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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razáo da nossa
esperanca a todo aquele que no-la pedir
(1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta


da nossa esperanga e da nossa fé hoje é
mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á
fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenca católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
r— controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
' dissipem e a vivencia católica se fortaleca no
Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar
este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacao.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada


em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
Ano xl Janeiro 1999 440
Dores de Parto

"Contato"

Hipnose

"O Dogma da Infalibilldade" por Mary Schultze

Cardeal Rossi e Pastor Aníbal Pereira dos Reis

"Por amor aos católicos romanos" por Rick Jones

O Veneno do Fumo

Ordenacáo de muiher na Irlanda?

Eco de um aborto

Disponível como argila


PERGUNTE E RESPONDEREMOS JANEIR01999
Publicado Mensal N8440

SUMARIO
Diretor Responsável
Estéváo Bettencourt OSB Dores de Parto 1
Autor e Redator de toda a materia Um filme sugestivo:
publicada neste periódico "Contato" 2
Explicacáo científica por
Diretor-Administrador:
Hipnose 11
D. Hildebrando P. Martins OSB
A bem da verdade:
Administrado e Distribu¡930: "O Dogma da Infalibilidade" por
Edicóes "Lumen Christi" Mary Schultze 19
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5° andar - sala 501 Desfazendo equívoco:
Tel.: (021) 291-7122 Cardeal Rossi e Pastot Aníbal Pereira
Fax (021) 263-5679 dos Reís 27
Falso amor:
Enderece para Correspondencia: "Por amor aos católicos romanos"
Ed. "Lumen Christi" por Rick Jones 32
Caixa Postal 2666
Valioso Relatório:
CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ O Veneno do Fumo 39

Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO Inédito:


Ordenacáo de mulher na Irlanda? 43
e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
na INTERNET: http://www.osb.org.br Ecos de um aborto 46
e-mail: LUMEN.CHRISTI @ PEMAIL.NET Disponível como argila 48

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COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA


"MA R QUES SA RAI VA "
GRÁFICOS E EDITORES Ltda.
NO PRÓXIMO NÚMERO:
Tels.:fO21) 502-9498

A encíclica Té e Razáo". - Vinte anos de Pontificado. - O Fundamentalísimo Islámico. -


José Saramago, Premio Nobel. - Frei Antonio de Santana Galváo. - A Fábula das Tres
Árvores.

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Obs.: Correspondencia para: Edicóes "Lumen Christi*


Caixa Postal 2666
20001-970 Rio de Janeiro RJ
DORES DE PARTO

O Senhor Jesús compara a vida dos seus discípulos a urna gestacáo,...


dolorosa, mas, ao mesmo tempo, cheia de alegre expectativa:
«Em verdade, em verdade, vos digo: chorareis e vos ¡amentareis, mas o
mundo se alegrará. Vos vos entristeceréis, mas a vossa tristeza se transformará
em alegría. Quando a mulherestá para dará luz, entristécese porque a sua hora
chegou; quando, porém, dá á luz a crianga, elajá nao se lembra dos sofrimentos,
pela alegría de ter vindo ao mundo um homem» (Jo 16,20s).
Jesús refere-se á alegría vazia que pode atetar certos setores da socieda-
de. Os cristáos nao a compartilham para ser fiéis a Deus. Por este motivo podem
parecer, ou mesmo sentir-se, tristes.
Que gestacáo é essa? Responde o Apostólo: é o formar-se Cristo em nos
(cf. Gl 4,19). Com efeito; um germen de filiacáo divina existe em todo cristáo
desde o Batismo; tende a desenvolver-se até atingir a estatura da plenitude de
Cristo (cf. Ef 4,13). Urna vez terminado tal processo, a tristeza se converte em
alegría,... a alegría de urna vida levada ás suas dimensoes rematadas, alegría
que ninguém pode arrebatar.
A imagem utilizada pelo Senhor Jesús sugere reflexóes:
A vida crista é ambigua, paradoxal e, por isto, tambóm misteriosa. Sim;
por baixo dos véus da fragilidade humana, mortal, encontra-se algo de ¡mortal,
urna vida chamada a vencer a precariedade e transfigurá-la. Sao Paulo diría:
trata-se de um vaso de argila portador de ¡menso tesouro (cf. 2Cor 4,7). A tristeza
é prenhe de alegría; a mortalidade é o involucro da vida ¡mortal. Por isto o cristáo
nunca se abate; nao existe em seu vocabulario o termo "desánimo"; mesmo ñas
horas mais aflitivas, ele se lembra de que suas dores sao dores de urna gestacáo
e de um parto; quanto mais dolorido é este, tanto mais promissorde fecundidade.
A S. Escritura recorre freqüentemente á imagem das dores de parto, a fim
de significar a instauracáo do Reino de Deus; cf. Mt 24,8; 1Ts 5,3; Rm 8,22. Em
Ap 12,1-17 urna mulher fulgurante e bela sofre dores de parto e dá á luz um filho
que é o Messias, (a Mulher, no caso, é María SS.); depois continua sua obra
genitora no deserto, onde ó acometida pelo Dragáo, que procura abocanhar os
outros filhos da Mulher (que, no caso, é a Santa Máe Igreja). Pois bem; todo
cristáo é urna microecclesia (urna Igreja em miniatura), de modo que participa,
em sua pessoa, da funcáo maternal da Mulher "Maria-lgreja"; ele forma o Cristo
em si, fazendo que o velho homem ceda espaco ao novo homem ou ao segundo
Adáo. Alias, diz o Senhor Jesús: Todo aqueie que faz a vontade de meu Pai, este
é meu irmáo, minha irmá, minha máe" (Mt 12,50); participa assim, a seu modo,
da maternidade singular e modelar de María SSma.
Convém lembrar estas verdades no comeco de novo ano, que traz seus
desafios. Escreve o Apostólo, consciente do paradoxo da sua existencia: "Vive
mos como tristes e, nao obstante, sempre alegres; como indigentes e, nao obs
tante, enriquecendo a muitos; como nadatendo, embora tudo possuamos" (2Cor
6,10).
E.B.
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XL - Nfi 440 -Janeiro de 1999

Um filme sugestivo:

"CONTATO"

Em síntese: O filme "Contato" da Warner Bross (1997) póe em


foco a questáo do relacionamento entre a fé e a razáo. Urna dentista
incrédula viaja ao espago e volta acreditando em Deus; conta-o aos seus
colegas, que Ihe pedem justifique essa sua fé; ela, porém, nao o sabe
fazer; a fé parece alheia a qualquer embasamento lógico ou racional. O
problema é discutido no filme, sem chegar a urna solucáo. - A teología
católica ensina que as duas instancias -fée razio - se complementam
mutuamente em plena harmonía. Rejeita, portanto, o fideísmo (fé sem o
apoio da razáo) e o racionalismo (só a razáo, recusando a fé).
* * *

A Warner Bross, produtora norte-americana de filmes, lancou em


1997 o filme "CONTATO" altamente sugestivo. Relaciona-se com astro
nomía e com as elucubracóes de Cari Sagan, famoso especialista dessa
área, inquieto no tocante ao sentido do universo. Através de ficcáo, o
filme propóe interrogacóes muito interessantes.

A seguir, exporemos sumariamente o enredo do filme e Ihe tecere-


mos alguns comentarios.

1.0 enredo do filme

Urna dentista (Dra. Ellle Arroway), que pesquisa vida extraterres-


tre, conhece um ex-seminarista Palmer Joss e o interroga sobre a fé,
dizendo ser impossível crer em algo que nao tem pravas. Essa dentista
um día capta urna mensagem vinda do espaco, que, depois de decifrada,
revela ser as plantas para construcáo de urna máquina a fim de viajar até
o planeta de onde a mensagem ó oriunda. A máquina é contruída e a
cientista faz a viagem, déla voltando com urna nova visáo do universo, na
"CONTATO"

qual percebe que somos criaturas, ao mesmo tempo frágeis e preciosas.


Ao chegar de volta á Térra, as pessoas nao Ihe dáo crédito, pois, para os
que ficaram, a máquina pareceu nao ter ido a lugar algum. Além disso,
ela nao trouxe nada que possa comprovar a sua estada no planeta dis
tante. Pressionada pelo Governo para admitir que, na verdade, ela viveu
apenas uma ilusáo, a dentista se recusa a negar a sua experiencia, que
mudou radicalmente seu modo de ver a vida e o universo. Assim a den
tista troca de posicáo com o ex-seminarista, sendo ela agora o alvo de
uma exigencia de provas que ela nao pode fornecer.

Eis dois momentos do filme especialmente significativos:


I

Dra. Ellie Arroway: "Que é mais provável? Que um Deus onipo-


tente e misterioso tenha criado o universo, mas haja decidido nao dar
provas da sua existencia? Ou que Ele absolutamente nao existe e nos o
criamos para nao nos sentirmos táo pequeños e táo ¡solados?"

Palmer Joss: "Eu nao consigo imaginar-me a vivernum mundo em


que Deus nao existe. Eu nao desejo isto".

Dra. Ellie Arroway: "Como vocé sabe que nao está iludindo a si
mesmo? Julgo que, para mim, é necessáría uma prova".

Palmer Joss: Trova? Vocé ama seupai? Seu velho, vocé o ama?"
Dra. Ellie Arroway: "Sim, muito o amo".

Palmer Joss: "Prove-o".

Representante do Governo: "Por que é que vocé simplesmente


nao retira seu testemunho e reconhece que essa viagem ao centro da
galaxia nunca se realizou?".

Dra. Ellie Arroway: "Nao o fago porque nao o posso. Fiz uma ex
periencia. Eu nao a possoprovar, nem sequera posso explicar. Mas tudo
o que eu sei comopessoa humana, tudo o que sou, atesta-me que foi um
fato real. Eu experimente!' algo de maravilhoso, algo que me modificou
para sempre. Foi uma visáo do universo que nos diz, sem a mínima hesi-
tagáo, quáo frágeis e insignificantes nos somos e também como raros e
preciosos todos nos somos. Foi uma visáo que nos diz que pertencemos
a algo que é maior do que nos mesmos e que nenhum de nos existe
sozinho. Eu gostaria de poder compartilhá-lo. Desejaría que cada ser
humano, ao menos por um momento, pudesse sentir essa admiragáo,
essa humildade e essa esperanca".

Passemos agora á reflexáo sobre essa temática.


"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

2. Refletindo

Sao dois os principáis pontos que o filme propóe á nossa reflexáo.

