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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoristm)
APRESEISTTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Estevao Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
^
Sumario
PÓ9.

VIOLENCIA SOBRE FUNDO DE PÁSCOA 133

Vocé já pensou ?
O PODER DA SUGESTAO E A SOFROLOGIA 135

Ecos do "Big Bang" :


"DEUS ESTÁ DE VOLTA" 148

A moda vai evoluindo

E O "TOPLESS" ? 161

Retrospecto e prospectiva :
O ANO INTERNACIONAL DA CRIANCA : UM BALANQO 166

LIVROS EM ESTANTE 176

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

NO PRÓXIMO NÚMERO:

A Igrcja na Holanda antes do Sínodo de 1980. — O Sínodo


dos bispos holandeses ; conclusoes. — Absolvieao Coletiva : carta
da Santa Sé. — <'Os homossexuais* por M. Daniel e A. Baudry.

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

Numero avulso de qualquer mes 32,00

Assinatura anual 320,00

Dirccáo c Rcda^áo de Estéváo Betteiicourt O.S.B.

ADMINISTRADO KEDACAO DE PU
Iávraria MissioiuirLi Editora Caixa posta, , 6(J6
Kua México, 111-B (Castelo)
20.031 Rio de Janeiro (RJ) 20.000 Rio de Janeiro (KJ)
Tcl.: 221-0000
VIOLENCIA SOBRE FUNDO DE PÁSCOA
Em ritmo crescente os jomáis noticiam crimes, assaltos,
seqüestros... Entrementes os governantes se reúnem para
estudar as causas da violencia e os meios de obstar ao seu
curso mortífero.

Nao há dúvida, muitos dos que se entregam ao homicidio


sao movidos pela injusta distribuigáo dos bens que provoca
fome e miseria. Podem-se reconhecer também, em nao poucos
casos de terrorismo, inten;5es políticas ou o desejo de chegar
ao poder público. Haveria ainda que registrar taras ou qua-
dros patológicos como motivadores de crimes brutais ou bes-
tiais... Todavía nao se pode deixar de mencionar um fator
ainda mais profundo e decisivo para explicar a onda da vio
lencia. É o filósofo francés Jean-Paul Sartre quem o aponta
mediante o seguinte raciocinio exposto em «L'existencialisme
est-il un humanisme?»:
Os pensadores positivistas, no sáculo passado, declararan)
a náo-existéncia de Deus. Nao obstante, estipularam a ética
rigorosa do respeito ao semelhante, da prática da honestidade,
da sinceridade, da veracidade, etc. — Observa Sartre: tal posi-
cáo ó insustentável; se Deus nao existe, nao há autoridade
habilitada a me impor tal ou tal comportamento. Com efeito,
em nome de quem um homem, igual a mim, pode impor-me
normas ás quais eu deva obedecer reverentemente? Sartre
cita entáo o pensador russo Dostoievski, que dizia- «Se Deus
nao existo, tudo é permitido». Jean-Paul Sartre julga que a
posi-áo de Dostoievski é mais lógica do que a dos positivistas,
e adota-a como sua: se as circunstancias o sugerirem, cada
um será legítimamente «carrasco e acougueiro», como tam
bém poderá deixar de o ser se as circunstancias mudarem. Que
rer defender urna ética normativa sem Deus, ou seja, baseada
únicamente nos valores humanos, parece a Sartre artificial e
inconsistente. — A historia mais recente comprovou esta con-
clusáo; na verdade, a «morte de Deus» acarretou a «morte
do homem», como afirmou, depois de Sartre (e ainda numa ati-
tude muito lógica), a escola estruturalista. Com efeito; tudo
que há de respeitável, de intocável ou de sagrado no homem
extingue-se se nao existe o Sagrado ou o Absoluto em si.
Cremos que esta concatenagáo de idéias é apta a gerar
am clima como o de nossos días, em que o crime vem a ser
olhado como um «episodio» ou até mesmo urna necessidade a
ser praticada sem titubeio.
Já se tom dito que o mal fundamental do mundo de hoje
ó a perda do senso do Absoluto ou de Deus. O homem con-

— 133 —
temporáneo se libciiou de tabus dos quais devia realmente
emancipar-se (tais as érenlas em fadas e jardins encanta
dos. ..), mas no seu afá de reconquistar-se a si mesmo, jogou
fora o Valor sem o qual o homem nao tem mais sentido. Por
isto a grande pergunta que os nossos contemporáneos formu-
lam a si mesmos, é a do sentido do homem e da vida: nao há
quem nao procure uma justificativa para o trabalho, a luta e
o sofrimento que afctum a humanidade contemporánea...
Terá isso tudo uma compensacáo ou uma resposta? Alias,
segundo o famoso psicólogo Frankl, a busca do sentido da vida
é «expressáo precisamente do que de mais humano há no
homem».
Jfi justamente a existencia do Absoluto ou de Deus que
fundamenta o valor indevassávo) do ser humano (feito á ima-
gem de Dcus nao quanto ao físico, mas por sua inteligencia
e sua vontade). Houve, sim, quem considerasse Deus como
um «rival» do homem ou com um produto imaginario da mente
do homem ignorante c amedrontado. Tais pensadores nunca
«descobriram» a Deus, mas falaram táo somonte na base de
caricaturas e deformares dos conceitos de Deus e Religiáo.
Para explicar quem seja Deus, usaríamos aqui de um argu
mento platónico: se existe o mais e o menas bom entre as
criaturas (e no próprio homem), existe o BOM ou a Bondade
absoluta; se existe o mais o o menos sabio entre os homens,
existo o SABIO ou a Sabedoria Absoluta; se existe o mais e o
monos justo entre os homens, existe o JUSTO ou a Justica
absoluta. Com efeito, nao so pode íalar de mais e menos ou
do relativo senáo por referencia ao Absoluto, que, no caso,
nao é simplesmente ideal, mas real: ó o Autor ou o Alfa e o
ómega do ser humano.
Por isto dizemos que a existencia de Deus é que dá sen
tido as aspiracóes do homem -á Plenitude e ao Absoluto. É
também a existencia de Deus que leva cada um a respeitar o
seu semclhante, aínda nuo isto lhe custe renuncia e autodis
ciplina severas. Dosdc que o homem queira negar estas ver
dades, cai no caos o n;i autodestruicáo (como é o caso de mui-
tos contemporáneos) ou cria seus ¡dolos ou suas novas místi
cas (como ocorre com tantos outros homens de nossos días).
Estas reflexóes váo-se desenvolvendo no mes de abril, que
em 1980 ó o mes de Páscoa... Páseoa foi o encontró do
Absoluto feito homem com a violencia. Cristo quis deixar-sc
apreender pela violencia para poder anunciar aos homens novas
perspectivas: exercam, sim, a sua violencia... todavía para a
conquista de algo maior: o Reino do Absoluto ou de Deus, que
so podem arrebatar aqueles que sabem fazer violencia ao
velho homem e ao pecado! Cf. Mt 11,12.
E.B.
— 134 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XXI — N* 244 — Abril de 1980

Vocé já pensou ?

o poder da sugestáo e a sofrologia


Em sintese: O presente artigo reúne dados que evidenciam a
riqueza o a profundidade do subconsciente e do inconsciente da pessoa
humana. Esta é, muías vezes. levada a agir por motivos emotivos e semi-
¡rracionals, que o sujeito "racionaliza" ou confunde com pretensos motivos
racionáis. — A publicidade comercial explora a for?a da sugestáo que
age sublimlnarmente, impelindo as pessoas a comprar: palavras repetidas,
imagens, símbolos, exemptos e outros artificios desencadelam o poder da
sugestáo. — O curanderismo também se serve desta; tal fato pode ser
apteciado com especial clareza se se levam em conta os "placebo" ou
pretensos medicamentos que, na verdade, nao tém a;ao fatmacodiná-
mica: quem toma um simulacro de remedio acreditando que este o há
de curar, pode realmente obter a sua cura. — O ilusionismo e a prestidigi-
tacao sao outros setores que demonstram quanto as pessoas se deixam
engañar e, até ce rio ponto, gostam de ser engañadas; "vulgus vult decipi"
(o povo quer ser engañado).

A sofrologia se aprésenla como o estudo dos meios aptos a induzir


tranqüiiidado e paz nos pacientes. Recorro principalmente ao "teipnos
logos" ou á palavra suave e agradável, que leva as pessoas a se des-
contrairem. Difere da hlpnose pelo fato de que esta sugere atitudes, tirando
a liberdade do paciente, ou impondo-as, ao passo que a sofrologia pre
tende ajudar o paciente a ser seu próprio terapeuta.

Comentario: A opiniáo pública é constantemente inter


pelada pelas noticias de fatos «portentosos» que ocorrcm em
toda parte. Estes parecem significar a presenta de forjas
misteriosas, que cada «filosofía» popular procura esclarecer do
seu modo: seriam espiritos desencarnados ou falanges de semi-
deuses ou habitantes de outros planetas...

Contudo os estudos realizados sobre o psiquismo humano


contribuem para dissipar tais interpretagóes; a maioria des-
tas se deve á ignorancia, associada, por vezes, a falsa mística.
Verdade é que, entre os parapsicólogos, também há os que se

— 135 —
E KKSI>ONr)F.HE.MOS> 244/1080

iludcm e prclcndom explicar todos os fenómenos extraordina


rios segundo teorías arbitrarias. Nao obstante, é necessário
que todos connotamos os resultados evidentes a que tém che-
gado as experiencias no setor da psicología e das ciencias afins.
Urna das conclusóes mais interessantes que destas se deduz, é
referente ao poder da sugestáo.

Eis por que vamos, ñas páginas subseqüentes, examinar


algumas das realizat;ói'S mais curiosas da Torga da sugesláo.
A isto seguir-sc-á urna noticia sobre a sofrologia, ciencia o
técnica que procura aplicar o poder da sugestüo.

1. Sugestáo, racionalídade e racionalizasao

A palavru «sugestáo» significa a inducáo («gestio») por


baixo («sub»). Exprime o ato de induzir alguém de maneira
subliminar (semiconscicntc ou mesmo inconsciente) a psree-
ber ou fazer algo.

A sugostáo se processa mediante sinais, ou seja, mediante


imagens, sons, odores, contatos... aptos a incutir no pa
ciente urna determinada atitude ou conduta. Esses sinais exer-
cem sua ac.áo sobre o inconsciente ou semiconsciente das pes-
soas, levando-as a um comportamento as vezes irracional ou
isento do controle da razáo; muitas pessoas, após terem cedido
á sugestáo, nao se reconhecem no exercício de tal papel ou
fungáo; chegam a julgar que nao foi o próprio sujeito, mas,
sim, outra personalidade que dentro délas agiu desse ou da-
quele modo.

Está hoje em dia comprovado que todo ser humano pode


agir por dois tipos de motivac.áo:

a) a motivacáo lógica, racional, que afeta o néo-cortice


do cerebro;

b) as motivacóes afetivas, emocionáis, irracionais.

Estas últimas podem ser incutidas diretamente ao sub


consciente. O estado de hipnose é o ideal para que se possa
efetuar a sugestáo; o paciente hipnotizado obedece fácilmente
as surjestoes que lho sao comunicadas: senté ¡mediatamente
frío ou calor conforme o que se lhe sugira, ou, se tal for a
ordem do hipnotizador, executará fielmente cssa ordem depois
de acordar do sonó hipnótico. Assim, por exemplo, tem-se
verificado o seguinte:

— 136 —
PODER DA SUGESTAO E SOFROLOGIA

Sugere-se a alguém hipnotizado que se disponha a apa


gar a luz da sala meia-hora após o término da sessáo de hip-
nosc. Ora vinte e cinco minutos depois do fim da sessáo o
paciente, já acordado, comeca a se queixar de forte dor de
cabega e alega que a luz lhe fere a vista. Pouco depois ele
apaga a luz e deixa a sala em escuridáo total. — Em tal caso,
o paciente obedeceu á sugestáo do hipnotizador,... sugestáo
um tanto irracional, para a qual ele procurou uma racionali
zado; a dor de cabega (concebida a propósito) veio a ser a
justificativa lógica ou racional para o ato de apagar a luz.

Outro exemplo muito significativo (o qual oeorreu sem


hipnose) é o seguinte:

Os publicitarios desejosos de vender determinado produto


(tal marca de sabáo para lavar roupa, por exemplo) tém pela
frente duas opeóos:
— ou pedem aos compradores antigos que expliquem as
razóes pelas quais preferem tal produto; fariam publicidade
dessas razóes fundamentadas na experiencia dos usuarios do
produto e assim procurarían! fomentar a venda do mesmo...
Todavía nao é esta a maneira mais eficaz de promover ven
das; ao contrario, arrisca-se a fracasso.
— A outra opgáo é ilustrada pelo psicólogo Ernst Dichter.
Um Instituto de Pesquisas Psicológicas mandou distribuir entre
donas de casa um lote de tres caixas de sabáo de roupa para
cada uma: havia ai uma caixa de cor azul, outra de cor ama
róla e uma terceira de cor azul com manchas amarelas. Pe
dia o Instituto que as interessadas testassem esses tres tipos
de sabáo para roupa, a fim de averiguar qual dos tres seria o
mais recomendado para operacóes delicadas... Na verdade,
porém, as tres caixas continham exatamente o mesmo tipo de
detergente; apenas variava a cor da embalagem... Ora a
maioria das pessoas declarou que o sabáo contido na caixa
amarela era «forte demais», chegando a estragar a roupa. Ao
.contrario, o sabáo da caixa azul era «ineficaz» nao chegando
a eliminar todas as manchas da roupa. Quanto á terceira
caixa, obteve os aplausos de todas, sendo classificada como
«maravilhosa», «extraordinaria» para lavar a roupa delicada.
Esta e outras experiencias bem mostram que em pleno
século da razáo o comportamento humano ainda é (e sempre
será) sujeito a fatores irracionais, ou fatores preponderante-
mente emotivos, subconscientes ou inconscientes. O que há de
novo em nossos dias, é que

— 137 — ^^
>'• i'Kiccrxii: k iiKs iiro

— as pessoas que agcm irracionalmente scntem a neces-


sidade subconsciente de racionalizar ou de procurar urna pre
tensa explicaefio racional para seu comportamento irracional;

— os estudiosos trazem a baila cssa duplicidade de com-


portamonio humr.:io c mostram (|Ue muitos gestos que pare-
cem provir espontáneamente do juizo ponderado das pessoas,
nüo sao tais, mas sao resultantes de influencias estranhas
recebidas de manoiru inconsciente e passiva pelo sujeito.

Poti^-se, pois. ú\y.ov que nao raro as auténticas motiva-


qócs do riusso comportamento nada lém que ver com as «ra-
zóes» que a presen tamos (a nos niesmos e a outros) para jus-
tificá-las. íJssas nioüva^óos intimas o latentes podem ser sus
citadas ou impuJsioíiadas pt-lo fato¡- ^sugestáo».

