Sie sind auf Seite 1von 50

P rojeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESEISTTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atual idade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publ¡cacao.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confisca


depositada em nosso trabal no, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
CDNFfiDNTB
Sumario
Pdg.

VIDA E MORTE EM DUELO 133

"Conversas com um gorila" :


OS ANIMÁIS FALAM ? 135

Médicos, psicólogos e teólogos dlsculem :


TRANSEXUALISMO : COMO CURAR ? 151

Alilude .pastoral ?
BÉNCÁO PARA UNISES ILEGÍTIMAS ? 168

LIVROS EM ESTANTE 176

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

NO PRÓXIMO NÚMERO:

Um Estado islámico? — As financa; do Vaticano (I): quadro geral.


— As financas do Vaticano {II): objecoes e resposlas. — «Cálice»
de Chico Buarque e Gilberto Gil.

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

Número avulso de qualquer mes Cr$ 18,00

Assinatura anual Cr$ 180,00

Diregá'o e Redagao de Estévao Bettencourt O.S.B.

ADMINISTBAgAO
Livrarla Misslonária Editara REDAQAO DE PR
Rila México, 168-B (Gástelo)
Calxa Posta! 2.6S6
20.031 Rio de Janeiro (RJ)
Te!.: 224-0059 20.000 Rio ds Janeiro (RJ)
VIDA E MORTE EM DUII
«A morte e a vida se encontraran em duelo estupendo.
O Iíei da vida, tendo morrido, reina vivo!»
Sao estas as palavras com que no domingo de Páscoa a
S. Igreja saúda o Cristo Jesús.
A morte e a vida em duelo... Como isto é real! Diz-se
mesmo que a única certeza que a crianga possa ter, ao nas-
cer, é a de que morrerá.
Aos olhos da razáo humana, a morte talvez pareca um
enigma: brutal, ela corta a existencia terrestre da pessoa, nao
raro quando esta menos o espera. Alguns filósofos quiseram
enaltecer a morte como sendo o momento do supremo he
roísmo ... Parece, porém, um pouco artificial exaltar a morte
se ela é tida como mero fim ou se nao é seguida de outra
vida,... da vida definitiva.
Aos olhos da fé, a morte física toma sentido próprio e
altamente significativo. Com efeito, a S. Escritura associa a
morte ao pecado, afirmando que, embora a morte seja um fenó
meno natural, ela ocorre na historia concreta dos homens em
conseqüéncia do pecado: «Por meio de um só homem, o pecado
entrou no mundo e, pelo pecado, a morte» (Rm 5,12). Toda
vía Cristo quis assumir a morte do homem com todos os seus
precursores e déla fez o ato de suprema entrega ao Pai. Sim,
já ao entrar no mundo, dizia Jesús ao Pai: «Nao quiseste
sacrificio e oferenda. Tu, porém, me formaste um corpo...
Por isto eu digo: 'Eis-me aqui... Eu vim, ó Deus, para
fazer a tua vontade*» (Hb 10,5-7). Toda a existencia terres
tre de Cristo nao foi senáo a reafirmacáo constante dessa
entrega, de tal modo que a morte veio a ser a consumaQáo
da mesma. Assim Cristo resgatou a morte do homem; de
justa pena devida ao pecado, tornou-se a expressáo do amor
a Deus. Pode-se mesmo dizer; o segundo Adáo se fez obe
diente até a morte para redimir o caminho do primeiro Adáo,
que se fez desobediente até a morte (cf. Rm 5,14). A ressur-
reicáo corporal de Cristo é precisamente o sinal dessa con-
sumacáo.
Ora Cristo nao morreu e ressuscitou apenas como modelo
dos homens. Ele o fez também como sacramento. Isto quer
dizer: a vitória de Cristo sobre a morte se comunica aos
homens mediante os filetes dos sacramentos (especialmente
mediante o Batismo e a Eucaristía). Enxertado na morte e
na ressurreigáo de Cristo, o cristáo deve procurar traduzir
em atos essa comunháo com o Senhor: procure ás
todos os dias ao velho homem, dando assim pia&líló a que

— 133 —
o novo homem nele tome vulto; faga do seu definhar físico
ou biológico um paulatino morrer para o pecado! Dores,
doengas e tribulacóes permitidos pela Providencia Divina po-
dem perder o seu sinal negativo e tornar-se algo de positivo,
se aceites em uniáo com os de Cristo, pois concorrem para
libertar o cristáo do egoísmo e das paixóes desregradas. Se
ria para desejar que, ao término da caminhada presente, o
discípulo de Cristo nao tivesse mais nenhum resquicio de
cobica desordenada, mas estivesse penetrado até os seus mais
íntimos afetos pela vida nova recebida no Batismo e na Euca
ristía.
Vé-se, pois, que, para o cristáo, nao há morte sem mais;
ao contrario, a morte é sempre acompanhada de ressurreigáo,
como nota enfáticamente o Apóstelo: «Incessantemente e por
toda a parte, trazemos em nosso corpo a agonía de Jesús, a
fim de que a vida de Jesús seja também manifesta em nosso
corpo» (2Cor 4,10).
Das premissas se segué outrossim que a morte nao é um
ponto isolado na existencia do homem, mas está presente a
este todos os dias: «Morro diariamente», diz Sao Paulo (ICor
15,31). Da mesma forma, a eternidade nao é algo de mera
mente vindouro, mas é realidade que se entrelaza com o tempo
no decorrer mesmo da existencia terrestre do cristáo.
Entendemos entáo que os antigos fiéis chamassem o dia
da morte de um confrade «dies natalis», dia natalicio. Sim;
no momento da morte se termina a longa gestagáo que tem
inicio no seio materno sob a responsabilidade da genitora, e
que se continua na caminhada desta vida, sob a responsabili
dade do próprio sujeito. Todo homem na térra ainda está
em formacáo; a sua verdadeira e definitiva estatura, que é
interior, ainda nao foi atingida, mas só estará consumada ao
fim desta jornada terrestre!
Tais concepcóes sao aptas a revirar a nocáo de morte
que a natureza nos sugere. Importa ao cristáo tomar viva
consciéncia das mesmas c habituar-se a viver a entrega de
si com Cristo ao Pai a todo momento. Diz o adagio popular:
«Cada um morre como viveu» — o que significa: a última
etapa do nosso processo de formacáo interior será da Índole
das etapas anteriores;... será urna resposta pronta, solicita
e feliz ao chamado do Pai, se nos acostumarmos a ser pron
tos e solícitos todas as vezes que sentirmos um apelo do Se-
nhor no decorrer desta caminhada.
Queira, pois, o Senhor ressuscitado dar a todos os cris-
táos a auténtica vivencia da sua morte e ressurreigáo!-

E.B
— 134 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XX — N? 232 — Abril de 1979

"Conversas com um gorila" :

os animáis falam?
Em sínlese: O presente artigo comenta o relatório da psicóloga
Franclne (Penny) Patterson, publicado em "National Geographic" de outu-
bro 1978, a respeito da aprendizagem de sinals de comunicacSo por parte
da gorila fémea Koko. Os surpreendentes resultados a que chegou a pesqui
sado ra, parecem insinuar que o animal ¡nfra-humano também pode talar, ao
menos por sinais, como os surdo-mudos humanos.

Note-se, porém :

1) Seria preciso que outros pesqulsadores levassem a efeito seme-


Ihante estudo a fim de se terem dados mais copiosos e mais relatórios a
respeito do fenómeno. A base para reflexfio seria mais ampia e segura.

2) Mullos psicólogos e dentistas contemporáneos adotam a filosofía


cmpirista e neopositivista. Esta verifica os fenómenos e nSo procura as
causas dos mesmos; por consoguinte, se o gorila diz por sinals que senté
dor ou tem sede e o surdo-mudo humano faz o mesmo, concluem que o
gorila e o homem falam e tám inteligencia, sem investigar os porqués de
tal comportamento. Na verdade, o gorila pode exprimir sentimentos de dor,
sede, raiva, mas nSo é capaz de dissertar sobre o que é a dor, a sede, a
raiva... Pode agir por reflexos condicionados, mas nem por isto raciocina...

Ora Franclne Patterson talvez esteja talando llnguagem emplrlsta e


neopositivista. Dat a Importancia de que outros psicólogos prosslgam a
pesquisa, pois Isto oferecerá mals elementos para se julgar o caso e acarre-
taré diversas apreclacfies do fenómeno a partir de diversos pontos de vista.
Somente entSo será possivel tentar formular um julzo sobre o empolgante
caso da "fala do gorila".

• Comentario: A revista National Geographic, em seu nú


mero de outubro 1978, pp. 438-465, publicou um artigo da
autoría da psicóloga Francine (Penny) Patterson, que, sob o
título «Conversations with a gorilla», narra experiencias rea
lizadas com a gorila fémea Koko, que naquela data tinha
sete anos de idade. Vislo que o animal 6 incapaz de emitir

— 135 —
4 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/1979

sons característicos de linguagem oral, a psicóloga ensinou a


KoJso os sinais da linguagem dos surdo-mudos. Após seis
anos de treinamento, trancme Patterson, candidata a douto-
rado na Stanford University (U.S.A.), estima ter o vocabu
lario de Koko 375 sinais, incluindo os de aviáo, umbigo, piru-
üto, amigo... Segundo a pesquisadora, Koko responde a per-
guntas e póe questóes; revela estar triste ou alegre; é capaz
ae mostrar bom humor, de injuriar e de mentir...

É precisamente o teor de tais experiencias que vamos


abaixo resumir; á descrigáo seguir-se-áo breves observares
suscitadas pelo próprio teor dos elementos descritos. Trans
mitiremos de maneira objetiva o relato da psicóloga; só depois
passaremos aos comentarios respectivos.

1. A narrasño de Francine Patterson

1.1. Origem da pesquisa

Francine Patterson em 1970 candidatou-se ao doutorado


em Psicología na Universidade de Stanford, escolhendo, para
objeto de suas pesquisas, primatas infra-humanos. Em 1971,
duas colegas — R. Alien e Beatrice Gardner — narraram-
-Ihe o éxito obtido na aprendizagem proposta a Washoe, urna
fémea de chimpanzé. As duas psicólogas haviam ensinado a
Washoe a linguagem dos surdo-mudos (American Sign Lan-
guage, Ameslan), utilizada por 200.000 pacientes humanos;
ora a chimpanzé fémea aprendeu 34 sinais durante os pri-
meiros 22 meses de treinamento; em cinco anos Washoe, em
1970, tinha aprendido 132 sinais, que ela usava em combina-
góes semelhantes as que fazem as criangas quando comegam
a se exprimir.

Ao ouvir a explanacáo de tais experiencias, Fr. Patterson


resolveu dedicar-se aos chimpanzés. Eis, porém, que, ao visi
tar o Jardim Zoológico de San Francisco, preferiu exercitar
urna gorila fémea, que tinha apenas um ano de idade e tra-
zia o nome de Hanabi-Ko (o que em japonés significa «filha
dos fogos de artificio») e o apelido de Koko. O treinamento
teve inicio em julho de 1972 e prosseguiu anos a fio, enquanto
o animal ia atingindo o seu peso definitivo de 250 libras \

libra británica equivale a 453,6 g.

— 136 —
OS ANIMÁIS FALAM?

A principio, Koko reagia agressivamente ás tentativas de


aprendizado, chegando a morder mais de urna vez a sua mes-
tra. Aos poucos, porém, a resistencia foi sendo vencida: o
animal aprendeu os sinais para exprimir «beber» e «mais».
Nos primeiros dezoito meses, foi assimilando um sinal por
mes, em media. Após trinta e seis meses de treinamento, já
utilizava 184 sinais. Na idade de quatro anos e meio, ou seja,
após tres anos e meio de exercício, possuia o dominio de 222
sinais. Com seis anos e meio de idade, Koko havia emitido,
de modo correto, 645 sinais diferentes; habitualmente, porém,
usa cerca de 375 apenas.

1.2. Regíme de vidg

Para facilitar a aprendizagem de Koko, a psicóloga pro-


videnciou em 1974 instalacóes domiciliares e um regime de
vida oportunos no «campus» da Stanford University.

Tratava-se de urna casa pré-fabricada dotada de sala de


estar, pequeño quarto de dormir com seu corredor de acesso,
banheiro, cozinha... As janelas da sala de estar eram mu
nidas de cortina, a fim de impedir comunicagóes do interior
da casa com o exterior e vice-versa. A sala de estar apre-
sentava urna barra para exercícios e um trapézio. A casa
era mobiliada com cadeiras, leitos, geladeira, Iivros, brinque-
dos, espelhos, plantas, etc. — Em setembro de 1976, o gorila
macho Michael foi recebido sob o mesmo teto, a fim de ser
submetido a semelhante aprendizagem, ficando ele em com
partimentos próprios, separados dos de Koko.

A fémea, sendo extremamente curiosa a respeito da ma-


neira como os objetos sao constituidos, nunca pode ter um
colcháo em sua cama; com seus dentes poderosos, ela des-
mantelou todos os que lhe foram oferecidos. Ela prefere pre
parar para si um bergo com toalhas e muitas almofadas.

Koko levanta-se ás 8h ou 8h 30min da manhá, ouando


Penny, a mestra, e sua asslstente Ann Southcombe chee^im
ao domicilio. As vezes, Michael a faz levantar mais cedo.
Toma seu desiejum, que consta de pao de cereais, leite e fru
tas. A seguir, ajuda na limoeza dos quartos. Feito isto,
feralmente ela recebe a primeira aula do día, com a duracáo
de trinta minutos. Segue-se cerca de urna hora em que Koko

— 137 —
6 «PERGUNTIC E RESPONDEREMOS» 232/1979

e Michael brincam de esconder, de cagar, de combate corpo


a corpo... Por fim, ocorre mais urna licáo de linguagem por
sinais.

