Sie sind auf Seite 1von 97

1

DÉBORA DE MENDONÇA LAGE

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS

AS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELO INTÉRPRETE SIMULTÂNEO:


UMA ANÁLISE DE CASOS E UMA PROPOSTA DE ESTUDO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como exigência parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Tradução
e Interpretação à Universidade Católica de
Santos.

Orientadora: Profª. M.Sc. Carlota Frances


Williams Lopes

SANTOS – 2007

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


2

DÉBORA DE MENDONÇA LAGE

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS

AS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELO INTÉRPRETE SIMULTÂNEO:


UMA ANÁLISE DE CASOS E UMA PROPOSTA DE ESTUDO

Banca Examinadora:

__________________________________________________________________
Profª. M.Sc. Carlota Frances Williams Lopes
Professora Titular Universidade Católica de Santos

__________________________________________________________________
Prof. Me. José Martinho Gomes
Professor Titular Universidade Católica de Santos

SANTOS – 2007

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


3

Dedicatória

O presente trabalho é dedicado aos meus pais, que sempre me incentivaram nos estudos
e no aprendizado de outras línguas e aos meus professores, que me ensinaram muito ao
longo dos anos e confiaram em meu trabalho.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


4

Agradecimentos

Agradeço primeiramente à minha família, por todo o apoio durante os quatro anos, pelas
leituras infindáveis a cada término de capítulo, pelas dicas preciosas e a paciência
despendida nos momentos mais complicados. Agradeço à professora mestra e
orientadora Carlota Frances Williams Lopes, pelo apoio na escolha do tema e na
confiança em meu trabalho e cujo estímulo e opiniões durante todos esses anos
tornaram esse trabalho possível. Agradeço também ao professor mestre José Martinho
Gomes, por ter aceito fazer parte da banca examinadora e por todo o apoio e dedicação,
assim como as horas e fins de semana dispensados com as gravações do corpus e a
prontidão com que sempre me ajudou nos momentos que precisei. Agradeço a todos os
docentes do curso de Tradução e Interpretação, que me abriram as portas do
conhecimento e me estimularam a seguir essa profissão e a me dedicar às línguas.
Agradeço também os intérpretes José Augusto Rodrigues e Fernando Santiago dos
Santos pela presteza com que se propuseram a realizar as entrevistas para esta
monografia e pelas valiosas dicas que certamente a enriqueceram e pelo estímulo dado
aos meus estudos para que um dia eu alcance meus objetivos. Por fim, agradeço a todos
os meus amigos de classe, que caminharam comigo durante os quatro anos e com quem
aprendi muito. Agradecimentos especiais a João Paulo Sorensen de Moura e a Bruno
Amorim de Sá, pelo tempo dedicado às gravações dos vídeos originais.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


5

LAGE, Débora de Mendonça. As dificuldades enfrentadas pelo intérprete simultâneo:


uma análise de casos e uma proposta de estudo. Santos, 2006, 96p. Trabalho de
Conclusão de Curso de Tradução e Interpretação da Universidade Católica de Santos.

Resumo:

Desde muito cedo na história, a presença do intérprete faz-se indispensável. Com uma
demanda maior de intérpretes no mundo globalizado em que vivemos hoje, essa
modalidade vem crescendo nas mais diversas áreas do saber. Conseqüentemente, o grau
de conhecimento e precisão do profissional deve atender às exigências do mercado. Este
trabalho tem como objetivo apontar e justificar os fatores que mais induzem o intérprete
ao erro ao analisar um corpus formado por eventos renomados como o Oscar e o Video
Music Awards. Por meio de observação das experiências de intérpretes qualificados,
apresentamos uma proposta de estudo a todos aqueles que tiverem interesse na
modalidade, a fim de que futuros deslizes possam ser evitados ou amenizados.

Palavras-chave: Intérprete, interpretação, interpretação simultânea.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


6

LAGE, Débora de Mendonça. As dificuldades enfrentadas pelo intérprete simultâneo:


uma análise de casos e uma proposta de estudo. Santos, 2006, 96p. Trabalho de
Conclusão de Curso de Tradução e Interpretação da Universidade Católica de Santos.

Abstract:

The presence of interpreters has proved to be essential since very early on world history.
The great demand for interpreters in the globalized world we live in today has caused
this modality to increase in the most diverse areas of human knowledge. Consequently,
the professional’s level of knowledge and accuracy must meet with market demands.
The goal of this paper is to indicate and justify the factors that most often lead the
interpreter to commit a mistake by analyzing a corpus taken from such well-known
events as the Oscar and the Video Music Awards. By observing qualified interpreters’
experiences, we offer a study proposal to whomever is interested in the modality, so that
future mistakes can be avoided or reduced.

Key-words: Interpreter, interpretation, simultaneous interpretation.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


7

ÍNDICE

INTRODUÇÃO.................................................................................................... 10
Capítulo 1
1.1. A Origem da interpretação................................................................... 13
1.2. O Tribunal de Nuremberg.................................................................... 16
1.2.1. O sistema de interpretação................................................................ 18
1.2.2. O recrutamento de intérpretes........................................................... 19

Capítulo 2
2.1. Modalidades de interpretação............................................................... 23
2.1.1. Interpretação consecutiva.................................................................. 24
2.1.2. Interpretação sussurrada.................................................................... 25
2.1.3. Interpretação simultânea.................................................................... 25
2.2. Áreas de atuação................................................................................... 27

Capítulo 3
3.1. Interpretação simultânea....................................................................... 31
3.2. O discurso............................................................................................. 33
3.3. O processo de interpretar...................................................................... 34
3.3.1. O sentido............................................................................................ 35
3.3.2. A compreensão.................................................................................. 36
3.3.3. Unidades de sentido........................................................................... 37

Capítulo 4
4.1. A formação do intérprete...................................................................... 41
4.1.1. As línguas de trabalho........................................................................ 41
4.1.2. As qualificações de um intérprete...................................................... 43
4.1.3. A formação acadêmica....................................................................... 45
4.1.4. Código de ética................................................................................... 46

Capítulo 5
5.1. Os fatores que comprometem a interpretação....................................... 49

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


8

5.1.1. O fator fonético.................................................................................. 49


5.1.2. A expectativa frustrada...................................................................... 53
5.1.3. A semelhança fonética....................................................................... 55
5.1.4. Falsos cognatos.................................................................................. 56
5.1.5. A interferência de estados.................................................................. 56
5.1.6. As dificuldades morfossintáticas....................................................... 57
5.1.7. As diferenças culturais....................................................................... 59
5.1.8. Citações e provérbios......................................................................... 60
5.1.9. Títulos................................................................................................ 60
5.1.10. Poemas e piadas............................................................................... 60
5.1.11. O caso dos números......................................................................... 61

Capítulo 6
6.1. Análise do Corpus................................................................................ 64
6.1.1. Análise do Oscar................................................................................ 65
6.1.2. Análise do Video Music Awards....................................................... 78

Considerações Finais............................................................................................. 82
Referências Bibliográficas.................................................................................... 85
Bibliografia Consultada........................................................................................ 89
Anexo A – Tribunal de Nuremberg (foto)........................................................... 93
Anexo B – Citações originais................................................................................ 94
Anexo C – Recursos audiovisuais........................................................................ 96

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


9

Introdução

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


10

Introdução

O mundo vive uma era de comunicação internacional. Os contatos profissionais


em diversas áreas vêm aumentando nesse aspecto, e como resultado, mais pessoas de
culturas e idiomas diferentes reúnem-se para discutir questões econômicas, políticas,
legais, culturais, técnicas, entre outras. Para que haja uma comunicação efetiva, ambas
as partes precisam falar a mesma língua ou contar com o auxílio de um mediador, o
intérprete. Este contribui para o entendimento entre povos e a criação de novas alianças
entre nações.
Com a velocidade das novas tecnologias e a globalização cada vez mais presente
no nosso dia-a-dia, faz-se necessário o emprego de interpretações simultâneas em
eventos internacionais que necessitem de rapidez e dinamismo. Desse modo, os
profissionais dessa área devem propiciar um trabalho de alta qualidade, buscando
sempre o aprimoramento de suas habilidades.
O presente estudo é teórico, mediante método dedutivo, partindo dos conceitos
teóricos e aplicando-os na análise do corpus por meio de utilização de recursos
audiovisuais.
Para os propósitos desse estudo, foram selecionadas cerimônias de premiação de
cinema e música (Oscar 2007 e Vídeo Music Awards 2007), que tiveram como língua de
partida o inglês e foram televisionadas e analisadas no português contrastando, sempre
que possível, exemplos de interpretação de mais de uma emissora. A escolha do corpus
deve-se à verificação da freqüência de fatores que interferem na interpretação e levam
ao erro. Por tratar-se de eventos nos quais há a presença de linguagem coloquial,
expressões idiomáticas, gírias, sotaques diversos e imprevistos, tal como piadas, a
freqüência de problemas de interpretação enfrentados pelos intérpretes é ampla, o que
exige do profissional agilidade, raciocínio rápido e adaptação constante.
Desse modo, esse trabalho pretende detectar os fatores que mais induzem ao
erro, esclarecendo suas causas e conseqüências, a fim de oferecer a todos que possuam
interesse na área uma perspectiva do trabalho realizado por intérpretes simultâneos, para
que, conscientes das dificuldades encontradas, possam evitar erros em suas próprias
interpretações ou utilizar os mecanismos estudados, visando sempre uma interpretação
de qualidade.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


11

A fundamentação teórica que orienta este estudo será a teoria de interpretação de


Danica Seleskovitch e Marianne Lederer. Também foram consultados autores, cujas
obras discorrem sobre a modalidade simultânea, que é o foco desta monografia.
Consta o trabalho de seis capítulos. No primeiro capítulo, um breve relato sobre
a origem da interpretação é apresentado, contando como o Tribunal de Nuremberg foi o
berço da modalidade simultânea e quais foram as dificuldades iniciais enfrentadas por
aqueles que tornaram essa modalidade possível.
No segundo capítulo, oferecemos uma breve exposição das modalidades que
constituem a profissão de intérprete, assim como os propósitos para os quais são
utilizadas e a área de atuação do profissional.
No terceiro capítulo, aprofundamos a modalidade simultânea, explicando cada
fase de que é constituída, abrangendo o discurso, o processo de interpretar, o sentido, a
compreensão e as unidades de sentido, para uma maior compreensão do processo
cognitivo que é realizado.
No quarto capítulo tratamos da formação do intérprete, no que se diz respeito às
línguas de trabalho, às suas qualificações e formação acadêmica, mostrando, dessa
forma, as exigências profissionais para um bom desempenho. Ao final do capítulo o
código de ética também será abordado de forma resumida para apontar a importância da
conscientização dos direitos e deveres do profissional.
No quinto capítulo, analisamos alguns casos nos quais os intérpretes podem
encontrar dificuldades, tomando como exemplo situações colhidas durante aulas de
interpretação e outras citadas por profissionais da área. Tais situações abrangem os
aspectos fonéticos, lingüísticos, culturais, psíquicos do intérprete e extrínsecos à língua
– em relação ao equipamento de som e à cabine.
No sexto capítulo, encontra-se a análise do corpus na qual, por meio de
exemplos extraídos dos eventos citados, a teoria estudada é aplicada. Todas as causas
que levaram ao erro detectadas nas interpretações são justificadas conforme a
abordagem feita no capítulo anterior.
Por último, oferecemos uma proposta de estudo, tendo em vista os problemas
encontrados com maior freqüência, a fim de auxiliar os futuros intérpretes ou quem já
atua na profissão em suas escolhas. Assim, ao contar com uma base teórica, estarão
mais preparados para evitar futuros deslizes.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


12

Capítulo 1

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


13

Capítulo 1

1.1. A Origem da interpretação

A interpretação é a atividade intelectual que consiste em facilitar a comunicação


oral entre duas ou mais pessoas que não falam a mesma língua. Para que ela aconteça
são necessários três componentes: o orador, o discurso e o intérprete. Estes devem ser
totalmente interligados e dependentes. A interpretação é um processo de decodificação
de significados e produção de valores, um processo que ocorre dentro de contextos
econômicos, políticos, históricos, sociais e culturais, diretamente relacionado ao mundo
em que os participantes vivem. Um dos propósitos da interpretação é aumentar e
melhorar a comunicação entre os povos e propagar a paz entre as nações.
Apesar dos termos “tradução” e “interpretação” serem aplicados aleatoriamente
no dia-a-dia para descrever a ação de transferir significados de uma língua para outra,
suas atividades são totalmente distintas. Tradução refere-se à transferência de
significados de texto para texto, normalmente escritos, gravados ou em linguagem de
sinais. Nela existe tempo suficiente para consultar dicionários, glossários e outras
fontes, portanto, seu grau de precisão é muito maior. Já a interpretação acontece in loco.
Por lidar com linguagem oral, existe muito pouco tempo para assimilar a informação
transmitida, traduzir para a língua de chegada, doravante LC, e reorganizá-la de modo
que o discurso seja coerente. Além disso, a pressão é muito maior já que todos os
conferencistas e clientes encontram-se presentes.
Desde os primórdios do Egito antigo, a importância da interpretação faz-se
presente. De acordo com Hermann (cf. 2002, p. 15), os templos e túmulos egípcios
possuíam inscrições diversas referindo-se a povos estrangeiros; entretanto, eles estavam
sempre em posições sociais mais baixas, como prisioneiros e vassalos. Os egípcios
consideravam-nos povos bárbaros e raramente transcreviam seus discursos originais,
colocando palavras na boca de estrangeiros e, assim, embutindo em seus discursos a
própria ideologia egípcia. Sob tais circunstâncias, os intérpretes não podiam agir como
mediadores lingüísticos. Começando no final do período das Pirâmides, tomamos
conhecimento do título e das atividades dos intérpretes em casos diversos. Eles
aparecem ao lado de mineiros e marinheiros como negociadores comerciais nas regiões
das minas de cobre na Península do Sinai, além de serem importantes na administração

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


14

central do Egito. Hermann (cf. 2002, p. 17) afirma que os egípcios possuíam métodos
sofisticados para superar a barreira lingüística: Herodotus relata que o Faraó
Psammetichus entregava meninos egípcios para os colonizadores gregos para que
aprendessem a língua grega. Assim, pode-se dizer que esses foram os primeiros recrutas
a entrarem para a classe de intérpretes. Ao invés de fazer estrangeiros aprenderem sua
língua, os egípcios mandavam seus representantes aprenderem as outras línguas, pois
assim garantiam que sempre seriam entendidos e nunca lhes faltariam intérpretes.
Para os gregos o termo “intérprete” ou “tradutor” significava uma pessoa que
age como Hermes1, que segundo a mitologia era um ser humano encarregado de
entregar as mensagens de Olympus ao mundo mortal. Já o equivalente latino é mais
realista, e representa a situação da pessoa interpretando. A despeito da palavra
“interpres” ser derivada de “inter-partes” ou “inter-pretium”, o termo designa o
mediador humano posicionado entre dois partidos ou valores, executando atividades
diversas, indo além daquela de proporcionar equivalentes lingüísticos em transações. Os
intérpretes eram freqüentemente recrutados pelos gregos para trabalhar na
administração, pois na Grécia estudava-se somente o latim.
Fora de Roma, a presença de intérpretes da administração da província foi
confirmada por pedras inscritas vindas das áreas de Budapeste e Maastricht. Confirmou-
se o uso de “army interpreters” em tempos remotos em diversos lugares. Eles eram
enviados para realizar transações em ambos os lados e todos confiavam neles, por isso
eram chamados de “vir sanctus”, um homem honesto.
Hermann (ibidem, p. 21) conta que foram muitas as ocasiões em que os
intérpretes apareciam no mundo antigo: antes de mudanças lingüísticas drásticas, tais
como aquelas em Roma no período do Papa Damasus I, os intérpretes eram recrutados
dos serviços religiosos. Por isso os monges gregos de Jerusalém e do norte da África,
que trabalhavam como mediadores lingüísticos, podem ser considerados os intérpretes
de conferência mais antigos do mundo oriental.
Atualmente, a interpretação relaciona-se a conferências internacionais.
Praticamente toda sala de conferência possui uma cabine de interpretação e as
instalações necessárias para a realização de eventos. Por ser extremamente necessária no
mundo globalizado em que nos encontramos, a prática da interpretação foi rapidamente

1
Hermes, mensageiro ou intérprete da vontade dos deuses.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


15

disseminada. Entretanto, ela ainda passa despercebida por muita gente e poucos
conhecem sua arte e importância na história da humanidade.
A profissão de intérprete é relativamente nova e data de menos de um século
atrás. Ela não era vista como uma profissão e era realizada por pessoas de diversas
áreas, tais como militares, diplomatas, secretárias e outras pessoas com conhecimento
em línguas estrangeiras. Nasceu por volta de 1920 quando algumas línguas, além do
francês, foram reconhecidas como línguas diplomáticas oficiais. A necessidade de
interpretação em conferências internacionais foi criada apenas durante a Primeira
Guerra Mundial, pois alguns negociadores dos Estados Unidos e da Grã Bretanha não
falavam o francês e precisavam de interpretação. Nessas reuniões um dos diplomatas
traduzia sentença por sentença o texto na língua de partida, doravante LP, para a língua
de chegada. Assim nasceu o primeiro tipo de interpretação consecutiva. Elas aconteciam
durante as sessões da Comissão do Armistício realizadas em francês, inglês e alemão.
Nessas sessões, interpretações frase por frase eram normalmente realizadas por
intérpretes do exército e liaison officers2.
A partir do momento em que os britânicos insistiram no reconhecimento do
inglês como língua diplomática oficial, qualquer questão podia ser discutida tanto no
inglês como no francês. Houve então a necessidade de se ter uma tradução oral, que
aumentou com a criação da Liga das Nações e da Organização Internacional do
Trabalho (OIT). Por se tratar de questões específicas, além das diplomáticas, foi
necessário o recrutamento de lingüistas especializados.
Para suprir essa necessidade de intérpretes profissionais qualificados nasce em
1941, em Geneva, a primeira Escola de Intérpretes.
A interpretação consecutiva e a interpretação ao pé do ouvido foram as primeiras
técnicas a serem utilizadas. Alguns grupos de delegados não falavam nem inglês nem
francês, então eles contavam com a ajuda de intérpretes que sussurravam a tradução dos
procedimentos e interpretavam o que diziam consecutivamente.
Apesar da vantagem do intervalo para a reflexão durante a interpretação, a
consecutiva começou a perder sua eficiência. Dessa forma, buscaram-se novos métodos
na época da Liga das Nações (1920-46): Edward Filene, executivo, Gordon Finlay,
engenheiro eletrônico; e Thomas Watson, presidente da IBM, introduziram um
equipamento especial que disponibilizava fones de ouvido, um sistema de microfones e

2
Oficiais do exército que trabalhavam auxiliando seus oficiais superiores, especialmente em casos em
que a interpretação fosse necessária.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


16

permitia ao intérprete ouvir o discurso e falar ao mesmo tempo sua tradução. Esse
equipamento chamava-se Filene-Finlay e era utilizado nas interpretações simultâneas e
nas leituras simultâneas de textos pré-traduzidos na Liga das Nações. A proposta
desenvolveu-se à medida que as inovações tecnológicas foram sendo acrescentadas a
ela, sendo finalmente testada na Conferência da Organização Internacional do Trabalho
de 1928. Por apresentar muitos problemas técnicos, o equipamento somente voltou a ser
utilizado em uma conferência internacional na Filadélfia em 1944, mas em condições
muito precárias, porque os intérpretes ficavam sob o palanque dos oradores, no subsolo,
ouvindo ruídos e tentando se adaptar ao equipamento ao mesmo tempo.
Segundo Baigorri-Jalón (30 abr. 2007), intérprete da Organização das Nações
Unidas (ONU), o sucesso que os intérpretes obtiveram nas conferências da Organização
Internacional do Trabalho de 1928 fez com que o processo da simultânea fosse adotado
pela OIT para suas conferências anuais. Entretanto, foi durante o Tribunal de
Nuremberg3 que a Interpretação Simultânea se destacou, pois um novo equipamento
teria de ser utilizado para a interpretação de várias línguas simultaneamente.

