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A Lombada
a Madeira
PUNCHAL
EDIÇAO DO AUTOR
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B lomhada dos Esme~aldosna h
lIa da Maleira
Trabalhos históricos do autor :
A APARECER BREVEMENTE :
FUNOHAL
EDIÇAO DO AUTOR
10ba
COMIJOSTO E IICIPRESSO N A S OPICINAS
DO -DIARIO DA MADEIRA*, AVENIDA
DO DR. ANTÓNIO JOSÉ D E ALMEIDA
: : : : : PIINCIIAL : : : : :
A primitiva coloi~isaçãoda Madeira
I11
(I3) Saudades da Terra, (Ponta Delgada, 1926) Livro IV, Cap. 6õ.
v
João Esmeralda
inandaiiios dar cri1 esta iiossa carta coni seti brrizr?o, eltno e timbre, como em
nieio desta carta são divisadas, e assim cotiio fiel e verdadeiramente se acharam
divisadas e registadas nos livros do dito Portugal Hei de Armas, a s quais armas
são a s seguintes : *O campo esqitartelado, o primeiro de prata com tima banda
preta ; o segundo de azul com uma faxa de ouro carnelea ; o terceiro de prata
com um leão preto e por cima dêle um filete vernielho em banda, de redor dêle
bilhetas pretas; o quarto de azul e iima banda fimbrada de vermelho: Elino de
prata aberto giiarriecido de ouro, paquife de ouro e de azul e por timbre linl leso
preto, o quaI esctido, arriias e sinais possa trazer e traga o dito João Esmeraldo,
assim como as trouxerriin e delas usaram seus antepassados ... queremos e rios
apraz que haja êle e todos seus descetidentes todas a s honras, privilégios e
liberdades, graças, tnercês, isenções e fr;inqiiezas que hão e devein ter o s fi-
dalgos nobres de antiga linhageni ... Dada ein a tiossa e sempre lial cidade de
Evora a dezaseis de Maio. El-Rei o mandou pelo bacharel António Hodrigiies
Portugal seu Rei de Arrnas Principal, Pedro de Utra escrivão dii nobreza a fez.
Ano de Nosso Senhor J c s ~ i sCristo de n i i l cliiinhentos vinte e dois..
(Do *Nobiliirio*, de tlenrique tlcririqite de Noroiihrt, Manuscrito existente
na Hibliotécii Mlinicipal do Fuiichid).
para o tempo. Sendo ponto averiguado que Rui Gon-
(1")
(16) Esta renda anual e perpetua de 150.008 rs. ficou encorporada no usu-
fruto do morgadio de Agua de Mel, na freguesia de Santo António do Funchal,
instituido por D. Maria de Betencourt, mulher de Rui Gonçalves da Câmara, na
pessoa de seu sobrinho Gaspar de Betencourt. Na sucessão de vários adminis-
tradores coube esta casa vinculada a D. Guiomar Madalena de Vilhena Beten-
court de Sá Machado, de quem foi universal herdeiro e sucessor João Carvalhal
Esmeraldo de Atouguia e Câmara, décimo administrador do vinculo do Santo
Espirito da Lombada dos Esrneraldos, como adiante se ver&, passando assim
essa renda de 150.000 rs. a fazer parte dos rendimentos deste iiltimo morgadio-
çáo da casa solarenga da Lombada, da edificaçáo das ca-
pelas e da instituição dos morgadíos, devidas a fecunda
iniciativa do fidalgo flamengo, nos ocuparemos em capítulos
especiais. Constituiti família e foi tronco de larga descen-
dencia, ("1 tendo morrido, em idade muito avançada, a 19 de
Junho de 1536 e sido sepultado na capela do Santo Espi-
rito, por êle fundada no ano de 1508.