Ás 13h Koko toma breve refeicáo: um ovo ou carne,


suco e um tablete de vitaminas. As 14h ou 14h 30 min, come
um sanduiche com manteiga e presunto. Ás 15h há outra
sessáo de brincadeiras com Milte ou passeio com Francine a
pé ou de carro.

Ás 17h serve-se a Koko o jantar, que consta quase exclu


sivamente de vegetáis: ela prefere espigas de milho e toma
tes, cogumelos e rabanetes; menos gosta de espinafre e cenou-
ras; tem horror a azeitonas! Aprecia especialmente os ali
mentos mais caros, como alcachofras, aspargos, etc. Se Koko
come tudo o que está em seu prato, ainda recebe urna sobre
mesa, como frutas secas, queijo, pao doce, bolinhos, geléias...

Após o jantar, Koko ou se entrega á inspegáo de um


livro ou pintura, ou faz um ninho suave com os seus cober
tores, ou brinca com as suas bonecas (aplicando a orelha da
boneca a sua própria orelha, diz ela: «Esta orelha»).

Após terem escovado os dcntes, os dois gorilas se deitam


entre 7h e 7h 30min; Koko toma entáo urna iguaria (fruta,
nao raro), que Ihc torna agradável a hora de se deitar.

Em fins de semana ou em outras ocasióes ñas quais o


«campus» universitario está tranquilo, Koko, Michael, Ann e
Francine saem de carro a passeio. Os dois animáis se deixam
absorver de tal modo pelas cenas avistadas que permanecem
tranquilos em seus assentos. Ocasionalmente Koko faz sinais
indicando aonde quer ir. No veráo a comitiva se diric;e para
as colinas Djerassi, onde os gorilas tém a oportunidade de
trepar ñas árvores como se estivessem em seu habitat natural.

Como se vé, nao poderia Koko receber melhor trata-


mfinto: vem a ser considerada como prinreza que coza de
todo o carinho, a fim de que a sua anrendizawn nossa pro-
duzir os melhores efeitos: »m fevereiro de 1975. d'* a nsi-
fíóloea que o seu QI era de 84 na escala da Stanford-Bine
Tntellipence: cinco meses depois, com a idade de nuatro anos,
tinha cheotado a 95. pouco abaixo da media de urna crianca:
em Janeiro de 197R. porém. regrediu para 85, segundo um
ritmo oscilatorio nao estranho.

— 138 —
OS ANIMÁIS FALAM?

Importa agora considerar algumas das expressóes de


«inteligencia» e linguagem que Francine Patterson atribuí a
Koko.

1.3. Técnicas de aprendizagem

A fim de facilitar a aprendizagem de Koko, Francine


Patterson costumava pronunciar ou mesmo soletrar as pala-
vras correspondentes aos sinais transmitidos ao animal. Koko
assim compreende centenas de palavras oráis da língua in
glesa, embora nao as possa reproduzir vocalmente.

Além disto, tém sido utilizados recursos tecnológicos. O


Prof. Patrick Suppes e seus colegas do Stanford's Institute
for Mathematical Studies in the Social Sciences conceberam
um computador dotado de teclado próprio: cada tecla corres
ponde a urna letra, a um número ou mesmo a urna palavra
significativa de algum objeto; em conseqüéncia, ao premer as
diversas teclas, Koko ouve o som correspondente em inglés;
assim vai habituando o ouvido ao vocabulario inglés — o que
facilita acompanhar posteriormente as palavras e frases que
a psicóloga lhe dirige.

No decurso do treinamento, Koko conseguiu responder


adequadamente a frases ou interpelacóes que lhe foram diri
gidas em inglés; nao raro chegou a traduzir em sinais as
palavras oráis que ouviu. Assim interrogada em inglés: «Do
you want a taste of butter? (Vocé quer um pouco de man- •
teiga?)», respondeu por sinais: «A taste of butter (um pouco
de manteiga)».

Quando a psicóloga colocava diante de Koko urna maga,


ela as vezes premia as teclas significativas de «querer»,
«maga», «comer», e o computador emitía urna voz feminina
que proferia tais palavras. Assim Koko indiretamente conse-
gue produzir os vocábulos ingleses significativos de objetos,
idéias e acóes já incluidos em seu repertorio de sinais.

Mais: a psicóloga obteve novo requinte da parte do ani


mal, a saber: usando o indicador da máo direita para bater
no teclado e reservando a esquerda para fazer sinais, Koko
chegou a emitir sinais e (indiretamente) palavras ao mesmo
tempo. Ao produzir sinais, o animal pode também bater a
máquina urna palavra ou urna frase idéntica ou complemen
tar ao sinal; assim o computador traduz em palavras a men-

— 139 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/1979

sagem de Koko. Esta, conforme Francine, vem a ser «an


ambidextrons and bilingual gorilla» (urna gorila ambidestra
e bilingüe)!

É de se notar também, conforme a psicóloga, que o ani


mal responde a centenas de palavras sem recorrer ao compu
tador e sem teclado, mas emitindo sons vocálicos. Acontece,
porém, que o vocabulario oral de Koko é restrito a 46 pala
vras, visto que o animal carece da configuragáo bucal neces-
sária para emitir linguagem oral.

Em setembro de 1976, foi dado um companheiro a Koko,


a saber: o gorila macho Michael, que na época tinha tres
anos e meio de idade. Michael (ou Mike) foi submetido ao
aprendizado da linguagem dos sinais por obra da psicóloga
Ann Southcombe; também Koko participou dessa tarefa, ten
tando ensinar a Mike os sinais representativos de Koko e de
«cócega». O macho, porém, até outubro de 1978 só havia
havia adquirido o uso de 35 sinais!

No comeco de 1978, Mike procurou os sinais exatos para


convencer Ann de que devia deixar brincasse com Koko.
Cíente disto, a fémea pós-se a esperá-lo com impaciencia em
seu cubículo; fez sinais para Mike através de um fio que ligava
o seu quarto ao do macho, dizendo-lhe entre outras coisas:
«Koko bom abraco». Finalmente Mike emitiu o gesto repre
sentativo de «Koko». Esta, aliviada, respondeu: «Bom conhe-
cer Mike» e, a seguir: «Para dentro Mike».

1.4. Expressóes de «inteligencia» e linguagem

Passamos agora a relatar algumas das experiencias con


cretas que Penny descreve em seu artigo, respeitando sem-
pre a maneira como a psicóloga as propóe. Tentaremos agru
par tais episodios sob subtítulos genéricos.

a) Manifestasen) e recorda$5o de emo$Ses

1. Koko dá provas de empatia em relagáo a animáis


que ela avista. Tendo encontrado um cávalo com um freio
na boca, fez sinal para dizer: «Cávalo triste». Interrogada
sobre o motivo da tristeza do cávalo, respondeu: «Dentes».

— 140 —
OS ANIMÁIS FALAM?

2. Ao ver a fotografía de famoso gorila albino Snow-


flake (floco de nevé) que relutava contra um banho, Kokó
(a qual também repudia banhos) assinalou: «Eu gritar ali»,
enquanto apontava para a fotografía.

3. Quanto a recordaQáo de emogóes, narra Francine


Patterson:

"Koko e eu tlvemos significativa conversa a respeito de mordaz Inci


dente. Mlnha maneira de recordá-lo, tres días depois de ocorrido, fol apro
ximadamente a seguinte:

Eu: 'Que fez vocé a Penny ?'

Koko: 'Morder' (Koko, na ocasISo do Incidente, chamava isso arranhar).

Eu : 'Vocé admite isso ?'

Koko: "Pesarosa, morder, arranhar'.

(Nesse momento, mostrei a Koko a marca em minha máo; parecia


ser realmente um arranháo).

Koko : 'Ofensa morder'.

Eu : 'Por que morder ?'

Koko: 'Porque furiosa'.

Eu : 'Por que furiosa ?'

Koko : 'Nao sei I' ".

Este diálogo surpreendeu Fr. Patterson porque o animal


manifestava ter memoria ou a recordacáo de haver mordido
sua mestra; todavía nao sabia indicar a causa por que come
terá tal agressáo.

b) Oiscussáo

1. Segundo Francine Patterson, Koko gosta de discutir


e nao foge mesmo a injuriar o interlocutor.

Como .exemplo disto, cita a psicóloga o seguinte caso:

Em 1977, as 6h de urna tarde de primavera, Francine


entrou no quarto de Koko para pó-la na cama. Foi saudada
por Cathy Ransom, urna das suas assistentes (alias, surda),
que lhe referiu urna discussáo ocorrida entre ela e Koko.
Francine poderia ter-se assustado ao saber que frágil mulher
se defrontara com urna fémea de gorila robusta na idade dos

— 141 —
10 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/1979

seis anos. Todavía Cathy ria-se do ocorrido; registrara em


um caderno de apontamentos as respostas que, durante a dis-
cussáo, Koko ia dando á sua preceptora.

A discussáo comejou quando Cathy mostrou ao animal


a fotografía deste em forma 3e cartaz destinado a arrecadar
fundos numa oampanha em prol da pesquisa da «inteligéncia>
gorila.

Gesticulando, Cathy perguntou a Koko:

«Que é isto?»

«Gorila», respondeu Koko.

«Quem gorila?», interrogou Cathy.

«Pássaro», respondeu Koko pirracenta, dando inicio a


certa agressividade.

«Vocé pássaro?», indagou Cathy.

«Vocé», contestou Koko.

«Nao eu, vocé é pássaro», retrucou Cathy, na certeza de


que «pássaro» era urna injuria no vocabulario de Koko.

«Eu gorila», afirmou Koko.

«Quem é pássaro?» perguntou Cathy.

«Vocé é noz», replicou Koko, recorrendo a outra de suas


palavras ofensivas (para Koko, pássaro e noz sao vocábulos
que podem ter sentido pejorativo, de acordó com as circuns
tancias em que sao utilizadas).

«Por que eu noz?» indagou Cathy.

«Noz, noz», assinalou Koko.

«Vocé noz, eu nao», retrucou Cathy.

Finalmente Koko desistiu do coloquio. Queixosa, ela ainda


disse:

«Condenar-me boa».

E foi-se embora, exclamando:

«Má!»

— 142 —
OS ANIMÁIS FALAM? __11

2. Em certa ocasiáo, depois de ter arrancado lirios de


um campo de flores pela segunda vez, Koko foi severamente
repreendida por Penny. Entáo pos as máos na cabega, signi-,
ficando estar perturbada. Penny continuou o diálogo, pergun-
tando-lhe: «Que fez vocé?» Koko desviou o olhar e respon
deu resignadamente: «Segunda vez».

3. Em conseqüéncia de mau comportamento, Penny


aplica a Koko urna punigáo: manda que vá para um canto
do quarto e que fique de semblante virado para as paredes.
Quando a falta cometida é de pouca monta, o animal pede
perdáo, breve intervalo após ter sido punido. Quando, porém,
a repreensáo é mais severa, Koko logo se vira para Penny,
manifesta estar triste, e pede um abrago.

4. Koko apresenta outras reacóes as censuras que


recebe.

Durante urna sessáo de filme de televisáo, certa vez Fran-


cine se afastou do saláo; Koko entáo tentou roubar um cacho
de uvas que se achava numa tigela. A psicóloga censurou-a,
ao verificá-lo: «Deixe de roubar. Nao seja táo gulosa. Seja
educada. Pega-me o que deseja. Roubar é feio, feio, como
morder e ferir os outros sao coisas feias». E prosseguiu
Francine: «Que faz Penny que seja ruim?» Respondeu Koko:
«Quebrar coisas, mentir, dizer-me 'educada* (quando estou)
com fome».

c) Mentiras de Koko

Penny, através de suas experiencias, convenceu-se de que


Koko tinha a capacidade de mentir para tentar livrar-se de
situagóes embarazosas, a semelhanc;a do que acontece entre
os homens. Para a psicóloga, trata-se de mentiras propria-
mente ditas ou deturpacóes da verdade, e nao simplesmente
de engaños ou falhas cometidas pela aprendiz.

1. Tinha cinco anos quando a gorila descobriu a «arte»


de mentir. Urna das primeiras mentiras versava sobre a
reconstituicáo de um acontecimento passado. Com efeito, a
assistente de Penny, a Sta. Kate Mann, estava na cozinha
da casa de Koko, ocupada com a balanga, quando a gorila
se arremessou sobre a pía da cozinha, fazendo que esta se

— 143 —
12 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/1979

deslocasse e caisse. Mais tarde, Francine perguntou a Koko


se ela havia quebrado a pía; respondeu-lhe entáo a gorila:
«Kate ali má», e apontou para a pia. «Naturalmente, observa
Penny, Koko jamáis podía imaginar que eu nao aceitaría a
idéia de que Kate se comprazia em quebrar pias!»

2. Eis outra mentira, que a psicóloga julga surpreen-


dentemente ingeniosa (startlingly ingenious):

Certa vez, quando Penny estava ocupada a escrever,


Koko pegou um lápis vermelho e comecou a roé-lo. Logo que
o percebeu, disse-lhe Francine: «Vocé está comendo um lápis?»
Entáo a gorila fez o sinal de «labio», e pós-se a passar o lápis
sobre o labio inferior e, depois, sobre o labio superior como
se Ihes estivesse aplicando «batom»!

3. Enquanto Penny lhe dava as costas, certa vez, Koko


apoderou-se de urna vara que estava numa gaveta; dirigiu-se
de mansinho para urna janela e tentou abrir um buraco atra-
vés da tela desta.

Colhida em flagrante, Koko fez como se estivesse fumando


a vara.

Penny entáo tomou esse bastáo ñas máos e, com um


olhar acusador, perguntou a Koko o que acontecerá.

Muito calmo e firme, o animal respondeu com o sinal


«fumar», acompanhado do gesto significativo de boca. Isto
insinuava que Koko estava fumando. — Tal era a mentira
que a gorila queria incutir á sua mestra.

4. De outra feita, Koko sujou violentamente as pare


des da sala durante a ausencia de Penny. Esta, ao voltar, per-
guntou-lhe por que assim procederá. Koko asseverou entáo
que tinha estado «Boa, quieta, eu quieta».

d) Caprichos e desobediencia.. .