1.2. O Tribunal de Nuremberg

Apesar dos mais de 40 volumes publicados sobre o assunto, que abrangem


aspectos políticos, legais e históricos, nenhum menciona a criação desse campo da
interpretação. A interpretação simultânea aconteceu no sótão do Palácio de Justiça de
Nuremberg e foi extremamente importante para a realização do tribunal, pois sem ela
teria levado quatro vezes mais tempo.
Gaiba (1998, p. 26) relata que, em outubro de 1943, os representantes das 17
nações aliadas, exceto a União Soviética, encontraram-se em Londres e fundaram a
United Nations War Crimes Commission – UNWCC (Comissão de Crimes de Guerra
das Nações Unidas) que juntava provas e documentos para a elaboração de uma lista de
crimes. Eles estabeleciam as regras para a incriminação e a acusação dos criminosos de
guerra. Baseados nas regras, os representantes das nações aliadas, a Grã Bretanha, a
União Soviética, os EUA e o governo provisório da França, assinaram o Acordo de

3
Foto do Tribunal em sessão no anexo A, p. 92.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


17

Londres em 08 de Agosto de 1945, que continha os estatutos do Tribunal Militar


Internacional.
A promotoria resumiu em quatro pontos suas acusações: “1. Conspiração contra
a paz mundial; 2. Planejamento, início e condução de guerra; 3. Crimes e violações ao
direito de guerra; 4. Crimes contra a humanidade” (GESSAT, 1 maio 2007).
No dia 20 de novembro de 1945, iniciou-se o tribunal de crimes de guerra em
Nuremberg, na Alemanha, que julgou as atrocidades cometidas pela coligação entre
Hitler, Mussolini e, posteriormente, o Japão durante a Segunda Guerra Mundial.
Levou-se mais de 10 meses para terminar, com um total de 216 dias, chegando a uma
decisão no dia 1º de outubro de 1946. Segundo Gessat (ibidem), dentre os acusados
havia vinte e dois réus proeminentes, entre eles três do grupo de líderes mais próximos
de Hitler: Martin Bormann, que estava desaparecido desde o final da guerra, Hermann
Göring e Rudolf Hess, assim como os militares Keitel, Jodl, Raeder e Dönitz, e os
ministros Ribbentrop, Frick, Funk e Schacht. Além desses, a relação prosseguia: Alfred
Rosenberg, que comandava a região leste ocupada, Hans Frank, governador-geral da
Polônia, Arthur Seyss-Inquardt, comissário do Reich para a Holanda ocupada, Fritz
Sauckel, que distribuía os escravos do nazismo, e Albert Speer, que como ex-ministro
da Munição e das Armas recrutou vários trabalhadores forçados para as indústrias
alemãs do setor. Um dos poucos alemães admitidos como observadores no julgamento,
oferece seu depoimento:

Abertura – "O presidente do Tribunal abre a seção [sic]. Então, passa a


palavra ao principal promotor americano. Sua voz soa como se estivesse
distante. Os intérpretes murmuram atrás da divisória envidraçada. Todos os
olhos estão voltados para os acusados... Agora estão sentados, no banco dos
réus, a guerra, o pogrom, o rapto de pessoas, o assassinato em massa e a
tortura. Gigantescos e invisíveis, eles estão sentados ao lado das pessoas
acusadas", descreveu o escritor Erich Kästner4 suas impressões. (KÄSTNER
apud GESSAT, 1 maio 2007)

Antes do tribunal, um dos réus, Robert Ley suicidou-se em sua cela e Gustav
Krupp foi considerado impossibilitado de permanecer no tribunal devido à sua idade e
condições de saúde. Vinte e dois réus foram condenados à morte por enforcamento, três
foram condenados à prisão perpétua, quatro receberam sentenças de 10 a 20 anos e três
foram absolvidos.

4
Escritor alemão envolvido com política que assistia ao julgamento.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


18

Subseqüentemente, outras 185 personalidades alemãs foram levadas à corte em


doze tribunais entre dezembro de 1946 e março de 1949, realizados apenas em alemão e
inglês.
O Tribunal de Nuremberg teria levado muito mais tempo para realizar os
julgamentos se não tivesse utilizado a interpretação simultânea. Com esse sistema os
procedimentos eram realizados no mesmo tempo que uma conferência em apenas uma
língua levaria. Além disso, em uma corte o normal seria apenas uma pessoa falar uma
língua diferente daquela falada pelo juiz e todos os demais. Quando isso ocorre, o
processo é feito da seguinte maneira: um intérprete juramentado é contratado para sentar
ao lado da pessoa e interpretar ao pé do ouvido o que está sendo dito. Quando este fala,
o intérprete traduz simultaneamente ou consecutivamente ao microfone. Esse método
não poderia ser aplicado no Tribunal de Nuremberg, pois não havia apenas duas línguas
em jogo, mas quatro. Promotores e membros da bancada não se comunicavam na
mesma língua.
Para a realização do Tribunal, prometeram-se serviços lingüísticos
extraordinários. Desse modo, o equipamento utilizado na Liga das Nações foi
aperfeiçoado por Aurèle Pilon, um canadense, engenheiro de som e ex-piloto da Royal
Air Force.
Muitos não acreditavam que o trabalho simultâneo funcionaria, mesmo assim a
decisão foi tomada. Houve muitos obstáculos: a instalação apresentou alguns problemas
e o recrutamento de intérpretes foi incrivelmente difícil devidos à novidade e
dificuldade do trabalho.

1.2.1. O sistema de interpretação

Gaiba (1998, p. 68) conta que foram utilizados fones de ouvido, um sistema de
microfones, cabos e amplificadores. Todos os microfones possuíam um dispositivo para
ligar e desligar e eram conectados aos fones de ouvido por meio de cabos elétricos de
telefone. Muitos não estavam à vontade com os microfones. Os juízes às vezes
esqueciam de desligá-los e conversas confidenciais podiam ser ouvidas. Os advogados
tiveram de abandonar o hábito de interromper o discurso de outrem e aprender a

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


19

revezar. Justice Jackson5 já havia declarado que teriam de se organizar para a


apresentação das acusações de tal modo que somente uma pessoa usasse o microfone
por vez. Para controlar o acesso, havia uma pessoa que monitorava o som, ligando e
desligando-o de acordo com a necessidade. Ele devia estar sempre atento, pois a
movimentação era muito rápida. Ele também controlava o volume: algumas pessoas
falavam muito próximo ao microfone, ou alto ou baixo demais. Para que os intérpretes
fossem capazes de entendê-los, esse ajuste era extremamente necessário. Havia também
uma outra sala onde o técnico de amplificadores trabalhava.
Como mencionado anteriormente, houve muitos problemas: Gaiba (1998, p. 69)
conta que, diferentemente de outros prédios, o local era feito de alvenaria e os cabos que
costumavam passar por debaixo do chão tiveram de ficar visíveis, o que era motivo de
tropeços e desconexão – às vezes por horas – do sistema de som. Outras vezes ao
realizar reparos rápidos, os cabos eram conectados de forma errada. Ao serem cruzados,
quem deveria ouvir o discurso em francês, ouvia em alemão, por exemplo. Esses, entre
outros foram alguns dos desafios enfrentados.

1.2.2. O recrutamento de intérpretes

Os organizadores do experimento de 1928 foram os responsáveis tanto pelos


cuidados com o equipamento técnico quanto pelo treinamento dos intérpretes e do
processo de seleção. No caso da interpretação simultânea, um fato curioso foi que
quatro dos nove candidatos eram mulheres, o que já demonstrava a grande participação
feminina futura nessa profissão. Constatou-se que nenhum dos intérpretes consecutivos
da Liga quis participar do treinamento. Afirmavam que a interpretação simultânea não
funcionaria, pois, diferentemente da interpretação consecutiva, os intérpretes não teriam
o tempo necessário para refletir sobre a reprodução e, dessa forma, produziriam uma
tradução literal, apenas repetindo as palavras da LP na LC. Mas na verdade, temiam que
sua profissão perdesse o prestígio e que fossem ignorados, presos em cabines e
desconhecidos por não mais estar diante do público ao lado dos oradores, de igual para
igual. Por outro lado, a interpretação simultânea, além de proporcionar um debate mais

5
Robert Houghwout Jackson (1892-1954) foi promotor chefe dos EUA no Tribunal de Nuremberg.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


20

autêntico, com reações imediatas e poupar tempo e muito dinheiro, também


possibilitava o uso de todas as línguas oficiais.
Conforme afirma Baigorri-Jalón (30 abr. 2007), os veteranos da Liga
encontravam-se ocupados com a recém-criada Organização das Nações Unidas e quem
trabalhava na OIT ainda encontrava-se na ativa. Além disso, suas combinações
lingüísticas não serviam para o propósito. Assim, procuravam-se intérpretes entre uma
grande variedade de candidatos, na maioria expatriados de guerra. A seleção foi feita
sob extrema pressão por pessoas que não haviam praticado essa modalidade de
interpretação. A única exigência era que a pessoa fosse capaz de ouvir numa língua e
interpretar simultaneamente em outra. Havia muito pouco tempo para treinar os
canditados selecionados, que normalmente eram empurrados para dentro das cabines
quase imediatamente. Para muitos, o Tribunal de Nuremberg foi um centro de
treinamento para interpretação simultânea.
Para que o tribunal fosse justo e também para diminuir custos e tempo,
determinou-se que todos os procedimentos fossem traduzidos para uma língua que os
réus entendessem, no caso, o alemão. A dificuldade estava também na terminologia
legal adotada em alemão. As descrições dos crimes eram meticulosas e a tradução
deveria ser transmitida com muita cautela e precisão. Para que a justiça fosse mantida,
todos os réus deveriam ouvir e se comunicar na sua língua mãe para que pudessem
exercer seus direitos e não houvesse dúvidas. O mesmo valia para os promotores e
juízes ingleses, franceses, russos e americanos, que recebiam o discurso em suas
respectivas línguas maternas.
Inspirada pelo sucesso do Tribunal de Nuremberg, a Assembléia Geral das
Nações Unidas decidiu dar uma chance a esse novo módulo da Interpretação em 1946.
O Coronel Dostért, acompanhado de três jovens intérpretes de sua equipe, foi
transferido da Alemanha para esse propósito. O teste da décima quinta Comissão obteve
êxito e foi repetida na Assembléia Geral de 1947, na qual foi decidido que a
interpretação simultânea passaria a ser um serviço permanente, com poucas exceções,
como no caso do Conselho de Segurança das Nações Unidas, na qual ambas as
modalidades simultânea e consecutiva coexistiram por muitos anos.
A hostilidade inicial em relação à simultânea foi logo superada quando se
promoveu a unificação das modalidades em 1947. Civis que até a Segunda Guerra
trabalhavam como intérpretes se organizaram e criaram a Associação Internacional de

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


21

Intérpretes de Conferência (AIIC)6 em 1953 – reunindo mais de 2600 intérpretes


profissionais em 80 países.
A interpretação simultânea vem crescendo desde então e tomando seu lugar
dentre as organizações internacionais, tais como a Organização das Nações Unidas
(ONU), a União Européia, a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), a
Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), entre outras. Cada vez mais levantam-se
teorias e desenvolvem-se estudos em áreas como a Lingüística, a Fonética e a
Semântica, ampliando os horizontes da interpretação e proporcionando aos estudantes e
profissionais da área uma base teórica e uma variedade de técnicas de aperfeiçoamento.

6
Associação mundial de intérpretes de conferência fundada em 1953, com sede em Genebra, Suíça, com
o objetivo de representar a profissão e agir em nome de todos os intérpretes de conferência.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


22

Capítulo 2

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


23

Capítulo 2

2.1. Modalidades de interpretação

Por mais que a interpretação esteja cada vez mais presente na mídia, como em
apresentações do Oscar, mesas redondas com convidados internacionais, jogos como o
Pan-Americano e as Olimpíadas, existem muitas subdivisões dessa profissão ainda
desconhecidas. Como citado anteriormente, ela iniciou-se pela Tradução Consecutiva e
foi ganhando módulos específicos conforme surgiu a necessidade. Em seguida, com o
Tribunal de Nuremberg, ganhou novo foco com a estréia do sistema simultâneo de
interpretação.
A tecnologia foi se desenvolvendo e com ela a interpretação ganhou novos
rumos e públicos. Passou a ser requisitada em eventos não apenas internos como
externos, em viagens, na Câmara dos Deputados e, mais freqüentemente, em grandes
reuniões mundiais com a chegada da globalização. Ela não se difere tão somente nas
áreas em que é requisitada, mas também na linguagem utilizada pelo intérprete, no
público alvo e no seu propósito.
As interpretações oferecidas no mercado de trabalho atualmente são:
interpretação consecutiva, interpretação sussurrada e interpretação simultânea. Os
intérpretes também podem atuar como intérpretes juramentados, intérpretes de
conferência, intérpretes acompanhantes, intérpretes de negócios (liaison), guia-
intérpretes, intérpretes em áreas da saúde, tecnologia, entre outras, e intérpretes de
língua de sinais.
De acordo com o site do SINTRA7, em julho de 2007, existiam 274 intérpretes
filiados com especialização em tradução simultânea/ consecutiva de inglês para
português e 203 de português para inglês em todo o Brasil.

7
SINTRA – Sindicato Nacional dos Tradutores.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


24

2.1.1. Interpretação consecutiva

Considerada a mais difícil das interpretações, a consecutiva costuma ser adotada


em casos que não haja nenhum equipamento técnico para a simultânea ou que a segunda
não seja possível. Nesse caso, o profissional trabalha sozinho.
De acordo com a Associação Internacional de Intérpretes de Conferência (17 jul.
2007):

Na interpretação consecutiva, o intérprete, situado ao lado do orador, interpreta


para um determinado idioma, e após o orador, o discurso deste último. O
comprimento do discurso pode variar e o intérprete deve tomar notas durante a
intervenção do orador.

Na consecutiva, os intérpretes devem saber ouvir, entender, fazer anotações e,


principalmente, saber como realizá-las. Ao fazer anotações, ele deve além de ser rápido,
desenvolver técnicas para escrever com clareza, pois muitos números, datas, nomes e
títulos costumam estar presentes no discurso e a leitura deve ser realizada rapidamente
para que a pressão imposta pela interpretação não seja ainda maior. Ele deve respeitar a
entonação e a retórica do conferencista original.
Pode-se dizer que existem fases diferentes na interpretação. Elas são separadas
em duas na consecutiva: a fase da audição e a fase da reformulação.

Fase da audição

- O esforço da escuta.
- O esforço da produção escrita (anotações, não apenas a anotação traduzida do
discurso).
- O esforço da memória a curto-prazo (armazenar a informação até ser anotada).

Fase da reformulação

- O esforço da leitura das anotações.


- O esforço da memória de longo-prazo (armazenar a informação por longos períodos
para produzi-las mais tarde).
- O esforço da produção (organizar as informações recebidas e produzi-las com coesão,
mantendo o conteúdo do discurso original).

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


25

Um evento com interpretação consecutiva pode levar horas, o que é um grande


desgaste para o intérprete. Por utilizar muito de sua memória de longo-prazo, o ideal é
que o discurso original contenha pausas providenciais e que a idéia principal daquele
trecho seja concluída. Assim, o intérprete poderia traduzir uma idéia completa,
importando-se com o seu sentido e não somente com as palavras utilizadas no original.
Caso se concentre muito nos detalhes e nas palavras, pode perder-se em suas anotações,
prejudicando, desse modo, o entendimento e a clareza do discurso.

2.1.2. Interpretação sussurrada

Segundo a Associação Internacional de Intérpretes de Conferência (17 jul.


2007):

A interpretação sussurrada é um modo de interpretação no qual o intérprete,


sentado ao lado de um ou dois participantes, sussurra a interpretação do
discurso. É um modo utilizado apenas quando duas pessoas no máximo
precisam de interpretação e deve ser evitado quando vários intérpretes
trabalham na mesma sala, ao mesmo tempo. Por ser cansativo para as cordas
vocais, só é recomendado para reuniões curtas, e como para a simultânea,
são necessários dois intérpretes trabalhando em alternância.

Também conhecida do francês chuchotage e do inglês whispered, ela é utilizada


em circunstâncias nas quais a maioria do grupo fala uma língua que a minoria (no
máximo três pessoas preferencialmente) não fale.

2.1.3. Interpretação simultânea

Segundo Magalhães Júnior (2007, p. 217), esse módulo de interpretação é a


tradução oral imediata de uma apresentação ou palestra, na qual os intérpretes,
trabalhando sempre em dupla, isolam-se numa cabine onde possam ver o palestrante e
ouvir a palestra com a ajuda de fones de ouvido. À medida que vão se alternando, vão
repetindo a mensagem imediatamente em outra língua. Assim, os participantes recebem
a tradução por meio de receptores sem fio e fones de ouvido, como se fosse um filme
dublado.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


26

Como explica Magalhães (2007, p. 146), a interpretação simultânea é uma tarefa


de processamento de informação intensiva na qual os intérpretes podem trabalhar por no
máximo 6 horas.
Assim como na consecutiva, é imprescindível que o intérprete se cuide para que
não fique preso a um trecho procurando a equivalência de uma palavra, pois se muito
tempo for gasto com termos, o entendimento do trecho posterior se perderá,
prejudicando a interpretação.
“A principal razão para se trabalhar a dois é a absoluta atenção exigida no
ofício.” (Ibidem, p. 108). Por conter termos desafiadores, tais como vocabulário técnico
e jargões, é necessário a total concentração dos “concabinos”8, pois o conteúdo
freqüentemente é denso e apresentado em alta velocidade e qualquer distração é punida
com perda de conteúdo. Magalhães Júnior afirma que já se comprovou cientificamente
que o ser humano consegue manter níveis altos de atenção por apenas períodos curtos
de tempo. Dessa forma, para que uma interpretação simultânea seja bem-sucedida, os
intérpretes devem se alternar a cada 20 ou 30 minutos aproximadamente, permitindo
assim, total atenção ao discurso.
A parceria entre os concabinos é vital, pois devem entender-se com palavras,
olhares, gestos e confiar um no outro. Devem se considerar como iguais, sem tirar
vantagem da experiência individual, respeitando tanto os colegas que já atuam na
profissão por décadas como os iniciantes. É importante notar que o trabalho de um
interfere no do outro, pois, por trabalharem juntos, o sucesso ou fracasso da
interpretação dependerá exclusivamente do trabalho feito pela dupla. Enquanto um
intérprete atua, o outro trabalha passivamente na cabine, oferecendo suporte ao colega,
mantendo-se atento para prever e se possível corrigir eventuais equívocos de
entendimento ou interpretação, oferecendo opções por meio de contribuições orais e/ou
gestuais. O mais comum, entretanto, é a troca de informações por escrito. São feitas
anotações de palavras-chave, confirmações de siglas e números, correções de nomes
próprios e da pronúncia correta de algum termo, além de consultas a dicionários e
glossários. Para que tudo isso aconteça de forma natural e “sincronizada”, os concabinos
devem utilizar o mesmo código de comunicação. Esse código poderá e deverá mudar de
acordo com o colega com quem se trabalha. Vale lembrar que durante a comunicação
dentro da cabine, todo o cuidado com sons de fundo é pouco. Deve-se evitar a

8
Termo utilizado na interpretação simultânea para designar o colega de cabine.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


27

interferência de fatores externos na interpretação, que variam desde a respiração direta


no microfone até a emissão de sons, tais como: o estalar de dedos, assovios ou
comentários feitos entre os concabinos. Nesse último caso, deve-se utilizar o botão
disponível no equipamento de som chamado cough button para cortar o canal da
interpretação, interrompendo a transmissão para os ouvintes.
No decorrer da monografia o código de ética, as condições de trabalho, assim
como o processo da interpretação simultânea serão tratados mais a fundo.
Conhecida como uma “consecutiva acelerada”, a interpretação simultânea
contém operações que exigem uma capacidade de processamento proficiente, devido ao
fato de acontecerem simultaneamente e exigirem muita agilidade. Esses processos
resumem-se em “esforços”, como citado anteriormente na consecutiva:

- O esforço da escuta (ouvir e analisar o discurso original).


