Sie sind auf Seite 1von 66

Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESErsrTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
V*. visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
SUMARIO

O Velho e o Novo

Mil Anos de Cristianismo na Rússia

O Confucionismo

O Taoísmo
tu
Ética do Planejamento Familiar
O
-~- "Mediunidade dos Santos"

< Ainda "A Última Tentacao de Cristo"

"PRIER" (Rezar)
OQ
q Celibato

a.

ANO XXIX DEZEMBRO 1988 319


PERGUNTE E RESPONDEREMOS DEZEMBRO - 1988
Publicapao mensal
N°319

SUMARIO
Diretor-Responsável:
Estfiváo Bettencourt OSB O Velho e o Novo 529
Autor e Redator de toda a materia
Data marcante na historia:
publicada neste periódico
Mil anos de Cristianismo na Rússia . . 530

D iretor-Administrador: As Grandes Religioes da Humanidade:


D. Hildebrando P. Martins OSB O Confucionismo 543

As Grandes Religioes da Humanidade:


Administracao e distribuicáb: O Taoísmo ' 549
Edigóes Lumen Christi
Esclarecendo questoes de
Dom Gerardo, 40 - 5? andar, S/501
Ética do Planejamento Familiar .... 554
Tel.: (021) 291-7122
Caixa Postal 2666 Espiritismo e Catolicismo:
20001 - Rio de Janeiro - RJ "Mediunidade dos Santos" 565

Fala o Grao-Rabino da Franca:


Ainda "A Última Tentacáb de Cristo". 571
"MARQUES- sákajva- "Prier" (Rezar) 574
aurcosta
Celibato 575
ICkM
Ttü: H>Mt !

'rezado leitor,
NO PRÓXIMO NÚMERO:
Somunicamos-lhe que o preco da assina-
Janeiro - 1989
ura de nossa revista PR 1989 foi estipúla
la como segué, em vista dos constantes "A Dignidade da Mulher" (Joao Paulo II).
eajustes de papel, Correios, mao-de-obra... - Cristianismo e Catolicismo (síntese histó
m nosso pafs. rica). - Que devemos crer? - Historia da
Igreja (panorama). — 0 Animismo. - O San
'agamento efetuado até to Sudario.

11/12/88: Cz$ 7.800,00


11/01/89: CzS 10.000,00 COM A PROVACÁO ECLESIÁSTICA
I8/02/89: CzS 13.200,00

Yertos da compreensao de V.S. subscrevemonos atenciosamente

A ADMINISTRAQAO
agamento (á escolha)

. VALE POSTAL á Agencia Central dos 3. No Banco do Brasil, para crédito na Con-
Correios do Rio de Janeiro. ta Córreme n? 0031, 304-1 em nome do
. CHEQUE BANCÁRIO Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro, pá-
gável na Agencia da Praga Mauá (n?0435).
O Velho e o Novo
Se quiséssemos compreender todo o misterio do Natal de Cristo num
único vocábulo, poderfamos recorrer á palavra "Novidade". Com efeito; Na
tal significa o nascimento do Eterno no tempo a fim de renovar o tempo e o
homem, arrancando-o ao velho estilo de vida. Por isto também o adjetivo
novo é dos que mais caracterizan! a literatura sagrada do Cristianismo ou do
Novo Testamento: SSo Paulo fala de "novo homem" {Ef 4,24; Cl 3,10),
"nova Alianca" (1Cor 11,25); Jesús entrega um "novo mandamento" (Jo
13,34), um "vinho (ensinamento) novo" (Mt 9,17), Ele que "faz novas to
das as coisas" (Ap 21,5), para que, redimidas, possam cantar "um cántico
novo" {Ap 14,3). Em suma, diría o Apostólo: "Se alguém está em Cristo, é
uma nova criatura. Passaram-se as coisas antigás; eis que se fez urna realidade
nova" {2Cor 5,17; cf.GI 6,151.

Essa novidade depositada no tempo e na humanidade mediante o Na


tal nao se traduz em sinais espalhafatosos, mas é latente, como a Divindade
estava latente na humanidade de Jesús ou como um germen é latente debai-
xo da térra ou ainda como a borboleta está oculta dentro do seu casulo. Tal
novidade se assemelha a um fermento que muda em positivo o sinal negativo
de todas as coisas, pois Deus se fez homem, entrando em todas as minucias
da vida humana (até na dor e na perseguipao) para "divinizar" isso tudo e fa-
zer de todas as instancias da existencia terrestre do homem um caminho pa
ra o Pai. "Vita tua, via nostra" (Tua vida é nossa vial, diziam os antigos cris-
taos. Só o pecado nao foi assumido no misterio da Encarnacao, de modo
que ele fica sendo o único grande mal que pode acometer o homem (mas pa
ra o qual há sempre remedio, desde que o pecador o repudie). Conseqüente-
mente o cristao tem razoes para se manter equanime em meio aos altos e
baixos da vida presente, mesmo quando ingrata.

O contraste entre o velho e o novo é muito reconfortante. O fim de


ano lembra sempre que as coisas envelhecem e passam; o novo ano as reno-
va, mas precariamente, pois também o novo ano há de envelhecer. Todavía
coloque o cristao dentro do ritmo desse seu tempo a grande novidade do Na
tal ou a sementé de valores definitivos que Cristo I he trouxe, e a precarie-
dade das coisas transitorias pouco ou nada significará para ele. A experiencia
de um rejuvenescimento contfnuo empalidecerá, aos seus olhos, o espectro
da vetustez.

A TODOS OS NOSSOS LEITORES E AMIGOS DESEJAMOS ESSE


SANTO NATAL, CUMULADO DE GRACAS E BÉNCÁOS, EM PENHOR
DE FELIZ E PRÓSPERO 1989! POSSA O MUNDO ENVELHECIDO RE-
CEBER DE BRACOS ABERTOS A NOVIDADE DA CRIANCA!
E.B.

529
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
Ano XXIX - N? 319 - Dezembro de 1988

Data marcante na historia:

Mil Anos de Cristianismo


na Rússia

Em síntese: O povo russo traz em si a mésela de sangue eslavo e san-


gue normando ocorrída no sáculo IX, quando os normandos (ou viqui'ngios)
se deslocaram da Escandinávia para as térras gue acompanham o rio Dniéper
até o Mar Negro.

O encontró com os cristSos bizantinos e ocidentais favoreceu a evange-


lizacio dessas populacoes pagas, que chegou a um ponto alto quando o prín
cipe S. V/adimir de Kiev pediu o Batismo em 988; o próprio monarca dora-
vante se empenhou em prol da pregacao do Evangelho em seus territorios.
Nos decenios subseqüentes predominou nos povos russos a influencia de
Bizáncio, que transmitiu muito da sua cultura, provocando a fusao de ele
mentos gregos e eslavos no Cristianismo russo. O cisma bizantino (separacao
de Roma) ocorrido em 1054 nao afetou logo a Igreja na Rússia; mas com o
tempo susdtou certa hostilidade desta em relacao á Santa Sé, de modo que
em 1453 os cristSos russos resolveram declarar a autonomía da sua Igreja;
em 1589 Moscou chegou a se declarar "Sede Patriarcal", nutrindo preten-
soes a ser a terceira Roma fa segunda fora Bizáncio, tomada pelos turcos
em 1453).

0 Cristianismo russo está hoje dividido, visto que urna parte de seus
membros tenta viver em paz com o Estado Soviético, ao passo que outra
parte o rejeita.

Como quer que se/a, as celebracoes do primeiro milenio do Batismo


da Rússia foramsinalde aproximacio do Estadoe da Igreja; as autoridades so
viéticas mostraram-se cordiais e atenciosas em relacao á religiao, dando a
crer que concederSo liberdade religiosa aos seus ddadaos. A Igreja Católi
ca tomou parte notável em tais celebracoes; o ponto culminante dessa pañi-
cipacSo fot o coloquio de urna hora e meta havido entre o Cardeal A. Casaro-

530
1000 ANOS DE CRISTIANISMO NA RÚSSIA

//, Secretario de Estado do Vaticano, e o Secretario Geral M. Gorbachev, ao


qual o prelado entregou urna mensagem pessoal do S. Padre Joao Paulo II.
- As impressoes de quantos estiveram presentes na Rússia por ocasiao das
comemoracoes do milenio foram alvissareiras e esperanzosas.

* * *

Em 1988 comemoram-se mil anos do Batismodo Príncipe Vladimir, de


Kiev, que levou consigo o povo russo para o Cristianismo. Sabe-se que a data
foi celebrada solenemente na própria Rússia Soviética, com certa participa-
céío das autoridades comunistas, numa fase de perestroika ou de revisao do
socialismo russo.

O fato tem significado eclesial e civil, merecendo registro em nossas


páginas. Examinaremos, pois, as origens do Cristianismo russo e alguns tra
eos mais significativos da comemoracáo do seu milenio.

1. Breve histórico do Cristianismo na Rússia

1.1. A formacao do povo russo

A origem do nome "Rus" é assaz controvertida. Há tres hipóteses a


respeito: 1) Rus derivar-se-ia do nome do povo dos Ruxs, que teria emigra
do em época muito antiga para a Rússia do Sul; 2) Rus viña'de urna forma
eslava da palavra finlandesa Ruotsi, derivada do sueco antigo e designativa
dos viquíngios (emigrados para a Rússia); 3) Rus se reduziria á palavra rod,
que tem sua raiz no eslavo comum e significa "familia, parentesco, proce
dencia"; rus, no caso, teria o sentido de "senhorio de príncipes da casa dps
varegos escandinavos".

Como se vé, o estudo da etimologia da palavra Rus (donde Rússia) já


manifesta que o povo russo se constituiu mediante a participacao dos vi-
qumgios ou varegos.

Com efeito; viquíngios, varegos, tarVibém ditos "normandos" (=ho-


mens do Norte) sao um povo que se estabeleceu na Escandinávia (atualmen-
te Noruega, Suécia e Dinamarca) e entre os séculos VIII e XI invadiu a Euro
pa ocidental e oriental. Eram habéis navegadores, que viajaram nao só pelo
Mar do Norte e o Báltico, mastambém pelo rio Dniéper; atravessaram o inte
rior da Rússia atual e chegaram até o Mar Negro.

O chefe viqufngio que chefiou a expedicao pela Europa Oriental, foi


Rurik ou Rjurik (? - 879), herói semilendário, que estabeleceu sua capital

531
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

em Novgorod; reinou desde 862. Os invasores mesclaram-se com as popula-


coes eslavas ¡á existentes nos seus territorios, dando assim origem ao povo
dito "russo" e ao primeiro Estado Russo. Ainda no século IX, foi fundada
na confluencia dos rios Dniéper e Desna, ao Sul de Novgorod, a cidade de
Kiev, conhecida hoje como "a mae das cidades russas", em torno da qual se
constituiu no século X o Grao-Principado de Kiev, que hoje é a Ucrania,
de populacao preponderantemente eslava. O Grao-Príncipe de Kiev, Esvia-
toslav (964-972), disp&s de grande poderío; empreendeu varias guerras bem
sucedidas, que I he dilataram as fronteiras.

1.2. O surto do Cristianismo

Como entrou o Cristianismo na populacáo russa { = eslavo-normanda)?

A primeira noticia concreta de trabalho missionário entre os russos


deve-se ao Patriarca bizantino Fócio: em 867 o Patriarca Fócio anunciava
que os russos, povo anteriormente conhecido como selvagem e sanguinario,
tlnham recebido o Evangelho e estavam sob a autoridade espiritual de um
bispo bizantino, como súditose amigos do Imperio. Alguns anos mais tarde,
o Patriarca Inácio de Bizáncio nomeou um arcebispo para a Rússia.

Quando morreu o príncipe Igor, a Princesa Olga assumiu o governo de


Kiev como regente de seu filho menor Esviatoslav. A princesa recebeu o Ba-
tismo ou em Constantinopla (957), para onde fora em missao de paz e onde
tivera contatos religiosos, ou recebeu-o mesmo em Kiev. Julga-se que, retor
nando de Constantinopla, pediu missionários ao Imperador Oto o Grande
(959-960), da Germania, pois existiam boas relacoes entre Kiev e o Ociden-
te. Oto enviou o bispo Adalberto, antigo monge do mosteiro de S. Maximi
no de Tréviris (Alemanha), sagrado em Mogúncia; o prelado, porém, so per-
maneceu um ano (961-962) em Kiev. Assim a tentativa, de Olga, de cris
tianizar seu povo ná"o conseguiu vencerás tradicoespoliteístas locáis, de mais
a mais que seu filho Vladimir assumiu o governo professando crencas pagas.
Em conseqüéncia, os pequeños núcleos cristáos da regiao f icaram sem a pro-
tecao do governo local, mas favorecidos pelo bom relacionamento dos mo
narcas de Kiev com os ocidentais; Jaropolk, por exemplo, em 977 enviou
mensageiros a Oto I e recebeu emissários do Papa Bento Vil.

Esta é a chamada "primeira conversao da Rússia". Nao se sabe qual a


sorte da primeira diocese naquele país; por certo devia estar situada em
Kiev, capital da napSo. É de crer que tenha sido absorvida pela reacáo pagl
que marcou.a Rússia nos últimos decenios do século X; todavia deve ter fica-
do urna comunidade crista em Kiev, pois há ¡nformacóes suficientes para
admiti-lo.

532
1000 ANOS DE CRISTIANISMO NA RÚSSIA

O Batismo da Rússia devia dar-se sob o príncipe Vladimir I (956*


1015), dito "o Santo", Príncipe de Novgorod desde 970 e Grao-Príncipe
de Kiev (desde 980). Filho de Esviatoslav, consolidou num único Estado
Russo o antigo Ducado de Novgorod e o Principado de Kiev, abrangendo as-
sim os territorios desde a Ucrania até o Mar Báltico. Tendo dado ajuda mili
tar a Constantinopla, pediu em troca a mao da irma do Imperador bizantino
Basilio II. Após algumas dificuldades, esta Ihe foi concedida — o que acarre-
tou o Batismo de Vladimir em 988 ñas aguas do rio Dniéper; doravante o
monarca se empenhou pela evangelizacao de sua gente. É um dos padroeiros
da Rússia, comemorado pela Igreja Ortodoxa aos 15 de junho. No Batismo
recebeu o nome de Basilio, em homenagem ao seu tutor, o Imperador
Basilio de Constantinopla. Diz urna crónica russa do sáculo XI intitulada
"Memoria e Elogio do Principe Russo Vladimir":

"Vladimir iluminou toda a térra russa com o seu santo Batismo... Ba


tízou também toda a térra russa de urna extremidade á outra... O Senhor
mesmo disse: 'Quanta alegría haverá no céu por causa de um pecador que fa
ca penitencial' (Le 15.7). /numeras foram as multidoes em toda a térra russa
levada a Deus mediante o santo Batismo. Urna obra tao digna de louvor e
cheia de alegría espiritual, eis o que Vladimir realizou".

1.3. Eventos posteriores

A obra missionária na Rússia foi levada adiante tanto "por ocidentais


como por bizantinos e eslavos. Há indicios da pregacao ocidental, como, por
exemplo, o conhecimento dos Santos tchecos Ludmila e Venceslau e do pa
trono de Praga Sao Vito, a prática do dizimo... Parece, porém, que desde os
primordios predominou no Cristianismo russo a marca bizantina e eslava.
Visto que os povos "Rus" nao dominavam o grego, o patrimonio cristao gre-
go foi-lhes entregue através da liturgia eslava, que tem a sua origem na obra
missionária dos Santos Cirilo e Metódio na Boemia e na Morávia; levada para
a Bulgaria, de lá passou para a Rússia; foram também traduzidas do grego
para o eslavo obras de doutrina e espiritualidade tanto na Bulgaria como na
própria Rússia. Formou-se em Kiev urna importante Biblioteca de obras tra
duzidas do grego, religiosas e profanas, a qual escritores russos acrescenta-
ram obras literarias origináis em lingua eslava. Algumas destas desempenha-
ram papel de destaque na historia da cultura russa: assim a "Primeira Cróni
ca", o "Serjnáo sobre a Lei e a Graca" de Hilariao, bispo de Kiev, e as bio
grafías de grandes Santos russos (Boris, Gleb e Teodósio). Tal cultura, po
rém, nao se fechava em nacionalismo, pois os russos se conservavam liga
dos nao so com Bizdncio e a Europa Central, mas também com a Europa
Ocidental pelo comercio, a diplomacia e também a consciéncia de perten-
cer a urna só e mesma Igreja.

533
'PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

Os primeiros passos da organizacao eclesiástica na Rússia sao-nos pou-


co conhecidos. Houve boas relacdes com a Sé de Roma, a ponto que o rei
Vladimir enviou legados aos Papas Joao XV e Silvestre II, e vice-versa. O
parentesco de Príncipes de Kiev com familias de soberanos ocidentais entre-
tinha o intercambio entre os cristSos da Rússia e os do Ocidente. Todavía
a proximidade geográfica de Constantinopla fez que predominasse a influ
encia bizantina sobre os russos.

A concepcao de Igreja unida ao Estado, que redundaría no Oriente


em Cesaropapismo (predominio do Imperador sobre o governo eclesiástico)
foi penetrando ñas comunidades cristas da Rússia. Com efeito; foi traduzido
do grego para o eslavo o Nomocanon, urna coletánea de let's da Igreja e de
cretos imperiais, que difundiam dois principios fundamentáis da política
de Bizancio: a teoría das relac6es "sinfónicas" entre a Igreja e o Estado, e
a tese do "Imperio universal cr¡stá"o, cujo centro seria Constantinopla".
Estes dois principios tendiam a ligar a Igreja russa ao Estado Russo e a vin
cular, ao menos no plano espiritual e religioso, as comunidades cristas russas
ao Imperador bizantino; este, apesar da resistencia que Ihe opós um rei russo
do fim do sáculo XIV, tornou-se, aos olhos dos russos, o chefe natural e
"divinamente escolhido" de todos os cristaos incluidos na órbita de influ
encia de Bizancio. Esta se exercia nao só mediante as leis canónicas, mas
também mediante as artes (arquitetura, pintura, letras); Constantinopla, "a
cidade dos desejos do mundo", exercia grande fascinio sobre todos quantos
entravam em contato com a sua cultura.

De 1039 a 1448 a Igreja na Rússia, dirigida pelo metropolita de Kiev


(que, a partir de 1328, passou a residir em Moscou), constituía urna provin
cia do Patriarcado de Bizancio. Nos sáculos XI/XII foi preciso que o clero
lutasse ainda contra o paganismo antigo, que havia sido declarado ilegal por
Vladimir, mas contava com certa simpatía do povo. Talvez só no sáculo XV
é que a evangelizacáo da zona rural russa estava terminada, de modo que o
Cristianismo entSo já inspirava a cultura camponesa.

De 1237 a 1480 a Rússia esteve sob dominio mongol ou tártaro. Isto


cortou o seu intercambio com o Ocidente, nSo, porém, com Bizancio. A luta
pela sobrevivencia nacional fez que mais ainda se estreitassem os Mames en
tre a Igreja e as autoridades civis, que tinham seu centro administrativo no
Principado de Moscou. A Igreja russa rece be u tratamento privilegiado sob a
dominacSo mongólica, ficando mesmo isenta de taxas a partir de 1270; os
seus chefes, os metropolitas Pedro (1308-1326) e Aleixo (1354-1378), se
destacaram na afirmacao da identidade religiosa e nacional do país. Em con-
seqüéncia de tais acontecimentos, as relacSes dos cristlos russos com Roma,
que eram de amizade, passaramaesfriar-se. Visto que Bizancio se separara da
Sé de Pedro em 1054, os russos foram aos poucos assumindo atitude seme-

534
1000 ANOS DE CRISTIANISMO NA RÚSSIA

Ihante á do Patriarcado de Constantinopla:as hostilidades foram-se agravan


do no sáculo XIV; nSo houve ruptura declarada, mas indireta, devida ao fato
de que Moscou seguia Bizancio.

Nova etapa da historia do Cristianismo russo ocorreu no sáculo XV.