2. Sugestáo e publicidade

1. A hipnose propriamonlc dita só pode ser induzida em


circunstancias especiáis, nem sempre aceitas pelos pacientes.
Todavía ha mrios d<- provocar um estado de quase hipnose, a
que as multidóos se sujeitam sem tomar consciéncia plena do
fenómeno. í; n f|iie nrontr-cc em diversas sittiac.5es da vida
lKt (lf cadri (lia.

Assim nos Sujjennercados e ñas grandes Lojas a música,


a profusao de luzes, a variedade das mercadorias, o exemplo
filiase colativo dos compradores fazem que muitas pessoas
percam a noeáo do tcmixj (jue passa e do dinheiro que váo
gastando, chocando assim a despender mais do que tencio-
navam.

A pub.Iicidado, soja escrita, seja televisiomida, explora as


imagens, os sons. as rearóos automáticas, as instalacóes con
fort áveis para colocar as pessoas (principalmente quando se
agrupam em grande número) num estado propicio á suges
táo. Eis o que, a propósito, observa R. Mucchielli em seu livro
<Psychologie de la publicitó et de la propagande»:
"Os homens do nosso tempo, sobre os quais csses atos publicitarios
(e tantos outrosí se descarregam, permanecem na ignorancia total das
técnicas psicológicas utilizadas de urna parte e de outra; imaglnam ser
Impermeáveis a publicidade e á propaganda; continuam a crer na onipo-
téncla da sua liberdade interior, na solidez das suas opinióes e da sua
reflexáo. Permanecem intimamente convencidos de que a publicidade e
a propaganda sio armadilhas facéis de ser descobertas; julgam que o
auténtico constrangimento 6 táo somente o físico e que as idéias nSo
tém poder" (p. 4).

— 138 —
PODER DA SUGESTAO E SOFROLOGIA 7

Principalmente as multidóes entram fácilmente em estado


de transo coletivo. A firma norte-americana de sabño Swipe
recrutou na Franga, em conseqüéncia deste fenómeno, mais
de 30.000 vendedores em 1969. Algumas das reunióes de
recrutamento agrupavam 1.000 pessoas na mesma sala. Em
tais ambientes toma-se mais fácil convencer cada qual das
pessoas presentes (futuros vendedores ou depositarios do pro-
duto) a respeito da excelencia do artigo a ser propagado.
Alias, o vendedor tem consciéncia de que lhe convém passar
por essa lavagem de cránio, pois um vendedor nao conven
cido do valor dos seus artigos nao pode convencer outras
pessoas.

2. Entre os mais importantes meios utilizados pela publi-


cidade tém-se imagens e palavras.

As imagens derivam sua forga sugestiva do fato de que


nosso subconsciente costuma recorrer a símbolos; estes asso-
ciam conceitos entre si.

A palavra fornece a interpretacáo das imagens e ocorre


para dissipar os bloqueios das mentes inibidas.

Devem-se mencionar outrossim os elementos que refor-


gam o poder da sugestáo:

a) O «relax». Existe constante relacionamento entre o


corpo e o espirito. As tensóos intelectuais ou mentáis se 1ra-
duzem por tensóes nervosas e contracGcs musculares. Ora,
para que a mente esteja descontraída e receptiva, é preciso
que o corpo também esteja tal. Por isto os mercadores de
tapetes de Marrocos e do Líbano recebem seus clientes com o
máximo do conforto: antes de mostrar-lhes a mcrcadoria, ofe-
recam-lhes com sorriso e simpatía urna xícara de cha c póem
os visitantes a. vontade. Nao raro na televisáo os publicitarios
exibem imagens «leves e suaves», repousantes, antes de apre-
' sentar a mensagem comercial.

b) A repeticá». Dizia Napoleáo: «A repetigáo é a me-


lhor das retóricas». Sabe-se que, no caso de um individuo, em
estado de vigilia e em gozo de saúdc mental, nao basta urna
sugcstño para mudar-lhe as cstruturas montáis e o compor-
tamento. A repetigáo reforga a sugestáo e compensa a fra-
queza do sinal. — Note-se, por exemplo, que os nomes de cer
tas marcas de artigos mais comuns, repetidos constantemente,
tomaram o lugar do designativo originario desses objetos:

— 139 —
PERPUNTE E RESPONDEREMOS-? 244/108»

assim é que se diz «Gilete» (em lugar de «lámina»), «Bic»


(em lugar de «cañeta»), «Brahma» (em lugar de cerveja),
«Picóle» (em lugar de «sorvete»)...

c) O exemplo. Constituí um dos mais fortes elementos


sugestionadorcs. É o que se verifica desde a infancia: muitas e
muitas vezes os genitores, mediante o exemplo, influem deci
sivamente sobre o comportamento dos filhos.

d) O estado emotivo. Um ánimo amedrontado ou aba


tido c especialmente propicio ao éxito da sugestáo. Ao con
trario, a confianza absoiula com que alguém eré no que faz,
torna essa prssoa difícilmente sugestionável. Assim o orador
habitualmente tímido e inseguro que venha a se entusiasmar
pela toso que ele proponha, encentra súbitamente palavras
adequadas o passa a tur inspiracóes <:geniais».

Passemos agora a muilisc de fenómeno congénere.

3. O curandeirismo : «placebo» e otimism-o

A forca da sugestáo explica, em grande parte, os resul


tados «maravilhosos» obtidos pelos curandeiros.

Com efeito. Um consultorio de curandeiro tem seu aspecto


característico: sala sombría, dezenas de pessoas á espera em
cadeiras gastas ou em pé, imagens de santos, cheiro de incensó
ou de velas... Durante as horas de espera, os pacientes con-
versam entre si, louvando as facanhas do portentoso curan
deiro. Este vai rocebendo cada cliente com aspecto compene
trado e misterioso; utiliza hoje em dia os mesmos processos
já aplicados durante sáculos por seus antecessores: gestos,
encantamentos, fórmulas mágicas, chas, banhos com ervas.
talismás, bentinhos... A análise das plantas e dos produtos
químicos utilizados pelos curandeiros mostra que aqueles as
vezes contém elementos terapéuticos. Em muitos casos, porém,
trata-se de elementos cuja ac.no é quasc exclusivamente suges
tionante (agua distilada, farinha, lactose...). Os efeitos
extraordinarios, que realmente entáo ocorram, sao chamados
«efeitos placebo».

— 140 —
PODER TJA SUGESTAO E SOFROLOGIA 9

3.1. Que é o «placebo» ?

O «placebo» é um produto de aparéncia farmacéutica


(comprimido, xarope, ampola, supositorio...), mas química
mente inerte (agua distilada, comprimido de miólo de pao ou
de Jactóse, pilula de farinha, etc.), que é apresentado ao doente
como auténtico medicamento. A palavra «placebo» vem do
latim «placeré», agradar. O uso de tal vocábulo é antigo:
quando um paciente outrora pedia um remedio que o médico
nao lhc quería dar, o clínico procurava satisfazer-lhe de algum
modo, prescrcvendo um remedio inofensivo; dizia entáo: «Se
islo nao Ihe fizer bem, ao menos nao lhe fará mal, e eu o
brindara com um agrado (placebo)».

A utilizacáo consciente do efeito «placebo» como terapsiK.


tica data de famoso episodio ocorrido. há cerca de trinía anos,
a saber:

Em 1919 a industria farmacéutica americana pós-se a


produzir as antiislaminas, destinadas a combatcr os males da
alergia, da asma e, como se dizia, da simisile o dos resfriados.
Lol;o o aparato publicitario apoderou-se do fato o comecou a
anunciar um remedio milagroso que cortava os resfriados.
Os consumidores do mesmo se multiplicaran!, registrando exce
lentes resultados na maioria dos casos.

As autoridades militares norte-americanas intercssaram-se


pelas antiistaminas, pois muitos soldados durante os t-eina-
menlos de tropa contraíam resfriados, que degeneravam em
bronquites e outras molestias respiratorias. Em conseqüéncia,
foi encarregado o tenente-coronel Dr. R. J. Hoagland de rea
lizar testes com os novos remedios antes de qualquer enco-
menda. O Dr. Hoagland resolveu entao repartir os seus pacien
tes cm tres grupos iguais:

— aos enfermos do primeiro grupo nao deu remedio


algum, deixando o resfriado evoluir normalmente;

— aos do segundo grupo deu regularmente pastilhas


antiistamínicas;

— aos do terceiro grupo deu regularmente pastilhas exa-


tamente iguais ás anteriores quanto á forma e á cor, mas por
tadoras de lactose (acucar tirado do leite), sem efeito farma
céutico.

Após quarenta e oito horas de experiencia, verificou os


seguintes resultados:

— 141 —
10 «PERPUNTE E RESPONDEREMOS* 244/1980

— os pacientes do primciro grupo, que nada haviam to


mado, continuai*am a sofrer do seu resfriado;

— os do segundo grupo, que haviam ingerido o medica


mento, foram curados na proporcáo de 35%;

— quanto aos do terceiro grupo, que tinham tomado


apenas um cplacebo.* ou um simulacro de remedio, foram cura
dos também na proporcáo de 35%.

Dianto dos fatos, o Dr. Hoagland declarou que as antiis-


taminas só tinham poder sugestivo e as autoridades militares
deixaram de pensar na uplicayao do «remedio».
A experiencia fez grande alarde. Os estudiosos empreen-
deram numerosas outx-as semelhantes, multiplicando assim os
«placebo». Tais experiencias revelaram quáo grande pode ser
a influencia do médico sobre o paciente e a medicacáo respec
tiva. Os efeitos desta estáo muitas vezes em fungáo do julga-
mento proferido pelo médico, que tanto pode dizer: «Este
remedio é excelente» como «os seus efeitos sao duvidosos».
O Dr. Voc'gyesi tornou especialmente evidente a influencia
exercida pelo médico, realizando a seguiníe experiencia:

Distribuiu seus pacientes de úlcera evoluida em dois gru


pos. O mesmo «placebo» foi ministrado a todos; contudo ao
primeiro grupo o médico explicara que se tratava de remedio
novo e sensacional. Ao segundo grupo a enfermeira explieava
que se lhes eslava dando, a titulo de experiencia, um remedio
cujos efeitos eram mais ou menos conhecidos. Um ano mais
tarde, o exame clínico dos dois grupos revelou 70% de exce
lentes resultados no primeiro grupo e 25% apenas de bous
resultados no segundo grupo!

A verificagáo da importancia da atitude do médico para


a cura do paciente levou os estudiosos a pralicar a operacáo
«*ás cegas»: o médico procedida como se nao conhecesse bem
a eficacia do remedio, deixando o paciente na incerteza do
resultado. Ora os efeitos desla operado foram curiosos: em
alguns casos, os «placebo» so mostraram mais eficazes do que
os auténticos remedios. Assim, por exemplo, as anfetaminas,
excitantes do sistema nervoso central, aumentam a resis
tencia física em 88%, ao passo que os «placebo» a aumentam
em 132% '.

1 Este resultado evidencia bem a importancia da sugosláo favorável


ou otimista ñas competigóes cspoitlvas.

— 142 —
PODER DA SUGESTAO E SOFROLOGIA 11

Os «placebo» podem ter eficacia sobre 30 ou 40% dos


pacientes aos quais sao ministrados. Os 60 ou 70% restantes
sao menos sensíveis aos «placebo»; no caso de certos neuróti
cos, os «placebo» podem mesmo produzir efeitos negativos.

O efeito positivo do «placebo» pode ocorrer também em


cirurgia: certas incisóes (sem auténtica intervenga© cirúrgicá)
provocam curas semelhantes ás de cirurgias de rotina. Verifi-
cou-se que a atitude otimista ou pessimista do cirurgiáo influí
profundamente nos resultados.

Assim as experiencias «placebo» puseram em evidencia:

— a aguo sugestionadora do medicamento;

— a influencia exercida pela atitude do médico;

— a importancia do otimismo ou do pessimismo do pa


ciente. O efeito «placebo» será tanto mais notorio quanto
maior for a expectativa do paciente.

3.2. O poder do otimtano

No processo da cura por sugestáo, o curandeiro, por


sai otimismo, 6 capaz de catalisar faculdades latentes no
enfermo,... faculdades psicológicas normáis e paranormais.
Tenha-se em vista o caso do ocultista Coronel Olcott, dis
cípulo de Madame Blavatsky, fundadora da teosofía. OJcott,
certa vez, deparou-se com um paciente chamado Cornélio
Appu, paralitico de um braco e (ao menos parcialmente) de
urna perna. Olcott houve por bem aplicar passes magnéticos
ao paciente, persuadindo-o de que isto o aliviana. A «tera
péutica» nao logrou efeito no momento; mas no día seguinte
Cornélio Appu voltou, acusando leve melhora e solicitando
nova aplicacáo. Olcott, surpreso, Ihe atendeu...; em poucos
(lias o paciente recuperou o uso de seus membros. Fez entáo
urna declarado á imprensa local, que notificou tanto o «mila-
gre» como os poderes extraordinarios de cura do Coronel
Olcott. Em conseqüéncia, apresentaram-se a este sucessivos
pacientes, que nao Ihe deixaram treguas nem de noite, pro-
vindo de diversos pontos da regiüo. Após superar as suas pri-
meiras surpresas, Olcott chegou á evidencia de que a sua pró-
pria fama e a confianga que esta inspirava ó que desencadea-
vam numerosas curas. Os doentes comunicavam a Olcott a
confianca que eles tinham na arte do curandeiro (que a prin-

— 143 —
211/1080

cipio nao tinha confianca cm si). Desta forma Olcott tor-


nou-se taumaturgo.

Citfi-sü também o caso dos curandeiros das Filipinas, que


i-ecobom pacientes de diversas partes do mundo. «Operam» os
seus paeienios í.ohi grande dcrramamenlo do sangue e efusáo
das v'Krcras: cssa sensacao visual, c.xposta ao público, contri
buí para aumeniar o número das curas. Eis o que refere a
esposa de um diplómala latino-americano, que observou o
fenómeno di- perto:

'A íufjos'io é a armn principa! dos curandeiros das Filipinas. Elos


sabe-n r. -o. pa^n cror na realidade das curas, os pacientes precisam de
vor o íarque e d<» ver o foco arrancado do seu corpo. Sao eles mesmos
cue Qx\r.gm ser operados. Ficam frustrados quando o curandeiro nao
consomé nisto. Dai a encenacáo praticada pelos curandeiros. Pois, aos
nossos olhos. nao ce trata de fraude, mas simplesmente de oncenacSo
desüna-Ja a ajudar psicológicamente o paciente a ficar curado" (Oüvier
Jou'c'jl-. em "Paris Maich" n? 1309).

Poi a.sHociac":o de idóias, digamos agora urna palavra


soljrt;

4. Itusionismo

O ilus!on¡.smo ó a arte de iludir ou burlar a vigilancia dos


espectadores, dcslocando ou fazendo aparecer ou desaparecer
objetos de mancira que parece inexplicável. O ilusionista ou
prestidigitador ó um artista que, pela ligeireza dos movimen-
tos das maos, realiza feitos que deixam estupefatos os obser
vadores.