- O esforço da produção (produzir na LC a versão do discurso).
- O esforço de memória a curto-prazo (arquivar a informação recebida até transmiti-la
na LC).

Na simultânea, as duas línguas de trabalho são utilizadas ao mesmo tempo na


memória ativa ao processar a informação recebida. Assim, é preciso atenção para inibir
a influência da língua de partida ao produzir o discurso na língua de chegada a fim de se
evitar interferência.

2.2. Áreas de atuação

A área de atuação do intérprete é muito ampla. No entanto, dependendo de suas


habilidades e experiência ele pode se especializar em uma área específica. Há aqueles
que tendem para o lado jurídico e outros que atuam em áreas acadêmicas. Algumas
escolhas exigem mais do que competência linguística em ambas as línguas, como no
caso da tradução juramentada.
Para se tornar um intérprete juramentado, o Estado exige certificação por meio
de concurso. Eles podem prestar serviços em audiências, no setor administrativo de
tribunais ou em qualquer outra área que lida com processos legais. Para tal, é necessário
conhecimento de leis e procedimentos legais. Uma vez que se submetem à prova e

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


28

recebem autorização do Estado para trabalhar nessa área, tornam-se intérpretes


comerciais e precisam respeitar os valores cobrados pela Junta Comercial do Estado de
São Paulo, JUCESP.
Muitas vezes o profissional já é formado em outra área, como por exemplo a
médica, e presta serviços de interpretação em seu campo de especialização. Assim,
trabalha em congressos e workshops internacionais cuja terminologia conhece,
diminuindo a probabilidade de erro.
Há também o intérprete acompanhante, conhecido como escort interpreter, que
é aquele “designado para acompanhar uma autoridade estrangeira a reuniões, entrevistas
ou outro compromisso, a fim de auxiliar na comunicação verbal. [O profissional] fará a
interpretação mais indicada, conforme o formato e o protocolo de cada evento”
(MAGALHÃES JR, 2007, p. 213).
Os intérpretes de negócios (liaison) participam mais em encontros de negócios
entre companhias com poucas pessoas. A cada término de discurso, o intérprete
proporciona ao público o conteúdo da conversa na língua exigida. Diferente de outras
interpretações, nessa ele precisa se comunicar alternando as línguas.
Quem atua na área de turismo pode se tornar um guia-intérprete, acompanhando
turistas em viagens e visitas a locais de interesse turístico, tais como museus, palácios e
monumentos nacionais, prestando informação de caráter geral, histórico e cultural,
atuando normalmente em uma região definida.
Outro ramo extremamente interessante é o dos intérpretes de língua de sinais.
Assim como o inglês precisa de interpretação para o português, os surdos-mudos
precisam de traduções de seus sinais para o português (verbal) e vice-versa, ou até
mesmo para uma outra língua. A linguagem de sinais possui um raciocínio único e
difere de país para país e de língua para língua. De acordo com Pereira (17 jul. 2007), já
foram descobertas 114 línguas de sinais no mundo. Por isso dizemos que a língua de
sinais não é universal. Ela possui um status lingüístico completo, com estruturas e
gramática próprias, podendo expressar não apenas conceitos concretos, mas também
abstratos como em qualquer outro idioma. Qualquer pessoa que possua conhecimento
de uma dessas línguas de sinais e de uma segunda língua (verbal ou de sinais) pode ser
um intérprete de língua de sinais. O exemplo que Pereira (ibidem) oferece é o de um
palestrante ouvinte que falava em português oral e de um intérprete que traduzia em

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


29

Libras9. Nesse exemplo, quando um dos surdos fez perguntas ao palestrante, o intérprete
traduziu da Libras para o português oral. Outro exemplo da autora referia-se a um
deficiente auditivo da França que visitava o Brasil, mas que não conhecia a Libras.
Quando isso aconteceu e ninguém conhecia a LSF (Langue des Signes Française -
Língua de Sinais Francesa), o intérprete que dominava as duas línguas sinalizadas
precisou ser contratado.

9
Sigla mais popular de língua brasileira de sinais.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


30

Capítulo 3

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


31

Capítulo 3

3.1. Interpretação simultânea

Baseadas nos conceitos da Teoria Interpretativa da Tradução, também conhecida


como Théorie du sens do francês, criada no École Supérieure d’Interprètes et de
Traducteur – ESIT de Paris III University (Sorbonne Nouvelle), Danica Seleskovitch e
Marianne Lederer escrevem a teoria da interpretação atualmente mais utilizada no
exterior para estudos. Em seu livro Translation: The Interpretative Model (2003)
Lederer apresenta o processo cognitivo que ocorre na mente de um intérprete de
conferência. Assim como na Teoria da Interpretação, para ela a “[...]tradução consiste
em entender o texto original, desverbalizar sua forma lingüística e então expressar em
uma outra língua as idéias compreendidas e as emoções sentidas” (ibidem, p. 1,
tradução nossa).10
Cary11 (1985, apud LEDERER, 2003, p. 1, tradução nossa)12 oferece uma
definição de tradução que, pela natureza de ambos os trabalhos, pode ser aplicada à
interpretação:

A tradução é um processo que procura estabelecer equivalentes entre dois


textos expressados em duas línguas distintas. Esses equivalentes sempre
dependem da natureza dos dois textos, de seus objetivos, da relação entre as
duas culturas envolvidas e suas condições morais, intelectuais e emocionais
que, por sua vez, são determinadas por todos os fatores relacionados ao
tempo e lugar tanto do texto original como da tradução...

Segundo ela, a primeira fase da tradução ou interpretação é compreender o texto.


A segunda fase é re-expressar esse texto em uma outra língua. Essas fases são
complexas, porém acontecem com extrema rapidez. Para tornar o entendimento possível
é necessário que haja ativação tanto do conhecimento lingüístico quanto do
extralingüístico. A qualidade da re-expressão depende nesse ponto da habilidade de
expressão do intérprete, ou seja, o estilo de seu discurso; do conhecimento da LC e do
assunto abordado. O texto sob exame é o mais importante. Ele é tanto a causa como o
objeto da tradução/ interpretação. Existe, porém uma diferença entre ‘língua’, ‘sentença’
10
Texto original no anexo B, p. 93.
11
Um pioneiro em estudos da história da interpretação dos anos 50. Um dos primeiros teóricos da
tradução a se basear na interpretação de conferência para explicar a tradução escrita.
12
Texto original no anexo B, p. 93.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


32

e ‘texto’, pois embora seja possível traduzi-los, o processo tradutório para cada um é
diferente.
Se tomarmos a frase “Did you take it?” como exemplo e a analisarmos no nível
da linguagem, na semântica o significado de cada palavra no português será:

Did = Não há tradução (auxiliar inglês), passado simples do verbo ‘do’, marca apenas o
tempo verbal;
You = Você, vocês;
Take = tomar, pegar, alcançar, agarrar, prender, capturar, apropriar-se, arrebatar,
arrancar, levar, receber (como pagamento), aceitar, obter, adquirir, tomar, comer, beber,
engolir, consumir, ganhar, apanhar, contrair (doença)...
It = objeto indefinido em expressões idiomáticas, atrativo pessoal (feminino e
masculino), pronome etc.

No nível da sentença, o contexto verbal limita o número de correspondências


possíveis. O significado de cada palavra é determinado pelas palavras próximas a ela,
assim como ele próprio determina o significado das outras palavras, visto que aqui as
palavras são o único contexto levado em consideração. Portanto:

Take into account = levar em consideração


Take advantage = levar vantagem
Take care = tomar conta

Já no nível do texto, o contexto em que a sentença está inserida é extremamente


importante para sua significação e para encontrarmos um equivalente em outra língua.
Dessa forma, podemos afirmar que tradutores e intérpretes não traduzem apenas a
língua, mas sim o autor do texto oral ou escrito. O conhecimento lingüístico e
extralingüístico do tradutor permite que ele identifique pelo contexto o equivalente no
português de “Did you take it?” como sendo “Você o levou?” quando ‘it’ for um
pronome relacionado a objetos; ou como “Você aceitou?” no caso de alguém exigir uma
resposta a uma proposta na linguagem de business; ou até mesmo como “Você tomou?”
(o remédio) durante uma conversa em um retorno médico. Além disso, o número de
pessoas abordado para ‘you’ (você ou vocês) dependerá exclusivamente do contexto em
que a sentença está inserida.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


33

Na interpretação consecutiva, na simultânea ou em qualquer outro módulo, é


impossível seguir o método da tradução palavra-por-palavra, a não ser que a palavra
esteja isolada o suficiente para que sua significação verbal e contextual seja esquecida.
Esse isolamento é chamado de descontextualização, do termo inglês
decontextualization. A descontextualização produz um tipo de tradução literal que
Lederer chama de tradução lingüística, pois diferente da tradução de textos, que ela
chama de tradução interpretativa ou simplesmente tradução, está fora de contexto.
Essa descontextualização faz-se necessária durante uma interpretação no
momento em que o intérprete precisa se distanciar do texto original e analisar as opções
que melhor cabem no contexto apresentado. A interpretação que se mantiver no nível da
linguagem será uma interpretação falha, pois se realiza sem conceptualização, ou seja,
sem método de trabalho, traduzindo apenas literalmente.
Para Cary (1962, apud LEDERER, 2003, p. 7), os intérpretes lidam com a
natureza viva do discurso e são colocados diante de alguém que vive, pensa e fala. Ao
receber e emitir uma declaração testemunham como o orador sente sua platéia e como
formula seus pensamentos de acordo com esse “feeling”. Assim, os intérpretes levam
em consideração os pensamentos e sua expressão.

3.2. O discurso

“Verba volant, scripta manent.” (LEDERER, 2003, p. 9) A partir dessa reflexão


podemos dizer que as palavras desaparecem levando com elas significados individuais e
deixando na mente dos destinatários somente o sentido do que foi dito.
O discurso expressa uma maturação. O pensamento não-verbal do orador vai
tomando forma conforme percebe a reação dos destinatários ao que ele diz, levando-o a
fazer adaptações conforme o discurso se desenvolve; adaptações como por exemplo
mudanças de tom, de entonação e simplificações.
Pode-se dizer que o discurso é perfeito quando o canal de comunicação em que
ocorre também é. Quando seus parâmetros são operacionais, há maior clareza,
permitindo que o público presente participe ativamente do ato de comunicação. Todos
possuem a mesma percepção das circunstâncias gerais, isto é: as condições de produção
e recepção do discurso e do conhecimento do tema tratado.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


34

Consideram-se intérpretes competentes aqueles que sejam capazes de entender


todo o significado do discurso e de transmiti-lo. Aconselha-se sempre antes de iniciar
uma conferência questionar quem é o orador, quem é o público e quais são as
circunstâncias.
Quando trabalha na cabine, o intérprete faz o papel de destinatário, procurando
compreender o que lhe é dito, com a diferença de que precisa se esforçar mais. Na
cabine, concentra-se mais, porém envolve-se menos do que um ouvinte comum. Mais
concentrados, porque deve captar todas as nuanças de sentido e todas as dimensões do
discurso; menos envolvido por estar reproduzindo o pensamento de outrem. Em função
disso, o intérprete não deve julgar as informações do discurso que interpreta, caso
contrário, comprometerá sua versão na LC. Foi em uma conferência em Veneza em
1977, com o patrocínio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que os
intérpretes afirmaram não traduzir palavras e, sim, sentido.

3.3. O processo de interpretar

A busca por uma teoria da interpretação passou pela Lingüística, pela Psicologia
do Desenvolvimento, pela Neuropsicologia, pela Lingüística Comparativa, mas foi uma
combinação de disciplinas que ajudou a explicar como os intérpretes passam de um
discurso para outro. Entretanto, não era o bastante. Foi por meio de observações de
práticas reais que o campo da teoria da interpretação cresceu. Esses estudos mostram
que há diversos processos mentais.
Segundo Saussure (07 ago. 2007), o signo é uma combinação de um conceito
com uma imagem sonora. O signo lingüístico consiste de um significado13 e um
significante14, que evoca um sentido em quem lê ou ouve. Ao ver o signo ‘casa’, por
exemplo, a pessoa relaciona o seu som à imagem da casa que lhe foi apresentada
quando criança. Portanto, para ele, esse pode ser o primeiro significado que vem à
cabeça ao visualizar esse signo.
Na desverbalização, entendemos o discurso que nos foi transmitido, mas não
memorizamos sempre as palavras utilizadas. “Os signos do discurso desaparecem com o
som da voz, mas os destinatários – e o intérprete – mantêm uma memória

13
A idéia formada, a imagem que se tem em mente.
14
Parte concreta do signo, como sons ou letras, perceptível por meio dos sentidos.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


35

desverbalizada, uma consciência das idéias e dos fatos evocados.” (LEDERER, 2003,
p.12, tradução nossa)15
A desverbalização é um processo cognitivo comum a todos. Quando a
informação sensorial desaparece, transforma-se em pequenas partes de informação, não
mais revestidas de sua forma concreta. A memória cognitiva é a responsável pela
retenção das partes de informação.
Logo, quando a interpretação simultânea foi introduzida, muitos intérpretes de
consecutivas temiam se candidatar para trabalhar, pois acreditavam que intérpretes
simultâneos possuíam memórias fenomenais. Mas não era esse o caso. Os profissionais
dessa área, da mesma forma, utilizam-se de mecanismos mentais para procurar entender
o discurso primeiramente, antes de reformulá-lo. Ao reter o que foi entendido, enquanto
as palavras desaparecem, o intérprete não fica preso a uma única palavra, pois se assim
o fizer demorará demais nesse termo e perderá o sentido geral do trecho. Nesse caso,
quando o termo for desconhecido, não precisa se desesperar; basta apenas redobrar sua
concentração para captar o sentido dentro do contexto.

3.3.1. O sentido

Segundo Sartre (apud LEDERER, 2003, p. 13), o sentido é um todo


desverbalizado, retido em associação com a informação extralingüística. É a intenção do
orador que vai além da própria língua; aquilo que o autor realmente quer comunicar.
O sentido somente se encontra dentro de um contexto. “O sentido não está
inserido nas palavras (de um texto), já que é o próprio sentido que permite que o
significado de cada palavra seja compreendido [...].” (LEDERER, 2003, p. 13, tradução
nossa)16
O objetivo que o orador quer passar em um discurso é transmitido por meio da
língua, mas não pode ser encontrada nela, isto é, cada palavra do discurso pode ser
ouvida uma por uma sem que o ouvinte extraia o sentido geral. Capta-se o sentido do
discurso apenas quando se consulta o conhecimento de mundo e se associa o significado
particular de cada palavra ao das palavras ao seu redor, ou seja, quando colocadas no
contexto. Portanto, o sentido não é uma soma de palavras, mas um todo.

15
Texto original no anexo B, p. 93.
16
Texto original no anexo B, p. 93.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


36

Esse processo é sempre acompanhado da percepção dos signos lingüísticos, que


por sua vez é sempre acompanhada pela interpretação. Se ao ouvir uma palavra o
ouvinte apenas a deixar passar, sem interpretá-la, então sua percepção estará
trabalhando em um nível de consciência elementar, permanecendo passageira.
Lederer (2003, p. 14) ressalta que os instrumentos vocais utilizados para
comunicar levam a um grau elementar de percepção consciente limitado, ao passo que o
sentido corresponde a um estado de consciência.

[...] Para que o sentido seja produzido deve haver uma associação entre uma
idéia não-verbal e um signo semiótico (podendo ser uma palavra ou um
gesto, não importando a natureza do que se percebe) [...]. A recepção do
sentido exige uma ação deliberada por parte do destinatário. Assim, uma
cadeia de palavras torna-se um conjunto de indicadores determinados pelo
orador [...] por meio da língua e reconhecidos [...] pelo ouvinte [...]
(SELESKOVITCH, 1976, apud LEDERER, 2003, p. 15, tradução nossa)17

3.3.2. A compreensão

A compreensão de um discurso não está dividida em fases sucessivas, mas


constitui-se de um único processo mental. Podemos inferir então que um texto (verbal
ou não-verbal) não é primeiramente compreendido no nível da língua, sua compreensão
dá-se diretamente no nível do discurso. Portanto, quando um intérprete ouve o termo
maçã, ele não visualiza primeiro a fruta maçã para depois definir se ela será vermelha
ou verde, mas a visualiza de acordo com seu conhecimento de mundo. A primeira
imagem que vem à sua mente é a da maçã que consome no seu país, que faz parte de sua
cultura. Contudo, se um indiano estiver fazendo o discurso e citar o termo vaca, o
intérprete ocidental precisará deixar seu conceito de vaca inicial e contextualizá-lo no
contexto da cultura indiana, atribuindo-lhe seu valor religioso próprio.
As dimensões cognitivas e afetivas do sentido não podem ser desassociadas da
semântica. Segundo Barbizet e Duizabo (1977, apud LEDERER, 2003, p. 17), esse
processo é experimentado diariamente. Segundo eles, as palavras ‘despertam’ muitas
memórias. Ao conversar com alguém diversos pensamentos silenciosos são
desencadeados e ficam prontos para sua utilização.
Um dos maiores desafios de um intérprete encontra-se no momento da recepção
de um discurso. Se muito tempo for gasto em um único termo, perde-se o sentido. Em

17
Texto original no anexo B, p. 93.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


37

outras palavras, a semântica (significação das palavras) se sobrepôs à cognição


(compreensão do sentido).