Com efeito; de 1438 a 1445 reuniu-se o Concilio de Florenca, durante o
qual ocidentais e orientáis assinaram urna fórmula de uniao entre si. Eis, po-
rém, que, ao voltar de Plorenpa em 1441, o metropolita grego de todas as
Rússias foi deposto e preso por ordem do Príncipe moscovita Basilio II. Os
russos viam-se entao em certa perplexidade: nao queriam unir-se a Roma,
mas tambám nao queriam romper a secular vinculadlo a Bizancio (que se
unirá a Roma). A ambigua situapao teve fim quando, aos 29/05/1453,
Constantinopla caiu em poder dos turcos. Considerando que o Patriarcado
de Bizancio estava entao sob dominio muculmano e que o conquistador á
que conferia as funcoes ao Patriarca, a Igreja Russa declarou-se oficialmente
autónoma ou ¡ndependente de Bizancio. Esta-situacao evoluiu a ponto que
em 1589, com o acordó das outras comunidades ortodoxas, Moscou se cons-
tituiu numa sede patriarcal1 autocéfala; na verdade, Moscou se autodesigna-
va como "a terceira Roma", sucedánea de Bizancio e, portanto, portadora
das honras da fascinante cidade do Bosforo.

Oevemos aqui observar as diversas características do Cristianismo no


Ocidente e no Oriente. No Ocidente, a Igreja foi-se distinguindo como socie-
dade peculiar e existente ácima da autoridade civil; a Igreja nao é nacional,
mas, governada por um Pastor universal (o Papa), ela nao conhece bar re ¡ras
de Ifnguas, culturas e nacionalismos. Desta atitude se derivaram conflkos
medievais e modernos, quando os monarcas da Franca, da Alemanha, da Es-
panha e de Portugal quiseram ingerir-se em assuntos da Igreja, tentando
exercer o cesaropapismo (mediante as Investiduras), o galicanismo, o febro-
nianismo...

No Oriente, ao contrario, predominou o conceito, de Justiniano Impe


rador (525-565), de "sinfonía" entre Estado e Igreja; o Estado procurou re-
ger a Igreja; a ruptura de Bizancio com Roma em 1054 debilitou os cristaos,
fazendo que nao tivessem urna autoridade única (o Papa), mas se distribuís-
sem por Patriarcados ou Sínodos nacionais; em conseqüéncia, formaram-se

1 Sedes patriarcais na antigüidade eram as cidades de maior relevo na histo


ria do Cristianismo nascente: Jerusalém, Antioquia (onde pela primeira vez
os cristaos foram chamados por este nome; cf. At 11,26), Alexandria, tida
como sede de S. Marcos, e Roma, sede de S. Pedro e S. Paulo. Quando Cons
tantino transferíu a capital imperial de Roma para Constantinopla em 324,
esta atríbuiu a si o titulo de "segunda Roma" e sede patriarcal.

535
8 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

Igrejas nadonais, embora Bizáncio nutrisse aspiracdes universalistas. Tal ati-


tude dos cristlos fez que nao houvesse os conflitos de Investiduras e outros
registrados no Ocidente (porque a Igreja queria ser livre), mas acarretou pro
blemas, entre os quais a tendencia dos cristaos orientáis a aceitar as injun-
coes (ás vezes, injustas, perseguidoras, discriminatorias) do poder estatal.

1.4. A sede de Kiev (Ucrania)

A cidade de Kiev, capital da Ucrania, é a mais antiga sede episcopal


(metropolitana) da Rússia. O seu primeiro Bispo, dito tes Rhosias (em gre-
go, da Rússia), foi Teopempto, a partir de 1039.

Em 1299, Kiev achava-se destruida pelos tártaros, de modo que a sé


episcopal foi transferida para a cidade de Vladimir, na Rússia Setentrional,
pelo metropolita Máximo. 0 sucessor deste, Pedro, transferiu de novo a se
de, fixando-a em Moscou, minúsculo principado que estava em ascensao po-
Iftica. Em 1354, o Patriarca de Bizando reconheceu a transferencia da sede
metropolitana de Kiev para Moscou; o prelado desta diocese teria o título
de "Metropolita de Kiev e de toda a Rússia".

A antiga. sede metropolitana de Kiev no sáculo XVI, vendo-se entre


os dois polos de Constantinopla e Moscou, houve por bem unir-se a Roma;
a comunháfo foi instaurada em Brest-Litovsk aos 23/12/1595. O procedí-
mentó de Kiev foi seguido por outras comunidades cristas que se haviam se
parado de Roma (na Prússia, na Alemanha, na Hungría, na Polonia, nos
Subcarpatos...); aderíram ao acordó de Brest-Litovsk, e sfo chamadas "cris
taos rutenos"1 ou un i atas.

Nos sáculos XVI/XVII Kiev e os ucranianos se abriram mais e mais pa


ra o Ocidente latino e a cultura ocidental por influencia das escolas dos je
suítas. No sáculo XX, porém, sofreram as conseqüéncias da Revolucao mar-
xista na Rússia: o Governo de Stalin em 1946, mediante o Sínodo de Lvov,
nao quis reconhecer a sua filiacáo á Santa Sé e ao Papa, e passou a tratá-los
como parte integrante do Cristianismo russo; tentou assim cancelar as con
seqüéncias da uniá*o de Brest-Litovsk (1595). Os ucranianos católicos, sufoca
dos em sua identidade, pleitearam sob Gorbachev o reconhecimento de sua
pertenga á Igreja Católica, mas isto Ihes foi explícitamente denegado em
1988, apesar da abertura apregoada pelo atual Governo soviético.

Dito isto, examinemos a situacao atual do Cristianismo na Rússia.

1 Ruteno vem de Ruthenia, nome dado á Rússia no latim medieval.

536
1000 ANOS OE CRISTIANISMO NA RÚSSIA

1.S. O Cristianismo na Rússia atualmente

1. O Raskol (= cisma, em russo}... No século XVII o Patriarca Nikon


e o tzar autoritario Alexis quiseram reformar os livros litúrgicos russos, se-
guindo o modelo dos livros gregos e suprimindo costumes próprios dos cris-
taos da Rússia, que já tinham sua tradipao. - Isto suscitou a calorosa oposi-
cao do arcipreste Avvakum e de clérigos e leigos, conhecidos por sua piedade
e seu zelo religiosos. Em 1666-7 reuniu-se em Moscou um Concilio, que
aprovou definitivamente as reformas de Nikon e excomungou os dissidentes;
os mentores destes foram encarcerados e deportados para Pustozerski, ás
margens do Océano Glacial (a Igreja estava unida ao Estado!). Houve aínda
lutas armadas entre os seguidores da antiga Tradipao, chamados raskolnik
{=cismáticos) e as tropas da Poh'cia em Moscou. Entao muitos raskolnik se
refugiaram ñas florestas e na Sibéria, enquanto outros preferíram o suicidio
coletivo ñas chamas (assim morreram perto de 20.000 pessoas entre 1685
e 1690).

Os raskolnik conseguiram atravessar a fase mais violenta de perseguí-


pao e, de maneira ora clandestina, ora abertamente tolerada, foram-se pro
pagando na Rússia. Nao aceitam o apelativo de cismáticos, que eles substi-
tuem por strover (=velho crente) ou staroobrjadec (=velho ritualista). Sao
hoje cerca de nove milhoes.

Oividiram-se no fim do século XVII em duas facedes: 1) a dospopovey


(presbiterianos), que tém seus presbíteros e sua hierarquia, derivados da
Igreja oficial russa nikoniana; 2) a dos bezpopovey (sem presbíteros), que
julgam estar o Anticristo presente na Igreja oficial desde os tempos de
Nikon; por isto afirmam nao haver ai nem fé verdadeira, nem sacerdocio
nem sacramentos; para chegar a Deus, so admitem as vias da orapao e as
obras de penitencia; nao reconhecem a autoridade do Estado, que Ihes pare
ce ser o aliado do Anticristo.

2. Atualmente o Cristianismo russo, além do Raskol, compreende


quatro jurisdipoes ou quatro ramos independentes uns dos outros:

a) o Patriarcado de Moscou, do qual depende o Exarcado do Patriarca


na Europa Ocidental;1

b) o Sínodo da Igreja Russa fora das fronteiras, que atende, sob a au


toridade de um Sínodo de Bispos, a urna parte dos fiéis da Diáspora ou emi-

1 Exarcado, na terminología dos crístios separados de Roma, é um territorio


situado fora de um Patriarcado e govemado por um representante do Pa
triarca (dito "Exarca"); compreende urna ou mais eparquías (díoceses).

537
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

grados. A sua sede principal achava-se em Karlovy Vary (Tchecoslováquia)


até a segunda guerra mundial (1939-45). Atualmente encontrase em Nova
lorque (U.S.A.);

c) o Arcebispado ortodoxo da Franga e da Europa Ocidental das Igre-


jas russas da Diáspora, que atende, sob a autorídade do Metropolita da Fran
ca, a outra parte dos fiéis emigrados. Estes ficaram até 1930 vinculados ao
Patriarcado de Moscou, mas em 1931 passaram para a jurisdipao do Patriar
cado de Constantinopla (Istambul, na Turquía atual);

d) a Igreja Ortodoxa da América, quetambém atende aos fiéis da Diás


pora. Em 1970 obteve do Patriarcado de Moscou a sua autocefalia (autono
mía), autocefalia, porém, que o Patriarcado de Constantinopla nao reco-
nhece.

2. Breve Crónica das Celebragóes do Milenio

Oe 5 a 17 de junho de 1988, ocorreram em Moscou e em outras cida-


des as comemoracóes do primeiro milenio do Batismo da Rússia. Demons-
traram a vitalidade do Cristianismo naquele pai's, apesar da perseguícao,
aberta ou velada, movida pelos chefes de Governo Josef Stalin, Kruschev e
Breznev. O atual Secretario Geral do PCUS, Mikhail Gorbachev, parece ¡n-
teressado em abrandamento das restricoes á religiao na URSS. É alvissareiro
o fato de que, por ocasiao do milenio, tenha havido um diálogo intenso en
tre o Estado e a Igreja na URSS. Também merece atencao o fato de que a
imprensa escrita, falada e televisionada, na Rússia, tenha dado cobertura
ampia e minuciosa ás cerimónias comemorativas do milenio; em épocas pas-
sadas teria havido silencio e ignorancia dos fatos ou mesmo a referencia
aos mesmos como atitudes anticientíficas, resquicios de mentalidade mito
lógica e burguesa. A partícipacao do povo nos festejos do milenio foi signifi
cativa nao só para os observadores estrangeiros, mas também para os dirigen
tes soviéticos atuais.

Percorramos sumariamente alguns eventos comemorativos.

1. De 5 a 9 de junho realizou-se um Sínodo de todos os Bispos da


Rússia ortodoxa no mosteiro da Trindade e de S. Sergio em Zagorsk, visan
do a quatro objetivos: a reforma do Estatuto interno da Igreja ortodoxa
russa, a preparacao do Sínodo pan-ortodoxo (reuniao de todos os Bispos
ortodoxos), elaboracao de propostas ao Governo, canonizacao de nove
Santos russos (oito homens e urna mulher), que viveram entre os séculos
XltfeXIX.

538
1000 ANOS DE CRISTIANISMO NA RÚSSIA 11

A abertura do Sínodo ocorreu aos 5/06/88 na Catedral de Moscou sob


a presidencia do Patriarca Pimen com a presenpa de cerca de 400 delegados
religiosos de nacionalidades diversas e centenas de fiéis ortodoxos. A Igreja
Católica estava ai' representada por urna delegapfo de prelados da Santa Sé
e de varias partes do mundo.

No dia 6/06 em Zagorsk, foram iniciados os trabalhos do Sínodo. O


seu presidente, o Patriarca Pimen, de Moscou, tinha a seu lado o Sr. Kons-
tantino Kharchev, Presidente do Conselho para Assuntos Religiosos, além
de cinco Metropolitas; Pimen enfatizou entao o apoio dado pelos cristaos
á renovacao social e política da URSS; Kharchev respondeu que "a religiao é
assunto privado dos cidadaos; o nosso Estado é o Estado de todos, crentes e
nao crentes"; ao que acrescentou que o milenio do Cristianismo era impor
tante tanto para o Estado como para a sociedade soviética. O Cardeal lan
Willebrands, Presidente do Secretariado para a Uniao dos Cristaos, tomou, a
seguir, a palavra, afirmando, entre outras coisas:

"Apesar das dificuldades registradas no passado, devemos hoje, mais


do que nunca, estar dispostos a redescubrir a Comunhao em torno da mesma
mesa Eucan'stica, olhando com particular atencao e esperan ca para os
filhos e as filhas espirituais de S. Vladimir... Fundamental para o diálogo é o
reconhecimento de que a riqueza da unidade de fé e de vida espiritual deve
ser expressa na diversidade das formas. A unidade nao significa uniformi-
dade e absorcao de um grupo em outro".

O Sínodo prosseguiu seus trabalhos a portas fechadas. Ao termina-los,


adotou um novo Regulamento interno para a Igreja na Rússia, fator de pros-
peridade para a mesma, desde que se cumpram as palavras de Gorbachev
proferidas ao Patriarca Pimen em 29/04/88: "Atualmente está em elabora-
pao urna nova legisla pao atinente a liberdade de consciéncia, que levará em
conta também os interesses das organizagoes religiosas". O Sínodo russo,
baseado nestes dizeres, previu a possibilidade de catequese mais livre, publi-
capao de livros religiosos e ex ere icio de atividades caritativas; decidiu criar
tres novos Seminarios maiores: um em Novosibirks (Sibéria), outro em Kiev
(Ucrania) e um terceiro na regiao de Minsk. Os sinodais tiveram em vista ou-
trossim o gravíssimo problema de milhoes de fiéis ucranianos católicos, que
foram submetidos, por violencia, a autoridade de Moscou em 1946, apesar
do seu protesto de fidelidade a Santa Sé.

2. No dia 10 de junho teve lugar no teatro Bolshoi de Moscou um so-


lene ato público comemorativo do milenio, em presenca da Sra. Raissa
Gorbachev, do Vice-presidente Piotr Demiceve, do Vice-Primeiro-Ministro
Nikolaij Taluzyn, além das delegacoes enviadas a Moscou. Falou entSo o

539
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

Cardeal Agostinho Casaroli, Secretario de Estado do Vaticano, num discurso


breve e muito denso, do qual sejam destacados os seguintes tópicos:

"Á luz da Revelado bíblica, o fenómeno 'Cristianismo' nao é expli-


cável pelos fatores que a razio humana geralmente assinala como responsá-
veis pelo desenvolvímentó da historia; supde a presenca de urna mao que ul-
trapassa a capacidade e a vontade das criaturas.

0 seu fundador nSo foi apenas um certo Jesús, que morreu, mas que
os seus discípulos afirmam estar vivo (At 25,19), como o apresentava... o
Procurador romano Festo, sucessor de Pdncio Pilatos, que o condenara á
morte. Para o fiel, Jesús de Nazaré éaluzea vida do mundo. Os seus discí
pulos receberam dele a missao de levar essa luz e essa vida a todos as partes
da térra, e cumpriram essa missao, como há mil anos na ñus' de Kiev, nao
por suas próprias torcas, mas pela acio divina do Espirito.

É natural que aqueles que nao compartilham esta visSo de fé conside


ren» muito diversamente o fato do Cristianismo na historia e na atualidade.
Em particular, a visSo que o Cristianismo tem de si e do mundo, parece es
tar em nítida oposícSo ao que poderfamos considerar como urna das hipó-
teses características do homem moderno, a saber: a razio humana, partindo
da racionalidade imánente do real e desenvolvendo todas as implicacoes des-
te, se senté chamada a eliminar do seu horizonte o misterio, como o Sol que
sobe ao seu zenite faz desaparecer as sombras ñas quais se refugiam os terro
res e as esperancas do espirito aínda nao emancipado do fascínio da trans
cendencia.

Como quer que se/a, o fato religioso e, em particular, o do Cristianis


mo, é sempre de incontestável atualidade. Impoe-se á atencao do historia
dor, sem que a este se/a possfvel escapar-lhe, e nao pode ser negligenciado
por aqueles que tém a responsabilidade de se confrontar com a reaUdade
na vida cotidiana dos povos e ñas suas projecoes para o futuro. O realismo
do estadista o exige;pede-o o respeito pelo homem".

Na base destas ponderacoes, o Cardeal Casaroli acenava á concessáo


de maior liberdade para o exercfcio da religiao na URSS. Este apelo foi re
petido por oradores cristaos, judeus, mupulmanos, budistas, que ocuparam
a tribuna na mesma sessao solene.

3. Na manhS de 11/06, a delegaca*o da Igreja Católica foi recebida


no Kremlin pelo Presidente do Soviet Supremo, Andrei Gromyko, junta
mente com os dignitários da Igreja Ortodoxa e outras representagóes reli
giosas. Na ocasiao, o Cardeal Casaroli abordou o tema da nova lei relativa
á liberdade. de conscidncia: "Pensa V. Excia. em discutir a questao com as

540
1000 ANOS DE CRISTIANISMO NA RÚSSIA 13

comunidades religiosas para délas receber observares, sugestoes e objecoes,


a fim de chegar a formular urna legislacao que melhor corresponda ás suas
exigencias?" — Gromyko respondeu em termos genéricos, mas disse que
eram coisa obvia o escutar e o ¡nformar-se; observou que atualmente existe
a separapáo da Igreja e do Estado, a diferenca do que outrora ocorria, mas
que os fiéis podem contribuir ativamente para a causa da paz. "Julgamos
poder chegar a aprovar a nova lei em breve"; quanto ao reconhecimento de
novas comunidades religiosas, "haveré maior facilitado, mas sempre dentro
das leisdo Estado".

4. No dia 12/06, domingo em que se celebram todos os Santos na Li


turgia ortodoxa, houve solene celebracao litúrgica no mosteiro de S. Daniel
ao ar livre (fazia setenta anos que, por lei, nao se podía realizar alguma ma-
nifestacao religiosa fora das paredes das igrejas!). A delegacao católica fez-se
presente a esse ato.

De tarde, o Patriarca Pimen ofereceu urna recepcao, na qual o Cardeal


Roger Etchegaray, Presidente da Comissao "Justica e Paz" da Santa Sé, pro-
feriu um discurso.

Ainda no dia 12/06 o Cardeal Casaroli teve um encontró com o Mi


nistro Konstantin Kharchev, no qual, em coloquio "aberto e cordial", foram
examinados diversos problemas relativos ás relacoes entre a Igreja Católica
e o Estado Soviético, ficando finalmente estabelecido que o diálogo haveria
de continuar.

5. No dia 13/06 as celebracoes se estenderam a outras cidades russas:


Kiev, para onde foram os Cardeais Willebrands e O'Connor; Leningrado,
com a presenca do Cardeal Cario Martini, de Milao; Vladimir, onde esteve o
Cardeal Friederich Wetter, de Munique.

Nesse mesmo dia o Cardeal Casaroli se reuniu com o Chefe do Gover-


no M. Gorbachev no Kremlin durante urna hora e meia. Estavam presentes
outrossim Mons. A. Backy, do Conselho de Negocios Públicos da Igreja, e o
Ministro soviético do Exterior Eduard Shevardnadze. O conteúdo da conver
sa foi mantido sob sigilo, mas deixou transparecer franqueza e mutua com-
preensao. Os repórteres perguntaram insistentemente no final da mesma:
"Poderá o Papa vir a Moscou?" Respondeu Gorbachev: "Muita coisa deve
acontecer antes disto"; acrescentou Shevardnadze: "Temos grandes proje
tos; há de chegar o momento". O Cardeal Casaroli, por sua vez, declarou:
"Estabeleceu-se urna especie de contato regular e orgánico entre a Santa Sé
e as autoridades soviéticas... Nao chegamos ao ponto de instituir relacoes
diplomáticas. Tratase de algo de preliminar ou de manter alguns contatos

541
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

... Espero que a vida da Igreja Católica na URSS possa melhorar; entramos
na fase em que ao menos podemos levantar os problemas; antes, isto nem
era possfvel".

O Cardeal Casaroli entregou a Gorbachev urna mensagem do Papa, que


constava de urna carta pessoal e de um memorándum; o Secretario Geral a
leu ¡mediatamente e assegurou que a consideraría com toda a atencao.