Diz Penny que Koko é caprichosa como o sao as crian-


gas. Eis alguns fatos que parecem fundamentar tal assergáo.

De urna feita, urna colega de Penny — Barbara Hiller —


viu Koko fazer o sinal: «Isto vermelho», enquanto preparava

— 144 —
OS ANIMÁIS FALAM? 13

para si um aconchego com urna toalha branca. Barbara lhe


disse: «Vocé sabe melhor, Koko. Que cor é essa?» Koko
insistiu afirmando: «Vermelho, vermelho, vermelho!» Por fim,
mostrou um fiozinho vennelho que estava sobre a toalha
branca. E pós-se a sorrir maliciosamente.

Outra vez, depois de longos esforgos de Barbara para


que Koko fizesse o sinal «Beber», a gorila executou tal sinal
com grande perfeicáo, junto ao ouvido de Barbara. E tam-
bém p6s-se a sorrir maliciosamente...!

As vezes, Koko se compraz em responder a Penny exata-


mente no sentido contrario áquele que a mestra lhe propóe.

Um dia a psicóloga pediu a Koko que colocasse um ani


mal de paño (brinquedo) debaixo de urna sacóla na sala em
que estavam. A gorila entáo tomou o brinquedo, e fez todo
o seu possível para atirá-lo contra o teto.

As vezes, Koko se revela táo manhosa que, para obter


déla alguma coisa, é conveniente dar-se-lhe a ordem contraria.
Assim, por exemplo, o animal estava deteriorando colheres
de plástico com prejuizo para os seus mestres. Disse-lhe entáo
a assistente Ron Cohn: «Bom quebrá-las». Em conseqüéncia,
Koko interrompeu o que fazia e passou a oscular as colheres.

Em tais ocasióes, Koko parece saber que se está com


portando mal; diante das repreensóes que Penny entáo lhe
dirige, a gorila declara ser «um demonio cabecudo».

e) Identificando.. .

Koko reconhece e identifica objetos com certa sutileza...,


diz a psicóloga.

Perguntou-lhe Francine: «Que é um fogáo?» A gorila


apontou para um fogáo. — «Que faz vocé com isso?» — «Co-
zinhar!», responde Koko.

«Que é urna laranja?», indagou Francine. — «Alimento,


bebida».

Continuou Francine: «Diga-me algo que vocé julga ser


engranado». Koko respondeu: «Nariz ali», apontando para o

— 145 —
14 ePERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/1979

bico de um pássaro de paño. Ou ainda Koko: «Aquele verme-


Iho!», mostrando urna rá de plástico verde.

Quando Francine aplica um estetoscopio aos seus ouvi-


dos, Koko sorri maliciosamente e coloca os dedos sobre os
seus olhos.

Koko foi afetada por brando disturbio respiratorio. In-


dagou Francine: «Onde é que vocé senté dor?» Koko assi-
nalou: «Debaixo dos bracos».

Concluí a psicóloga suas observagóes dizendo que a gorila


concebe a estima de si mesma. Interrogou-a certa vez: «Vocé
é um animal ou urna pessoa?» Imediatamente respondeu Koko:
«Bonito animal gorila (Bine animal gorilla)».

f) Fotografiando...

Francine Patterson obteve que Koko também se interes-


sasse, e com prazer, pelo uso de um aparelho fotográfico.
Pós-lhe ñas máos urna camera de 35 mm, assaz complexa.
Verificou entáo que o animal se deleitava em contemplar o
claráo de luz emitido pelo aparelho quando devidamente acio-
nado. Koko chegou a tirar urna fotografía de si mesma pro-
jetada no espelho do seu quarto. Ao ver tal fotografía, o
animal identificou a si e fez o sinal: «Love camera (Amar
camera)».

g) Desenliando. . .

Em dada ocasiáo, depois que Penny conversara com Koko


a propósito de aranhas, a gorila tomou um lápis e tracou
rabiscos negros sobre um pedago de papel. Explicou entáo:
«Aranhas». Tragou também rabiscos cor de laranja, que, con
forme Koko, vinham a ser a imagem do copo em que bebia.

Muitos outros episodios poderiam ainda ser referidos a


partir do artigo de Francine Patterson. Todavia os que se
acham aqui mencionados, já constituem base suficiente para
a reflexáo filosófica que se impóe a respeito.

— 146 —
OS ANIMÁIS FALAM? 15

2, Algumas ponderales sobre os fenómenos

As experiencias de Francine Patterson sao aptas a des


pertar enorme interesse. Vém a ser algo de inédito na his
toria das pesquisas psicológicas; abrem assim vasto campo
para se entender o psiquismo dos animáis infra-humanos.

Á primeira vista, os resultados obtidos pela mestra pare-


cem corroborar a tese, já enunciada por alguns antropólogos
contemporáneos, segundo a qual o homem nao seria mais do
que um macaco aperfeigoado. A própria autora nao deixa
de salientar o apagamento da distancia que, segundo os clás-
sicos conceitos, sempre separou o homem e o macaco entre
si. Sao palavras de Francine Patterson:

"Quando Koko usa a linguagem para fazer um chiste, para exprimir seu
desagrado ou para mentir saindo de urna situaclo difícil, ela está explo
rando o linguajar como nos, seres humanos, o fazemos. Por certo, há al
um progresso lingüístico, embora talvez nao um progresso moral.

O que torna estas coisas assustadoras — até para mim, que há seis
anos venho tostemunhando tais Incidentes — é que Koko, segundo as con
ceptees, geralmente aceitas, de animal e de nalureza humana, nao deveria
ser capaz de realizar qualquer desses (eitos. Tal comportamento tero sido
tradicionalmente considerado como exclusivo do ser humano; nio obstante,
há aqui um gorila que usa linguagem" (art. clt., p. 440.).

"Servindo-se da linguagem dos sinais — familiar aos mudos —, Koko


ndo so tornou a nos, seus companheiros humanos, cientes das prendas da
sua especie, mas também deu-nos a conhecer que ela participa dos senti-
mentos que geralmente sao tldos como prerrogativas dos seres humanos"
(art. clt., p. 436).

Visto que as conseqüéncias de tais observagóes sao de


grande monta, proporemos, a seguir, dois pontos á reflexáo
do leitor.

2.1. Os fotos básicos

Quando fatos concretos sao apresentados á discussáo dos


filósofos, psicólogos, antropólogos..., importa, antes do mais,
ter relatos objetivos e fidedignos de tais ocorréncias. Ora
quem refere as suas experiencias, nao raro tende a interpre-
tá-las simultáneamente ou, com outras palavras, refere-as a
partir das premissas filosóficas que lhe sao próprias; assim
o leitor recebe nao somente a noticia fria e objetiva das

— 147 —
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/1979

ocurrencias, mas é, ao mesmo tempo, sugestionado a aceitar


determinada interpretagáo de tais fatos ou dados empíricos.

Com isto nao queremos necessaríamente dizer que a psi-


cóloga Francine Patterson tenha retocado a realidade dos
fatos ou naja apresentado um relato pouco fidedigno. Ape
nas chamamos a atencáo para urna norma fundamental de
metodología científica: antes de qualquer discussáo filosófica,
é necessário estabelecer com exatidáo o teor, as dimensdes
ou a realidade dos fatos empíricos a ser discutidos.

É muito significativo o que tem ocorrido em outros cam


pos de pesquisa: assim, por exemplo, no tocante á reencar-
nagáo, as revistas noticiaram em 1955 e 1956 ter sido com-
provada pelas experiencias de Morey Bernstein referentes a
Sra. Virginia Tighe (= Bridey Murphy, em suposta encar-
nagáo anterior). Quem lesse os noticiarios dos periódicos
naquela época, daría a tese como firmada e confirmada pelos
estudos de Bernstein. Ora pouco depois entraram em foco
elementos novos apresentados pelo pastor protestante Wally
White. Este estudioso conhecia Virginia Tighe desde a juven-
tude; quando leu o relato das experiencias a que fora subme-
tida, resolveu entrar em cena e comunicar dados novos, des-
conhecidos, que dispensavam a interpretacáo reencarnado-
nista e elucidavam os fatos de maneira simples e satisfatória.
Semelhantes casos tém ocorrido na historia das pesquisas:
já houve relatos de experiencias que pareciam, em sua época,
comprovar urna tese filosófica nova e revolucionaria, mas que,
com o tempo, foram reconsiderados de maneira objetiva, evi-
denciando-se entáo que nao tinham o alcance filosófico que
se Ihes atribuía. Verificou-se que os primeiros relatos de tais
experiencias nao foram relatos puramente científicos, mas
foram também interpretacóes pessoais e subjetivas de fatos
objetivos (tais interpretagóes nao depóem contra a honesti-
dade dos dentistas que as propuseram, pois estes geralmente
procederam de boa fé e mais ou menos inconscientemente);
é, sim, espontáneo ao ser humano interpretar os fatos ao
mesmo tempo que os descreve, ou apresentar os dados histó
ricos a partir de suas premissas filosóficas.

No caso, pois, das «conversas com um gorila» relatadas


por Fr. Patterson, a metodología científica sugere que se
continuem as experiencias e que outros pesquisadores divul-
guem seus relatóríos, de modo a se ter um acervo de dados

— 148 —
OS ANIMÁIS FALAM? 17

numerosos e variados provenientes de fontes diversas; sobre


tal base será mais fácil debater os aspectos filosóficos e ten
tar chegar a interpretacóes verídicas. É pelo confronto de
relatórios e de interpretacóes que se pode chegar ao conheci-
mento objetivo da verdade latente.

2.2. Empirismo e essenrfalismo

A psicología moderna apresenta, entre outras correntes,


a do empirismo, que se difundiu principalmente nos países de
Hngua inglesa. Está outrossim muito influenciada pelo posi
tivismo e o neopositivismo. Estas escolas apenas registram
dados empíricos ou fenómenos e renunciam a procurar cau
sas nao empíricas (causas metafísicas) para os mesmos; veri-
ficam que o fenómeno A se segué ao fenómeno B e renun
ciam a procurar saber se existe relagáo de causalidade entre
A e B e, eventualmente, qual seria essa causalidade. De modo
especial, note-se: a psicología que o empirismo inspira, é urna
psicología sem «anima» ou sem sujeito definido dos fatos psi
cológicos; ela se limita á descrigáo fenomenológioa dos fatos
psíquicos. Por isto, quando Francine Patterson diz que o com-
portamento do gorila é semelhante (ou mesmo idéntico) ao
do ser humano, guardando apenas diferenca gradativa em
relacáo a este, póe-se legítimamente a pergunta: que entende
a psicóloga por «semelhante» ou «idéntico» no caso? — Re-
conhecemos, sim, a semelhanca das atitudes que ela atribuí á
gorila com aquilo que o ser humano geralmente pratica. Tra-
ta-se de semelhanca de fenómenos ou de dados experimen
táis, que nao implica necessariamente identidade de esséncia
ou de consciéncia psicológica. Dizemos que o animal pré-
-humano e o homem sao capazes de exprimir sentimentos e
afetos, mas só o homem emite conceitos ou tem pensamento
e linguagem conceituais. Com outras palavras: o homem e o
gorila sao aptos a dizer que concebem afetos de simpatía ou
que sentem dor, mas somente o homem é capaz de dissertar
sobre a simpatía, o amor e a dor. O animal é capaz de pedir
agua para beber, para refrescar-se ou para lavar-se, porque
ele pode experimentar os efeitos da agua e, por conseguinte,
pode desejar experimentá-los; todavía só o homem é apto a
discorrer sobre a agua, enunciando, de maneira teórica e
especulativa (nao pragmática), o que a agua é e aquilo de
que ela se compóe.

— 149 —
18 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS--- 232/1979

Ora um psicólogo empirista contenta-se com a descricáo


dos fenómenos experimentados ou averiguados e, na base de
tais averiguaeóes, estabelece confrontos e afirma semelhancas
ou identidades. Todavía o filósofo que nao seja meramente
empirista, mas que, através dos fenómenos, analisa as estru-
turas do ser e sonda as esséncias de cada qual, poderá ver
diferencas esscnciais por detrás de idénticos comportamentos
fenomenais ou empíricos. Ora, se Francine Patterson adota a
filosofía empirista, entender-se-á que ela tenha conceito de
Hnguagem diferente daquilo que se entende por linguagem
humana em filosofía clássica. Em conseqüéncia, o seu rela-
tório nao será suficiente para se dizer que o gorila e o homem
diferem entre si apenas por graus de perfeigáo no tocante a
linguagem.

É com estas reflexóes que apresentamos no presente


artigo a sintese do relatório de Fr. Patterson em «National
Geographic». Trata-se de intercssante exposigáo, a qual, po-
rém, nao basta para se poderem tirar conclusoes seguras
sobre diferenca ou identidade entre o homem e os animáis
inferiores. Asseveramos, como em PR 226/1978, pp. 423-434
e 227/1978, pp. 475-481, que o homem é dotado de alma inte
lectiva, a qual é espiritual, ao passo que qualquer animal
infra-humano é vivificado por alma sensitiva, meramente ma
terial. Entre o grau de vida sensitivo e o intelectivo nao há
meio-termo, como nao o há entre materia e espirito. Esta
fica sendo característica do ser humano. Só o homem é capaz
de conceber nocóes universais ou definicóes, abstraindo dos
objetos sensíveis e materiais que o cercam, os conceitos ima-
teriais ou essenciais que se realizam nesses diversos objetos.
O homem apreende as esséncias ou as notas constitutivas,
estruturais dos seres que o cercam, ao passo que o animal
inferior apsnas constata os fenómenos concretos e os conca
tena entre si com o auxilio da sua memoria sensitiva. Ora
tal operado supóe urna faculdade ¡material ou espiritual que
se chama «o intelecto» e que é a expressáo da alma intelec
tiva ou espiritual própria do ser humano.
A propósito citamos, dentro ampia bibliografía,
ADLER, MORTIMER J.. The dlflerence of Man and the Dlfference It
Makes. Hclt. Rlnehart and Winston, New York 1S67.