2.1. Fée Razio

O Sr. Palmer Joss, na primeira fase do enredo, e a Dra. Ellie Arroway,


na segunda fase, adotam o fideísmo, isto é, créem por crer, sem base
racional, apenas por efeito de urna experiencia ou de um sentimento1. A
Dra. Arroway passou do racionalismo, ou seja, da posicáo que nao aceita
0 que nao possa ser provado pela razáo,2 ao fideísmo; passou de um
extremo a outro: sonriente a razáo, somente a fé. Nao haveria conexáo
entre razáo e fé. Ora esta sentenca é falsa. A fé nao é um ato cegó,
meramente intuitivo, nem é mero fruto de urna experiencia subjetiva. A
fé, no seu sentido próprio e pleno, supóe credenciais racionáis, isto é,
supóe o trabalho da razáo, que indica ao fiel: "Podes crer. Tal ou tal artigo
de fé nao é absurdo, nao é ilógico ou irracional". Com outras palavras: o
ato de crer é um ato da inteligencia, que sabe por que eré; sabe-o porque
examinou os títulos e a autoridade das proposicóes da fé.
Mais: urna vez prestada a adesáo ás verdades da fé, a inteligencia
tem o direito de procurar aprofundar o conteúdo e o significado dessas

1 «Os fídeistas como Bautin, Bonnetty, assim como os tradicionalistas, também dimi-
nuem as forgas da razáo.
Segundo ales (cf. Dz 1622, 1649ss-DzS 2751,2811) a razáo nao pode com certe
za provara existencia de Deus, nem a infinidade de suas períeigóes, nem a espíritu-
alidade e liberdade da alma racional; também o feto da revelagáo nao pode ser
provado. Quanto a estas varias questóes, a razáo nao precede a fé; para o conheci-
mentó certo dessas verdades, requer-se, pelo menos, a té comum fundada ñas tra-
digdes e revelagáo primitiva. Ora, isso é condenado pela Igreja, para a qual "a razáo
reta demonstra os fundamentos da fé" (Concilio Vaticano I, Dz 1799 - DzS 3019). O
fideísmo leva ao naturalismo, na medida em que a revelagáo divina é exigida pela
nossa natureza» (Luíz José de Mesquita, Por que crer? A fée a Revelagáo. Ed. Ave
María, Sao Paulo 1990, p. 126).
* «Defínese o racionalismo como consta do Sílabo de Pió IX: "Eadoutrina segundo
a qual a razáo humana é o único arbitro do verdadeiro e do falso, do bem e do mal,
sem qualquer consideragáo a Deus. Ela é leipara simesma, e, por suas capacida
des naturais, basta para prover ao bem dos homens e dos povos" (Dz 1703 • DzS
2903).
Segue-se daf a negagáo da revelacáo sobrenatural, como se vé também das se-
guintes proposigdes do mesmo Silabo: Dz 1704 - DzS 2904; Dz 1706 - DzS 2906; Dz
1707 - DzS 2907.
Conforme o Concilio do Vaticano I, o racionalismo absoluto é a doutrina segundo a
qual "a razáo humana é táo independente que Deus nao Ihe pode exigir a fé" (Dz
1810- DzS 3031), donde, nao haver lugar para a revelagáo divina.
O constitutivo formal do racionalismo é, pois, o principio da absoluta autonomía da
razáo. Como supremo arbitro, a razáo devejulgar o que é verdade, o que é falso ou
simplesmente simbólico na Escritura Sagrada» (idib., p. 201).
"CONTATO"

verdades; é o que se chama fides quaerens intellectum, a fé que pro


cura compreender. Está claro que o intelecto humano nunca poderá com-
preender (como dois e dois sao quatro) que Deus é Uno (em sua nature-
za ou esséncia) e Trino (em suas Pessoas); mas o intelecto pode ilustrar
ou esclarecer de algum modo a transcendencia de Deus. Portanto nem
racionalismo nem fideísmo tem valor. Ao racionalista que pretende com
preender sem crer, dir-se-á Crede ut intelligas (acredita para que pos-
sas chegar a alguma compreensáo). Ao fideísta dir-se-á Intellige ut
credas (póe o intelecto a funcionar a fim de que chegues á fé). A fé
madura supóe reflexáo previa para que nao seja crendice ou supersti-
cao. Tal problemática foi longamente abordada pelo Papa Joáo Paulo II
em sua encíclica "Fé e Razáo", da qual trataremos em nosso próximo
número.

Em particular, a existencia de Deus e alguns dos atributos de Deus


pode ser comprovada pela Filosofía. A razáo é capaz de chegar a nocáo
de Primeiro Movente Imóvel, de Ser absoluto, que é indigitado pelos
seres relativos e contingentes, de Inteligencia Máxima, que fundamenta
a ordem do universo... A grandeza e a beleza do cosmos falam da Supre
ma Grandeza e Beleza do Criador; o acaso nada explica; nao é um sujei-
to, mas é o cruzamento imprevisto de dois agentes, cada um dos quais tem
sua razáo de ser e agir; nao existe o Sr. Acaso. É S. Agostinho quem o diz:
SermSo, 126,3: "Eleva o olhar racional, usa os olhos como ho-
mem, contempla o céu e a tena, os ornamentos do céu, a fecundidade da
térra, o voar das aves, o nadar dos peixes, a forga das sementes, a su-
cessáo das estagóes. Considera bem os seres criados e busca o seu
Criador. Presta atengáo no que vés e procura quem nao vés. Cré naque-
le que nao vés, por causa das realidades que vés. E nao jufgues que é
pelo meu sermáo que és assim exortado. Ouve o Apostólo que diz: 'As
perfeigóes invisfveis de Deus tornaram-se visfveis, desde a criacáo do
mundo, pelos seres por ele criados' (Rom 1,20)»

O Concilio Geral do Vaticano I (1870) afirmou as mesmas verdades:

1. O conhecimento natural de Deus: (contra o agnosticismo, o


fideísmo e o tradicionalismo absoluto).

Dz 1785 - DzS 3004:1 "A mesma santa Máe Igreja sustenta e ensi-
na que Deus, principio e fim de todas as coisas, pode serconhecido com
certeza pela luz natural da razáo humana a partir das coisas criadas,

1 Dz designa a obra de Henrícus Denzinger intitulada Enchiridion Symbolorum,


definitionum et Declarationum de Rebus Fidei et Morum (Enquirídio dos Símbolos,
definicóes e declaracóes sobre assuntos de Fé e de Moral). Tal obra foi revista e
ampliada porAdolfus Schonmetzer, donde a sigla DzS.
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

'pois sua realidade invisfvel tomou-se inteligível desde a criagáo do mun


do, através das criaturas'" (Rm 1,20).

2. O fato e o modo da reveladlo sobrenatural (contra o racio


nalismo).

Dz 1785 - DzS 3004: Todavía, aprouve a sua sabedoría e bonda-


de revelar ao género humano, por outra via, esta sobrenatural, a Si mes
mo e os eternos designios de sua vontade, como diz o Apostólo: 'Outro-
ra, muitas vezes e de muitos modos, Deus falou aos país pelos Profetas;
no período final, em que estamos, Ele nos falou pelo Filho'" (Hb 1,1-2).

O mesmo Concilio expós a harmonía entre a fé e a razáo nos se-


guintes termos:

Dz 1796 - DzS 3016: "Na verdade, quando a razáo, iluminada pela


fé, busca, cuidadosamente, com piedade e prudencia, entáo consegue,
com a a¡uda de Deus, urna certa inteligencia muito frutuosa dos misteri
os, seja pela analogía com que conhece pela via natural, seja pela cone-
xáo de uns misterios com outros e com o fim último do homem; contudo,
nunca chegará a penetrar neles como verdades que constituem seu ob
jeto próprio. Pois os misterios divinos, por sua natureza, ultrapassam tan
to a inteligencia criada que, mesmo transmitidos pela reveiagáo e aceitos
pela fé, continuam, contudo, recobertos pelo véu da fé e como que envol-
tos em certa obscuridade, enquanto nesta vida mortal 'peregrinamos para
o Senhor, pois caminhamos na fé e nao na visáo' (2Cor5,6s)".

Observacáo: Este parágrafo caracteriza o trabal no da Teologia,


ou seja, o papel da razáo na consideracáo da verdade sobrenatural.

Dz 1799 - DzS 3019: "Nao sóaféea razáo nunca podem entre si


discordar, mas elas se auxiliam mutuamente. Eis que a reta razáo de
monstra os fundamentos da fé e, iluminada com a luz da fé, se dedica á
ciencia das coisas divinas. Também a fé livra e protege a razáo de erros
e a instruí com múltiplos conhecimentos. Pelo que, longe de por obstácu
los ao cultivo das artes e disciplinas humanas, a fé as ajuda e promove
de muitas formas. Pois nao ignora nem desconsidera (a Igreja) as vanta-
gens que délas dimanam para a vida humana; mais, confessa-as como
sendo 'de Deus, Senhor das ciencias' (1Rs 2,3); conduzem a Deus com a
ajuda da graga, se tratadas convenientemente. A Igreja nao proibe que
essas disciplinas, cada qual em seu campo, utilizem os principios e méto
dos que Ihes sao próprios; mas, reconhecendo esta justa liberdade, com
cuidado rigoroso procura evitar que nelas se introduzam erros contrarios
ao ensino divino ou que, uítrapassando suas próprias fronteiras, invadam
e perturben) o campo da fé".
"CONTATO"

Observacáo: Cf. a Constituicáo Gaudium et Spes, n. 36: a fé pode


prestar todos esses servicos á ciencia, nao interferindo nos métodos pró-
prlos da ciencia, nem coartando a liberdade de investigacáo científica.

Notemos ainda com referencia ao caso da Dra. Arroway: a fé pode


resultar de urna experiencia ou de um sentimento pessoal subjetivo; a
graca de Deus toca entáo a pessoa de modo muito particular, dando as-
sim origem ao ato de fé. Esse ato de fé, porém, para ser sólido e dura-
douro, deverá procurar aprofundar-se com o auxilio do intelecto.

2.2. Outros mundos habitados

A existencia de possíveis seres inteligentes em outros planetas é


aceita pela fé católica. Há mesmo teólogos que a julgam muito conveni
ente: tanta materia esparsa pelo universo nao teria quem louvasse a Deus
por causa das suas maravilhas? Pode-se crer que seres inteligentes fora
da Térra reconhecam a sabedoria do Criador e o exaltem por suas pre
ces e sua vida fiel. Eis o que a propósito pensava o Pe. Joseph Pohle S.
J. (t 1922) em sua obra "Die Sternenweit und ihre Bewohner". Colonia,
1884, a qual, fazendo grande sucesso, suscitando também acalorados
debates, conheceu a sua sétima edicio em 1922. O autor julgava que
nao só as ciencias experimentáis, mas também os principios de urna sá
filosofía e da Teología testemunham em favor da existencia de seres inte
ligentes nos astros habitáveis. E quais os argumentos em que se basea-
va?