Em sin tese, os encontros ocorridos entre representantes da Igreja


Católica e do Governo Soviético por ocasiáo do milenio do Batismo da Rus-
sia teráo conseqüéncias notáveis, que poderao marcar a historia futura. Eis
como a eles se refere Mons. Backy em entrevista a Radio Vaticana:

"Nao se pode deixar de ver nessas celebracoes autorizadas, guase fa


vorecidas pelo Governo, o reconhecimentó, da parte do Estado Soviético,
das funcdes e do lugar das comunidades religiosas na sociedade soviética de
hoje... 0 anuncio da elaborafio de urna leí sobre a liberdade de consciéncia,
que levará em consideracao os interesses e os anseios das organizacdes religio
sas, vem a ser um elemento novo que'despena esperances entre os fiéis e na
opiniao pública... Devo acrescentar que os representantes da Santa Sé foram
acolhidos com grande cordialidade pela Igre/a Ortodoxa; tiveram urna recep-
cao respeitosa e cordial até da parte das autoridades civis, como atestam os
encontros oficiáis; entre estes, o principal e culminante deu-se no Kremlin
entre o Cardeal Secretario de Estado e o Sr. Gorbachev. A finalidade princi
pal desta visita era a entrega da mensagem pessoal do Papa, na quaf era ex-
presso o dese/'o de poder chegar a alguma forma de contatos regulares com o
Governo Soviético; tais contatos teriam por objeto questdes de interesse
comum: nao somente questdes de caráter internacional (já tem havido con-
versacoes esporádicas a respeito destas), mas principalmente problemas re
lativos á vida da Igreja Católica".

As impressSes e o depoimento de Mons. Backy foram corroborados


por quanto declararam outros participantes católicos das celebracoes do mi
lenio: os Cardeais Etchegaray, Martini, Glemp, Willebrands e Wetter decla
raram estar diante do surto de novos horizontes e caminhos, que interessa-
rao nao somente ao Catolicismo, mas também ao povo soviético e a fami
lia humana em geral, pois os coloquios entre a Santa Sé e Moscou tém em
mira o respeito a di reí tos humanos.

A propósito:

La Civiltá Cattolica, 16/07/1988, pp. 186-196.


La Documentation Catholique, n? de 19/06 e 17/07/1988, pp.
629-645e 741-760.

542
As grandes Religioes da Humanidade:

O Confucionismo

Em síntese: O Confucionismo, devido a Confúcio (sáculo Vl/V a.CI


na China, apregoa o culto dos antepassados, que merecem veneracao me
diante ritos tradicionais; a estes ritos estao associados preceitos de ordem
moral, principalmente os da honestidade e do bom relacionamento com o
próximo. A observancia destas normas assegura ao ser humano a felicidade
(Fu), que é concebida dentro dos termos da vida presente, pois o Confu
cionismo nao desenvolveu a noció de existencia postuma. Em relacao a
Deus, o confucionista reconhece a ordem do universo devida a imutáveis
decretos de Deus, mas sabe que é livre e responsável por seus atos, quepo-
dem provocar a sancao divina, ou se/a, a outorga da felicidade ou a multi-
plicacao de desgracas.

* * *

O Confucionismo é urna das grandes correntes religiosas da China, ao


lado do Budismo e do Taofsmo.

Em chinés, Confucionismo se diz Ju-Chiao =seita de Ju. - O significa


do originario da palavra Ju é duvidoso. A partir do sáculo III a.C, tal termo
designava os servidores da aristocracia chinesa, que com o tempo passaram
a dominar os seus patroes pela superioridade dos seus conhecimentos. Pos
teriormente, quando a aristocracia chinesa desapareceu, dando lugar ao rei
no unido da China, Ju passou a designar a classe dos magistrados e dos lite
ratos.

Prosseguindo no intuito de estudar as grandes religioes do mundo,1


consideraremos, a seguir, a pessoa de Confúcio assim como a sua doutrina.

1 Ver PR 309/1988, pp. 78-89 (Hindui'smo); PR 310/1988, pp. 98-106


{Budismo); PR 317/1988, pp. 471-480 (Islamismo).

543
^6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

1. A figura de Confúcio

Confúcio nasceu em 551 a.C. no Estado feudal de Lu, na provincia


atual de Shangtung. Na su a época a China era governada pela dinastía
Zhon (722-481 a.C); tal fase foi de desagregacáo nacional: os varios senho-
res feudais recusavam a obediencia ao monarca e disputavam entre si a hege
monía; houve Ministros que assassinaram os seus monarcas, como houve
filhos que mataram os seus genitores. Confúcio desejou estabelecer ordem
nesse reino convulsionado, mas nao o conseguiu. Foi mais feliz como edu
cador e morigerador dos homens. Morreu em 479 a.C. Conhecemos os seus
ensi ñamen tos apenas mediante os escritos dos discípulos, o mais importante
dos quais se intitula Lun Yu, coletanea postuma dos diálogos de Confúcio.

A religiao oficial da China no sáculo VI a.C. compreendia o culto dos


antepassados. Confúcio adotou-a e reforcou-a. Os antepassados eram escalo
nados segundo graus de importancia: havia o antepassado maior, que era o
filho primogénito (da-zong) da mulher do fundador de urna linhagem prin
cipesca independente; este merecía veneracao perpetua, ficando a sua ima-
gem exposta no salSo principal do templo da familia. Os antepassados me
nores eram os outros filhos (xiao-zong) da mesma familia; as suas imagens
eram expostas em salas laterais do templo da familia e a sua veneracao Ihes
era prestada apenas até a quinta geracao.

Além disto, no tempo de Confúcio os chineses adoravam o Céu como


o seu Deus Supremo. Chamavam o seu rei "Filho do Céu"; a este incumbía
a tarefa de sacrificar ao Céu. Segundo a crenca da época, o rei recebia do
Céu a térra e o seu povo e governava em nome da Dívindade. Paralelamente
os principes feudais recebiam do rei as suas térras com o respectivo povo,
que eles governavam em nome do reí.

Confúcio admitiu essas idéias, que corroborava afirmando haver


certa harmonía entre a ordem politica, a Moral e a prática religiosa, harmo
nía chamada Tao e que era assim explicada:

"Do afeto aos genitores resulta a honra tributada aos antepassados;


desta honra nasce o respeito devido ao pai de familia; este, por sua vez,
garante a uniSo e a concordia entre os famifiares.

Por causa disto venerase o templo dos antepassados; em conseqüén-


cía, nao sSo menosprezados nem os altares dos espfritos protetores do Es
tado.

O príncipe que nao negligencia os altares dos espíritos protetores do


Estado, ama os seus oficiáis; estes, sentindo-se amados, ministran) a justica
com eqüidade, de tal modo que o povo fica satisfeito.

544
OCONFUCIONISMO 17

Ora o povo satisfeito com prazer desenvolve os recursos naturais, dos


quais depende a satisfacao dos desejos humanos. E os homens, com os seus
déselos satisfeitos, nao se descuidam de observar as leis religiosas.

Quando há perfeita observancia das leis, existem paz e felicidade no


mundo inteiro" (Livro dos RitosA

0 cerne do ensinamento dé Confúcio a propósito é a norma: "Gover


nar com a virtude". Diz Confúcio: "Quem governa com virtude, é campará-
vel á estrela solar, que permanece imóvel em seu lugar, enquanto todas as
outras Ihe giram em torno".

Confúcio apregoava o ren (caridade) como virtude ti'pica dos gover-


nantes, que na sua época nao pensavam no bem comum, mas tratavam de
se enriquecer á custa dos dinheiros públicos. Os acontecimentos posteriores
deram-lhe razao. Sim; dois sáculos após a/norte de Confúcio, a dinastía Qin
em 221 a.C. apoderou-se da China e unificou-a; mas este poderío durou ape
nas quinze anos, pois os Qin foram destronados. Ao comentar este fato, o
sabio Jia Yi escreveu no Discurso sobre os Erros dos Qin o seguinte: "Os so
beranos Qin nao souberam governar com a virtude nem compreenderam que
a capacidade de conquistar e a de conservar o que foi conquistado nao sao
a mesma coisa". Por isto seu domi'nio terá sido tao efémero. Convencido
disto, o Imperador Wu, da subseqüente dinastía Han, proclamou o Confu-
cionismo ertsinamento oficial do seu Governo.

2. O Confucionismo: ritos e felicidade

0 Confucionismo é o culto dos antepassados, que, após a morte de


Confúcio, inclui o do próprio Confúcio. A China imperial impunha o culto
de Confúcio a todos os magistrados e mantinha um templo confuciano em
cada cidade; a(, duas vezes por ano, eram celebradas solenes festas em honra
de Confúcio, das quais participavam os oficiáis civis e militares da regiao.
Além do que, duas vezes por mes, na Lúa nova e na Lúa cheia, eram ofe-
recidos sacrificios.

De quanto foi dito, segue-se que o Confucionismo nao é urna religiao


institucional com seus dogmas, seu sacerdocio e sua organizacáo diferentes
dos de outras sociedades. Também se pode dizer que nao é urna "religiao de
salvaclo" (= promissora de salvacao), como o Cristianismo e o Budismo, por
exemplo. Verdade é que a nocao de salvacao nao Ihe é estranha. Os confu-
cionistas conhecem bem a palavra fu, afixada outrora ñas portas das casas
chinesas no primeiro dia do ano, com o sentido de "felicidade", equivalente
á palavra hebraica shalom e á latina salus.

545
18 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

O vocábulo chinés fu é representado por um sinal ideográfico, a saber:


um altar. Isto quer dizer que a felicidade tem sua origem ñas béncaos de
Deus correspondentes á fiel execucffodos ritos ou do culto dos antepassados.

O conteúdo da felicidade se refere á vida presente. É indicado por pa-


lavras apostas a fu: assim fu-lushou significa que a felicidade consiste em ter
"muitos filhos" (fu), "elevada posipSo e ricos proventos" (lu) e "longa vida"
(shou). Também se encontra a expressSo wu-fu = cinco felicidades; indica
que a felicidade compreende longa vida, riqueza, dignidade, paz e prole nu
merosa. Em outros textos, a felicidade é definida pela palavra pei, que indi
ca a consumacSo ou o estado no qual o individuo possui tudo de que neces-
sita, sem carencia alguma.

É de notar ainda que os ritos dos quais depende a felicidade, implicam


a observancia dos preceitós moráis. Com efeito, o "Livro dos Ritos" apre-
senta o que alguns chamam "os dez mandamentos dos ritos confucionistas":

"A bondade da parte do pai;a piedade filial da parte do filho; a genti


leza da parte do irmao mais velho; a obediencia da parte do cabula; a justica
da parte do marido; a submissao da parte da esposa; a bondade da parte
dos andaos; a deferencia da parte dos jovens; a benevolencia da parte do so
berano; a fidelidade da parte dos súditos".

A relacáo entre a observancia das leis moráis e a felicidade é ilustrada


por um quadro que se encontrava muitas vezes ñas casas de famflia chinesas
e que trazia a inserí cao: Chi-shan yü-ching, o que significa: "o acumular boas
acóes atrai a felicidade". Esta frase se inspira nos dizeres de Confúcio: "As
familias que entesouram boas acóes, abundam em felicidade, ao passo que
as desgracas sao freqüentes ñas familias que se entregam aos vicios".

Como se eré, o conceito confucionista de felicidade se reduz aos limi


tes da existencia terrestre, pois o Confucionismo nao desenvolveu clara no-
cao de vida postuma.

Pode-se dizer que a bondade do coracao ou o amor (ren) caractetiza


sintéticamente a Moral confucionista. Sao palavras do Mestre: "Se por um so
dia o homem domina a si mesmo e restaura os ritos, o mundo se volta para
a caridade (ren)". Eis ainda um episodio significativo:

Dizia Confúcio: "Um homem que nao pratique a caridade (ren), como
realizará os ritos? Um homem que nao pratique a caridade, como tocará
música?" Ritos e música, no caso, significavam a sacrossanta tradicáo da
China antiga.

546
OCONFUCIONISMO 19

Mas como é que alguém se torna praticante da caridade? Eis a resposta


de Confúcio, segundo Lun Yu: "Quem consegue efetuar cinco coisas no
mundo, tem a caridade (ren)". Essas cinco coisas sao: "Respeito, magnani-
midade, sinceridade, solicitude, benevolencia. Quem respeita, nao ofende;
quem é magnánimo, conquista as multidoes; quem é sincero, ganha a con
fianza dos outros; quem é solícito, cumpre seus deveres; quem é benévolo,
é apto a comandar os outros". Donde se vé que ren é o cume e a súmula das
virtudes moráis.

3. Confucionismo: linhas teológicas

Confúcio formulou uns poucos principios teológicos, que o seu con


temporáneo Lao-Tzu propagou.

A idéia de Deus, em parte, é inspirada pela contemplacao do céu


(T'ien). Este ¡mpressiona os homens de duas maneiras, ou seja, pela regula-
ridade dos seus movimentos e pelo terror de alguns fenómenos mete reo ló
gicos. A regularidade sugere a existencia de certas leis que presidem aos
acontecimentos deste mundo, enquanto os terrificantes fenómenos metereo-
lógicos fazem crer que Deus interfere na ordem da natureza. Com outras pa-
lavras ainda: ao contemplar os céus, os homens se tornam conscientes de
que há decretos divinos infalíveis (ming), de um lado, e, de outro lado,
aprendem a temer as sanpóes de Deus impostas aqueles que cometem aber-
racóes. Com efeito, embora naja no universo ordem sabia e bem tragada, o
homem fica sendo livre e responsável, diante de Deus. pelas acóes que pra-
tica; resta-lhe sempre a possibilidade de errar, procurando o lucro material
em lugar da honestidade ou cultivando o amor das coisas visi'veis em vez das
virtudes.

0 valor de alguém, segundo Confúcio, nao se mede necessariamente


por aquilo que ele tem ou realiza, mas, sim, pela sua retidlo de intencñes
ou pela sua honestidade. Baseando-se neste princi'pio, Tzuhsia. discípulo de
Confúcio, respondeu a um colega que se queixava de nao ter irmaos:

"Ouvi dizer que a vida e a morte dependem do destino; a riqueza e a


honra dependem do Céu. Se um homem nobre procede corretamente em to
das as circunstancias e o seu comportamento é agradável a todos e irrepreen-
sfvel, todos os homens que habitam entre os quatro mares, sao os seus ir
maos. Por conseguinte, poderá um homem nobre amargurar-se por nao ter
irmaos?" ("Dizeres de Confúcio ou Lun-yü).

Nestas poucas linhas, dizem os especialistas, está esbozada toda a dou-


trina religiosa de Confúcio, que as geracóes subseqüentes desenvolveram.

547
20 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

A guisa de bibliografía:

BORRMANS, PHICHIT. PRATO, RONDOT, ROSSANO, SHIH,


SHIRIEDA, SPADA, Le Grandi Religioni del Mondo. Roma 1987.

DICTIONNAIRE DES RELIGIONS, sous la direction de Paúl Poupard.


París 1984. Verbetes "Confucius" e "Confucionisme".

SHIH, JOSEPH. II Confucianesimo o la Vía del Cielo, em JESÚS,


VIII, outubro 1986, pp. 74-77.

* * *

A Cura peta Imposipáb das Míos, por Freí Hugolino Back e Pedro A.
Grisa. -EDIPAPPI, Florianópolis, 1988 ('3a. edicao), 140x204 mm, 155pp.

Os autores cultivam a Parapsicología como cristáos dese/osos de ajudar


o seu próximo. A intencao é altamente ¡ouvável. Em conseqüéncia de suas
pesquisas e experiencias, afirmam que se podem obter curas mediante a im
posicSo das maos, pois por estas passa a bioenergia, que restaura o organis
mo. A propósito desejamos fazer tres observacoes:

1) Nao se deveriam explicaras curas praticadas por Jesús mediante tal


processo parapsicológico. As curas de Jesús eram instantáneas, realmente
milagrosas (sinais de algo transcendental, semeia¿ ao passo que a cura pela
imposicSo das mSos é geralmente lenta ("pode esta levar semanas ou meses",
p. 26). Para realizar curas, Jesús teña aplicado "passes (p. 74)!

2) A antropología professada pelos dois autores (o ser humano consta


de corpo, aura e mente) difere da clássica antropología crista, que afirma a
existencia de corpo e alma no homem, sendo esta dotada de faculdades de
conhecimento e querer. A aura ou o campo eletromagnético, se existe, há de
ser urna expressao da alma humana e nao um perispírito.

3) A sugestSo tem enorme poder de influencia sobre as pessoas. Os


dois autores em foco exigem dos seus pacientes fé e confianca — o que quer
dizer que contam com urna predisposicSo favorável á cura. — Sería preciso
investigar se tais curas sao reais e, caso se/am tais, se sao duradouras.

Em síntese: nao é nosso intuito discutir aqui a possibilidade de curas


pela imposicSo das maos irradiadoras de energía vital, mas importa-nos sepa
rar, no caso, a Parapsicología e a Religiao. Estudem os parapsicólogos, mas
nSo queiram explicar os dados da religiao mediante a parapsicología numa
atitude falsamente reducionista.

548
As Grandes Religióes da Humanidade:

O Taoísmo

Em sfntese: O Taoi'smo é a segunda grande Religiao da China. Vem a ser


Escola e Sociedade Religiosa. Professa o Tao, o Real Auto-Suficiente, que
existe por si mesmo e que dá origem a tudo. Conhecé-lo é a/cancar a felici-
dade. Em torno da Mística taoi'sta, encontrase a prática de ritos oriundos
de épocas muito antigás do povo chinés, inspirados em mentalidade mágica.

Enquanto doutrina mística, o Taoi'smo constituí urna Escola Religio


sa; enquanto associacao dotada de ritos e práticas mágicas, é Sociedade Re
ligiosa.

* * *

O Taoísmo é outra crenca religiosa nativa da China, onde apareceu pou-


co depois do Confucionismo. 0 seu fundador é Lao-Tsé, personagem a res-
peito do qual pouco se sabe; parece ter vivido no sáculo IV a.C.

O Taoi'smo vem a ser Escola (Tao-chia) datada do sáculo IV a.C. e


Sociedade Religiosa (Tao-chiao), que teve origem no sáculo II a.C, talvez
para opor-se ao Budismo, recém-introduzido na China. Tanto a Escola como
a Sociedade Religiosa inspiram-se ñas tradicoes religiosas da China amiga,
utilizando-as, porém, diversamente: a Escola eliminou os mitos da Tradicao
antiga, ao passo que a Sociedade Religiosa conservou as crenpas mitológicas
e as práticas mágicas.

Prosseguindo no intuito de estudar as grandes Religióes da humanidade.


completaremos o quadro religioso da China antiga, considerando ñas páginas
subseqüentes o Taoi'smo como Escola e como Sociedade Religiosa.

1. O Taoi'smo: Escola

Lao-Tsé procurou dar urna interpretapao racional ás tradigoes religiosas


da China antiga; Confúcio o fez em relacao ás tradicoes da aristocracia, ao
passo que Lao-Tsé se dedicou ás tradicoes populares, que tinham a vantagem
de ser aínda mais antigás do que aquelas.

549
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

Lao-Tsé foi impressionado pela maneira como os antigos concebí a m o


misterio da vida. Este era ilustrado por um símbolo colocado nos vasos sa
grados usuais no culto dos antepassados: urna máscara animal chamada
t'ao-t'ieh.

O t'ao-t'ieh representava tanto a Lúa quanto a Térra. Significava tam-


bém o demonio, tido como um animal carnívoro, com duas cabecas, urna
em cada extremidade do corpo; com a boca de urna comia, e com a boca de
outra cuspia. Sobre a testa desse demonio se encontrava freqüentemente
urna roda mágica, que simbolizava o moví mentó cíclico do eterno retorno.

Lao-Tsé depurou esse símbolo de cargas mitológicas e deu-lhe o nome


de Tao. Dizia: como o demonio tem duas máscaras, urna das quais para co
mer e outra para cuspir, assim também o Tao tem dois aspectos chamados
o Náb-ser (wu) e o Ser (yu). O Nao-ser corresponde á face escura da Lúa; é o
manancial de tudo o que existe ou do Ser (yu).

