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SANTOS – 2007
Banca Examinadora:
__________________________________________________________________
Profª. M.Sc. Carlota Frances Williams Lopes
Professora Titular Universidade Católica de Santos
__________________________________________________________________
Prof. Me. José Martinho Gomes
Professor Titular Universidade Católica de Santos
SANTOS – 2007
Dedicatória
O presente trabalho é dedicado aos meus pais, que sempre me incentivaram nos estudos
e no aprendizado de outras línguas e aos meus professores, que me ensinaram muito ao
longo dos anos e confiaram em meu trabalho.
Agradecimentos
Agradeço primeiramente à minha família, por todo o apoio durante os quatro anos, pelas
leituras infindáveis a cada término de capítulo, pelas dicas preciosas e a paciência
despendida nos momentos mais complicados. Agradeço à professora mestra e
orientadora Carlota Frances Williams Lopes, pelo apoio na escolha do tema e na
confiança em meu trabalho e cujo estímulo e opiniões durante todos esses anos
tornaram esse trabalho possível. Agradeço também ao professor mestre José Martinho
Gomes, por ter aceito fazer parte da banca examinadora e por todo o apoio e dedicação,
assim como as horas e fins de semana dispensados com as gravações do corpus e a
prontidão com que sempre me ajudou nos momentos que precisei. Agradeço a todos os
docentes do curso de Tradução e Interpretação, que me abriram as portas do
conhecimento e me estimularam a seguir essa profissão e a me dedicar às línguas.
Agradeço também os intérpretes José Augusto Rodrigues e Fernando Santiago dos
Santos pela presteza com que se propuseram a realizar as entrevistas para esta
monografia e pelas valiosas dicas que certamente a enriqueceram e pelo estímulo dado
aos meus estudos para que um dia eu alcance meus objetivos. Por fim, agradeço a todos
os meus amigos de classe, que caminharam comigo durante os quatro anos e com quem
aprendi muito. Agradecimentos especiais a João Paulo Sorensen de Moura e a Bruno
Amorim de Sá, pelo tempo dedicado às gravações dos vídeos originais.
Resumo:
Desde muito cedo na história, a presença do intérprete faz-se indispensável. Com uma
demanda maior de intérpretes no mundo globalizado em que vivemos hoje, essa
modalidade vem crescendo nas mais diversas áreas do saber. Conseqüentemente, o grau
de conhecimento e precisão do profissional deve atender às exigências do mercado. Este
trabalho tem como objetivo apontar e justificar os fatores que mais induzem o intérprete
ao erro ao analisar um corpus formado por eventos renomados como o Oscar e o Video
Music Awards. Por meio de observação das experiências de intérpretes qualificados,
apresentamos uma proposta de estudo a todos aqueles que tiverem interesse na
modalidade, a fim de que futuros deslizes possam ser evitados ou amenizados.
Abstract:
The presence of interpreters has proved to be essential since very early on world history.
The great demand for interpreters in the globalized world we live in today has caused
this modality to increase in the most diverse areas of human knowledge. Consequently,
the professional’s level of knowledge and accuracy must meet with market demands.
The goal of this paper is to indicate and justify the factors that most often lead the
interpreter to commit a mistake by analyzing a corpus taken from such well-known
events as the Oscar and the Video Music Awards. By observing qualified interpreters’
experiences, we offer a study proposal to whomever is interested in the modality, so that
future mistakes can be avoided or reduced.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO.................................................................................................... 10
Capítulo 1
1.1. A Origem da interpretação................................................................... 13
1.2. O Tribunal de Nuremberg.................................................................... 16
1.2.1. O sistema de interpretação................................................................ 18
1.2.2. O recrutamento de intérpretes........................................................... 19
Capítulo 2
2.1. Modalidades de interpretação............................................................... 23
2.1.1. Interpretação consecutiva.................................................................. 24
2.1.2. Interpretação sussurrada.................................................................... 25
2.1.3. Interpretação simultânea.................................................................... 25
2.2. Áreas de atuação................................................................................... 27
Capítulo 3
3.1. Interpretação simultânea....................................................................... 31
3.2. O discurso............................................................................................. 33
3.3. O processo de interpretar...................................................................... 34
3.3.1. O sentido............................................................................................ 35
3.3.2. A compreensão.................................................................................. 36
3.3.3. Unidades de sentido........................................................................... 37
Capítulo 4
4.1. A formação do intérprete...................................................................... 41
4.1.1. As línguas de trabalho........................................................................ 41
4.1.2. As qualificações de um intérprete...................................................... 43
4.1.3. A formação acadêmica....................................................................... 45
4.1.4. Código de ética................................................................................... 46
Capítulo 5
5.1. Os fatores que comprometem a interpretação....................................... 49
Capítulo 6
6.1. Análise do Corpus................................................................................ 64
6.1.1. Análise do Oscar................................................................................ 65
6.1.2. Análise do Video Music Awards....................................................... 78
Considerações Finais............................................................................................. 82
Referências Bibliográficas.................................................................................... 85
Bibliografia Consultada........................................................................................ 89
Anexo A – Tribunal de Nuremberg (foto)........................................................... 93
Anexo B – Citações originais................................................................................ 94
Anexo C – Recursos audiovisuais........................................................................ 96
Introdução
Introdução
Capítulo 1
Capítulo 1
central do Egito. Hermann (cf. 2002, p. 17) afirma que os egípcios possuíam métodos
sofisticados para superar a barreira lingüística: Herodotus relata que o Faraó
Psammetichus entregava meninos egípcios para os colonizadores gregos para que
aprendessem a língua grega. Assim, pode-se dizer que esses foram os primeiros recrutas
a entrarem para a classe de intérpretes. Ao invés de fazer estrangeiros aprenderem sua
língua, os egípcios mandavam seus representantes aprenderem as outras línguas, pois
assim garantiam que sempre seriam entendidos e nunca lhes faltariam intérpretes.
Para os gregos o termo “intérprete” ou “tradutor” significava uma pessoa que
age como Hermes1, que segundo a mitologia era um ser humano encarregado de
entregar as mensagens de Olympus ao mundo mortal. Já o equivalente latino é mais
realista, e representa a situação da pessoa interpretando. A despeito da palavra
“interpres” ser derivada de “inter-partes” ou “inter-pretium”, o termo designa o
mediador humano posicionado entre dois partidos ou valores, executando atividades
diversas, indo além daquela de proporcionar equivalentes lingüísticos em transações. Os
intérpretes eram freqüentemente recrutados pelos gregos para trabalhar na
administração, pois na Grécia estudava-se somente o latim.