LANC3ER, SUSANNE K, Philosophy In a new Koy. A study in the sym-


bcllsm of Rsason, Rite and Art. A Mentor Book, 7th ed., publlshed by the
New Arr.cncan LIbrary, New York 1955.

FA".G!N, G. Empi;ismo, in Enciclopedia Filosófica I. Venezia-Roma 1957,


cois. 1878-1894.

— 150 —
Médicos, psicólogos e teólogos discutem:

transexualismo: como curar?

Em síntese: O transexualismo — caso de quem tem psiquismo feml-


nino e organismo masculino — vem sendo objeto de especiáis estudos por
parte de médicos, psicólogos e moralistas.

Visto constituir terreno ainda pouco explorado, podem-se admitir duas


tentativas de solucfio para o problema:

— a cirurgia plástica, que visa a adaptar, na medida do possível, o


organismo ao psiquismo do paciente. Tal Intervencáo ó aceita em países
europeus e em Estados norte-americanos, que permitem mesmo ao paciente
mudar o registro civil de seu sexo;

— o tratamento psicoterápico, por via de hipnose. Esta tentativa de


solucáo é mais recente do que a prlmeira e vai sendo estudada mediante
pesquisas que tendem a se aprlmorar, em vista de fornecer ao probloma
uma nova e auténtica salda.

Do ponto de vista cristáo, a operacáo plástica so é licita se se pode


dizer que o individuo transexual é mulher que tem organismo de homem,
pois ao cirurgiáo toca apenas ratificar e restaurar a natureza humana,
respeitando-a com as suas leis próprlas. Ora as pesquisas psicoterápicas
mostram que nem todos os individuos transexuais sao mulheres e tém que
viver como mulheres. Em certos casos, a operagño plástica, por mais dese-
jada que se)a pelo paciente, pode fazer deste uma falsa mulher ou um
monstro. Daí a importancia que vém assumindo as pesquisas psicoterápicas.

Enquanto o terreno do transexualismo é obscuro, pode-se dizer que


iica sendo licita a operacSo plástica, desde que prudentemente se possa
concluir que o paciente tem o direito natural de viver como mulher. Os
estudos psicoterápicos, porém, poderáo contribuir para melhor se diagnos
ticar e compreender o fenómeno do transexualismo e dar-lhe, em alguna
casos ao menos, o tratamento mais científico, mais auténtico e mais cristáo.

O presente artigo se documenta e enriquece com as recentes pes


quisas hipnoterápicas levadas a efeito no campo da transexualidade pelo
Dr. Luís Machado Lomba.

Comentario: Chamou vivamente a atengáo do público o


caso de famoso cirurgiáo plástico, que realizou em 1971 uma
operacáo no jovem N.N., a fim de mudar-lhe o sexo, visto
que o rapaz tinha psiquismo feminino e fazia absoluta ques-

— 151 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 232/1979

táo de ser tido como mulher. Condenado em outubro de 1978


a dois anos de prisáo pelo juiz Adalberto Spagnolo, o médico
Dr. Fariña obteve a suspensáo condicional da pena por dois
anos e continua a exercer a profissáo sem ter recebido qual-
quer censura do Conselho Regional de Medicina de Sao Paulo.

Eis a noticia publicada pelo «Jornal do Brasil» em outu


bro de 1978:

"S9o Paulo — O Juiz da 1? Instancia, Adalberto Spagnolo, condenou


ontem a dois anos de prisáo, com beneficio do sursls, o clrurglSo plástico
Roberto Fariña, que realizou urna operacSo de reversáo sexual em Valdlr
Noguelra (hoje Valdirene), em dezembro de 1971.

Na sentenca, o Juiz expressa que essa operacSo, na realldade, confi


gura crime de lesees corporals dolosas, de natureza gravlsslma, já que é
urna mutilacáo de caráter Irreversível, imposta ao paciente que sofre a
ablagao dos órgSos sexuais.

PROCESSO

O processo foi Iniciativa da Procuraduría Geral da Justica, que tomou


conhecimento do fato através da Imprensa. O Juiz Adalberto Spagnolo en-
tendeu que 'no caso ocorrido com Valdir Nogueira nio houve urna Inter-
vengáo cirúrglca, e sim urna mutilacSo*.

Para o Juiz, 'o consentimento da vltima nSo tomou licita a Intervencáo


cirúrglca, visto que a aceltacSo nSo pode ser considerada como causa da
exclusáo da anti|uridicidade ou de outro elemento do delito'.

Depols da sentenca, o advogado da defesa, Sr. Leonardo Frankental,


entrou com apelacSo, pois, segundo ele, 'o caso será resolvldo definitiva
mente pelo Tribunal de Aleada de Sao Paulo I'.

A defesa declarou que já houve urna manlfestacüo dos malores nomes


da medicina braslleira sobre as bases do tratamento científico íelto, utili
zado pelos melhores cirurgiOes dos países desenvolvidos.

O Sr. Leonardo Frankental adiantou que 'nos próximos días realizará


urna reunlfio com a presenca dos malores nomes da medicina nacional,
para elucidar, de urna vez por todas, o tipo de tratamento desenvolvido pelo
médico Roberto Fariña'".

Embora o Dr. Fariña nao tenha sido punido pelo Conse


lho Regional de Medicina, é certo que nem todos os médicos
compartilham a mesma posicáo diante dos casos de transexua-
lidade. De um lado, há, sim, aqueles que optam pela cirurgia
plástica como solucáo para o problema. Neste caso, o médico
retoca o físico do paciente para tentar adequá-lo ao psiquismo
do mesmo. De outro lado, há os que preferem um tratamento

— 152 —
TRANSEXUALJSMO: COMO CURAR? 21

psicoterápico conjugado com hipnose e outras técnicas a fim


de confirmar o paciente no seu sexo físico; desta forma os
fortes síntomas psíquicos de feminilidade do paciente se apa-
gam, dando lugar a psiquismo masculino. Em vista da gra-
vidade do problema nao só para a medicina e a psicología,
mas também para a Teología Moral, abordaremos, a seguir,
o assunto, apresentando mais exatamente a questáo e descre
yendo o modo como um abalizado médico do Rio de Janeiro
conseguiu recentemente curar um paciente transexual por vía
psicoterapéutica.

Dada a natureza científica deste artigo, nao nos furtare-


mos ao emprego de vocábulos e expressóes técnicas, que nao
teráo outro sentido senáo o de descrever urna realidade que
interessa tanto á ciencia como á Teología Moral.

1. Transexualismo : que é ? Por qué ?

1. O transexualismo, também dito «transmutacáo se


xual», ocorre nos casos em que um individuo nasce com todas
as características físicas do sexo masculino, mas apresenta o
psiquismo de urna mulher. Quem sofre de tal anomalía, é geral-
mente vitima de estado depressivo e de atitudes paranoicas,
que o fazem viver profunda tragedia, pois se julga constante
mente agredido pela própria natureza; o seu eu acha-se como
que imerso em anarquía total.

O paciente transexual difere do homossexual pelo fato


de que este reconhece que é homem,... homem que tem afi-
nidade pelo mesmo sexo e que pretende1 ser oficialmente reco-
nhecido como espécimen de um «terceiro sexo». Ao contra
rio, o transexual nao se reconhece como homem; tem horror
a ser homem, porque quer absolutamente ser mulher.

Dentre todas as anomalías sexuais, o transexualismo é


certamente a que mais revolve a estrutura emocional do
sujeito.

2. Pergunta-se: como explicar a origem de um individuo


transexual? . ___2,'

Eis a resposta sugerida pelo Dr. Roberto Fariña («Dia


rio de Sao Paulo», 19/10/78, p. 20):

— 153 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/1979

A formagáo do sexo depende de tres fatores atuantes na


ontogenese ou no período de gestacáo da pessoa: fatores gené
ticos, endocrinos e cerebrais. Tendem por si a constituir um
individuo heterossexual.

a) Em primeiro lugar, tém importancia alguns pares de


genes contidos em certos cromossomos sexuais ou gonossomos
no momento da fecundagáo. É a partir destes que se consti-
tuem as gónadas ou glándulas genitais do sexo masculino
(testículos) e do sexo feminino (ovarios).

O embriáo, aos trinta dias de idade, possui gónadas indi-


ferenciadas ou bipotenciais. Se a constituido genética (cro-
mossómica) do embriáo for XY, o cromossomo Y faz que as
gónadas se convertam em testículos; tem-se entáo o sexo mas
culino ou heterogamético ou heterozigótico. Se o embriáo for
XX, as gónadas se tornaráo ovarios; tem-se entáo o sexo femi
nino ou homogamético ou homozigótico.

b) As glándulas endocrinas masculinas e femininas, se


cretando seus hormónios, contribuem para o aparecimento, no
organismo, dos órgáos sexuais próprios do respectivo sexo.
Estes váo-se desenvolvendo paulatinamente durante os subse-
qüentes meses de gestagáo.

c) Ainda na fase pré-natal, pouco antes do nascimento


do individuo, os referidos hormónios devem impregnar o cere
bro ou, mais precisamente, o hipotálamo. No caso da consti-
tuicáo genética XY conjugada com hormónios masculinos
(testosterona), o cerebro assume as características de cerebro
masculino; donde resultará o psiquismo masculino do respec
tivo individuo. No caso da constituigáo genética XX dos hor
mónios femininos (estrógenos) caracterizam o hipotálamo
segundo o tipo feminino '.

Se os fatores genéticos, hormonais e cerebrais funcionam


devidamente na fase de gestagáo, nasce um individuo normal.

1 O psiquismo depende, sim, de fatores fisicos e somáticos, mas nao


apenas destes. Cada ser humano tem urna alma espiritual. Esta anima ou
vivifica o embriáo desde o momento da fecundacSo, e é por Deus criada
diretamente em vista de tal embriáo. A alma espiritual traz as potencialidades
que Ihe sao necessárias para vivificar um organismo masculino ou feminino
ou para desenvolver urna personalidade do sexo masculino ou do sexo
feminino.

— 154 —
TRANSEXUAUSMO: COMO CURAR? 23

Caso, porém, nessa fase critica a testosterona corres


pondente ao fator Y (se a constituigáo do individuo é XY) nao
possa completar a sua acáo sobre o cerebro por causa de um
bloqueio qualquer, o cerebro continuará como era até entáo,
isto é, neutro ou feminino. Em conseqüéncia, a crianza nasce
com todas as características sexuais masculinas, mas com
cerebro feminino e disposicóes para se comportar como mu-
lher. Tal individuo torna-se um transexual. Visto ser a mente
que dirige o corpo, o psiquismo feminino desse sujeito pode
provocar atrofia sexual, ficando as características masculinas
do paciente destituidas, total ou parcialmente, de funcáo.
Compreende-se entáo que tal pessoa, dotada de mentalidade
feminina, passe a ter horror aos seus órgáos genitais masculi
nos, julgando ser vítima da madrasta natureza!

Diante de tal fenómeno de dissecacáo da personalidade,


os cientistas véem duas possíveis pistas de tratamento: a cirur-
gia plástica e a psicoterapéutica. A primeira tenta aproximar
o físico do psíquico, retirando do sujeito as suas característi
cas físicas masculinas, ao passo que a segunda tenta adequar
o psíquico ao físico, induzindo o paciente a aceitar a sua mas-
culinidade fisica e a viver em funcáo da mesma. Ponderemos
de mais perto urna e outra via terapéutica.

2. Os tratamentos

A primeira e mais comum tentativa de tratamento é a

2.1. Vía cirúrgico-plástica

Há cientistas que supóem nada poder fazer para adaptar


a mente do individuo transexual á sua constituigáo fisica. Em
conseqüéncia, só véem a possibilidade de tentar ajustar a
constituicáo física ao psiquismo do paciente. Propóem, entáo,
para tais casos a operagáo de reajustamento ou de conversáo
sexual. Foi o que fez o Dr. Roberto Fariña, já mencionado,
provocando hesitagáo nos ambientes de juristas, médicos, psi
cólogos e moralistas.

A propósito da tentativa de solucáo plástico-cirúrgica,


observemos:

1) O jurista Dr. Adalberto Spagnolo condenou o mé


dico Dr. Fariña por haver realizado nao propriamente urna

— 155 —
24 «PERGUNTE E RESP0NDEREMOS> 232/1979

intervencáo plástica, mas, sim, urna mutilagáo, e mutilacáo


de caráter irreversível (ablagáo dos órgáos sexuais) — o que
redunda em crime gravíssimo.

Torna-se oportuno, porém, notar o seguinte: Nao é mo-


ralmente ilícito intervir em organismo alheio, extraindo mesmo
partes de tal organismo, desde que essa operagáo vise a secun
dar a natureza ou restaurar a natureza na sua normalidade.
Assim, se um médico julga que o individuo transexual é pre-
valentemente urna mulher que, por deficiencia do processo
genético, nao tem os órgáos sexuais femininos, assiste-lhe,
em consciéncia, o direito de tentar ajustar o físico desse pa
ciente ao seu psíquico. Ele entáo extrai os órgáos sexuais
masculinos que lhe parecem ser urna auténtica aberragáo no
caso e permite la natureza feminina do paciente um funciona-
mento maís «natural». Vale a pena frisar: tal direito existe,
caso se suponha que realmente o transexual é urna mulher
e deve ser tratado como mulher, de acordó com os desejos
do próprio paciente.

É por isto que as intervengóes plásticas para alterar o


sexo de determinados pacientes sao permitidas pelas leis civis
de países como a Inglaterra, a Suíga, a Alemanha, a Holanda,
a Dinamarca, a Noruega, os Estados Unidos (em alguns dos
seus Estados apenas). Na Alemanha e nos Estados norte-
-americanos mencionados, o individuo que tenha trocado de
sexo mediante intervengáo cirúrgica, pode também alterar a
indicagáo do sexo no seu registro civil.

