro francés Lacombe estipulara reproduzindo me
lodías indianas. Todavia as autoridades militares desejavam
afastar o povo da referida regiáo; por isto é que anunciavam
envenenamento da atmosfera local. Roy, porém, e sua esposa,
juntamente com numerosos populares, acorriam á Torre do
Diabo, cujo acesso era severamente vedado. Enfrentando to
das as ameagas, Roy prova que o ar nao está infeccionado no
lugar (tira a máscara anti-gás) e decididamente pde-se a
galgar a monlanha «Torre do Diabo» com sua esposa. Che-
gando ao cume, tem a visáo de bela estagáo espacial, onde
os engenheiros se preparavam para recepcionar urna nave
espacial prestes a aterrissar. Esta desceu realmente ao solo;
déla desembarcaran! pilotos e oficiáis desaparecidos desde
decenios (haviam sido levados por discos voadores) assim
como o menino Barry; o contato mediante sinais musicais e
luminosos foi efetuado... Em conseqüéncia do bom relacio-
namento travado, embarcaram na nave espacial diversos ho-
mens, inclusive o eletricista Roy...

Assim se termina o enredo, que, em última instancia,


parece significar que, embora os discos voadores sejam á
primeira vista terrificantes, nada há de se temer da parte
de seus tripulantes; haveria mesmo possibilidade de entendi-
mentos amigáveis entre seres terrestres e extra-terrestres.

— 400 —
«CONTATOS IMEDIATOS DO 3' GRAU» 41

O filme, de modo geral, é impressionante tanto pelo seu


enredo original como pela riqueza de suas cores e seus sons.
A mengáo da «Torre do Diabo» contribuí para avivar, talvez
subconscientemente, os sentimentos do público já despertados
por filmes como «O Exorcista», «A Profecía» e outros. Além
disto, pode-se observar urna alusáo ao Triángulo das Ber-
mudas tanto pela referencia a Fort Lauderdale como pelo
desaparecimento (e reaparecimento) de oficiáis da Marinha
e da Aeronáutica, que assinalam o inicio e o fim do filme.
Sabe-se que na regiáo do Caribe, também chamada «Mar do
Diabo» e «Triángulo da Morte», tém ocorrido graves desas
tres de aviacáo e de navegacáo, nao se encontrando vestigio
dos tripulantes e passageiros acidentados. O pánico que tais
desastres tém suscitado no público, leva alguns estudiosos a
supor que as pessoas assim desaparecidas hajam sido rapta
das por habitantes de outros planetas em excursóes & térra;
cf. PR 224/1978, pp. 335-347.

Perguntamo-nos: que dizer a respeito de tais proposigoes?

2. Habitantes de outros planetas

A hipótese de existirem habitantes em outros planetas e,


por conseguinte, naves espaciáis fabricadas pelos mesmos nao
entra em choque com a mensagem do Cristianismo. A rigor,
Deus pode ter criado seres inteligentes adaptados as condi-
góes de vida de outras regióes do universo; o primeiro pen
sador cristáo que tenha formulado esta hipótese, data do
sáculo XV: é o Cardeal Nicolau de Cue na sua obra «De
docta ignorantia» (1440); afirmava (na sua linguagem im
precisa) nao haver urna estrela da qual estejamos autoriza
dos a excluir a existencia de seres humanos, por muíto dife
rentes que sejam de nos. Foi, porém, no século XIX e no
sáculo XX que tal tese tomou vulto entre os teólogos* dizem
alguns que é conveniente a existencia de seres inteligentes
esparsos pelos outros sistemas solares, pois tais criaturas
prestariam homenagem ao Criador em nome do enorme nú
mero de estrelas e planetas que sao incapazes de reconhecer
e glorificar o Criador.