Fora de Roma, a presença de intérpretes da administração da província foi
confirmada por pedras inscritas vindas das áreas de Budapeste e Maastricht. Confirmou-
se o uso de “army interpreters” em tempos remotos em diversos lugares. Eles eram
enviados para realizar transações em ambos os lados e todos confiavam neles, por isso
eram chamados de “vir sanctus”, um homem honesto.
Hermann (ibidem, p. 21) conta que foram muitas as ocasiões em que os
intérpretes apareciam no mundo antigo: antes de mudanças lingüísticas drásticas, tais
como aquelas em Roma no período do Papa Damasus I, os intérpretes eram recrutados
dos serviços religiosos. Por isso os monges gregos de Jerusalém e do norte da África,
que trabalhavam como mediadores lingüísticos, podem ser considerados os intérpretes
de conferência mais antigos do mundo oriental.
Atualmente, a interpretação relaciona-se a conferências internacionais.
Praticamente toda sala de conferência possui uma cabine de interpretação e as
instalações necessárias para a realização de eventos. Por ser extremamente necessária no
mundo globalizado em que nos encontramos, a prática da interpretação foi rapidamente
1
Hermes, mensageiro ou intérprete da vontade dos deuses.
disseminada. Entretanto, ela ainda passa despercebida por muita gente e poucos
conhecem sua arte e importância na história da humanidade.
A profissão de intérprete é relativamente nova e data de menos de um século
atrás. Ela não era vista como uma profissão e era realizada por pessoas de diversas
áreas, tais como militares, diplomatas, secretárias e outras pessoas com conhecimento
em línguas estrangeiras. Nasceu por volta de 1920 quando algumas línguas, além do
francês, foram reconhecidas como línguas diplomáticas oficiais. A necessidade de
interpretação em conferências internacionais foi criada apenas durante a Primeira
Guerra Mundial, pois alguns negociadores dos Estados Unidos e da Grã Bretanha não
falavam o francês e precisavam de interpretação. Nessas reuniões um dos diplomatas
traduzia sentença por sentença o texto na língua de partida, doravante LP, para a língua
de chegada. Assim nasceu o primeiro tipo de interpretação consecutiva. Elas aconteciam
durante as sessões da Comissão do Armistício realizadas em francês, inglês e alemão.
Nessas sessões, interpretações frase por frase eram normalmente realizadas por
intérpretes do exército e liaison officers2.
A partir do momento em que os britânicos insistiram no reconhecimento do
inglês como língua diplomática oficial, qualquer questão podia ser discutida tanto no
inglês como no francês. Houve então a necessidade de se ter uma tradução oral, que
aumentou com a criação da Liga das Nações e da Organização Internacional do
Trabalho (OIT). Por se tratar de questões específicas, além das diplomáticas, foi
necessário o recrutamento de lingüistas especializados.
Para suprir essa necessidade de intérpretes profissionais qualificados nasce em
1941, em Geneva, a primeira Escola de Intérpretes.
A interpretação consecutiva e a interpretação ao pé do ouvido foram as primeiras
técnicas a serem utilizadas. Alguns grupos de delegados não falavam nem inglês nem
francês, então eles contavam com a ajuda de intérpretes que sussurravam a tradução dos
procedimentos e interpretavam o que diziam consecutivamente.
Apesar da vantagem do intervalo para a reflexão durante a interpretação, a
consecutiva começou a perder sua eficiência. Dessa forma, buscaram-se novos métodos
na época da Liga das Nações (1920-46): Edward Filene, executivo, Gordon Finlay,
engenheiro eletrônico; e Thomas Watson, presidente da IBM, introduziram um
equipamento especial que disponibilizava fones de ouvido, um sistema de microfones e
2
Oficiais do exército que trabalhavam auxiliando seus oficiais superiores, especialmente em casos em
que a interpretação fosse necessária.
permitia ao intérprete ouvir o discurso e falar ao mesmo tempo sua tradução. Esse
equipamento chamava-se Filene-Finlay e era utilizado nas interpretações simultâneas e
nas leituras simultâneas de textos pré-traduzidos na Liga das Nações. A proposta
desenvolveu-se à medida que as inovações tecnológicas foram sendo acrescentadas a
ela, sendo finalmente testada na Conferência da Organização Internacional do Trabalho
de 1928. Por apresentar muitos problemas técnicos, o equipamento somente voltou a ser
utilizado em uma conferência internacional na Filadélfia em 1944, mas em condições
muito precárias, porque os intérpretes ficavam sob o palanque dos oradores, no subsolo,
ouvindo ruídos e tentando se adaptar ao equipamento ao mesmo tempo.
Segundo Baigorri-Jalón (30 abr. 2007), intérprete da Organização das Nações
Unidas (ONU), o sucesso que os intérpretes obtiveram nas conferências da Organização
Internacional do Trabalho de 1928 fez com que o processo da simultânea fosse adotado
pela OIT para suas conferências anuais. Entretanto, foi durante o Tribunal de
Nuremberg3 que a Interpretação Simultânea se destacou, pois um novo equipamento
teria de ser utilizado para a interpretação de várias línguas simultaneamente.
3
Foto do Tribunal em sessão no anexo A, p. 92.
Antes do tribunal, um dos réus, Robert Ley suicidou-se em sua cela e Gustav
Krupp foi considerado impossibilitado de permanecer no tribunal devido à sua idade e
condições de saúde. Vinte e dois réus foram condenados à morte por enforcamento, três
foram condenados à prisão perpétua, quatro receberam sentenças de 10 a 20 anos e três
foram absolvidos.
4
Escritor alemão envolvido com política que assistia ao julgamento.
Gaiba (1998, p. 68) conta que foram utilizados fones de ouvido, um sistema de
microfones, cabos e amplificadores. Todos os microfones possuíam um dispositivo para
ligar e desligar e eram conectados aos fones de ouvido por meio de cabos elétricos de
telefone. Muitos não estavam à vontade com os microfones. Os juízes às vezes
esqueciam de desligá-los e conversas confidenciais podiam ser ouvidas. Os advogados
tiveram de abandonar o hábito de interromper o discurso de outrem e aprender a
5
Robert Houghwout Jackson (1892-1954) foi promotor chefe dos EUA no Tribunal de Nuremberg.
6
Associação mundial de intérpretes de conferência fundada em 1953, com sede em Genebra, Suíça, com
o objetivo de representar a profissão e agir em nome de todos os intérpretes de conferência.