1a e principal) Deus tudo criou para a Sua gloria. Ora, gloria n en hu


ma é dada a Deus sem a existencia de seres inteligentes capazes de
conhecer as obras do Criador e tributar-Lhe o conseqüente louvor. O
homem na térra, porém, nao basta a isto. Com efeito, existe avultado
número de estrelas, planetas e astros, que escapam totalmente á ciencia
humana.1 Quem entáo prestará, em nome dessas criaturas, homenagem
ao Criador? Também os anjos nao estáo habilitados a isto, pois as criatu
ras mate riáis nao constituem senáo o objeto secundario da inteligencia
angélica; os puros espíritos versam no mundo espiritual, nao no corpó
reo. Donde concluí Pohle:

"Parece absolutamente conforme o fim último do Universo que os


corpos celestes habitáveis sejam povoados de criaturas que referem á
gloria do Criadora beleza corporal dos seus respectivos mundos, exata-
mente como o homem o faz na Térra".

1 De acordó com os resultados da ciencia moderna, dir-se-ia: existem 400 milhdes


de galaxias, ou nebulosas espiráis, constituida cada qual de centenas de milhóes de
sois, dos quais nao poucos tém em tomo de si planetas a gravitar.
2 Ob. cit. 4» ed. 1904, 457.
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

Este primeiro argumento era explorado também pelo Pe. Secchi,


que, em 1877, escrevia:

"A nos parece absurdo considerar essas vastas regioes como


desertos despovoados; devem ser habitadas por seres inteligentes e ra
cionáis, capazes de conhecer, homenagear e amar o seu Criador".1
2a) Segundo S. Tomás (cf. S. Teol, I 50,3c; Contra Gentes, 2,92),
a ordem do Universo exige que os seres mais nobres ultrapassem numé
rica e quantitativamente os menos nobres, urna vez que estes foram fei-
tos em vista daqueles. É preciso, pois, admitamos o maior número possí-
vel das criaturas mais nobres. Em conseqüéncia, considerar-se-á ao
menos como provável a existencia de seres racionáis ñas esferas celes
tes habitáveis, visto serem mais dignos e perfeitos do que as criaturas
meramente corpóreas.2

APÉNDICE
DO ATEÍSMO A FÉ
A revista Newsweek, edicáo de 27/7/98, pp. 42-48 apresenta um
artigo intitulado Science Finds God. Refere o testemunho de varios ci-
1 Le Soleil. París 1877, vol. II480.
O qualitativo de parecer absurdo voltava aínda recentemente sob a pena de Bavink,
Risultati e problemi delle sclenze natural!. Firenze 1947, 272: "Se todo este uni
verso deve ter um sentido, parece-me de todo absurdo procurar esse sentido única
mente na nossa historiazinha terrestre".
2 Os dados tradicionais da ciencia levam a afirmar que os seres vivos constituem no
universo urna parcela numéricamente insignificante, quando comparados aos seres
inanimados. A vida ó extremamente rara no conjunto do cosmo; e a regiáo que ela
ocupa constituí urna ínfima porgáo do conjunto. Com efeito, a massa dos homens
podería estar contida aproximadamente 60 trilhdes de vezes na massa da tena; esta,
por seu turno, caberia mais de 300.000 vezes na massa do Sol! E entre os diversos
planetas intercedem distancias de dezenas, centenas ou milhares de anos de luz
(dados colhidos em P. Laberenne, L'origine des mondes, París3, 149). Sob varios
aspectos, porém, a Térra aparece como algo de único no universo. Por exemplo, os
corpos sólidos de que ela se compoe, sao raros no cosmo: 99% da materia do uni
verso constam dos dois elementos mais leves - o hidrogénio e o helio; todos os
outros corpos reunidos nao períazem senáo 1%da massa total do Universo. - Mais
aínda: a temperatura do Universo varia de 35.000.000a F. (no interior das estrelas)
ao 0a absoluto (-459,69a F.) ñas extremidades do espago, donde se concluí que a
materia do Universo deve constar quase totalmente de gases luminosos num equili
brio instável e altamente ionizado; nessa massa gasosa giram aqui e ali alguns pou-
cos átomos de poeira fría e de rochas. Somonte numa zona temperada muito estrei-
ta, como é a órbita da tena, é que a massa gasosa pode assumira forma líquida, tal
como se acha na agua, nos animáis, nos planetas. Táo singular como é, a térra está
longo de ser o centro do Universo; é apenas um pequeño satélite de urna estrela de
segunda grandeza colocada na periferia da Via-Láctea. Porsua vez, esta nossa Via-
Láctea se acha na periferia de um conjunto de outras constelagóes do espago.

8
"CONTATO"

entistas contemporáneos que, através de suas próprias pesquisas, che-


garam á conclusáo de que a ordem existente no universo nao se explica
sem a presenca de urna Inteligencia Suprema, que responde pelos mis
terios que a ciencia vai descobrindo.

Entre outros, é citado o depoimento do Prof. Alian Sandage, de 72


anos de idade, que durante toda a sua vida se aplicou á pesquisa dos
astros no intuito de explicar a sua origem e a sua destinacáo: percebeu
queo universo está em rápida expansáo e tem a idade aproximada de 15
bilhóes de anos. Confessa que era um ateu desde menino, quando a
multidáo de fenómenos astronómicos, inclusive o das supernovas, o dei-
xou perplexo; a razáo nao esclarece tais realidades, pensou Sandage,
de modo que aos 50 anos passou a crer em Deus. E declara: "Foi a
minha ciencia que me levou á conclusáo de que o universo é demais
complexo para poder ser explicado pela ciencia. É somente por meio do
sobrenatural que posso compreender o misterio da existencia".

O físico Robert John Russell em 1981 fundou o Centro de Teología


e Ciencias Naturais no Gradúate Theological Unión em Berkeley. Em vez
de solapar a fé e os valores espirituais, as descobertas científicas ofere-
cem-lhes suporte, diz R. J. Russell acompanhado por seus seguidores;
assim, por exemplo, a cosmología do big bang (explosáo inicial), que
outrora era tida como avessa á idéia de um Criador, agora, segundo al-
guns dentistas, implica haver designio e urna finalidade no universo. A
evolucáo oferece vestigios para se compreender o plano de Deus.

A ciencia, que "matou" Deus, está atualmente restaurando a fé. Os


físicos verificam que o cosmos supóe urna ordem singular e surpreen-
dente. Tenham-se em vista as constantes da natureza e os seus intocáveis
números, como a forca da gravidade, a carga de um elétron e a massa de
um protónio. A mínima alteracáo nessas constantes faria os átomos desa-
gregar-se, as estrelas já nao brilhariam e a vida mesma nunca teria apa
recido.

O Prof. John Polinghome, que fez brilhante carreira de físico na


Universidade de Cambridge, tornou-se presbítero anglicano em 1982 e
declarou: "Se alguém toma consciéncia de que as leis da natureza de-
vem ser incrivelmente certeiras para produzir o universo que vemos, ve
rifica que o universo nao teve origem por acaso, mas deve haver um
projeto a regé-lo".

Os matemáticos gregos dividiam o comprimento da circunferencia


pelo seu diámetro e descobriram a razáo constante pi (= 3,14159...). Ora
pi ocorre também em equacoes que descrevem partículas subatómicas
e outras partículas que nada tém a ver com a circunferencia. Diz entao o
■10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

Prof. Polkinghome: "Este fato aceña a urna característica muito profunda


do universo". A mente humana, ao cultivar a matemática, conforma-se á
realidade do cosmos; ela é, de certo modo, dirigida para as verdades do
cosmos. "O fato de que a mente humana pode penetrar os misterios do
universo, significa que algo do ser humano está em harmonía com a mente
de Deus", declara Cari Feit, biólogo cancerologista da Yeshiva University
de Nova lorque.

O Prof. William Stoeger, da Universidade de Arizona, é um jesuíta,


que trabalha no Observatorio do Vaticano. Afirma: "Quando estava na
sexta ou na sétima serie de meus estudos de humanidades, senti o con-
flito entre a ciencia e a religiáo. Recebi entáo um livro de paleontología
de meu tio Don; eu o lia á noite quando eu estava sozinho". O confuto foi
maravilhosamente resolvido quando chegou á Escola Superior, pois en
táo um sacerdote Ihe mostrou que o relato de Génesis 1-3 há de ser
entendido como figura e nao ao pé da letra.

A Profa. Jocelyn Bell Burnell é astrónoma, pesquisadora das estre-


las ditas pulsare. Ao mesmo tempo, é membro da Sociedade Religiosa
dos Amigos (Quakers): "A falta de fé nos deixa sos e apavorados diante
do futuro". Trabalha na Open University da Inglaterra e assegura que a
sua fé nao a impede de cultivar a ciencia em toda a amplidáo dos hori
zontes científicos.

De acordó com um inquérito realizado em 1997, 40% dos dentis


tas norte-americanos acreditam num Deus pessoal, isto é, num Ser Su
premo dotado de Inteligencia Perfeitíssima e de Vontade, e nao em um
poder misterioso e inconsciente. Trata-se de um Deus ao qual podemos
dirigir nossas preces.

Vale a pena confrontar tais afirmacdes, ocorrentes em nossa épo


ca, com as de séculos passados. Com efeito, a partir do século XVII a
ciencia parecia afugentar Deus e a fé; Deus só ocuparía os recantos do
universo ainda nao penetrados pela ciencia. No século XVIII o astróno
mo Pierre Laplace explorou o cosmos como um mecanismo auto-sufici
ente; a respeito de Deus declarou ao Imperador Napoleáo: "Nao preciso
dessa hipótese". O mesmo foi dito no século passado por Charles Darwin
ao elaborar a teoría da evolucáo mecanicista.

Atualmente, no fim do milenio, fé e ciencia estao em diálogo fecun


do. É de notar que a Pontificia Academia de Ciencias do Vaticano tem
entre os seus membros um certo número de dentistas nao católicos.
Galileo Galilei, já no século XVII, dizia: "A Biblia quer ensinar como se vai
para o céu, e nao como o céu vai".