Caso alguém admita a existencia de homens extra-ter


restres (hipótese esta que só a ciencia pode elucidar, pois a
fé nao se pronuncia a respeito), restam abertas algumas

— 401 —
42 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 225/1978

questóes para as quais nao temos resposta: esses homens te-


ráo sido chamados á filiagáo divina como nos, habitantes da
térra? Teráo sido submetidos a urna prova original? Have-
ráo dito Sim ou Nao ao Criador? Em caso de Nao, teráo
sido redimidos como nos fomos resgatados pelo sangue do
Filho de Deus? Todas estas indagagdes (que nos levam longe
no plano das hipóteses) ficam fora do alcance da Revelagáo
que Deus nos fez; por conseguinte, perdería tempo quem lhes
quisesse dar resposta. Em qualquer hipótese, porém, deve-
remos reconhecer que

— os hipotéticos habitantes de outros planetas sao cria


turas do mesmo Deus que nos fez, pois nao há senáo uní
Deus, soberano Senhor de tudo o que existe;

— tais homens devem ter congénita a mesma lei natu


ral que trazemos nos,... lei cujo preceito básico é: «Pra-
tioa o bem, evita o mal». Esta norma fundamental se des-
dobra em outras: «Nao mates», «Nao roubes», «Respeita pai
e máe», etc.

Todavía quanto ao tipo físico, quanto ao grau de inte


ligencia e cultura, e quanto á índole moral de tais criaturas,
nada em absoluto podemos afirmar de seguro. É 'á ciencia
que toca dizer a primeira palavra a respeito, logo que tenha
algum fundamento para tanto.

3. Seres ctesencarrvados e reencarnados?

Em parte, o interesse do público pela temática dos dis


cos voadores é alimentado por correntes espiritas, que iden-
tificam os seres extra-terrestres com espíritos que, tendo
vivido na térra, se desencarnaram e foram reencarnar-se
em outros mundos. Aparecendo a nos, esses irmáos estariam
procurando ajudar-nos. Como expressáo desta tese, existem,
entre outros, os livros de Chico Xavier, tidos como resultado
das «revelagóes» de Ramatis. — Na verdade, esta posigáo é
arbitraria ou destituida de fundamento. A hipótese da reen-
camacáo carece de provas em seu favor; os casos de «regres-
sáo á vida anterior» e os fenómenos psicológicos geralmente
aduzidos em prol da reencarnagáo, sao suficientemente expli
cados pela parapsicología como expressóes do psíquico do
paciente influenciado por fatores da própria vida terrestre.

— 402 —
«CONTATOS IMEDIATOS DO 3' GRAU» 43

Alias, quem lé a bibliografía «psicografada» atribuida a habi


tantes de Marte, encentra ai a expressáo da imaginario
criativa e, as vezes, contraditória dos próprios médiuns.

Quanto ao Triangulo das Bermudas ou do Diabo, os


estudiosos e dentistas nao véem necessidade de recorrer ao
Além para explicar os desastres maritimos e aéreos nele ocor-
ridos; a inclemencia do mar, dos ventos e da atmosfera, assím
como a impericia dos navegantes sao suficientes para elucidar
os misteriosos casos. Apesar disto, o público em geral se im-
pressiona com as explicacóes fantasistas que tém sido forjadas
para o caso, pois, como demonstra a psicología, existe em
todo homem o gosto do sensacional e até mesmo... do trá
gico. Cf. PR 224/1978, pp. 346s.

4. Os livros de Erich von Daniken...

A opiniáo pública está motivada para debater filmes


como «Contatos imediatos...» também por causa das obras,
muito divulgadas, de Erich von Daniken: «Eram os deuses
astronautas?», «De volta as estrelas», «Aparigóes»... Ora é
de conhecimento público que Erich von Daniken nao é um
dentista, mas um viajante que coledonou dados arqueológi
cos e construiu sobre eles urna serie de hipóteses fantasis
tas; estas induem discos voadores e comunicacóes com seres
extra-terrestres de alta inteligénda. Todavía Erich von Dani
ken nem sempre foi honesto; imaginou e falsificou documen
tos para fundamentar suas teses, e por isto foi processado
em tribunais, tendo tido, em conseqüéntía, que pagar eleva
das multas. Veja-se a revista «Realidade», outubro 1973,
pp. 92-95 e PR 210/1977, pp. 256-268.

O filme «Contatos imediatos...» talvez faca eco antité


tico á tese de E. von Daniken no seu livro «Eram os deuses
astronautas?». Com efeito, na película os cinco sons que ser-
vem á comunicacáo entre os homens da térra e os do espaco,
sao os mesmos da melodía dos indianos que aparecem a
certa altura do enredo... Ora os astronautas que respondem
a tais sons, evidentemente nao sao deuses, mas sao homens.
Steven Spielberg houve por bem frisar, no seu enredo, que
os astronautas nada tém de transcendental ou místico.