IX
As instituições vinculares
João Esrneraldo, nobre de origem, com fóros de fidal-
guia confirmados pelo rei de Portugal, senhor abastado de
extensos dominios territoriais, quis transmitir êsses direitos
e regalias aos seus descendentes e assegurar-lhes a per-
petuidade dos titulos e bens de fortuna de que largamente
usufruia. As instituições vinculares, com a intacta trans-
missão de haveres inalienaveis em sucessivos administra-
dores e entre membros da mesma família, perpetuavam os
nomes dos seus fundadores e permitiam manter com pres-
tígio e por vezes com brilho os privilégios e honrarias ine-
rentes a essas instituições, tão ambicionadas na 6poca e
que gosavam da maior consideraçáo social, ainda mesmo
acima da virtude, do saber, do talento e da riqueza.
Foi assim que João Esmeraldo, destinando a vincula-
ção as terras da Lombada da Ponta do Sol, que correspon-
dem aos actuais sítios da Lombada propriamente dita, do
Jangao e do Lugar de Baixo, e ainda outros haveres que
possuia, instituiu os dois morgadíos do Santo Espírito e
do Vale da Bica, que foram dos mais importantes que exis-
tiram em todo o arquipélago. Por escritura pública de 12
de Junho de 1522, na presença e com pleno assentimento de
sua mulher D. Agueda de Abreu e seus filhos João Esme-
raldo e Cristovão Esmeraldo, fez João Esmeraldo o Velho,
já entáo assim conhecido, a divisão da Lombada em duas
grandes propriedades, estabelecendo uma linha divisória,
que se estendia do Pico das Pedras, junto do Paul da
Serra, pelo chamado Caminho do Concelho até a Cova
do Pico da Amendoeira e dêste ponto até entestar com a s
gguas do mar. Pela inorte de João Esmeraldo vriam lan-
çadas sortes e caberia a cada filho a parte que os azares
das rnesrnas sortes houvessem de indicar. Esta escritura,
porem, iiao criava ainda a s instituições vinculares, que
foram estabelecidas por iilstrumentos públicos de datas
posteriores, se é que foram, por êste meio, instituidos o s
dois vinculos e não sómente um, como adiante teremos
ocasiáo de dizer. O morgadío do Saiito Espirito teve a sua
fiindação no ano de 1527, por escritura pública de 12 de
Dezembro do mesmo ano, sendo aprovado e confirmado
por carta régia de 28 de Janeiro de 1528, a qual, apezar da
sua grande extensão, vamos transcrever aqui textualmente,
não só pelo particular interesse que oferece ao assunto
desta memória histórica, mas ainda como um subsidio de
informação para o estudo dos costumes e da mentalidade
dos homens dessa época. Trata-se dum manuscrito origi-
ginal, em pergaminho, lançado com bela caligrafia e em
excelente estado de conservação, que s e encontrava no
copioso cartório da casa do segundo Conde de Carvalhal,
ultimo sucessor na administraçáo do morgadio do Santo
Espirito. Ei-10 :
~ D o i nJohã por graça de Ds. Rey de Portugal e dos algarves
daquem e dalein mar em Africa Snôr da Guinee e da conquista na-
vegaçám comercio da Ethiopia, Arabia, Persia e da India a quantos
esta minha carta virem: faço saber que por parte de Joahm smeraldo
fidalgo de minlia casa e Agueda dabreu sua molher moradores na
minlia illia da madeira Me foy apresentado hum p~iuricostormento
de iristituiqirn de morgado que ora fizeram dua parte de seus bees:
no qiial o trelado he o seguinte. Em nome de Ds. Amen. Saibam
quatitos este stormento de instituiçam e vinculaçam de bees assim
dizirneiros como foreiros em fatiota para sempre virem que no ano
do nascimento de nosso Sn6r Jhu Cristo de niil quinhentos e vinte
sete anos em doze dias do mez de dezembro ria ilha da Madeira na
Lombada e assentamento de Joham smeraldo o Velho que he no
termo da cidade do Funchal : sendo elle hi presente e Agueda dabreu
sua inltlher presente mi notario pruuico e testemunhas ao diante
scriptas: estes ambos dixeram que elle Joham smeraldo tinha afo-
rada ri dita lombada em fatiota a Ruy Gonçalves que foy capitam da
ilha de Çam Miguel e a dona Maria de Betancor sua molher: e assi
na Lombada tinhá comprado muita terra outra por carta de compra
que era dizemeira: e mais tinhã dizemeiras outras terras e casas e
cngenlios pegados com a villa lia Ponta d o Sol : E assim tintiã um
niiiito tionrado aponsentametito na cidade d o Fuiichal corri outras
casas pequenas: e que sua vontade fora sempre por serviço d e Ds.