Capítulo 2
Capítulo 2
Por mais que a interpretação esteja cada vez mais presente na mídia, como em
apresentações do Oscar, mesas redondas com convidados internacionais, jogos como o
Pan-Americano e as Olimpíadas, existem muitas subdivisões dessa profissão ainda
desconhecidas. Como citado anteriormente, ela iniciou-se pela Tradução Consecutiva e
foi ganhando módulos específicos conforme surgiu a necessidade. Em seguida, com o
Tribunal de Nuremberg, ganhou novo foco com a estréia do sistema simultâneo de
interpretação.
A tecnologia foi se desenvolvendo e com ela a interpretação ganhou novos
rumos e públicos. Passou a ser requisitada em eventos não apenas internos como
externos, em viagens, na Câmara dos Deputados e, mais freqüentemente, em grandes
reuniões mundiais com a chegada da globalização. Ela não se difere tão somente nas
áreas em que é requisitada, mas também na linguagem utilizada pelo intérprete, no
público alvo e no seu propósito.
As interpretações oferecidas no mercado de trabalho atualmente são:
interpretação consecutiva, interpretação sussurrada e interpretação simultânea. Os
intérpretes também podem atuar como intérpretes juramentados, intérpretes de
conferência, intérpretes acompanhantes, intérpretes de negócios (liaison), guia-
intérpretes, intérpretes em áreas da saúde, tecnologia, entre outras, e intérpretes de
língua de sinais.
De acordo com o site do SINTRA7, em julho de 2007, existiam 274 intérpretes
filiados com especialização em tradução simultânea/ consecutiva de inglês para
português e 203 de português para inglês em todo o Brasil.
7
SINTRA – Sindicato Nacional dos Tradutores.
Fase da audição
- O esforço da escuta.
- O esforço da produção escrita (anotações, não apenas a anotação traduzida do
discurso).
- O esforço da memória a curto-prazo (armazenar a informação até ser anotada).
Fase da reformulação
8
Termo utilizado na interpretação simultânea para designar o colega de cabine.
Libras9. Nesse exemplo, quando um dos surdos fez perguntas ao palestrante, o intérprete
traduziu da Libras para o português oral. Outro exemplo da autora referia-se a um
deficiente auditivo da França que visitava o Brasil, mas que não conhecia a Libras.
Quando isso aconteceu e ninguém conhecia a LSF (Langue des Signes Française -
Língua de Sinais Francesa), o intérprete que dominava as duas línguas sinalizadas
precisou ser contratado.
9
Sigla mais popular de língua brasileira de sinais.
Capítulo 3
Capítulo 3
e ‘texto’, pois embora seja possível traduzi-los, o processo tradutório para cada um é
diferente.
Se tomarmos a frase “Did you take it?” como exemplo e a analisarmos no nível
da linguagem, na semântica o significado de cada palavra no português será:
Did = Não há tradução (auxiliar inglês), passado simples do verbo ‘do’, marca apenas o
tempo verbal;
You = Você, vocês;
Take = tomar, pegar, alcançar, agarrar, prender, capturar, apropriar-se, arrebatar,
arrancar, levar, receber (como pagamento), aceitar, obter, adquirir, tomar, comer, beber,
engolir, consumir, ganhar, apanhar, contrair (doença)...
It = objeto indefinido em expressões idiomáticas, atrativo pessoal (feminino e
masculino), pronome etc.
3.2. O discurso
A busca por uma teoria da interpretação passou pela Lingüística, pela Psicologia
do Desenvolvimento, pela Neuropsicologia, pela Lingüística Comparativa, mas foi uma
combinação de disciplinas que ajudou a explicar como os intérpretes passam de um
discurso para outro. Entretanto, não era o bastante. Foi por meio de observações de
práticas reais que o campo da teoria da interpretação cresceu. Esses estudos mostram
que há diversos processos mentais.
Segundo Saussure (07 ago. 2007), o signo é uma combinação de um conceito
com uma imagem sonora. O signo lingüístico consiste de um significado13 e um
significante14, que evoca um sentido em quem lê ou ouve. Ao ver o signo ‘casa’, por
exemplo, a pessoa relaciona o seu som à imagem da casa que lhe foi apresentada
quando criança. Portanto, para ele, esse pode ser o primeiro significado que vem à
cabeça ao visualizar esse signo.
Na desverbalização, entendemos o discurso que nos foi transmitido, mas não
memorizamos sempre as palavras utilizadas. “Os signos do discurso desaparecem com o
som da voz, mas os destinatários – e o intérprete – mantêm uma memória
13
A idéia formada, a imagem que se tem em mente.
14
Parte concreta do signo, como sons ou letras, perceptível por meio dos sentidos.
desverbalizada, uma consciência das idéias e dos fatos evocados.” (LEDERER, 2003,
p.12, tradução nossa)15
A desverbalização é um processo cognitivo comum a todos. Quando a
informação sensorial desaparece, transforma-se em pequenas partes de informação, não
mais revestidas de sua forma concreta. A memória cognitiva é a responsável pela
retenção das partes de informação.
Logo, quando a interpretação simultânea foi introduzida, muitos intérpretes de
consecutivas temiam se candidatar para trabalhar, pois acreditavam que intérpretes
simultâneos possuíam memórias fenomenais. Mas não era esse o caso. Os profissionais
dessa área, da mesma forma, utilizam-se de mecanismos mentais para procurar entender
o discurso primeiramente, antes de reformulá-lo. Ao reter o que foi entendido, enquanto
as palavras desaparecem, o intérprete não fica preso a uma única palavra, pois se assim
o fizer demorará demais nesse termo e perderá o sentido geral do trecho. Nesse caso,
quando o termo for desconhecido, não precisa se desesperar; basta apenas redobrar sua
concentração para captar o sentido dentro do contexto.
3.3.1. O sentido
15
Texto original no anexo B, p. 93.
16
Texto original no anexo B, p. 93.
[...] Para que o sentido seja produzido deve haver uma associação entre uma
idéia não-verbal e um signo semiótico (podendo ser uma palavra ou um
gesto, não importando a natureza do que se percebe) [...]. A recepção do
sentido exige uma ação deliberada por parte do destinatário. Assim, uma
cadeia de palavras torna-se um conjunto de indicadores determinados pelo
orador [...] por meio da língua e reconhecidos [...] pelo ouvinte [...]
(SELESKOVITCH, 1976, apud LEDERER, 2003, p. 15, tradução nossa)17
3.3.2. A compreensão
17
Texto original no anexo B, p. 93.