10
Explicacáo científica por

HIPNOSE

Em sfntese: O Dr. Antonio Carlos de Moraes Passos e a Dra. Isa


bel Cristina Labate Marcondes publicaram interessante livro sobre a hip-
nose, abordando a historia, as teorías e a metodología da hipnose; consi-
deram também as aplicagóes clínicas e terapéuticas assim como as con-
tra-indicagóes da hipnose; pode ser altamente benéfica quando bem apli
cada, mas será nociva quando indevidamente aplicada. O artigo que se
segué, explana o que o livro afirma no tocante a fenómenos muitas vezes
tidos como procedentes do além, quando na verdade se derivam do pro-
prio psiquismo humano.
* * *

O Dr. Antonio Carlos de Moraes Passos (ACMP) e a Dra. Isabel


Cristina Labate Marcondes (ICLM) publicaram valioso livro sobre "Hipno
se. Consideracóes Atuais"1, apontando vantagens do recurso á hipnose
na terapia de doencas e falhas do comportamento como também contra-
indicacóes da mesma; apresentam a metodología indutora, além de ou-
tras questóes atinentes á temática. O livro é de alto nivel científico. Ñas
páginas subseqüentes interessar-nos-á por em relevo alguns tópicos da
obra que tém incidencia em fenómenos tidos como "místicos" ou religiosos.
1. Hipnose: que ó?

Eis como os autores definem a hipnose:

«Podemos dizer que a hipnose é um estado do estreitamento de


consciéncia, provocado artificialmente, que geralmente (mas nem sem-
pre) se parece com o sonó, porém fisiológicamente dele se distingue, e
que se caracteriza pelo aparecimento espontáneo (ou em resposta a um
estímulo verbal, ou a outro qualquer) de urna variedade de fenómenos
que incluem: 1 - alteragáo da atengáo; 2 - alteragáo da memoria; 3 -
aumento da sugestionabilidade; 4 - produgáo, no paciente, de idéias e
respostas diferentes daquelas do seu estado mental normal; 5 - altera-
goes motoras e sensoriais; 6 - aumento da labilidade dos processos re
gulados pelo sistema nervoso autónomo» (p. 16).

Assim entendida, a hipnose nao se identifica com o sonó convenci


onal. Pode haver, sim, transicáo do transe hipnótico para o sonó propria-
mente dito.
1 Editora Ateneu, Sao Paulo 1998, 160x230mm, 159 pp.

11
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

Pergunta-se em conseqüéncia: que é sugestáo? - Eis a resposta


fomecida pelos autores:

«Sugestáo significa induzir aqueta convicgáo de modo direto, sem


oferecer ao individuo elementos nos quais ele possa apoiar-se, senáo
expressando-lhe simplesmente o objeto da convicgáo e utilizando sua
capacidade de transformar automáticamente a compreensáo em um ato
correspondente...

A sugestáo se revela assim como um processo psíquico de caráter


irracional, em grande parte inconsciente, que segué a mesma particular
relacáo emotiva-efetiva» (p. 17).
Os autores, a seguir, apresentam certas experiencias que demons-
tram o grau maior ou menor de sensibilidade dos pacientes. Nem todos
se prestam a ser levados ao transe hipnótico:
«O número de testes de sensibilidade é grande, sendo os mais
comumente usados:

O entrecruzamento das Máos e/ou Entrecruzamento dos De


dos. Pede-se ao individuo que apene urna máo contra a outra, com os
dedos cruzados. Diz-se ao paciente: 'Olhe fixamente para suas máos e
para seus dedos. Eu vou contar até cinco. Á medida que eu for contando,
suas máos e seus dedos iráo se colando uns nos outros. Quando chegar
em cinco, vocé nao poderá abrir os dedos nem as máos.' Contase entáo
de um até cinco, dizendo-se: 'Nao pode abrir, nao pode abrir. Tente abrir,
tente'. Alguns nao conseguem abrir nem os dedos; outros conseguem
mas com dificuldade alguns segundos depois e outros abrem ¡mediata
mente. Os dois prímeiros grupos indicam os individuos mais sensíveis,
que sao separados e passam ao segundo teste.
Teste de Oscilacáo Lateral do Corpo. Pde-se o individuo em pé
e mandase que ele feche os olhos e imagine que seu corpo está oscilan
do de um lado para outro. Pódese dar até urna imagem para isso, dizen-
do que ele está em um barco em um rio e que o barco oscila de um lado
para outro. Alguns oscilam, outros nao. Aqueles que responderam bem a
essa oscilagáo passam para o terceiro teste. Os outros sao excluidos.
Teste da Queda para Tras. Pedese ao individuo que fique em pé,
feche os olhos, fique em urna posigáo com seu corpo duro, rígido, como
se fora de um soldado em posigáo de sentido. O operador fica atrás do
paciente e repete varias vezes: 'Seu corpo vai ficando duro, duro, duro,
rígido, rígido, rígido, como urna tábua, duro, duro, duro. Agora seu corpo,
duro e rígido, vai caindo para tras'. Os sensíveis tém urna queda, preci
sando inclusive ser amparados pelo hipnotista. Aqueles que responde
ram bem ao teste sao utilizados; os outros sao dispensados.

12
HIPNOSE 13

Existem muitos outros testes que também sao usados, conforme a


preferencia do hipnotista» (p. 19).

2. Em transe hipnótico: urna experiencia

Eis urna experiencia de hiperestesia1 cutánea muito significativa


induzida por sugestáo feita a urna pessoa hipnotizada. O relato é da pró-
pria paciente:

"Submeti-me a hipnose duvidando um pouco de sua veracidade,


apesar de ter assistido ao transe de alguns colegas. Estava, entretanto,
curiosa. Eis aquilo de que me recordó:

Abrí e fechei os olhos (pestanejando) 25 vezes, olhando sempre


para o mesmo ponto. Já sentía as pálpebras cansadas quando ele (o
médico) me disse que as conservasse fechadas. Ele me disse que abai-
xasse a cabega. Abaixei, porém varias vezes involuntariamente a levan-
tei, mas tornava a baixá-la mediante nova sugestáo. Sentí o corpo todo
muito relaxado durante toda a sessáo e nao fiz obstáculos a isso.

Nao me recordó de ter sido feita a catalepsia de meu brago. Se foi


feita, esqueci totalmente, por isso nao posso dizerse levantei o brago ou
nao.

Quando ele me disse que iría colocar aigodáo nos meus ouvidos,
para eu nao ouvirmais os baruihos do ambiente, eu estava sabendo que
era somente sugestáo, que o aigodáo nao existía. Porém, quando ele
levou as máos aos meus ouvidos, eu quis imaginar que de fato ele estava
colocando o aigodáo e que eu nao iría ouvirnada dali em diante. Nao sei
se depois disso o telefone e/ou a campainha tocaram, se as conversas
continuaram lá fora, ou se houve outros baruihos. É ceño que eu nao
ouvi, daí em diante, nada mais a nao ser a sua voz. Nao me lembro de
mais nada.

Lembro-me de ter feito um movimento de vaivém com o brago direi-


to e ele me ter dito... 'nao pode parar; nao pode parar'. Nao sei se conse
guí parar ou nao; nao me lembro.

Entáo foi-me sugerido que imaginasse urna panela com agua fer-
vendo sobre o fogo. Conseguí imaginar rápidamente o fogo; um fogo muito
forte. Imaginei, também, a panela sobre o fogo. A agua fervia trazendo
bolhas á superficie. O vapor que déla se desprendía era muito quente.
Foi-me sugerido que passasse a máo direita sobre a panela. Obedecí,

1 Hiperestesia é o aumento exagerado da sensibilidade geral ou especial: hiperestesia


auditiva ó o ouvir vozes que nao existem; hiperestesia cutánea é o sentir na pele
sensagóes sugeridas, mas nao provocadas por um estímulo externo. Hiperestesia
visual é o ver o que nao existe, mas ó projetado pelo individuo mesmo.

13
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

mas, antes de concluirá agao, penseina possibilidade de sentir realmen


te o calor da agua fervendo. Foi entáo que tive a consciéncia de que me
sentía muito mal. Minha respiragáo nao era normal. Concluí a agáo e
coloquei a máo sobre a panela. Cada vez me sentía pior; urna onda de
calor invadia-me o corpo e minha cabega pesava tanto que me parecía
nao mais poder levantá-la. Retirei a máo de cima da panela para meu
coló, e lembro-me vagamente de ouvir:'... sua máo está vermelha... sua
máo está dolorosa... quente... sensível... vermelha...'Nao me recordó de
té-lo ouvido dizer se iría doer ou nao.

Nesse momento meu mal-estar aumentava tanto que só me recor


dó de urna fortíssima dor na nuca, urna dor horrível, e de sentir muito
calor. Tive a impressáo de que iría ficarlouca; que jamáis voltaria ao meu
estado normal. Levantei-me da cadena onde me achava sentada; nao
podía mais continuar ali impassível, do contrario acabaría enlouquecen-
do mesmo. Tive medo do que estava por vir. Nao sei bem o que disse
naquele momento. Sei que falei alto; talvez tivesse gritado; nao sei. Lem
bro-me de despir o casaco de malha que trazia vestido e de levar as
máos á cabega. Se fiz alguma coisa a mais, nao me recordó. Depois
deitei-me e lembro-me de que fiz tudo para nao pensar que iría ficar lou-
ca, para esquecer a dor de cabega e para obedecer-lhe prontamente em
tudo que me sugerísse. Naquele momento quis confíamele, acreditando
que ele seria capaz de me fazer melhorar. Nao me recordó do que me
sugeriu. Nao tenho idéia de quanto tempo fiquei em repouso. Quando me
levantei, nao sentía mais calor. A dor na nuca diminuirá consideravel-
mente, embora nao tivesse desaparecido totalmente, pois aínda sentía
urna dor muito leve, que perdurou pelo resto daquela tarde.

Devo assinalar que, quando me submeti á hipnose, sentia-me mui


to bem, e que, também, nao sofro de dores de cabega, sendo muito raro
té-las" (p. 215).

Este caso explica fenómenos ocorrentes no espiritismo e mesmo


fora dele. Há pessoas que ouvem, véem, sentem... coisas estranhas e
juram que existe algum objeto real que provoca as respectivas sensa-
cóes; haveria, sim, como dizem, um espirito desencarnado, um anjo bom
ou mau, um exu responsável pelo fenómeno. Tal hipótese está superada;
trata-se de alucinacoes visuais, auditivas, sensoriais que a pessoa
sugestionada por si mesma ou por outrem concebe e padece.