No Brasil, o Código Civil proibe tal tipo de cirurgia e,


conseqüentemente, nao concede o registro de mudanga de sexo.
Talvez seja especialmente sabia esta atitude da legislagáo bra-
sileira em vista do que passamos a observar.

Com efeito. A suposigáo de que o transexual é mulher e,


por isto, deve ser tratado qual mulher, tem sofrido ultima-
mente certas reservas ou restrigóes por causa de experiencias
que mostram a possibilidade de fazer um traii;cmaal sentir-se
homem.e funcionar como individuo masculino. É o que vere
mos pouco adiante, quando citarmos o caso descrito pelo
Dr. Luís Machado Lomba. Este veio revolucionar, de certo
modo, as concepgóes relativas aos transexuais e abrir novas
pistas para abordar o problema. De resto, em diversas par
tes do mundo os médicos tém procurado formas terapéuticas

— 156 —
TRANSEXUALISMO: COMO CURAR? 25

que evitem a operagáo plástica feita para mudar o sexo de


um paciente.

2. Perguntamo-nos ainda: Será que realmente o tran-


sexual é urna muiher, de modo que, urna vez submetido á
cixurgia plástica, se sinta bem ou se sinta menos mal do que
antes?

Pondera o Dr. Luis Machado Lomba:

'1A cirurgla plástica, no caso dos transexuals, pode trazer como resul
tado um mal maior, pols o Individuo, vivendo como ser do sexo masculino
durante anos, embora com o seu pslquismo todo femlnlno, nao sabe nunca
como irá reaglr depols da operacáo, tendo que enfrentar novos e desconhe-
cidos problemas, n§o só relacionados a ele mesmo, mas como tambóm en
frentar o seu meló ambiente. Pode-se adaptar multo bem ás suas novas
condlcoes sexuais, mas pode também a ela nSo se adaptar, gerando um
confuto de natureza multo mals grave do que o que a sltuasSo anterior
determinava" (transcrito da p. 4 do texto da conferencia citada na biblio
grafía deste artigo).

Dizem as noticias da imprensa que Waldir (Waldirene)


Nogueira conseguiu bem-estar e estabilidade emocional após
a intervengáo cirúrgica... Contudo, para afirmar isto com
rigor científico, seria necessário acompanhar tal paciente de
maneira mais precisa, meticulosa e prolongada do que o pode
fazer urna reportagem jornalística. Eis por que merecem reti
cencias as noticias do jornal «Diario de Sao Paulo», edicto
de 19 de outubro de 1978, p. 20:

"Waldir Nogueira, que agora luta em SSo Paulo para chamar-se Waldi
rene, tentando levar urna vida normal, fala que depols da operacSo encon-
trou a felicldade".

Na mesma página de jornal, declara a Dra. Mima Pi-


cosse, advogada de Waldirene:

"No caso de Wafdirene a cirurgla era absolutamente necessárla. Ela


nunca fol homem.

O órgáo masculino de Waldirene nSo tlnha nenhuma funcBo. Waldi


rene é pessoa mentalmente sS e equilibrada. A operacSo tlrou Waldirene
do nada e conseguiu colocá-la como urna pessoa Intelramente normal...

A alegacao de que Waldirene nSo é muiher porque nSo pode procrlar,


ó intelramente pueril. Se mae ela nfio pode ser, pal ela nunca serla".

Tais proposigóes tomam caráter relativo; bem poderiam


ser revistas, á luz da experiencia empreendida pelo Dr. Lomba;

— 157 —
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/1979

este conseguiu o que parecía impossível num paciente cujo


caso talvez nao se diferenciasse muito do de Waldir Nogueira.
É o que passamos a expor.

2.2. Vía psicoterápica

O relatório que se segué, resume a exposicáo feita pelo


Dr. Luís Machado Lomba ', psiquiatra e hipnólogo, no VI Con-
gresso Panamericano de Hipnologia e Medicina Psicossomática
e V Congresso Brasileiro de Hipnologia, em margo de 1978,
Rio de Janeiro.

2.2.1. O paciente

Conta o Dr. Lomba ter certa vez recebido um paciente,


que Ihe fez a seguinte declaracáo:

"Eu nasci homem na minha conformacáo anatomo-tisiológica, mas


acontece que detesto o meu sexo; tenho verdadeiro pavor do meu estado
e nao me conformo, de jeito nenhum, de ser homem. Quería e quero-me
transformar em mulher, pois todos os meus Impulsos s3o verdadelramente
femlninos e nSo vejo sentido em vivor com o sexo masculino. Caso eu nSo
possa transformar-me em mulher, eu me mato".

O rapaz N. N. que assim falava, contava 28 anos de idade.


Era solteiro. Tinha um físico normal, comprovado por exame
clínico. Mostrava-se, porém, profundamente deprimido, o que
nao o impedia de se situar bem no espago e no tempo.

Nascera de parto normal, como segundo filho dos seus


genitores. Sua progenitura relata que ató mais ou menos os
oito anos de idade o menino se comportou normalmente; foi
entáo que apareceu o primeiro síntoma estranho: estando
numa festa infantil, a crianca isolou-se e declarou: «Eu nao
quero ser menino, eu quero ser menina e brincar como elas
brincam». Dai por diante, a mesma senhora notou que o
filho so procurava a companhia de meninas, chegando mui-
tas vezes a vestir-se como elas.

10 autor tlnha como co-autora sua próprla filha, a Sta. Rosana Barreto
Lomba, académica de Psicología.

— 158 —
TRANSEXUALISMO: COMO CURAR? 27

Aos doze anos, o menino concebera firmemente o propó


sito de ser mulher e se fechava em prolongado silencio, sem-
pre que os pais procuravam conversar com ele sobre o assunto.

Aos quatorze anos, foi levado a urna psicóloga, que o


tratou durante cinco anos, ou seja, até os dezenove anos.
Isto melhorou o relacionamento do jovem com a familia, mas
nao impediu que se acentuasse a sua aversáo por ser homem.

Nos estudos, que cursou até o científico inclusive, foi


sempre ótimo aluno.

N.N. se chegava muito ao genitor, que, julgando-o ho-


mossexual, se revoltava contra o filho e procurava desviá-lo
das suas tendencias.

Aos 22 anos de idade, N. N. assistiu á separacáo dos pais


— fato que muito o abalou e mais lhe acentuou os anseios
de se tornar mulher. Tentou mesmo o suicidio, mas foi socor
rido no Hospital Miguel Couto. Para acalmar os ñervos, o
paciente comecou a tomar tranquilizante para dormir; com
o aumento das doses respectivas, foi-se sentindo mais e mais
dopado durante o dia.

O jovem passou por varios tratamentos médicos. Du


rante quatro anos freqüentou o consultorio de urna doutora,
com a qual se identificóla tanto que a própria médica lhe acon-
selhou a interrupgáo do tratamento. Passou entáo dois me
ses em profunda depressáo, julgando-se abandonado no mundo;
em conseqüéncia, tentou novamente o suicidio. Outro médico,
dizia o rapaz, lhe aconselhara urna operagáo plástica, perspec
tiva esta que o paciente adotara com grandes anseios.

N.N. declarou outrossim ao Dr. Lomba nunca ter tido


relacóes homossexuais, visto que estas jamáis o atrairam;
também nunca tivera relagáo sexual com alguma mulher...
De modo geral, disse sentir verdadeiro horror de seus órgáos
sexuais,. a tal ponto que o próprio fato de urinar era para
ele motivo de sofrimento.

Foram estes os dados que N.N. ofereceu ao Dr. Lomba


por ocasiáo da sua primeira entrevista.

2.2.3. Doze sessóes de hipnoterapia inespecífíca de raoio

O diagnóstico de transexualismo depreendia-se fácilmente


do quadro apresentado. Todavía o paciente nao procurava o

— 159 —
28 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS! 232/1979

médico para se tratar, mas, sim, para Ihe pedir que apli-
casse ao pai do próprio paciente um tratamento psicoterápico;
este teria em mira levar o genitor a aceitar que o seu filho
se submetesse a urna cirurgia plástica; visto que N.N. depen
día do seu pai tanto no plano financeiro quanto no psicológico,
a resistencia do genitor era decisivo obstáculo a este empreen-
dimento.

Vé-se, pois, que a primeira tarefa do médico haveria de


ser a de inverter a proposta e fazer que o jovcm aceitasse
um tratamento para si; todavía o Dr. Lomba nao poderia
falar de problema sexual, pois correría o risco de criar urna
barreira entre o paciente e o médico.

Por conseguinte, o doutor chamou a atencáo do rapaz


para o sofrimento espiritual que sobre ele pesava; mostrou-lhe
que, mesmo no caso de se submeter a operacáo plástica, só
o poderia fazer em estado emocional equilibrado. O paciente
acabou cedendo á proposta, pois se lembrou das palavras do
Dr. N. (cirurgiáo plástico), o qual o advertirá de que em
tal estado emocional nao poderia ser operado.

Assim abertas as portas, o Dr. Lomba iniciou em N.N.


um tratamento de hipnoterapia, visando apenas ao reequili
brio psíquico do paciente, sem Ihe falar de transexualismo.
Até a décima segunda sessáo o médico nao se preocupou com
a técnica de procura de conflitos reprimidos, mas apenas apli-
cou métodos que de ¡mediato aliviassem a tensáo emocional
do paciente. Já após a sexta sessáo as melhoras eram nota-
veis: o uso de tranquilizantes se restringiu aos dias em que
o paciente nao ia ao consultorio médico. Após a décima
segunda sessáo, N.N. estava quase liberto da depressáo; já
perderá a obsessáo pelo pai (no inicio do tratamento, a men-
gao do pai ocorria em cada frase); dispensara também o uso
do calmante, embora ainda precisasse de conservar o remedio
sobre a sua mesa de cabeceira.

2.2.3. Oifo aessóe* de opoio o de busca de fatos passodos

Diante dos bons resultados, o médico passou a realizar,


com o paciente, sessóes hipnóticas de apoio, entre as quais
intercalara sessóes de busca de vivencias traumáticas pas-
sadas, evitando ainda, tanto quanto possível, focalizar a pro
blemática sexual.

— 160 —
TRANSEXUAUSMO: COMO CURAR? 29

Ao cabo da . oitava sessáo desta serie ou da vigésima


sessáo do tratamento, o paciente apresentava urna estrutura
psíquica totalmente diversa da que levara para a primeira
consulta. O médico entáo julgou que já poderia tentar um
tratamento específico para o problema sexual de N.N.

2.2.4. Tres sessSes preparatorias para a hipnoterapia específica

Era preciso persuadir o paciente da necessidade de urna


abordagem direta do problema... Em vista disto, o Dr.
Lomba interrompeu a hipnoterapia e passou tres sessóes a
expor a N.N. os mecanismos psico-neuro-fisiológicos do tran-
sexualismo. Expós-lhe a sua opiniáo de que N.N. era um
ser do sexo masculino no qual se instalara um mecanismo
psicológico feminino,... mecanismo este devido táo somente
a disturbios e traumas psicológicos, sem a interferencia de
anormalidades genéticas ou hormonais... 1

Finalmente na terceira destas sessóes N.N. resolveu acei


tar o tratamento psicoterapéutico específico, renunciando, ao
menos por ora, á cirurgia plástica. Já isto era urna grande
vitória, pois significava que o rapaz se tornara capaz de um
raciocinio lúcido, desembaragado de emogóes. Todavía nao
pusera completamente de lado a sua ansia de operagáo plás
tica, pois declarou ao médico:

"Doutor, eu me submeto a esse tratamento que o Sr. falou, embora


eu nfio acredite que vá conseguir colsa alguma. Mas, se nada for melhorado,
o Sr. me promete que Interfere Junto ao meu pal para eu ser operado ?"

Um tanto surpreso, o médico respondeu-lhe com firmeza


que o fato de N.N. acreditar ou nao no tratamento nao
tinha a mínima importancia, pois nao interferiría no sucesso
da terapia. Quanto á intercessáo junto ao pai, aceitou levá-la
a efeito, sem, porém, poder prometer urna resposta positiva
da parte do genitor.

Depois de ponderar um pouco, N.N. aquiesceu e asse-


gurou que nao faltaría a alguma das sessóes subseqüentes,
as quais se realizariam tres vezes por semana.

'O Dr. Lomba podia apontar ao paciente tatos que expllcavam o seu
estado traumático,... falos narrados pelo próprlo doente.

— 161 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/1979

2.2.5. Tres sessóes de hipnolerapia específica frustrada

Na abordagem do problema especifico de N.N., o Dr.


Lomba julgou que o primeiro passo a dar deveria ser a ten
tativa de fazer que o paciente perdesse a aversáo ao seu
aparelho sexual. Sem isto, nada se poderia conseguir. Para
tanto, a técnica mais aconselhada seria a da dessensibilizacáo.

Na primeira sessáo deste tipo, o paciente foi levado ao


transe hipnótico profundo, atingindo condigóes psicológicas
excelentes para receber sugestóes relacionadas á dessensibili
zacáo.

Disse entáo o médico: «Todo o conflito estabelecido no


seu psiquismo em relagáo ao seu sexo...» Quando ouviu a
palavra sexo, o paciente saiu imediatamente do transe pro
fundo, modificou o ritmo respiratorio e comegou a se me-
xer... O doutor o levou a estado de sonó mais profundo e
tentou a mesma frase, a qual provocou a mesma reagáo. Nao
havia como insistir... Ao despertar normalmente do transe,
disse logo o enfermo: «Eu nao gosto de ouvir falar do meu
sexo, já Ihe disse que tenho horror...»

Na segunda sessáo, estando o paciente em disponibilidade


hipnótica, disse o médico: «Vocé pouco a pouco irá enten-
dendo que todo o antagonismo que se estabeleceu em relagáo
ao seu sexo...» Ao ouvir esta palavra, o enfermo reagiu
mais urna vez e mostrou-se angustiado... Após urna tenta
tiva de insistencia, evidenciou-se que nada havia a fazer...