Em suma, o intérprete ouve o tempo suficiente para que a soma das palavras se
torne uma unidade de sentido. Nesse momento as palavras ouvidas individualmente
perdem seu significado original e agora fazem parte do todo da unidade de sentido. No
segundo seguinte da última palavra ouvida, o intérprete já está criando novas unidades
de sentido que irão se somar à unidade de sentido anterior, cujas palavras novamente
perdem seu significado individual. Dessa forma, as idéias significativas vão sendo
construídas gradualmente.
frases curtas poderão se encaixar em uma pausa feita pelo orador, aliviando a memória
do intérprete e a velocidade aplicada. Já as traduções de frases longas coincidem
parcialmente com o final de sua enunciação no original e parcialmente com o início da
seguinte.
Conforme o discurso é desenvolvido, os intérpretes costumam se adaptar ao
ritmo e ao estilo do orador, acelerando mais ou menos, deixando mais ou menos pausas.
Paneth (cf. 2002, p. 34) também confirma a verificação de que os intérpretes costumam
traduzir trechos curtos somente após o término de sua enunciação no original, ao
contrário de trechos longos. Muitas vezes, quando o discurso é reduzido em volume o
intérprete pode até terminar antes do orador, o que ocorre no caso de previsões de
clichês e estruturas gramaticais, por exemplo.
Já outros intérpretes preferem o método na qual trechos inteiros de (1), (2), (3),
etc, ficam para trás antes de começar a traduzir. Isso quer dizer que ele já ouve a parte
(4) enquanto ainda enuncia (1), (2) e (3). Nesse caso, ele prefere compor um
pensamento mais completo antes de se pronunciar, o que ajuda no caso de a parte (4) ser
tão comprida que não haveria tempo suficiente para pausar a fim de terminá-la. Aqueles
capazes de falar rapidamente utilizam suas pausas para oferecer mais opções de
vocabulário ou elucidar trechos, tornando o discurso mais claro e rico.
Vale notar que a velocidade com que o intérprete é capaz de produzir o discurso
traduzido não deverá interferir em sua clareza e depende em grande parte das línguas
envolvidas, pois umas podem ser muito mais prolixas do que outras.
Capítulo 4
Capítulo 4
18
Sistema de interpretação indireto.
Há quem afirme que todo intérprete nasce com o dom para a sua profissão.
Porém, qualquer pessoa dedicada e comprometida que adquira conhecimento e prática
suficientes pode se tornar apto para o trabalho. Pagura (2001, p. 12) afirma que esse
profissional deve se concentrar na língua oral de forma a compreender as sutilezas das
vogais e consoantes inglesas, os modelos de entonação e o sentido em suas diversas
formas. Além disso, deve apurar o ouvido para o inglês falado por americanos, sejam do
Texas ou do Alabama, por ingleses, sejam de Londres ou Liverpool, e também por
árabes, alemães, franceses e até mesmo brasileiros com muito sotaque que preferem
proferir a palestra em inglês. Sua língua A também não deve possuir marcas de sotaque
e expressões regionais e sua pronúncia deve ser a mais clara possível, com grande
dicção na enunciação de sílabas e terminações.
Sua personalidade influencia bastante sua prática assim como suas habilidades.
Esse profissional deve ser capaz de analisar e construir fatos e utilizar-se de sua
intuição, deve estar atualizado com o mundo, deve possuir agilidade de pensamento e
perspicácia (reação rápida, habilidade de adaptar-se sem atraso demasiado em relação
aos oradores, às situações e ao assunto), assim como deve possuir concentração, poder
de síntese, autocontrole, autoconfiança, mente aberta, voz agradável e habilidades de
oratória, interesse e curiosidade em assuntos e culturas diversos, tato e diplomacia.
No que se refere ao conhecimento profundo da língua, o intérprete deve, tanto
na língua ativa quanto na passiva, ser capaz de reconhecer e ativar sinônimos,
expressões idiomáticas, provérbios e citações. José Augusto Rodrigues20 afirma que
esse profissional deve estar sempre disposto a pesquisar, interessado no estudo de
diversas áreas e a par dos desenvolvimentos em praticamente todos os campos do
conhecimento humano, já que um dia poderá lidar com um discurso envolvendo novos
conceitos.
Fernando Santiago dos Santos21 reforça que o preparo anterior à conferência,
além de proporcionar mais confiança, ajuda a evitar futuros deslizes. Essa prática
possibilita o entendimento da discussão entre os especialistas da área e a desenvoltura
para se utilizar jargões e falar como eles. Esse preparo conta com: 1. informação sobre o
orador e contato para os esclarecimentos necessários; 2. identificação de termos que
devem ou podem ser mantidos na língua original; 3. verificação do equipamento de
som; 4. informação sobre qualquer mudança no discurso no dia do evento, assim como
os vídeos que serão utilizados e as piadas que serão contadas.
Também vale lembrar que, assim como qualquer outro profissional, o intérprete
deve obter treinamento específico para a realização de sua função, como uma formação
19
Texto original no anexo B, p. 93.
20
Formado em Letras na Universidade Católica de Santos, Rodrigues leciona inglês na escola de idiomas
Casa Branca e atuou como intérprete por dois anos consecutivos no Estados Unidos.
21
Formado em Biologia pela Unicamp, Santiago leciona inglês há 20 anos, é coordenador pedagógico do
colégio Positivus de Santos, fez curso de Tradução e Interpretação em São Paulo, atua como intérprete há
15 anos, fala inglês, espanhol, japonês, alemão, francês e italiano, mas tem como línguas de trabalho as
duas primeiras.
consecutiva contém todos os parâmetros do discurso e permite uma análise direta que
oferece conclusões claras do fenômeno da tradução:
22
Texto original no anexo B, p. 93.
for móvel. Além disso, a cabine deve ser bem arejada e à prova de som. 2. deve-se
sempre trabalhar em duplas, alternando-se a cada 30 minutos no máximo. 3. deve-se
solicitar, com antecedência, o envio de textos que serão lidos durante a apresentação,
assim como documentos e apresentações em Power Point.
Em suma, o Código de Ética, tão importante quanto às ferramentas de trabalho
do intérprete, deve fazer parte de seu dia-a-dia, já que é o mais valioso amparo legal
disponível atualmente.
Capítulo 5
Capítulo 5
è /, /ð/, /š/ e /ž/ que sempre ocorrem em posição final de palavra em inglês. A tendência
brasileira é a de acrescentar o som vogal /i/ após essas consoantes em final de palavra.