3. Hipermnésia (memoria ampliada)

Um dos mais interessantes fenómenos ocorrentes com pessoas


hipnotizadas é a hipermnésia ou a exacerbacio (ampliacáo) da memo
ria: o(a) paciente hipnotizado(a) se lembra fácilmente de muitas coisas
do seu passado,... coisas de que nao se lembra em estado de vigilia. -

14
HIPNOSE 15

Eis o que referem os autores em pauta:

«Cralsineckapresentou no 353 Congresso da Pan American Medical


_ _ ^^^* BBP^Bt #^Bh ■ BBBi ^Bh ^Bh J.^ ^Bh BBBi a*.^Bt ^Bh ^Bh BBBi «■ ^Bk ■ ■ ^flh ^Bk ^"1 ^"T ^S B^^^ ^Bk ^dh

Association um trabalho sobre hipnose e memoria. Constou de dois tipos


de experimentagáo:

Primeira experimentagáo: Urna estudante com Ql de 130 leu em 15


minutos dez páginas de Historia. Interrogada sobre questóes específi
cas, datas, nomes, sobrenomes etc. pode responder somente a 35% dos
itens. Sob hipnose foi dada urna historia semelhante em igual tempo.
Interrogada, respondeu a 98% das questóes; repetiu tongas passagens;
foi capaz de dar o número da página de alguns parágrafos e até a linha
de certas palavras.

No segundo experimento, Cralsineck separou um grupo de 10 es-


tudantes de enfermagem com Ql iguais. Deveríam memorizar 10 grupos
de silabas sem-sentido, durante tres minutos. Nenhum foi capaz de repe
tir as sílabas. Sob hipnose, um outro grupo (tanto quanto possível igual
ao primeiro) leu o mesmo grupo de sílabas e obteve 96% de respostas
certas...» (pp. 28s).

«O Dr. Gerlach, professor nascido em Koenigsberg, na Prússia Ori


ental, foi mobilizado e incorporado ao VI Exército Alemáo, que marchou
sobre Stalingrado. Em 30 de Janeiro de 1943, foi ferido e feito prisioneiro
pelos soviéticos. Durante seu cativeiro escreveu suas impressóes sobre
a Desvalorizagao de Todos os Valores. O manuscrito foi descoberto, o
que Ihe valeu alguns anos em um campo de concentracáo. Somente foi
libertado cinco anos após o término da guerra. Voltou para a Aiemanha, e
tentou, entáo, recompor de memoria o manuscrito que fizera na prisao.
Nao conseguiu ir além de alguns fragmentos, poucas frases, desistindo
entáo da idéia. Leu, ocasionalmente, um artigo sobre experiencias reali
zadas por um médico de Munique sobre recordagoes do passado com o
auxilio da hipnose. Procurou esse médico que se prontificou a tratá-lo.
Durante tres semanas foi hipnotizado duas vezes por dia, durante duas a
tres horas. Sob o transe hipnótico Gerlach ditou, quase sem interrupgáo,
todas as suas memorias, que publicou no livro - O Exército Traído - e foi
um best-seller. O médico, que nao cobrara pelo tratamento, quando sou-
be do éxito do livro, reivindicou judicialmente participagáo nos lucros, a
título de pagamento de honorarios. Ganhou a pendencia judicial» (p.
29).

Estes fenómenos produzidos naturalmente, fora de qualquer ambi


ente religioso, explicam casos ocorrentes com pessoas que apresentam
memoria prodigiosa, como se fossem inspiradas por um espirito do além
ou como se fossem espirites reencarnados após algumas existencias
pregressas. O estado hipnótico, que torna a memoria mais fecunda, é

15
16 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

acarretado pelo ambiente do centro espirita ou do terreiro de Umbanda,


sem que haja intencáo de hipnotizar alguém: o próprio paciente pode-se
auto-hipnotizar pela sugestáo que ele incute a si mesmo, acreditando
que réceberá um espirito que Ihe revelará o que ele tiver esquecido. Quem
compreende o poder da hipnose, dispensa qualquer explicacao por re
curso ao além.

4. Escrita automática ou Psicografia

A psicografia (escrita automática) pode ser induzida em laboratorio


ou em consultorio psicológico sem ritual ou independentemente de ambi
entes "místicos"; é um fenómeno natural, explicável pela capacidade do
agente, sem ¡ntervencáo do além.

A técnica da psicografia é utilizada para tratamento de conflitos


psicológicos ou em psicoterapia. Eis o que referem os autores ACMP e
ICLM:

«Esta técnica é de grande valor quando surgem na psicoterapia


situagoes que nao podem ser resolvidas pela expressáo de urna simples
palavra ou frase. O nome de urna pessoa pode ser de grande significa-
gao, mas por razóes de consciéncia o paciente pode nao desejar declína
lo, como por exemplo em um caso de incesto ou pederastía.

Vivemos um caso de urna paciente, professora de nivel secunda


rio, que apresentava urna neuroso de angustia por conflitos que tinha
entre a sua formagáo rígida e os namoros com os quais ela se defronta-
va. Entrou na etapa sonambúlica (V) da escala. Usamos a seguinte técni
ca: No consultorio, sob hipnose, fizemos sua iniciagáo na escrita automá
tica, treinando-a da seguinte forma: colocávamos a paciente sentada com
urna pasta sobre as pernas e sobre esta pasta, seu brago direito e na
mao um lápis. Dávamos as sugestóes clássicas da escrita automática
que sao: 'Vocé nao vai sentir o seu brago direito... Seu brago direito vai
ficando como que separado de seu corpo... Sua máo direita poderá se
moverá vontade... Sua máo poderá escrever sobre o papel á vontade...
poderá escrever a vontade... sua máo se mexerá á vontade... indepen-
dente do que vocé possa pensar... alias vocé nao está pensando em
nada... Sua mente fica em branco... em branco... em branco...' Decorri
dos alguns instantes, a máo direita se moveu e comegou a fazer urna
serie de rabiscos. Em hipnoses posteriores, esses rabiscos se tomaram
letras e, depois, palavras e posteriormente frases, como alias ocorre nor
malmente com essa técnica» (pp. 73s).

5. Auto-hipnose

A auto-hipnose é a hipnose (o sonó hipnótico) provocada pelo pró


prio paciente a agir sobre si mesmo. Ele se sugestiona voluntariamente

16
HIPNOSE 17

para conseguir bons resultados em seu comportamento deficiente. Di-


zem ACMP e ICLM:

«A auto-hipnose é um estado altamente sensível, no qual as su-


gestoes sao dirigidas a si mesmo. Pode ser altamente eficiente quando
judiciosamente empregada, o que quer dizer que em pacientes que fo-
ram criteriosamente selecionados, e nos quais se deseja aumentar o re-
laxamento, a concentragáo, a autoconfianga, ou prolongar a sua agio em
casos como dores crónicas, zumbidos, certos fenómenos do primeiro tri
mestre da gravidez (como náuseas, vómitos, sialorréia etc.), ou alguns
hábitos (p. ex., tabagismo), mas sempre observando o principio funda
mental, jamáis remover um síntoma sem saber para que ele serve» (p. 93).

«Schafer, médico do Exército americano durante a Segunda Guer


ra Mundial, relata suas experiencias com soldados feridos em Anzio, na
Italia, comparando a tolerancia destes com a dos soldados italianos. Seus
homens, quando feridos, precisaram de muito menos medicagáo do que
os italianos. Bes consideravam os ferímentos como urna honraría da guer
ra aliviando a dor pela auto-hipnose, enquanto os italianos desiludidos
com o final da guerra, para eles desastroso, usualmente necessitavam
de muita medicagáo analgésica. O A. cita também os casos de boxeado
res que controlam sua dor de modo que nao interíira com sua agáo, apren-
dendo a fazé-lo pela auto-hipnose durante os treinamentos» (p. 94).

6. A Hipnose em Medicina

Ás pp. 131s do livro lé-se um caso muito interessante de emprego


da hipnose (técnica sono-hipnótica) para aliviar ou extinguir a angustia e
as dores físicas de um paciente. É realmente digno de nota o que ai se lé:
«Esta técnica consiste em passar o paciente do sonó fisiológico
para a hipnose. Só pode ser empregada em condigóes especiáis e nunca
sem o consentimento do paciente e/ou seus tutores. Pode ocorrer que o
paciente nao possa dar esse consentimento previamente, e entáo deve-
rá haverjustificativa ética para o mesmo. Relataremos um caso de nossa
clínica, atendido há alguns anos. Os pais de um menino de seis anos de
idade nos procuraram pedindo nossa intervengáo no caso de seu filho,
que sotrera urna grande cirurgia. Já estava em casa, mas diariamente
tinha que irao hospital fazer curativo. Dois auxiliares de enfermagem iam
buscá-lo em casa, pois somente á forga e embrulhado em um lengolpodi-
am levá-lo e assim tinha que sermantido durante o curativo. Seupai, que
era médico, foi aconselhado pelo cirurgiáo-a nos procurar em urna tenta
tiva de, através da hipnose, conseguir a tranqüilizagáo do menino. Díga
se de passagem que os curativos, embora imprescindíveis, nao eram de
provocar dor para tamanha reagáo. O menino entrava em pánico, aos
gritos, ao menor som da campainha da porta de entrada da casa. Um

17
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

outro colega que tentara atendé-lo, nao passou do portáo da residencia.


Convencidos da impraticabilidade de contactar o paciente acordado, re
solvemos tentar a técnica sono-hipnótica. O menino costumava dormir
em torno das 20 horas; entáo fomos a sua casa ás 22 horas. Silenciosa
mente nos aproximamos de sua cama e sentamos em uma cadeira ao
seu lado. O menino dormía profundamente. Observamos seu ritmo respi
ratorio. Há necessidade de se concatenar a palavra do hipnotista com a
inspiragao e a expiragáo do paciente. Com voz baixa e suave comega-
mos a dizer: 'durma, durma, durma profundamente...' e assim fomos re-
petindo sempre dentro do ritmo respiratorio. Nesta técnica este procedi-
mento deve ser continuo e só ser testado após uns 20 minutos. Como
saberse o rapportjá foi estabelecido? É fácil, pois basta que o hipnotista
diga: 'Respire profunda e lentamente duas vezes'. Neste caso a resposta
foi ¡mediata: o menino respirou profundamente duas vezes: rapport obti-
do! O paciente já estava em hipnose. Foram feitas sugestóes adequadas
nao só para o momento do curativo, como especialmente para o manter
tranquilo ao sair de casa para o hospital. O resultado, nos informou o pai
no dia seguinte, foi espetacular. Quando os auxiliares de enfermagem do
hospital chegaram, o menino nao chorou e tranquilamente (!) foi logo di-
zendo: 'Nao quero que ninguém me amarre... sou um homem e vou só
com o papal e a mamáe'. Durante o curativo também ninguém precisou
segurá-lo... espanto até do cirurgiáo, e por que nao dizer, até nosso. Foi
um dos casos mais gratificantes que tivemos. Até o fim dos curativos
repetimos o mesmo procedimento diariamente. O menino nunca teve con
tato em vigilia conosco. Sempre foi hipnotizado durante o sonó. Hoje, 12
anos após, temos sempre informagdes dele através dos país. Já tem um
elevado conhecimento científico que Ihe foi e vem sendo ministrado por
professores especializados. Se nos encontrasse, nao saberia quem so
mos. Se o víssemos, certamente nao o reconheceríamos» (pp. 131s).