Além disto, como o demonio, assim também o Tao representa o eterno


retorno.

Estes aspectos cosmológicos do Tao sao apenas o preludio para atrair


os devotos a concepcoes religiosas e místicas; conhecer o Tao e as verdades
nele comidas é fonte de felicidade, como enunciam os dizeres seguintes:

"Segurando na mao o Tao que era, podemos cavalgar as coisas que sao
hoje. Pois conhecer aquilo que foi no principio, eis a esséncia do Tao".

Ainda mais claramente fala o texto seguinte:

"Na verdade, as coisas florescem cheias de vigor. E cada qual retorna


á raiz da qual nasceu. Tomar a raíz chamase tranqüilidade; e pode ser con
siderado como restituicao de um valor confiado.

Restituir um bem confiado é a leí constante. Quem nao reconhece esta


lei constante, é ioucamente ativista e se precipita em desgracas. Quem reco
nhece esta constante, resignase. Quem se resigna, nao tem ilusdes. Quem
nSo tem ilusdes, tudo compreende. Quem tudo compreende, é grande. Se é
grande, conhece o Tao. Se conhece o Tao, permanece e nio estará em peri-
go até o fim da sua vida".

Lao Tsé conhecia o Tao. Foi um taoísta iluminado. Como dito, o Tao,
na tradicao da Escola, é definido como o Real Auto-Suficiente, que existe
por si mesmo e dá origem a tudo. É o Grande, a Grande Unidade, o Um Su
premo?

550
O TAOI'SMO 23

2. A Sociedade Religiosa Taofsta

O Taoi'smo foi organizado como Sociedade Religiosa por Chang Ling


e seu filho Chang Heng e seu neto Chang Lu. Os tres Chang tinham o cogno-
me de T'ien-shíh, isto é, Mestre do Céu.

Na Sociedade Religiosa taoísta distinguiam-se: os chi-chiu, chefes, en-


carregados de funcóes administrativas, e os kuei-tsu, simples seguidores. Es
ta distincao foi-se atenuando no decorrer dos sáculos.

Os tres Chang sobressairam por praticar curas mediante o Chiang-chiao


(exorcismo) e os fula (amuletos). Exigiam, porém, dos pacientes arrependi-
mento dos pecados como condicao para conseguir a cura. Para significar es
te arrependimento, os enfermos tinham que subscrever as san-t'ung, isto é,
tres cartas, ñas quais confessavam os seus pecados e juravam emendar-se dos
mesmos para o futuro. Tais cartas eram enderezadas aos San-kuan ou aos
tres Ministros que governam as tres regioes cósmicas (céu, térra e mar);
conseqüentemente a carta dirigida ao céu era afixada sobre urna monta-
nha; a que se destinava a térra, era enterrada e a terceira atirada ao mar.

A religiao fundada pelos tres Chang chamava-se, a principio, T'ien-


shih-Tao, a Religiao do Mestre do Céu ou Wu-tou-mi Tao, a Religiao das cin
co medidas de arroz. Estas cinco medidas de arroz eram provavelmente a
taxa que se pagava para entrar na Sociedade Religiosa. O nome Taoísmo
ou Tao-chíao só foi dado a esta no sáculo V d.C; foi entao também que se
introduziram na Sociedade Religiosa taoi'sta varias práticas para obter a ju-
ventude perene e a imortalidade.

No século XII o Taofsmo do Norte da China passou por urna reforma


importante: sem perder seus lagos com o passado, inspirou-se no Confucio-
nismo e no Budismo; os seus sacerdotes passaram a ser celibatários (como os
monges budistas); e, em vez de praticar o exorcismo e ministrar o elixir da
longa vida, procuravam chegar á perfeicáo ascético-mi'stica cultivando espe
cialmente a meditacáo e o jejum; a respeito deste diziam:

"Quem muito come, muito dorme. Quem muito dorme. é propenso á


sensualidade. Todos sabem isto, mas nao todos sSo capazes de orientarse
de acordó com estas verdades. Contudo aqueles que o conseguem, diminuin-
do o sonó e a sensualidade por notável período de tempo, se en cherao de
espirito puro e o espirito tenebroso já nao os molestaré".

A Reforma e seus seguidores tomaram o nome de Ch'iian-chen Tao, a


Religiao da Verdade Integral, ao passo que a Religiao tradicional se chama
Cheng-iTao (Religiao da Unidade Ortodoxa). É esta última forma que preva
lece em Taiwan e ñas comunidades chinesas dispersas pelo mundo.

551
24 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

3. A Divindade no Taoi'smo

O Taoi'smo nao é monoteísta nem pantefsta, mas professa urna hierar-


quia de deuses, que corresponden^ ao politeísmo.

A Divindade Suprema se chama Yü-hung ou seja, Imperador-Jada.


Confunde-se com Yüan-shih T'ien-tzuen, istoé, o Soberano do Céuno inicio
das Coisas, que é a personificacao de Tao. Este, alias, tambérr. se identifica
com Sanch'ing. Assim há urna tríade divina suprema no Taoísmo:
Yü-huang, Yüan-shih T'ien-tzuen e Sanch'ing, que sao tres aspectos do único
Tao. — Tao ter-se-á encarnado em Lao-Tsé, que é venerado como Deus Su
premo sob o nome de T'ai-shang Lao-chun, ou o Antigo Senhor do Céu Su
premo; na iconografía, aparece como um velho de barbas brancas.

Os deuses inferiores sao homens deificados. Chamam-se Shen ou espí-


ritos e sSo considerados como ministros do Deus Supremo. Alguns destes
desempenham funcoes administrativas na Térra; outros sao patronos de gru
pos sociais: assim Lu-pan é o deus dos carpinteiros; Hua-t'u é o deus dos mé
dicos; T'ien hou, a deusa dos marinheiros, Kuan-yü, famoso, é, entre outras
coisas, o deus dos comerciantes.

No Panteón taoísta existem também demonios como os Wut'ung, que


sao os portadores da peste. Encontram-se também divindades de origem bu
dista, como Ti-tsang (Ksitigarba), o deus das regioes subterráneas.

O culto taoísta se desenvolve em templos. Estes nao sao dedicados a


atguma divindade, mas sao o lugar de encontró de todos os espíritos. Por
ísto o que há de mais importante num templo taoísta, nao é o seu deus prin
cipal, mas o seu tripe de pedra, sobre o qual se queima incensó e que simbo
liza a comunidade religiosa. A reverencia taoísta diante dos seres superiores
manifesta-se pelo oferecimento de incensó, a genuf lexao e o tocar com a ca-
bepa no chao.

Em todo templo taoísta, há os habituáis instrumentos de adivinhacao


e, por vezes, também um médium ou um jovern chamado t'ung-chi, através
do qual os fiéis se comunicam com a Divindade e Ihe apresentam os seus
anseios. Sempre que a Divindade é carregada em procissao através do seu ter
ritorio, o seu médium a segué vestido de branco.

4. A Moral taoísta

A Moral taoísta resume-se em cinco proibicoes e dez conselhos.

As proibicoes dizem respeito a: 1) morticinio; 2) alcoolismo; 3) hipo-


crisia; 4} furto e 5) libertinismo de costumes.

552
O TAOI'SMO 25

Os conselhos sao: 1) obedecer aos genitores; 2) servir ao Imperador e


ao Mestre; 3) ser bom para com todas as criaturas; 4) suportar com magna-
nimidade as ofensas recebidas; 5) reconciliar os discordantes e eliminar os
odios; 6) sacrificar os interesses pessoais para ajudar os pobres; 7) libertar
os animáis presos e alimentar os seres vivos; 8) cavar pocos, plantar árvores
e construir pon tes; 9} tornar-se útil aos semelhantes, cuidando dos seus in
teresses e iluminado a sua ignorancia; 10) ler em público os livros taofs-
tas e honrá-los com incensó.

Como se vé, o Taoi'smo é mais minucioso e insistente no seu Código


de Moral do que o Confucionismo. Todavia, como este, nao é claro no to
cante á vida postuma.

Em si'ntese, trata-se de urna crenca religiosa que reúne em si o tradi


cional culto dos antepassados e algo de politei'smo, juntamente com um Có
digo de Moral assaz estrito, mas sem se deter no sentido da vida presente
ou na questao do "Para onde vamos?"

A propósito:

DICTIONNA IRÉ DES RELIGIONS. sous la dlrection de Paúl Poupard.


París 1984, verbetes "Tao" e "Tao'i'sme".

SHIH, JOSEF, II Taoismo, em Le Grandi Religioni del Mondo. Ed.


Paoline, Mi/ano 1987 (2a. ed.).

* * *

A Mulher no Diva", por Claudia Bemhardt Souza Pacheco. - Ed. Pro


tón, Sao Paulo, 137 x 208mm, 183 pp.

A Dra. Claudia Pacheco é próxima colaboradora do Dr. Norberto


Keppe, fundador da Escola de Psicología e Psicanálise dita "Trilogía Analí
tica", Essa Escola professa a fé em Deus; eré na existencia do demonio o
procura seguir, em linhas geraís, os principios do Cristianismo. Todavia afaz-
tase por vezes da doutrina crista, criticando a ascese e a mortíficacSo; ver
PR 270/1983, pp. 433-440. O livro em foco, considerando o papel da mu
lher na sociedade contemporánea, aponta como causa de desgracasa teoma-
nía ou a inve/a da mulher em relacSo a valores que nSo sio os déla, e propde
como receita de felicidade (pp. 153-155) a vivencia com Deus em meio aos
afazeres de urna pessoa casada e comprometida com os seus deveres cotidia
nos. — O livro é assaz crítico frente ao comportamento desregrado da socie
dade contemporánea e oferece reflexoes sadías que favorecem os auténticos
valores moráis. Verificamos isto independentemente do que esteja aconte-
cendo com os arautos da Trilogía Analítica nos Estados Unidos.

553
Esclarecendo questoes de

Ética do Planejamento Familiar

Em símese: A Igre/'a se fez presente na XXIIa Conferencia do Conse-


Iho das Organizacoes Internacionais das Ciencias Médicas, de 19 a 24 de ju-
nho de 1988 em Bangkok (Tailandia). Os dois representantes católicos - Pe.
Edmund Dunne e Ora. Valeria Navaretta - apresentaram entao urna longa
Comunicacao em que mostravam como a Ética e o respeito á pessoa huma
na sSo vilipendiados pelas diversas técnicas de controle artificial da prole,
técnicas nSo raro promovidas por firmas comerciáis pouco escrupulosas. Em
lugar de tais recursos anticoncepcionais, a Igreja apregoa o plane/amento fa
miliar natural, que respeita o ciclo da natureza feminina e faz que os cónju-
ges assumam em solidariedade e amor a limitacao da prole, sem sobrecarre-
gar exclusivamente a mulher com o fardo de evitar o engravidamento.

* * *

Deve ser do conhecimentode todos que a Igreja nao é "natalista", mas,


ao contrario, apregoa a paternidade responsável ou o planejamento familiar
(cf. ConstituipSo Gaudium et Spes n?s 50s e 87). Compete ao casal definir o
número de filhos que julga poder gerar e educar com dignidade. 0 ponto ne-
vrálgico do planejamento familiar sao os métodos a ser adotados para con-
ter a natalidade: existem os recursos artificiáis, de ordem farmacéutica e
cirúrgica, e os meios naturais, ou seja, a observancia do ciclo natural de
fecundidade da mulher. A Moral Católica afirma a validade destes (entre os
quaís sobressai o Método de Billings) e rejeita aqueles como sendo interven-
pao indevida do homem nos processos da natureza (intervenpáo que tem
suas contra-indicapoes serias por parte da própria Medicina).

0 problema do planejamento familiar é tao delicado que periódica


mente se tém reunido Congressos Internacionais destinados a estudar a ques-
tao e suas mais atuais facetas.

Após o do México (1984), realizou-se a XXII? Conferencia do Conse-


Iho das Organizapoes Internacionais das Ciencias Médicas (CIOMS) em
Bangkok (Tailandia), de 19 a 24 de junhode 1988. Dele participaran^ a Or-

554
ÉTICA DO PLANEJAMENTO FAMILIAR 27

ganizacao Mundial da Saúde (OMS), a FundacSo das Nacoes Unidas para a


Populacao (UNFPA) e a Federacao Internacional de Obstetn'cia e Ginecolo
gía (FIGO). Foram convidados peritos do mundo inteiro, como também
representantes religiosos. A Igreja Católica compareceu, representada pelo
Pe. Edmund Dunne C.SS.R., Diretor da Family Life Society de Singapura, e
a Doutora Valeria Navaretta, do Centro Studi e Ricerche sulla Regolamen-
tazione Naturale della Fertilitá da Universidade Católica do Sacro Cuore
de Roma.

O tema da Conferencia foi "Ética e Valores Humanos do Planejamen-


to Familiar: um Diálogo Internacional sobre os Direitose as Responsabilida
des dos Individuos e das Sociedades". Os representantes católicos expuse-
ram o pensamento da Igreja sobre o assunto, levando em conta as mais re
centes tendencias de autoridades civis e de dentistas frente á delicada temá
tica.

Vista a importancia do Comunicado dos peritos católicos, publicamos,


a seguir, os seus principáis trapos em tradugao portuguesa.

O TEXTO

Dada a extensao do texto do Comunicado, procuraremos resumir com


fidelidade o seu teor, transcrevendo ocasionalmente algumas de suas passa-
gens mais marcantes.

A explanagao comega dizendo que muitos seri'am os argumentos de


ordem filosófica e teológica para demonstrar o caráter antiético das práticas
anticoncepcionais atualmente mais exploradas. Todavía numa assembléia
em que pessoas de diversas correntes filosóficas e religiosas se encontravam,
pareceu aos representantes católicos mais adequado recorrer a razoesde Éti
ca natural, geralmente aceita pelos povos, e de índole médica. Daí o teor do
texto assaz minucioso e preciso ao analisar as diferentes técnicas contracep
tivas em curso no mundo.

Seis desafios sao propostos como contribuido ao diálogo sobre a Éti


ca do Planejamento Familiar:

1. Os efeitos abortivos de certos anticoncepcionais;

2. Os efeitos secundarios nocivos de certos contraceptivos,

3. Os efeitos esterilizantes, a longo prazo, de certos contraceptivos;

4. O mito da crise demográfica universal;

5. A Ética e os valores humanos no planejamento familiar natural;


6. A AIDS e a contracepgao.

555
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

O estudo desses desafios evidencia que o planejamento familiar en-


volve os direitos e a saúde das mulheres e dos homens, os direitos e o bem-
estar da familia, os valores religiosos, culturáis e éticos das populacoes, a
seguranca económica de numerosas pessoas no Terceiro Mundo e, por fim,
o valor da vida humana como tal.

1. Os efeitos abortivos de certos anticoncepcionais

O direito a liberdade de consciéncia e a informacao exige que as pes


soas desejosas de utilizar, receitar ou fornecer uma substancia ou um disposi
tivo anticoncepcional sejam esclarecidas a respeito dos efeitos abortivos pri
marios ou secundarios que possam ter.

Este grave dever ético existe, pois se pode demonstrar que alguns este
rilizantes, pdulas ou vacinas aplicados pelas mulheres acarretam provavel-
mente abortamentos precoces. As mulheres, os maridos e os agentes da saú
de tém o direito de saber que estafo recorrendo a fatores abortivos.

"Apresentar um produto abortivo como se fosse um simples agente de


esterilizacáo é uma mentira; muitos dos usuarios desses produtos nao aceita-
riam o aborto". Quando os promotores da concepcao silenciam os efeitos
abortivos de determinado produto ou dispositivo, estao violando a conscién
cia dos homens e das mulheres, assim como o direito que estes tém de seguir
as tradicoes de sua cultura nacional ou religiosa. Mais: se se leva em conta o
fato de que sucessivos abortos póem em xeque a fecundidade da muiher,
verifica-se que entram em jogo os direitos desta a fecundidade e ao seu bem-
estar físico e psi'quico.

Cada individuo tem o direito de viver segundo o código ético que ele
tenha escolhido, direito que há de ser respeitado pelos pesquisadores e pro
motores de produtos abortivos. Daí surge a necessidade de que tais produtos
sejam clara e corretamente etiquetados para que seus usuarios os possam
identifica!.

Exemplos:

a) 0 RU 486 é produto abortivo também conhecido pelo nome de


Mifepristone, ainda em estudos por parte do fabricante Roussel-Uclaf. Em-
bora aprovado pela Comissao de Ética da Academia Francesa, deu origem
a candente controversia sobre a sua índole abortiva e os efeitos que provo
ca no organismo da muiher e das enancas que Ihe sobrevivam (verifica-se que
há teratogénese ou nascimento de monstros).

b) A vacina antifecundidade da OrganizacSo Mundial da S?ñde foi


identificada como agente de aborto; ¡muniza contra o hormónio gonadotró-

556
ÉTICA DO PLANEJAMENTO FAMILIAR 29

pico coridnico humano, que é responsável pela gravidez precoce.'Está sendo


testado em Adelaide (Australia), talvez sem que as mulheres saibam que tipo
de "¡njepáV Ihes é aplicado (tal vacina tem efeitos que duram um ano).

c) O anel vaginal de borracha, impregnado de levonorgestrel, despren


de um esterilizante no fluxo sanguíneo durante noventa dias. Tem afinidade
com o Triphasil, pflula baseada no levonorgestrel e conhecida como tendo
efeitos abortivos. Está sendo testado pela OMS/PSDRFRRH.

d) O sterilet (DIU, dispositivo intra-uterino) nao é simplesmente um


contraceptivo, mas, sim, um abortivo; destina-se a impedir a nidacao do ovo
fecundado, mediante mudencas histológicas e bioquímicas da mucosa ute
rina.

Infelizmente a poICtica e os programas da OMS/PSDRFRRH nao le-


vam em conta os aspectos moráis da questfo, ou seja, o direito que as pes-
soas tém de ser informadas sobre os efeitos abortivos dos processos que Ihes
sao aplicados, nem o direito de proteger e fomentar a vida. As campanhas
contraceptivas tornam-se discreta e quase imperceptivelmente campanhas
abortivas. A linguagem utilizada na apresentacfo de certos produtos ou é
lacónica ou é muito técnica, de modo que pessoas pouco instruidas nao se
dao conta dos efeitos que tal ou tal substancia há de produzir em seu orga
nismo; tal é o caso, por exemplo, dos seguintes "remedios" propagados na
África do Sul: Ovral 28, Minovlar 21, 28 e ED, Micro-Novum, Nordette,
Brevinor, Nur-lsterate, Depo-Provera.

Os esclarecimentos que alguns Governos fornecem ao público em re la-


cao ao fumo, deveriam ter seu paralelo ao se tratar de substancias abortivas.
É questao de honestidade.

2. Os efeitos secundarios de alguns contraceptivos

Alguns contraceptivos tém efeitos colaterais. Ora estes devem ser ex


plicados ao público, pois existe em todo profesional a obrigagao de respeitar
o direito dos outros á saúde. O público deve ser informado no tocante a
tudo o que Ihe seja ameaca a integridade física ou psíquica. Nao raro os efei
tos colaterais afetam nao só a mulher, mas também a enanca. Por isto tam-
bém o marido há de ser esclarecido sobre os riscos que a sua esposa corre ao
ser medicada deste ou daquele modo.

Exemplos:

A OrganizacSo Mundial da Saúde já promove pesquisas a respeíto dos


efeitos secundarios das diversas substancias contraceptivas que ela estimula.

557
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

Todavía no boletim Progress nV 1, pp. 2s, lé-se um artigo que recomenda dis
positivos ¡ntra-uterinos sem falar dos serios problemas que decorreram da
aplícacao dos mesmos nos EE. UU. da América e que suscitaram litigios en
tre as pessoas afetadas no caso.

Sabe-se, com efeito, que os menos graves disturbios causados pelo OIU
sao as doencas pélvicas inflamatorias, que acarretam outros desequilibrios de
saúde. O Journal of Reproductive Medicine de maio 1983 noticia que 49%
das muiheres que utilizam o OIU sofrem de salpingite (inflamacao das, trom
pas de Falópiol, ao passo que apenas 1%das que nao o usam, incide nessa
molestia. A revista People, vol. 13, n? 1 de 1986, da FIPF enfatiza que ne-
nhum modelo de DIU é menos nocivo do que os outros. Apesar de tudo, a
FIPF continua a propagar o DIU mundialmente, como se fosse um método
"eficaz" de contracepcao.