Ora a reflexáo sobre o ilusionismo e a curiosidade que ele


desperia, sugorc tres grandes verdades que contribuem para
desvendar mais ainda a psicología humana:

1) Percebe-se como é débil a perspicacia dos sentidos e


da mente do homem. Toda prática ilusionista consta de nume
rosos movimentos executados perante o público; o truque é
realizado na presenca dos espectadores. O prestidigitador teme
seja percebido ou descoberto ao menos pelas pessoas mais
sagazes. Todavia isto geralmente nao ocorre. E por qué?
— Porque a atencáo dos espectadores é hábilmente desviada

— 144 —
PODER DA SUGKSTAU fe; &utwjnjüia 10

mediante urna palavra ou um gesto magistralmente inseridos


no momento delicado; em conseqüéncia, o olho do observador
cnxerga, mas a consciéncia nao analisa o que enxergou.

2) Depreendem-se também a debilidade do testemunho


dos homens e os mecanismos que explicam a formacáo das
lcndas. Com efeito, as pessoas que assistem a urna ou mais
práticas de ilusionismo, difícilmente conseguem narrar a outras
possoas com fidelidade o que viram: acrescentam ou esquecem
traeos importantes e nao importantes. A atencáo dos obser
vadores ó diversamente impressionada pelas diversas fases do
truque; cada um associa o que vé com experiencias passadas
ou com categorías preconcebidas ou com aspiraqóes intima
mente acalentadas, de sorte que a narracáo se distancia do
lato ou do fenómeno ocorrido. Nenhum prestidigitador do
mundo seria capaz de executar o truque tal como é descrito
pelos observadores!

3) Conclui-se também que os homens tém estima pelas


coisas «misteriosas» e se dáo por frustrados e descontentes
quando a solugáo dos «misterios» é simples. Com efeito, os
espectadores nao raro pressionam o prestidigitador amador
para que revele os seus truques; estáo prontos a tudo para
chegarem a desvendar o misterio... Quanto este lhes é reve
lado, dúo-sé por decepcionados e encabulados... Encabulados,
porque a arte é simples e, nao obstante, eles nao a descobri-
ram por si mesmos. Se o truque é simples, é ■ «bobo» (urna
on») nos olhos do público.

É ainda sobre o fundo de cena da sugestáo que se coloca


o tema seguinte:

5. Sofrologia

«Sofrologia» é um nome relativamente novo no setor das


ciencias. Compóe-se das palavras gregas saos, soos (sereno),
phréin (ánimo ou mente) e lógos (estudo, ciencia). Por con-
seguinte, vem a ser o estudo dos meios de obter urna mente
serena, tranquila. A sofrologia considera os estados ou níveis
da consciéncia humana e as suas modificagóes produzidas por
qualquer estímulo.

Na verdade, além do estado plenamente consciente, há


urna serie de graus de consciéncia psicológica, que váo até o
zero ou o inconsciente.

— 145 —
1_1_ ■ PKUr.UNTK i; !tIgPOXr)t;RKMOS> 2-11/ 1980

O sofrólogo indica como o paciente pode chegar á sereni-


dade de ánimo, respeitando, poróm, a libcrdade do .seu cliente.
Ele nao dá ordens nem impóe, mas orienta como um mestre,
e assim permite que o paciente seja o autor do seu estado de
ánimo. Ao contrario, o hipnotizador forga o paciente a dor
mir e dá-lhe ordens que a pessoa oxecutará scm saber por
qué...

O principal instrumento do sofrólogo para sugerir tran-


qüilidade a um paciente ó a palavra ou, mclhor, o terpnos
lógos, a palavra suave, agradável, encantadora. Esta expres-
sáo era usual entre os autores grogos; Platáo, por exemplo,
ensinava que, para curar o corpo ou o espirito, é preciso recor
rer ao térpnos lógos; este induz tranqüilidade mental, da qual
resulta a saúde corporal.

Quem repete a si mesmo: «Já me disseram que nao tenho


aptidáo para ser chefe» ou «Tenho péssima memoria» ou
Isto me faz nial ao eoracáo» ou «Assim ficarei de cábelos
brancos», se condiciona a si mesmo, pois se predispóe a nunca
na vida poder ser líder ou nunca poder confiar na própria
memoria ou adoecer do coragáo ou aínda encanecer prematu
ramente. Buda dizia: «Somos aquilo que julgamos ser». Ao
contrario desta visño estática o pessimista do homem, a psico
logía moderna sugero urna visáo dinámica, visáo esta que o
térpnos lógos da sofrologia procura explorar, levando os no-
mens a melhorar seus estados psíquicos e físicos.

Nos últimos anos, dedicou-se especialmente ao estudo da


sofrologia o Dr. Freí Albino Aresi, notorio por seus trabalhos
no campo da psicoterapia cultivada ñas Clinicas Frei Aibino de
Sao Paulo, Brasilia, Curitiba e do Rio de Janeiro. O mestre
ensina que no sor humano há urna dimensáo espiritual e urna
abertura para a Transcendencia ou para Deus, que o sofrólogo
deve levar em conta. Nao basta a este propor ao paciente
valores meramente humanos, como se o homem pudesse encon
trar paz e felicidade únicamente dentro dos limites das coisas
temporais e criadas; é, antes, necessário ao psicoterapeuta con
siderar a ansia que todo ser humano tem do infinito ou do
próprio Deus.

O tipo de psicoterapia ou de sofrologia que leva em conta


tal direcionamento do ser humano, toma o nome de Noosso-
frologia. No caso, noo vem do vocábulo grego nous, que signi-

— 146 —
PODER DA SUGESTAO E SOFROLOGIA 15

fica mentó ou a aptidáo do homem a fruir dos valores espiri-


tuais e se deixar orientar decisivamente por eles. A posigáo
de Frei Albino complementa muito válida e eficientemente os
estudos psicoterápicos até aqui realizados. Estes seráo sempre
inadequados se nao levarem em conta a dimensáo e a ansia
de Infinito ou de Deus que há dentro do homem (tenha-se em
vista o artigo subseqüente deste fascículo).

Conclusáo: Os dados propostos neste artigo, de uní lado,


contribuem para elucidar fenómenos que, á primeira vista,
parecem misteriosos e, por isto, sao atribuidos a forcas do
Além. A profundidade e a riqueza das potencialidades do sub
consciente e do inconsciente, provocadas ou catalisadas pela
sugestáo (sob as suas diversas modalidades), sao suficientes
para explicar muitos fenómenos pretensamente religiosos. A
fé nao deve ser propagada ou alimentada na base de falsas
explicacóes de fatos. — De outro lado, o teor deste artigo mos-
íra que o psiquismo humano nao se reduz únicamente a fato
res vegetativos, sensitivos e neurológicos em geral, mas é inde-
levelmente marcado pela presenga de urna faculdade espiri
tual, que coordena as fungóes vegetativas, sensitivas e intelec
tivas do homem em demanda de valores transcendentais ou ;'i
procura do Sumo Bem que é Deus.

Bibliografía :

AMADOU, R., A parapsicología. Sao Paulo 1966.

CHAUCHARD, P., O dominio de si. Sao Paulo 1977.

GODEFROY, CH. H, La dynamique mentale ou commenl dévetopper


vos facultes paranormales. París 1976.

IRALA, A., Controle cerebral e emocional. Sao Paulo 1977.

JOST DE MORAES, G. R.p Terapia Noossofrológica das Clínicas Freí


Albino. Belo Horizonte 1979.

JUNG, C. G., o homem e a deseoberta de sua alma. Pelrópolis 1972.

MAY, R., O homem A procura de si mesmo. Pelrópolis 1976.

MOHANA, J., Plenlludo humana. Porto Alegre 1977.

QUEVEDO, O. G., Curandeirismo: um mal ou um bem? Sao Paulo


1976.

— 117 —
Ecos do "Big Bang" :

"cleus está de volta1'

&n sintese: A revista "Veja" de 19/12/79 publlcou o artigo "Deus


está renascendo", no qual sao apontados íatos contemporáneos que con-
trastam com a p'roclamacao da morte de Dous proveniente da filósofos e
clenlistas do século passado. O hometn. sob a Influencia de teorías male-
rialistas e átelas, parece sentlr-so vazio e frustrado; em conseqüéncia,
retorna ao recon'hecimento do verdadeiro Deus ou cria suas formas reli
giosas próprias (tenham-se em vista os movimentos emotivos místicos de
grupos jovens) É principalmente nos setores das ciencias naturais e da
filosofía que se registra a réplica ao ateísmo: o blg bang. de quo tanto
falam os cientistas modernos, leva a supor a existencia de urna Inteligencia
Suprema que tenha idealizado e realizado este universo. Assim mais urna
vez se comprova que "a pouca ciencia afasta de Deus (tal foi a ciencia
do século passado) e a muito ciencia leva a Deus (tal é a ciencia mais
amadurecida e provecta do século XX)".

No tocante á filosofía política, verificam-se os paradoxos do marxismo:


na Polonia um regimo que se proclama operarlo, reprime greves operarías;
o Vietna comunista faz guerra contra o Camboia comunista... Conforme
os "novos filósofos" franceses (dos quais diversos foram marxístas). nin-
guóm acredita mate no marxismo.. No extremo oposto. verifica-so algo
de inesperado: no Ira a religiao muculmana. mediante os seus alalolás.
pretende reger os destinos da patria (o que na vordade nao tem sido
oportuno) Da parte católica, o Papa JoSo Paulo II se tornou um líder
mundial, capaz de provocar a aglcmeracño de multidóes, sem que faca
a mínima concessao facilitaría...

Em todos estes fatos vejam-se sinais da "volta de Deus", segundo


"VEJA".

Comentario: A revista «VEJA» de 19/12/79 publicou inte-


ressante artigo: depois de recensear as expressóes de ateísmo
dos últimos séculos, apresenta expressóes de surto religioso
nos principáis setores do pensamento e da atividade humana
de nossos dias. Á resenha, redigida por Marília P. Fiorillo o
Marco Antonio de Menezes em estilo jomalístico, nao deixa de
ter seu valor, principalmente se se leva em conta que nao pro-
vém de urna instituicáo religiosa, mas de urna revista de cró
nicas o comentarios, que procura retratar os acontecimentos
da época.

— 14S —
«DEUSESTÁ DE VOLTA» 17

Eis por que, ñas páginas subseqüentes, poremos em relevo


os tópicos mais importantes do artigo, que procuraremos apro-
fundar, a fim de evidenciar o seu auténtico significado.

1. Século XIX : o NAO dito a Deus

No fim do século XIX, o filósofo alemáo Friedrich Nietzs-


che (1844-1900) proclamava: «Deus morreu!» Seria preciso
apregoar a morte de Deus para que o homem pudesse ser ele
mosmo, visto que o Senhor Deus até entáo fora o grande rival
do homem.

O brado de Niet2sche fazia eco ao de estudiosos de diver


sas ciencias que marcaram o século XDC.

No campo da Física e da Astrofísica, por exemplo, o


ateísmo parecía imperar:

"Por volla de 1680 a ciencia alardeava para breve o fechamento


definitivo dos laboratorios... porque todos os fenómenos possiveis na
naiureza já teriam sido devidamente pesquisados, explicados e arquivados.
Quando Napoleüo Ihe perguntou por que nao mencionara Deus em seu
novo livro sobre as estrelas, o astrónomo Laplace respondeu com a arro
gancia de toda urna civilizagSo científica que nos conduziu a urna era tec
nológica: 'Nao precisei de levar em conta essa hipótese'" (art. cit., p. 85).

No üctor da sócio-economia, algo de semelhunte so dava:


«A doutrina socialista penetrava na intimidade dos misterios
sociais, anunciando o ateísmo científico e prometendo provas
mnteríais de que Deus nao existia» (ib., p. 85).

No tocante as ciencias biológicas, Charles Darwin (t 1882)


apregoava a evolucáo das especies regida pelas leis da luta
pela vida (Struggie for Ufe) e da subsistencia dos mais for
tes: as concepcóes mecanicistas e afinalistas de Darwin pare-
ciam suficientes para eliminar o conceito de Deus Criador.

No plano da filosofia, Augusto Comte (t 1857) formu


lava a lei dos tres estágios: o homem teria passado da era
teológica pela era metafísica para a era positiva ou positivista,
que Comte inaugurava. A ciencia rejeitaria qualquer concepgao
de valores invisíveis (Deus, alma espiritual, Vida eterna...)
para se confinar estritamente ao que pudesse apreender por
experiencia sensivel.

— 149 —
18 PKItf JUNTK _K_IIK.SPONDKREMOS» 24-1/LM80

2. Século XX : «O homem morreu !»


A dissoluc;áo dos valores religiosos ou a proclamacáo da
morte de Deus levou finalmente a proclamagáo da morte do
próprio homem. Com efeito; foi este o brado de Lévi-Strauss
e da escola cstruturalista em geral ñas últimas décadas: o
eslruturalismo tentou mostrar que o homem nada tem de pró
prio e distinto cm relacáo aos demais seres. Com efeito, a lin-
gua^em c os atos dos honiens procedem de um substrato incons
ciente, cujo sujeito nao é propriamente o individuo, mas a
sociedad!? como tal. Por conseguinte, um escritor em sou livro
nao diz, mas ó dito pela coletividade ou por urna potencia
inconsciente, da qual ele vem a ser mera expressáo. Ora o
substrato coletivo e inconsciente que explica a linguagem o o
comportamento dos homens, é concebido pelo cstruturalismo
como algo de mecánico e determinado. Notam os autores da
escola que a natureza dos minerais, vegetáis e animáis irra-
cionais é bem ordenada e lógica, porque c regida por leis deter
minadas e rígidas. Assim — dizem os estruturalistas — tam-
bém o comportamento humano: aparentemente livre e espon
táneo, ele se reduz a urna ordem rígida, de sorte que a ciencia
procura «descobrir a necessidade (= as leis determinadas) que
está por baixo da ilusáo de que o homem é um ser livre» (Lóvi-
-Strnuss). Eis ainda palavras de Lévi-Strauss:

"N3o seria suficiente absorver es Individuos no conjunto da socio-


dade : esta tárela é ponto de partida para outras,... que competem ás
ciencias exatas c naturais: redintegrar a cultura humana na natureza
(irracional> e finalmente reduzir a vida ao conjunto das suas condicoes
físico-químicas... Nos eremos que a meta final das ciencias humanas
nao é constituir o homem, mas dissolvG-lo" (La pensée sauvage. Paris
1962. p. 326b).

Alias, o brado estruturalista de morte do homem foi len


tamente preparado por teorías que abalavam ou tentaram aba
lar profundamente o ser humano:

— no século XVII Galileo Galilei (f 1642) desfez a teoría


de que o homem habita o centro do universo; o sistema geo
céntrico cedeu finalmente ao heliocentrismo;

— no século XIX, Charles Darwin (f 1882) concebeu a


teoría da evolugáo das especies, insinuando nao ser. o homem
mais do que «um estágio na escala evolutiva, episodio ocasio
nal na vida do planeta» (art. cit., p. 84).
— no século XX, Siegmund Freud (t 1939) reduziu o
homem a joguete de instintos obscuros e quase indomáveis.