3.3.3. Unidades de sentido

No desenrolar do discurso, o intérprete ouve as palavras umas seguidas das


outras e em intervalos regulados pela compreensão do que foi dito. São nesses
intervalos em que uma unidade mental distintiva é constituída. Não são as palavras
(unidades gráficas), nem a expressão vocal em si que são as responsáveis por essa
compreensão, mas sim uma cadeia de sons. As unidades mentais são idéias que os
destinatários recebem e vão atualizando o conhecimento que o orador prevê que
possuem.
A compreensão dessa soma de sons chama-se unidades de sentido. Estas não
possuem uma duração fixa, podendo ocorrer em diversos momentos do discurso,
dependendo do conhecimento do intérprete e do ouvinte sobre o tema abordado.
Na interpretação simultânea as unidades de sentido sobrepõem-se umas às outras
a fim de produzir um sentido total. Em seguida, transformam-se em conhecimento
desverbalizado conforme integram unidades maiores e tornam-se idéias mais
significantes. O quadro baixo simplifica o processo descrito acima:

palavras + palavras = cadeias de sons


cadeia de sons + cadeia de sons = unidade de sentido
unidade de sentido + unidade de sentido =
conhecimento desverbalizado (idéias significativas)

Em suma, o intérprete ouve o tempo suficiente para que a soma das palavras se
torne uma unidade de sentido. Nesse momento as palavras ouvidas individualmente
perdem seu significado original e agora fazem parte do todo da unidade de sentido. No
segundo seguinte da última palavra ouvida, o intérprete já está criando novas unidades
de sentido que irão se somar à unidade de sentido anterior, cujas palavras novamente
perdem seu significado individual. Dessa forma, as idéias significativas vão sendo
construídas gradualmente.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


38

Como uma representação mental, as unidades de sentido correspondem a um


breve estado de consciência. Freud (1953, apud LEDERER, 2003, p. 19) apresentou três
tipos de estado mental do conhecimento: 1) o estado da consciência (após a tradução, no
intervalo das unidades de sentido); 2) o estado pré-consciente (quando a primeira
unidade de sentido já foi entendida e as outras unidades estão sendo construídas –
momento em que a primeira passa para o estado pré-consciente, tornando-se uma
pequena parte do conhecimento latente); 3) o estado da inconsciência (possui pouco
impacto na interpretação).
Ao analisar os conceitos de Freud, Lederer (2003, p. 19) questiona se ele
acreditava que o conhecimento pré-consciente em um estado latente permanecia verbal
ou não. Pois de acordo com suas pesquisas, a unidade de sentido é desverbalizada ao
passar de um estado de consciência a um conhecimento latente.
Apoiando-nos nesses conceitos, podemos concluir que nenhum módulo de
interpretação é totalmente simultâneo. Cada intérprete utiliza-se do método com o qual
se adapta melhor. Em forma de gráfico esse procedimento ficaria como no quadro
apresentado abaixo. Para melhor elucidar os exemplos seguintes, utilizaremos os
números (1) e (2) para designar o conhecimento desverbalizado (1) pré-consciente e o
conhecimento desverbalizado (2) consciente, respectivamente. Também utilizaremos o
verbo ‘traduzir’ não no sentido literal da palavra, mas no que se refere à tradução do
trecho interpretado para uma segunda língua.

sons de palavras + sons de palavras = unidade de sentido 1


1ª unidade de sentido 1 + unidade de sentido 2 = conhecimento => tradução
desverbalizado
fase
(1)
(consciente)
conhecimento unidade de sentido 3
2ª desverbalizado + = conhecimento => tradução
traduzido + unidade de sentido 4 desverbalizado
fase (1) (2)
(pré-consciente) (consciente)

No método mais empregado, a interpretação possui um atraso em relação à


enunciação das palavras no discurso original. Esse atraso resulta em uma sobreposição
na unidade de sentido seqüente, ou seja, o intérprete ouve partes de (2) enquanto ainda
traduz (1). Paneth (cf. 2002, p. 32) afirma que o tempo pode variar de 2 a 4 segundos,
envolvendo de 15 a 21 palavras, dependendo do tamanho das sentenças. Traduções de

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


39

frases curtas poderão se encaixar em uma pausa feita pelo orador, aliviando a memória
do intérprete e a velocidade aplicada. Já as traduções de frases longas coincidem
parcialmente com o final de sua enunciação no original e parcialmente com o início da
seguinte.
Conforme o discurso é desenvolvido, os intérpretes costumam se adaptar ao
ritmo e ao estilo do orador, acelerando mais ou menos, deixando mais ou menos pausas.
Paneth (cf. 2002, p. 34) também confirma a verificação de que os intérpretes costumam
traduzir trechos curtos somente após o término de sua enunciação no original, ao
contrário de trechos longos. Muitas vezes, quando o discurso é reduzido em volume o
intérprete pode até terminar antes do orador, o que ocorre no caso de previsões de
clichês e estruturas gramaticais, por exemplo.
Já outros intérpretes preferem o método na qual trechos inteiros de (1), (2), (3),
etc, ficam para trás antes de começar a traduzir. Isso quer dizer que ele já ouve a parte
(4) enquanto ainda enuncia (1), (2) e (3). Nesse caso, ele prefere compor um
pensamento mais completo antes de se pronunciar, o que ajuda no caso de a parte (4) ser
tão comprida que não haveria tempo suficiente para pausar a fim de terminá-la. Aqueles
capazes de falar rapidamente utilizam suas pausas para oferecer mais opções de
vocabulário ou elucidar trechos, tornando o discurso mais claro e rico.
Vale notar que a velocidade com que o intérprete é capaz de produzir o discurso
traduzido não deverá interferir em sua clareza e depende em grande parte das línguas
envolvidas, pois umas podem ser muito mais prolixas do que outras.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


40

Capítulo 4

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


41

Capítulo 4

4.1. A formação do intérprete

Assim como na pintura, o intérprete não trabalha totalmente sozinho. O artista


plástico necessita de ferramentas de trabalho tais como as tintas, o pincel, o cavalete e a
tela. Já o artista da comunicação necessita de palavras. Essa é a matéria-prima essencial
com a qual ele aplica suas técnicas. Entretanto, não são somente as palavras que
preocupam o intérprete, afinal, o mercado de trabalho exige cada vez mais. A grande
questão entre os profissionais dessa área é a melhor forma de se atualizar e a escolha das
línguas de trabalho que devem ser inclusas em seus currículos. A melhor opção é
dedicar-se a apenas uma língua estrangeira, à sua máxima proficiência, ou adquirir o
domínio de três ou mais, mesmo que esse conhecimento tome tempo, dinheiro e que seu
resultado não seja o esperado?

4.1.1. As línguas de trabalho

Em primeiro lugar, qualquer indivíduo decidido a se dedicar aos estudos da


interpretação precisa ter um domínio de sua língua-mãe. O segundo pré-requisito básico
é dominar no mínimo uma segunda língua. Vale ressaltar que esta nem sempre deve ser
uma língua estrangeira, já que muitos países possuem mais de uma língua oficial.
Aconselha-se possuir o domínio dessas duas línguas de trabalho antes de se aprofundar
nos estudos.
Magalhães Jr (2007, p. 211) cita em seu livro o critério utilizado pela AIIC para
indicar a competência lingüística de seus membros. A Língua A corresponde à língua-
mãe do intérprete ou outra equivalente à sua nativa para a qual ele traduz a partir de
outras línguas de trabalho, portanto língua ativa. A Língua B é a língua estrangeira ativa
da qual o intérprete possui perfeito domínio e com a qual se sente apto a traduzir a partir
de outras línguas de trabalho. E por último, a Língua C corresponde à língua estrangeira
passiva, da qual o intérprete tenha plena compreensão e sinta-se apto a traduzir para
outro idioma ativo. Ressalta-se que o intérprete, portanto, somente atinge um nível
satisfatório de proficiência na segunda língua ativa, a Língua B, após anos de prática e/

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


42

ou vivência no exterior para que a pronúncia e a utilização de expressões cotidianas


estejam de acordo com as utilizadas no país. Caso a aquisição da língua tenha-se dado
de forma ininterrupta, porém sem a proficiência obtida numa língua A, recomenda-se
sua utilização em discussões técnicas, nas quais importa mais a exatidão lexical do que
o estilo ou o sentido figurado da língua.
Sabe-se que no mundo globalizado em que vivemos grandes empresas
necessitam de profissionais atualizados e versáteis, já que as línguas exigidas no
mercado mudam constantemente dependendo da economia e da política mundial.
Portanto, quem pretende ingressar nesse ramo deve considerar a possibilidade da
aquisição de duas importantes línguas européias, as quais devem ser dominadas com
proficiência, e o conhecimento de outras duas subsidiárias, as quais devem ser apenas
traduzidas para a língua-mãe.
Paneth (cf. 2002, p. 31) ainda afirma que por razões práticas e profissionais,
aconselha-se a inclusão no portifólio da língua francesa e da língua inglesa. Ela afirma
que a importância da língua francesa deve-se ao fato de um dia já ter sido uma língua de
comunicação internacional. Outra sugestão seria o profissional ter conhecimentos da
língua espanhola, pois, muito provavelmente em intervalos de conferências, visitas
sociais e viagens, o cliente se comunicará em inglês, espanhol ou francês, ou até mesmo
em mandarim, a grande promessa do mercado. Caso isso aconteça, o intérprete
demonstrará confiança e conhecimento, itens muito importantes em sua profissão.
Nesta monografia as línguas de trabalho abordadas serão o português e o inglês a
fim de limitar e aprofundar os estudos dessas línguas e sua aplicação nos eventos com
interpretação simultânea nas transmissões em rede internacional.
A grande maioria dos intérpretes começa sua carreira atuando como um
profissional liberal. São muitos os fatores que ajudam a tornar-se funcionário fixo de
uma empresa, entre eles a combinação de línguas. É muito importante pensar na carreira
que se pretende seguir e em que áreas se deseja atuar para que possa concentrar os
esforços em línguas específicas. Quanto maior o número de línguas com que se
trabalha, melhor as chances no mercado, pois, dessa forma, não será necessário a relé18,
também conhecida como relay.
A relé deve ser evitada, pois existe o risco de um erro cometido em uma cabine
ser transmitido para outras, causando o efeito de uma bola de neve. Utiliza-se esse

18
Sistema de interpretação indireto.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


43

sistema somente em situações que envolvam três ou mais idiomas em um mesmo


recinto e não haja intérpretes suficientes para as línguas necessárias. No caso de um
profissional que trabalhe com o inglês e o português ter de verter para uma dessas
línguas um discurso originalmente em espanhol, ele terá de recorrer à tradução feita por
um colega de cabine. Assim, o currículo do intérprete o qualifica melhor conforme a
quantidade de línguas que tem a oferecer, não esquecendo é claro, que sua escolha deve
depender exclusivamente do mercado de trabalho e da área de atuação, visto que umas
línguas podem ser mais utilizadas em conferências do que outras, mais utilizadas para
visitas de delegações durante negociações. Segundo o Comitê de Treinamento da AIIC
(2006), as línguas que possuem uma procura maior no mercado são, em ordem
alfabética, o árabe, o chinês, o inglês, o francês, o alemão, o italiano, o japonês, o russo
e o espanhol. O grande diferencial do profissional consiste na inclusão de línguas
incomuns em seu currículo, tais como o grego, a língua holandesa, o dinamarquês e
outras línguas utilizadas pelas instituições européias.
As instituições da União Européia trabalham com 11 línguas oficiais. Os
serviços de interpretação da Comissão Européia atualmente exigem três línguas passivas
ou duas passivas e interpretação simultânea para uma língua B sendo esta inglês, francês
ou alemão.

4.1.2. As qualificações de um intérprete

Há quem afirme que todo intérprete nasce com o dom para a sua profissão.
Porém, qualquer pessoa dedicada e comprometida que adquira conhecimento e prática
suficientes pode se tornar apto para o trabalho. Pagura (2001, p. 12) afirma que esse
profissional deve se concentrar na língua oral de forma a compreender as sutilezas das
vogais e consoantes inglesas, os modelos de entonação e o sentido em suas diversas
formas. Além disso, deve apurar o ouvido para o inglês falado por americanos, sejam do
Texas ou do Alabama, por ingleses, sejam de Londres ou Liverpool, e também por
árabes, alemães, franceses e até mesmo brasileiros com muito sotaque que preferem
proferir a palestra em inglês. Sua língua A também não deve possuir marcas de sotaque
e expressões regionais e sua pronúncia deve ser a mais clara possível, com grande
dicção na enunciação de sílabas e terminações.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


44

As distinções importantes entre vogais e consoantes mencionadas acima


devem ser cuidadosamente dominadas e o modelo de entonação adequado,
adquirido, não só como uma habilidade receptiva, mas também produtiva.
Os intérpretes normalmente têm de mudar a direção da língua tão
rapidamente quanto uma pergunta é lançada e sua resposta é fornecida.
(PAGURA, 2001, p. 12, tradução nossa)19

Sua personalidade influencia bastante sua prática assim como suas habilidades.
Esse profissional deve ser capaz de analisar e construir fatos e utilizar-se de sua
intuição, deve estar atualizado com o mundo, deve possuir agilidade de pensamento e
perspicácia (reação rápida, habilidade de adaptar-se sem atraso demasiado em relação
aos oradores, às situações e ao assunto), assim como deve possuir concentração, poder
de síntese, autocontrole, autoconfiança, mente aberta, voz agradável e habilidades de
oratória, interesse e curiosidade em assuntos e culturas diversos, tato e diplomacia.
No que se refere ao conhecimento profundo da língua, o intérprete deve, tanto
na língua ativa quanto na passiva, ser capaz de reconhecer e ativar sinônimos,
expressões idiomáticas, provérbios e citações. José Augusto Rodrigues20 afirma que
esse profissional deve estar sempre disposto a pesquisar, interessado no estudo de
diversas áreas e a par dos desenvolvimentos em praticamente todos os campos do
conhecimento humano, já que um dia poderá lidar com um discurso envolvendo novos
conceitos.
Fernando Santiago dos Santos21 reforça que o preparo anterior à conferência,
além de proporcionar mais confiança, ajuda a evitar futuros deslizes. Essa prática
possibilita o entendimento da discussão entre os especialistas da área e a desenvoltura
para se utilizar jargões e falar como eles. Esse preparo conta com: 1. informação sobre o
orador e contato para os esclarecimentos necessários; 2. identificação de termos que
devem ou podem ser mantidos na língua original; 3. verificação do equipamento de
som; 4. informação sobre qualquer mudança no discurso no dia do evento, assim como
os vídeos que serão utilizados e as piadas que serão contadas.
Também vale lembrar que, assim como qualquer outro profissional, o intérprete
deve obter treinamento específico para a realização de sua função, como uma formação

19
Texto original no anexo B, p. 93.
20
Formado em Letras na Universidade Católica de Santos, Rodrigues leciona inglês na escola de idiomas
Casa Branca e atuou como intérprete por dois anos consecutivos no Estados Unidos.
21
Formado em Biologia pela Unicamp, Santiago leciona inglês há 20 anos, é coordenador pedagógico do
colégio Positivus de Santos, fez curso de Tradução e Interpretação em São Paulo, atua como intérprete há
15 anos, fala inglês, espanhol, japonês, alemão, francês e italiano, mas tem como línguas de trabalho as
duas primeiras.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


45

universitária ou o equivalente, pois um certificado de conclusão de curso de línguas não


oferece preparo suficiente para as exigências da profissão.
Não se exerce essas qualidades independentemente, pois constituem um todo
chamado interpretação profissional. O intérprete que melhor se ajustar ao discurso do
orador, tomando seu ponto de vista, utilizando-se de sua retórica e adaptando seu estilo
ao do palestrante, alcançará grandes resultados quando perceber que o público
demonstra sinais de aceitação e ri de uma piada, sinalizando com a cabeça sua aceitação
ou discórdia.

4.1.3. A formação acadêmica

Se assumirmos que o intérprete já possui as qualificações lingüísticas


necessárias e identifique-se com o perfil exigido, resta-nos concentrar em sua formação
acadêmica. Pode-se dizer que há o treino individual e o treino institucional. O primeiro
em relação ao treino feito em casa, por meio de pesquisas, aquisição de vocabulário,
leitura, atualização em palestras e congressos, e o último em relação ao treino obtido em
instituições com um apoio pedagógico.
Essa profissão exige a prática de listening (audição) focalizando na busca de
sentido e não de palavras. A paráfrase é um ótimo treino nesse sentido, pois os alunos
terão de transmitir a mesma mensagem utilizando palavras diferentes. Eles também
deverão aprender a concentrar-se no formato do texto a fim de lembrar o que foi dito
sem ter de memorizar os termos utilizados.
Pagura (2001, p. 13) sugere que a aprendizagem inicie-se na prática da
consecutiva partindo para a simultânea somente mais tarde. Como abordado
anteriormente, a interpretação consecutiva é uma impressionante demonstração do
trabalho realizado pela memória cognitiva, já a simultânea permite-nos ver como o
sentido é construído. Por tais razões, ele afirma que é na consecutiva que o aluno
aprenderá a analisar o que está sendo dito sem as restrições de tempo impostas na
simultânea. Primeiramente, o aprendiz deve dominar o processo de análise no módulo
consecutivo. Em seguida, deve falar e ouvir ao mesmo tempo, para que sua voz não
atrapalhe a audição. Um treino de oratória pode proporcionar aos alunos clareza, boa
dicção e uma consciência do modo que discursam. Lederer (2003, p. 6) concorda com
Pagura no que diz respeito ao treinamento realizado. Segundo ela, o processo da

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


46

consecutiva contém todos os parâmetros do discurso e permite uma análise direta que
oferece conclusões claras do fenômeno da tradução:

[...] a interpretação consecutiva é a representação mais pura de como a


manifestação concreta de um discurso ou texto passa pela mente do tradutor
[ou intérprete] e torna-se uma outra manifestação concreta, desse modo
transferindo sentido. (LEDERER, 2003, p. 6, tradução nossa)22

4.1.4. Código de ética

O intérprete de conferências pode ser autônomo ou ser empregado fixo de


alguma organização, ou empresa nacional ou multinacional, tanto no setor público
quanto no privado. Sejam quais forem os lugares de atuação, o profissional deve ter
sempre em mente sua atitude profissional. Obter o reconhecimento e a confiança dos
clientes é uma certeza de trabalho futuro. Os elementos mais importantes são o senso de
responsabilidade, a autodisciplina e o código de ética.
A fim de proporcionar uma idéia geral do código adotado pelos membros da
AIIC, apresentaremos um resumo dos pontos mais relevantes. Em primeiro lugar, o
sigilo deve ser mantido independentemente do grau de importância do discurso. Ainda,
qualquer trabalho oferecido que contenha conhecimentos que fujam da qualificação do
intérprete deverá ser recusado. Da mesma forma, é dever dos membros da associação
oferecer aos seus colegas assistência moral e companheirismo. Além disso, deve-se
respeitar o preço de mercado determinado pela associação a fim de evitar a
desvalorização do trabalho e a concorrência.
As condições de trabalho devem ser minuciosamente observadas e exigidas no
início de um contrato. Com vistas a assegurar uma interpretação de qualidade, devem-se
levar em conta os seguintes pontos: 1. as condições de áudio, visibilidade e conforto
devem ser satisfatórias, de modo que a visão do orador seja completa e a distância da
cabine não interfira no caso de haver projeção em telão. Não deve haver interferência no
som e a altura da recepção deve ser pouco maior do que a altura da fala do intérprete.
Santiago, intérprete entrevistado, sugere atenção redobrada quanto a interferências, que
podem ocorrer devido a ondas de rádio e tecnologia wireless. Ele recomenda uma
distância de 50 metros entre uma cabine e outra, especialmente quando o equipamento

22
Texto original no anexo B, p. 93.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


47

for móvel. Além disso, a cabine deve ser bem arejada e à prova de som. 2. deve-se
sempre trabalhar em duplas, alternando-se a cada 30 minutos no máximo. 3. deve-se
solicitar, com antecedência, o envio de textos que serão lidos durante a apresentação,
assim como documentos e apresentações em Power Point.
Em suma, o Código de Ética, tão importante quanto às ferramentas de trabalho
do intérprete, deve fazer parte de seu dia-a-dia, já que é o mais valioso amparo legal
disponível atualmente.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


48

Capítulo 5

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


49

Capítulo 5

5.1. Os fatores que comprometem a interpretação

Nos capítulos 5 e 6 analisaremos os erros mais freqüentes em interpretações


simultâneas para oferecermos, mais adiante, uma proposta de estudo com base na teoria
apresentada e nas informações obtidas. Os dados analisados não possuem, em hipótese
nenhuma, o objetivo de criticar os autores das interpretações. Ao contrário disso,
estudaremos as opções de tradução e o processo mental e psicológico responsáveis pelas
decisões tomadas.
Pelas características da atividade, os erros são muito mais freqüentes do que se
imagina, já que a interpretação envolve material textual que é produzido oralmente
pouco antes de ser traduzido. Mesmo quando o orador utiliza um texto base ao qual o
intérprete teve acesso previamente, é muito provável que haja comentários imprevistos.
Posto isso, levanta-se a questão: como garantir os padrões de excelência e
profissionalismo previstos pelo código de ética profissional? A fim de propor meios de
aprimoramento que ajudem a evitar erros de interpretação, realizamos um estudo de
casos para tomarmos consciência das dificuldades mais encontradas de modo a
minimizar esses riscos.
Os casos citados a seguir são exemplos coletados durantes aulas de interpretação
simultânea de alunos do último semestre de Tradução e Interpretação da Unisantos em
2007, do estudo sobre as consoantes do inglês e do português de Ricardo Schütz (03
out. 2007) e do artigo de Raffella de Filippis Quental (2006). Também realizamos
entrevistas com os intérpretes José Augusto Rodrigues e Fernando Santiago dos Santos,
cujos relatos sobre o módulo simultâneo e os desafios encontrados com maior
freqüência foram imprescindíveis para a elaboração desta monografia.