— 403 —
44 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 225/1978

5. Conclusao

Refletindo sobre o filme «Contatos imediatos...», veri-


fioa-se que é rico em recursos técnicos, coloridos e sons; o
mesmo, porém, nao se pode dizer no tocante á sua mensa-
gem. Qual seria esta? — Cremos que poderia ser entendida
como tentativa de desmitificar o tema «habitantes de outros
planetas», mostrando que estes nada tém de transcendental
ou místico; ao contrario, sao criaturas capazes de entrar em
comunicacáo amigável com os habitantes da térra, a tal
ponto que os homens telúricos poderáo viajar e conviver
com eles.

O filme em foco tem sido comparado a «2.001. Odis-


séia no espago», que fez grande sucesso. Cremos, porém, que
esta outra película é portadora de mensagem muito mais
expressiva e importante do que a de «Contatos imediatos...».
Sim; «Odisséia...» propóe a Divindade presente ao homem
desde os albores da historia até o momento da morte de
cada um, servindo-se para tanto de um monolito negro, que
atrai e fascina o homem ao mesmo tempo que lhe impóe
reverencia. Mais: «Odisséia» apresenta bem o problema da
luta da máquina contra o homem, luta na qual os robos
tentam superar o seu próprio artífice humano.

Todavía «Contatos imediatos...» vem obtendo grande


éxito, porque, de algum modo, fala do desconhecido e do
misterioso. Ora todos nos fomos feitos para algo de maior
do que aquilo que vemos e conhecemos; fomos feitos para o
Infinito, o Absoluto ou Deus, de tal maneira que tudo o que
nos fala de misterio toca de perto a nossa sensibilidade reli
giosa ou mística. Assim «Contatos imediatos...» pode ser
tido como mais um dos filmes contemporáneos que indireta-
mente despertam o senso religioso ou místico existente em
todo homem.
Estévao Bettencourt, O.S.B.

404 —
"FELICIDADE 7 ... É POR AQUÍ!"

NAO SE INCOMODE 3E FICAR POR ÚLTIMO,


PORQUE TODO O QUE PASSAR NA SUA FRENTE,
VAI DIZER "OBRIGADO" E DAR-LHE UM BOM SORRISO...

E QUANDO, ENFIM, VOCÉ CHEGAR, DEPOIS DE TODOS,


CONDECORADO, ILUMINADO DE SORRISOS RECEBIDOS,
VERA QUE OS OUTROS ESTARÁO A SUA ESPERA
P'RA QUE VOCÉ ENTRE PRIMEIRO 1

(extraído de "Mensageiro do Coragfio de Jesús", n? 931,


abril 1976, p. 161)

livro em estante
Sacramento da Penitencia. O perdió de Deus na comunldade ecleslal,
por Mario de Franga Miranda. Colecfio "Teología e Evangellzacño" — II.
— Ed. Loyola 1978. 141 x 210 mm, 100 pp.

O Sacramento da Penitencia é o que mats solicita a pessoa humana;


por isto também é o que mais dlflculdades pode causar na pastoral da
Igreia No periodo pos-concillar, varios rumores foram levianamente difun
didos a seu respelto, até que em 1972 a Santa Sé estabeleceu definitiva
mente as novas modalidades de admlnlstrá-lo. Destas, duas sao ordinarias:
1) a conflssáo auilcular e a reconclllagáo em quadro estrltamente secreto;
2) a confiss&o auricular e a reconclllacáo em quadro comunitario. Há
ainda urna terceira modalldade, extraordinaria esta, segundo a qual o
sacerdote dá a absolvlgfio geral a um grupo de fiéis em circunstancias
especiáis (que somonte ao BIspo diocesano compete avaliar), flcando os
penitentes obrlgados & confissSo auricular dos pecados absolvidos dentro
do prazo de um ano.