7. Conclusáo

O livro de ACMP e ICLM nao tem finalidades filosófico-religiosas. É


um longo relatório de técnicas de hipnose e de seus resultados. Como
quer que seja, contribuí eficazmente para ilustrar fenómenos maravilho-
sos que, na ignorancia de uma explicacáo científica, sao atribuidos a
intervencoes do além. Quem conhece um pouco melhor o psiquismo hu
mano, nao se deixa impressionar por pretensos portentos "sobrenatu-
rais"; dispensa o recurso ao além, pois sabe que o psiquismo humano é
muito mais ampio e poderoso do que comumente se imagina. Verdade é
que o terreno da parapsicología é, por vezes, explorado por charlatáes,
que distorcem a teoría. Mas um livro como o de ACMP e ICLM merece
pleno respeito pela honestidade dos respectivos autores.

18
A bem da Verdade:

"O DOGMA DA INFALIBILIDADE"


Por Mary Schultze

Em síntese: Mary Schultze, escritora do jornal "A Folha Universal",


escreveu um artigo que pretende narrar as ocorréncias em tomo da defi
nigáo do dogma da infalibilidade papal no Concilio do Vaticano I em 1870.
Todavía, movido por preconceitos, seu relato apresenta um conjunto de
inverdades, que procuramos abaixo esclarecer. Nao se pode negar que
houve contestagáo á definigáo dogmática por parte de certos prelados e
de porta-vozes da opiniáo pública - fatos estes que estáo longe de ter
tomado as proporgóes que a escritora Ihes atribuí.

A Redacáo de PR recebe freqüentemente exemplares do jornal "A


FOLHA UNIVERSAL", da Igreja Universal do Reino de Deus, enviados
por leitores que pedem esclarecimentos a respeito das acusacoes af for
muladas contra a Igreja Católica. Temos consciéncia de que a polémica
religiosa nao é oportuna. Todavia eremos também que PR nao pode dei-
xar de atender a pessoas que professam a fé católica e se sentem afeta-
das pelos artigos agressivos de "A FOLHA UNIVERSAL". Responder a
tais artigos vem a ser um dever de consciéncia, pois a Verdade nao pode
ser ultrajada sem que procuremos restaurá-la em tom objetivo e sereno.
É este o propósito de PR quando, por solicitacáo de seus leitores, co
menta injustas e falsas alegacóes de "A FOLHA UNIVERSAL". Importa
que a Verdade seja conhecida com todos os seus ángulos, quando se
trata de assuntos atinentes ao Senhor Deus.

Entre os mais violentos artigos dos últimos tempos está o da Sra.


Mary Schultze intitulado "O Dogma da Infalibilidade". Tal autora procura
reconstituir os acontecimentos atinentes á definicáo de tal dogma por
ocasiáo do Concilio do Vaticano I em 1870. Todavia é vítima de precon
ceitos passionais. O artigo termina atribuindo ao Cardeal Agnelo Rossi,
ex-arcebispo de Sao Paulo, urna trama para assassinar o pastor batista
Aníbal Pereira dos Reis, alegacao esta que peca gravemente contra a
verdade.

Ñas páginas que se seguem, abordaremos a temática da definicáo


da hualibilidade papal, ficando para o artigo seguinte o que diz respeito
ao Cardeal Agnelo Rossi e o pastor Pereira dos Reis.

19
20 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

1. O Problema

Eis alguns dos tópicos mais salientes da primeira parte da expla-


nacáo de Mary Schultze:

«No dia 08 de dezembro de 1869, o papa Pió IX abriu o Concilio


Vaticano I, o qual tinha por meta principal a proclamagáo do dogma da
infalibilidade papal. Amatoria dos católicos e muitos bispos eram total
mente contrarios á proclamagáo desse dogma, por ser absolutamente
contrarío ás Sagradas Escrituras.

Instalado o concilio, com a maciga presenga dos bispos de todas


as partes do mundo, comegaram os trabalhos no sentido de se elaborara
proclamagáo definitiva de tal dogma (Quanta Cura). Os bispos que eram
contrarios tiveram seu direito de talar completamente cassado e seus
passaportes foram retidos pelas autoridades conciliares. Alguns conse-
guiram fugir, enojados com a corrupgáo reinante lá dentro do recinto do
concilio. Muito dinheiro correu no sentido de se conseguirem votos a favor.
Os que nao se venderam e conseguiram fugir, de regresso aos
seus países tiveram de se calar, temendo a divisáo da Igreja que tanto
amavam, a perda de seus cargos e até a morte. O historiador e erudito
suígo August Bernhard Hasler, que se atreveu a contar a historia suja
desse Concilio através do seu livro 'Como o Papa se Tornou Infalível',
teve morte súbita e misteriosa...

Pió IX, que foi o 'Hitler' do secuto XIX, revidou de maneira cruel e
sanguinaria contra os romanos, taxando-os de hereges, executando cen
tenas deles e confinando aproximadamente oito mil nos calabougos do
Palacio da Inquisigáo. Ali, os infelizes "hereges" eram acorrentados ás
paredes frías, completamente ñus, transformados em esqueletos vivos
pela fome e o desespero».

Vé-se que Mary Schultze enfatiza as dificuldades do Concilio e


desfigura por completo a pessoa do Papa Pió IX - o que certamente é
tendencioso. A Inquisicio nao existia mais nos tempos de Pió IX, de modo
que é falso dizer que mi I harés de romanos foram confinados em seus
calaboucos. A seguir, apresentamos a historia objetiva dos fatos.
2. Os preparativos do Concilio

Mais de trezentos anos haviam decorrido após a última assem-


bléia do Concilio de Trento (3-4/12/1563), quando Pió IX, em dezembro
de 1864, comunicou secretamente aos Cardeais a sua intencáo de reunir
novo Concilio Ecuménico: os tempos, ingratos como eram, o exigiam;
era preciso deliberar sobre os remedios a oferecer-lhes - o que se faria
por excelencia num Concilio1.
1 Alias, aos 08/12/1864 Pió IX, diante dos numerosos erros doutrínários que

20
"O DOGMA DA INFALIBILIDADE" 21

A Bula de convocacáo saiu aos 29/06/1868, convidando também


os protestantes e os ortodoxos separados; estes, porém, nao compare-
ceram. A noticia de um próximo Concilio suscitou entusiasmo e também...
apreensóes; o público só sabia que seriam condenados erros contempo
ráneos, reafirmada a doutrina da Igreja, revistas a disciplina, a obra
missionária, a formacáo dos seminaristas... Mas na Curia Romana reina-
va um certo misterio sobre os intensos preparativos do Concilio. A agita-
cáo pública aumentou quando em fevereiro de 1869 a revista jesuíta La
Civiltá Cattolica anunciou que o Concilio estava para definir a infalibili-
dade papal. O mundo nao católico imbuido de liberalismo proclamava-se
defensor da liberdade dos simples fiéis católicos, "subjugados pelo do
minio obscuro e obscurantista dos eclesiásticos". Na Alemanha, o histo
riador Pe. Inácio Dollinger (1799-1890) colocou-se á frente do movimen-
to antiinfalibilista, com diversos escritos contrarios á definicáo. O Presi
dente de Ministros da Baviera, Clodoveu de Hohenhole, procurou suscitar
urna intervencáo dos Govemos europeus contra os pretensos perigos do
Concilio. Os bispos alemáes reunidos em Fulda (setembro de 1869) envia-
ram um escrito ao Papa em que declaravam nao julgar oportuna a definicáo,
embora nao se opusessem a doutrina; temiam as reacoes dos Govemos e
cisóes entre os própríos católicos. Em verdade, a definicáo desse dogma
podia parecer ousadia numa época em que se respirava o liberalismo.

3. O decorrer do Concilio

O Concilio foi aberto aos 08/12/1869 na basílica de Sao Pedro,


com a presenca de 764 prelados. - No mesmo dia e na mesma hora,
abria-se em Ñapóles, sob a presidencia de Ricciardi, um anticoncílio, do

campeavam na sua época, publicou a encíclica Quanta Cura, tendo anexo um


Syllabus ou resumo das falsas doutrínas contemporáneas, que o Papa reprovava;
sao oitenta sentengas, mais ou menos concisas, distribuidas em dez parágrafos:
§1- Panteísmo, naturalismo, racionalismo absoluto; §2- Racionalismo moderno;
§3- Indiferentismo, latitudinarísmo (laxismo ou liberalismo moral); §4- Socialismo,
comunismo, sociedades clandestinas, Sociedades Bíblicas, Sociedades Cléríco-li-
berais; §5-Erros sobre a Igreja e seus direitos; §6- Erros sobre a sociedade civil
considerada em sieem suas miagóos com a Igreja; § 7-Erros sobre Ética natural e
Ética crista; §8- Erros sobre o matrimonio cristáo; §9- Erros sobre o poder tempo
ral do Romano Pontífice; §10- Erros que se referem ao liberalismo do secuto XIX.
Tratase de proposigóes já anteriormente condenadas em trinta e dois documentos
do próprio Pió IX. A origem dessa coletánea remonta ao arcebispo de Perugia
Gioacchino Peed, depois Papa Leño XIII, que solicitara ao Pontífice urna súmula
portadora de todos os erros do momento relativos á Igreja e á sua autoridade. O
Syllabus impressionou os adversarios da Igreja, que julgaram estar assim
anatematizada a civilizagáo moderna. Tal interpretagáo era falsa; Pió IX tencionava
apenas repudiar a cultura meramente naturalista, que pretende compreender e ori
entar o homem sem Deus. A prova disto é que o inspirador do Syllabus, o Papa
Leáo XIII, procurou eficazmente conciliar a cultura do seu tempo e o Catolicismo.