5.1.1. O fator fonético

Quental (ibidem, p. 30) afirma que é bastante comum o intérprete ter de


desempenhar seu papel em um cenário em que o som seja de má qualidade, com ruído
de fundo, acompanhado de técnicos despreparados. Além disso, o orador pode ser

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


50

confuso, se expressar mal, falar demasiadamente rápido ou devagar, não dominar o


idioma em que por opção ou obrigação se expressa ou possuir um sotaque regional ou
nacional muito pronunciado. Segundo ela, esses fatores podem interferir em maior ou
menor grau na capacidade de concentração e no rendimento do intérprete.
No contexto típico da interpretação de conferência, na qual um grupo de pessoas
de diferentes nacionalidades se reúne com o propósito de discutir um assunto, é cada
vez mais freqüente encontrarmos oradores de diferentes locais comunicando-se em
inglês, com pronúncias as mais variadas possíveis. No caso do brasileiro que se
comunica em inglês, os fatores que podem agravar sua comunicação devem-se à
pronúncia com sotaque. A aspiração das oclusivas surdas do inglês /p/, /t/ e /k/, em
posição inicial de palavra, não tem equivalente em português. A transferência das
oclusivas /p/, /t/ e /k/ não aspiradas do português causará, em primeiro lugar, um erro
fonético23 e, em segundo lugar, um erro fonológico24, pois será percebida por nativos da
língua inglesa como /b/, /d/ e /g/, respectivamente. Ricardo Schütz (03 out. 2007) cita o
exemplo da palavra pig (porco) [phIg]. Caso seja pronunciada como [pIg], sem
aspiração, poderá ser confundida com a palavra big (grande) [bIg]. Há também a
interferência causada pelos alofones do português [t ] e [ ] nos fonemas /t/ e /d/

seguidos de [i], respectivamente, causando um erro fonológico. Assim, a palavra till


[tIl], abreviação de “até”, pronunciada erroneamente, poderá ser escutada como [t Il],
chill, que significa relaxar.
Por não possuirmos os fricativos dentais /è/ e /ð/, eles representam outro
problema, pois poderão ser trocados por /t/ e /d/, respectivamente, ou ser substituídos
por /t/, /s/ e /f/. O orador pode no primeiro caso ter a intenção de falar thin (magro) [è In]
e pronunciar tin (lata) [tIn]. Outro erro comum que pode acarretar conseqüências graves
é a troca de palavras que pertencem à mesma classe gramatical, como o caso do verbo
think (pensar) [è I k], ser pronunciado como sink (afundar) [sI k]. Schütz também
analisa as oclusivas /p/, /b/, /t/, /d/, /k/ e /g/, as africadas /t / e / /, e as fricativas /f/, /v/, /

è /, /ð/, /š/ e /ž/ que sempre ocorrem em posição final de palavra em inglês. A tendência
brasileira é a de acrescentar o som vogal /i/ após essas consoantes em final de palavra.

23
Schütz afirma que o erro fonético é aquele que causa apenas sotaque estrangeiro, podendo tornar o
falante cansativo ao nativo que o ouve. (vide referências bibliográficas).
24
Schütz afirma que o erro fonológico é aquele que pode causar mal-entendido na comunicação. (vide
referências bibliográficas).

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


51

Assim, se tomarmos como exemplo back [bæk], que significa “atrás”, back teria uma
sílaba extra [bæki]. Um outro problema envolve os sons /t/ ou /d/, em que o simples erro
fonético resultará em erro fonológico: eat (comer) [it] – each (cada) [it ]; cat (gato)
[kæt] – catch (pegar) [kæt ]; hat (chapéu) [hæt] – hatch (o chocar de um ovo) [hæt ].
Ainda há muitos outros equívocos fonológicos: o caso da retroflexa /r/ do inglês ser
substituída pela fricativa glotal /h/ do inglês resulta em erros como right (certo, direita,
etc.) [raIt] – height (altura) [haIt], a pronúncia errônea das fricativas /s/ e /z/ finais como
no caso da palavra eyes (olhos) [aIz] ser pronunciada como ice (gelo) [aIs], a tendência
de substituir as semi-consoantes /w/ e /y/ do inglês por /u/ e /i/, respectivamente,
causando problemas como year (ano) [yI r] – ear (orelha) [I r].
Muitas vezes o orador tem dificuldade em diferenciar certas palavras no singular
de sua forma no plural, pela proximidade lingüística de seus fonemas, como a diferença
entre man (homem) [mæn] e men (homens) [m n], por exemplo. O fonema /æ/ é
pronunciado em uma posição anterior baixa. A ponta da língua toca levemente a parte
traseira dos dentes da frente inferiores e a mandíbula é abaixada para proporcionar a
distância máxima entre a língua e o céu da boca. Já o fonema / / é produzido em uma
posição anterior média e sem movimentação ampla da mandíbula. Portanto, como
ambos fonemas são vogais simples, o que os diferencia é apenas a posição na cavidade
oral e o formato dos lábios, que ficam um pouco mais abertos ao pronunciar [æ]. Essa
semelhança também pode ser encontrada na pronúncia de bad (mau, ruim, etc.) [bæd] e
bed (cama) [b d] e é o que se chama de minimal pairs25.
Como proposto anteriormente, todo intérprete deve apurar o ouvido para
compreender pronúncias diversas. Algumas diferenças na pronúncia americana e
britânica aparecem na tabela a seguir:

AM BR
[r] omissão de [r]
work [w rk] [w3:k]
[t] sonoro e [i] [t] surdo e [I]
pretty [ phrIti] [ phrItI]
[OU] [ U]
boat [bOUt] [b Ut]

25
Palavras com significados distintos que possuem os mesmos sons com apenas 1 fonema diferente na
mesma posição da palavra, como em mat/sat e pen/pan.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


52

Se o intérprete não estiver acostumado com ambas as pronúncias e não levar o


contexto em consideração, poderá ter dificuldade em reconhecer os seguintes termos:

AM BR
coals [kOUlz] [k Ulz]
curls [k rlz] [k3:lz]
joke [ OUk] [ Uk]

jerk [ rk] [ 3:k]

Deve-se ter familiaridade não somente com a língua estrangeira com marca de
sotaque, mas também com as variantes que um fonema oferece em um mesmo país.
Existem termos como direct (dirigir, apontar, direto, etc.) e data (dados) que aceitam

duas ou mais pronúncias: direct [dI r kt] ou [daI r kt] e data [ deIt ] ou [ dat ]. Por não
saber qual pronúncia o orador utilizará, vale conhecer todas as formas fonéticas que um
termo pode apresentar a fim de reconhecê-lo.
A velocidade muitas vezes sobrecarrega o intérprete, que acaba cometendo erros.
Veja um caso que ocorreu durante uma aula de interpretação na qual os alunos do curso
de Tradução e Interpretação ouviam um discurso sobre literatura norte-americana e o
professor citou a expressão free verse [fri v rs]. Devido à semelhança fonética e a
rapidez com que a expressão foi pronunciada, houve um erro de compreensão e

entenderam fevers [ fiv rz]. Como estranharam o termo fevers (febres) no contexto,
optaram por omiti-lo.
Há também o caso da interferência fonética que ocorre quando o intérprete
possui domínio quase equivalente entre a LP e a língua-mãe, fato que interfere na
interpretação. Por tais razões, o intérprete acaba emitindo o que se chama de
shadowing26, ao invés de traduzir o termo ou a expressão para a LC. O intérprete pode
até mesmo misturar as duas línguas, como nos casos 1 e 2 coletados: no caso 1, o termo
na LP era including e foi traduzido como “includindo” e no caso 2, a expressão era tell
me que foi repetida sem nenhuma tradução na LC por soar muito natural para o
intérprete.

26
Repetição de termos da LP na LC, pronunciados “simultaneamente” com o discurso original.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


53

5.1.2. A expectativa frustrada

A decodificação fonética incorreta pode ocorrer por diversos motivos. Um deles


é a expectativa frustrada, quando a atitude do orador frustra uma expectativa do
intérprete, induzindo-o ao erro. Quental (2006, p. 31) cita um exemplo:

Caso 1a: A oradora italiana está falando de um funcionário do alto escalão


da empresa e, num tom muito sério, afirma: “x é l’ingegnere piú creativo
dell’impresa”. A intérprete entende “x é l’ingegnere piú cretino
dell’impresa”.

Sua justificativa é que o intérprete foi induzido ao erro pelo tom grave com que
o orador pronunciou sua opinião sobre aquela pessoa, em contraposição ao tom
esperado, já que se tratava de um julgamento extremamente positivo. Nesse caso foi a
ajuda do concabino que ajudou a evitar o erro e fez com que o intérprete reconsiderasse
o que seus ouvidos lhe diziam, utilizando o raciocínio lógico.
Outras vezes o orador fala de uma terceira pessoa utilizando-se de um termo no
inglês que não possui flexão para diferenciar o gênero masculino do feminino. Termos
como teacher Baker, que vêm acompanhados do sobrenome da pessoa, podem causar
equívocos quando o intérprete tiver de optar por um gênero. Caso escolha o masculino,
por exemplo, pode mais tarde descobrir, por meio de pronomes como her e she, que se
trata de uma professora, ferindo uma expectativa.
Nosso cérebro conta com uma vasta carga subconsciente, de grande auxílio na
interpretação simultânea. Muitas vezes um termo fere a expectativa com relação ao
contexto, pois “algo soa errado”, então o intérprete opta por omitir o termo não
compreendido na primeira vez que ouve, mantendo o discurso coerente da melhor forma
possível, redobrando sua atenção na segunda vez que o termo for citado, traduzindo-o
então para a LC.
Um outro caso coletado foi o problema de nome próprio e substantivo. O orador
discursava sobre uma história de cachorros e citava-os em uma seqüência. Ao
pronunciar a palavra pig inesperadamente, o intérprete ficou confuso se esse seria um
nome próprio ou se um novo personagem, um porco, entrava na história. A decisão
tomada, sob pressão do tempo, foi traduzir como um nome próprio, porém, ao perceber

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


54

o erro, o intérprete se desculpou, corrigindo-se. A correção por parte do intérprete é


considerada um procedimento normal e é aconselhável para esclarecer que o erro foi
dele e não do orador. Desse modo, ao desculpar-se, o intérprete deve deixar uma marca
perceptível no discurso como “desculpe” ou “perdão”, dirigindo-se diretamente ao
público.
Rodrigues e Santiago, intérpretes entrevistados, são da mesma opinião quanto à
pesquisa realizada de antemão. Eles afirmam que esse preparo é de extrema
importância, já que ajuda a evitar o erro no caso de uma expectativa frustrada.
Recomenda-se, então, levar para a cabine um glossário com termos, nomes de pessoas
que serão citadas, a fim de evitar falha na identificação fonética, e abreviações em
ordem alfabética, especialmente em congressos técnicos, nos quais a terminologia
utilizada é específica. A visão total do orador é outro fator importante, já que a
linguagem corporal do orador determinará, com freqüência, o sentido da mensagem e
ajudará a desfazer qualquer mal-entendido. Ao interpretar entrevistas com os atores do
filme “A Intérprete”, os alunos de Tradução e Interpretação haviam se preparado
anteriormente com o vocabulário técnico utilizado no vídeo. Em um certo momento,
falava-se sobre o hábito de intérpretes tocarem instrumentos musicais e citaram o
instrumento bassoon. Graças ao glossário preparado com antecedência, o termo foi
perfeitamente interpretado como “fagote”. Já uma falha na composição do glossário em
outro exemplo na qual aparece um nome específico de planta, o termo myrtle, que
possui seu equivalente no português como “mirto”, foi generalizado pelo termo “moita”.
Rodrigues afirma, durante a entrevista, que uma das maiores dificuldades que
sentiu durante os eventos internacionais foi seguir a linha de raciocínio do orador que,
ao falar, não finalizava suas sentenças. Ele coloca que muitas pessoas, ao discursarem,
afastam-se do tópico principal, entram em um outro assunto e só depois retomam o que
falavam, chegando a uma conclusão. Essa linha de raciocínio deixa lacunas e frustra a
expectativa do intérprete. A fim de evitar sentenças inacabadas, Rodrigues procura
estudar sobre o assunto com antecedência, pois, conhecendo o tema, ele tem como
retomar a explicação, contando, às vezes, com o auxílio da apresentação em Power
Point para traçar relações lógicas e retornar ao discurso original.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


55

5.1.3. A semelhança fonética

O erro nesse caso ocorre quando o intérprete pretende dizer um termo, mas,
devido à semelhança fonética com o termo pretendido na LC, acaba dizendo outro.
Certas palavras pertencem ao mesmo campo semântico, já outras apenas possuem um
som semelhante.

É possível que, quando o intérprete busca apressadamente o termo certo na


memória, com a pressão do tempo que é característica da interpretação
simultânea, o cérebro às vezes se deixe enganar pela forma e acabe se
detendo num termo semelhante, mas errado. (HERCULANO-HOUZEL
apud QUENTAL, 2006, p. 32)

Quental (2006, p. 32) coloca a concepção de Maria Paula Frota, apresentada no


livro A singularidade na escrita tradutora: linguagem e subjetividade nos estudos da
tradução, na lingüística e na psicanálise, que afirma que a ação do inconsciente é
impossível de ser evitada.

O ato falho é um mecanismo psíquico ao qual todos estamos sujeitos, que


envolve o aparecimento, na fala ou na escrita, de um termo não intencional,
motivado por um desejo ou uma expectativa inconscientes.

Muitas vezes as palavras são simples e não exigem um vocabulário profundo,


como o exemplo obtido durante um discurso feito por uma professora sobre Bariloche,
em que o termo cinnamon (canela) aparece, mas devido a um ato falho, o intérprete
traduz por “cimento”.
Outro exemplo coletado durante a interpretação de um trecho dos depoimentos
dos extras de “A Intérprete” foi a expressão 3 pieces of information, que o intérprete
conhecia e sabia que deveria traduzir como “3 informações”, omitindo pieces para que a
expressão no português soasse natural. Entretanto, devido à semelhança fonética com o
termo na LC, traduz como “3 pedaços de informação”. Outro exemplo de ato falho foi
coletado durante a Simultânea de um vídeo sobre o Central Park em que aparece a
expressão all classes of people. A influência da língua inglesa na LC foi tão grande que,
mesmo conhecendo a expressão “classes sociais”, o resultado foi “classes de pessoas”.
Outro exemplo é o termo track que significa caminho, trilha, e foi traduzido por
“truque”.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


56

5.1.4. Falsos cognatos

Não existe uma relação preestabelecida entre as palavras de línguas diferentes,


pois sua equivalência em uma outra língua dependerá do contexto, como visto
anteriormente. Entretanto, há alguns nomes próprios como England e palavras de
natureza mais técnica que não exigem tanto esforço mental. No campo semântico
médico, pode-se facilmente encontrar o equivalente “diabete” para a palavra diabetes,
por exemplo.
Conforme Schütz (03 out. 2007) explica em seu artigo veiculado na Internet, os
falsos cognatos são palavras normalmente derivadas do latim, que possuem, portanto, a
mesma origem e que aparecem em diferentes idiomas com ortografia semelhante.
Porém, o processo é lento; pois foi ao longo do tempo que elas adquiriram significados
diferentes.
Esse fator é muito comum e pode ser observado em diversos eventos com
interpretação. Foi esse o caso de uma interpretação feita em aula dos depoimentos do
“behind the scenes” do filme “Atração Fatal”. O substantivo diversion foi citado e foi
traduzido como “divergência”; no entanto, o termo diversion significa diversão, desvio,
mudança de aplicação, distração, etc. Já o termo divergência significa uma diferença de
opinião; desentendimento, discordância, etc. Outro exemplo é o termo mass, que pode
ser confundido por “massa” quando significa “missa”, assim como sympathy
(compaixão, empatia), que pode ser confundido por “simpatia”. Esse foi o caso de um
dos alunos, que durante um exercício, ao ouvir o termo sympathy lembrou
imediatamente de “simpatia”. Ciente de que estava errado, omitiu-o na LC, por não
encontrar nenhum equivalente no português. O ideal no caso dos falsos cognatos é a
prática de leitura constante na língua com a qual se trabalha, redobrando a atenção aos
termos mais problemáticos a fim de tê-los sempre claros na memória.

5.1.5. A interferência de estados

Nesse caso, são as circunstâncias momentâneas sentidas pelo intérprete que


interferem na interpretação. Existem casos como os abordados por Quental (2006, p.
32), em que o intérprete, muito cansado ao final de um longo turno, ouviu a frase you
were so exhaustive, that we have no questions pronunciada pelo organizador de um

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


57

evento em resposta a uma pergunta do orador. No contexto, o significado de exhaustive


era “completo”; entretanto, o intérprete entende we are so exhausted that we have no
questions e traduz a frase da seguinte forma: “Estamos tão exaustos, que não temos
perguntas”. Esse fator é novamente a prova de que a jornada de trabalho do intérprete
deve ser respeitada e que ele deve estar sempre acompanhado de um concabino.