— 150 —
■DEUS ESTÁ DE VOLTA* 19

O homem assim foi «traido» por tres vezes, na linguagem


da rcportagem. Viu-se finalmente arrasado e destruido.

Em conseqüéncia, as geracóes de meados do século XX


comecaram a sofrer de tremendo vazio espiritual. As novas
teorías, rechazando Deus e os valores espiriluais, se a princi
pio despertaran! certa euforia e algum entusiasmo (porque
pareciam proclamar a autonomía do homem), evidenciaram-se
totalmente inadequadas para explicar a realidade e orientar os
passos do homem através da historia.

Sño palavras do artigo em pauta:


"O secuto XIX, herdeiro das iuzes, deu lugar á longa noite contem
poránea do ceticismo, ao eclipse das esperanzas de que o materialismo
c a ciencia poderiam resolver tudc.

O socialismo, por exemplo. sofre aguda síndrome de cinismo : na


Polonia, um regime que se proclama operario, reprime greves operárias;
a China, suposta República popular, apressa-se a apoiar a sangrenta
diladura do Chile; e o Vietná comunista faz guerra contra o Camboja
comunista, e ambos perseguem suas próprias populacSes.

Tanto quanto o marxismo aplicado, a ciencia aplicada está distante


anos-luz de suas profecías otimis'.as. A industria de guerra, sustentada
pela pesquisa de mais de 50 % dos cientistas vivos, chegou a urna com-
plexidade próxima da fiecáo cieni.'fica.

As ciencias e as ideologías estSo em franco descrédito. A autori-


dade leiga, que tanto trabalho leve para destronar sua adversaria reli
giosa, comeca a perder terreno em seus proprios dominios. A verdade,
como se roconheco mais e mais, é que nossa época tem soado mentirosa,
embora íis vezos loquaz em suas boas promessas. Apesar de Copérnlco
(e Galiloo). Durwin, Fieud o Mane — e do cogumelo atómico — Deus
está de volta" (art. clt., p. 85).

É esta «volta de Deus> ou, melhor, o ressurgimento do


espirito religioso e dos valores da fé que importa agora exa
minar em suas facetas concretas. 1

3. Em nossos dias : a volta de Deus

Os articulistas apontam diversos aspectos desse renasci-


mento religioso. Demos-lhes a palavra primeiramente, para
depois tentar traduzir a linguagem jornalística em discurso
mais sistemático e técnico:

"No Irá, Sua presenca subsütui leis e ideologías — Deus volta, all,
para governar diretemente a vida cotidiana, da moda feminina á economía;
Na Franca, duas semanas atrás, e 'nova díreita' e os 'novos filósofos'
chegaram á pancadaila, discutindo se as Uranias sSo fruto da existencia

— 151 —
20 igERCUN'TE E RESPONDEREMOS» 214/1980

de um só Deus ou de Deus nenhum. Professores de Física e Biotooia


ñas mais cerebral». Universidades americanas, confessamSiscretarnente
que a própna ciencia provou que jamáis conseguirá sua velha amblcáo
de afgum dia ter urna expllcacáo total do universo e da vida- ó preciso
reconhecem, readmitir Deus como a explicacao última..." (p* 94).
"Cern anos depois do cientificismo e do socialismo do século XIX
Ele ressurge da maneira e nos lugares mais inesperados. Pols esta volta
engloba muito mais do que as práticas domlnlcals. Na Igreia natural
mente. Oeus sempre esteve. O que chama a atencáo, agora, é Sua pre-
senca fora dos templos, em campos onde costumou estar semore ausenta
ou pelado, como a política, o sexo ou mesmo Sua arquünlmiga, a cien-
Cid (p. 85).

Procuremos agora desenvolver as observares da repor-


tagem segundo os quatro diversos planos que os articulistas
sugerem: o da ciencia, o da filosofía política, o da mística popu
lar e o do Catolicismo.

3.1. As ciencias notarais contemporáneas

Interessam-nos a Astrofísica, o caso Galileo, a tese de.


Danvin e a cónccpcáo freudiana do homem.

3.1.1. O «bíg bang»

Mais urna vez eis os dizeres dos repórteres:


"A volla de Oeus se faz da maneira mais espetacular provavelmente
na ciencia... *É preciso parar de dlzer que Deus morreu', afirma Gustav
Stromberg, astrónomo americano. E ele é apenas um entre as centenas
de astrofísicos, físicos e biólogos de varios países, conhecidos, enquanto
grupo, como os 'gnósticos de Princeton' — urna das mais ayancadas Uni
versidades dos Estados Unidos e do mundo.

... A Astrofísica conseguiu recuar até 13 blthCes de anos atrás, e


todas as provas conseguidas indicam que o universo surgiu e que o
próprio fluxo do tempo comecou — numa grande explosSo Inicial da
massa que concentrarla toda a energía e toda a materia existentes. A
necessidade de postular Deus, racioclnam os gnósticos de Princeton, surge
de urna barreira intransponivel: ó impossivel. hoje como sempre. explicar
qual foi a causa dessa primelra explosSo o'iglnal. E, para ter dado origem
a um universo organizado, a explosSo precisarla ter tldo urna orientaefio
inteligente. Em suma, a Astrofísica, mesmo contra a vontade, teve de retor
nar a urna explicacSo multo mais próxima da versSo bíblica do Génesis
que dos textos da ciencia.

Os homens que chegaram a essas conclusOes, sSo nomes t9o


reputados como o Premio Nobel de Física Richard P. Feynmann o sovié
tico E. Parnov, o británico (e ex-marxlsta) Arthur Koestler. Sua nova
InterpretacSo — balizada de 'hipótese Deus' — surgiu como resultado de
urna longa e Intransigente marcha do pensamento científico, passando
pelas- complicaedes da teoría da relatlvldade de Einstein, da mecánica

— 152 —
<DEUS ESTA DE VOLTA» 21

quánlica de Max Planck o Werner Heisenberg. Ern resumo, sempre que


chega a limites do Infinitamente pequeño ou no infinitamente grande, a
propria ciencia prava que neo pode avancar mais — embora tenha
certeza de que ainda nao conclulu sua busca. A 'hlpótese Deus' em vez
de nascer de súbita » religiosa dos dentistas atuais. ó retomada asslm
como conseqQéncia lógica e indispensável da ciencia ateísta" (pp. 88-90).

Com outras palavras, diriamos:

O nosso sistema solar faz parte de grande sistema de tipo


espiral que se chama a «Via Láctea» (a nossa galácia). Este
nosso sistema solar (que no conjunto da galácia é comparável
a um grao de poeira) atinge as respeitáveis dimensóes de 10
bilhóes de km (órbita do planeta Plutáo) ou, em linguagem
de Astrofísica, dez horas-luz (urna hora-luz é a distancia que
a luz percorre em 60 minutos com a velocidade de 300.000 km
por segundo). A Via Láctea, por sua vez, tem um diámetro
de aproximadamente 100.000 anos-luz; ola incluí estrelas como
o nosso sol (que é estrela ana) e outras ditas «supergigantes»,
num total de perto de 200 bilhóes de estrelas. O universo se
compóe de galácias mais ou menos semelhantes á nossa, que
se agrupam em blocos (cada um dos quais pode compreender
milhares de galácias).

Todo este sistema do universo está em expansüo e parece


estender-se em torno de nos atingindo distancias de aproxima
damente 20 bilhóes de anos-luz. O fato desta expansáo leva
os astrónomos a tentar reconstituir o passado do' cosmo: jul-
gam, pois, que se deriva de urna grande e estrondosa explosáo
(big bang).

E que terá explodido? — Um pouco de materia de dimeii-


sóes infinitesimais (10M cm de raio) a urna temperatura de
centenas de bilhóes de graus... Nada de muito seguro se pode
dizer a propósito.

Alias, o universo nao está apenas em expansáo; está tam-


bem em evolugáo continua e em grande escala: a denskJade
media da materia vai diminuindo e talvez também a sua velo
cidade de expansáo esteja mudando. Em testemunho desta
afirmacáo, pode-se citar, entre outros, o fenómeno das estrelas
ditas novae (novas) e supernovae (supernovas); sao enormes
massas ígneas á semelhanga do nosso sol, que se extinguem
com violencia inimaginável, emitindo imprevistos fulgores no
espaco. Este fenómeno está em conexáo com o dos chamados
«buracos negros»: estes sao residuos de grandes estrelas (nao
menos de duas ou tres vezes a massa solar); tendo consumido

— 153 —
22 ^PERPUNTE E RESPONDEREMOS* 244/1980

por completo o seu combustivel nuclear, entram em colapso


gravitacional; entáo toda a massa da ex-estrela é irresistivel-
mente tragada no interior de urna esfera que tem por raio o
que se chama «raio gravitacional» ou «ralo de Schwartzschild»
(para o nosso sol, esse raio é de 3 km; para a Térra, é de
menos de 1 cm); o fenómeno dos «buracos negros» aparece
como algo de gravemente anómalo e desconcertante no con
junto das leis da natureza; os «buracos» sao como que «zonas
extraterritoriais» de mcomunicabilidade no universo.

Pergunta-se: o universo em expansáo para onde se dirige?


— Há quem responda que tende a contrair-se de novo, retor
nando ao estado de condensagáo, segundo um dos modelos ima
ginados pelo astrónomo russo Friedmann. A essa fase de con-
tracáo suceder-se-ia novo big bang, do qual resultaría mais
urna vez a expansáo do universo. Por conseguintc, este seria
sujeito a ciclos, caracterizados por dilatagáo e contracáo suces-
sivas. — Todavía deye-se observar que a teoria do «universo
cíclico» é extra-científica; ela postula estados passados e futu
ros do universo, dos quais nao há prova científica. «Nao tem
sentido perguntar o que acontecerá após o colapso final do
universo, como também nao tem cabimento falar do que ha-
verá acontecido antes do big bang», comenta oportunamente
J. N. Islam na revista Sky and Tofesoope, jan. 1979, p. 18.

Ora o estudo do universo, de suas inimagináveis dimen-


sóes e de seus maravilhosos fenómenos nao pode deixar de
suscitar no homem interrogagóes e atitudes de ordem filosó
fica: o estudioso é impelido a procurar o sentido da materia,
do tempo e do próprio homem... As ciéndas naturais e, em
especial, a Astrofísica se aproxhnam da filosofía e da teolo
gía, porque sugerem lógicamente as perguntas: Donde vimos?
Para onde vamos? O misterio do universo, em última aná-
lise, leva o estudioso a reconhecer os vestigios e a sabedoria
do Criador, como insinuam os repórteres da revista «VEJA».

Foi precisamente a questóes metafísicas, ligadas a fé, que


chegaram astrónomos de-diversos Rafees reunidos em Roma
de 24 a 29 de setembro de-1979 para realizar um Congresso
sobre «O problema do cosmo» em comemoragáo do primeiro
centenario do nasdmento de Albert Einstein. Veto entáo á
baila a tese de que o universo é fnteligfvel — o que quer dizer:
os dentistas só conseguem penetrar dentro dos «segredos» dos
espacos cósmicos, porqué creem que a natureza é racional ou
lógica e, por isto, pode ser apreendida pela inteligencia hu-

— 154 —
«DEUS ESTA DE VOLTAV yzt

mana; esta, porém, ao estallar,


as pegadas da Inteligencia
grande responsável pelo universo
foi a conclusáo semelhante'qué^
se depreende do segutate testémünffó
"O dentista ó penetrado pelo wnaf^^m^eSÉBManwBai.,.*
O seu sentlmento religioso essuma a forma da ádmlracSo extática odiante
da harmonía das lels da natureza, fevetarulo^r ufrtóifc^gínelaljfld'rnala
elevada que, comparados a ela, todo o pensar e-lodo o-aglf-dóapióniano-
aparecem como reflexoa Insignificantes. Esta convlccáov ó .o principio iiu©
gula a vida o o trabalho do dentista na medida enúque ele ó capaz
do se elevar ácima da escravIdSo dos seus desejos egoístas" (tfanscrllc-
do llvro de A. BERTIN, Elroteb»: la vita, B pensteio, 1 tsstf ésetnplari.
Milano 1971, p. 184). . - ...

Paya ilustrar estes dizeres, citemos aínda o fató" de que


o S. Padre Joáo Paulo n recébela 28/09/79 os qrganiza-
dores e os conferencistas de tal Congresso, propondo-lhes as
seguintes ponderacóes: ' .i.-. <f¡*r-

"A cosmología se coloca eos confinadla filosofía e da rellglflo,


pois... leva espontáneamente "a perguntas qne nao',eftcontraín '+BSpost¿
dentro do sistema mesmo do costno. '': ■•--*'■ • ;*";T ''^

... A razflo científica, apos tonga camInháda^tH¿ í


novo as colsa3 com surpresa nova; levadnos a propor fcolh
sldado algumas das grandes porguntas do homem d
vimos? Para onde vamos?" r " ' ;;
É nestes termos que as ciencias físicas,1 em.
de Deus o homem, o levam de novo ao
dito com razáo: «A pouca ciencia afasíará
ciencia leva a Deus». Com outras palavras&fja
cial pode induzir o homem a erros, ent "
Cao de Deus, precisamente pelo fato de ser:si
mária. A ciencia profunda só pode reconduzlr o hontemxa©
Criador, mostrando-lhe novos e novos motívós^paracrer; ^;

Alias, deve-se observar o seguíate: ^o^ateu nunca é tal


porque tenha a evidencia de que Deus nao existe, já que a
nao existencia de Deus nao pode ser, proveí aoci^ntrário, a
existencia de Deus é atmgSvel e demonstrável i
Vé-se, pois, que o ateu é tal j ' " "'"''""""'
isto é, porque lhe parece qué
da inteligencia (o que |
cimento das verdades-
contra-testemunho*'i _
poderosamente as pessoas "de
24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 244/1980

ateísmo. Quanto mais alguém cstuda de coraqáo reto, tanto


mais se aproxima da verdade suprema, que é Deus.

Digamos ainda algumas palavras sobre outros tópicos de


ciencias naturais já atrás abordados:
p

3.1.2. O coso Gaüleo

Os fiéis católicos reconhecem hoje que a S. Escritura nao


tenciona ensinar o geocentrismo e que, por conseguinte, Ga-
lileo, ao propor o heliocentrismo, nao entrava em conflito com
as verdades da fé. O homem deve estar consciente de que nao
habita o centro do universo, mas, sim, um minúsculo planeta
dependente do sol. Isto, porém, nao quer dizer que tenha per
dido algo da sua dignidade intrínseca. Sim; pequeño e insig
nificante como é, o ser humano, por sua inteligencia, é capaz
de conhecer o espago remolo e as proporgóes surpreendentes
do cosmo. Notava-o, alias, oportunamente o S. Padre Joáo
Paulo II no seu discurso aos astrónomos em 28/09/79:

"Se o conhecimento das enormes djnens5es do cosmo dissipou a


ilusáo de que o nosso planeta ou o nosso sistema solar sejam o centro
físico do universo, nem por isto o homem foi diminuido na sua dignidade.
Antes, a aventura da ciencia nos fez descobrir e experimentar com viva-
cldade nova a Imensidade e a transcendencia do espirito humano, capaz
de penetrar nos abismos do universo, de sondar as suas leis, de tracar
a sua historia, elevando-se a nivel inccmparavelmente superior ao das
outras criaturas que o cercam".