e salvaçam de suas almas: e pelo grande amor que teni a seu filho
Christovam smeraldo lhe fizeram morgado da legitima pte d a fa-
zenda que tem na dita illia assi dizemeira como foreira: e porque lia
tnuitos dias que eles Joliaiii snieraldo e Agueda dabreii sua niolher
tem feita partillia de toda sua fazenda assi forcira como patrirnoniaf
antre o dito Christovam smeraldo e Joliarn smeraldo seus fillios : por
;ião terem outros filhos iiern herdeiros legitimos e naturais : nem OS
speram por via de natureza a ter por serem já velhos, a qual
partilha tem feito antre elles para depois da morte de qualquer
delles sews pais: elles ditos seus filtios lançarem sortes e tomarem
cadaurn seu quinharn que por sorte lhe acontecer da partillia que
eles sews pais tem feita: por consentimento e aprazimento delles
dictos seus filhos a qual partilha Iie confirmada por El-Rey nosso
Snbr segundo milhor e mais cotnpridamente tudo consta no stor-
mento da partilha confirmada pelo dicto Snôr. E porque os pas-
sados deste mundo por memoria de suas boas obras vivem: dei-
xando casas e bees de morgado suas almas podem receber de
seus sucessores obras caritativas porque mereçam : temendo ads.
e querendo-lhe dar gracyas das muitas merces que Ilie tem feitas:
querem ordenar como ordenado tem este morgado: d o qual se
seguem muitos proveitos a seus sucessores: por que quando fica
cabeça nas linhagens se pode inillior conservar a nobresa e o s fidal-
gos e liomeês nobres ainda que em rniiitas fadigas se uissetn : tendo
morgado sempre seus fillios ficaão repairados e seiis parentes tem
abrigo e meltior emparo do que poderiam ter seiido a fazenda divi-
dida por partes : F'orque se viram muitos Iioiiieês de niuito grandes
fazendas e rendas por deixarem muitos filtios e siias fazetidas serem
por eles repartidas o s dictos seus filhns ficarern pobrcs e fenece a
rnemQria dos dictos defuntos e de setis Iierdeiros coelles : e portanto
eles sempre tiveram e tetn voiitade a viriciilar o s ditos bees: para
que etn nenliiini tempo possam ser vendidos trocados escáibados e
sempre andeni em o Iierdeiro legititiio prinio geiiito barrim e seus
descendentes. D o qual rnorgado cóstittieni ao dito Christovam
smeraldo seu fillio ern atnetade de todos (1s bees de raiz que
direitamente lhe pertencem por bem da dita partillia; e que aqueles
bees que acontecerem ao dito Christovam smeraldo seu fiiiio em
sorte e partillia segundo forrna d o stormento das partiliias acima
dicto e relatado: desses diçrram que faziam o dicto morgado: e
aqiiella metade que assi Ilie acontecer nos ditos bees: essa será
a que sempre andará junta e avinculada e em morgado: da maneira
que dito tem e nó outros algiilis. E quanto Iie aos bees d o Arco
que ella Agueda dabreu tem lierdado por tiiorte de seu pay e tnay,
estes ficam de fora para ela Agueda dabreu, delles despoer o que
bem Ilie vier: segundo se contem no dito stormento e contrauto
das partilhas: e por esta causa o melhoram ern parti: de suas terças
alem de sua legitima: segundo s e contem no dicto stormento d e
partilhas. E na socessam d o dicto morgado s e tem a maneira se-
guinte: avendo o dicto Christovam smeraldo fill~osbarões legitimos