23
Schütz afirma que o erro fonético é aquele que causa apenas sotaque estrangeiro, podendo tornar o
falante cansativo ao nativo que o ouve. (vide referências bibliográficas).
24
Schütz afirma que o erro fonológico é aquele que pode causar mal-entendido na comunicação. (vide
referências bibliográficas).
Assim, se tomarmos como exemplo back [bæk], que significa “atrás”, back teria uma
sílaba extra [bæki]. Um outro problema envolve os sons /t/ ou /d/, em que o simples erro
fonético resultará em erro fonológico: eat (comer) [it] – each (cada) [it ]; cat (gato)
[kæt] – catch (pegar) [kæt ]; hat (chapéu) [hæt] – hatch (o chocar de um ovo) [hæt ].
Ainda há muitos outros equívocos fonológicos: o caso da retroflexa /r/ do inglês ser
substituída pela fricativa glotal /h/ do inglês resulta em erros como right (certo, direita,
etc.) [raIt] – height (altura) [haIt], a pronúncia errônea das fricativas /s/ e /z/ finais como
no caso da palavra eyes (olhos) [aIz] ser pronunciada como ice (gelo) [aIs], a tendência
de substituir as semi-consoantes /w/ e /y/ do inglês por /u/ e /i/, respectivamente,
causando problemas como year (ano) [yI r] – ear (orelha) [I r].
Muitas vezes o orador tem dificuldade em diferenciar certas palavras no singular
de sua forma no plural, pela proximidade lingüística de seus fonemas, como a diferença
entre man (homem) [mæn] e men (homens) [m n], por exemplo. O fonema /æ/ é
pronunciado em uma posição anterior baixa. A ponta da língua toca levemente a parte
traseira dos dentes da frente inferiores e a mandíbula é abaixada para proporcionar a
distância máxima entre a língua e o céu da boca. Já o fonema / / é produzido em uma
posição anterior média e sem movimentação ampla da mandíbula. Portanto, como
ambos fonemas são vogais simples, o que os diferencia é apenas a posição na cavidade
oral e o formato dos lábios, que ficam um pouco mais abertos ao pronunciar [æ]. Essa
semelhança também pode ser encontrada na pronúncia de bad (mau, ruim, etc.) [bæd] e
bed (cama) [b d] e é o que se chama de minimal pairs25.
Como proposto anteriormente, todo intérprete deve apurar o ouvido para
compreender pronúncias diversas. Algumas diferenças na pronúncia americana e
britânica aparecem na tabela a seguir:
AM BR
[r] omissão de [r]
work [w rk] [w3:k]
[t] sonoro e [i] [t] surdo e [I]
pretty [ phrIti] [ phrItI]
[OU] [ U]
boat [bOUt] [b Ut]
25
Palavras com significados distintos que possuem os mesmos sons com apenas 1 fonema diferente na
mesma posição da palavra, como em mat/sat e pen/pan.
AM BR
coals [kOUlz] [k Ulz]
curls [k rlz] [k3:lz]
joke [ OUk] [ Uk]
Deve-se ter familiaridade não somente com a língua estrangeira com marca de
sotaque, mas também com as variantes que um fonema oferece em um mesmo país.
Existem termos como direct (dirigir, apontar, direto, etc.) e data (dados) que aceitam
duas ou mais pronúncias: direct [dI r kt] ou [daI r kt] e data [ deIt ] ou [ dat ]. Por não
saber qual pronúncia o orador utilizará, vale conhecer todas as formas fonéticas que um
termo pode apresentar a fim de reconhecê-lo.
A velocidade muitas vezes sobrecarrega o intérprete, que acaba cometendo erros.
Veja um caso que ocorreu durante uma aula de interpretação na qual os alunos do curso
de Tradução e Interpretação ouviam um discurso sobre literatura norte-americana e o
professor citou a expressão free verse [fri v rs]. Devido à semelhança fonética e a
rapidez com que a expressão foi pronunciada, houve um erro de compreensão e
entenderam fevers [ fiv rz]. Como estranharam o termo fevers (febres) no contexto,
optaram por omiti-lo.
Há também o caso da interferência fonética que ocorre quando o intérprete
possui domínio quase equivalente entre a LP e a língua-mãe, fato que interfere na
interpretação. Por tais razões, o intérprete acaba emitindo o que se chama de
shadowing26, ao invés de traduzir o termo ou a expressão para a LC. O intérprete pode
até mesmo misturar as duas línguas, como nos casos 1 e 2 coletados: no caso 1, o termo
na LP era including e foi traduzido como “includindo” e no caso 2, a expressão era tell
me que foi repetida sem nenhuma tradução na LC por soar muito natural para o
intérprete.
26
Repetição de termos da LP na LC, pronunciados “simultaneamente” com o discurso original.
Sua justificativa é que o intérprete foi induzido ao erro pelo tom grave com que
o orador pronunciou sua opinião sobre aquela pessoa, em contraposição ao tom
esperado, já que se tratava de um julgamento extremamente positivo. Nesse caso foi a
ajuda do concabino que ajudou a evitar o erro e fez com que o intérprete reconsiderasse
o que seus ouvidos lhe diziam, utilizando o raciocínio lógico.
Outras vezes o orador fala de uma terceira pessoa utilizando-se de um termo no
inglês que não possui flexão para diferenciar o gênero masculino do feminino. Termos
como teacher Baker, que vêm acompanhados do sobrenome da pessoa, podem causar
equívocos quando o intérprete tiver de optar por um gênero. Caso escolha o masculino,
por exemplo, pode mais tarde descobrir, por meio de pronomes como her e she, que se
trata de uma professora, ferindo uma expectativa.
Nosso cérebro conta com uma vasta carga subconsciente, de grande auxílio na
interpretação simultânea. Muitas vezes um termo fere a expectativa com relação ao
contexto, pois “algo soa errado”, então o intérprete opta por omitir o termo não
compreendido na primeira vez que ouve, mantendo o discurso coerente da melhor forma
possível, redobrando sua atenção na segunda vez que o termo for citado, traduzindo-o
então para a LC.
Um outro caso coletado foi o problema de nome próprio e substantivo. O orador
discursava sobre uma história de cachorros e citava-os em uma seqüência. Ao
pronunciar a palavra pig inesperadamente, o intérprete ficou confuso se esse seria um
nome próprio ou se um novo personagem, um porco, entrava na história. A decisão
tomada, sob pressão do tempo, foi traduzir como um nome próprio, porém, ao perceber
O erro nesse caso ocorre quando o intérprete pretende dizer um termo, mas,
devido à semelhança fonética com o termo pretendido na LC, acaba dizendo outro.