Outro elemento discutido é o Depo-Provera injetável. As autoridades


nao permitem que seja aplicado as muiheres norte-americanas; nao obstante,
continua a ser utilizado no Terceiro Mundo. Em geral, alias, nota-se que cer
tas substancias tidas como nocivas na América do Norte sao usuais no Ter
ceiro Mundo. A Ética nao pode aceitar tal discriminacao, inspirada por inte-
resses comerciáis e outros espurios.

3. Os efeitos esterilizantes de alguns contraceptivos

O direito inalienável dos esposos a planejar a sua familia obriga os dis


tribuidores de anticoncepcionais a dizer-lhes que varios destes tém efeito
esterilizante. Controlar a fertilidade é urna coisa, suprimi-la é outra.

Exemplos:

A pfluía anticoncepcional tem preocupado os estudiosos, pois se veri


fica que pode causar esterilidade. Sim; os ovarios podem atrofiar-se por
causa das interrupcSes prolongadas e sucessivas. Constantemente exposta á
acao de substancias sintéticas, a mucosa uterina pode atrofiar-se e perder
toda a capacidade de responder ao estímulo da progesterona. O alarme foi
lancado pela revista British Medical Journal (14/10/72, pp. 59s): "Urna par
ticular ¡dade inquietante do uso de anticoncepcionais bucais chama sempre
mais a atengao dos ginecologistas: o fato de que algumas muiheres que in-
terrompem o recurso a anticoncepcionais oráis, perdem a regularidade das
suas regras e podem vir a sofrer de amenorréia durante anos".

No Terceiro Mundo especialmente, requer-se que as pessoas ¡nteressa-


das sejam bem informadas sobre as substancias que preocupam os médicos

558
ÉTICA DO PLANEJAMENTO FAMILIAR 31

e os pensadores: o Depo-Provera (muito aplicado na África), o Neten (Net-


oen), o Nurethisterone Denanthate e a injecao de progestina (que suscitou
controversias na India). A nenhum Governo é lícito promover ou impor os
processos de esterilizacao do homem ou da mulher; isto é tanto mais grave
quanto é realizado de maneira velada ou na surdina. A dignidade humana e
a iiberdade dos esposos no tocante a sua familia devem prevalecer sobre as
campanhas de esterilizacao.

4. O mito da crise demográfica mundial

A "bomba demográfica" ou a propalada "explosao populacional" se


apresenta cada vez mais como um mito. Tal mito é precisamente utilizado
como base da ideología que se poderia chamar "imperialismo contracepti
vo", segundo o qual as populacoes menos numerosas tém possibilidade de
desfrutar de melhores condicóes económicas. É o alarde da explosao demo
gráfica que alimenta os métodos anticoncepcionais contrarios á Ética.
Tendo fracassado no seu intuito de reduzir a populacao em países do Ter-
ceiro Mundo e no esforco de realizar o "crescimento demográfico O" no
Primeiro Mundo, os protagonistas dessa ideología tentam promover a este-
rilizacáo e o abortamento em escala mundial. ..

A densidade da populacao nao está necessariameme na origem da


fome e da pobreza. Urna populacao de cinco bilhoes nao é obrigatoriamente
urna populacao mundial excessiva, se levamos em conta as potencialidades
de desenvolvimento da producao alimentar e dos recursos tecnológicos. Al-
gumas vozes alternativas merecem atencao nos setores da economía e da
demografía. Por exemplo, as do Prof. Pierre Chaunu e do Pe. Rene Bel
(Franca); as do Prof. Julián Simón, do Dr. Robert L. Sassone, da
Profa. Jacqueline Kasun, do Dr. Roger Revelle, do Dr. David Hopper, do
Sr. Cari Anderson (EE.UU. da América); as do Dr. Peter Bauer e do Dr.
Basil Yanney (Gra-Bretanha), a do Dr. Colin Clark (Australia). Todos estes
sao peritos que, cada qual a seu modo, demonstraram a falsidade do mito
da superpopulacao que está na base do imperialismo contraceptivo.

Este imperialismo consiste em impor ás populacoes e ¿s culturas to


do tipo de contracepcao, esterilizacao ou abortamento tído como eficaz,
sem consideracao para com as tradicdes familiares, éticas ou religiosas de
determinada populacao ou cultura. Esta falta de respeito, insensfvel aos va
lores moráis e a Ética, poderia ser evitada: a) se se rejeitasse o mito do "fim
do mundo decorrente de urna explosao demográfica mundial"; b) se se pro-
curasse fazer que o desenvolvimento económico acompanhe o aumento
demográfico; c) considerando que existe nao somente superpopulacao, mas
também subpopulacáo em certas partes do mundo; d) enfrentando os pro-

559
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

blemas demográficos segundo os criterios da justica. Nao podemos negar,


especialmente no hemisferio Sul do planeta, uma expansao demográfica
que dificulta o desenvolví mentó económico. Mas logo devemos observar
que no hemisferio Norte o problema é inverso: registrase queda da natali-
dade, tendo como conseqüéncia o envelhecimento da populapao, que já nao
consegue renovar-se biológicamente. Alias, ná*o está demonstrado que a
causa da miseria é únicamente o crescimento demográfico nem é evidente
que um desenvolvimento harmonioso seja incompatível com o crescimento
demográfico.

Ooutro lado, é alarmante verificar que em muitos países ocorre o


lancamento sistemático de campan has contra a natalidr.de, em oposipao á
identidade cultural e religiosa das respectivas populacSes. Nao raro sao fi
nanciadas por capitais estrangeiros; as vezes a ajuda económica a tais paí
ses é subordinada a realizapao de tais campanhas. Isto tudo redunda em no
vas formas de opressá"o, que afetam principalmente as carnadas mais pobres
e acabam por gerar um certo racismo.

Exemplos:

a) A Europa Central atravessa agora uma crise de subpopulapao, co


mo conseqüéncia das políticas contraceptivas da década de 60. Em varios
países europeus o número de nascimentos é inferior ao necessário para pre-
encher as lacunas deixadas pelos óbitos. Visto que a proporcao das pessoas
idosas aumenta e há menos jovens na faixa dos trabajadores, há*o de surgir
serios problemas sociais e económicos; por exemplo, o da assisténcia a ser
ministrada ás pessoas idosas, o do financiamento de numerosas aposentado-
rías, o do declínio de algumas industrias de consumo... O mais baixo teor de
nascimentos é o da Alemanha Ocidental, com 1,4 crianca por mulher. De
outro lado, desde setembro 1986 a Franpa comepou a aplicar uma política
para estimular o aumento da populapao.

b) Singapura e a Bulgaria, países de regimes sócio-económicos dife


rentes, recusaram ambos a concepcao segundo a qual a diminuipao da po-
pulapáo é fator de elevapáo do nivel económico. O Governo búlgaro, diante
de dramático declínio populacional, já nao favorece o aborto, mas incentiva
os nascimentos. Em Singapura, desde 19/03/87, as autoridades já nao ¡m-
p5em sanpdes ás familias numerosas, reconhecendo que o crescimento
demográfico O redunda em desastre no plano socio-económico.

Apesar disto, nos países de maior fecundidade, certos grupos movidos


por interesses económicos militam em prol do controle tecnológico da na-
talidade como se este fosse a chave do desenvolvimento; apregoando a "efi
cacia" dos anticoncepcionais, ainda difundem o "mito da explosao demo-

560
ÉTICA DO PLANEJAMENTO FAMILIAR 33

gráfica". Na verdade, a solucao da crise populacional muitas vezes nao é o


controle drástico da natalidade, mas o abandono da corrupcao e da admi-
nistracao desonesta.

A Igreja dirige um apelo aos fornecedores de anticoncepcionais, lem-


brando-lhes que, em vez de contribuir para a solugao dos problemas socio
económicos, estío colaborando para agravá-los. A Moral católica repudia
tais agressoes á vida humana como também á dignidade das mulheres e dos
homens.

5. O Planejamento Familiar Natural

A única forma realmente eficaz de planejamento familiar é aquela que:


a) respeita a saúde das mulheres e dos homens; b) respeita a Ética, os valores
religiosos e culturáis; c) tem capacidade de adaptacáo aos problemas de su-
perpopulacao. Tais sáb os métodos natúrais de planejamento familiar, mé
todos que acompanham a natureza em seu ciclo de fecundidade e esterili-
dade. Para eles é que se devem dirigir as pesquisas e os financiamentos.

A vantagem dos métodos natúrais se evidencia a partir das seguintes


ponderacoes:

a) O planejamento familiar natural repousa sobre sólidas bases cientí


ficas. Apresenta tres modalidades: 1) o método da ovolucao ou de Billings;
2) o método da temperatura ou de Doyle; 3) o aleitarñento natural.1

O prof. James Brown (Universidade de Melbourne, Australia) e o Prof.


Erik Odeblad (Ulmea University, Suécia) efetuaram pesquisas sobre o mé
todo do muco cervical (Billings), aplicado juntamente com o método da
temperatura.

O Prof. Roger Short (Monash University, Melbourne) e o Dr. Bob


Jackson (USA) realizaram estudos sobre o método do aleitamento natural.
Revelou-se que todos estes métodos natúrais podem ser tao ef icazes quanto
a pi'lula anticoncepcional.

b) Os métodos natúrais ná"o tém efeito abortivo. Por isto nao suscitam
problemas nem de Ética nem de saúde; evitam o trauma que todo aborto é
apto a causar na genitora que o comete.

c) Os métodos natúrais nao acarretam efeitos colaterais.

1 Enquanto amamenta, a mulher 6 incapaz de conceber.

561
34 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

d) Os métodos naturais podem ser aplicados tanto para evitar a gravi


dez como para provocá-la; com efeito, eles apontam os dias de ovulacao da
mulher dentro do ciclo menstrual.

e) Evitando efeitos colaterais negativos, os métodos naturais contri-


buem para diminuir a<mortalidade infantil. A saúde da crianca é nao raro
abalada desde o nascimento em virtude dos ingredientes ingeridos pela mae
antes do parto.

f) Os métodos naturais restauram a dignidade da mulher, ao passo que


os anticoncepcionais freqüentemente descarregam sobre a mulher todo o
fardo de nao engravidar. No caso do planejamento natural os dois consortes
assumem a realidade e a mulher nao é reduzida á categoría de objeto estéril
ou inocuo, que pode ser utilizado ao bel-prazer do homem (ou de ambos).

g) Assim os métodos naturais reforcam o vínculo e a solidariedade


conjugal, ao mesmo tempo que fortalecem a vida da familia. Este aspecto
personalista do planejamento natural é talvez o beneficio mais importante
de tal método. O marido e a mulher, em plano de igualdade, tomam em co-
mum as decisoes referentes á procriacao num diálogo de respeito e amor mu
tuos.

h) Os métodos naturais nao sao de difícil aplicacáo e, por isto, podem


ser aprendidos por qualquer pessoa interessada. Dado que os síntomas do
muco cervical podem ser observados no corpo feminino desde que haja cer-
to tirocinio, mesmo as mulheres analfabetas e as cegas podem recorrer ao
planejamento natural. As mulheres podem ensiná-lo ás mulheres. Para tanto,
váo-se aperfeicoando cursos e material didático, especialmente nos países
do Terceiro Mundo.

i) Os métodos naturais nao implicam sobrecarga financeira para os ca


sáis que os utilizam. Basta que comprem o fascículo ou o gráfico respectivo.
Também é de notar que náío existem firmas ou grupos económicos destina
dos a explorar os métodos naturais.

Observa-se que se levantam preconceitos contra o planejamento na


tural como se se tratasse de métodos de aplicacáo difícil ou dependentes
de alguma crenca religiosa. — No tocante á primeira objecáo, nao há dúvída
de que a aprendizagem é exeqüível desde que haja interesse, e se torna bem
sucedida, como demonstra a experiencia. Quanto a segunda dificuldade,
pode-se reconhecer que a Igreja é a principal mensageira do planejamento
natural, baseando-se, porém, em argumentos de ordem humana, como sao
a defesa da saúde dos genitores e dos filhos, a economía ou o alivio finan-
ce ¡ro do easal, a dignidade da mulher — valores estes caros a qualquer gru-

562
ÉTICA DO PLANEJAMENTO FAMILIAR 35

po cultural independentemente das suas crencas religiosas. O que o plañe-


¡amento natural tem de menos atraente, é que exige dos interessados a su-
bordinagao dos impulsos sensuais á razao ou a inteligencia, a harmonía do
ser humano ou a ¡ntegracao dos instintos a servico de um ideal condizente
com a dignidade humana.

6. A AIDS e a contraceppSo

Sabe-se que a AIOS se transmite, na maioria dos casos, mediante o re-


lacionamento homossexual ou a livre procura de parceiros. Ora o método
da continencia periódica nao pode deixar de ser um dique eficaz contra a
propagacao de tal molestia, pois contribuí para educar e fortalecer a vonta-
de das pessoas interessadas. Sem forca de vontade, é difi'cil impedir a difuslo
da AIDS, pois nem os preservativos nem os recursos farmacéuticos sao efi
cientes para evitar a propagacao de tal flagelo.

7. Conclusao

A Igreja apregoa urna reflexao relativa ao planejamento familiar. No


fundo do problema, há urna crise de Ética, parcialmente alimentada por in-
teresses económicos, que vilipendiam o ser humano.

A Igreja pede insistentemente que sejam rejeitados o imperialismo


contraceptivo e suas afirmacoes nao fundamentadas, a saber; a) os anticon-
cepcíonaís, "eficazes" no plano técnico, seríam também benéficos ao nfvel
da pessoa e da sociedade; b) as populacoes menos numerosas seríam mais aquí-
nhoadas e felizes no plano económico. - A Igreja preconiza o respeito as
culturas tradicionais, segundo as quais as mulheres rejeitam os produtos
abortivos, os homens repudiam o abortamento de seus filhos, a esterilizacáo
é tida como injuria á dignidade e a integridade do ser humano. Em conse-
qüéncia, a Igreja propoe os métodos naturais como únicos condizentes com
um planejamento familiar personalista e ético.

Em suma, as palavras do Papa Joao Paulo II sintetizam adequadamen-


te o porqué e o para qué de tal posipao da Igreja:

"A Igreja tem confianca no homem, embora conheca a perversao de


que ele é capaz, porque sabe que — nao obstante a heranca de pecado e o
próprío pecado que cada um pode cometer — há na pessoa humana quali-
dades e energías suficientes, há nela urna bondade fundamental (cf. Gn
1,31), pois é imagem do Criador, colocada sob o influxo redentor de Cristo,
que se uniu de ceno modo a cada homem; além do qué, a acao eficaz do
Espirito Santo enche o mundo (cf. Sb 1,7)...

563
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

O que está emjogo ó a dignidade da pessoa humana, cuja defesa e pro-


mocao nos foram confiadas pelo Criador, tarefa a que estio rigorosa e res-
ponsavelmente obrigados os homens e as mulheres em todas as conjunturas
da historia. 0 panorama atual - como muitos jé se dio conta mais ou menos
claramente — nSo parece que corresponda a essa dignidade. Cada um de nos
é chamado a ocupar o próprio lugar nesta campanha pacífica, que deverá
ser conduzlda com meios pacíficos, para alcancar o desenvolvimento na paz
e para salvaguardar a própria natureza e o mundo ambiente que nos rodeia.
A Igreja sentese profundamente implicada, também ela, nesta caminha-
da, por cujo feliz éxito final espera" (Encíclica "Solicitude Social da Igreja"
n? 47).

* * *

A Ciencia da Cruz, por Bdith Stein. TraducSo de D. Beda Kruse. - Bd.


Loyola, Sao Paulo 1988, 137 x 208 mm, 262 pp.
Edith Stein é a famosa mulher judia que, tendose convertido ao Ca
tolicismo, entrou no Carmelo de Colonia (Alemanha), onde tomou o nome
de Ir, Teresa Benedita da Cruz O.C.D. No mundo cultivava a Filosofía com
grande talento. Feita monja, continuou sua vida de estudos, dedicándose
principalmente á espiritualidade. 0 seu "testamento espiritual" é a obra "A
Ciencia da Cruz", na qual aprésente o itinerario do progresso interior segun
do o seu mestre Sio JoSo da Cruz. Tal obra foi, em boa parte, inspirada pela
própria experiencia de Edith, que sofreu duras provacdes por parte do na
cionalsocialismo, acabando os seus días em campo de concentracSo. Nesse
livro a autora deixa-nos urna auténtica escola, que chama a atencao do leitor
para as etapas da vida de oracio e uniio com Deus; a discfpuia traca também
em grandes linhas a biografía do Doutor carmelita, de modo a permitir ao
estudioso averiguar o heroísmo daquele mestre, que ensinou as verdades por
ele vividas até as últimas conseqüéncias. A própria Ir. Teresa nSo pode ter~
minar de escrever o livro, pois também ela teve que sofrer heroicamente nos
seus últimos temóos; por isto o remate da obra, efetuado de acordó com o
pensamento da autora, se deve a Freí Romeu Leuven e ao Dr. L. Gelber.
NSo podemos deixar de saudar com estima a publicacSo deste valioso
escrito numa época em que a Cruz desperta nos homens maior necessidade
de descobrir o Transcendental ou os Bens definitivos.
"Os escritos de Sio Joio da Cruz nio sio leitura para qualquer pessoa.
Por certo, nio desejou excluir ninguém, mas o Santo sabia que somente um
restrito número de pessoas o compreenderia — aquetas que jé tivessem adqui
rido alguma experiencia na vida interior" (p. 39). - A obra de Edith Stein
tem a vantagem de trocar em miúdos tio elevada doutrina do Doutor Místi
co. Para poder aspirar a alguma coisa, os interessados tém que a conhecer.

564
•'45T R- ü. «.
Espiritismo e Catolicismo: \

"Mediunidade dos Santos"

por Clóvis Tavares

Em síntese: Q Uvro "Mediunidade dos Santos" tenta identificar os


eventos extraordinarios ocorridos na vida de Santos (visdes, revelares, pro
fecías...) com os fenómenos mediúnicos do Espiritismo. Na verdade, há di-
ferencas profundas entre uns e outros: o extraordinario na vida de um cris-
tao é algo de imprevisível, nao provocável, ao passo que no Espiritismo é
tido como constante, normal e provocável mediante artes mediúnicas. A
Igreja é cautelosa diante da noticia de fenómenos portentosos, pois sabe que
pode haver muita ilusao a respeito. O teólogo só apela para intervencoes ex
traordinarias de Deus quando evidentemente nao há expficacao natural para
o fenómeno. Entre as explicacoes naturais, estSo as da parapsicología, que
elucidam os fenómenos atribuidos pelos espiritas a torcas do Além. - A
Igreja nao nega que Deus possa fazer milagres, e os tenha feito e faca nao
raro mediante os Santos, mas afirma que tais manifestacoes nao podem ser
suscitadas através de artes ou receítas dos homens; sao sempre algo de espo
rádico.

* * *

Apareceu, por obra do Instituto de DifusSo Espirita, o livro postumo


de Clóvis Tavares, concluido por Flavio Mussa Tavares, com o título "Me
diunidade dos Santos".1 0 prefacio é de Chico Xavier (Francisco Candido
Xavier), que assina "Emanuel". 0 livro considera a vida de varios Santos
(Teresinha de Lisieux, Joáb Bosco, Joana d'Arc, Francisco de Assis...), que
terao sido médiuns, pois os fenómenos extraordinarios a eles atribuidos (vi-
sóes, revelapoes, premonicoes, clarividencia...) sao enquadrados pelo autor
dentro das ocorréncias mediúnicas do Espiritismo. O próprio Cristo, que fez
milagres e profecías, é tido como Grande Médium: "0 Evangelho é um livro
de mediunidade por excelencia... No ministerio público vé-se Jesús cercado
de médiuns e fenómenos mediúnicos... Corporificam-se espiritos veneráveis
no cimo do Tabor, transforma-se agua em vinho ñas bocas de Cana. Multipli-
tam-se paes e peixes para a turba faminta" (p. 15).