d e legitimo matrimonio herdam o primo genita sendo abile e idonio
para isso: porque não o sendo o que Ds. não mande herdará então
o segundo e ficari por primo genito: e emquanto houver filho ma-
cho não herdará femea: e sendo caso que não haja filhos machos
antani herdarA femea a mayor e primo genito sendo abile para casar
porque quando não for abile e idonea para casar o averá a segunda
filha de sorte que o dicto morgado seja possuido e administrado
por pessoas idoneas e autas para isso. E quando hi nõ houver mais
que hum macho e nõ for idoneo e abile para herdar o dicto mor-
gado: querem que em tal caso que venha a femea mayor sendo para
isso abile e quando o não for vira a segunda: e se não ouver se-
gunda entam ficará com o primo genito macho sem embargo de n õ
ser abile e idoneo: porque assi querem que lhe fique sendo caso que
nõ aja senó hum filho. E sendo caso que não seja para isso abile e
idoneo lhe ficará o dicto morgado e sempre andará o dicto morgado
por linha direita de ascendente em descendente de filho a neto ou
neta nó avendo neto como dicto he: E nõ havendo hi descendente
d o dito Christovam smeraldo d e legitimo matrimonio o que Ds. nõ
mande nem queira: sendo elles constituintes falecidos herdar8 o
dicto morgado o parente seguinte em grao pela maneira d a socessam
acima dicta porque querem q avendo hi parente em grao macho nõ
herde femea. E porque nossa vontade he enquanto for possivel que
o dicto morgado ande em nossos descendentes para sempre por linha
direita: sendo caso que o dicto Christovam smeraldo nosso filho n õ
aja filhos ou filhas legitimos de sua molher avendo algum filho ou
filha bastardo de mollier solteira sendo legitimado por El-Rey
nosso Snôr Ihes apraz que o herde tendo-se nelles a maneira d a
sucessam acima decrarada. E querem e Ihes apraz qiie esta maneira
d a sucessarn por eles acima decrarada com todalas clausulas que dictas
tem em seu filho Christovam smeraIdo s e tenha em todos os soces-
sores deste morgado para todo o sempre. E assim querem e mandam
que os socessores do dicto morgado para o averem de herdar s e chame
e nomeem para sempre do apelido e alcunha de smeraldo. Aos quaes
mandam que cumprão e paguem o f ô r ~d a dita fazenda foreira ao
tempo que elles são obrigados paguar segundo forma do stormento
do aforamento: o qual foro pagaram muito bem ao senhorio que
pellos tempos forem da dita fazenda foreira: e mais os socessores d o
dito morgado seram obrigados comprir para sempre os carregos da
capela que elles Joham Esmeraldo e sua molher tem ordenado : se-
gundo se contem no stormento das ditas partílhas. E porque El-Rey
nosso Snôr aprouve dar outorga a este morgado e para milhor de-
claraçam e ordenaçam delle foi necessario declarar o que dito he:
E por que o dicto Christovam smeraldo seu filho ainda nõ tem
filho nem filha a que periodiq na socessam e o dito morgado ser j&
feito e elles Joham smeraldo e sua mulher serem ainda possuidores
de toda a dita fazenda e assi dela senhores como sempre foram e
porque suas vontade he cornprir se esta instituiçam e vinculaçam n o
milhor modo e maneira, que poder ser e por direito mais valer. E