Certas palavras pertencem ao mesmo campo semântico, já outras apenas possuem um
som semelhante.
“maciez”, tendo que omiti-lo. Muitas vezes os termos parecem ser simples ao término
do evento, mas, como citado anteriormente, somente a prática fornecerá agilidade de
raciocínio. No segundo caso, a expressão forence guy (agente forense) apresentou
dificuldade ao intérprete por este não possuir um domínio lingüístico na área de
investigação criminal. Assim, não conseguiu encontrar o adjetivo adequado, traduzindo
a expressão como “agente forênsico”.
Há muitos outros casos: como o do termo heads of state, que também não
ocorreu ao intérprete, traduzindo-o como “cabeças de estado” quando no português seria
“chefes de Estado”. Há o caso de publisher que foi omitido por faltar a equivalência no
português. A linha de raciocínio do intérprete nesse exemplo foi lembrar do verbo
“publicar”, seguido de “publicador” que foi automaticamente excluído por não soar
natural, seguido da omissão do termo. Devido a uma associação de idéias, o intérprete
ficou preso à palavra da LP ao invés de buscar “editor” na memória.
O fato de o intérprete ter de conhecer suas línguas de trabalho deve-se às
exigências que enfrenta todos os dias. Ao deparar-se com preposições, ele deve estar
apto a distinguir o significado de termos acompanhados de to e for, por exemplo. Se o
adjetivo responsible estiver acompanhado de for significa ser responsável por algo ou
alguém, já responsible to significa ter de se reportar a alguém. Há também os verbos
acompanhados de preposições, podendo vir separados como put on e put away que
aparecem como put your coat on (coloque seu casaco) ou she put the plates away (ela
guardou os pratos), que exigem a atenção do intérprete para aguardar a preposição e
definir o significado do verbo.
Muitos verbos em inglês são detalhados na forma em que são executados, como
os verbos glance, look, glimpse, stare, etc. Outros são utilizados no inglês, mas não no
português, como o verbo nod que significa acenar com a cabeça demonstrando
aceitação ou concordância.
Outras vezes a dificuldade encontra-se na estruturação da sentença: a frase the
clothes were perfect ficou como “as roupas foram perfeitas”, mudando o sentido do
original. Aqui were possui duplo sentido (foram, ficaram); entretanto, de acordo com o
contexto, o termo adequado seria “ficaram”. Outra frase é I went to the clothing rental
place traduzida como “Eu fui ao lugar de alugar as roupas”, na qual a intérprete hesitou
um pouco ao perceber que, se continuasse a construir aquela estrutura, haveria
aproximação sonora dos termos “lugar” e “alugar”.
raining cats and dogs seja utilizada, deve-se avaliar se o orador teve a intenção de
utilizar uma expressão antiga, se a expressão “chovendo canivetes” será compreendida
pelo público alvo e se a mudança para uma expressão mais recente não acarretaria
mudanças de significado, no caso de uma piada, por exemplo.
5.1.9. Títulos
Capítulo 6
Capítulo 6
Os eventos escolhidos para a análise deste corpus foram a 79ª edição do Oscar,
realizado no dia 25 de fevereiro de 2007 em Los Angeles, Califórnia e o MTV Vídeo
Music Awards 2007 (VMA), realizado no dia 09 de setembro de 2007 em Las Vegas.
Os dois eventos tiveram como LP o inglês e como LC o português. Ambos tratam-se de
premiações no âmbito das manifestações artísticas (música e cinema) que são
direcionadas a diversas classes sociais. A análise será fundamentada à luz dos teóricos
abordados nesta monografia que compartilham da mesma opinião em relação à prática
dessa profissão.
O intérprete responsável pela interpretação do evento deve inteirar-se sobre a
história e os procedimentos dos eventos, assim como conhecer as pessoas relacionadas a
eles, as premiações e suas nomenclaturas em ambas as línguas. Os intérpretes
responsáveis pelos eventos analisados utilizaram a 1ª pessoa do singular no discurso,
visto que a 3ª pessoa poderia deixar as sentenças ambíguas e sobrecarregá-las com
pronomes relativos, possessivos e conjunções, diminuindo o impacto e a vivacidade do
discurso na LC. Ao falar na 1ª pessoa, o intérprete dispensa a citação freqüente de
nomes, já que o público conta com o recurso da imagem televisionada. Vale lembrar
que é muito freqüente um intérprete homem interpretar uma oradora mulher e vice-
versa, já que o intérprete costuma assumir o papel do orador sem causar nenhum
estranhamento a quem ouve. Em nenhum dos eventos analisados houve distinção de
gênero.
A 79ª edição do Oscar foi apresentada por Ellen Degeneres no Teatro Kodak em
Hollywood e foi transmitida originalmente pela rede norte-americana ABC, com
transmissão ao vivo no Brasil pelas emissoras Rede Globo de Televisão e TNT. A
Globo teve como responsável pela interpretação simultânea Elizabeth Hart27 e contou
com a participação dos comentaristas José Wilker e Maria Beltrão, que, por sua vez,
27
Elizabeth Hart faleceu no dia 29 de outubro de 2007, no Rio de Janeiro. A intérprete estreou na TV
Globo em 1981 e trabalhou na premiação do Oscar durante anos, destacando-se pela pronúncia e
entonação corretas.
alternava-se com a intérprete. O canal TNT teve Regina McCarthy como a responsável
pela interpretação simultânea e contou com a participação do crítico Rubens Ewald
Filho, que alternava com McCarthy durante a interpretação, e da repórter Maria
Cândida.
O VMA 2007 foi realizado no Palms Casino Resort em Las Vegas. O evento foi
originalmente transmitido pela MTV norte-americana, com transmissão ao vivo pela
MTV brasileira. O intérprete responsável pelo evento foi Mario Peixoto, que trabalhou
sem a ajuda de nenhum outro intérprete.
Nossa análise visa as causas dos erros observados mais freqüentes em
interpretações simultâneas. Comparamos as decisões tomadas pelos intérpretes da
Globo e da TNT até o Caso nº. 20 com a finalidade de analisar o raciocínio dos
profissionais que levou às decisões assim como os fatores mais problemáticos. A partir
do Caso nº. 21, apresentaremos apenas as versões do original e da Globo devido à
interrupção da gravação transmitida pela TNT. Os vídeos encontram-se disponíveis ao
final deste trabalho e os capítulos das cenas analisadas são apresentados no Anexo C.