Na terceira sessáo, de novo quando o doutor pronunciou


a palavra sexo, o mesmo bloqueio se produziu — o que levou
o médico a desistir de tal tipo de abordagem do problema.

O caso parecía chegar a um impasse total, apesar dos


progressos já realizados pelo paciente. Era preciso tratar do
problema sexual sem proferir a palavra sexo!

A essa altura, o Dr. Lomba lembrou-se de que, logo no


inicio das consultas, o paciente demonstrara grande interesse
por um atlas do cerebro, com as respectivas regióes; o paciente
chegara mesmo a pedir ao médico que voltasse freqüente-
mente a falar-lhe de tal assunto. Pensou entáo o Dr. Lomba
que bem poderia aproveitar o fascínio de N.N. pela anátomo-

— 162 —
TRANSEXUALJSMO: COMO CURAR? 31

•fisiología e tentar nova técnica de dessensibilizagáo: mediante


sugestáo hipnótica, o médico induziria o paciente a viajar
mentalmente através do seu corpo, reconhecendo entáo a sua
própria anatomía; viajando de órgáo a órgáo, de aparelho a
aparelho, o paciente seria levado a considerar finalmente o
seu aparelho sexual. Essa técnica seria chamada «heteros-
copia por ideoplastia».

Urna vez concebido o novo plano de trabalho, o Dr. Lomba


o expós ao enfermo. Este interessou-se muito pela proposta;
ficou entáo assentado que em cada sessáo lhe seria mostrado
um atlas anatómico do aparelho ou do órgáo a ser visitado;
a seguir, faria urna «incursáo turística» através do seu orga
nismo!

2.2.6. Vinte sessóes de técnica heteroscópica por ¡deoplasHo

Na primeira sessáo deste género, foi abordado o coracáo.


O Dr. Lomba mostrou primeiramente a N.N. um atlas repre
sentativo de todas as partes do coracáo, cujo funcionamento
foi devidamente explicado.

A seguir, tendo induzido o enfermo a profundo transe


hipnótico, disse-lhe: «Vocé agora vai-se ver viajando dentro
do seu coragáo... Vocé agora vai comegar a viajar por den
tro do seu coragáo...» — Pois bem; sem demora o paciente
comegou a descrever na sua linguagem o que estava vendo.
Inicialmente disse: «Está tudo vermelho, como se eu estivesse
num mar revolto... Estou escutando um grande barulho
que certamente vem da cachoeira que estou vendo». Foi-lhe
sugerido que se transportasse para a auricula esquerda e des-
crevesse a entrada do sangue que vinha dos pulmoes: N.N.
descreveu entáo a ponte e a abertura das comportas do dique
que estava vendo; o que produzia muito barulho, era certa-
mente a passagem do liquido vermelho através dessas com
portas. .. Acrescentou depois, cedendo á fantasía: «Eu agora
vou navegar neste mar vermelho, mas estou com medo por
que as ondas sao muito grandes...»

Assim foram plenamente atingidos os objetivos do mé


dico! Quando o paciente saiu do transe, estava entusiasmado
e declarou: «Que coisa maravilhosa! Nunca pude imaginar
que viveria urna experiencia táo sensacional e táo excitante!
Eu me vi com nitidez dentro do meu coracáo e me lembro

— 163 —
32 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/1979

de tudo o que aconteceu. Foi urna pena o Sr. terminar a


experiencia quando eu estava gostando tanto!»

Na segunda e na terceira sessóes, o paciente, após haver


contemplado minucioso atlas do cerebro, viajou prazenteira-
mente pelas diversas regióes do cerebro! Ao terminar a ter
ceira sessáo, estava maravilhado com a experiencia vivida.

Na quarta sessáo, a mesma técnica foi aplicada com rela-


cáo ao aparelho respiratorio.

Na quinta, na serta e na sétima sessóes, a «viagem» se


deu através do aparelho digestivo.

Na oitava sessáo, a atencáo do paciente foi dirigida para


o aparelho renal. Foi-lhe mostrado um mapa do conjunto
anatómico da regiáo com explicacóes a respeito do seu fun-
cionamento. A imagem utilizada foi a de um vasto reserva
tório onde a agua era filtrada e as impurezas levadas por um
canal a outro reservatório donde eram langadas no espago exte
rior através da uretra. N.N. nao apresentou reagáo emocio
nal ao se lhe falar da fungáo da uretra. — Levado ao transe
hipnótico, foi-lhe sugerida a viagem através do aparelho renal,
onde assistiria a todas as fases da filtragem das impurezas, á
condugáo destas ao reservatório e, posteriormente, á sua eli-
minaqáo. O programa foi executado sem qualquer incidente.
Ao sair do transe, o jovem conversou muito sobre a expe
riencia que fizera, nao poupando elogios á beleza de tudo a
que assistira.

Nesta altura dos acontecimentos, o Dr. Lomba julgou que


já podia falar abertamente com N.N. sobre o aparelho geni
tal, pois percebia que o paciente ia perdendo a repugnancia
ao assunto. Anunciou-lhe entao que na próxima sessáo ele
viajaría através do seu aparelho sexual — perspectiva que o
enfermo aceitou com muita tranqüilidade.

A nona sessáo, portante, foi dedicada aos órgáos geni-


tais. O paciente foi recebendo informacóes (superficiais) sobre
a anatomía e a fisiología dos mesmos. Entrementes nao apre
sentou o mínimo tipo de bloqueio; ao contrario, estava inte-
ressado em conhecer pormenores, fazendo perguntas. Aceitou
mesmo com naturalidade a sugestáo de fazer urna viagem
através desse aparelho.

Foi, pois, colocado em transe hipnótico e iniciou a «via


gem» sem incidentes até chegar á uretra; entáo disse: «Agora

— 164 —
TRANSEXUALJSMO: COMO CURAR? 33

vou entrar numa zona já conhecida, e nao gosto por ser muito
escura>.

Ao sair do transe, mostrava-se muito tranquilo e satis-


feito por ter conhecido o seu organismo «por dentro», como
dizia. E, sem que se lhe fizesse alguma pergunta, declarou:
«Agora eu nao tenho mais nenhuma aversáo aos meus órgáos
sexuais, e sinto que vou poder viver com eles sem grandes
problemas». Interessou-se vivamente pela zona anatómica
onde eram «fabricados» os espermatozoides e quis saber tudo
a respeito dos mesmos, principalmente o mecanismo fisiológico
de sua atuacáo durante o ato sexual.

Ao averiguar tal interesse, o doutor resolveu propor ao


paciente urna experiencia ideoplástica do ato sexual, ou seja,
a vivencia mental de urna relacáo heterossexual. A principio,
o rapaz ficou espantado e cético, julgando que lhe seria total
mente impossível chegar a tanto. Nao obstante, o médico
insistiu e combinou com o interessado que a próxima sessáo
seria dedicada a isso.

Na décima sessáo, o Dr. Lomba recordou a N.N. o me


canismo anatómico-fisiológico das fungóes sexuais, incluindo
a mencáo das zonas do cerebro responsáveis pelas sensagóes
sexuais. Mostrou-lhc também a anatomía do aparelho sexual
fominino e explicou-lhe o percurso do espermatozoide deposi
tado no aparelho sexual da muiher até a fecundacáo do óvulo.

Levado ao transe hipnótico profundo, foi-lhe sugerido


que vivenciaria o relacionamento sexual com determinada mu
iher pela qual sentía profunda admiragáo. Após breve resis
tencia caracterizada por aumento da freqüéncia respiratoria,
o rapaz pós-se a executar o programa e, através de gestos,
assumiu o comportamento de quem está realmente praticando
um ato sexual. O médico aproveitou ainda o transe para suge
rir a N.N. o desempenho de suas fungóes sexuais em condi-
góes totalmente normáis.

Ao despertar, o paciente estava muito alegre ou mesmo


eufórico, dizendo ter feito experiencia maravilhosa, pois sen-
tira todas as impressóes relacionadas com o ato sexual, que
ele jamáis imaginara fossem táo gratificantes.

As subseqüentes sessóes, da décima primeira á décima


quinta, foram dedicadas a confirmar a experiencia anterior.

— 165 —
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/1979

O interessado se mostrava cada vez mais isento de bloqueios


neste particular.

Ñas sessóes fináis, da décima sexta a vigésima, convicto


de que o problema do transexualismo fora superado, o mé
dico passou á última parte do tratamento, procurando sedi
mentar no psiquismo do paciente a sua realidade heterossexual
recém-descoberta e aceita. Para isto, recorreu <a técnica hip-
noterápica dos reflexos condicionados relacionados com as
atividades diarias de um homem; assim procurou adaptá-lo
concretamente á sua condigáo de individuo do sexo mas
culino. — Ora, ao apresentar-se para a décima nona sessáo,
o paciente, muito eufórico, dedarou sem mais que fizera uma
experiencia sexual concreta e que tudo correrá dentro dos
padróes da mais absoluta normalidade! Mostrava assim ter-se
reencontrado psíquica e físicamente como homem.

Ao verificar tais resultados, o médico estabeleceu que


N.N. só voltaria á consulta de trinta em trinta dias para
controle da nova situacáo.

Pois bem; decorridos sessenta dias após a alta, N.N.


reapareceu no consultorio do médico acompanhado de uma
jovem que ele apresentou como sendo sua namorada; mos-
trava-se orgulhoso e feliz pelas novas condicóes que adqui
rirá.1 Tal resultado era o fruto de quarenta e seis sessóes
de diálogo e de hipnoterapia!

3. Conclusao

A experiencia efetuada pelo Dr. Luís Lomba é alta


mente ponderável, pois abre novas perspectivas para o trata
mento dos pacientes transexuais. Nao se pode dizer que indi
que a solugáo única e definitiva para tal problema. Ainda
será necessário repeti-la e aprimorá-la. Além do que, pode-se
supor que nem todos os pacientes recebam táo bem o trata
mento hipnótico aplicado pelo referido médico. Este afirma
que está usando a mesma técnica em mais tres casos seme-
lhantes, com resultados muito animadores.

Do ponto de vista da consciéncia crista, a cirurgia plás


tica empreendida para mudar o sexo só se justifica se é
feita para retificar ou para restaurar em seus termos nor-

— 166 —
TRANSEXUALJSMO: COMO CURAR? 35

mais a natureza deficiente. Na verdade, ao homem nao com


pete contradizer á natureza humana, mas, sim, respeitá-la e
secundá-la, na qualidade de bom administrador de urna rea
lidade que Deus fez a sua imagem e semelhanca.

Ora pergunta-se: pode-se dizer que todo individuo tran-


sexual é urna mulher que, por deficiencia do processo genital,
tem órgáos sexuais masculinos? — Responder afirmativa
mente seria temerario, pois nao há fundamento seguro para
tanto. Todavía, já que o terreno ainda é pouco explorado,
admita-se o seguinte: desde que se possa crer prudentemente
que o paciente X é realmente urna mulher e deve poder viver
como tal, será lícito aplicar-lhe a tentativa da cirurgia plás
tica. Acrescente-se, porém: as pesquisas do Dr. Lomba levam
a ver que, mesmo em casos nos quais um paciente queira ser
mulher com toda a veeméncia do seu ser, ele é homem e,
em vez de ser transformado em falsa mulher, deve ser indu-
zido a viver a sua realidade masculina; a cirurgia plástica
faria de tal paciente um monstro, ao passo que a psicoterapia
o leva a encontrar a sua genuína realidade natural e, conse-
qüentcmente, a sua felicidade. Eis por que julgamos de
enorme importancia o trabalho do Dr. Lomba; aponta novas
pistas para se compreender o transexualismo e aplicar-lhe
— em alguns casos, se nao em todos os casos — um trata-
mento científico e cristáo.

Congratulamo-nos, pois, com o Dr. Luís Machado Lomba


o auguramos-lhe todo o éxito em suas futuras pesquisas.

A guisa de bibliografía:

FENICHEL, O., Teoria psicanalitica de las neurosis. Buenos Aires 1957.

LOMBA, L. M. e LOMBA R. B., Transexuallsmo. Técnica hipnoterápica


heleroscóplca-tdeoptástlca de dessensibllizacáo (ad Instar mansucrlpti). Rio
de Janeiro, marco de 1978.

LÓPEZ IBOR, J. J., La angustia vital. Madrid 1950.

MARANHÁO G., Homosexualidad y sexo cromatico, 1959.

NACHT, S., La psychunalyse au{oud'hui. PUF,J3*l8"'\WfijcnQii»..r"""««w

VIDAL, M., Moral do amor e da sexuaildadSow^Paulinas, 1978. "<%£/


f R.G.S. 1
\ Jb.
167 —
Atitude pastoral ?

béncao para unioes ilesítimas?

Em aintese: O artigo aprésenla o texto de urna Declarado dos Blspos


do Chile a respelto de cerimdnias litúrgicas ou paralitúrglcas, béncSos e
preces realizadas á guisa de sucedáneo do sacramento do matrimonio em
"favor" de pessoas que nao se podem casar legítimamente na Igreja Cató
lica. O episcopado chileno, como porta-voz do pensamento oficial da Igreja,
condena tais celebrares por serem ilícitas; ao mesmo tempo pede aos
sacerdotes que exercam zelo pastoral e interesse religioso em prol desses
casáis, sem, porém, os convidar á mesa da comunhüo eucaristica.

Após a transcrlcáo do texto, o artigo desee a comentarios do mesmo,


mostrando que a monogamia e a indissolubilidade do casamento decorrem
da natureza mesma do matrimonio, corroborada pela mensagem do Evan-
gelho. Por isto á Igreja Católica nao compete contradizer-Ihes, mas, slm,
apregoá-Ias aos homens. O sacerdote que procede á béncSo de unioes ile
gitimas, nao transmite a béncáo de Deus, mas realiza um ato ilusorio; este,
em alguns casos, pode ser urna panacéia, que talvez alguns cristSos con-
fundam com um rito mágico, apto a validar o que é tido como inválido.