1 Araras (SP¡, 135x 185mm,216pp.

565
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

Quem 16 tal obra, tem o direito de perguntar: será que realmente o


Evangelho e as gracas recebidas pelos Santos se podem reduzir á fenomeno
logía e aos parámetros do Espiritismo? -Éo que vamos examinar.

O problema suscitado exige facamos algumas distincoes.

1. Evocacáfo dos Morios e Invocado dos Santos

1. 0 Espiritismo julga ter meios certeiros de se comunicar com o


Além: constituem a chamada "evocacao dos mortos" ou necromancia. Atra-
vas desses recursos (preces, concentracSo da mente e outros artificios), os
espiritas pensam poder provocar a "descida" dos mortos ou dos "espíritos
desencarnados", falar com eles e deles receber respostas.

Ora quem reflete atentamente sobre tais alegagoes dos espiritas, há


de reconhecer que

a) na"o há cañáis racionáis, lógicos nem científicos ou técnicos que po-


nham os vivos em comunicacao com os mortos. Estes pertencem a outra or-
dem de coisas, da qual os vivos na*o tém experiencia nem dominio;

b) ao contrario, a ciencia objetiva contribuí para dizer que as preten


sas comunicacoes espiritas com o Além nada tém de transcendental, mas sao
apenas fen&menos psicológicos e parapsicoiógicos, enquadráveis dentro das
potencialidades subjetivas do psiquismo humano. Quanto mais se estuda a
natureza humana, tanto mais se percebe como é rica em expressoes surpre-
endentes; de modo especial, verifica-se a forca da sugestao (auto e hétero-
sugestcfo) como também a amplida*o do inconsciente e do subconsciente
(estes movem a pessoa a agir, sem que esta saiba que está sendo comandada
por seu próprio inconsciente).

2. Os fiéis católicos se relacionam com os falecidos nao mediante evo-


cacáb (no sentido espirita), mas mediante a invocado dos Santos: neste
caso, o cristSo pede aos Santos que intercedam pelos irmaos militantes na
térra; o Senhor Deus dá a conhecer aos Santos os anseios que Ihes apresen-
tamos, e permite que rezem por nos; assim a comunhao que existe entre os
membros do Corpo Místico de Cristo nao é dissolvida nem pela morte; ela
se prolonga nessa solidariedade dos Santos com os fiéis peregrinos neste
mundo. Ver 2Mc 15,11-16.

É de notar, porém, que a invocapao dos Santos se baseia exclusiva


mente na grapa ou na misericordia de Deus. Nao podemos forcar os Santos

566
"MEDIUNIDADE DOS SANTOS" 39

a aparecer-nos ou a responder-nos. Nao há receita alguma que nos garanta


a intervencao dos falecidos na vida temporal que levamos.

Mesmo os milagres (curas, preservadlo de males...) que alguém possa


obter pela oracáo, vém a ser fenómenos imprevisíveis e esporádicos que cha
mamos "grapas", porque sao "gratuitos"; o homem nao os pode desencadear.

Verdade é que a Igreja admite a aparicáo de Santos, como as da Vir-


gem SS. em Lourdes e Fátima. Mas ela sabe que tais fatos sao totalmente
gratuitos ou nao provocáveis. De resto, a Igreja é extremamente cautelosa
ao admitir aparicoes de Santos; ela quer evitar as graves ilusdes que podem
ocorrer quando se trata de identificar fenómenos extraordinarios; muitas
das pretensas aparipoes sfo reduzidas a fenómenos psíquicos, meramente
subjetivos e, por vezes, doentios.

Por isto também a S. Escritura proibe a necromancia ou a evocacáo


dos mortos:

"Nao haja entre vos... quem pratique encantamentos, quem ¡ntérro-


gue espiritos ou adivinhos, ou aínda quem invoque os mortos, pois quem
pratica essas coisas, é abominávelao Senhor" (Dt 18,11).

"NSo vos voltareis para os necromantes nem consultareis os adivinhos,


pois eles vos contaminariam" (Lv 19,31 i.

"O homem ou a mulher que entre vos forem necromantes ou adivi


nhos, serio mortos, serio apedre/ados, e o seu sangue caira sobre eles"
(Lv 20,27).

Tal proibipáo supSe que a necromancia seja superstipao ou erro religio


so; baseia-se na falsa expectativa de que os mortos respondam.

0 caso de Saúl, a quem Samuel apareceu evocado pela pitonisa, nao


compro va a autenticidade da evocacáo dos mortos. Nao foi por causa da
arte da adivinha que o espirito de Samuel se comunicou com Saúl, mas, sim,
por concessao extraordinaria de Deus. Com efeito, Saúl estava para morrer
no dia seguinte; por isto o Senhor permitiu que Samuel I he apárecesse a fim
de exortá-lo a preparar-se para o desenlace final. O ritual praticado pela pi
tonisa era totalmente ineficaz para provocar a intervencao de Samuel;
cf. ISm 28,4-19. — De resto, sabe-se que o próprio Deus censurou Saúl por
haver consultado a pitonisa:

567
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

"Saúl pereceu por se ter mostrado infiel para com o Senhor, nao se-
guindo a paiavra do Senhor, e, além disso, interrogara e consultara tima ne-
cromante" (1Cr 10,13).

2. Espfritos desencarnados e anjos

Nao raro os espiritas apresentam manifestapoes de anjos bons ou maus


(demonios) como se fossem intervenpoes de seres desencarnados.

Ora os anjos de que fala a Biblia, nao foram criados para se encarnar
e desencarnar; sao espíritos sem corpo, que Deus fez para sua gloria e seu
servico. Muitos deles recusaram fidelidade ao Senhor Deus; por isto sao ditos
"anjos maus" ou "demonios". O Senhor pode permitir que intervenham vi-
sivelmente na vida dos homens; mas, como dito, tais manifestapoes sao sem-
pre esporádicas e imprevisi'veis. Por conseguinte, nao se devem identificar os
anjos maus ou demonios com os espi'ritos desencarnados que o Espiritismo
menciona, nem com os exus e orixás das religioes afro-brasileiras.

Conta-se que alguns Santos escreveram mensagens por ¡nspiracao do


Além. Tal terá sido o caso de Sta. Brígida da Suécia (sáculo XIV). A fé ca
tólica admite este fenómeno, mas, antes de o aceitar, examina as credenciais
de genuinidade que ela possa apresentar, a fim de evitar falsas interpreta-
coes. - Os espiritas identifican-! tais casos com o da psicografia ("escrita sob
a influencia de espíritos comunicantes")... Fazem-no, porém, indevidamen-
te, pois a psicografia já foi explicada pelas pesquisas parapsicologías como
sendo a expressao subjetiva do psiquismo do próprio escrevente, sem Ínter-
vencao do Além; com efeito, ela se deve a reminiscencias do passado conti-
das no inconsciente do psicógrafo e trazidas á tona por efeito de auto-suges-
tao; esse "vir á tona" provoca a mopao mecánica e rápida da mao do escre
vente, que assim redige aquilo que ele mesmo simplesmente traz em seu ínti
mo como conseqüéncias de su as leituras, conversas ou viagens passadas. —
No caso de Sta. Brígida e em outros semelhantes, se houve revelapao, esta
se devia diretamente a livre vontade de Deus.

Quanto as visoes que alguns Santos descrevem, envolvendo a presen-


ca dos anjos bons ou dos demonios, notemos que tais Santos só podiam con-
ceber o Além por analogía com o Aquém, ou seja, como um parque ameno,
luminoso e fresco ou como regioes tenebrosas, caracterizadas por tormentos
físicos, seres monstruosos, armados de tridentes, etc. Através dessas imagens
simbólicas, queriam descrever a felicidade dos justos no céu ou o estado de
desgrapa dos reprobos no inferno, sem que sejamos obrigados a admitir
a topografía do Além, como a propSem os espiritas. Na verdade, nao se
pode dízer que, após a morte, estaremos em ambientes físicos semelhantes
aos da Térra (apenas "em segunda edipao, revisada, aumentada e melhorada").

568
"MEDIUNIDADE DOS SANTOS" 41

3. Conclusáo

Os espiritas tém Jesús Cristo naconta de grande médium e por isto ten-
tam explicar as obras de Jesús mediante a mediunidade. — Nao é necessário
que nos detenhamos na refutacfo de tal teoría. A Divindade de Jesús Cristo
foi já evidenciada em PR 151/1972, pp. 310-322; 152/1972. pp. 343-358.

Em suma,

a) a Igreja aceita a ocorréncia de fenómenos extraordinarios na vida


dos Santos: a clarividencia, a clariaudiéncia, a pre moni cao, a telepatia, a
percepcao extra-sensorial... podem ter-se verificado na existencia de auténti
cos cristaos. Todavía diante dos relatos respectivos a Igreja é, como dito,
cautelosa, pois a hagiografía, por vezes, carecía de senso crítico na antigüi-
dade; julgavam alguns que, quanto mais portentosa fosse a vida de um perso-
nagem, mais santa seria;

b) se houve fatos extraordinarios, há que procurar explícá-los, antes


do mais, por faculdades ou forcas naturais do psiquismo humano. O recurso
ao extraordinario ou milagroso nao deve ser a primeira instancia, mas só se
deve admitir quando nao haja elucidacao natural;

c) se houve intervencáo do Além, esta é devida á Onipoténcia Divina,


que se pode ter manifestado mediante vozes, visoes, profecías... tramitadas
talvez por algum(a) Santo(a). Nao se tratava de medíunidade como é enten
dida petos espiritas, pois esta, na verdade, é simplesmente o exercício de
faculdades psicológicas e parapsicológicas naturais existentes no psiquismo
humano. Os fenómenos mediúnicos nao nos poem em contato com o Além,
mas nos deixam dentro do ámbito da própria psique humana.

Refletindo sobre o livro "Mediunidade dos Santos", pode-se, em con-


clusao, dizer que é produto de mentalidade pouco crítica; tende a aceitar
com facilidade o portentoso, negligenciando as conclusoes das experiencias
científicas realizadas sobre tais fenómenos. Alias, o Espiritismo subsiste e
se propaga na base da imaginacao e dos sentimentos muito mais do que por
efeito de estudos objetivos e do emprego da razao. O Catolicismo nao repri
me os sentimentos religiosos nem despreza o papel da imaginacao, mas su-
bordina-os á luz do raciocinio e da fé objetiva; é preciso que o fiel saiba pe-
neirar suas intuicóes religiosas, pois estas as vezes sao meramente subjetivas
e ilusorias. A fé, ao contrario, é um ato da inteligencia que, movida pela von-
tade, diz Sim á verdade revelada por Deus. Portanto a fé mobiliza primera
mente as faculdades mais elevadas do homem; somente em funcáo deste
Sim dito a Deus no plano da inteligencia a fé mobiliza os sentimentos e afe-
tos da pessoa que eré.

569
42 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

Á guisa de bibliografía:

FRIDERICHS, EDVINO AUGUSTO. Panorama da Parapsicología ao


alcance de todos. Editora Loyola.

ÍDEM, Onde os espfritos baixam. Ed. Loyola.

Higiene mental em contato com a Natureza. Ed. Loyola.

DALLEGRAVE, GERALDO. Reencarnacáb. Ed. Loyola.

GONZALEZ-QUEVEDO, ÓSCAR, A Face Oculta da Mente. Ed.


Loyola.

ÍDEM, As Forcas Físicas da Mente. Ed. Loyola.

0 que é Parapsicología. Ed. Loyola.

Curanderismo: um mal ou um bem? Ed. Loyola.

A Carta Apostólica sobre a Dignidade da Mulher, por Joao Paulo II, é


um monumento teológico que abrange todas as facetas da mulher na historia
da salvacao como também na vida civil. "Jesús Cristo se fez ¡unto aos seus
contemporáneos o advogado da verdadeira dignidade da mulher e da voca-
cao que esta dignidade implica" (n? 12). A conduta de Jesús frente ¿s mu-
iheres do Evangelho "nao reflete a discriminacao da mulher habitual no sé-
culo I" (n? 13). Mais: o Senhor revela ás mulheres verdades importantes e
faz da sua compreensio e disponibilidade um exemplo (n? 15). Elas sao as
prímeiras testemunhas da ressurreicio (n? 16). Quanto é mulher adúltera, é
ocasiáo de mostrar que freqüentemente as mulheres sao apontadas como
únicas culpadas de um pecado de que os homens também sao responsáveis
(n° 14). Maternidade e virgindade sao as duas dimensdes da vocacSo da mu
lher. "A forca moral da mulher, a sua forca espiritual une-se á consciéncia
de que Deus Ihe confia de maneira especial o homem, o ser humano. Natu
ralmente, Deus confia todo homem a todos e a cada um. Todavía esse ato de
confiar refere-se de modo especial á mulher — precisamente pelo fato da sua
feminilidade - e isso decide particularmente da sua vocacáb...

A mulher á forte pela consciéncia desta missáo, forte pelo fato de que
Deus Ihe confia o homem, sempre e em todos os casos, até ñas condicoes de
discríminacáb social em que ela se possa encontrar" (n? 30).

570
Fala o Grao-Rabino da Franca:

Ainda "A Última


Tentagáo de Cristo

Em símese: 0 Grao-Rabino da Franca, Dr. Josef Sitruk. déseu depoi-


mentó de solidariedade aos Cardeais franceses que condenaran) o filme
"A Última Tentacao de Cristo", argumentando a partir do respeito que se
deve ás crencas alheiasem toda sociedade bem constituida. Embora nem to
dos compartilhem as mesmas idéias, a ninguém é lícito enxovalhar os valo
res que seus concidadaos justamente estimam. 0 testemunho do Rabino
Sitruk é especialmente valioso por nao evocar raides de fé na sociedade plu
ralista de nossos dias.

* * *

0 Grao-Rabino de Franca, Dr. Josef Sitruk, exprimiu-se, numa entre


vista á imprensa, a respeito do filme "A Última Tentacao de Cristo" de Mar-
tin Scorsese. Empenhou sua solidariedade aos Cardeais franceses Decourtray,
Presidente da Conferencia Episcopal de Franca, e Lustiger, Arcebispo de Pa
rís, que reprovaram a trama e a exibicao da película. - Eis o teor de tais de
clarares feitas ao repórter Frédéric Lenoir:

F. L: "Como judeu e como Grao-Rabino de Franca, que diz V.S. so


bre o filme de Scorsese 'A Última Tentacao de Cristo' e que pensa a respeito
da indignacao dos Cardeais Decourtray e Lustiger?"

Rabino Sitruk: "Em primeiro lugar, jutgo que a polémica prevaleceu


no caso e faco abstracao de todas as palavras desagradáveis que foram profe
ridas por urna e outra parte. Desejo simplesmente dizer o seguinte: como
Grao-Rabino, sou deferente em relacao á crenca de cada individuo e respeito
as suas conviccóes. Eis por que, na medida em que as autoridades da Igreja
estío chocadas, estou também chocado com elas. Com efeito; considero que
as comunidades religiosas tém direito a ser respeitadas. A este título, a coe-
sáb entre as religides parece-me ser benéfica. Por conseguinte, professo (e fa
co votos para o Sr. o divulgue ao máximo) a minha solidariedade, no plano
dos principios, com a posicáb dos Cardeais Decourtray e Lustiger".

571
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

F.L: "Que diz a propósito das formas que o protesto dos católicos as-
sumiu?"

R.S.: "0 protesto pode assumir diversas formas, sim. Nao creio que
os livres pensadores possam interpretar a posicao da Igreja como sendo a
proibicao de que os homens pensem diferentemente déla. £ verdade que no
pasudo a Igreja se mostrou intolerante; nos, judeus, sofremos por causa dis
to; náb o posso esquecer.1 Mas, de outro lado, creio que nao é oportuno, pa
ra urna sociedade, dessacralizar os valores que urna parte de seus concida-
dábs respeita. Urna sociedade pluralista é o oposto daquela que zombeteia
os valores respeita dos por uns ou por outros. Náb é do interesse de ninguém
fazer da vida de Jesús urna especie de tema sensacionalista".

F. L.: "V. S. viu ou irá ver o filme?"

R.S.: "Fui convidado para assistir á projecao do filme juntamente com


as autoridades religiosas católicas. Nao irei. Julgo que este é um assunto de
pendente da livre consciéncia de cada um e deploro o alarde que fizeram em
torno de urna questáb que f ica sendo um diagnóstico da nossa sociedade".

F.L.: "Se amanha um cineasta judeu fizesse um filme que apresentasse


o semblante de Cristo correspondente a certa perspectiva judaica, apta a fe-
rir a sensibilidade dos cristábs, a atitude de V.S. seria a mesma?"

R.S.: "Por certo. Mas nao creio que possamos raciocinar em plano
abstrato. Tudo depende do que seria a realidade concreta. Quero simples-
mente dizer que vivemos num mundo em que as pessoas consideram normal
tratar de qualquer tema de qualquer maneira. É contra isto que eu me insur
jo, pois julgo que este estado de coisas é nocivo ao conjunto dos homens,
quaisquer que sejam as suas crencas".

(Extraído e traduzido do Boletim SNOP - Service Catholique Fran


ca ¡s de Presse et ri'lnformation n? 723,23/09/88, pp. 6s).

10 Grao-Rabino se refere a fatos passados em Que a fragilidade humana teve


suas partes. Todavía, para nao se cometer injustica para com os antigos, nao se
Ihes devem aplicar criterios que só se tornaram claros na época moderna;
cada fase da historia há de ser considerada dentro dos parámetros filosóficos
que a caracterizan!.

572
"A ÚLTIMA TENTACAO DE CRISTO" 45

As declaracoes do Rabino Dr. Josef Sitruk chamam a atencáo para


alguns pontos importantes:

1) O respeito as conviccoes alheias, desde que justas e integradas den


tro da correta ordem pública, é um valor do qual nao se pode abrir mao.
Por conseguinte, se a pessoa de Jesús Cristo é por seus fiéis tida como en-
xovalhada por um filme ou outra producáo artística, é necessário que tal
obra seja reconhecida como injuriosa ao ser humano e indigna de harmonio-
so convivio social.

2) "A questáo fica sendo um diagnóstico da nossa sociedade" ... Com


outras palavras, poderi'amos dizer: o interesse pela explorarlo sexual de-
senfreada é real síntoma de quanto o pansexualismo penetrou em nossos
ambientes, deturpando os mais nobres valores e obcecando as mentes de
muitos e muitos cidadaos. Sirva o diagnóstico para que mais atentamente
se I he procure o remedio adequado!

* * *

Despertar de um Sentó Crítico, por Joio Luiz de Freitas. - Editora


O Lutador, Belo Horizonte. 148 x 200 mm, 177 pp.

,v. O autor é apostólo do auténtico testemunho cristao no mundo de no-


je. Neste seu novo livro volta-se principalmente para o problema ético da
nossa sociedade, a fim de lembrar que os criterios do Evangelho nao sao os
do consumismo e do sucesso meramente mundano. O cristao que tenha sóli
do lastro na sua vida de oracao (tal referencia é muito oportuna), saberá
discernir com mais facilidade o certo e o errado em nossos dias. Muito in-
teressante é a seccao do livro consagrada á educacao da vontade (pp. 85-121).
Dirígese especialmente aos que sao responsáveis pela escola e pelo seu rival
eventual, que sSo os meios de comunicacao social (a televisSo): vém recorda
dos principios básicos de estruturacáo do caráter, sem os quais nao há
honestidade nem felicidade neste mundo. - Em sintese, o livro considera,
do ponto de vista da Ética crista, os variados setores da sociedade: econo
mía, política, meios de comunicacao, familia, sexo, relacóes públicas, habí-
tacSo, sociología, supersticao.... assumindo por vezes o tom de um profeta
franco e amigo. Termina apresentando um Esquema de Palestras sobre o
Despertar de um Senso Critico Cristao. - Cremos que tal obra é inspirada
por bom sensq, fé e coragem para levar ao nosso mundo urna sadía mensa-
gem.