Ao apontarmos os erros, tomaremos como base somente as teorias abordadas
nesta monografia e o contexto no qual as sentenças em questão se inserem, uma vez que
não foi possível um contato prévio com os autores das interpretações para que
explicassem as decisões tomadas.
1. Reticências entre colchetes [...] – utilizado para toda hesitação e pausa feitas pelos
intérpretes indicando reflexão;
2. Interjeições entre colchetes [eh...], [ahn...] – para indicar as interjeições que indicam
reflexão do intérprete;
Caso nº. 1
(Bub Asman):
who, in time of crisis, que, sempre no momento que, numa época de crise
have all made that decision das crises decidiram tomaram essa decisão de
to defend their personal defender a sua liberdade defender a nossa liberdade
freedom and liberty, no pessoal [...] a qualquer [eh...] a custa de todo
matter what the sacrifice sacrifício sacrifício
Devido ao fato de freedom e liberty poderem ser traduzidos pelo mesmo termo
em português, “liberdade”, ambos os intérpretes optaram por generalizar.
Um dos fatores problemáticos explicados por Quental (2006, p. 31) ocorrente
nesse caso foi a semelhança fonética entre sacrifice e “sacrifício”, que levou ambos os
intérpretes a decidir pelo segundo, muito embora soasse mais natural como “a qualquer
custo” ou “a qualquer preço”.
Caso nº. 2
(Michael Minkler):
There’s no way I’m going Eu não vou conseguir fazer Não vou conseguir falar
to be able to do this by isso só [eh...] de cor isso de memória
memory, so…
intérprete apresentou a interjeição [er...] que indica sua reflexão, seguida da escolha do
termo mais adequado, “de cor”.
Caso nº. 3
(Ellen Degeneres):
Earlier in the show you Nós vimos a estatueta já e Vocês viram, eles
saw that we created an vamos estar interpretando recriaram uma estatueta do
Oscar statue and [ahn...] várias cenas de Oscar e durante o show
throughout the night they’ll vários filmes. eles vão interpretar alguns
be interpreting some of the dos filmes indicados do
year’s nominated films. ano.
Caso nº. 4
(Leonardo Di Caprio):
So Mr Gore we’ve got a So, ENTÃO, Sr. Gore, Mr Gore, tem muita gente
big crowd out here tonight, você viu que grande é a aqui hoje.
even a bigger one at home, nossa platéia. Você quer
is there anything you might anunciar alguma coisa, Alguém que você queira
wanna announce? alguma candidatura? destacar?
Caso nº. 5
Caso nº. 6
(Leonardo DiCaprio):
Caso nº. 7
(Leonardo DiCaprio):
Caso nº. 8
(Leonardo DiCaprio):
Now, are you sure, are you Agora, você tem certeza, Você tem certeza de que
positive, that all this hard positivamente, que você este trabalho não te
work hasn’t inspired you to não tá inspirado a fazer inspirou a fazer outro tipo
make any other kind of nenhum anúncio... de comunicado ao mundo?
major, major
announcement to the world
here tonight?
Caso nº. 9
(Al Gore):
Caso nº. 10
(Ellen Degeneres):
Well, because the show is Como esse programa hoje é Porque esse show é
green… verde ecológico
Caso nº. 11
(Cameron Diaz):
Caso nº. 12
(Ben Affleck):
There’s an old adage [ahn...] Existe um antigo Tem uma velha frase
dito
Caso nº. 13
First, admit that you are Primeiro você tem que Primeiro, admite, admita
powerless over alcohol and admitir que você não é um que você não tem o menor
your life has become alcoólatra poder contra o álcool,
unmanageable passo segundo,
Não, Tom, Tom e não,
Step 2
no outros términos dos Não, esses são os passos
(Helen Mirren ): Alcoólatras Anônimos. errados
(Tom Hanks):
oradores não demonstrou essa sobreposição, uma vez que os trechos abordados foram
pronunciados rapidamente, sem pausa, tornando difícil a compreensão para os
telespectadores. Também não há equivalência com o texto original e falta coesão na
tradução da segunda fala de Tom Hanks.
Caso nº. 14
(Ellen Degeneres):
I’ll be selling at the Eu vou estar vendendo Eu vou vender isso aí nos
backstage later or on Ellen essa, [...] esses negócio bastidores
TV.com a little later on. aqui ou então na TV.com
no (Ebay)
Caso nº. 15
(Anne Hathaway):
Why don’t you say? Fala você, que você com o Tudo soa melhor com o
Everything sounds better acento britânico fica mais sotaque [...] inglês.
with the British accent. bonito.
Segundo Quental (2006, p. 31), pode-se afirmar que houve semelhança fonética
do termo accent na Globo. O termo foi traduzido por “acento”, que é muito próximo da
LP, causando estranhamento ao telespectador.
Caso nº. 16
Caso nº. 17
que deveria ser substituído por “desse”, já que o verbo “participar” pede a preposição
“de”.
Caso nº. 18
Tonight we’re gonna take a Hoje a gente vai tirar um Hoje vamos ((diz algo
moment to acknowledge a momento para homenagear como “pegar” muito baixo,
humanitarian uma pessoa de serviço mas interrompe sua fala))
humanitário levar um momento para
reconhecer uma filantropa
Caso nº. 19
(Gwyneth Paltrow):
Caso nº. 20
(John Knoll):
Bill Nighy, thanks for Bill Nighy, agradecemos Bill Nighy, obrigado por
being such a wonderful por ter sido um parceiro criar este personagem
partner and creating this enorme, fantástico e por ter
character criado o roteiro
Caso nº. 21
Discurso Original Globo
(Jodie Foster):
In art and in life we seldom mention Na vida, na arte e na vida geralmente
comedy without tragedy, laughter without mencionamos comédia sem tragédia,
tears, joy without sorrow. felicidade sem lágrimas, tristeza sem dor.
Caso nº. 22
Discurso Original Globo
(Philip Seymour Hoffman):
Hi. Five leading roles, five limitless Hello. OI. Cinco grandes papéis, cinco
actresses. Here are the nominees for atrizes ilimitadas. Vamos diretamente às
actress in the leading role. indicadas a principal papel de atriz.
Caso nº. 23
Discurso Original Globo
(Ellen Degeneres):
Wait. Hold on. Somebody dropped their Alguém deixou cair esse, esse papelzinho,
rolling papers. Oh! The band. Here you esse rolinho de papel aqui. Ah! É alguém
go. da orquestra aqui, ó lá.