O S. Padro Joáo Paulo II, neste mesmo discurso, aludia a


urna revisáo do processo de Galüeo. Nao quería, com isto,
preconizar o reexame dos autos do processo, pois nao teria
grandes conseqüéncias jurídicas ou doutrinárias; há muito que
a figura de Galileo já foi exaltada e os teólogos aceitam o
heliocentrismo. Com as suas palavras, o Pontífice tencionava,
antes, incitar os estudiosos a reconhecer que nao há conflito
entre ciencia e fé; as pretensas divergencias ocorridas entre
urna e outra na historia dissiparam-se com o progresso dos
estudos das ciencias c da teología.

3.1.3. A teoría de Darwin

A evolucáo dos viventes é hoje em día também um fato


reconhecído pela Igreja. O que havia de inaceitável na teoría
evolucionista concebida por Darwin, era o mecanicismo ou a
tendencia a explicar os fenómenos da vida sem consideracóes
finalistas ou teleológicas. Em outrzs palavras: era a ausencia
de Deus na cosmovisáo darwinista.

— 156 —
ESTA DE VOLTA» 25

Feita a distincáo entre evolucáo biológica e ateísmo, a


Igreja aceita um evolucionismo teieológico ou finalista, ou seja,
regido pelo sabio plano do Criador. Tal evolucionismo nao
considera o homem apenas com um simio aperfeigoado, mas
admite no ser humano a existencia de urna alma espiritual
diretamente criada e infundida pelo Senhor após longa prepa-
ragáo do ambiente pela progressiva ascendencia das especies.
É precisamente a espiritualidade da alma ou do principio vital
que faz a especificidade do ser humano, dando-lhe lugar de
supremacía entre os demais viventes terrestres.

3.1.4. O ponsexualismo de Freud

Freud terá sido o terceiro «traidor» do homcm, reduzin-


do-o a joguete de instintos eróticos e agressivos (ou de Eros
e Thánatos).

Esta triste imagem do homem evidenciou-se, com o tempo,


como unilateral. Entre os próprios discípulos de Freud for-
mou-se a ala dissidente Ou heterodoxa, da qual Cari Gustav
Jung é notorio expoente; reconhece no ser humano fatores e
impulsos de outra ordem; com efeito, o amor á verdade, á jus-
tiga, aos valores éticos pode mover o comportamento humano
de maneira decisiva, levando a pessoa a renunciar á satisfagáo
de apetites scxuais ou eróticos em vista de tais bcns.

A psicanálise, como técnica, associada a urna filosofía de


inspiracáo crista, é perfeitamente conciliável com a dignidade
humana e a mensagem do Evangelho.

Deixemos agora as ciencias naturais a fim de passar para

3.2. O plano filosófico-político

O marxismo, que até poucos decenios atrás parecía ser a


fórmula socio-política que tiraria o homem das suas aliena-
cóes, libertando-o, entre outras, da «religiáo, opio do povo»,
está hoje em descrédito.

As causas deste declinio sao de dupla ordem: de um lado,


a experiencia mesma do marxismo, vigente há mais de ses-
senta anos na URSS, e mais recente em outrbs países, mostra
que é utopia inexeqüível o ideal da sociedade sem classes, sem
dinheiro, com igualdade de chances para todos... De outro
lado, os estudiosos do marxismo póem em evidencia o caráter
anacrónico de certas teses do sistema; supóem a realidade do

— 157 —
26 PERGUNTE E RESPONDEREMOS- 244/19S0

sáculo XIX, que nao é a do século XX. Dontre esses pensa


dores, salienta-se a corrente francesa dita «des Nouveaux Phi-
losophes» (dos novos filósofos), dos quais alguns foram mar
xistes, mas hoje contestam decididamente as teorías e a pra
xis do comunismp.

Jean-Marie Benoist, por exemplo, é um «novo filósofo»


(nunca foi marxista, porénv): em 1970, publicou o livro Marx
est mort (Marx está morto), obra que exprime adequadamentc
o pensamento da nova corrente. Sao palavras de Benoist:
"A teoría do marxismo é um (racasso, porque ;epousa num con-
ceito de ciencia completamente anacrónico, cujas raízos ostSo firmadas
no século XIX. é urna Idéia positivista de ciencia muito pobre num a ava-
liacSo final: basta ver que nesto espago de tempo, isto é, de quando o
marxismo foi formulado até hoje, a Fisica evoluiu, a Astronomía evoluiu.
a Matemática evoluiu, mas os marxlstas continuam acorrentados ao século
passado".

"A estreiteza do marxismo também está no fato de que ele pretende


explicar todos os tatos através da economia. Há urna obsessSo na refe
rencia á Infra-estrutura económica".,

"O marxismo é um fracasso por sua impossibilidade de aceitar e res-


peitar as diferencas individuáis" (textos extraídos do Caderno Especial,
p. 1. do "Jornal do Brasil" de 16/09/79).

Leszek Kolakowski é um polonés que foi expulso do Par


tido Comunista por haver criticado as restribóos á libordade de
expressáo na Polonia'; hoje é professor em varias Universidades
norte-americanas. Declarou em Brasilia (selembro de 1S79):

"O comunismo nao é mais urna questSo de debate político ou de


fé; é slmplesmente urna questSo de (orea. Na Polonia ningucm acredita
mals no comunismo ou em Marx".

"O marxismo está sendo usado principalmente como um instrumento


legitimador nao só de regimes opressivos do Leste europeu, mas como
um conjunto de frases utilizadas para as mais diversas finalidades poli-
ticas — multas das quals nada tém que ver com os Interesses com os
quais o marxismo se identificava originariamente" (ib. p. 4).

Mudando de quadro geográfico e de enfoque, notamos


aínda: para grande surpresa do mundo inteiro, em pleno sé-
culo XX instaurou-se no Irá um regime que se poderia dizer
teocrático ou inspirado diretamente pelos principios do Coráo
e do Islamismo. É certo que o Govcrno do ayatollah Khomeiny
nao tem sido feliz; nacionalismo e religiáo se tém entrelazado
com detrimento para a religiáo islámica. Todavía interessa
aqui apenas mencionar o curioso fato de que Deus esteja sendo
invocado como mentor de urna organizado política no século

— 158 —
■jDEUS ESTA DE VOLTA > 27

do racionalismo e do materialismo. Nao será isto o testemunho


de que as ofertas do ateísmo e do materialismo políticos nao
satisfizeram ou nao inspiraram confianca aos homens do nosso
tempo?

3.3. A mística fovem

Além dos fatos apontados, deve-se registrar outrcssim o


surto de movimentos religiosos um tanto emotivos, desligados
da razáo e excéntricos, que se váo propagando nos Estados
Unidos, no Brasil e em outros países. Tais sao, por exemplo,
a corrente dos Meninos de Deus, a da «Jesus-Revolution>, a
de Hare-Krsna. Nao raro esses grupos caem em libertinismo
sexual, como se fosse caminho para a experiencia de Deus
— o que redunda em absurdo. Como quer que seja, o que
importa aqui, c o fato de que o sentimento religioso tente
assim afirmar-se em réplica ás lacunas deixadas pelas prospec
tivas e promessas da sociedade de consumo.

3.4. O fenómeno católico

Os articulistas de «VEJA« referem-se também a figura do


Papa Joáo Paulo II, que, segundo dizem, se tornou um líder
mundial, recebido o aclamado por multidóes. E isto, sem que
S. Santidade faca a mínima concessáo no tocante á fé ou a
Moral. Ao contrario, desde o inicio do seu pontificado, Joáo
Paulo II deu provas de estimar a disciplina da Igreja e con-
firmou pontos nevrálgicos já afirmados por Paulo VI (a re
cusa dos anticoncepcionais, do aborto, o uso do hábito reli
gioso, etc.). Assim escrevem os repórteres de «VEJA»:

"Em menos de um ano de pontificado, já se tornou o papa mais


popular do sáculo, bate récordes em póstera religiosos e em audiencias
na basílica de S9o Pedro.

Tornou-se até mesmo um cantor de razoável sucesso, com a edlcáo


de um disco com a sua voz. Seu vertiginoso prestigio se torna ainda mais
significativo, porque nada deve a um suposto progressismo: JoSo Paulo
tem emitido posicoes claramente conservadoras, como na condenaefio do
aborto ou na questáo do celibato dos • sacerdotes. Mas a multidfio que
se ajoelha, reverente, todas as quartas-feiras, no patio externo do Vaticano,
nSo parece especialmente interessada em questóes teológicas ou na revisSo
de dogmas. Seu olhar, durante a rápida aparigáo solerte do chele espiritual,
brilha como se buscasse urna Identldade e um carisma que nao se encon-
tram mais com muita freqüéncia ñas cartelras de identidade ou nos homens
públicos" (p. 86).

Passemos agora a urna

— 159 —
28 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 244/1980

4. Conclusóo

Temos nestas páginas alguns tópicos que ilustram o renas-


cimento religioso de nossos dias. Em urna palavra: tal fenó
meno é síntoma do perene e congenito senso religioso de todo
homem. Quem pretenda erradicar esse sentimento, nao fere
somente a Deus ou a religiáo, mas fere o próprio homem ou,
como diz «VEJA», trai a este, condenando-o ao vazio e á
angustia. Afastado o verdadeiro Deus, que se revelou por Je
sús Cristo, o homem procura substitutivos vaos ou ídolos, os
quais se revclam, sem demora, ineptos para responder á sede
que o homcm tom de Infinito ou do verdadeiro Bem.

O surto religioso contemporáneo vem a ser, para os fiéis


católicos, um desafio a que procurem corresponder a seus seme-
Ihantes, manifestando-lhes a auténtica face do Deus que se
comunica através da sua Palavra e da sua Igreja. Renovem
seu testemunho de fé e de vida, esforc.ando.se por torná-lo mais
coerente e lúcido, a fim de que nao sejam réus diante do Se-
nhor, que disse pelo profeta Amos:

"Eis que dias vlrSo, nos quais enviarei (orne ao país, nao fome de
pSo nem sede de agua, mas fome de ouvir a Palavra de Deus.

AndarSo vagando de um mar a outro, e do SetentriSo ao Oriente,


erraráo em busca da Palavra Divina, sem a encontrar" (Arrt 8,11 s).

E a quem tocarla a rcvsponsabilidadc de apresentar essa


Palavra de Deus senáo aos fiéis católicos?

Bibliografía :

ARCIDIACONO. VICENZO. La cosmología, Einstein e II "blg bang",


in La Civiltá Cattolica n° 3107, 19/12/79, pp. 456-467.

JORNAL DO BRASIL, 16/09/79. Caderno Especial, pp. 1-4 (os


"novos Filósolos").

PR 4/1958. pp. 162-169 (Galileo);

PR 8/1958, pp. 311-316 (psicanálise);

PR 29/1960, pp. 179-187 (Darwin);

PR 93/1967, pp. .365-376'(psicanálise);

PR 107/1968, pp. 459-468 (psicanálise freudiana);

PR 124/1970, pp. 143-150 (estruturalismo).

— 160 —
A moda vai evokiindo...

e o "topless"?

En» sintese: Ouvem-se oplnifies contraditórias a respeito da mora-


lidade ou nao do topless. Na verdade; este vem a ser urna provocacáo
das paixóes e do comportamento Instintivo, Irracional do homem e da
socledado. iftlém do que, Implica degradacfio da mulher, que se expSe a
ser utilizada como joguete ou coisa a bel-prazer do homem. Por último,
note-se que o topless traduz multas vezes o vazio interior de jovens
e mulheres, que procuram tora de si urna compensacSo para o que Ihes
falta interiormente; a publicidade, a fama, o dinheiro... vém a ser entSo
o substitutivo de ideal de vida, cultura, saber, fé e outros bens espl-
rituais...

Por conseguirle, o NSo ao topless na"o significa espirito mesqui-


nho ou nSo evoluído, mas é slmplesmente a expressSo do bom senso e
da dignidade humana; é um servico puro e abnegado prestado á socle-
dade, que corre o risco de ser arrastada por ondas de irracionalismo pas-
sional e degradante.

Comentario: O veráo de 1979-80 suscitou urna nova moda


ñas praias do Brasil..., moda que reproduz costumes de Saint-
-Tropez na Cote d'Azur (Franca) e de outras regióes. O
topless assim adotado por muitas jovens e mulheres provocou
celeumas, intervencáo da policía cá e lá, aquiescencia de auto
ridades .... deixando nao poucas pessoas perplexas. Seria acei-
távcl o uso do topless? O escándalo que ele desperta, nao
seria a rcacáo passageira de urna geragáo formada segundo cri
terios hoje ultrapassados? Nao se poderia dizer que o topless
é inocente e que a maldade está do lado de quem o critica?

É a tais perguntas que dedicaremos as páginas subseqüen-


tes, procurando formular um juízo sereno sobre o assunto.

1. O «topless» : por qué ?

A fim de pódennos avaliar táo objetivamente quanto dese-


jável a nova moda, é oportuno ponderarmos as prováveis mo-

— 161 —
30 .PERPUNTE E RESPONDEREMOS» 244/1980

tivacóes da mesma. Por que tantas pessoas do sexo feminino


a adotaram?

— Poderiamos conceber as quatro razóes seguintes, colhi-


das em comentarios que sobre o tema so tém feito:

1) o emancipacionismo ou o feminismo mal entendido,


que levam mocas e senhoras -a reproduzir indiscriminadamente
atitudes de rapazes e homcns... Como estes andam de busto
despido, as pessoas do sexo feminino julgam que nao devem
ter mais recato ou cuidado do que os seus parceiros, pois o
pudor as poderia tornar inferiores a estes, infantis, etc.;

2) o intuito, consciente ou subconsciente, de chamar a


atencáo, de merecer ser folografada, recebendo em troca algum
dinheiro ou nao... Em suma, a vaidade seria a responsável
pela moda, também neste caso...;

3) a «necessidade» de acompanhar a onda... O medo


de «ficar para tras» ou de estar atrasada impóe a nao poucas
pessoas atitudes que olas mesmas julgam estranhas e com as
quais interiormente se sentcm incompatibilizadas;

4) o desrjo de bronzoar-se uniformemente, ovil ando ves


tigios de alcas sobre a pele...

Sao estas a.'jjumas razóos que com certa probabilidadc


explicam a moda do topicss. Outras se lhcs poderiam talvez
acrescentar, mas a catalo^aeáo completa de tais motivos nao
c decisiva para os propósitos deste artigo.

Pcrguntamo-nos agora:

2. E que dizer?

Poder-se-ia pensar, como cortos comentaristas, que o repu


dio á nova moda ó atitude de quem se fechou no passado e
nao consegue viver a historia do seu tempo,... ou que é res
quicio de tabú que nao raro vem a ser hipocrisia ou fingimento
da parte dos escandalizados.