5.1.6. As dificuldades morfossintáticas

As dificuldades morfossintáticas encontradas em interpretações simultâneas


referem-se, sobretudo, ao tempo verbal, à substantivação, ao uso de preposições, ao
gênero utilizado e ao emprego de verbos específicos. Muitos verbos, substantivos e
adjetivos no inglês mudam de função sintática com facilidade, acrescentando sufixos ao
radical da palavra, como fortyish e marriageable, por exemplo, que não possuem
equivalência no português; já os artigos podem apresentar problemas no caso do
intérprete estar acompanhando o orador que fala rápido, e decidir usar o artigo definido
masculino “o” quando ele cita the, descobrindo segundos depois que a palavra seguinte
é feminina na LC. Muitas vezes ocorre mudança de gênero quando há troca de “ela(s)”
por “ele(s)” e vice e versa. As preposições são um caso à parte, juntamente com os
famosos phrasal verbs (verbos preposicionais), pois o significado pode mudar
bruscamente apenas com a troca da preposição ou do advérbio que acompanha o verbo.
No caso da língua inglesa, a quantidade de verbos específicos é muito maior do que no
português, o que dificulta o trabalho do intérprete, que precisa ocupar mais tempo
acrescentando informação ao verbo.
O tempo verbal representa um desafio ao intérprete que traduz do inglês para o
português, pois existem diversos equivalentes para estruturas no tempo verbal present
perfect. A frase Students have become pode apresentar diversas traduções, de acordo
com o contexto: os alunos se tornam, se tornaram, têm se tornado, estão se tornando e
vêm se tornando. Deve-se também evitar vícios de linguagem e o uso de gerundismo,
que são muito recorrentes na linguagem oral.
Alguns exemplos foram coletados em relação à mudança sintática. No primeiro
caso, o termo smoothness foi pronunciado ao descrever o gramado de uma pintura e o
intérprete encontrou dificuldade em encontrar o equivalente no português. Com a
pressão do tempo, não lhe ocorreu o substantivo para “suave” ou “macio”, que seria

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


58

“maciez”, tendo que omiti-lo. Muitas vezes os termos parecem ser simples ao término
do evento, mas, como citado anteriormente, somente a prática fornecerá agilidade de
raciocínio. No segundo caso, a expressão forence guy (agente forense) apresentou
dificuldade ao intérprete por este não possuir um domínio lingüístico na área de
investigação criminal. Assim, não conseguiu encontrar o adjetivo adequado, traduzindo
a expressão como “agente forênsico”.
Há muitos outros casos: como o do termo heads of state, que também não
ocorreu ao intérprete, traduzindo-o como “cabeças de estado” quando no português seria
“chefes de Estado”. Há o caso de publisher que foi omitido por faltar a equivalência no
português. A linha de raciocínio do intérprete nesse exemplo foi lembrar do verbo
“publicar”, seguido de “publicador” que foi automaticamente excluído por não soar
natural, seguido da omissão do termo. Devido a uma associação de idéias, o intérprete
ficou preso à palavra da LP ao invés de buscar “editor” na memória.
O fato de o intérprete ter de conhecer suas línguas de trabalho deve-se às
exigências que enfrenta todos os dias. Ao deparar-se com preposições, ele deve estar
apto a distinguir o significado de termos acompanhados de to e for, por exemplo. Se o
adjetivo responsible estiver acompanhado de for significa ser responsável por algo ou
alguém, já responsible to significa ter de se reportar a alguém. Há também os verbos
acompanhados de preposições, podendo vir separados como put on e put away que
aparecem como put your coat on (coloque seu casaco) ou she put the plates away (ela
guardou os pratos), que exigem a atenção do intérprete para aguardar a preposição e
definir o significado do verbo.
Muitos verbos em inglês são detalhados na forma em que são executados, como
os verbos glance, look, glimpse, stare, etc. Outros são utilizados no inglês, mas não no
português, como o verbo nod que significa acenar com a cabeça demonstrando
aceitação ou concordância.
Outras vezes a dificuldade encontra-se na estruturação da sentença: a frase the
clothes were perfect ficou como “as roupas foram perfeitas”, mudando o sentido do
original. Aqui were possui duplo sentido (foram, ficaram); entretanto, de acordo com o
contexto, o termo adequado seria “ficaram”. Outra frase é I went to the clothing rental
place traduzida como “Eu fui ao lugar de alugar as roupas”, na qual a intérprete hesitou
um pouco ao perceber que, se continuasse a construir aquela estrutura, haveria
aproximação sonora dos termos “lugar” e “alugar”.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


59

A ordem invertida das palavras no inglês é outro fator problemático. A atenção


deve ser redobrada com a aparição de sintagmas nominais. A ordem de adjetivos que
antecedem os substantivos pode ser longa, forçando o intérprete a esperar até que ouça o
substantivo para re-expressar a sentença, atrasando seu discurso.

5.1.7. As diferenças culturais

Graças à globalização muitas pessoas de nacionalidades diferentes encontram-se


em eventos e ministram palestras em diversos países. É importante reconhecer que
pessoas de culturas diferentes são distintas de várias formas, incluindo o modo de olhar
o mundo, de expressar sua personalidade e ponto de vista, suas crenças, hábitos e
valores.
Toda língua possui uma carga de significação intrínseca à cultura a que pertence.
Portanto, as estruturas, as expressões, ou seja, a língua de um modo geral, possui
características que refletem o modo de pensar do povo que a utiliza. Por isso,
encontramos com certa freqüência palavras que não existem em outra língua, assim
como línguas que são mais detalhadas, redundantes ou sintéticas do que outras.
Assim, o desafio dos intérpretes é encontrar equivalentes para expressões e
explicá-las. Às vezes basta uma inversão como no caso de 4 by 3 format que ficaria
“formato 3 por 4” no português. Outras vezes são necessárias equivalências como no
caso de know something like the back of your hand traduzido como “saber algo como a
palma da mão” no sentido de conhecer algo muito bem. Nesse exemplo, o termo
utilizado pelos falantes da língua inglesa é as costas da mão, enquanto que para nós é a
palma. As expressões consagradas merecem cuidado especial, já que nem sempre
significam o que parecem: jump to conclusions não significa “saltar nas conclusões”
nem “tirar conclusões”, mas sim “tirar conclusões apressadas”. As cores também
costumam ter significados diversos em comunidades culturais diferentes, como no caso
da expressão to be blue, que significa “estar triste”. A carga semântica do termo “azul”
nessa expressão em inglês difere da carga semântica que o termo possui no português:
enquanto azul possui uma idéia de tristeza no inglês, no português ao falarmos “está
tudo azul” o termo remete a uma idéia de serenidade, tranqüilidade e paz.
Ao entrar no campo das expressões idiomáticas, deve-se tomar cuidado com o
público alvo e com a intenção da expressão na LP, pois caso uma expressão como

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


60

raining cats and dogs seja utilizada, deve-se avaliar se o orador teve a intenção de
utilizar uma expressão antiga, se a expressão “chovendo canivetes” será compreendida
pelo público alvo e se a mudança para uma expressão mais recente não acarretaria
mudanças de significado, no caso de uma piada, por exemplo.

5.1.8. Citações e provérbios

No caso de citações famosas e provérbios, não há como prever o que será


enunciado, por isso a leitura de mundo do intérprete precisa ser ampla e atualizada.
Assim, caso apareça uma citação famosa, o equivalente na LC soará natural. Segundo
Santiago, o intérprete entrevistado, o caso dos provérbios é um pouco mais complicado.
Como o número de provérbios existentes é muito amplo, torna-se impossível, por maior
que seja a freqüência desse tipo de leitura, memorizar todos e ativar a sentença
equivalente na LC durante a simultânea. Desse modo, sua sugestão é procurar fazer a
equivalência na LC se possível ou, caso contrário, recorrer à explicação do provérbio.

5.1.9. Títulos

Títulos de livros e filmes devem ser verificados anteriormente, pois é necessário


conhecer os títulos adaptados na LC. Nem sempre a sugestão dos tradutores durante a
produção de uma obra ou filme é acatada. Por trabalhar diretamente com a mídia, a
propaganda e a promoção desses trabalhos, cabe aos publicitários intitular as obras.
Portanto, muitos títulos não são traduzidos e sim adaptados com propósitos comerciais.

5.1.10. Poemas e piadas

O caso da poesia e da piada gera uma discussão infindável entre tradutores e


intérpretes. Traduzir ou não, reproduzir o texto da LP ou não, resumir, qual seria a
melhor opção para a interpretação simultânea de um texto tão literário e de outro tão
cultural? Um poema que um tradutor levaria horas para traduzir, procurando manter
suas rimas e características não poderia ser realizado em poucos minutos, por isso

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


61

recomenda-se verificar com o orador anteriormente os textos que serão apresentados,


para que o intérprete possa se preparar com antecedência e se informar sobre a
existência do poema já traduzido na LC. Caso contrário, recomenda-se resumir o que o
autor quis transmitir com seu texto. Santiago ainda sugere que o intérprete ofereça ao
público o lugar onde possam encontrar o poema original. Caso seja possível, o ideal é
propor ao orador que apresente o texto projetado durante sua apresentação.
Conhecer a literatura, a história e a cultura do país onde a língua de trabalho é
falada é essencial. As piadas contadas, especialmente no caso do Oscar, ilustram a
realidade americana. Elas remetem à política, à religião, ao racismo, às guerras e ao que
o país vivencia. Assim, representam um problema mais sério na interpretação, já que
muitas vezes as questões discutidas no país de origem não são as discutidas em um
outro naquele momento. Por não surtir o mesmo efeito no público, há uma perda
inevitável. O mesmo ocorre com os trocadilhos e jogos de palavras. Devido à falta de
equivalência, além do curto tempo disponível para que o intérprete crie uma nova
repetição de sons e busque palavras com duplo sentido, elas acabam sendo traduzidas
literalmente. Novamente, o que Santiago sugere, na entrevista realizada, é reunir-se
com o orador a fim de conhecer de antemão o que será apresentado no evento e as
piadas que serão contadas, para verificar o nível de humor, o palavreado e a possível
equivalência, reformulando-a, se necessário, para evitar possíveis situações
constrangedoras.

5.1.11. O caso dos números

De todos os fatores que comprometem a interpretação, o caso dos números é o


mais intrigante. Seja na interpretação consecutiva ou na simultânea, pode-se afirmar que
quando números aparecem a situação é realmente mais preocupante. “O aparecimento
de números automaticamente coloca o intérprete num estado de alerta mental, que chega
a ser audível no tom de sua voz e visível na sua postura e atitude.” (QUENTAL, 2006,
p. 33)
Números como 15 e 50, 17 e 70, assim por diante, costumam ser fatores que
confundem na tradução de datas, como o que ocorreu em um caso coletado na qual o
ano “1870” na LP ficou como “1817” na LC. Santiago cita a forma como os anos são
pronunciados, como o exemplo “1800” (eighteen hundred), que por serem muito

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


62

diferentes da ordem do português, tomam mais tempo do intérprete para raciocinar.


Números com ordem de grandeza maior são freqüentemente confundidos, como o
exemplo obtido durante a interpretação de um vídeo sobre o Central Park, na qual o
número 800.000 aparece e é traduzido como 800.
Quental (ibidem, p. 33) acredita que parte do desafio que os numerais
representam reside na característica da precisão que possuem. Todos os termos têm, em
maior ou menor quantidade, um leque de opções de equivalência, que devem adequar-se
ao contexto; entretanto, os números oferecem apenas uma única opção. Além disso, os
outros termos oferecem, de certa forma, uma previsibilidade maior em função do
contexto do que as informações numéricas e binárias, de modo geral.
A autora também sugere a explicação de que a maioria dos intérpretes possui
uma formação em ciências humanas e/ou sociais, de modo que não possuem tanta
desenvoltura com números quanto um profissional com formação na área técnico-
científica. Ao redobrar a atenção quando os números entram em cena, os intérpretes em
geral acabam demonstrando um estado de surpresa, com grandes sinais de nervosismo,
comprometendo sua capacidade de percepção e aumentando o risco de erro. Portanto,
recomenda-se fazer um acordo prévio com o concabino para que, quando um deles
estiver na fase passiva, redobre a atenção e anote os números de forma legível para seu
companheiro, a fim de evitar a sobrecarga da memória deste, que já está ocupada com
outras informações.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


63

Capítulo 6

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


64

Capítulo 6

6.1. Análise do Corpus

Os eventos escolhidos para a análise deste corpus foram a 79ª edição do Oscar,
realizado no dia 25 de fevereiro de 2007 em Los Angeles, Califórnia e o MTV Vídeo
Music Awards 2007 (VMA), realizado no dia 09 de setembro de 2007 em Las Vegas.
Os dois eventos tiveram como LP o inglês e como LC o português. Ambos tratam-se de
premiações no âmbito das manifestações artísticas (música e cinema) que são
direcionadas a diversas classes sociais. A análise será fundamentada à luz dos teóricos
abordados nesta monografia que compartilham da mesma opinião em relação à prática
dessa profissão.
O intérprete responsável pela interpretação do evento deve inteirar-se sobre a
história e os procedimentos dos eventos, assim como conhecer as pessoas relacionadas a
eles, as premiações e suas nomenclaturas em ambas as línguas. Os intérpretes
responsáveis pelos eventos analisados utilizaram a 1ª pessoa do singular no discurso,
visto que a 3ª pessoa poderia deixar as sentenças ambíguas e sobrecarregá-las com
pronomes relativos, possessivos e conjunções, diminuindo o impacto e a vivacidade do
discurso na LC. Ao falar na 1ª pessoa, o intérprete dispensa a citação freqüente de
nomes, já que o público conta com o recurso da imagem televisionada. Vale lembrar
que é muito freqüente um intérprete homem interpretar uma oradora mulher e vice-
versa, já que o intérprete costuma assumir o papel do orador sem causar nenhum
estranhamento a quem ouve. Em nenhum dos eventos analisados houve distinção de
gênero.
A 79ª edição do Oscar foi apresentada por Ellen Degeneres no Teatro Kodak em
Hollywood e foi transmitida originalmente pela rede norte-americana ABC, com
transmissão ao vivo no Brasil pelas emissoras Rede Globo de Televisão e TNT. A
Globo teve como responsável pela interpretação simultânea Elizabeth Hart27 e contou
com a participação dos comentaristas José Wilker e Maria Beltrão, que, por sua vez,

27
Elizabeth Hart faleceu no dia 29 de outubro de 2007, no Rio de Janeiro. A intérprete estreou na TV
Globo em 1981 e trabalhou na premiação do Oscar durante anos, destacando-se pela pronúncia e
entonação corretas.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


65

alternava-se com a intérprete. O canal TNT teve Regina McCarthy como a responsável
pela interpretação simultânea e contou com a participação do crítico Rubens Ewald
Filho, que alternava com McCarthy durante a interpretação, e da repórter Maria
Cândida.
O VMA 2007 foi realizado no Palms Casino Resort em Las Vegas. O evento foi
originalmente transmitido pela MTV norte-americana, com transmissão ao vivo pela
MTV brasileira. O intérprete responsável pelo evento foi Mario Peixoto, que trabalhou
sem a ajuda de nenhum outro intérprete.
Nossa análise visa as causas dos erros observados mais freqüentes em
interpretações simultâneas. Comparamos as decisões tomadas pelos intérpretes da
Globo e da TNT até o Caso nº. 20 com a finalidade de analisar o raciocínio dos
profissionais que levou às decisões assim como os fatores mais problemáticos. A partir
do Caso nº. 21, apresentaremos apenas as versões do original e da Globo devido à
interrupção da gravação transmitida pela TNT. Os vídeos encontram-se disponíveis ao
final deste trabalho e os capítulos das cenas analisadas são apresentados no Anexo C.
Ao apontarmos os erros, tomaremos como base somente as teorias abordadas
nesta monografia e o contexto no qual as sentenças em questão se inserem, uma vez que
não foi possível um contato prévio com os autores das interpretações para que
explicassem as decisões tomadas.

6.1.1. Análise do Oscar

Por motivos de visualização e organização, adotamos as seguintes normas de


transcrição a fim de mantermos uma uniformidade. Segue-se a relação:

1. Reticências entre colchetes [...] – utilizado para toda hesitação e pausa feitas pelos
intérpretes indicando reflexão;

2. Interjeições entre colchetes [eh...], [ahn...] – para indicar as interjeições que indicam
reflexão do intérprete;

3. Palavras entre parênteses ( ) – hipóteses do que se ouviu com dificuldade;

4. MAIÚSCULAS – para indicar ênfase de um termo;

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


66

5. Grifo – grifaremos todos os termos ou trechos que merecem maior atenção;

6. Explicação entre parênteses duplos (( )) – para indicar os comentários descritivos do


transcritor.

Vale ressaltar que os intérpretes utilizaram linguagem coloquial dada a


informalidade dos eventos. Por se tratar de eventos “televisionados”, adotaremos para a
análise do corpus o termo “telespectadores” ao invés de “ouvintes”.

Caso nº. 1

Discurso Original Globo TNT

(Bub Asman):

who, in time of crisis, que, sempre no momento que, numa época de crise
have all made that decision das crises decidiram tomaram essa decisão de
to defend their personal defender a sua liberdade defender a nossa liberdade
freedom and liberty, no pessoal [...] a qualquer [eh...] a custa de todo
matter what the sacrifice sacrifício sacrifício

Devido ao fato de freedom e liberty poderem ser traduzidos pelo mesmo termo
em português, “liberdade”, ambos os intérpretes optaram por generalizar.
Um dos fatores problemáticos explicados por Quental (2006, p. 31) ocorrente
nesse caso foi a semelhança fonética entre sacrifice e “sacrifício”, que levou ambos os
intérpretes a decidir pelo segundo, muito embora soasse mais natural como “a qualquer
custo” ou “a qualquer preço”.

Caso nº. 2

Discurso Original Globo TNT

(Michael Minkler):

There’s no way I’m going Eu não vou conseguir fazer Não vou conseguir falar
to be able to do this by isso só [eh...] de cor isso de memória
memory, so…

Devido à semelhança fonética, é muito fácil confundir-se em relação ao termo


adequado na LC. Houve semelhança fonética na interpretação da TNT e a expressão by
memory foi traduzida como “de memória”, causando estranhamento. Já na Globo, o

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


67

intérprete apresentou a interjeição [er...] que indica sua reflexão, seguida da escolha do
termo mais adequado, “de cor”.

Caso nº. 3

Discurso Original Globo TNT

(Ellen Degeneres):

Earlier in the show you Nós vimos a estatueta já e Vocês viram, eles
saw that we created an vamos estar interpretando recriaram uma estatueta do
Oscar statue and [ahn...] várias cenas de Oscar e durante o show
throughout the night they’ll vários filmes. eles vão interpretar alguns
be interpreting some of the dos filmes indicados do
year’s nominated films. ano.

Houve ocorrência de gerundismo na interpretação da Globo. Não houve


mudança de significado. O intérprete optou por omitir in the show (no show),
generalizando com a primeira pessoa do plural (nós vimos), o que não alterou o sentido.
Não houve especificação dos filmes que seriam interpretados: alguns dos filmes
indicados.
O intérprete da TNT dirige-se ao público, evita o gerundismo e explicita quais
serão os filmes interpretados.

Caso nº. 4

Discurso Original Globo TNT

(Leonardo Di Caprio):

So Mr Gore we’ve got a So, ENTÃO, Sr. Gore, Mr Gore, tem muita gente
big crowd out here tonight, você viu que grande é a aqui hoje.
even a bigger one at home, nossa platéia. Você quer
is there anything you might anunciar alguma coisa, Alguém que você queira
wanna announce? alguma candidatura? destacar?

Houve repetição do termo inglês So na Globo. Após percebê-la o intérprete se


corrige e enfatiza o termo “então”. O intérprete capta a idéia do “anúncio” e explicita o
tipo de anúncio, “alguma candidatura”.
Também na TNT houve repetição, mas dessa vez do pronome de tratamento Mr
(Sr.) e mudança de sentido na pergunta final.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


68

Caso nº. 5

Discurso Original Globo TNT


(Al Gore):
E, obrigada Leonardo E, obrigado Leo...
And thank you Leo…

Na Globo, a intérprete não assumiu o papel do orador, agradecendo no gênero


feminino, o que é uma discrepância com a forma adotada no restante da interpretação,
consequentemente, causa estranhamento ao telespectador. Deve-se adotar um padrão:
falar na 1ª pessoa, adaptando-se ao gênero do orador, ou na 3ª pessoa.