Nesse caso, a apresentadora faz uma piada ao iniciar o novo bloco do programa.
Quando ela encontra no chão rolling papers, que afirma ser da orquestra, a platéia ri,
pois a expressão refere-se a papéis de enrolar fumo. Houve perda de conteúdo na
tradução da expressão por “papelzinho” e “rolinho de papel”, pois não causou nos
telespectadores o mesmo efeito cômico. Para que tal efeito continuasse válido, o
intérprete deveria ter explicitado o tipo de papel e sua funcionalidade, dizendo algo
como “papelzinho de fumo”.
Caso nº. 24
Discurso Original Globo
(Forest Whitaker):
When I was a kid, the only way that I saw Quando eu era criança, eu só via filmes no
movies was from the back seat of my banco de trás do carro da minha família,
family’s car (at the) drive in. It wasn’t my num drive in. Essa era a minha realidade,
reality to think I would be acting in então eu achava [...] que [...] algum dia eu
movies. estaria no cinema.
Conforme Quental (2006, p. 31) explica, houve uma expectativa frustrada nesse
caso. Ao afirmar it wasn’t my reality (não era minha realidade), o intérprete traduziu a
sentença como uma afirmativa “essa era minha realidade”. Ao ouvir que o orador
somente assistia a filmes no banco de trás do carro de seus pais, ele quis afirmar que
essa era a realidade dele.
O orador faz uma inversão em sua fala, iniciando a frase com uma oração
negativa, que na ordem direta seria thinking I would be acting in movies wasn’t my
reality, que significa “pensar que um dia estaria atuando não era minha realidade”. Ao
invés de aguardar a unidade de sentido toda, o intérprete começa com uma oração
afirmativa e perde o início da frase. Sua expectativa é frustrada em relação ao final da
frase, pois houve perda da linha de raciocínio do orador. Para manter a coesão de seu
discurso, o intérprete utiliza a conjunção conclusiva “então” e acaba cometendo um erro
ao continuar afirmando. Há mudança de significado ao dizer que o orador imaginava
atuar quando na realidade, era o contrário.
Caso nº. 25
Discurso Original Globo
(Martin Scorsese):
Leo DiCaprio, six-and-a-half-year’s work Leo DiCaprio, já é a sexta vez que nós,
we’ve done together, I hope, another 12, aliás, por 6 anos já trabalhamos juntos,
another 15. espero que sejam mais 12, mais 16.
Caso nº. 26
Discurso Original Globo
(Martin Scorsese):
and our little Francesca who is 7 years e à pequena Francesca, que tem 7 anos,
old, who’s watching right now. Francesca, tem 7 anos, e está vendo, e pode ver
stay up for another 10 minutes but then, bastante, mas pula bastante e vai dormir
jump up and down, make a lot of noise in depois disso no hotel.
the hotel, ok?
Caso nº. 1
Discurso Original Interpretação MTV brasileira
(Seth Rogen):
I know what you’re thinking. These Eu sei o que vocês estão pensando: se as
people are already rich and successful. pessoas já são ricos e cheios de sucesso,
Why would I bother voting for them and por que que eu vou me preocupar em
making their lives even better? votar pra eles e transformar a vida deles e
deixar melhor ainda?
Caso nº. 2
Discurso Original Interpretação MTV brasileira
(Apresentadora):
Please welcome the new R&B royalty Favor dê as boas vindas à nova estrela de
Robin Thicke and Oscar winner Jennifer R&B e o vencedor do Oscar, Jennifer
Hudson. Hudson e Robin Thicke.
Caso nº. 3
Discurso Original Interpretação MTV brasileira
(Robin Thicke):
LC. O intérprete utilizou o termo “topo”, que possui uma semelhança fonética com o
termo top (topo). Nesse caso, a expressão poderia ser traduzida como “estão no auge”.
Caso nº. 4
Discurso Original Interpretação MTV brasileira
(Shia LaBeouf):
I’ve been fortunate enough to know what Eu tive muita fortuna de saber o que é ter
it’s like to have a great year. um ano incrível.
Considerações
Finais
Considerações Finais
Referências
Bibliográficas
Referências Bibliográficas
AIIC. Basic tools for a future professional conference interpreter. Disponível em:
<http://www.aiic.net/Vega/en/estudante/estudante2.html>. Acesso em: 2005.
BAIGORRI-JALÓN, Jesús. Bridging the Language Gap at the United Nations. United
Nations Chronicle Online Edition, v. 37, n. 1.2000. Disponível em:
<http://www.un.org/Pubs/chronicle/2000/issue1/0100p84.htm>. Acesso em: 30 abr.
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<http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/4453790.stm>. Acesso em: 28 out. 2007 às 20h10.
PAGURA, Reynaldo. Translation and Interpretation: two sides of the same coin? Braz-
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PEREIRA, Maria Cristina Pires. Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais – TILS. Jul.
2004. Disponível em: <http://www.interpretels.hpg.com.br/>. Acesso em: 17 jul. 2007,
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Vídeos utilizados
VIDEO MUSIC AWARDS 2007. Palms Casino Resort, Las Vegas: Music Television
(MTV), 09 set. 2007.
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Bibliografia
Consultada
PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
89
Bibliografia Consultada
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HATIM, Basil; MASON, Ian. Discourse and the translator. Nova Iorque: Longman
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INFANTE, Ulisses. Curso de gramática aplicada aos textos. 5. ed. São Paulo: Editora
Scipione, 1996. 576p.
LIMA JR, Ronaldo Mangueira. Helping Brazilian Portuguese Speakers Refine their
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LUCCARELLI, Luigi. Letter from the Editor: The Craft of Interpreting. 2004.
Disponível em: <http://www.aiic.net/ViewPage.cfm/page1398.htm>. Acesso em: 2005.
MENEZES, Tarcilla Sodré Burginga; Sousa, Michelle Reis de. Interpretação na Mídia:
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SCHÜTZ, Ricardo. Falsos conhecidos: false friends. 05 maio 2006. Disponível em:
<http://www.sk.com.br/sk-fals.html>. Acesso em: 03 out. 2007 às 22h12.
WOODING, Martin. The notion of an international language and the case of English.
2002. Disponível em: <http://www.aiic.net/ViewPage.cfm/page731.htm>. Acesso em:
2005.
Anexos
28
Imagem retirada do website da BBC News (vide referências bibliográficas).
29
Texto original no anexo B, p. 93.
skill but also as a productive one. Interpreters usually have to switch language directions
as quickly as a question is asked and its answer is given.”
Análise do Oscar