pedem por mercê a sua Alteza que a confirme e a ella dê todo o
poder e firmeza para que sempre seja valiosa e firme e com todas
estas declarações a confirme: E se aqui falecer alguma crasula ou:
crasulas que necessarias sejam para se cumprir e afirmar a dita
instituiçam as aviam aqui por expostas e declaradas: e que sua
Alteza as possa por elles soprir e declarar. E se tambem aqui ha
algii8 ou algiias crasulas que empidam a dicta instituiçam e vincu-
laçam elles as aviam nenhiias nem expressas porque suas tenções
são o dito morgado ficar hiia vez firme e valioso para sempre. E o
dicto Christovam smeraldo que a isso presente estava dixe que era
muito contente de os dictos seu pay e rnay fazerem o dito morgado
da maneira acima dicta e que ainda que no dicto morgado entrassem
os beês e fazenda que elle avia de herdar de sua legitima por morte
dos dictos seu pay e may: elle todavia era contente e lhe prazia que
delles se fizesse o dicto morgado e nisso consentia expressamente e
pormeteo de em todo comprir o neste stormento conthiudo : por si
e por seus socessores decendentes: pede por merce a El-Rey nossa
Snôr que o confirme da maneira que o s dictos seu pay e may o
pedem e requerem. E bem assi a esto presente estava Dona Lionor
datouguia molher do dito Christovam smeraldo: ouvio ler de verbo
a verbo este storrnento; e eu tabaliarn lhe perguntei se consentia ella
e avia por bem o nelle conthiudo e por eila foy dicto que neste caso
nom era necessario seu consentimento : porquanto ella casara com
o dicto Christovarn smeraldo per dote e arras e nos dictos beês que
assi o dicto Joham smeraldo fazia morgado ella nãc avia d e herdar
nem meeyra: porque somente a via daver seu dote e suas arras no
caso em que as vencesse. Porem ella por mais abastança: se seu
consentimento aqui era necessario ella consentia nisso e o aprovava
e avia por bem assi como nelle era conthiudo e queria que se guar-
dasse e comprisse em todo. E em todo o tempo se obrigaram elles
partes ter e comprir este storrnento e condiçõeS delle, e nenhum se
nom arrepender nem afastar a fora per nenhuã razam: sobre obri-
gaçam de todos seus bees moveis e de raiz avidos e por aver que
pera ello obrigaram e em testemunho de verdade mandaram e ou-
torgaram assi ser feito este stormento e pediam cadauu o seu e os
que Ilie cumprissem deste theor. Testemunhas que ao presente foram
Christovam Fernandes crelego de missa seu capeHam e Manuel
Simaáo outrossy crelego de missa stantes na dicta Lombada e Rui
pires moleiro do moinho delles Joáo smeraldo e sua molher: e as
dictas Agueda dabreu e dona Lionor datouguia per s e per suas
&
rnaãos a firmaram por saberem screver e eu Joham liz escorceo
notario pubrico por El-Rey nosso Snôr na dicta cidade e seus termos
que este stermonto de contrauto e instituiçam e vinculaçam de mor-
gado em meu livro de notas notei e delle tirey e escrevi aqui em
dezoito folhas pera o dicto Christovam smeraldo e com o próprio
original concerteí e de meu puuico sinal assinei. Pedindo me por
merce os ditos Joáo smeraldo e Agueda dabreu sua molher que lhes
aprouasse e confirmasse o dicto stormento d e instituiçam de more