Na verdade, pode-so crer que algumas posiQóes negativas


frente ao topless scjam falsas ou hipócritas, pois quem as repu-

— 102 —
E O «TOPLESS >? 31

dia as vezes é táo libertino quanto as jovens despudoradas.


Todavía tres consideracóes parecem preponderar sobre as de-
mais, em so tratando de avahar a moda do topless:

1) A nudez do corpo humano costuma excitar as pai-


xóes daqueles que a contemplam, mesmo que tenham o hábito
do autodominio. Todo ser humano normal é sensivel as pro-
vocacóes sexuais. Ora a excitacáo consciente e voluntaria sus
citada pelo topless pode desencadear atitudes mórbidas e com-
portamenlos instintivos, se nao bestiais, da parte de quem
observa a nudez. A imprensa tem noticiado tais conscqüén-
cias, verificadas ñas praias desta ou daqucla regiáo do país.
Assim o valor e a dignidade do ser humano se degradam; a
razáo o o bom senso cedem aos impulsos cegos. Um gesto
bestial provoca outros gestos mais bestiais aínda, porque as
paixóos, urna vez desencadeadas, tendem a se avolumar.

Dcpois de cometidos os atos bestiais, nao poucas possoas


se sentem vazias e frustradas. Percebem que nao vale a pena
expor-se de tal modo aos ímpetos da natureza cega c avassa-
ladora; a humilhagáo e, nao raro, a escravidáo as paixoes vém
a ser a paga de atitudes pré-deliberadas o um tanto irracionais.

2) A mulher, que, através da nova moda, julga estar


conquistando emancipacáo e. afirmando seus direitos. se vai
mais e mais tornando joguete ou «coisa» em poder dos homens.
Infelizmente, é notorio como estes muitas vezes sao habéis:
usam e abusam da jovem ou da mulher e, depois de se satis-
fazer, deixam-na entregue á sua sorte, tendo de enfrentar serios
problemas, que o homem nao experimenta. A mulher s.e deixa
fascinar fácilmente, vende-se por dinheiro ou por carinho (que
muitas vezes nao passa de egoismo disfarcado), e nao raro
verifica, depois de tudo, que foi vilipendiada, utilizada, e nao...
amada. Freqüentemcnte, porém, ela só observa isto tarde
ciernáis, quando o desastre ou a afronta ja ocorrernm.

Pergunta-se, alias, se ó verdadeira emancipagáo a moda


que leva a mulher a imitar o homem em tudo o que ele cos
tuma fazer,... moda que tira á mulher as suas características
femininas e especificas...

3) O desejo, consciente ou subconsciente, de aparecer e


chamar a atengáo do público que anima nao poucas adeptas
do topless, é, nao raro, o sinal de um grande vazio interior.

— 163 —
32 'PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 244/1980

Quem nao possui valores espirituais (cultura geral, ciencia, fé


ideal de vida...) é inquieto e angustiado; sente-se impelido
naturalmente a procurar fora de si um substitutivo para as
verdadeiras riquezas, que sao as interiores; tal substituto vem
a ser, entáo, a publicidade, a fama (mesmo a fama ligada ao
deboche), o dinheiro (associado ao uso do corpo)... Muitas
das pessoas que pptam pelo topless, sao comprovadamente pes
soas carentes e sófregas de algo..., desse algo que seria urna
estrutura de personalidade bcm formada. Caso se lhes ofere-
cesse um nobre ideal de vida, um por qu£* e um para qua viver,
é de crer que varias deixariam de procurar pela publicidade
provocadora urna compensacáo para o scu vazio interior.

Destas ponderales se percebe quanto é sabio dizer Nao


ao topless. Esta recusa nada tem que ver com mesquinhez ou
com mente retrógrada e tacanha; nao é fruto tardío de urna
cultura ultrapassada, mas é simplesmente a palavra do bom
senso e da dignidade humana (especialmente da feminina), que
se faz ouvir em prol da sociedade contemporánea o dos seus
componentes. Como se compreende, é necessária coragem para
proferir um Nao a nova moda; trata-se da coragem indispon -
sávcl a quem queira servir abnegada e puramente, sem pro
curar ser bajulado nem exaltado. Pode ser que a moda do
topless, em vez de se apagar, se alastre mais aínda. Pouco
importa; a verdado e o bom nao se podem avaliar pelo número
de seus adeptos; ao contrario, muilas vezes sao o apanágio de
urna minoría.

Resta aínda propor

3. Urna palavra sobre a S. Escritura

Há quem cite o livro bíblico do Cántico dos Cánticos para


provar que a S. Escritura legitima ou favorece o nudismo...
Eis o texto em pauta:

"Oh, como és formosa, mlnha amada, como ós íormosa! Os teus


olhos sSo como pombas, por detrás do teu vóu. Os leus cábelos sSo como
um rebanho de cabras descendo das varíenles pelas montanhas de Galaad.
Os teus dentes sfio como um rebanho de ovelhas tosquladas, que sobem
do lavadouro; cada urna leva dols cordeirlnhos gémeos, e nenhuma há
estéril entre etas. Os teus labios sSo como um fio de púrpura, e o teu
falar ó doce. A tua face é como um pedaco de romñ por detrás do teu
véu. O teu pescoco é semethante á torre de Davl, rodeada de troféus, da

— 164 —
E O '.TOPLESS>? JJ3

gual pendem mil escudos, todos os escudos dos heróis. Os leus (Jola
seios sSo como dois lilhinhos gemeos de urna gazela que pastam entra
es lirios" (4,1-5).

Ora arrisca-se a ilusáo o intérprete que leia a S. Escri


tura sem levar em conta os géneros literarios dos respectivos
livros. O Cántico dos Cánticos é urna alegoría que apresenta
o amor conjugal como imagem do amor que Deus tem á sua
plebe Israel ou á íilha de Sion (como dizem os profetas). As
expressóes desse amor no livro bíblico tém por fim simbolizar
a veeméncia do amor transcendental de Deus,... e mais nada;
nao pretendem dirimir a questáo da moralidade ou nao do
nudismo. É, pois, fora de propósito argüir a partir de Ct em
favor de modas femininas.

De resto, sabe-se que a S. Escritura apregoa freqüente-


ir.ente o recato o a modestia de trajes. Baste a propósito citar
lTm 2,9s:

"As mulhcos tenham roupas decentes, se enfeüem com pudor e


modestia; nem trancas, nem objetos do ouro, .pérolas ou vestuario sun
tuoso: mas que se ornem, ao contrario, com boas obras, como convém
a' mulheres que se professam piedosas". Cf. 1Pd 3,1-5.

Donde se vé como é incongruente tencionar fundamentar


na S. Escritura modas despudoradas. Possam as pessoas inte-
ressíldas entender quanto estas prejudicam o próprio ser hu
mano, e descobrir a fonte da verdadeira felicidade na reestru-
turagáo da sua escala de valores!

Estéváo Bettcncourt O.S.B.

— 165 —
o ano internacional da crianca:
um balanco1

Em sinlese: O presente artigo analisa as tristes condlcíes em que


a crianza existe em nossos días, apesar do muito celebrada no decorrer
do Ano Internacional da Crianca (1979): escravizacfio pelo trabalho, delin-
qüéncia c corrupcSo, maus tratos c violencia, tráfico ilícito, aborto...
sao males que alligem proíundamene os pequeños e os adolescentes,
apesar do progresso da civilizacáo contemporánea. A autora, ProP Irene'
Tavares de Sá, documenta as suas afirmacdes com dados pouco divul
gados e altamente significativos, tracando quadros realistas o desafiadores.
Conseqüentemente. estas páginas vém a ser um apelo a todas as pessoas
de boa vontade para que tomem consciéncia do problema da Infancia e
da adolescencia em nossos días,... problema que so terá solucSo se a
humanidade se convencer de que o ser humano, qualquer que seja a
sua idade, condicSo social ou instrucSo, vale mais do que o dinheiro.

PI°f o,1,?"»,TavareS de Sá é Licenciada em Filosofía e Assistente


ocal pela PUC-RJ, autora de dezessois livros, entre os quaís - Juvent-jde
em C:Ue. Sociedade em Crise e Cinema. Presenca na Educacáo (ed. Renes
1971, 1976) ; Aos 15 anos e Cinema em Debate (Ed Agir 1971 1974)

Apagados os togos de artificio, silenciados os aplausos pa-a as


iniciativas do Ano Internacional da Crianca, ¡mpoe-se urna reflexáo sobre
a realidade. pois a crianca devo sor objeto de cuidados permanentes
Que 1980 abra novas perspectivas em sua defesa !

1. A crianza ho¡e : dados alarmantes

a) EscravizacSo

1979 foi proclamado pela ONU o "Ano Internacional da Crianca" e


162 nacfies o celebraram oficialmente. Prossegue contudo o drama da infan
cia — abandono, abortos, miserias, torturas, apesar das testas, concursos,
congressos, promovaos na área do enslno, da saúde e de contribuicóes
diversas.

» A pnmcira parto tlnste artigo (A orlanía lioje: dados alar-


-s) já foi publicada cm Sintcse 17, 1979, pp. 105-111.

— 166 —
Segundo Investigares da OIT (Organizado Internacional do Traba-
Iho — "Time" 10.9.1979.), 55 milh5es de crlangas abaixo de 15 anos sao
exploradas em varios tipos de trabalho escravo em diversos países — sub-
desenvolvidos ou industrializados.

Essos 55 mllhóes de menores utllzados em trabalho escravo sao ape


nas urna parcela do número real nSo registrado. Outra parcela recebe
salarlos irrisorios e sua educacáo e saúde sSo prejudicadas. Em alguns
lugares, enancas do cinco anos trabatham dezesseis horas por dia, outras
em atividades perigosas e insalubres. Multas flcam mutiladas em acidantes
de trabalho, sendo logo substituidas por novos "aprendizes" — pretexto
para nao receborem salario algum. A OIT concluiu que no "Ano Interna*
cional da Crlanca" a exploracSo de menores aumentou de 20 % e, diartto
desse quadro, o pouco que se fez para remediar a situacSo, lo i quase nada.

Já se fala em crlancas do "quarto mundo" — as excluidas das con-


dicoes normáis (familia, casa. educacSo). So na Europa seriam qualro
milhócs. Relatónos da Anistla Internacional dao conta de tatos rrsvoltantes—
criancas flageladas, vivendo em campos de prisloneiros. Multas foram se-
qüestradas e condenadas á morte... Enquanto isso, cerca de 400 milhóes
de criancas morrem de fome no mundol.

b) Delinqüencia e corrupjáo

A deliqüéncia, o crime, a droga, a prostituido de meninas... Em


multas capitais de nosso mundo civilizado, milhares de criancas vivem em
condiedes infrahumanas, dando origem ¿s quedrilhas de menores, "tromba-
dinhas", pivotes...

Há alguns anos, sobre um "monte de moleques" ado-mecides em um


porüo, um adulto imaginativo, em certo país, adotou a sciücáo mais sim
ples : aspergiu gasolina o tocou fogo.

Viciados em fumo e maconha aos oito anos... retardados mentáis...


Ooentes e miseráveis, esses pequeños anjos decaídos Infestam, cada dia
em maior número, as grandes cidades, "perturbando a vicia das pesseas
do bem" (!) ...dizem estas.

C'esce também a "pornografía Infantil" (criancas usadas como ins


trumento do promoedes pornográficas e comerciáis). Sob varios úisíarces
a nudoz infantil o a perversao vem sendo exploradas.

Certos males datam de milenios e nao foram Inventados pelo sé-


culo XX, como a prostituido de meninas de dez anos, embsra continuem
a existir, mesmo hoje, "escolas-bordeis" para criancas em varias regióes,
além de outras ameacas á sua integrldade (guerras, torturas).

O filme "Pretty Baby" ("Menina Bonita", Louis Malle. 1S78), embora


passado em 1917, propfie questdes que sao de hoje. Seriisslmas c degra
dantes para urna civilizacáo crista. O aliclamento por drogas é outra praga
dos nossos días.

1 Ler do Petcr Townscn'l -La Gunrro Av:x Kníar.ts. (EJ. Laf-


íont, 1979), objeto duma cmissáo na TV írai-.c:;r.a.

— 167 —
3»; ?:-:rwntk k rksponpkrfimoS'-. 2m/ií>so

Perto es ros. a situacáo do menor também se apresenta muito som


bría e varias anomalías poderiam ser indicadas, como a crimlnalidade dos
menores (ve- artigo no "Jornal do Brasil" sobre a violencia e a delin-
qüéncia juve- — 17.XI. 1979) e o que nos espera "na próxima década",
se providér: = s urgentes e eficazes nao forem tomadas em termos de
educacáo e £=sis!éncia ¡mediata.

Conherí-os as condicóes de vida dos menores carentes no Brasil,


e também i-;: 2:ivas dignas de serení imitadas, ao lado de outras prejudi-
ciais, ou q\s* atentam contra os direitos fundamentáis da enanca.

Sobre a situacáo no Brasil (além de oulros aspectos que poderiam


ser lerr.braí:: ■. um atigo da revisla "Time" (11/09/78) suscilou indigna-
cao gerai e a; autoridades apressaram-se a dizer que eram exagerados
os dados í:-ese.itac!os ídezesseis milhoes de changas abandonadas).
Exagero? S: -as praias e calcadas da zona Sul do Rio, menores em
farrapes c=-- -_am dormindo sobre jomáis. Algumas cstatisticas falam em
vinte, sesse--s mil. seiscentos mil menores abandonados no Rio e em
Sao Paulo. '. -guém sabe ao certo, variando também os conceitos sobre
o vocábulo isandonado".

"Cdsi; -:=sa eente rica e os íilhos deles", disse um delinqüente de


quinze anos e: policial que o prendeu em flagrante de assalto.

Causa: "■ Sao conhecidas. Mas ninguém jamáis explicou a esse me


nino per q.r a diferenca entre ele e os "tilhos deles"...

2. O aborto

a) O aborto sacrifica anualmente milhóes de enancas

O prc::sma do aborto abrange varios aspectos — médicos, sócio-


. familia-es, é:.:o-religiosos, psicológicos, jurídicos, etc., — e remonta a
um lorgínc: passado. Trata-se, em primeiro lugar, do "direito ¿ vida".
Em sua oric=*rt elimológica, o vocábulo significa "matar, morrer, perecer",
consistinúo assim o aborto em sacrificar voluntariamente (quando provo
cado) um s¿- humano incapaz de sobrevida extra-uterina '.

O abc-:o espontáneo nño levanta questoes moráis diretas, embora


causas indicas possam trazer-lhe implicagoes ético-jurídicas (acidentes
provocados, etc.). Cerca de 10% das gestacSes terminam em aborto
espontáneo, determinado por fatores genéticos, infeccóes, agentes quími
cos, etc., resjltando na morte do feto "In útero".