Caso nº. 6

Discurso Original Globo TNT

(Leonardo DiCaprio):

The American film A indústria americana A indústria do cinema


industry is always taking sempre cumpriu com as americano sempre levou a
its obligations to society suas obrigações.......... sério suas obrigações com
very seriously a sociedade...

Houve omissão e generalização na Globo quanto ao tipo de indústria americana.


Devido à pressão do tempo, o intérprete da TNT acabou omitindo a palavra “para” que é
a colocação de “obrigações” em “obrigações para com a sociedade”, tornando-a mais
coloquial.

Caso nº. 7

Discurso Original Globo TNT

(Leonardo DiCaprio):

Tonight we are proud to e nós temos orgulho de Hoje temos o prazer de


announce that for the first anunciar que pela primeira anunciar pela 1ª vez na
time in the history of the vez na história do Oscar história, o Oscar ficou [...]
Oscars the show’s esse show virou VERDE. ECOLÓGICO.
officially gone green.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


69

Houve presença de uma expressão idiomática que foi traduzida literalmente na


Globo, mas a inadequação do termo causou estranhamento na LC. De acordo com os
intérpretes entrevistados Rodrigues e Santiago, deve-se procurar sempre fazer uma
adaptação para a LC.
Houve reflexão e adaptação na TNT. A expressão também poderia ser traduzida
como “está ecologicamente correto” ou “está ecológico”, que obedece a gramática
normativa do português.

Caso nº. 8

Discurso Original Globo TNT

(Leonardo DiCaprio):

Now, are you sure, are you Agora, você tem certeza, Você tem certeza de que
positive, that all this hard positivamente, que você este trabalho não te
work hasn’t inspired you to não tá inspirado a fazer inspirou a fazer outro tipo
make any other kind of nenhum anúncio... de comunicado ao mundo?
major, major
announcement to the world
here tonight?

Faltou ao intérprete da Globo o adjetivo equivalente na LC para o termo


positive. Sua decisão foi transformá-lo em advérbio de modo, o que não soou natural
aos telespectadores. Ao reforçar apenas a idéia de certeza (are you sure, are you
positive), o intérprete da TNT optou por generalizar.

Caso nº. 9

Discurso Original Globo TNT

(Al Gore):

Well, I do appreciate that Olha, eu agradeço Leo, Bem, eu agradeço, mas o


Leo, and I’m kind of LÉO, bem íntimo né, mas fato [...] eu tô me sentindo
surprised at the feelings so eu tô muito surpreso com muito bem de estar aqui,
(while) I’m up here you’ve tudo isso e tá aqui eu tô foi muito convincente
been very convincing convencido que eu devia
fazer a outra coisa

Na primeira interpretação, o intérprete repete o nome em inglês Leo, mas


corrige-se logo em seguida, repetindo o nome agora acentuado no português, fazendo

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


70

uma observação sobre a intimidade do apelido, inexistente no original. Houve perda de


conteúdo em ambas as interpretações e mudança de sentido.

Caso nº. 10

Discurso Original Globo TNT

(Ellen Degeneres):

Well, because the show is Como esse programa hoje é Porque esse show é
green… verde ecológico

O erro do Caso nº. 7, abordado por Rodrigues e Santiago em entrevista realizada,


manteve-se na Globo, na qual a tradução literal prevaleceu ao invés de usar uma
adaptação da expressão.

Caso nº. 11

Discurso Original Globo TNT

(Cameron Diaz):

Animated features have Filmes de animação O desenho animado mudou


come a long way since andaram um caminho muito desde que o Walt
Walt Disney was awarded grande desde que o Walt Disney ganhou um Oscar
a special Oscar in 1938 for Disney ganhou um Oscar especial em 1938 por uma
a significant screen especial em 88 por uma inovação na tela
innovation inovação significativa na
tela

Conforme abordado por Quental (2006, p. 32), o fator numérico em relação ao


ano foi a causa do erro na primeira interpretação. A relação fonética entre thirty (trinta)
e eighty (oitenta) parece ter sido um fator problemático. Em relação ao trecho have
come a long way, nenhuma das interpretações foi fiel ao sentido do original. A Globo
foi muito literal e a TNT mudou o sentido ao afirmar que o desenho animado havia
mudado. Uma sugestão de tradução para esse caso é “progrediu muito”, que transmite a
idéia original de movimento e progresso.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


71

Caso nº. 12

Discurso Original Globo TNT

(Ben Affleck):

There’s an old adage [ahn...] Existe um antigo Tem uma velha frase
dito

Conforme Quental (2006, p. 31) explica, houve problema de semelhança


fonética. O intérprete da Globo pretendia dizer “ditado”, mas devido à pressão
pronunciou algo parecido, “dito”, porém errado semanticamente. Já o intérprete da TNT
optou por “frase”, que se adequa à situação, mas não possui o mesmo sentido.

Caso nº. 13

Discurso Original Globo TNT


(Tom Hanks):

First, admit that you are Primeiro você tem que Primeiro, admite, admita
powerless over alcohol and admitir que você não é um que você não tem o menor
your life has become alcoólatra poder contra o álcool,
unmanageable passo segundo,
Não, Tom, Tom e não,
Step 2
no outros términos dos Não, esses são os passos
(Helen Mirren ): Alcoólatras Anônimos. errados

Tom, Tom, Tom…

(Tom Hanks):

Oh, those were the wrong


steps

No original o adjetivo utilizado powerless mais a preposição over que o


acompanha significa que algo ou alguém não tem poder sobre um outrem ou outra
coisa. Na primeira interpretação, perdeu-se o sentido do original. Na segunda, manteve-
se o sentido e houve correção do tempo verbal utilizado.
Nesse discurso, houve superposição de vozes. Portanto, o trecho de Helen
Mirren não foi traduzido na TNT. Já na Globo, a voz do intérprete utilizada para os dois

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


72

oradores não demonstrou essa sobreposição, uma vez que os trechos abordados foram
pronunciados rapidamente, sem pausa, tornando difícil a compreensão para os
telespectadores. Também não há equivalência com o texto original e falta coesão na
tradução da segunda fala de Tom Hanks.

Caso nº. 14

Discurso Original Globo TNT

(Ellen Degeneres):

I’ll be selling at the Eu vou estar vendendo Eu vou vender isso aí nos
backstage later or on Ellen essa, [...] esses negócio bastidores
TV.com a little later on. aqui ou então na TV.com
no (Ebay)

Na interpretação da Globo há a influência da língua inglesa ao utilizar o


gerundismo para indicar uma ação no futuro. Há também uma falha de número em
relação ao trecho “esses negócio”, provavelmente porque a intenção do intérprete era
continuar com um substantivo no plural, mas, por não o encontrar, substituiu-o por
“negócio”.

Caso nº. 15

Discurso Original Globo TNT

(Anne Hathaway):

Why don’t you say? Fala você, que você com o Tudo soa melhor com o
Everything sounds better acento britânico fica mais sotaque [...] inglês.
with the British accent. bonito.

Segundo Quental (2006, p. 31), pode-se afirmar que houve semelhança fonética
do termo accent na Globo. O termo foi traduzido por “acento”, que é muito próximo da
LP, causando estranhamento ao telespectador.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


73

Caso nº. 16

Discurso Original Globo TNT


(Milena Canonero –
sotaque francês):

I want to thank Francis, Eu quero agradecer a Eu quero agradecer a


first of all, for introducing Francis, em 1º lugar, por Francis, em 1º lugar, por
me to Sofia when we were ter me apresentado à Sofia, me apresentar à Sophia, ela
doing “Cotton Club” and Sofia Coppola, quando era, tinha essa altura agora
she was uh, this ((gesto que estávamos fazendo “Cotton ela é a minha diretora
indica estatura baixa)), and Club”, quando ela era
uh, now she is my pequenininha e ela agora é
director… minha grande amiga

A TNT apresenta uma interpretação muito mais concisa em relação à Globo


nesse caso. O sentido em ambas interpretações foi satisfatoriamente mantido, porém o
termo director foi interpretado na Globo por “amiga”, o que pode tornar o discurso
incoerente. Essa falha pode ser atribuída a causas como a expectativa frustrada,
explicada por Quental (2006, p. 31), a pressão psicológica, o cansaço e a velocidade
com que o orador fala.

Caso nº. 17

Discurso Original Globo TNT


(Milena Canonero):
Eu não preparei um
discurso, então eu quero
I haven’t prepared the Eu não preparei esse falar rápido e fazer tudo
speech, so I have to hurry discurso, eu tenho que sair isso rapidamente, eu quero
up, because Marshall, my correndo, eu e meu marido agradecer a todos que
husband said that I have to temos que sair, ir embora participaram nesse filme
get out here quickly, so I correndo
want to thank everybody
who had anything to do
with this movie Eu quero agradecer,
portanto, a todos que
tiveram a ver com esse
filme

Houve falha de compreensão na interpretação da Globo, acarretando mudança de


sentido. A interpretação da TNT foi muito mais concisa e apresentou o termo “nesse”,

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


74

que deveria ser substituído por “desse”, já que o verbo “participar” pede a preposição
“de”.

Caso nº. 18

Discurso Original Globo TNT


(Tom Cruise):

Tonight we’re gonna take a Hoje a gente vai tirar um Hoje vamos ((diz algo
moment to acknowledge a momento para homenagear como “pegar” muito baixo,
humanitarian uma pessoa de serviço mas interrompe sua fala))
humanitário levar um momento para
reconhecer uma filantropa

Houve influência da língua inglesa quando os intérpretes utilizaram os verbos


“tirar” e “levar” para indicar a expressão “dedicar um momento”. Faltou o substantivo
“filantropo” ao intérprete da Globo, que optou por explicar o termo, sem mudança de
significado.

Caso nº. 19

Discurso Original Globo TNT

(Gwyneth Paltrow):

If you would like to Se você quer se tornar um Se vocês quiserem ser


become a much better filmador muito melhor que fotógrafos bem melhores
cinematographer than you você é, há cinco modelos do que são, aqui estão
already are, here are five que você tem que ver. cinco filmes que precisam
movies you need to see. ver.

A equivalência do substantivo cinematographer na LC foi um fator


problemático. Por não encontrar o termo “diretor de fotografia” ou “cinegrafista”, o
intérprete da Globo optou por substantivar o verbo “filmar”, que ficou “filmador”. Já o
da TNT optou pelo termo “fotógrafo”, que não possui a mesma carga semântica de
“cinegrafista”. O intérprete da Globo provavelmente pretendia traduzir movies como
“filme”, mas devido à velocidade e à pressão, acabou dizendo “modelos”, que possui
uma pequena semelhança fonética com “movies”.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


75

Caso nº. 20

Discurso Original Globo TNT

(John Knoll):

Bill Nighy, thanks for Bill Nighy, agradecemos Bill Nighy, obrigado por
being such a wonderful por ter sido um parceiro criar este personagem
partner and creating this enorme, fantástico e por ter
character criado o roteiro

Houve redução da informação na TNT e mudança de significado na Globo, ao


trocar o substantivo character (personagem) por “roteiro”.

Caso nº. 21
Discurso Original Globo
(Jodie Foster):
In art and in life we seldom mention Na vida, na arte e na vida geralmente
comedy without tragedy, laughter without mencionamos comédia sem tragédia,
tears, joy without sorrow. felicidade sem lágrimas, tristeza sem dor.

Houve mudança significativa quanto ao advérbio de freqüência adotado. O


termo seldom indica “raramente”, ao passo que “geralmente” indica uma ação que
acontece com uma certa freqüência. Portanto, o sentido do discurso original foi
distorcido. Ainda no mesmo trecho encontramos a frase joy without sorrow (alegria sem
tristeza) que foi traduzida por “tristeza sem dor”.

Caso nº. 22
Discurso Original Globo
(Philip Seymour Hoffman):

Hi. Five leading roles, five limitless Hello. OI. Cinco grandes papéis, cinco
actresses. Here are the nominees for atrizes ilimitadas. Vamos diretamente às
actress in the leading role. indicadas a principal papel de atriz.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


76

Houve interferência fonética e shadowing. Após perceber o erro, o intérprete


corrigiu seu discurso, enfatizando o termo “oi”. A ordem gramatical em “principal papel
de atriz” não condiz com as regras do português, que exige que o substantivo “papel”
seja apresentado primeiro, seguido do adjetivo “principal” caso a intenção não seja
enfatizar o substantivo. Entretanto, o intérprete poderia ter utilizado a expressão
“melhor atriz” que é o equivalente para a premiação em questão.

Caso nº. 23
Discurso Original Globo
(Ellen Degeneres):

Wait. Hold on. Somebody dropped their Alguém deixou cair esse, esse papelzinho,
rolling papers. Oh! The band. Here you esse rolinho de papel aqui. Ah! É alguém
go. da orquestra aqui, ó lá.

Nesse caso, a apresentadora faz uma piada ao iniciar o novo bloco do programa.
Quando ela encontra no chão rolling papers, que afirma ser da orquestra, a platéia ri,
pois a expressão refere-se a papéis de enrolar fumo. Houve perda de conteúdo na
tradução da expressão por “papelzinho” e “rolinho de papel”, pois não causou nos
telespectadores o mesmo efeito cômico. Para que tal efeito continuasse válido, o
intérprete deveria ter explicitado o tipo de papel e sua funcionalidade, dizendo algo
como “papelzinho de fumo”.

Caso nº. 24
Discurso Original Globo
(Forest Whitaker):

When I was a kid, the only way that I saw Quando eu era criança, eu só via filmes no
movies was from the back seat of my banco de trás do carro da minha família,
family’s car (at the) drive in. It wasn’t my num drive in. Essa era a minha realidade,
reality to think I would be acting in então eu achava [...] que [...] algum dia eu
movies. estaria no cinema.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


77

Conforme Quental (2006, p. 31) explica, houve uma expectativa frustrada nesse
caso. Ao afirmar it wasn’t my reality (não era minha realidade), o intérprete traduziu a
sentença como uma afirmativa “essa era minha realidade”. Ao ouvir que o orador
somente assistia a filmes no banco de trás do carro de seus pais, ele quis afirmar que
essa era a realidade dele.
O orador faz uma inversão em sua fala, iniciando a frase com uma oração
negativa, que na ordem direta seria thinking I would be acting in movies wasn’t my
reality, que significa “pensar que um dia estaria atuando não era minha realidade”. Ao
invés de aguardar a unidade de sentido toda, o intérprete começa com uma oração
afirmativa e perde o início da frase. Sua expectativa é frustrada em relação ao final da
frase, pois houve perda da linha de raciocínio do orador. Para manter a coesão de seu
discurso, o intérprete utiliza a conjunção conclusiva “então” e acaba cometendo um erro
ao continuar afirmando. Há mudança de significado ao dizer que o orador imaginava
atuar quando na realidade, era o contrário.

Caso nº. 25
Discurso Original Globo
(Martin Scorsese):
Leo DiCaprio, six-and-a-half-year’s work Leo DiCaprio, já é a sexta vez que nós,
we’ve done together, I hope, another 12, aliás, por 6 anos já trabalhamos juntos,
another 15. espero que sejam mais 12, mais 16.

O fator numérico, abordado por Quental (2006, p. 32), compromete a


interpretação nesse caso. Há um equívoco em relação à quantidade de anos que é
trocada pelo número ordinal “sexta vez”. Ao ser percebida, é corrigida visivelmente
com a palavra “aliás”, que introduz a interpretação correta da aproximação numérica de
“6 anos e meio” com “6 anos”. Também há troca numérica de 15 por 16, provavelmente
por influência do número 6 mencionado anteriormente.

Caso nº. 26
Discurso Original Globo
(Martin Scorsese):
and our little Francesca who is 7 years e à pequena Francesca, que tem 7 anos,

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


78

old, who’s watching right now. Francesca, tem 7 anos, e está vendo, e pode ver
stay up for another 10 minutes but then, bastante, mas pula bastante e vai dormir
jump up and down, make a lot of noise in depois disso no hotel.
the hotel, ok?

O orador nesse caso fala extremamente rápido, então o procedimento adotado


pelo intérprete foi resumir seu discurso sempre que possível. Ao tentar resumir, há
quebra de raciocínio e “quebra” na fala, ao repetir a idade da garota, ao utilizar a
conjunção aditiva “e” em demasia, a fim de relacionar suas orações e ao citar o adjetivo
“bastante” duas vezes seguidas. Sua expectativa também é frustrada, já que se entende
que toda criança deve dormir cedo. Entretanto, o orador propõe o oposto, ao dizer para a
garota fazer barulho no hotel. O orador fala para ela continuar acordada por outros 10
minutos e utiliza em seguida a conjunção adversativa “mas”. Ao ouvir a conjunção, o
intérprete deixou-se influenciar por seu raciocínio lógico que lhe dizia que a próxima
frase seria algo como mandar a garota ir dormir cedo. Entretanto, o orador frustra essa
expectativa, não fazendo jus à conjunção que introduziu, ao dizer à garota que pulasse
no hotel, fazendo bastante barulho. A quebra de raciocínio na LP influenciou o discurso
na LC.

6.1.2. Análise do Video Music Awards

Adotaremos as mesmas normas de transcrição utilizadas anteriormente para a


análise do VMA.

Caso nº. 1
Discurso Original Interpretação MTV brasileira
(Seth Rogen):

I know what you’re thinking. These Eu sei o que vocês estão pensando: se as
people are already rich and successful. pessoas já são ricos e cheios de sucesso,
Why would I bother voting for them and por que que eu vou me preocupar em
making their lives even better? votar pra eles e transformar a vida deles e
deixar melhor ainda?

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


79

Há erro quanto ao gênero adotado. “Pessoas” é feminino, enquanto que “ricos” e


“cheios” é masculino. Houve falta de coesão na aplicação das regras gramáticas
portuguesas quando o intérprete procura falar e ouvir ao mesmo tempo. Também há erro
quanto à colocação. A preposição que segue o verbo “votar” é “em”, “votar em
alguém”, portanto, o trecho correto seria “votar neles”.

Caso nº. 2
Discurso Original Interpretação MTV brasileira
(Apresentadora):

Please welcome the new R&B royalty Favor dê as boas vindas à nova estrela de
Robin Thicke and Oscar winner Jennifer R&B e o vencedor do Oscar, Jennifer
Hudson. Hudson e Robin Thicke.

Houve inversão no discurso da LC. Ao invés de citar os nomes seguidos de seus


títulos, o intérprete optou por citar os títulos primeiro e depois apresentar os nomes. Ao
fazer isso, não houve adequação quanto ao gênero do adjetivo “vencedor” que deveria
ser feminino, e quanto ao artigo definido masculino “o”, que deveria ser “a”, já que a
vencedora do Oscar era a atriz Jennifer Hudson.

Caso nº. 3
Discurso Original Interpretação MTV brasileira
(Robin Thicke):

The nominees for the First-ever Os indicados à primeira prêmio de todos


Quadruple Threat award are at the top of os tempos de Faz-tudo estão no topo de
their game sua forma

Houve mudança de gênero acarretando erro gramatical. O intérprete cometeu um


erro causado por fatores externos, já que teve de esperar que a unidade de sentido
estivesse completa para saber qual o substantivo utilizado após todos os adjetivos. Um
dos fatores que pode ter induzido ao erro é o ato falho, que, conforme Quental (2006, p.
32) explica, é aquele motivado por um desejo ou uma expectativa inconsciente. A
expressão at the top of their game foi traduzida literalmente, causando estranhamento na

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


80

LC. O intérprete utilizou o termo “topo”, que possui uma semelhança fonética com o
termo top (topo). Nesse caso, a expressão poderia ser traduzida como “estão no auge”.