Na verdade, nao há, para os fiéis católicos, matrimonio legitimo que


nfio seja particIpacSo da uniao de Cristo com a Igreja; por consegulnte,
todo casamento válido é sacramento e necessita do reconhecimento da
Igreja vislvel e oficial.

lApesar desta atitude austera, a Igreja pede aos pastores e fiéis que
procurem acompanhar com zelo pastoral os casáis irregutarmente unidos,
ajudando-os a guardar a fé, a esperanca, a confianca em Deus, a vida de
oracao e a freqüéncia á Missa (embora sem Comunháo Eucaristica).

Comentario: É notorio o fato de que certos sacerdotes,


vítimas de confusáo doutrinária existente nesse setor, tém
celebrado cerimónias de béngáo nupcial em «favor» de pes
soas batizadas na Igreja Católica que desejam viver conju-
galmente, mas nao se querem casar propriamente ou nao
podem receber legitimamente o sacramento do matrimonio.
Tais cerimónias tém causado perplexidade no povo de Deus,
pois vém a ser um simulacro do matrimonio sacramental e
dáo a entender que, apesar da recusa da Igreja, Deus pode
abengoar tais unioes. Mais: esses ritos insinuam a existencia
de urna «nova Igreja> ao lado da Igreja oficial ou simples-

— 168 —
BÉNCAO PARA UNIOES ILEGITIMAS? 37

mente anulam o conceito de Igreja; o sacerdote, em tais cir


cunstancias, faz-se «dono» das béngáos de Deus e as admi
nistra a guem ele, subjetivamente, julga que as pode admi
nistrar. Ilude assim as consciéncias dos fiéis que, de boa fé
ou movidos por ignorancia simplona, as procuram, colocando
capa de verniz sobre urna realidade que nao a comporta.

Em vista de táo grave situacáo, os bispos do Chile hou-


veram por bem publicar importante Declarado, que exprime
o genuino pensamento da Igreja sobre o caso. Abaixo repro-
duziremos esse texto válido para o Brasil como para o mundo
inteiro, e lhe acrescentaremos breve comentario.

1. DECLARADO DOS BISPOS CHILENOS

Eis o teor do momentoso documento:

"1. Quando se trata de pessoas batizadas que nao dese-


jam contrair o sacramento do matrimonio ou estio impedidas
de o contrair (porque continua a existir o vínculo sacramental
de um dos cónjuges ou de ambos, casados no foro religioso e
divorciados no foro civil), é proibido a todo sacerdote e diá
cono participar, de alguma forma ou a qualquer título que seja,
de cerimónia pretensamente litúrgica ou paralitúrgica ou de
preces ou béncáos (públicas ou particulares) celebradas com
a finalidade de conferir valor religioso a urna vida comum que
nada tem a ver com o sacramento do matrimonio. A transgres-
sao desta norma será considerada como falta muito grave
contra a disciplina da Igreja.

2. Sem derrogar ao que acaba de ser dito, os sacerdotes


exerceráo urna atividade pastoral junto a tais pessoas, ativl-
dade que nao poderá, em caso algum, ser apresentada como
aceitacao da situagáo ilegítima, mas, sim, como auxilio para
que tornem a encontrar a Deus.

Essa atividade pastoral será tal que evite todo equívoco a


respeito do fato de que as pessoas que vivem na situagáo
irregular ácima descrita, nao se podem aproximar dos sacra
mentos". l

iO texto fol traduzido a partir do jornal "L'Osservatore Romano",


ed. francesa, p. 3, de 9/01/79, onde ee acha sem IndicacSo da data do
original chileno.

— 169 —
38 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/1979

2. Refletindo sobre os fotos...

2.1. Unidade e indissolubilidade

O matrimonio é, por sua natureza, monogámico e indis-


solúvel. Com efeito, doagáo táo intima quanto a conjugal, se
é verdadeira, só pode ser realizada em relacáo a urna pessoa e
urna vez por todas, ou seja, por tanto tempo quanto dure essa
pessoa. Se há restricóes nessa doagáo, ela já nao é o que
professa: uniáo de amor total; antes, vem a ser experiencia,
aventura, utilizagáo do (a) parceiro(a)... Nao é propriamente
«querer bem ao outro» ou «querer construir o outro», mas
é talvez «querer o outro já construido ou na medida em que
esteja construido».

Entregar-se totalmente a alguém (incluindo a doagáo do


próprio corpo) e, ao mesmo tempo, guardar a possibilidade de
se retratar, significa querer compatibilizar o total e o parcial,
o absoluto e o relativo; é prometer um amor revogável ou
urna fidelidade em termos — o que redunda em ambigüidade
e hipocrisia. Qualquer dos dois cónjuges, ao ouvir a promessa
de amor do seu consorte, pode saber que esta promessa incluí
a eventualidade de urna recusa ou de um NSIo, desde que o
consorte julgue que tem suas razóes para dizé-lo.

Estas verdades, incutidas pela natureza mesma do amor


conjugal, sao corroboradas pelo Evangelho ou pela Lei de
Cristo; cf. Me 10,5-12; Le 16,18; ICor 7,10s. O Senhor deu
dignidade nova ou sacramental ao enlace matrimonial. O
matrimonio cristáo vem a ser participacáo do amor que une
entre si Cristo e a Igreja; no lar cristáo, diz Sao Paulo, o
esposo faz as vezes de Cristo, e a esposa representa a Igreja;
(cf. Ef 5,32); cada familia crista constituí assim urna Igreja
doméstica, é urna célula pequeña da Igreja grande.

A Igreja, que é a continuagáo do Cristo vivo e a dispen


sadora das gracas da Redencáo, nao tem poder sobre tais
disposicóes do Senhor. Ela é «ministra», mas nao é «senhora»,
«dona» das determinagóes do próprio Deus. Diz Sao Paulo:

"Considerem-nos os homens como servidores de Cristo e administra


dores dos misterios de Deus. Ora o que se requer dos administradores, é
que cada um seja fiel" (1Cor 4,1s).

Por conseguirte, importa frisar que a monogamia e a


indissolubilidade do matrimonio nao sao postulados depen-

— 170 —
BfiNCAO PARA UNIOES ILEGÍTIMAS? 39

dentes de determinada cultura ou época da historia, nem se


devem a pontos de vista de alguma escola teológica sujeita
a ser ultrapassada, mas se derivam do ámago da concepgáo
filosófica (natural, racional) e da ñoclo teológica (iluminada
pela fé) do matrimonio.

2.2. «No foro interno, a o menos!»

Talvez haja quem se disponha a reconhecer a béngáo de


unióes ilegitimas porque julgam que o amor legitima tudo!
Em conseqüéncia, tais enlaces poderiam ter no foro interno
ou da consciéncia ou diante de Deus o valor que eles nao
tém diante da Igreja.

A respcito seguem-se duas- consideragóes:

2.2.1. «O amor legitima tudo !»

Já S. Agostinho (t 430) dizia: «Ama e fazo o que qui-


seres». Este principio tem sido freqüentemente aduzido para
se afirmar que «o que é feito por amor, nao é pecado».

O principio é verídico... Mas nem tudo o que se apre-


scnta como amor, é realmente amor. Há, sim, contrafacgóes
do amor. Para S. Agostinho (e para o cristáo em geral), o
amor coloca Deus em primeiro plano e, através de Deus, se
estende a todas as criaturas. Donde se segué que o auténtico
amor é aquele que respeita a vontade de Deus expressa pela
ordem natural das coisas; na genuina concepcáo do amor;
Deus é o criterio segundo o qual o coragáo do homem se
inclina para as criaturas; ó criterio objetivo, em contraste
com todo criterio meramente subjetivo (o meu próprio en
egocéntrico) ou meramente humano (antropocentrísmo). In-
felimente a linguagem moderna confunde nao raro amor^ e
prazer, amor e sexo, amor e aventara deseomprometida; além
do que, dá énfase especial ao meramente subjetivo, existen-
cial e contingente, sem levar na devida conta os valores obje
tivos, essenciais e perenes.

Por isto nao basta dizer que determinada uniáo esteja


baseada no amor para se poder afirmar que seja abengoada
por Deus; se tal uniáo é incompatível com o amor a Deus,
já nao se funda sobre o auténtico amor.

— 171 —
40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/1979

2.2.2. Matrimonio sem forma canónica

Nao poucas pessoas sao propensas a crer que, se há amor


e felicidade entre dois cristáos, podem eonsiderar-se casados
diante de Deus ou em consciéncia, embora as leis canónicas
nao os reconhecam como tais. Daí deduzem a Iegitimidade
de urna béngáo a tal enlace, no caso de a Igreja lhe recusar
o sacramento do matrimonio.

Tal concepcáo nao tem validade aos olhos da fé. Com


efeito, a experiencia ensinou os povos, mesmo antes de Cristo,
a exigir dos consortes a contratagáo pública e oficial de seu
enlace conjugal; sem esse testemunho público e reconhecido
pela sociedade, a hipocrisia, a falsidade, a poligamia e o con
cubinato freqüentemente corromperiam a coletividade.

No povo cristáo até o Concilio de Trento (1545-1563) a


Igreja exigía a contratacáo pública e oficial do enlace matri
monial; contudo nao chegava a declarar inválidas as unióes
contraidas clandestinamente por pessoas solteiras e aptas a
se casar.

O Concilio de Trento, porém, levando em conta os gra


ves abusos a que dava margem essa atitude, houvc por bcm
impor a todos os fiéis católicos urna forma precisa de con
trato matrimonial,... forma sem a qual nao há matrimonio
válido. Por conseguinte, quem nao aceita tal forma, simples-
mente nao está casado. Podem os respectivos consortes viver
conjugalmente e gozar de aparente felicidade; nao obstante,
vivem em concubinato e o Senhor Deus nao Ihes dá a sua
béngáo.

O sacerdote ou o ministro que tente abencoar tal casa


mento, realiza urna panacéia ou um ato de irresponsabilidade;
ilude os fiéis e, talvez, a si mesmo. Faz do rito litúrgico ou
paralitúrgico urna especie de ato mágico que serve talvez
para cauterizar as consciéncias e dar a imnressáo de que
pode validar o que é tido como inválido. Nao há quem ignore
oue, em última añálise, é Deus quem dá a béngáo por meio
dos homens (nao há rito de efeito mágico na lerda); ora
Deus nao abencoa o aue seja ilegítimo ou o oue nao seia
consentáneo com a estrutura do sacramento do matrimonio.

Dirá alpuémr Deus pode santificar os homens indepen-


dentemente da mediacáo da Iereja. — Sim; Deus o faz em

— 172 —
BÉNCAO PARA UNIÓES ILEGITIMAS? 41

favor daqueles que ignoram a Igreja ou nao podem ser atin


gidos pelo sacramento da Igreja. Nao o faz, porém, se o
unstao se furta voluntaria e acintosamente aos trámites esta-
beiecidos pela Igreja. Na verdade, o Senhor Deus quis que
a santificagáo dos homens seja algo de comunitario; ela se
efetua normalmente através do Corpo de Cristo que é a
igreja. De modo especial, nao há matrimonio legítimo, para
os liéis católicos, que nao seja participagáo da uniáo de Cristo
com a Igreja; por conseguinte, todo casamento válido é sacra
mental e necessita do reconhecimento da Igreja visível e oficial.

2.2.3. O zelo pastoral

As normas anteriores, preponderantemente negativas como


sao, nao esgotam o pensamento da Igreja a respeito das pes-
soas unidas entre si, mas nao casadas sacramentalmente.

Nos últimos tempos, mais e mais os teólogos e pastora-


listas vém-se preocupando com a sorte de tais cristáos. Nao
estáo excomungados, isto é, nao sao atingidos por tal tipo de
censura que é chamada «excomunháo» (pena de foro ex
terno). Todavía estáo excluidos da comunháo sacramental ou
eucarística, porque o seu estado de vida é ilegal. É preciso
que tais cristáos nao percam a esperanga de salvagáo nem
abandonem, por completo, a prática religiosa. Isto é tanto
mais importante quanto mais se sabe que muitos reconhecem
a ilegitimidade da sua situagáo perante Deus e, em conse-
qüéncia, se afligem; mas nao podem renunciar á vida comum,
porque tém filhos pequeños, que necessitam da presenga
atuante dos genitores.

Eis algumas sugestóes aptas a fomentar o ?elo pastoral


para com os cristáos irregularmente unidos:

1) Faga-se o possível por legitimar a sua uniáo, caso


isto seja viável. Talvez o primeiro enlace tenha sido nulo e
possa ser declarado tal pela Igreja; talvez se trate de um
matrimonio misto celebrado inválidamente aos olhos da Igreja,
mas suscetivel de ser validado.

2) Em alguns casos, é possivel que os «cónjuges» con-


cordem em viver sob o mesmo teto como irmáo e irmá. Desde
que isto aeontega, podem procurar os sacramentos da Peni-

— 173 —
42 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/1970

téncia e da Eucaristía, de modo tal que isto nao dé escándalo


a quem os veja comungar sem estarem casados (recomen-
da-se que, para freqüentar a Eucaristía, procurem lugares
onde nao sejam conhecidos). — Nao há dúvida, esta perspec
tiva talvez parega extremamente difícil ou mesmo inexeqüí-
vel. Como quer que seja, pode ser apresentada aos interes-
sados em certas circunstancias (principalmente depois de certa
idade).

3) Mesmo que nenhuma das duas hipóteses anteriores


seja praticável, é preciso incentivar os dois «cónjuges» a se
voltarem freqüentemente para Deus na oragáo e na partici-
pagáo da S. Missa (sem a Comunháo Eucaristica) aos domin
gos ao menos. Deus é o Pai que nao abandona seus filhos,
por mais culpados que sejam; tem vias invisiveis para salvar
aqueles que O procuram üe coragáo sincero. É necessário que
os dois «consortes» tenham esperanga viva, confianza em Deus
e guardem a fé na sua integridade.