573
COMUNICAgÓES

'PRIER" (REZAR)

O periódico mensal alemSo Herder-Korrespondenz (Correspondencia


de Herder), em seu número de maio 1988, p. 215, traz surpreendente noti
cia sob o título Phanomen (Fenómeno): "A Revista Prier existe já há dez
anos".

Trata-se de urna revista lancada em maio 1978, que nao trata de outro
assunto se nao de oracao; nao apresenta explanacoes teóricas, mas, sim, o
texto de preces variadas tiradas da tradicao judeo-cristá" ou de outras fontes
religiosas, ao lado de testemunhos de pessoas que vivem intensamente a ora-
pao; há também perfis biográficos de grandes personagens orantes e a descri-
cío da espiritualidade de Ordens e mosteiros. Isto quer dizer que nao se
pode ler Prier simplesmente como se leria urna obra doutrinária ou catequé-
tica, pois as páginas de cada fascículo levam naturalmente o leitor a rezar.

0 periódico nao se filia a algum grupo, mas tem por fundador o jor-
nalista francés Jean-Pierre Dubois-Dumée, um leigo, que no inicio de sua
carreira (logo após a segunda guerra mundial) se interessava por questoes
de esquerda católica ou de católicos de esquerda e depois resolveu mu
da r-se para o setor da espiritualidade.

O primeiro número de PRIER teve a tiragem de 12.000 exemplares,


que se esgotaram sem demora. O editor Georges Hourdin (Boulevard Ma-
lesherbes) tencionava chegar a ter 25.000 assinantes dentro de um ano e
meio, número este que foi atingido em seis meses de publicacaode PRIER.
Atualmente o periódico conta 80.000 assinantes e deve ter um circulo
de cerca de 400.000 leitores.

O cronista NT de Herder-Korresponden* observa que tal interesse de


Jean-Pierre Dubois-Dumée pela oracSo corresponde bem ao do público
francés em geral. Este experimenta atualmente um retour du religieux (urna
volta dos valores religiosos); de maio 1968 até 1975 aproximadamente o
Catolicismo francés estava muito voltado para o setor da política nacional;

574
COMUNICACOES 47

todavia após esse período transferíu sua ateneo predominantemente para


a área da espiritualidade. É o que explica o singular sucesso de PRIER.

A extraordinaria aceítacao de uma revista que leva o leitor a orar, é


realmente um fenómeno jornalfstico muito notável em nossos dias, quando
geralmente os periódicos, mesmo os que tratam de interesses materiais, lu-
tam com serias dificuldades para subsistir. Além do mais, é sintoma muito
revelador de importante guiñada que ocorre na Franca e que bem pode
ocorrer em outros países, pois, como diz S. Agostinho, "o homem foi
feito para Deus e só em Deus encontra o seu repouso" (ConfissSes I 1).
Substituir o transcendental por interesses meramente imanentes é fazer
violencia ao próprio homem, violencia contra a qual cedo ou tarde se
insurge a própria natureza humana. Haja vista ao que ocorre atualmente
na UniSo Soviética!...
Estéváb Bettencourt O.S.B
* * *

CELIBATO

Apresentamos, a seguir, o artigo do Exmo. Sr. D. Manoel Pedro da


Cunha Cintra, Bispo Emérito de Petrópolis, a quem PR muito agradece a
valiosa colaboracao:

O CELIBATO É CONTRA A LEÍ NATURAL?

D. Manoel Cintra

Nao; de maneira nenhuma.

Porque a lei natural nao obriga cada pessoa a contrair casamento.


Obrigaria sim, se o casamento de cada pessoa fosse necessário para a propa-
gacao do género humano. Tal, porém, nao acontece. A perpetuacao da es
pecie humana, através dos tempos, se obtém normalmente, sem dificuldade,
bastando que a obrigacSo do casamento recaía sobre toda a coletívidade e
nao sobre cada um de seus membros.

Santo Tomás o explica, com meridiana clareza. Na sua "Suma Teoló


gica" (2a. 2a., q. 152 a. 29) mostra como a virgindade, ou castidade per
petua, nao é proibida pela lei natural. Ele esclarece, de acordó com a sa filo
sofía, como é preciso entender que os preceitos da lei natural nao atingem
do mesmo modo toda a comunidade e cada individuo.

Imprescindível essa distincSo entre comunidade e individuo. Ao res


ponder a objecáo de que "assim como pecaria quem se abstivesse de toda co
mida, por agir contra o seu bem individual; de igual modo também peca

575
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 319/1988

quem se abstém completamente do ato de geracao, porque está agindo con


tra o bem da especie", o Aquinate éscreve:

"De dois modos podemos estar su/eitos a um dever. Prímeiro. como


tendo a obrigacío de cumpri-lo individualmente, e en rao nao o podemos
omitir sem pecado. Mas outro é o dever que a multídao deve cumprir, e ao
qual nSo está obrigado. em particular, nenhum membro déla, pois há muitas
coisas necessárias á multidáb que um só nao pode realizar, mas que o pode
ela, porque um dos seus membros realiza isto e outro aquilo.

Ora, o preceito de comer, que a lei natural impoe ao homem há de ne-


cessariamente ser cumprido por cada um; do contrario, ninguém poderia
viven Mas o preceito da geracao diz respeito a toda a multidao dos homens,
á qual é necessária nao só a multiplicacao corporal, mas também o progresso
espiritual. Por ai' se vé que a multidao humana fica suficientemente provida
se varios dos seus membros se derem ¿ obra da geracao carnal, enquanto ou-
tros, déla se abstendo, se entreguem á contemplacao das coisas divinas, para
honra e satvacao de todo o género humano".

Esta distincao apresentada por Santo Tomás esclarece igualmente ou-


tros aspectos dos preceitos da lei natural. Por exemplo, o da propriedade
privada, que é necessária para haver liberdade na sociedade, mas de que cada
individuo se pode privar espontáneamente (e ai' está a liberdade), por moti
vos superiores, como no voto religioso de pobreza. Oiga-se o mesmo quanto
ao voto de obediencia: quem o faz, usa de sua liberdade para aceitar, por
amor de Deus, a vontade divina manifestada pelos Superiores, em lugar da
própria vontade.

Em se tratando do celibato eclesiástico, é preciso notar que ele existe


na Igreja precisamente pela livre determinaclo de cada levita, antes de rece
be r as Ordens Sacras. A Igreja jamáis obriga alguém a viver em celibato se-
nao em conseqüéncia dessa previa e pessoal decisao. Mas também ninguém
a pode obrigar a promover as Ordens Sacras quem prefere constituir familia.
Assim ela aceita o compromisso, amadurecido e responsável, de cada candi
dato que resolve sacrificar o direito natural de se casar, para entregar-se to
talmente ao servico de Oeus.

Como é fácil de se entender, esse compromisso é extraordinariamente


grave, como o tem acentuado muitas vezes o Santo Padre, o Papa. Muito
grave, nao só pelo direito natural ao possível casamento, direito ao qual
o sacerdote renuncia, como também pelo bem comum da Igreja, que o aco-
Ihe, na Ordenacao Sacerdotal, e que tem em vista a comunidade crista, a
cujo proveito espiritual o levita se consagra "com coracao indiviso", no dizer
da Presbyterorum Ordinis, n? 16, do Concilio Vaticano II.

576
Pergunte

Responderemos

índice de 1988
50 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 319/1988

ÍNDICE

(os números á direita indicam, respectivamente, fascículo, ano de edicao e


página)

ABBA 309/1988, p. 55.


ABORTO: frustracoes em varios países 315/1988, p. 367;
314/1988] p. 334^
"A CRISTANDADE COLONIAL - MITO E IDEOLO
GÍA" por Riolando Azzi 310/1988, p. 107.
AIDSE ABORTO 315/1988, p. 371;
AIDSE CONTRACONCEPQÁO > 319/1988, p.563.
ALBANIA: perseguicao á religiSo 310/1988, p; 142.
ALÉM-TÚMULO: "Os que partem..." 311/1988^ p. 190.
ALFORRIAS E "MÁO POSTA" 318/1988, p. 513.
ALMA HUMANA E ROSA-CRUZ 309/1988, p. 91.
AMOR E PRAZER 315/1988, p.345.
SOFRIMENTO 315/1988' p.349.
ANJOS E ESPÍRITUS DESENCARNADOS 319/1988, p. 568.
ANO MARIANO 309/1988, p. 94.
ANTICONCEPCIONAL E ABORTIVOS 319/1988. p.554.
"ANTROPOLOGÍA DO PRAZER" por Hubert
Lepargneur 315/1988, p. 338.
APRENDER DOS ATEUS 310/1988, p. 142.
ASSIS: encontró de oracáo 316/1988, p.419.
ATANÁSIO E LIBÉRIO 317/1988] p. 451
"A ÚLTIMA TENTAQÁO DE CRISTO" - filme 318/1988, p.482;
319/1988, p. 571.
AZZI, RIOLANDO: CRISTANDADE COLONIAL . . . 310/1988, p. 107.

BATINA:deíxar a - causas 312/1988, p. 288.


BEGLIOMINI, HELIO E VOCAC0ES 308/1988, p. 33.
E CASTIDADE 313/1988, p. 271.
"BÉNCAOS PAPÁIS PRODUZEM MALDIC0ES?" .. v 312/1988, p. 232.
BENTO DE NÚRSIA e sua obra 310/1988, p. 118.
"BIBLIA DE JERUSALÉM":sim ou nao? 316/1988, p.423.
"BÍBLIA. DEUS COM A GENTE": apreciacao 309/1988, p. 66.
BI'BLIA E TRADIQAO NAO ESCRITA 313/1988, p.244.
BIBLIA: interpretado 313/1988, p.260.

578
ÍNDICE GERAL 1988 51

BOFF, LEONARDO, E MARIOLOGIA 312/1988, p. 214.


BOUYER, LOUIS, E PROTESTANTISMO 314/1988, p.319.
BUDISMO: origem e doutrina 310/1988, p. 98.

CABRAL, J., E RELIGIÓES 313/1988, p. 251


CALVET, GERARDO, E CISMA 318/1988] p.502!
CANON BÍBLICO: como se formou 313/1988 p. 253
CARISMA, ORACÁO E ASCESE 316/1988' pÍ430
CARTA DOS CATÓLICOS DA TCHECOSLOVÁQUIA 308/1988! p. 46^
A UMA MAE QUE RENUNCIA A MATERNI-
DADE 314/1988, p.334.
CASADO, ALFREDO, E MEIOS DE COMUNICACÁO 312/1988, p. 194.
CASTIDADE: nociva? . 313/1988, p. 271.
CELIBATO: origem e significado 316/1988, p. 429;
317/1988, p. 444;
319/1988, p. 575.
CIENCIA E IGNORANCIA DE JESÚS 309/1988, p. 63;
RELIGIÁO 316/1988,' p.432.
CINTRA, D. MANOEL: celibato 319/1988, p. 575
COLONIAL, CRISTANDADE (mito e ideología) 310/1988, p. 107
"COMO SE FAZ UM PADRE CELIBATÁRIO"
por Geraldo de Moura 316/1988, p. 427.
"COMO VIVER A SEXUALIDADE" por Ovidio Zanini 311/1988^ p. 17i!
CONCEPCÁO VIRGINAL E MATERNIDADE DIVINA
DE MARÍA 312/1988. p.219.
CONCILIO DE NICÉIA II E TRADICAO 313/1988, p. 243.
VATICANO II eTRADICÁO 313/1988, p. 245.
CONFUCIONISMO - sfntese doutrinária 319/1988, p. 543.
CONGRESSO DE TEOLOGÍA EM CARACAS 311/1988. p. 186.
CONSUMISMO E MEIOS DE COMUNICACÁO 312/1988, p. 198.
CONVERSAOAOEVANGELHOE PROTESTANTISMO 312/1988, p. 229.
CORÁO: caracterfsticas 3171988, p. 474.
CREDO MUCULMANO 317/1988, p. 475.
CRISE DEMOGRÁFICA: mito 319/1988, p. 559;
MORAL NA FAMILIA 308/1988, p. 34;
VOCACIONAL NA ÓTICA DE UM LEIGO .... 308/1988, p. 33.
CRISTÁO E CATÓLICO:diferencas 312/1988, p.207.
CRISTIANISMO NA TEOLOGÍA DA LIBERTACÁO . 311/1988, p. 155;
NA RÚSSIA 319/1988, p. 531.
VISTO POR UM AGNÓSTICO 310/1988, p. 115.
CRISTO TENTADO 318/1988, p. 482;
319/1988, p. 571.

579
PERGUNTE E RESPONDEREMOS 319/1988

CRISTOLOGIA LATINOAMERICANA,segundo
P.R. Hilgert 311/1988 o 146
CULTO DAS IMAGENS - historia ......'..'.'.'..'. 308/1988,' p. 1 {;
- carta de Joao Paulo II .... 313/1988* d 242
HINDUISTA 309/1988^: Sa
D

D'ASSUMPCAO. E.A.: "Os que partem..." 311/1988. p. 190


DATTLER, FR.: "Sfntese de Religiao Crista" 312/1988 p 207'
"DEMONIOS DESCEM DO NORTE, OS" 309/1988 p 67
DESENVOLVIMENTO NA DOUTRINA DA IGREJA . 314/1988* p' 296'
DESMANTELAMENTO DA FAMILIA E SUICIDIO 308/1988* p 16'
DEUSEXISTE? aie/WSB^ase!
PESSOALOUIMPESSOALNOHINDUISMO? 309/1988 p 81
DISSIDENTESVOLTAMÁUNIDADEDAIGREJA . 318/1988'p'502*
DIVINDADE NO TAOISMO 319/1988 p 552*
DIVORCIO NO EVANGELHO 312/1988* p 2io'
DOMINGO CRISTÁOrsua restauracáb 312/1988* p 236
DREYFUS, FRANCOIS, E CONSCIÉNCIA DE JESÚS 309/1988! p. Soi

ECUMENISMOe D. Lefebvre 316/1988 p 416


VISTO POR UM EX-PROTESTANTE .... 317/1988* p 434
EDUCAgAO RELIGIOSA NA URSS 316/1988* p 401'
EDUCAR A VONTADE 311/1988: p. 175.
"EM NOME DO DIABO" por Víctor Willi 315/1988 p 361
ENSINO RELIGIOSO ÑAS ESCOLAS DA
INGLATERRA 310/1988, p. 144;
- falta na familia 308/1988 p 35
ESCRAVIDAO NO BRASIL E IGREJA 318/1988* p 509
ESCRITURA E TRADICAO 311/1988 p 162
ESCRITURA: FONTE DE FÉ 313/1988* p. 258.
ESFACELAMENTO PROTESTANTE 309/1988,' p. 7¿
ESPIRITISMO E CATOLICISMO 319/1988 p 565
ESPIRITOS DESENCARNADOS E ANJOS 319/1988* p 568
ESPIRITO SANTO E MARÍA 312/1988, p. 223.
ÉTICA DO PLANEJAMENTO FAMILIAR 319/1988, p. 554;
E MEIOS DE COMUNICACAO SOCIAL 312/1988: p. 203.
EVANGELHOSrorigemecredibilidade 318/1988, p. 489
EVANGELIZACAO 2000 314/1988 p 301
EVOCACAO DOS MORTOS E INVOCACAO
DOS SANTOS 319/1988, p. 566.

580
ÍNDICE GERAL 1988 53

FECUNDACÁO ARTIFICIAL "GIFT" 313/1988 p. 279


FÉ DA IGREJA E MENTALIDADE MODERNA 309/1988 p 60
FEMININO E ESPIRITO SANTO 312/1988* p 214
FENÓMENO DAS SEITAS 309/1988* p 68
FIGURAS DIVINAS CULTUADAS NA INDIA 309/1988* p 82
FILME SOBRE A VIDA SEXUAL DE JESÚS 315/1988 p 383-
FRANKL, VIKTOR. E LOGOTERAPIA 310/1988* p' 138*
FUTURigOES RELATIVAS Á SEXUALIDADE .... 311/1988* p. 17tl.

GENITALIDADE E SEXUALIDADE 311/1988, p. 172.


"GIFT" (fecundado artificial) 311/1988' p. 279.

HENNAUX, J.M., E MARIOLOGIA DE L. BOFF .... 312/1988 p 214


HERESIAS E TRADIQÁO SEGUNDO D. LEFEBVRE 316/1988 p 420
HERMENÉUTICA Bl'BLICA E PROTESTANTISMO. . 313/1988* p 252
HILGERT. P.R., E CRISTOLOGIA 311/1988.'p! 146
HINDUISMO:síntese do 309/1988 p 78
HIROXIMA E NAGASAKI 308/1988^ p' 26^
HOEFFNER, JOSEPH: despedida 310/1988 p 139
HOMEM NO HINDUI'SMO 309/1988^ p. 8i!

ICONE NO OCIDENTE 313/1988 p.249.


ICONOCLASTAS 308/1988', p. 6.
IDADE MEDIA, segundo Leo Moulin 310/1988 p 116
"IGNORANCIA" DE JESÚS 309/1988* p. 65.
"IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA CARISMÁTICA" 318/1988 p 519
IGREJA CATÓLICA E QUESTÁO SOCIAL 309/1988] p. 75;
DE CRISTO: una 308/1988* p. 42-
E ESCRAVATURA 311/1988, p. 157-
E "ESTADO CATÓLICO" 316/1988, p. 417;
E MODERNISMO 316/1988 p. 428"
-MENSAGEIRADE LIBERDADE 311/1988' p. 164-
IGREJA NA TEOLOGÍA DA LIBERTACÁO 314/1988' p 306:
NO CATOLICISMO 314/1988] p.326*
NO PROTESTANTISMO 314/1988, p. 324.
"IGREJA PARA A LIBERTACÁO" - por David Regan 314/1988, p. 311.

581
54 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 319/1988

IMAGEM DE JESÚS 318/1988, p. 486.


IMAGENS - controversias 313/1988, p.248.
NO CULTO CRISTÁO 308/1988, p. 2.
INDULGENCIAS: que sSo? 309/1988, p. 95.
INSTINTO ESEXUALIDADE 311/1988, p. 171.
INSTITUICAOFAMILIAR-seuenfraquecimento .. 308/1988, p. 34.
INVESTIDURAS NA IDADE MEDIA 317/1988, p. 454.
ISLAMISMO: «frítese 317/1988, p.471.

JAINISMO:que é? 309/1988, p. 88.


"JESÚS ANTES DO CRISTIANISMO" por Albert Nolan 317/1988, p. 462.
JESÚS CRISTO:quem é? 310/1988, p. 119;
311/1988, p. 153.
E OS DISCÍPULOS MAIS CHEGADOS 309/1988, p. 56.
HISTÓRICO E JESÚS DA FÉ 311/1988, p. 152;
317/1988, p. 468.
LEGISLADOR 309/1988, p. 54.
O FILHO DE DEUS 309/1988, p. 55.
SOFREU REALMENTE 309/1988, p. 62.
"JESÚS HISTÓRICO, PONTO DE PARTIDA DA
CRISTOLOGIA LATINO-AMERICANA"
por P. Hílgert 311/1988, p: 146.
"JESÚSSABIA QUE ERA DEUS?" por Francois Dreyfus 309/1988, p. 50.
JOAO PAULO I: assassinado? 315/Í988, p.361.
JOAO PAULO II - Solicitude Social da Igreja 314/1988, p.290;
Tradicaoe Progresso 317/1988, p.459;
Cisma de D. Lefebvre 318/1988, p. 503.
JORNADA DE ORACÓES NO JAPAO 308/1988, p. 22.
JOSÉ MOSCATI - médico santo 315/1988, p. 377.

KHARTCHEV, KONSTANTIN, e Religiao na URSS . . 316/1988, p.397.


KIEV:sede episcopal de 319/1988, p. 536.

LEFEBVRE: pessoa e idéias 316/1988, p.407;


cisma 318/1988, p. 502.
LEIGO:seu papel na Igreja 308/1988, p. 36.

582
ÍNDICE GERAL 1988 55

LEITURA TEOLÓGICA DOSTEMPOS MODERNOS . 314/1988, p.296.