21
22 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

qual participaram 700 delegados macónicos do mundo inteiro; a Policía


dispersou esse conciliábulo após poucos días, tal era a indignacáo popu
lar provocada por blasfemias contra Cristo e sua Máe Imaculada.
Quatro foram as sessóes públicas do Concilio. A terceira, aos 24/
04/1870, promulgou urna Constituicáo Dogmática Dei Filius, unánime
mente aprovada: o cap. 1a afirma a existencia de um Deus pesoal, livre,
Criador de todas as coisas e independente do mundo criado (contra o
materialismo e o panteísmo); o capítulo 29 ensina que certas verdades
religiosas, como a existencia de Deus, "podem ser conhecidas com cer
teza pela luz natural da razáo humana" (contra o ateísmo e contra o
fideísmo1; num século em que a fé crista era escarnecida pelo racionalismo
o Concilio defendía a razáo!); o texto desse 29 capítulo acrescenta que
houve urna Revelacáo Divina, a qual chega até nos mediante tradicóes
oráis e Escrituras Sagradas. O capítulo 39 proclama que a fé é urna ade-
sáo livre do homem a Deus, que supoe um dom da graca divina. O capí
tulo 49 define os setores próprios da razáo e da fé e lembra que qualquer
aparente desacordó entre razáo e fé só pode vir de falsa compreensáo
das proposicoes da fé ou das conclusóes da razáo.
A quarta sessáo do Concilio, aos 18/07/1870, definiu a infalibidade
do Papa e seu primado de jurisdicáo sobre a Igreja inteira. O texto pro-
posto á discussáo dos padres conciliares foi debatido de marco a julho; a
assembléia se dividiu em dois campos: a grande maioria julgava a defini-
9§o oportuna e necessária (eram apoiados por urna corrente de leigos
franceses, ehcabecados por Louis Veuillot, que, repudiando os resquici
os de galicanismo, eram ditos ultramontanos, poís ultrapassavam a cor-
dilheira dos Alpes para aderír a Roma); os demate eram contrarios á de
finicáo; destes, poucos se opunham ao dogma como tal; outros apenas
negavam a oportunidade de o proclamar, por causa das reacóes que isto
poderia provocar. Entre os adversarios da definicáo, citam-se o bispo
Strossmayer de Djakovar (Eslavónia), que, depois da definicáo, aceitou
fielmente a sentenca do Concilio; e o bispo Hefele, que aduzia o caso do
Papa Honorio contra a infalibilidade.
Eis o caso em foco: o Papa Honorio I (625-38), homem pouco
especulativo, foi solicitado pelo Patriarca Sergio de Constantiriopla para
aderir ao monenergismo e ao monotelitismo2; Honorio parece ter dado
razáo a Sergio em suas cartas, ordenando que nao se falasse mate nem
de urna nem de duas energías (atividades) em Cristo; o Concilio
Ecuménico de Constantinopla III em 681 condenou, por isto, o Papa Honó-

1 O fideísmo ensina que as verdades religiosas só podem ser conhecidas pela fé.
2 Monenergismo = em Cristo haveria urna só atividade (enérgela em grego) - a divina.
Monotelitismo = em Cristo haveria urna só vontade (thélama, em grego). Estas
doutrinas eram resquicios do monofisismo.

22
"O DOGMA DA INFALIBILIDADE" 23

rio I. Ora deve-se dizer que Honorio nao tencionou pronunciar definicoes
dogmáticas no caso; além disto, depreende-se do contexto mesmo das
duas famosas cartas que, quando Honorio fala de uma só vontade em
Cristo, ele se refere ao plano moral e nao ao plano físico (a vontade
humana e a vontade divina em Jesús queriam sempre a mesma coisa).
0 mal de Honorio nao foi ter aderido ao erro, mas foi permitir, por descui
do, que este se propagasse.

Os argumentos da oposicáo foram sendo desfeltos. Quando vlram


a causa perdida, 56 dos oposicionistas se retiraram de Roma, tendo pe
dido e obtido a licenca do Papa, aos 17/07/1870; deixaram, porém, uma
carta ao Santo Padre, em que afirmavam seu propósito de conservar
sempre fidelidade e submissao á Santa Sé. No dia seguinte, 18/07, 533
padres conciliares deram voto favorável á Constituicáo Pastor Aeternus;
dois apenas se manifestaran! contrarios, mas logo se anexaram á sen-
tenga positiva. Pió IX promulgou a Constituicáo, o que provocou calorosa
aclamacáo em toda a basílica de Sao Pedro.

A Constituicáo assim aprovada consta de quatro capítulos, que afir-


mam o fundamento bíblico e patrístico, a duracáo perpetua, o valor e a
esséncia do primado romano assim como a infalibilidade do magisterio
papal. A autoridade do Papa foi definida como sendo sumo e ¡mediato
poder de jurisdicáo sobre toda a Igreja, ficando assim condenados o
gallcanismo e o febronianismo1 (cap. 3S). O capítulo 4e define, como dog
ma revelado por Deus, que as definicóes do Romano Pontífice proferidas
ex cathedra, isto é, na qualidade de Mestre da Igreja inteira, em ques-
tóes de fé e de Moral, gozam de especial assisténcia do Espirito Santo;
sao, pois, infalíveis e irreformáveis por si mesmas, sem necessitar da
aprovacáo da Igreja.

Após esta memorável sessáo, o Concilio aínda estava no inicio


das suas atividades. Dos 51 projetos de decreto, só tinha estudado e
publicado dois; das questóes disciplinares, só quatro haviam sido discu
tidas, mas nao definidas. Nao obstante, o Concilio teve que ser interrom
pido abruptamente, pois no dia seguinte, 19/07, estourou a guerra fran-
co-alemá, que obrigou muitos prelados a regressar a patria. Sobreveio a
ocupacáo de Roma aos 20/09/1870, que tornou praticamente impossível
a continuacáo dos trabalhos. Em conseqüéncia, aos 20/10/1870 o Papa
suspendeu o Concilio, que deveria voltar a reunir-se em época mais apro-
priada, mas na verdade nunca foi reaberto; o Concilio do Vaticano II (1962-
65) havia de completar os seus trabalhos.

A importancia do Concilio do Vaticano I é enorme para a Igreja. A


1 Febronianismo vem de Febronlus, pseudónimo de Nicotau de Hontheim. Atribuía
o poder de jurísdigáo, na Igreja, á totalidade dos fiéis: o Papa e os Bispos seriam os
delegados da comunidade, tendo sua atuagáo limitada por decisóes de Concilios.

23
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999 .

definicáo da ¡nfalibilidade papal era a conclusáo lógica de premissas con-


tidas na própria Escritura (Mt 16,16-19; Le 22,31s; Jo 21,15-17) e desen
volvidas através dos tempos; principalmente por ocasiao dos litigios que
afetavam a Igreja, foi emergindo na consciéncia dos cristáos a preemi
nencia do magisterio dos sucessores de Pedro. Precisamente as tenden
cias galicanas e febronianas dos sáculos XVII/XVIII serviram para agu-
car essa tomada de consciéncia de modo mais vivo; humanamente fa-
lando, os católicos podiam ter optado pelo nacionalismo eclesial, mas o
desenrolar dos embates e a acáo do Espirito Santo levaram a Igreja como
tal a reafirmar a antiga verdade do primado papal tanto em materia de
jurisdicáo quanto em materia de doutrina. Numa época de descrenca, a
fé se afirmava de maneira corajosa. A própria Igreja aparecía como algo
de transcendente oucomo um sacramento, que o homem recebe de Deus,
á diferenca de outras sociedades e ¡nstituicoes.
A centralizacáo explicitada pelo Concilio do Vaticano I teve expres-
sóes sempre mais perceptíveis durante os pontificados seguintes. Era
preciso que ocorresse o Concilio do Vaticano II (1962-65) para terminar a
obra que o anterior deixara inacabada. O Vaticano I só pode abordar a
funcáo do Romano Pontífice, dentro do exiguo espaco de sua duracáo; o
Vaticano II abordou também o papel dos bispos e dos presbíteros na
Igreja, pondo em relevo o conceito de colegialidade que, sem apagar o
primado de Pedro, enriquece a estrutura da Igreja.
Claro está que a agitacáo pública que precedeu e acompanhou o
Vaticano I, nao se apaziguou logo. - Os bispos da minoría oposicionista
submeteram-se pouco depois, inclusive Hefele de Rottenburg (10/04/
1871). Também a maior parte dos teólogos reconheceram a definicáo. -
No cenário político, a definicáo do Vaticano I nao foi táo focalizada e
discutida como o teria sido se nao fora a guerra franco-alemá; todavía
aiguns Estados e Estadistas tomariam atitude de suspeita diante da Igre
ja; a Prússia e aiguns cantees da Suíca adotaram fortes medidas contra
os católicos, que levaram ao Kulturkampf (secularizacáo de bens ecle
siásticos). Estas conseqüéncias desagradáveis, que culmínaram no cis
mo dos Velhos-Católicos, nao chegam a extinguir as vantagens que da
definicáo resultaram para a Igreja.
4. Os Velhos Católicos

O sacerdote Inácio Dollinger, já mencionado como adversario da


definicáo, desde cedo mostrara-se favorável ao sistema febroniano. Era
famoso historiador e teólogo de Munique, que professava idéias liberáis
em materia de doutrina e um certo relativismo ou historicismo.
Após a definicáo da infalibilidade, continuou a manifestar-se hostil
ao Papado, que ele julgava desnecessário. A sua posicáo professada
publicamente valeu-lhe a excomunháo da parte do arcebispo de Muni-

24
"O DOGMA DA INFALIBILIDADE" 25

que em 1871 -censura esta que em 1872 atingiu outros professores de


Faculdades alemas, por se terem agregado a Dóllinger. Aos poucos es-
ses adeptos do mestre, á revella do próprio mestre, resolveram fundar
urna Igreja própria, cujo chefe era o professor Joáo Frederico von Schulte,
de Praga. A partir de 1872 foram sendo criadas paróqulas de "Velhos-
Católicos". Esta designacáo se deve ao fato seguinte: quando o arcebis-
po de Munique voltou de Roma, após o Concilio, convidou Inácio Dóllinger,
a "trabalhar para a Santa Igreja"; este respondeu secamente: "Sim, para
a antiga Igreja! - Há urna só Igreja, replicou o arcebispo, nao existe nova
nem antiga Igreja! - Mas fizeram urna nova!", retrucou o professor. Por
conseguinte, Dóllinger pertencia á Velha Igreja; resolveram também ins
tituir um bispo para si em 1873 na pessoa do professor de Teoiogia Joseph
Hubert Reinkens, que foi receber a ordenacáo episcopal das máos do
arcebispo jansenista de Utrecht na Holanda.