4) Cuidem tais crisíios de educar sous filhos na fé cató


lica, como o fazem os pais católicos legítimamente casados,
embora nao lhes possam dar o exemplo da prática religiosa
completa. O papel dos pais na formagáo religiosa dos tunos
é fundamental e indispensável, comecando desde os primeiros
anos da crianga; nao julguem que nao podem cumprir tal
missáo pelo fato de nao estarem legítimamente casados; os
filhos nao háo de ser prejudicados na sua formagáo crista
por causa de um problema ocorrido com us genitores; o mal
dos pais nao deve gerar outro mal para a prole.

A propósito observe-se que aos genitores nao legitima-


mente casados nao se deve fácilmente, ou por principio, recusar
o batismo dos filhos. Como dito, a prole nao deve ser punida
(pela exclusáo do batismo) em virtude de urna desgraga dos
genitores. O que interessa á Igreja no tocante ao batismo
das criangas, é que o sacramento a estas ministrado tenha
continuidade na educagáo religiosa das mesmas; é táo somente
este o ponto de vista que leva os Srs. Bispos e párocos a
promover cursos de conscientizagáo para pais e padrinhos.
Aínda que os genitores nao estejam canónicamente casados,
os seus filhos podem ser batizados, desde que os pais con-
cordem em proporcionar (por si ou por outrem) a educagáo
religiosa aos seus pequeninos. Se os pais nao tém condigóes
para fazé-lo, mas nao se op5cm á instrugáo religiosa cató-

— 174 —
BfiNCAO PARA UNIOES ILEGÍTIMAS? 43

lica, cuide o pároco de que haja padrinhos dispostos a fazé-lo


(em vez de despedir os genitores com urna negativa, que é
sempre dura e antipática, podendo ter conseqüéncias imprevi-
siveis). Se nem padrinhos se encontrem para assegurar a
doutrina católica aos afilhados, veja ainda o sacerdote se nao
há meios de ministrá-la a essas mangas mediante as institui-
góes catequéticas da paróquia ou algum colegio católico da
regiáo, desde que os genitores nao se oponham a isto.

Em suma, procure o sacerdote fazer todo o possivel para


evitar, enquanto depender dele, que filhos de país nao casados
fiquem sem o sacramento do batismo.

5) Os cristáos ilegitimamente unidos podem também


praticar obras de caridade e colaborar com instituigóes cató
licas desde que o fagam com a pura intencáo de ajudar o
próximo e esta intengáo seja bem compreendida por todos.
A prática do amor fraterno concorre para levar a Deus, faci
lita a vida de oragáo, tornando-se penhor de maior miseri
cordia da parte de Deus (cf. lPd 4,7).

Eis, em breves tópicos, algurnas reflexóes que a Declara-


cáo dos Bispos do Chile atrás transcrita pode sugerir a quem
a queira ler dentro dos seus genuínos parámetros.

A guisa de bibliografía:

HARING, B., Paslorale pour les dlvorcés el les époux (Ilegitimes, ln


"Concillum" 55, malo 1970, pp. 113-120.

IUNG, N., Clandesllnlté, in "Dlcllonnalre de Drolt Canonique" III. París


1942, cois. 795-819.

PR 214/1977, pp. 429-449 (conseqüSnclas da Imptantacfio do divorcio


no Brasil).

PR 215/1977, pp. 493-496 (regulamentagfio do divorcio).

PR 156/1972, pp. 558-570 (ComunhSo para "casáis" nSo casados?).

Estéváo Bettencourt O.S.B.

— 175 —
livros em estante
Reencarnado, por Geraldo E. Dallegravo. ColegSo de Parapsicología
VIII. — Ed. Loyola, S&o Paulo 1979, 140x210 mm, 143 pp.

Era necessárlo que se publlcasse um llvro sobre a ReencarnacSo em


portugués e em data recente (os de Freí Boaventura Kloppenburg estSo,
desde multo, esgotados), a fim de anallsar o tema á luz da Parapsicología
e manifestar a Inconsistencia da tese reencarnacionlsta. Ora o Prof. Geraldo
Dallegrave, do Instituto Paranaense de Parapsicología, se deu a esta tarefa,
usando de estilo simples e acessivel a grande número de leitores. Percorre
os argumentos geralmente aduzldos em prol da tese reencarnacionista e mos-
tra que nada provam : a desigualdade de sortes, por exemplo, nao significa
que os sadios e ricos tenham sido virtuosos em encarnacáo anterior, e os
doentes e pobres hajam sido pecadores. Tal explicagSo é gratuita e artificial,
pols o recurso á ciencia é suficiente para explicar a desigualdade de sortes:
urna crianca nasce sem bracos ou cega por defeito na combinacáo dos
genes ou em virtude de drogas Ingeridas pela mié ou pelos genitores; ade
máis as condlcSes geográficas e socials em que alguém nasce, dfio conta
da riqueza de uns e da pobreza de outros. De resto, nSo há duas flores
ou duas frutas ou dols pássaros iguais entre si, e, nSo obstante, nao se
diz que flores, frutas ou pássaros estejam expiando pecados de urna exis
tencia anterior á presente. Esta analogía explica perfeltamente nSo naja
dois seres humanos Idénticos entre si; a grandeza de cada um consiste em
assumir seu cabedal de prendas e llmltacoes e, a partir destes dados, cons
truir com heroísmo e magnanimidade a sua personalidade.

O autor aborda também muitos casos concretos tidos como teste-


munhos da reencarnacao obtidos por regressao até a... "encarnacáo ante
rior". O mais famoso fol o de Virginia Tlghe... Dallegrave também evi
dencia que as narracóes de enredo de vida pregressa se explicam através
dos dados e das experiencias colhidas pelos pacientes na vida presente.

Em suma, o livro será muito útil ao nosso público.

Todavía n&o nos podemos furtar a certas observacSes: á p. 40, o


autor diz repetidamente que a alma é eterna; na verdade, ela é Imortal,
pois eterno é aquele que nao teve comeco e nSo terá fim, é Deus só.
A p. 41, o autor, citando o Pe. Quevedo, propde a tese da ressurreic&o logo
após a morte; ora esta proposlcao é dlscutivel e gratuita; pode-se admitir
que entre a morte e o juizo universal a alma humana permanece separada
do corpo.

De modo geral, o livro precisada de serla revisüo gráfica: á p. 12,


por exemplo, lé-se haver, quando se deveria encontrar a ver. A p. 136, o
ano da morte de Bridey Murphy n§o é 1964, mas 1864. Haveria outras
observagdes de ordem lingüistica e redacional.

Congratulando-nos com o autor, sugerlmos-lhe nova edicSo revista e


aperfelcoada.

O julgamento de Pílalos. Para vocft entender a Palxao de Jesús, por


Kurt A. Speidel, Colec&o "Entender a Biblia" n<? 4. Traducfio de Dom Mateus
Rocha O.S.B. — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1979, 185x225 mm, 179 pp.

Este livro continua a serie dos escritos de divulgacSo de alto nivel já


publicados pelas Ed. Paulinas; cf. PR 222/1978, pp. 271 s ; 224/1978, pp.
319-334.

— 176 —
O autor procura reler as narragóes evangélicas relativas & PalxSo de
Jesús, sob a luz da arqueología, da historia antlga e do método da historia
das formas. Esta tática projeta valiosa claridade sobre o texto sagrado,
permitindo entender melhor as atitudes de Pilatos, dos judeus, dos Apostólos
e do próprio Cristo. Todavía Speldel julga que as narrativas dos últimos
dias da vida de Jesús misturam historia e interpretagáo; os evangelistas,
ao escrever, teráo procurado pdr em relevo o significado teológico dos fatos
descritos. É isto que leva Kurt Speidel a tentar fazer a triagem entre o
desenrolar mesmo dos acontecimentos relativos á Palxáo e a interprotacáo
dada pelos escritores bíblicos. Entre as teses próprias do livro, pode-se
enumerar a seguinte: a soltura de Barrabás se terá dado em ano anterior
ao da condenacSo de Jesús, e nio na mesma ocasiáo (cf. p. 101). — Ora
isto fica sendo h¡pótese, para a qual nao há fundamentagSo multo persua
siva, como se depreende da leitura mesma do texto de Speidel.

O uso do llvro de Speidel será, sem dúvlda, ilustrativo e enriquecedor,


nada tendo que destoe da mensagem da reta fé.

Como falar com Deus. por Fr. Battistini. — Ed. própria, Magé 1979,
120x180 mm, 134 pp.

Este livro vem a ser um catecismo popular de oragao. O autor, já conhe-


cido por duas edigSes sucessivas da preciosa obra "A Igreja do Deus vivo",
verifica que muitos dos problemas de fé e vivencia cristas tém sua origem
no abandono da prática da oragSo. E esta ocorre porque as pessoas julgam
n9o ter tempo para orar... Ora Fr. Battistini, carmelita, procura mostrar
que nenhum pretexto justifica a ausencia da oracao na vida de um crlstSo.
Aponta outrossim as maneiras erróneas (mecanlclstas, mágicas, distraídas,
meramente interesseiras...) de oragSo, e propóe pistas simples que levem
o cristáo a criar o hábito da oragSo,... e da oragáo interior, recolhida e
saborosa: cinco minutos diarios já sao o comego de valiosa psicoterapia
(p. 119).

O livro é Importante, porque, de maneira suave e concreta, leva o


leitor a compreender o valor da oragSo e a praticá-la com simplicidade e
proveito. Para orar, basta elevar o espirito a Deus, mesmo na fossa do
pecado ou sobre o leito de dor.

Tellhard de Chardln: mundo, homem e Deus. Textos seleclonados e


comentados por José Luiz Archanjo. — Ed. Cultrlx, Sao Paulo 1978,
132 x 192 mm, 251 pp.

Teilhard de Chardin tornou-se figura controvertida logo após a sua


morte (7/04/1955). Na verdade, é um jesuíta místico, que empreendeu
evangelizar o mundo da ciencia ou os cientistas; quis, sim, apresentar aos
pesquisadores da natureza a fé crista, de tal modo que percebessem nSo
haver hiato entre urna e outra, mas, ao contrario, plena consonancia. Movido
por este intuito, Teilhard usou Iinguagem nova (enxertada de neologismos) e
silenciou alguns pontos importantes da teología (como a distingao entre
materia e espirito, a nogáo de criagao, a de pecado original...); por isto
foi mal visto por nao poucos estudiosos católicos. — Quem está consciente
disto, pode ler Teilhard sem detrimento; encontrará em seus escritos pas-
sagens de visáo grandiosa e panorámica, mostrando o mundo Impregnado
pela imagem e a presenga de Cristo.

Especialmente interessante é o penúltimo trecho da antologia: "Sobre


a minha atitude para com a Igreja oficial. Carta a um amigo sem fé".
Convidado para abandonar a Igreja, que fazla restrigdes aos seus escritos,
Teilhard protesta fidelidade á mesma e explica o porqué da sua atitude. Os
sadios criterios da fé prevaleceram sobre os do sentir humano.

O livro deleitará a quem se tenha acostumado ás peculiaridades do


estilo e do pensamento de Teilhard de Chardin.
E. B.
JESÚS CRISTO, REDENTOR DO HOMEM
"NAO NOS CONVENCEM, PORVENTURA, A NOS, HOMENS
DO SÉCULO XX, AS PALAVRAS DO APOSTÓLO..., PRONUN
CIADAS COM ARREBATADORA ELOQÜÉNCIA, ACERCA DA
'CRIACÁO INTEIRA QUE GEME E SOFRE DORES DE PARTO
ATÉ O PRESENTE MOMENTO E ESPERA ANSIOSAMENTE A
REVELACÁO DOS FILHOS DE DEUS...'? O IMENSO PRO-
GRESSO, NUNCA DANTES CONHECIDO, QUE SE VERIFICOU
PARTICULARMENTE NO DECORRER DO NOSSO SÉCULO,...
NAO REVELA ACASO ELE PRÓPRIO... AQUELA MULTIFOR
ME SUBMISSÁO AO DESVARIO? BASTA RECORDAR AQUÍ
CERTOS FENÓMENOS, COMO, POR EXEMPLO, A AMEAQA
DE POLUIQÁO DO AMBIENTE NATURAL NOS LUGARES DE
RÁPIDA INDUSTRIALIZACÁO, OU ENTÁO OS CONFLITOS
ARMADOS QUE REBENTAM E SE REPETEM CONTINUA
MENTE, OU AÍNDA AS PERSPECTIVAS DE AUTODESTRUI-
QÁO MEDIANTE O USO DAS ARMAS ATÓMICAS, DAS ARMAS
COM HIDROGÉNIO E COM NEUTRÓNIOS E OUTRAS SEME-
LHANTES, ASSIM COMO A FALTA DE RESPEITO PELA VIDA
DOS NAO NASCIDOS. O MUNDO DA ÉPOCA NOVA, O MUNDO
DOS VÓOS CÓSMICOS, O MUNDO DAS CONQUISTAS CIEN
TÍFICAS E TÉCNICAS, NUNCA ANTES ALCANCADAS, NAO
SERÁ, AO MESMO TEMPO, O MUNDO QUE GEME E SOFRE
E ESPERA ANSIOSAMENTE A REVELAQÁO DOS FILHOS DE
DEUS ?"

(JOÁO PAULO II, ENC. "REDEMPTOR HOMINIS" N9 8)

AOS NOSSOS AMIGOS COMUNICAMOS QUE TEMOS A DISPO-


sigAo o índice geral de «pergunte e responderemos» desde
1957 ATÉ 1977 EM 91 FOLHAS XEROCADAS PELO PRE£O DE
CR$ 170,00. TORNA-SE ASSIM FÁCIL ENCONTRAR OS TEMAS ABOR
DADOS EM NOSSA REVISTA NOS VINTE ANOS ASSINALADOS.
— ENCOMENDAS A LIVRARIA MISSIONÁRIA, RÚA MÉXICO, 168-B
— 20031 RIO DE JANEIRO (RJ).

Das könnte Ihnen auch gefallen