Já o aborto provocado (terapéutico, legal ou criminoso) resulta da


interferencia i-.tcncional da máe, do médico ou de qualquer outra pessoa.
As esía'.ísiicis a respeito sao aínda imprecisas e a política de controle

1 NTio pretendemos analisar o lima c suas graves implicacóas.


No contexto do Ano Internacional ría Crianca limitamo-nos a reunir
daües que- ¡lustram o assunto. Os intoressados poderao consultar a
bibliografía existente sobre os diferentes aspectos da questao. Os Ic-i-
tores católicos podem recorrer aos documentos oficiáis tía Igreja. Lor
Pergunto o Responderemos, n.c" 213 e 225.

— 168 —
CARENCIAS DA CRIAN'CA HOJE 37

de natalidade, o planejamento familiar mal orientado podem levar, e mui-


tas vezes levam, á prálica do aborto. A violencia e as agressóes externas
contra a gestante também podem provocá-lo direta ou ¡ndiretamente.

b) Justificativas ?. . .

O dircito exclusivo da mulher (casada ou celibatária) de decidir se


deseja ou nao o filho, a gravidez de menores, de doentes mentáis, o
estupro, as precarias condigfies em que sSc pratlcados os abortos clan
destinos, sao argumentos apresentados pelos que aprovam o aborto le
galizado.

Sua Icqilimidade vem sendo aceita por muitos e, últimamente, é


recor.hecida legalmenle em auarenia países. Outros aínda o condenam
e só aceilam o aborto terapéutico. Em certas esferas religiosas, mesmo
este último continua a ser condenado ou encontra forte oposicáo. Muitos
médicos também o rejeüam pelos denos clínicos e psicológicos (reacoes
psicc-neuróticas) que até mesmo o aborto espontáneo e o terapéutico
podem provocar;.

Em primeiro lugar (quando provorado) atenta-se contra o "direito


á vida" e. quase sempre mata-se a crianca que ainda é expelida ou
retirada com vida. Já se falou mesmo no aproveitamento desses bebés
para fabricacáo de sabao em países altamente civilizados...

Sobre tal aberracSo ler dos jornalistas Michael Litchfield e Susan


Keniinh "Bebés para Queimar. A industria do Aborto na Inglaterra" (Ed.
Faulinas 1977) Ai sSo relatados fatos assim: "...há um ginecologista
que vende fetos pata urna fábrica de produtos químicos (sabáo e cosméti
cos) ... pagam-lhe muito bem pelos bebés porque a gordura animal vale
ouro no ramo deles...

"iAs pessoas que moram ñas vizinhancas (da clínica onde as criancas
sao queimadas) queixam-se do cheiro de carne humana queimada. O cheiro
sai do incinerador... Sou realista. Se sou pago para fazer um trabalho e
se o trabalho é livrar urna mulher de um bebé, nao estaria desempenhando
meu papel se deixasse que ele vivesse, embora o mantenha vivo cerca
de meia-hora. Tenho alguns problemas com as enfermeiras. Muitas délas
desmaiam no primeiro dia..."

O aborto provocado é homicidio e pode ser considerado assassinato


(infanlicidio). Seu conceito varia segundo as diferentes legislacóes, que
o consideram ou nSo delito passivel de punlcSo. Segundo a Moral, é
sempre urna acao condenável, continuando a merecer condenacao expressa
da Igreja Católica Setores de outras rellgióes, muitos leigos, médicos,
educadores, psicólogos cristáos. etc., preocupam-se com sua prátria e suas
consecuencias. A complexidade do tema exige o enfoque de diferentes
perspectivas.

= No íilme «Sonata de Outono» de Bargman (197S), por ex.,


temos urna máe que obriga a íilha solteira a abortar, e as dramá
ticas oonseqüéncias deste gesto.

— 169 —
38 .PERGUNTE E RESPONDEREiMOS» 244/1980

c) Rejeisóo e opoio

Na defesa do aborto, alguns alegam que a crianza ¡ndosejada (mesmo


nascida a termo) pode acarretar problemas psicológicos (também para
a crianca), já que a maternidado nao desojada é tida por essas máes como
urna carga. Os preccmceltos sociais sao urna sobrecarga a mais para as
mies solteiras e, ao Jado destes, configuram-se também, quanto á rejeicáo
do fllho, problemas conjugáis, económicos, etc.

Entretanto o complexo do culpa acompanha quase sempre o aborto


provocado, mesmo quando nao confessado ou inconscientemente ressenlido.
Ante o dilema de sacrificar o filho, muitas mSes resolvem conservá-lo
(solteiras ou casadas), devendo por isto merecer todo apoto do pai, da
familia e da sociedade. O que infelizmente ncm sempre acontece. No caso
das máes sclteiras, pode-se acrescentar que nao se corrige um erro come-
tendo outro ainda maior e irreparável. O amor ao filho, o respeito ao
misterio da vida deveriam sempre ter precedencia, O infanticidio por aborto
docorre quase sempre da miseria o do abandono da própria máe.

Por outro lado, o comportamento sexual, familiar, social, profissionaf


resulta de um preparo — que houve ou nio — e que irá orientar a con-
duta individual. A liberdade sexual entre menees é hoje problema gravis-
simo, fruto da licenciosidade dos costumes, falta de estrutura familiar, etc.
Urna de suas lamentáveis conseqüéncias tem sido o aborto praticado em
•menores.

O medo, a pressáo, o egoísmo, entretanto, nunca podem justificar


um homicidio. A imaturidado e a falta de formagáo moral e religiosa,
responsáveis pelo comportamento acham-se quase sempre na base dessa
rejeicSo. sendo a liberdade sexual e a promiscuidade resultantes da
crescente permissividade entre jovens e adultos de ambos os sexos. Os
métodos anticoncepcionais (sobretudo a pílula) vieram favorccé-la ainda
mais.

d) Gfras e dados
Só nos EUA a legalizado do aborto resultou em cerca de um milháo
de casos por ano ("Time", 1.8.1977). Em outras regióes as cstalísticas
sSo falhas ou inexistentes. Os meios de comunicacSo nao fornecem dados
exatos o quase nunca ressaltam o aspecto moral em toda sua crueza.
Poucos sao os filmes que tratam específicamente do aborto, mesmo ao
abordaren) a liberdade sexual entre jovens.

"Nouveau Journal d'une Femme en Blanc" (Claude Autant-Lara, 1966)


descreve as situacoes dramáticas de um aborto terapéutico ocorridas com
urna gestante com rubéola o a médica que 6 pratlcou. "Histoires d'A"
(Charles Belmont e Marielle Issartel, 1973), a principio proibldo pela
censura francesa, propio o aborto legal sem compromlssos moráis. Pie-
tende demonstrar como "ó simples e fácil" fazer um aborto.

Só nos hospilais de ássisténcla pública de París sSo realizados anual


mente mais de sete mil abortos.1 e os adeptos da restriefio da natalidade

» A legalizacíio tío aborto no Brasil vem sendo discutida em


.alguns setores. Emhora os dados sejam falhos, consta que so /uz um
aborto por minuto neste país...

— 170 —
CARENCIAS DA CRIANCA HOJK

valem-se também da alegacSo de que a fecundidade natural seria, se


gundo certos cálculos, de onze criancas por familia (?), seguindo-se daí
a legilimidade da planificado familiar. Mas isto só ocorre hojo em melos
muito carentes e pouco inlo'mados. Nos países adiantados, observa-se o
decréscimo da natalidade global, sendo a -pilula e o aborto os principáis
responsavels por este decllnio.

Fontes de informacSo do dominio público dSo os nomes de médicos


que já realizaran) sessenla mil abortos (um deles in "O Globo", 28.6.19/9)
o procuram justificar-se. alegando:

"—...nao me pagam para ter senllmentos. Pagam-me pela mintió


pericia..."

"—. ..comecel a pralicar abortos na época do meu divorcio, por


necessldada de dinhelro..."

E acrescenta:

"Um dia os EUA tomorao conscléncla de que a familia se acabou


(...) Só divorcios, antlconcepclonaÍ3 e abortos..." .

Enquanto isto, multlplicam-se pelo mundo as clínicas especializadas


e os "abortos em massa" com verbas oficiáis, apesar dos protestos de
alguna (por motivos moráis, ou pela finalidade que está sendo dada aos
impostos que pagam). Outros já lalam, a partir,de experiencias genéticas
do fertilizacdo humana, na eliminacao de fetos cujo sexo nao seja o
désejado, ou cujas características nSo sejam ideáis...

3. Es!er¡l¡za$6o

a) Um pouco da realidade

Na década de setenta tornou-se na India quase obrigatótia a este-


rilizacSo de homens e mulheres sob pretexto do cresctmento demográfico
(sua populacSo atual é de seiscentos milhoes de habitantes).

Estímulos e amecas foram postos em prática... "a cada milheiro


de esterilizacóes o médico era promovido" ».

Os dols processos — vasectomia e tubectomia —, quando impostos


arbitrariamente, atentam contra a dignidade humana e, em 1976, o Car-
deal Picachy, arcebispo de Calcuta, manifestou-se em carta circular aos
demais bispos do país, onde lembra que

"a esterlllzac&o obrigalórla viola jwssa conscléncia de cristáos, a


dignidade humana e priva o homem da llberdade que Deus Ihe deu.
E aínda: "A Declaracáo das Nacdes Unidas a respeito dos direitos
do rramem (art 16 § 3) estipula que a familia, ó um elemento natu
ral e fundamental da socledade que tem direlto á protecáo do Estado
e da sociedade. Oa genitores tem o dlieito de decidir a respeito
do número de seus filhos".

i .-Pcrguntc c Responderemos» n° 211, julho de 1977.

— 171 —
40 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 244/1980

Esta última afirmativa, segundo a Moral católica. supOe o emprego


de métodos naturais para a limltagfio dos filhos. Em alguns países, medidas
de estimulo á natalfdade, ajuda famllar, crlacfio de creches, licengas-ma-
ternidade, procuram neutralizar o que uns denominan) excessiva liberali
zado na área (em prejufzo do crescimento demográfico.) com medidas
assistenciais á maternldade :.

Sao conhecldas jas dificuldades enfrentadas pelas máes soltelras e


pelas familias de baixá renda e prole numerosa. Motivos políticos também
pesam nesse estimulo "paternalista" á limitacfio da natalldade e na "plani-
ffcagáo familiar" imposta pelo Estado.

b) A pílula

Em 1975 o "Movimonto de LlbertacSo para o Aborto e a Contra-


cepgio" na Franga conseguía a aprovacSo da "Leí Vell" para a IVG
(interrupgio voluntaria da gravidez). Em dols anos (1971-1973) dobrou
o consumo da pílula, liberado em 1967 (Leí Neuwirth).

A "Leí Veil" (proposta pela Ministra da Saúde, Sra. Simone Veil) foi
aprovada pelo Parlamento em Janeiro de 1975. Revogava a proibigáo do
aborto, que, assim legalizado e praticado só por médicos, encontrou resis
tencia da parte de muitos deles, que .se recusam a pratlcá-lo por motivos
éticos e clínicos. Em varios outros países, o aborto e o uso de anti-con-
cepcionais tém llvre curso. A maiorla das mulheres, em todo o mundo,
aceita os riscos dos efeitos colaterais da pílula, justificando-a como muito
maís prática e moral do que o aborton.

4. O bebé de proveta

A ferlitlzacSo "In vitro" (fertilizacSo do óvulo fora do útero),


segundo muitos médicos, p6e também em risco a vida do nascituro. Se
gundo a mensagem da Conferencia dos Bispos dos EUA ao Governo, essa
manipulagáo pode favorecer abusos na destruigSo dos fetos pela simples
suspeta de defeitos, quanto ao sexo...3, A mensagem acrescenta: "Melhor
emprego (dos impostos recebidos) Ihes doria o Governo aplicándoos aos
esforgos por corrlglr defeitos de nascenga e ao sustentar os setores que
cuidam das criangas defeltuosas".

Sobre a manlpulagfio dos processos básicos da vida, como disse um


especialista, "...o potencial para as aventuras erróneas ó Ilimitado"
("Time". 31.7.1978. p. 29).

2 A mulher que trabalha deverla ter melhor assistdncia (cro


chés distritals, em fábricas; o número destas é muito reduzido no
Brasil). N<J Ano Internacional da Crlanca pouco lol leito no setor,
apesar do Decreto-Lei tí* 5.452 (1943) sobre a instalado de erectos.
0 Quanto ao uso da pilula por parte dos casáis católicos, ler os
textos oficiáis da Igreja e as obras aprovadas.
1 Cí. cNotas Católicas Brasilelras> — 9/6/1979.

— 172 —
CARENCIAS DA CRIANCA HOJE 41

Em 1975 um decreto federal proibiu nos EUA fornecer-se recursos


ás experiencias de fecundacSo "In vltro". Em 1978 formou-se um Cortse-
Iho Nacional para tratar do assunto ("Time" [dem, p. 31), enquanto alguns
alegavam que, nao fora a proIbicSo, os EUA 'se teriam, quem sabe ?
antecipado ás experiencias bem sucedidas na Inglaterra com Louise Brown.

Este bebé será sempre conhecido como "o primelro bebé de pro
veta" bem sucedido de que so teve noticia oficial pois houve experiencias
anteriores, mesmo em outros países. Faltou, porém, prlvacldade em torno
de sua geracSo e nascimento, o que muitos médicos reprovaram. Todos os
detathes estiveram nos jornais e, se, de um lado, a ciencia ajudou sua
vinda ao mundo, de outro matam-se bebés em milhQes de abortos.

Urna nota macabra : o médico responsável pelo nascimento de Louise


Brcv/n angariou recursos para suas experiencias grabas aos abortos legáis
que praticou durante muitos anos -. O sensacionalismo, a "exetusividade"
do caso vendido por seiscentos mil dólares a um jornal inglés, pesam
iambcm negativamente sobre os aspectos moráis intrínsecos.

O teólogo protestante Paúl Ramsey dedarou "imoral" a experiencia,


pois o dircito dos país nunca justifica os riscos que podem sobrevir
para a enanca ("Time", idem). Muitos, entretanto, acham que o novo e
dispendioso processo vem resolver o problema de casáis esteréis, sendo
bem melhor do que a adocáo duma crianca faminta e abandonada...

Quanto aos bebés "programados", de "chocadeira" e "ventre alu-


gado", outras crilicas ético-jurídicas se impSem. Os primeíros, segundo
alguns, sSo os mats ameacados, temendo-se que, além de sua problemá
tica pessoal, eles poderao tornar-se instrumentos á disposicáo da Joucura
de cienlistas dementes. A literatura já se ocupou do caso e o recente
filme "Os Meninos do Brasil" <Franklin J. Schaffner, 1978) propoe a
liecáo (?) das "réplicas" de Hitler.,.

Independentemente dessas experiencias reais cu fantásticas, mílhSes


de crianzas morrem de fome no mundo (enquanto alguns países jogam
fora alimentos...), embora medidas paliativas venham sendo tomadas3.

5. Conckisóo

Os dados ácima sao do conhecimento geral e poderiam ser confe


ridos em diferentes pubiieacóes. Outras informacóes ainda poderiam ser
acrescentadas sobre o direito da crianca á vida desde o momento de
sua concepeáo.

- «Pergunte e Responderemos, n' 226, p. 412.