gado com todas as crasulas e condições em elle decraradas asi e tarn
inteiramente como em elle se contem: e visto por mim o dicto stor-
mento vendo que a tençam e fundamento dos dictos Joham smeraldo
e Agueda dabreu he justo e honesto e assi mesmo que he muito meu
serviço e dos Reys que pelos tempos ao diante forem Tenho por bem
e Ilie aprouo e confirmo o dicto stormento e instituiçam de morgado
assi e tam inteiramente como em elle se contem e com todalas cra-
sulas e condições em elle conthiudas. E isto nom se dimenuindo as
legitimas doutros herdeiros legimos dos dictos instituidores se os
ouurer. E assi quero e mando que em tudo se cumpra e guarde e
seja firme e valioso sem embargo de quaesquer leis e ordenações
direitos façanhas e oupeniões de doutores e de quaesquer outras
cousas que em contrario nisso sejam e possam ser per qualquer'
guisa modo e maneira que seja e todo ey por reuogado e anulado e
quero que seja nenhum e de nenhum vigor nem força emquanto
contra a dicta instituiçam de morgado forem. E posto que sejam ties
que de feito ou de direito se devesse fazer aqui dellas ou de cada
huua dellas expressa mençarn por que assi como se aqui expressa-
mente fossem decraradas quero que haja lugar esta minha dero-
gaçáo. E porém mando a todos meus corregedores desembargadores
juizes justiças e a todos outros oficiais e pessoas a que esta minha
carta for mostrada e o conhecimento dela pertencer que em todo a
ci~mprã e guardem e façam comprir ter manter e guardar o dicto
stormento de instituição de morgado como se em elle contém sem
duvida nem embargo ne contradiçam algua que a ele seja posto
porqiie assi he minha merce. Dada em a minha villa dalmeirim a
xxbnr das de Janeiro Antonio Godinho a fez de ibcxxb111. E isto
ey por bem e mando que se cumpra pelo modo sobredito nõ preju-
dicando a qualquer direito que os senhorios direitos das terras fo-
reiras que nesta carta de morgado vam metidos nela púderiá ter assi
por rezam do direito dominio como por qualquer outra maneira que
seja e como se neste nó fossem postas ne fosse esta carta por mim
confirmada EZ-Rey S.
Casa Solarenga
XI
As Capelas
(25) As 133 missas deveriam ser aplicadas pela seguinte maneira : 10 por
alina de Francisco do Couto, 20 por João de Mouia Rolini, 2 por Pedro Ribeiro
Esmeraldo, 1 por D. Maria de Vasconcelos, 1 por Beatriz de Andrade, 20 por
João Esmeraldo o Velho, 10 por D. Guiomar do Couto, 1 por D. Maria da Câmara,
1 por Francisco Manuel Moniz, 2 por Rui Mendes de Vasconcelos, I por Gaspar
de Vascoticelos, 2 por D. Maria Figueiroa, 1 por D.Bernardo d e Betencourt de
Sá Machado, 1 por D. Serafina de Menezes, 2 por D. Guiomar de Moura, 1 por
D. Guiomar de Sá, 10 por João Rodrigues Mondragão, 10 por Manuel Fernandes
Tavares, 8 por D. Isabel Correia, 5 por Afonso Enes, 1 por João de Ornelas e
Vasconcelos, 1 por Baltazar Machado de Miranda, 11 por D. Maria de Beten-
court, 7 por Gonçalo Dias, 1 por Luiz António Esmeraldo Teles de Menezes,
1 por D. Lourença de Mondragão.
capela, com grande brilho, a festa do Percursor do Messias,
ali representado por uma primorosa estátua esculpida em
madeira, objecto de especial veneraçáo por parte dos ha-
bitantes daquelas vizinhanças.