Caso nº. 4
Discurso Original Interpretação MTV brasileira
(Shia LaBeouf):

I’ve been fortunate enough to know what Eu tive muita fortuna de saber o que é ter
it’s like to have a great year. um ano incrível.

Conforme Quental (2006, p. 31) explica, houve semelhança fonética e o


intérprete acabou utilizando um termo semelhante ao da LP, mas que não se utiliza para
significar sorte. A interpretação não apresenta erro, mas não soa tão natural quanto à
frase “eu tive muita sorte” soaria.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


81

Considerações
Finais

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


82

Considerações Finais

A profissão de intérprete pode ser muito gratificante, mas exigente ao mesmo


tempo. Conhecer os fatores que mais induzem ao erro é o primeiro passo para quem
pretende realizar um bom trabalho. Entretanto, não há um modelo que possa ser
seguido, pois, conforme Quental (2006, p. 30) afirma, não há estudo, cultura geral ou
atualização que dêem conta de todas as informações às quais somos potencialmente
expostos. Resta-nos, portanto, prepararmo-nos previamente para o trabalho, a fim de
minimizar os erros mais freqüentes.
A proposta de estudo desta monografia é incentivar a observação de casos na
mídia e em congressos a fim de que o intérprete se familiarize com os problemas mais
freqüentes enfrentados por profissionais altamente qualificados, fazendo uso dessas
experiências em sua própria interpretação.
A ciência de que problemas como sintagmas nominais e números, por exemplo,
oferecem maior dificuldade, leva-nos a redobrar a atenção e a tomar nota de seqüências
de adjetivos e números presentes no discurso. Devemos obter a maior quantidade de
informação possível sobre a cultura do país com cujas línguas trabalhamos, a fim de que
possamos compreender as diferenças culturais, adaptando as expressões adequadamente
para a LC. Devemos também estar sempre dispostos a aprender e a aperfeiçoar nossas
línguas de trabalho e a conhecer profundamente as regras de gramática da LP e da LC
quanto à concordância nominal e verbal, aos tempos verbais, ao plural, às colocações
pronominais, entre outras.
O contato com o orador torna-se essencial, já que é nesse momento que teremos
contato com o sotaque que interpretaremos, com o tipo de vocabulário que será
apresentado e com informações sobre o público a quem nos dirigiremos. O trabalho em
equipe é vital. Não só entre concabinos, mas também na relação entre orador e
intérprete, entre os quais deve haver respeito, compreensão e coleguismo.
O intérprete também deve estar ciente de suas condições físicas. Rodrigues, o
intérprete entrevistado em nosso trabalho, sugere que, sempre antes de qualquer viagem
a negócios ou evento, o intérprete tenha uma boa noite de sono, não beba nada
alcoólico, especialmente durante eventos prolongados onde há coquetéis, para que no
dia seguinte esteja bem disposto, atento e concentrado.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


83

Suas qualificações também devem ser observadas. O profissional dessa área,


além de se apresentar de forma simples e objetiva, deve ser capaz de seguir uma linha
de raciocínio, ser coerente, confiante, mas nunca em demasia, e possuir agilidade. Suas
capacitações lingüísticas devem preencher as exigências da profissão e, acima de tudo, o
código de ética deve ser respeitado. Santiago, o 2º intérprete entrevistado em nosso
trabalho, acredita que um intérprete deve possuir um vocabulário geral crescente que
reflita o aumento de seu conhecimento de mundo. A atualização diária é outro fator
importante, pois sua leitura de mundo auxiliará nos assuntos mais diversos com os quais
lidar. Todo intérprete deve ser um bom orador, ouvinte, leitor e escritor, pois uma
atividade completa a outra. Deve-se imergir na língua com que se trabalha, a fim de
captar ou ativar uma expressão tão rapidamente quanto um nativo. Deve-se ter contato
com a tecnologia e saber utilizá-la de modo a facilitar seu trabalho.
O intérprete deve saber pesquisar e organizar o material que utiliza. Ele também
deve saber “jogar” com as palavras, de modo que, ao encontrar qualquer dificuldade e
tiver de mudar a estrutura original, saiba fazê-lo mantendo a coesão na LC. Seu discurso
deve se adaptar de acordo com o público, o registro e o contexto da situação, evitando,
assim, qualquer estranhamento por parte dos ouvintes. As condições de trabalho e de
som também devem ser observadas para que ruídos externos não interfiram na
qualidade de áudio e repercutam na interpretação.
Como pôde ser observado durante a análise, os resultados ilustram os mais
diversos tipos de erros cometidos por profissionais altamente qualificados. Ao apontar
os fatores que os levaram a cometer tais erros, sugerimos que todo intérprete esteja
ciente do que lhe aguarda. Desse modo, ao analisarmos as decisões tomadas por
profissionais, compreendemos os mecanismos utilizados, podendo prever as situações
problemáticas estudadas e, assim, tentar evitá-las. Ao procedermos de tal forma,
poderemos não só utilizar os mecanismos já aplicados como também criar novos
sistemas de correção, visando sempre uma interpretação de qualidade.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


84

Referências
Bibliográficas

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


85

Referências Bibliográficas

AIIC BRAZIL. Tipos de interpretação. Disponível em:


<http://brasil.aiic.net/ViewPage.cfm/article1444.htm>. Acesso em: 17 jul. 2007 às
18h08.

AIIC. Advice to students wishing to become conference interpreters. 2006. Disponível


em: <http://www.aiic.net/en/docs/tips_stu.pdf> . Acesso em: 2006.

AIIC. Basic tools for a future professional conference interpreter. Disponível em:
<http://www.aiic.net/Vega/en/estudante/estudante2.html>. Acesso em: 2005.

BAIGORRI-JALÓN, Jesús. Bridging the Language Gap at the United Nations. United
Nations Chronicle Online Edition, v. 37, n. 1.2000. Disponível em:
<http://www.un.org/Pubs/chronicle/2000/issue1/0100p84.htm>. Acesso em: 30 abr.
2007 às 20h20.

BBC NEWS. Germany marks Nuremberg tribunals. 20 nov. 2005. Disponível em:
<http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/4453790.stm>. Acesso em: 28 out. 2007 às 20h10.

BUCK, Vincent. One world, one language? 2002. Disponível em:


<http://www.aiic.net/ViewPage.cfm/page732.htm>. Acesso em: 2005.

GAIBA, Francesca. The Origins of Simultaneous Interpretation: The Nuremberg Trial.


[S.I.]: University of Ottawa Press, 1998. 176p.

GESSAT, Rachel. 1945: Início dos julgamentos de Nuremberg. Disponível em:


<http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,331419,00.html>. Acesso em: 01 maio
2007, às 20h09.

GILE, Daniel. The Role of Consecutive in Interpreter Training: A Cognitive View.


2001. Disponível em: <http://www.aiic.net/ViewPage.cfm/article262>. Acesso em:
2005.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


86

HERMANN, Alfred. Interpreting in Antiquity. In: PÖCHHACKER, Franz;


SHLESINGER, Miriam (Org.). The Interpreting Studies Reader. London: Routledge,
2002. p. 15-22.

LEDERER, Marianne. Translation: The Interpretive Model. Tradução por Ninon


Larché. Manchester, UK: St. Jerome Publishing, 2003. 250p.

MAGALHÃES JR, Ewandro. Sua majestade, o intérprete: o fascinante mundo da


tradução simultânea. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. 231p.

PAGURA, Reynaldo. Translation and Interpretation: two sides of the same coin? Braz-
Tesol Newsletter, São Paulo, p. 10-13, jul. 2001. Periódico publicado trimestralmente.

PANETH, Eva. An Investigation into Conference Interpreting. In: PÖCHHACKER,


Franz; SHLESINGER, Miriam (Org.). The Interpreting Studies Reader. London:
Routledge, 2002. p. 31-40.

PEREIRA, Maria Cristina Pires. Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais – TILS. Jul.
2004. Disponível em: <http://www.interpretels.hpg.com.br/>. Acesso em: 17 jul. 2007,
às 18h11.

QUENTAL, Raffaella de Filippis. Ética profissional e o erro em interpretação de


conferência: estudo de casos. New Routes, São Paulo, p. 30 – 33, jan. 2006.

SAUSSURE, Ferdinand de. Course in General Linguistics. 1959. Disponível em:


<http://faculty.smu.edu/dfoster/cf3324/Saussure.htm>. Acesso em: 07 ago. 2007 às
22h40.

SCHÜTZ, Ricardo. As consoantes do inglês e do português: English and Portuguese


consonant phonemes compared. 12 dez. 2005. Disponível em:
<http://www.sk.com.br/sk-conso.html>. Acesso em: 03 out. 2007 às 22h10.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


87

SINTRA – Sindicato Nacional dos Tradutores. Disponível em:


<http://www.sintra.org.br>. Acesso em: 23 jul. 2007 às 19h30.

Vídeos utilizados

79ª ACADEMY AWARDS. Kodak Theater, Hollywood: ABC, 25 fev. 2007.

79ª ACADEMY AWARDS. Kodak Theater, Hollywood: Rede Globo de Televisão, 25


fev. 2007.

79ª ACADEMY AWARDS. Kodak Theater, Hollywood: TNT, 25 fev. 2007.

VIDEO MUSIC AWARDS 2007. Palms Casino Resort, Las Vegas: Music Television
(MTV), 09 set. 2007.

VIDEO MUSIC AWARDS 2007. Palms Casino Resort, Las Vegas: Music

Television (MTV) Brasil, 09 set. 2007.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


88

Bibliografia
Consultada
PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
89

Bibliografia Consultada

BRIDGEMAN, Loraine Irene. Os sistemas fonológicos e gráficos xavante e português.


1979. Disponível em:
<http://www.sil.org/americas/brasil/PUBLCNS/LING/XVSisFon.pdf>. Acesso em: 03
out. 2007 às 20h47.

CARVALHO, Ulisses Wehby de. Quando as semelhanças atrapalham. New Routes, São
Paulo, p. 26 – 27, set. 2004.

CASTILHO, Antonio Paulo F. de; PESCUMA, Derna. Referências Bibliográficas: um


guia para documentar suas pesquisas. 4. ed. São Paulo: Olho d’Água, 2003. 124p.

HOUAISS, Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em:


<http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm>. Acesso em: 2007.

DICTIONARY.COM. Disponível em: <http://dictionary.reference.com/ >. Acesso em:


2007.

GEBHARD, Silke. Masters of the Voice. 2000. Disponível em:


<http://www.aiic.net/ViewPage.cfm/page130.htm>. Acesso em: 2005.

HATIM, Basil; MASON, Ian. Discourse and the translator. Nova Iorque: Longman
Inc., 1990. 272p.

INFANTE, Ulisses. Curso de gramática aplicada aos textos. 5. ed. São Paulo: Editora
Scipione, 1996. 576p.

INTERPRETING. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Interpretation>.


Acesso em: 30 maio 2007 às 20h50.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


90

KENYON, John Samuel; KNOTT, Thomas Albert. A Pronouncing Dictionary of


American English. Massachussets: Merriam, 1953. 484p.

LIMA JR, Ronaldo Mangueira. Helping Brazilian Portuguese Speakers Refine their
Pronunciation of American English. New Routes, São Paulo, p. 30 – 31, set. 2004.

LONGMAN. Dictionary of Contemporary English Online. Disponível em:


<http://www.ldoceonline.com/>. Acesso em: 2007.

LOPES, Carlota Francis Williams. An Introduction to Standard American


Pronunciation: Exercises in Vowel and Consonant Production. Santos, S.P.:
Leopoldianum, 1997. 159p.

LUCCARELLI, Luigi. Letter from the Editor: The Craft of Interpreting. 2004.
Disponível em: <http://www.aiic.net/ViewPage.cfm/page1398.htm>. Acesso em: 2005.

MENEZES, Tarcilla Sodré Burginga; Sousa, Michelle Reis de. Interpretação na Mídia:
as dificuldades do intérprete na modalidade simultânea. 2006. 122 f. Monografia
(trabalho de conclusão do curso de Tradução e Interpretação) Universidade Católica de
Santos, São Paulo.

MICHAELIS, Moderno Dicionário de inglês e português. Disponível em:


<http://michaelis.uol.com.br/moderno/ingles/index.php>. Acesso em: 2007.

SCHÜTZ, Ricardo. Falsos conhecidos: false friends. 05 maio 2006. Disponível em:
<http://www.sk.com.br/sk-fals.html>. Acesso em: 03 out. 2007 às 22h12.

_____. Palavras de múltiplo sentido: multiple-meaning words. 6 set. 2007. Disponível


em: <http://www.sk.com.br/sk-mmw.html>. Acesso em: 03 out. 2007 às 22h15.

TRIBUNA, a. Santos, 25 de fev. 2007. Caderno E – Galeria. 4p.

WEBSTER, Merriam-Webster’s Online Dictionary. Disponível em:


<http://www.webster.com/dictionary/>. Acesso em: 2007.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


91

WHICH KIND OF INTERPRETATION DOES YOUR PROJECT FIT IN? Disponível


em: <http://www.interpreteurope.com/english-wasist.htm>. Acesso em: 17 jul. 2007 às
18h03.

WOODING, Martin. The notion of an international language and the case of English.
2002. Disponível em: <http://www.aiic.net/ViewPage.cfm/page731.htm>. Acesso em:
2005.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


92

Anexos

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


93

Anexo A – Tribunal de Nuremberg (foto)

Fig. 1 – Sala de Tribunal28

Figura 1 – O Tribunal Militar Internacional em Nuremberg, Alemanha,


1945- 1946.
Da esquerda para a direita: os réus e o conselho de defesa. Ao fundo, no
canto esquerdo, encontram-se as cabines de interpretação, o monitor e o
bedel. Ao centro, encontra-se a tribuna dos oradores, em frente às
testemunhas. À direita estão os estenógrafos, os oficiais da corte e os
assentos dos juízes na corte. Na parte inferior da foto, encontram-se as
quatro mesas dos advogados de acusação mais uma mesa para os
funcionários do tribunal. (GAIBA, 1998, p. 60, tradução nossa)29

28
Imagem retirada do website da BBC News (vide referências bibliográficas).
29
Texto original no anexo B, p. 93.

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


94

Anexo B – Citações Originais

Nota 10, Cap. 3, p. 31.


“[...] translation consists of understanding an original text, deverbalizing its linguistic
form and then expressing, in another language, the ideas grasped and emotions felt.”

Nota 12, Cap. 3, p. 31.


“translation is a process which attempts to establish equivalents between two texts
expressed in two different languages. These equivalents are, by definition, always
dependent on the nature of the two texts, on their objective, on the relationship between
the two cultures involved and their moral, intellectual and emotional condition which, in
turn, is determined by all the factors specific to the time and place of both the original
and translated text…”

Nota 15, Cap. 3, p. 35.


“the signs of the discourse disappear with the sound of the voice but the addressees –
and the interpreter – keep a deverbalized memory, an awareness, of the ideas or facts
evoked.”

Nota 16, Cap. 3, p. 35.


“sense is not contained by the words (of a text) since it is sense itself which allows each
word’s meaning to be understood […]”

Nota 17, Cap. 3, p. 36.


“[…] For sense to be produced there must be an association between a non verbal idea
and a semiotic sign (it could be a word or a gesture, the nature of what is perceived is
unimportant in itself!) […]. The reception of sense requires a deliberate action on the
part of the addressee. In this light, a string of words becomes a set of pointers drawn by
the speaker from […] language and recognized […] by the addressee […]”

Nota 19, Cap. 4, p. 44.


“The important vowel and consonant distinctions mentioned above have to be carefully
mastered and the proper intonation patterns have to be acquired, not only as a receptive

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


95

skill but also as a productive one. Interpreters usually have to switch language directions
as quickly as a question is asked and its answer is given.”

Nota 22, Cap. 4, p. 46.


“[…] conference interpreting is the purest representation of how the concrete
manifestation from a speech or a text passes through a translator’s mind and becomes
another concrete manifestation, thereby transferring sense.”

Nota 29, Anexo A, p. 92.


“Figure 1 – The International Military Tribunal in Nuremberg, Germany, 1945 – 1946.
From left to right: the defendants and defense counsel. In the left corner in the back,
interpreters’ booths, the monitor and the Marshal of the Court. In the center, the
speakers’ rostrum, facing the witness box. On the right, the stenographers, the officers
of the court and the Judges’ Bench. On the bottom of the picture, the four tables of the
Prosecution teams plus a table for court personnel. The picture is taken from the
elevated gallery for the public.”

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


96

Anexo C – Recursos audiovisuais

Para facilitar a análise do corpus do presente trabalho, as cenas que contém os


casos contrastados foram compiladas e gravadas em um DVD na seqüência em que
aparecem na análise do corpus: discurso original, seguido das interpretações analisadas
em cada caso. Apresentamos os títulos das cenas analisadas do Oscar 2007 e do Video
Music Awards 2007 nas tabelas a seguir. Em alguns casos a explicitação do tempo se
fez necessária, pois trata-se de vídeos longos. O programa de vídeo utilizado para
realizar as marcações foi o Windows Media Player.

Análise do Oscar

Casos Discurso original Globo TNT


1
Título 1 Título 2 Título 3
2
Título 4 Título 5 Título 6
3
Título 7 Título 8 Título 9
4
Título 10 Título 11 Título 12
00:01 – 00:10 00:01 – 00:13 00:05 – 00:11
5
Título 10 Título 11 Título 12
00:26 – 00:30 00:30 – 00:34 00:28 – 00:31
6
Título 10 Título 11 Título 12
00:32 – 00:42 00:38 – 00:44 00:36 – 00:42
7
Título 10 Título 11 Título 12
00:42 – 00:49 00:44 – 00:54 00:42 – 00:50
8
Título 10 Título 11 Título 12
01:44 – 01:57 01:45 – 01:57 01:45 – 01:57
9
Título 10 Título 11 Título 12
01:59 – 02:09 02:00 – 02:13 02:00 – 02:11
10
Título 13 Título 14 Título 15
11
Título 16 Título 17 Título 18
12
Título 19 Título 20 Título 21
13

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com


97

Título 22 Título 23 Título 24


14
Título 25 Título 26 Título 27
15
Título 28 Título 29 Título 30
16
Título 31 Título 32 Título 33
00:01 – 00:16 00:05 – 00:21 00:05 – 00:22
17
Título 31 Título 32 Título 33
00:20 – 00:29 00:24 – 00:36 00:26 – 00:36
18
Título 34 Título 35 Título 36
19
Título 37 Título 38 Título 39
20
Título 40 Título 41 Título 42

Casos Discurso original Globo


21
Título 43 Título 44
22
Título 45 Título 46
23
Título 47 Título 48 – Capítulo 2
00:23 – 00:32 00:21 – 00:27
24
Título 49 Título 50
25
Título 51 Título 52
26
Título 53 Título 54

Análise do Video Music Awards

Casos Discurso Original Interpretação MTV


brasileira
1
Título 55 – Capítulo 2 Título 56
00:20 – 00:31 00:10 – 00:22
2
Título 57 Título 58
3
Título 59 Título 60
4
Título 61 Título 62

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com

Das könnte Ihnen auch gefallen