LEPARGNEUR, H: "ANTROPOLOGÍA DO PRAZER" 315/1988, p.338.
LIBERDADE RELIGIOSA E LIBERALISMO 316/1988, p. 414;
LIBERDADE DE CULTO 308/1988, p. 41.
LIBÉRIO (PAPA) E ATANÁSIO 317/1988, p.451.
LIBERTACÁO QUE JESÚS VEIOTRAZER 311/1988, p. 155.
"LUCOTERAPIA ... DE VIKTOR FRANKL"
por José Carlos Vitor Gomes 310/1988, p. 131.
LUTERANISMO HOJE 310/1988, p. 123.

MANSAO DOS MORTOS: Jesús desceu á 312/1988, p. 211.


MAOMÉ:dados biográficos 317/1988, p.472.
MARÍA MADALENA NOS EVANGELHOS 318/1988, p.487.
"MARÍA, ROSA MÍSTICA" 308/1988*, p. 28.
MARIEN.NEEMIAS, E "BIBLIA DE JERUSALÉM" . 316/1988,'p. 423.
MARIOLOGIADE L BOFF 312/1988, p. 214.
MATERIALISMO NA TEOLOGÍA DA LIBERTACÁO 314/1988, p. 306.
MARTÍNS, SYR, E CATOLICISMO 312/1988, p. 228.
MARX, KARL, E JESÚS CRISTO 314/1988, p. 314.
MAX THURIAN-CAMINHADA ESPIRITUAL .... 317/1988, p. 446;
ORDENADO PRESBÍTERO 315/1988! p.384.
"MEDIUNIDADE DOS SANTOS" por Clovis Tavares . 319/1988, p. 565.
MEIOS DE COMUNICACÁO SOCIAL: INFLUENCIA
E RESPONSABILIDADES 312/1988, p. 194.
MÉTODO DA HISTORIA DAS FORMAS: que é?. . . . 318/1988, p. 491;
"GIFT" 313/1988, p. 280.
MIL ANOS DE CRISTIANISMO NA RÚSSIA 319/1988, p. 530.
MINISTROS EXTRAORDINARIOS DA COMUNHAO
EUCARI'STICA 311/1988, p. 181.
MONOFISISMO e imagens 308/1988, p. 5.
MONTEIRO DE LIMA: "Demonios. .." 309/1988, p. 67.
MORAL BUDISTA 310/1988, p. 102.
CATÓLICA: "rafzes pagas"? 315/1988, p. 552.
MORALOGIA: que é? 310/1988, p. 141.
MORTE E ALÉM 311/1988, p. 190.
E GRANDES HOMENS 316/1988, p. 395.
MOULIN, LEO, e Catolicismo 310/1988, p. 115.
MOSCATI, JOSÉ -médico santo 315/1988, p. 377.
MOURA, GERALDO e celibato do Clero 316/1988, p. 427.
MUNDO CONTEMPORÁNEO: seu panorama ...... 314/1988, p. 291.
E CRIANQAS ESCRAVAS 318/1988, p.517.

583
56 PERPUNTE E RESPONDEREMOS 319/1988

NATUREZA E GRAQA, segundo L. Boff 312/1988, p. 218


NESTORIANISMO e imagens 308/1988, p. 5.
NICÉIA II e imagens 308/1988 p 6
NIRVANA 310/1988* p. 10il
NOLAN, ALBERT: "Jesús antes do Cristianismo" ... 317/1988, p. 462.
NOME DE BATISMO:cr¡$tao ou pagSo? 310/1988, p. 142.

"O DISCfPULO SEGUINDO AS PEGADAS DO


SENHOR" 318/1988 p 508
"O ESPIRITO E O FEMININO. A MARIOLOGIA DE
L. BOFF" por J.M. Hennaux, S.J 312/1988 p 214
ORACOES ÉUCARI'STICAS E EXPERIENCIAS
LITÚRGICAS 313/1988 p. 284
ORIGEM E HISTORICIDADE DOS EVANGELHOS 318/1988 p 491
"O SANTO CATECISMO" de Jair Pereíra . . . 308/1988 p 43
"OS DEMONIOS DESCEM DO NORTE" por Délcio
Monteiro de Lima 309/1988 p 67
"OS QUE PARTEM, OS QUE FICAM" por Evaldo
Alves d'Assumppáb 311/1938, p. 190.

PALAVRA NO CATOLICISMO 314/1988 p 322


PROTESTANTISMO 314/1988 p 321
PASCOAL II (PAPA) E INVESTIDURAS 317/1988 p 465
PECADO ORIGINAL E SEXUALIDADE 316/1988 p 425
PENITENCIA NA VIDA CRISTA 315/1988* p 354
SACRAMENTAL 312/1988* p 210
PEREIRA.JAIR, E CATECISMO ... 308/1988 p 43
"PERESTROIKA" (REFORMA) NO SETOR
RELIGIOSO 311/1988, p. 159.
"PERFIL DE JESÚS COM TRACOS DE MARX" . . . 314/1988 p 314
PLAGIO DO CATOLICISMO 308/1988' p 40
PLANEJAMENTO FAMILIAR E ÉTICA 319/1988'p 554'
POBREZA, LIBERTAQAO E TEOLOGÍA 311/1988' p' 186^
POLITIZACAO na protestantismo 310/1988, p. 129
no Catolicismo 314/1988, p.312.
"POR QUE DEIXAMOS A BATINA" por Syr Martins . 312/1988! p~228!
584
ÍNDICE GERAL 1988 57

POR QUE ME FIZ CATÓLICO? - depoimento de .


ex-pastor luterano 310/1988 p. 121
PRAZER ESPIRITUAL E PRAZER SENSIVEL 315/1988, p.342.
PRESENCA DE DEUS, segundo V. Frankl 310/1988] p. 137^
"PRIER": revista sobre oracao 319/1988, p. 574.
PRIMADO DA PRAXIS SOBRE O LOGOS NA TI 314/1988] p'316
PRINCfPIO DE AUTO-REALIZACAO 315/1988] p.346
PROTESTANTISMO E CATOLICISMO: confronto . . 314/1988] p. 319;
PURO INSTINTO 311/1988] p. 178]

"RAIZES PAGAS" DA MORAL CATÓLICA 315/1988, p. 350.


RANGEL, PASCHOAL, E TEOL. DA LIBERTAQAO . 314/1988* p 302
"REDE NACIONAL DE MISSÓES CATÓLICAS" . . . 308/1988 p. 39
REENCARNACAO E ROSA-CRUZ 309/1988 p.. 92]
REGAN, DAVID, E TEOLOGÍA DA LIBERTACAO . 314/1988] p]31i]
REINO DE DEUS: imánente e transcendente 311/1988 p 156
RELIGIÁONAURSS 316/1988,'p.397'
"RELIGIÜES, SEITAS E HERESIAS" por J. Cabral . . 313/1988 p. 251.
"RESISTIR AO PAPA HOJE, COMO OUTRORA"? . . 317/1988 p 450
RESTAURAQÁO DO DOMINGO CRISTÁO 312/1988] p. 236.
ROSA MÍSTICA: devocao 308/1988 p. 28
"ROSAECRUCIS",ANTIGA MÍSTICA ORDEM ... 309/1988] p. 9o]

SACRAMENTO: nocSo 310/1988, p. 129.


da penitencia 312/1988 p 210
SACRAMENTOS NO CATOLICISMO 314/1988 p.331.
PROTESTANTISMO 314/1988 p 329
SAGRADA ESCRITURA E TRADICAO 313/1988] p. 264
"SANTO CATECISMO" de Jair Pereira 308/1988 p 43
SANTOS CONTRA O PAPA 317/1988 p'454'
SCORSESE, MARTÍN, E JESÚS 317/1988] p.433;
318/1988] p. 482]
SEITAS: fenómeno das 309/1988, p. 67.
SEMINARISTAS - formacao específica 308/1988 p 36
SENTIDO DA VIDA 310/1988 p 135
SEXO E CENSURA 313/1988] p. 276-
E DOENQAS SEXUALMENTE TRANSMISSlVEIS 313/1988, p. 275^
E IGREJA 313/1988, p. 277.'
SEXUALIDADE: como vivé-la? 311/1988, p. 172.

585
58 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 319/1988

"SI'NTESE DE RELIGlAO CRISTA"pelo Pe. Frederico


Da«'er 312/1988, p. 297.
"SIKHS" 309/1988, p. 87.
SIMONÍA: proibicSo de 308/1988 p 40
SOLICITUDE SOCIAL DA IGREJA - Encíclica de
J- p?ul° " 314/1988, p. 290.
SUGESTAO: influencia grande 312/1988, p. 194.
SUICIDIO:dramae causa» 308/1988 p 13
SUFRAGIOS PELOS SUICIDAS ..'.'.'. 315/1988,' ^382^

TAOISMO 319/1988, p.549


TAVARES, CLOVIS:"Mediunidade dos Santos" .... 319/1988 p 565
TCHECOSLOVÁQUIA E IGREJA 310/1988* p 107*
TEMPOS MODERNOS - LEITURA TEOLÓGICA . . 314/1988' p 296
TENTACÁO DE CRISTO 318/1988* p. 489;
319/1988* p. 571.
TEOLOGÍA DA LIBERTAQÁO em Caracas 314/1988, p. 186;
na América Latina . . 311/1988 p 146
"TEOLOGÍA DA LIBERTACÁO" pelo Pe. Paschoal
Rangel 314/1988, p. 302.
"TERCEIROSEGREDODE FÁTIMA" 311/1988 p 192
TESTEMUNHAS NO NOVO TESTAMENTO 318/1988* p 496
THURIAN, MAX, E ECUMENISMO 317/1988* p 435
TRADIQÁO DI VINO-APOSTÓLICA 313/1988 p 260
E PROGRESSO NA IGREJA 317/1988! p'459*
E PROTESTANTISMO 313/1988* p.262.
TRADICÁO ORAL E TRADICÁO ESCRITA 313/1988* p. 259.
TRÁFICO NEGRO NO BRASIL E IGREJA 318/1988* p. 510
TSCHUSCHKE, WOLFGANG: Conversao ao
Catolicismo 310/1988, p. 121.

ÚLTIMA TENTACÁO DE CRISTO no cinema 318/1988, p. 482;


UNIÁO DE MARÍA E DO ESPIRITO SANTO 312/1988, p. 215.
V

VALORES HUMANOS E CRISTIANISMO 310/1988 p 116


VATICANO II E D. LEFEBVRE 316/1988, p.408.
VÍCTOR GOMES, JOSÉ CARLOS, E LOGOTERAPIA 310/1988, p. 131.

586
ÍNDICE GERAL 1988 59

VIDA CRISTA E PENITENCIA 315/1988, p.353.


VIDIGAL DE CARVALHO, J.G. E ESCRAVATURA . 318/1988! p. 509.
VIKTOR FRANKL E LOGOTERAPIA 310/1988, p. 132.
VIRGINDADE DE MARÍA NA "BIBLIA DE
JERUSALÉM" 316/1988, p.426.
VLADIMIR ECONVERSÁODARÚSSIA 319/1988, p. 530.
"VOZ QUADRANGULAR" E PAPA 312/1988, p. 232.

WILLI. VÍCTOR: "Emnome do Diabo" 315/1988. p.361.

YALLOP, DAVID, EJOÁO PAULO I 315/1968, p. 361.


YOGA:queé? 309/1988! p. 84.

ZANINI. OVIDIO ESEXUALIDADE 311/1988, p. 171.

EDITORIAIS

"ANO NOVO, VIDA NOVA. ..:" 308/1988, p. 1.


"A ÚLTIMA TENTAgAO" 317/1988! p! 433.
"COM OS OLHOS FIXOS NELE. . ." 310/1988, p. 97.
"COMO BOM SOLDADO DE CRISTO. . ." 309/1988! p. 49.
EVANGELIZACÁO 2000 314/1988] p. 289!
MAE DE DEUS, MÁE DOS HOMENS 315/1988! P-337.
"NEC LAUDIBUS NEC TIMORE" 312/1988! p. 193.
O MISTERIO DA PALAVRA 313/1988! p. 241.
O VELHO E O NOVO 319/1988! p. 529.
"SENHOR, ÉTEMPODENOSVERMOS"' 318/198b! p. 481.
"SENTÍ O QUE O CRISTO JESÚS SENTÍA" 311/1988! p. 145.
SEPARARSE DAIGREJA?. .- 316/1988! p. 385.

LIVROS APRECIADOS

ALAIZ, Atilano. Felizes os Generosos 310/1988, p. 130.


ASSIS, Freí Paulo Avelino de. A Biblia do Povo 312/1988. p.238.
BACKGRISA. A Cura pela Imposipao das Maos 319/1988. p. 548.

587
60 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 319/1988

BATTISTINI, Freí. Manual da Fé. Crisma e Primeira


Eucaristía para Adultos 308/1988, p. 48.
BROWN, Raymond E. Crises na Igreja? Reflexoes
Bíblicas 313/1988, p. 288.
BUCKINGHAM, Jaime. Forca para viver 308/1988, p. 48.
FORTE, BRUNO. A Trindade como Historia 312/1988, p. 206.
FREITAS, Joá"o Luiz de. Despertar de um Senso Crítico 319/1988, p. 573.
JOÁO PAULO II. A Dignidade da Mulher 319/1988^ p 570.
MANUAL DE TEOLOGÍA MORAL: OBEDIENCIA E
SALVACÁO III 318/1988, p.528.
SCHWANTES, M. e outros. A Memoria popular do Éxodo 313/1988, p. 287.
SOUZA PACHECO, Claudia B. A Mulher no Divff.... 319/1988] p. 553.
STEIN, EDITH. A Ciencia da Cruz 319/1988^ p. 564.
SURIAN, Freí Carmelo. S. Francisco e o Misterio da Vida 318/1988, p.518.
TEIXEIRA, Faustino Luiz Couto. Comunidades
Eclesiais de Base, Bases Teológicas 312/1988, p. 239.
TÉRRA, Jólo Evangelista M. Leitura da Biblia na
Perspectiva do Pobre 314/1988, p. 310.
VILADRICH, Pedro Juan. Aborto e Sociedade
Permissiva 311/1988, p. 170.
VOLPE, Alberico. Palavras do Senhor 318/1988, p. 501.

* *

AMIGO(A),

UM PERIÓDICO COMO O NOSSO, QUE NAO PUBLICA


ANUNCIOS COMERCIÁIS, PRECISA, MAIS DO QUE OUTROS
DA COLABORAQÁO DE SEUS LEITORES E AMIGOS. Dé'
COMO PRESENTE DE NATAL, UMA ASSINATURA DE PR
QUE O FARÁ PRESENTE AOS SEUS DURANTE O ANO IN-
TEJRO. E QUEIRA ANGARIAR NOVOS ASSINANTES PARA
A SUA REVISTA.

TRES ASSINATURAS NOVAS DÁO DIREITO A UMA


QUARTA, DE CORTESÍA.

VER ESCALA DE PRECOS E FORMAS DE PAGAMENTO


NA 2? CAPA OESTE FASCÍCULO.

588
EDIQOES LUMEN CHRISTI

LIVROS EM LÍNGUA ESPANHOLA:

- LA BIBLIA, com ilustraciones. 03 volumes. Presenta


ción por el Dom Gregorio Modrego Casaus. Prólogo a
1? ed. española por Mons. Salvatore Garofalo. Ed. La-
b°r Cz$ 80.600,00

- NUEVO DICIONÁRIO DE ESPIRITUALIDAD, dirigido


por Stefano. de Flores y Tullo Goffi. 2- edición. Ed.
Paulinas (Espanha) • Cz$ 36.200,00

- NUEVO DERECHO CANÓNICO, manual universitario


- por catedráticos de derecho canónico. Lamberto de
escheverria (Salamanca) 2? ed. 1983. BAC. 625 p
Cz$ 27.000,00

- PADRES APOSTÓLICOS, ed. bilingüe- versión, intro-


dución y notas de Daniel Ruiz Bueno. BAC. 130 p.130.. Cz$ 23.400,00

- OBRAS DE SANTA CATALINA DE SIENA, el diálogo,


oraciones y soloquios. BAC. 1980 Cz$ 15.400.00

- ETIMOLOGÍA, San Isidoro de Sevilla. 02 volumes, edi


ción bilingüe. José Oroz Reta y Manuel C. Diaz. 1982.
BAC Cz$ 67.090,00

- OBRAS COMPLETAS DE SAN BERNARDO - Edición


bilingüe. Promovida por la conferencia regional de
Abades Cistercienses. BAC. 06 volumes
Cz$ 199.560,00

LIVROS DE PORTUGAL:

- FILOSOFÍA TOMISTA - Manuel Correia de Barros. 2a-


ed. revista. 445p. Porto . Cz$ 4.900,00

- CONFISSÓES DE SANTO AGOSTINHO - 11? ed.


410p. 1984. Liv. Apost. Imprensa Cz$ 4.100,00

- O MEU CRISTO PARTIDO - Romón Cué. 28? ed. 1986.


160p. Ed. Perp. Socorro Cz$ 2.000,00

- JESÚS CRISTO NOS SEUS MISTERIOS - D. Columba


Marmion. Mosteiro de Singeverga Cz$ 6.500,00

- JESÚS CRISTO VIDA DA ALMA - Dom Columba


Marmion. Mosteiro de Singeverga Cz$ 6.500,00
(Pretos sujeitos a alteracáo)
LITURGIA PARA O POVO DE DEUS

BREVE MANUAL DE LITURGIA

Por D. Cario Fiore SDB


e D. Hildebrando P. Martins OSB

4'edicáo

Vocé, leitor, ¡á fez algum estudo sobre a Liturgia? Este livro servirá de roteiro,
para sua iniciacáo.
É também útil as Paróquias, Grupos de reflexáo. Seminarios, Noviciados, Co
munidades e Colegios.
Contém urna parte de doutrina baseada na Constituido Litúrgica, em exposicáo
simples e objetiva, com perguntas para debate, círculos e reflexáo pessoal ou em gru
pos.

A doutrina se desenvolve em torno do tema central do livro: Ó MISTERIO PAS-


CAL, aplicado á vida crista em todas as suas manifestacóes através da Eucaristía como
Sacrificio e dos demais Sacramentos, em seus respectivos ritos. Focaliza especial
mente a participacáo dos fiéis na Missa dominical.
Dá igualmente urna rápida visáo do Ano Litúrgico e do Oficio Divino; esclarece e
orienta sobre o sentido do altar, da igreja, dos vasos e objetos sacros, e do canto na
Liturgia. 214 pág CzS 2.200,00

GRANDE ENCONTRÓ
Como complemento para aplicacáo prática poder-se-á organizar urna "SEMA
NA DA MISSA" e outra "SEMANA DOS SACRAMENTOS", já elaboradas e realizadas
em paróquias, colegios, seminarios, noviciados, em varias oportunidades, com pro
vecto dos participantes.
É o conteúdo do livro "GRANDE ENCONTRÓ", por D. Hildebrando P. Martins,
da Comissáo Arquidiocesana de Pastoral Litúrgica do Rio de Janeiro.
Cada catequese consta de urna breve leitura bíblica, referente ao tema a ser de
senvolvido, urna síntese da doutrina teológica, urna apresentacáo audiovisual repre
sentada ao vivo, e finalmente indicacóes práticas para a renovacáo litúrgica do grupo.
108 págs Cz$ 1.100,00

QUADROS MURÁIS (em cores)


1. ESTRUTURA GERAL DA MISSA / 2. O ANO LITÚRGICO

Dois grandes quadros muráis com textos explicativos para aulas, semanas de
estudo, círculos, seminarios, salas de aula, portas de igreja e salóes paroquiais. Orga
nizados por D. Hildebrando P. Martins CzS 800,00 cada
RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA, Dom Cirilo Folch Gomes, OSB. Comentario ao
Credo do Povo de Deus, á luz do Vaticano II. 1981.2- ed CzS 7.180,00
O MISTERIO DO DEUS VIVO. Pe. Albert Patfoort, OP., traducáo de Dom Cirilo Folch
Gomes, OSB. Tratado de "Deus Uno e Trino", de orientacáo tomista e de índole didá-
tica. 230 págs Cz$ 2.780,00

DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas Controvertidos. Por Estéváo Bettancourt, OSB. 1984.


278 págs CzS 3.160,00

Das könnte Ihnen auch gefallen