•"• Em novembro de 1979, trinta e dois paises reuniram-se para
discutir a ajuda ao Camboja, assolado atualmente pela fome. Nem
a relagáo «.fome-natalidade» justificaría o aborto quando sabemos da
má distribuigao das riquezas no mundo, dos progressos da ciencia,
do desperdicio dos bens essenciais (alimentos) e outras anomalías
socio-económicas. Por outro lado, o aborto legalizado é sobretudo
prnticado em grande escala nos países ricos c industrializados.

— 173 —
42 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS> 244/1980

A posicáo da Igreja católica tem-se mantldo Inalterada porque n3o


pode abdicar da verdade ncm do patrimonio da Moral e da fé. Para as
pessoas de consclénca reta e esclarecida, o assunto é da malor gravidade
e transcende opinioes sentimentals, motivos egoístas, demográficos ou
filosóficos materialistas.

Quando urna sóciedade ou um Individuo se arrogam o direlto de


destruir vidas humanas (indetesas e Inocentes) como ocorre com a
tolerancia e a legalizacSo do aborto, há que meditar seriamente sobre a
deteriorado do sentido dos valo'res inerentes á dlgnidade humana e á
leí de Deus. Outros aspectos poderiam ser apontados e alguns defensores
do aborto nao agem talvez de má fé. Urna falsa compaixSo ante sltuacees
penosas, contudo, nao justifica o sacrificio duma crianca.

No "Ano Internacional da Crianca" multas nac6es, grupos, obras e


individuos se vollaram particularmente para os problemas da infancia,
vitima de ¡njusticas. crimes e opressdes. Que malor Injustlca do que
recusar-lhe "o direito a vida"?

A responsabilidade, porém, será apenas das mSes carentes — ou


premidas por diferentes motivos — ou de toda urna mentalidade social
onissa, complacente e anti-cristS?

Entretanto a crianca é o limite, e o próprio Evangelho o enfatlza,


quando Jesús chama a si as crianzas e condena os que as escandalizam
(Marcos 9,42). Qualquer que seja a forma do atentado, do escándalo.

Todos os recursos necessários Ihes devertam ser aplicados, antes


de qualquer outra verba destinada a outros fins. aínda oue justos e
urgentes. Sabemos, evidentemente, das necessidades soclais prioritarias
e que a Infancia nSo poderla subsistir sem o bom funcionamento dessas
estruturas. Mas estas se defendem — a crianca ó Indefesa.

Um poeta vlu assim o valor da crianza:

"O que tanto me comove nesse príncipe adormecido é a Imagcm


da rosa que neto brllha como urna chama, mesmo quando dorme"
(St Exupéry).

Que (¡zemos nos dessa imagem (de Deus), dessa rosa, dessa chama,
desse príncipe...?!

Dezembro 1979

IRENE TAVARES DE SA

— 174 —
livros em estante
Biblia. Mensagem de Oeus: Novo Testamento. — LEB-Edic6es Loyoia,
Sfio Paulo 1980, 140 X 210 mm, 379 pp.

A Liga (católica) de Estudos Bíblicos (LEB), em colaboracfio com


as EdicSes Loyola, lanca a prlmelra parte de nova edicáo da S. Escritura,
a saber: o texto do Novo Testamento. Já sSo multas as edicSes da Biblia
existentes em portugués, principalmente as do Novo Testamento. Todavía
cada urna tem as suas características próprias, que as justifican!. A pre
sente edicto se distingue por seu cunho pastoral, ao mesmo tempo que
ó fiel aos textos origináis. Cada livro bíblico é precedido de urna introdu-
ca"o e acompanhado de notas ao pó da página, que, abstraindo de questSes
aflámente técnicas, clucidam o conteúdo e a mensagem dos versículos ou
das seccces mais diffceis. Além disto, encontram-se, no final do volume,
um índice Temático do Novo Testamento (o que também se chama "Chave
Bíblica), a IndieacSo das leituras bíblicas para as Missas dominicais e
algumas solenidades, além de quatro mapas da Térra Santa.

Nao é fácil traduzlr... Pergunlamos, porém, por que Fl 1,1 e


iTm 3,1 a palavra episkopoa ó traduzida (muilo acertadamente) por
episcopos, ao passo que em At 20,28 é traduzida por pastores (o que
sup5e poiméne3 em grego). Teria sido importante para os exegeta9 e
teólogos a conservacáo da palavra episcopos em At 20,28. Em Ef 1,9, a
traducáo "reunir" é pouco significativa. — Também é de observar a
nova lista de abreviaturas dos livros bíblicos no inicio do volume. Nao
térra sido preferfvel usar apenas duas letras, ou seja, as consoantes Iniciáis
das duas primoiras silabas do nome, excetuados os casos como Esdr,
Eclo. Ecl...?

Estas Indagacóes em nada pretenden» diminuir o valor da nova


edicSo do texto sagrado, que se. recomenda por si mesma ao uso do
nosso público. Aguardamos a publícacáo do texto do Antigo Testamento:

Teología da tiberta^So, por Hubert Lepargneur. Ed. Convivio, SSo


Paulo, 1979, 140x210mm, 175 pp.

O autor é um teólogo de renome internacional, que desta vez sé


volta para o candente tema da Teologia da Libertacáo. Esta nao raro sus*
cita simpatía no grande público, pois é apresentada como a Teologia
"encarnada", nao abstraía, que se interessa pela realizacao concreta das
proposites do Evangelho nos países subdesenvolvidos; parece mesmo a
nao poucos cristáos que o compromisso com a justica leva necessariamenta
a abracar a Teologia da Llbertacáo.

Todavia quem estuda a fundo a sistemática da Teologia da LibertacSo,


n3o se restringindo apenas a esta ou aqueta proposlcáo, verifica que a
Teologia da Llbertacáo nSo é apenas a aplicacSo do Evangelho ás realida
des latino-americanas, mas vem a ser urna re-leltura do Evangelho feita
através do prisma de urna ideología. Para os autores, mais significativos
dessa corrente teológica, a opeáo sóclc-polltico-revolucionária é prioritaria;
em funcáo desta, s3o entendidas e vividas as grandes* proposicSes da fé;
estas, alias, nSo s&o verdadeiras se n9o tém em si o poder de contribuir
para a transformacao da sociedade. Bastam estas poucas sentencas (defen
didas, por exemplo, por Gustavo Gutiérrez) para evidenciar que a Teo
logia da LibertacSo nSo é simplesmente urna carta de principios de acáo
social Inspirada pelo Evangelho.

— 175 —
44 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 244/1980

Ora o Pe. Lepargneur evidencia esta conclusáo com erudicSo e


profundidade. Embora reconheca os valores encerrados no movlmenlo
desencadeado pela Teologia da UbertacSo, nao deixa de apontar as suas
ambigüidades, os seus exageras, as suas confusóes e opsóes contestávels.
(Acentúa a influencia da secularizado ñas concepcSes da Teología da
Llbe'tac§o; mostra que esta preconiza urna Neocristandade de Esquerda
a substituir as Cristandades de Dlreita; vem a ser a politizacáo da Reli-
giáo; Lepargneur de/iuncia especialmente a ambigüidade de certos vocá-
bulos como "libertacáo", praxis, "religiosidade popular", "socialismo",
"povo" (palavra esta que se to.na; por vezes, um mito e serve para mobi-
lizar as massas ñas mais diversas direcdes). Vale a pena transcrever os
seguintes tópicos do livro relativos a "povo" :

"A palavra 'povo1 é laudatoria tanto em portugués como em espanhol.


Em a'liculacáo com a promocáo da religiosidade popular..., seu pres
tigio nSo cessou de crescer. Tornou-se um mito, quer dizer algo do cven-
tualmente manipulável, algo de compreendldo, que nSo precisa ser oxpll-
cado ou provado. O povo sabe, pensa certo, nSo se engaña, nasceu
sem o pecado original; ele é perve tldo pelos clérigos de todos os lados
e espoliado pelos ricos de todos os azimutes... Em suma, a socledade
(a burguesía) corrompe o povo (pensa-se em Jean-Jacques Rousseau)
sem defesa dlante do capitalismo internacional. Nesse sentido, a Teologia
da LlbertacSo tenciona exprimir pura e simplesmente o dinamismo popular;
por meio deta manifesta-se e age a voz dos mudos..." (p. 149).

"Muitos teólogos da libertacSo asseguram que eles interpretam fácil


mente a espontaneldade do povo crlstfio da América Latina na convergen
cia de sua fé e de sua miseria; unía observacSo atenta do fenómeno per
mite duvidar disso. Boa ou má, a teología da libertacfio deve ser atribuida
a seus autores, que sao clérigos de formacfio européia, revoltados — com
ou sem razSo, freqüentemente com razSo — diante do que Ihes parece- a
injustica da condicSo laiino-americana" (p. 150).

Em suma, o estudioso que desejo conhecer realmente o que seja a


Teologia da Libe'tacáo, n3o pode delxar de ler também o livro de Loparg-
neur, que é um dos mais objetivos e fundamentados comentarlos dessa cor-
rente teológica.

107 Invocacfies da Vlgem Ma la no Brasil. Historia, fotclore e Icono


grafía, por Nilza Botelho Megale. — Ed. Vozes, Petrópolls 1979, 140x210mm,
372 pp.

A autora é formada em Museolcgla e Filosofía. Trabalhou no Mu?eu


Histórico Nacional do Rio de Janeiro e no Museu Imperial de Pet'ópolis.
É atualmente dlretora do Museu Histórico e Geográfico de Pocos de Cal
das. Passou doze anos reunlndo lotos históricos e pltorescos sobre a
ofigem das Invocagóes ma lanas assim como Interessantes lendas que
mostram o carinho do povo brasileiro para com a MSe do Céu.

Nilza Megale publica a dócumentacfio relativa a 107 InvocacBes de


Nossa Senhora... e julga que o trabalho aínda nSo está encerrado.

O livro é de g'ande valor nSo somonte histórico, mas também cate-


quétleo, pols responde é IndagacSo popular: "Por que há tantas Nossas
Senhoras?" Percorrendo a historia, a autora mostra que existe urna só
Nossa Senhora, que sucesslvamenle fol sendo invocada sob títulos diver
sos. Também i Importante por manifestar o que 6 histórico e o que vem

— 176 —
a ser leridano em torno das (ormas de devocSo a Nossa Senhora: é
r.alural que o sentlmenlo religioso do povo simples tenha imaginado estó-
rias a respcito de María SS. Ora o presente livro pde em evidencia esta
realtdade, quando ocorre, sem cair num criticismo tendencioso ou icono
clasta, mas. ao contrario, contribuindo para fortalecer a autentica piedade
para com a Máe Ssma., cuja presenca e figura devem permanecer Inde-
láveis junto ao povo de Deus.

Panorama da Parapsicología ao alcance de todos, por Edvino Au


gusto Friderichs. ColecSo de Parapsicología IX. — Ed. Loyola, SSo Paulo
1979. 140 x 210 mm, 324 pp.

Este livro se deve a um próximo colaborador do Pe. Osear Ouevedo,


fundador do CLAP (Centro Latino-Americano de Parapsicologia), O Pe.
Edvino Frideiichs já 6 autor de varios e interessantes livros sobre o
nssunto.

A obra que aquí apresentames, tem o mérito de abordar sumariamente


os antecedentes da parapsicologia (pp. 9-45) assim como os mais diversos
lenómsnos que. direla ou indiretamente, se relacionam com a parapsicolo
gía, inclusive os casos de Un Geller. Triángulo das Bermudas, discos
voadores, poder das pirámides, reencarnacáo... Constituí assim urna "en-
ciclopédia-mirim", que informa o leitor, em termos claros e bem exemplí-
¡icados. a respeito das realidades mais estranhas que freqüenlemente sao
atribuidas aos espi'itos ou a torcas do além. Oesta forma o livro se torna
de grande utilidade para elucidar os falsos portentos e afastar explicacOes
erróneas que Ihes dáo correntes "místicas" contemporáneas. Congratula-
mo-nos vivamente com o CLAP por mais esta produgSo. feita, porém, a
ressalva de um ponto que nos parece muito serio. Referimo-nos as páginas
em que o autor trata da possessáo diabólica (pp. 189-193): o Pe. Edvino,
depois de considerar com muito respeito os milagres de Jesús em geral,
■nsinua discretamente que a possessáo diabólica nao ocorre nos Evange-
¡hos ip 191). Em especial, ao abordar o caso do possesso de Gerasa
iMc S.i-17), lenta explicá-lo por meto da parapsicologia. Ora a respeito
piopomes duas observacóes :

1¡ Nao se diga nem insinué que Jesús, ao abordar os possessos


como se fossem possessos (quando na realidade nao o eram), quis apenas
adaptar-se á credulidade do povo de sua época. Adaptando-se desta
maneira ao erro, Jesús terá confirmado a sua gente e as geracoes subse
guientes até hoje num erro grave. — Ora tal hipótese nao é admissivel,
de mais a mais que Jesús declarou : "Vim ao mundo para dar testemunho
díi verdade" (Jo 8,37). Note-se também que, quando os judeus ou os
Apostólos professavam algurna crendice, Jesús a dissipava de ¡mediato,
como se deu. por exemplo, no caso do cegó de nascenca : "Nem ele
nem seus pais pecaram" (Jo 9,1-3).

2) Em particular no tocante ao possesso de Gerasa, a explicacSo


parapsicología está fora de propósito. Com efeito; o primeiro cuidado
que devemos ter ao abordar um texto bíblico, é o de averiguar o seu
género literario; na base das conclusóes deste exame previo é que se
instituí a exegese do texto. Ora um parapsicólogo que negligencie esta
norma e queira submeter o texto diretamente as categorías da parapsico
logia, passa simplesmente ao lado do conteúdo do texto e nada explica.

Dizcmos islo com grande respeito e estima á escota do CLAP, que


é benemérita a varios títulos, mas que se devena abster de entrar em
questóos teológicas e exegético-biblicas, pois estas pertencem a outra
área do saber.

E.B
VEJÓME NO EVANGELHO

SOU JOÁO BATISTA

QUANDO, NESÍE OCIDENTE DE SUPER-HOMENS,


EU FOR CAPAZ DE EM MIM FAZER DESERTO
E NOS OUTROS VER A BOA-NOVA (Le 3, 1-14)

SOU ZAQUEU

QUANDO «TER» MUITO NAO É NADA,


«SER» ALGUMA COISA É QUE É TUDO
(Le 19,1-10)

SOU A MULHER ADÚLTERA .

QUANDO NO CHAO DA MINHA MISERIA


VEJO DEUS ESCREVER MISERICORDIA (Jo 8,1-11)

SOU A SAMARITANA

QUANDO NEM A AGUA


NEM O POCO
NEM O BALDE
ME IMPORTAR.
PORQUE SO E IMPORTANTE TER SEDE (Jo 4,4-42)

SOU NICODEMOS

QUANDO FOR CAPAZ DE MORRER TODAS AS TARDES


PARA PODER NASCER CADA MANHÁ
(Jo 3,1-21)

M. RITO DÍAS

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