É sobre este fundo de cena que vem a lume o llvro do Pe. Franga
Miranda S. J., jovem teólogo, discípulo de Karl Rahner. é obra de grande
profundldade, que aborda variados aspectos teológicos e pastorals do
sacramento da reconciliacfio, guardando plena fidelldade ao pensamento
da Igreja. Chamaríamos a atencáo para as suas ponderales sobre "o
pecado que leva á morte" (Uo 5,16) á p. 22, sobre a necessidade da
confissao Integra e Individual ás pp. 61-72, bem como a respelto da con-
fissSo fieqüente: de manelra sabia, o autor mostra o sentido desta prátlca,
ainda que nao suponha pecados mortals; o Pe. Franca Miranda nos diz entSo
textualmente:

"Por que nao poderiam ser certas faltas, leves aos nossos olhos, o
eco longlnquo de um egoísmo de base ? Por que nao poderia ser urna
certa indlferenca na vida crista o sinal de urna Indlferenga profunda com
relacáo a Deus ? Nestes casos te riamos o que chamamos de pecado grave.
E, cerno todos cometemos pecados veníais, devemos temer pelos frutos do
nosso coracáo, que n3o s8o os frutos do espirito. Logo a dlstlngSo teórica
entre oecado grave e pecado venial revela-se menos clara em nivel exis-
tendal; devenios portante continuamente recorrer ao perdáo divino, lan-
caido-nos á sua misericordia, pois nossa salvacSo é escondida e está
cempre ameacada" (p. 98).

Só podemos agradecer ao Pe. Franga Miranda o seu b'ilhanle estudo


e recomendá-lo ao público.
MEJNSAGEM AOS JOVENS
SE...
(Com llcen?a de Klppllng e de outros SE's)

Pe. Héber Salvador de Lima, S.J.

SE VOCÉ PRECISAR DE DESCANSO,


NAO DESCANSE MUITO MAIS QUE O NECESSARIO,
PORQUE FERRO PARADO ENFERRUJA,
AGUA ESTAGNADA APODRECE...
E, ALÉM DISSO, TALVEZ MAIS TARDE FALTE TEMPO
P'RA TERMINAR A TAREFA DA EXISTENCIA,
E É TRÁGICO DEMAIS MORRER INACABADO.

SE VOCÉ FOR ALEGRE E FELIZ,


NAO RÍA ALTO DEMAIS,
PARA QUE SUA GARGALHADA
NAO VA TORNAR MAIS DOLOROSO
O GEMIDO DE ALGUÉM, NA CASA AO LADO.

SE, ÑAS DORES, VOCÉ SOLUCAR,


FACA-0 BAIXINHO, BEM NO FUNDO, BEM LA DENTRO,
PARA NAO APAGAR ALGUM SORRISO
NO SEMBLANTE DE ALGUÉM, NO ANDAR DE CIMA.

SE VOCÉ ESCORREGAR NA ESTRADA DA EXISTENCIA


E ATÉ MESMO CAIR MAIS DE UMA VEZ,
NAO FIQUE DEITADO NO SOLO CLAMANDO O DESTINO,
PORQUE LHE FALTA AÍNDA MUITO CHAO,
MUITO CAMINHO PARA ANDAR
E, ALÉM DISSO, VOCÉ SÓ VAI ATRAPALHAR
A PASSAGEM DOS OUTROS,
QUE PODEM TROPECAR NO SEU CORPO CAÍDO...
E, SE É TRISTE CAIR, MUITO MAIS TRISTE AÍNDA
É ARRASTARMOS ALGUÉM NA NOSSA QUEDA.

SE ALGUM DÍA, TALVEZ, VOCÉ PERDER A LINHA


E DER VAZÁO AO GRITO. A CÓLERA, A REVOLTA,
COM GANAS DE QUEBRAR O MUNDO A SEU REDOR,
NAO ARREBENTE TUDO, AMIGO, POR FAVOR,
PORQUE, ATRÁS DE VOCÉ, VEM MUITA GENTE AÍNDA,
QUE DESEJA ENCONTRAR O MUNDO INTEIRO E BELO.

SE VOCÉ ENCONTRAR UMA SEMENTÉ OU MUDA


DO RARO ARBUSTO DA FELICIDADE,
NAO VA PLANTA-LO EM SEU QUINTAL TODO CERCADO,
MAS SIM AO LADO DE UM CAMINHO FREQÜENTADO,
PARA QUE MUITOS POSSAM DESCANSAR A SUA SOMBRA
E COMER OS SEUS FRUTOS,
SEM PAGAR I

MAS, SE ENCONTRAR APENAS O CAMINHO


QUE LEVA A ESSA ARVORE BENDITA,
NAO VA POR ELE SOZINHO,
MAS FIQUE BEM A ENTRADA DELE
COM UM BRACO ESTENDIDO, ASSIM. . . COMO UMA FLEXA,
APONTANDO E D1ZENDO :
(Continua na 3? capa)

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