A capela de Santo Arnaro ou antes o montáo de ruínas
que dela resta e a magnifica Igreja do Santo Espirito,
ambas de propriedade particular e pertença do antigo moro
gadio da Lombada dos Esmeraldos, foram cedidas pelo
governo da metropole a Diocese do Funchal, com os seus
respectivos anexos, para o livre exercicio do culto, ficando
sob a direcção imediata do pároco da freguesia da Ponta
do Sol. (-1;)
XII
Administradores do mor~adio u
do Santo Espirito
O primeiro administrador desta casa vinculada foi
Cristovão Esmeraldo, filho do instituidor Joao Esmeraldo o
Velho e de sua segunda mulher D. Agueda de Abreu. Nas-
ceu por 1498, tendo-se afirmado que Joáo Esmeraldo dera
ao filho o nome de Cristovão, como preito de homenagem
e de devotada estima ao descobridor da America, a o tempo
já celebrado navegador, havendo então realisado a sua
terceira viagem as terras do Novo Mundo (*).De Cristovao
Esmeraldo refere pitorescamente o historiador das Ilhas
que < c . . .o mais do tempo andava na cidade do Funchei
sobre uma mula muito formosa, com oito homens detrdz de
si, quatro de capa e quatro mancebos em corpo, filhos de
homens honrados muito bem tratados; e trazia grande
contenda com o capitam do Funchal sobre quem seria Pro-
vedor d'Alfandega d'El-Rey, que he uma rica cousa de
renda de sua Alteza, e ricas casarias.. Segundo nos informa
o Elucidário Madeirense (I- 33) obteve Cristovão Esmeraldo
a nomeação de Provedor da Alfandega no ano de 1550 e
teria certamente moradia no actual e ainda aparatoso e&-
ficio daquela repartição, construido no primeiro quartel do
século s v i e cujo andar nobre era destinado a residencia
dos Provedores, sendo certamente a esta construçiio que
Gaspar Frutuoso, nos fins do século XVI, chamava .ricas
casarias.. Cristováo Esmeraldo casou com D. Leonor de
Atouguia, neta de Luiz Alvares da Costa, fundador do con-
vento de Sáo Francisco. Combateu em Marrocos, distin-
guindo-se como valente soldado. Tentou reunir os vinculos
do Santo Espirito e do Vale da Bica, casando o seu filho
primogenito e sucessor António Esmeraldo, que ainda nao
atingira a puberdade, com sua sobrinha D. Antónia Esme-
(31) Menibro duma das niais ilustres famílias madeirenses e irmão do 15."
administrador dêste morgadío do Vale da Bica foi o arcebispo de Goa D. Aires
de Ornelas de Vasconcelos, que nasceu no Funchal no ano de 1837 e faleceu em
Lisboa a 28 de Novembro de 1880. Pelas suas eminentes virtudes, talento su-
perior, vasta cultura e acendrado zelo apostolico era considerado um dos
~ilaioresprelados do seii tempo, não só de Portugal como de toda a cristandade.
Abalisado teologo, distinto poligolota, escritor primoroso, dotado do mais fino e
cativante trato, generoso e hospitaleiro, sempre esquecido dos seus pergaminhos
e da alta jerarquia do sei1 cargo, conquistou em Goa e na India Inglesa as mais
gerais simpatias e admirações, que ainda hoje, passado já meio século, são
relembradas com o maior respeito e carinho no meio das populaç6es indianas.
Reunidos os seus escritos, foram publicados num volume de 538 pag., sob o
titulo de #Obras de D. Ayres de Ornellas de Vasconcellos~,Porto, 1881, e pre-
cedidos dum brilhante estudo bografico, escrito pelo conselheiro Agostinho d e
Or~ielas,irmão do arcebispo, de quem no texto nos ocupamos.
condes da Ponte, herdou todos os bens que constitui&
êste morgadio, tendo sido o último representante da famflia
que os possuia, pois que no ano de 1920 procedeu B venda-
total dêsses mesmos bens aos caseiros e meeiros que os
agricultavam. Nasceu na freguesia da Camacha desta ilha
a 5 de Março de 1866 e faleceu em Lisboa a 14 de De-
zembro de 1930. Seguiu a carreira das armas, em que nota-
velmente se distinguiu, e foi deputado, par do reino, minis-
tro de estado, revelando sempre os fulgurantes dotes duma
inteligencia privilegiada e duma vasta cultura intelectual de
par com as mais firmes e austeras qualidades de caracter.
Deixou vários livros e opusculos, especialmente consagrados
a assuntos militares e coloniais, em que era um mestre con-
sumado. No Elucidario Madeirense, (I1-250 e seg.) deixámos
esboçada uma ligeira biografia do conselheiro Aires de
Ornelas.