Em Pentecostés de 1874 um Sínodo em Bonn aprovou a constitui


do eclesiástica tracada por Schulte: cada povo tem sua Igreja nacional
autónoma; as Igrejas nacionais estáo ligadas pela "Conferencia" de seus
bispos. A autoridade suprema é o Sínodo, do qual fazem parte todos os
eclesiásticos e os deputados dos leigos de cada paróquia; o Sínodo pro
mulga leis e examina a administracáo. Na paróquia a autoridade supre
ma toca á assembléia dos fiéis, que elege o seu pároco; a este assiste o
Conselho Paroquial.

Os Velhos-Católicos aos poucos foram sendo penetrados por te


ses protestantes, que Ihes pareciam corresponder á disciplina da Igreja
dos oito primeiros séculos (donde o nome "Velhos-Católicos"): rejeita-
ram, portanto, além do primado do Papa, o celibato sacerdotal, a confis-
sáo auricular, as indulgencias, o culto dos santos, as procissóes e pere-
grinacoes, a Imaculada Conceicáo. Introduziram a língua alema na litur
gia da Missa. Estas inovacóes causaram descontentamente dentro da
própria comunháo cismática: dos Velhos-Católicos faziam-se Neo-pro
testantes. O próprio Inácio Dóllinger abandonou publicamente a faccáo
que ele inspirara.

Alias, a figura de Dóllinger ficou sendo misteriosa. Ele nao teria


levado suas idéias a tais conseqüéncias práticas; nao quería o cisma
formal. Conservou-se sempre fiel aos votos do seu sacerdocio; absteve-
se de celebrar a S. Missa após a excomunháo. Sempre levou vida muito
modesta, de severa sobriedade e muito trabalho. Parece que no fim da
vida sentia saudades da Igreja de sua juventude. Desaconselhou mesmo
a um de seus discípulos, Blennerhasset, que o seguisse no caminho to
mado após o Vaticano I. O fato é que morreu em 1890 sem se ter recon
ciliado como a Igreja.

Em 1889, os Velhos-Católicos e os jansenistas se aliaram na chama-

25
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

da "Uniáo de Utrecht". As tendencias liberáis se fizeram sentir muito es


pecialmente na Suíca, onde os Velnos-Católicosisao chamados "Igreja
Crista Católica", dirigida por leigos e nao por teólogos, como na Alema-
nha, porque as razóes da oposicáo do Vaticano I eram mais políticas do
que teológicas.

Para aprofundamento:

BIHLMEYER-TÜCHLE, Historia da Igreja, vol. 3. Ed. Paulinas.


PIERRARD, FIERRE, Historia da Igreja. Ed. Paulinas.
ROGIER-AUBERT-KNOWLES, Nova Historia da Igreja, vol. 4. Ed. Vozes.

Jesús, Mestre de Nazaré, por Aleksandr Mien. Traducáo de IramiBe-


zerra da Silva a partir do italiano. - Ed. Cidade Nova (rúa José Ernesto Tozzi,
98, Vargem Grande Paulista, SP, 06730-000, teleFAX 011-79602252), 140 x
205mm,312pp.

O livro é urna narrativa do conteúdo dos Evangelhos recolocados no


ambiente cultural do sáculo I d.C. Tratase de um trabalho fiel á realidade
histórica, erudito sem ser de leitura pesada ou cansativa.
Aleksandr Mien é umjudeu nascido em Moscou aos 22/01/1935, de país
incrédulos. Sua máe, atraída pelo Cristianismo desde a infancia, fez-se balizar
juntamente com o filho de poucos meses. Aleksandr desde cedo revelou espi
rito profundamente religioso. Concluidos seus estudos teológicos, fot ordenado
sacerdote sob o severo regime soviético, e tornou-se ponto de encontró de
intelectuais russos (escritores, músicos, poetas, atores, filósofos, artistas...),
que ele sabia reunirpara um diálogo cultural. Dotado de vasta cultura bíblica e
geral, redigiu urna obra em diversos volumes sobre a historia das religióes;
escreveu um Didonário bíblico e, finalmente, urna Vida de Jesús, que levaría a
fé a milhares de cidadáos da antiga Uniáo Soviética. Tais obras circulavam
clandestinamente, manuscritas ou datilografas; depois foram publicadas na Ifn-
gua russa em Bruxelas, chegando á Uniáo Soviética por cañáis nao oficiáis
(samizdat). Ao lado deste trabalho cultural, o Pe. Aleksandr se dedicou á pas
toral, fundando grupos de catequese, de preparacáo aos sacramentos, de
voluntariado para assisténcia aos idosos e doentes; durante muitos anos isso
tudo se realizava ás escondidas, em apartamentos residenciáis, tomando-se
algo de público e patente com o advento da perestroika (reconstrucao) sob
Mikhail Gorbachev em 1986. Pouco depois de publicar o livro sobre Jesús
Cristo (do qual foi vendido um milháo de exemplares logo no seu primeiro ano
de circulagáo), o Pe. Aleksandr Mien foi assassinado a machado aos 9 de
setembro de 1990; nao se pode identificar o assassino. O fenómeno Aleksandr
se tomara incómodo para os fundamentalistas.

A obra em foco condiz perfeitamente com o pensamento católico; de


modo especial chama a atengáo a fidelidade do autora proposicáo da Virginda-
de Perpetua de María SSma., que o autor explana recorrendo á exegese e á
Tradicao.

26
Desfazendo equívoco:

CARDEAL ROSSI E PASTOR ANÍBAL


PEREIRA DOS REÍS

Em síntese: A escritora Mary Schultze atribuí ao Cardeal Agnelo


Rossi urna trama para assassinar o pastor batista Aníbai Pereira dos Reís,
baseando-se em documentos que ela mesma talvez nao saiba serem
falsos. O artigo abaixo apresenta a verdade dos fatos, reconhecida pela
própria imprensa batista. Com efeito; o "Jornal Batista"atesta que no caso
houve falsificagáo de documentos, devida ao infeliz pastor Aníbal Pereira
dos Reís, que Deusjá chamou a Si.

A Sra. Mary Schultze, "pesquisadora de Religiáo", escreve no arti


go "O Dogma da Infalibilidade", da Tolha Universal", jornal da Igreja
Universal do Reino de Deus, quanto segué:

«Nos dias 12/11/71 e 02/05/79, bem depois do Concilio Vaticano II,


no qual a 'Santa Madre' teña mudado o seu modo de agir, aconteceu o
seguinte: o cardeal Agnelo Rossi, comoprefeito dessa entidade católica
romana, enviou ao cardeal Evaristo Ams, no Brasil, duas cartas sugerin-
do o assassinato do ex-padre Dr. Aníbal Pereira Reis, entáo pastor batis
ta e autor de muitos Iivros sobre a Igreja de Roma, cartas essas que
aparecem ñas últimas páginas de aiguns Iivros do ex-padre Aníbal, que
já está na gloria.

Isso mostra que Roma é sempre a mesma e, quando tiver oportuni-


dade, através do ecumenismo, de se tomar novamente a 'Igreja domi
nante', fará muito plora todos os que nao 'rezampelo seu catecismo'!»

Esta noticia, deturpadora dos tatos, exige esclarecimentos. Antes


do mais, é de notar que o Cardeal Agnelo Rossi, ex-arcebispo de Sao
Paulo, nunca foi Prefeito dessa "entidade católica romana" que é a Con-
gregacáo para a Doutrína da Fé (mencionada anteriormente por Mary
Schultze), mas, sim, Prefeito da Congregacáo para a Evangelizacáo dos
Povos. Dito isto, compete declarar quem foi o pastor Aníbal Pereira dos
Reis.

Pastor Aníbal Pereira dos Reis: quem foi?

É desagradável tecer considerares desfavoráveis a determinada


27
28 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

pessoa. Nem é da praxe de PR fazé-lo. Todavia o caso presente exige


que se diga ao menos algo do que concerne ao pastor Aníbal.
Trata-se de um ex-padre que se fez batista em 1965 e se tornou
violento adversario da Igreja Católica, combatendo-a através de escritos
e pregacóes.

Nao comentamos o fato de que o pastor Aníbal tenha agredido


aquela Igreja em que renasceu pelo S. Batismo, estudou e foi ordenado
ministro de Jesús Cristo... Há, porém, modos diversos de se opor a al-
guém ou a alguma instituicáo. Com efeito, existe a polémica digna, cien
tífica, que, por vezes, pode honrar a quem a conduz. Mas também existe
a polémica que, obcecada pela paixao, nao recusa a falsificacáo, a men
tira, a calúnia, a sátira e as injurias. Ora tal é o modo como o pastor
Aníbal se voltou contra a sua Santa Igreja; foi profundamente passional e
obsessivo, de tal modo que forjou documento falso (que ainda ousou
defender como legítimo, depois de comprovada a sua falsidade); além
disto, usou linguagem da mais incisiva agressividade.

Tenha-se em vista, com efeito, a pseudo-carta publicada pelo «Jor


nal Batista» de 19 a 23 de Janeiro de 1972 a pedido do pastor Aníbal:
seria urna missiva dirigida pelo Cardeal D. Agnelo Rossi, Prefeito da
Congregacáo para a Evangelizacáo dos Povos em Roma, ao Cardeal D.
Paulo Evaristo Arns, arceblspo de Sao Paulo; nesse texto, aquele prela
do admoesta o arcebispo de Sao Paulo a que se acautele contra a acáo
«missionária» do pastor Aníbal Pereira dos Reís; este seria «um dos sa
cerdotes mais cultos do Brasil», dotado de «enorme capacidade de tra-
balho». Diz mais o texto dessa pseudo-carta:

"Os seus livros, além de suas pregagóes, vém causando enormes


dificuldades para os nossos planos ai no Brasil... Se nos o perdemos, o
que foi enorme prejuízo, agora é necessárío barrar-lhe a impetuosida-
de... O padre Aníbal é o sacerdote que atualmente mais causa preocupa-
gdes a Paulo VI. Mande-me sempre noticias, bem como recortes interes-
santes de jomáis e revistas."

Essa pretensa carta, em última análise, constituí urna «louvagáo»


á pessoa do pastor Aníbal dos Reis e urna recomendacáo publicitaria e
comercial dos livros do mesmo; o pastor quis fazer sua promocáo própria
e angariar novos lucros para si, além de desfigurar a S. Igreja Católica.
Alias, o Sr. Aníbal nao perdía ocasiáo de fazer elogios e publicidade de
suas obras em capas de livros, roda-pés, cantos de página dos escritos
que ele pudesse atingir. Como se vé, em Janeiro 1972 chegou mesmo a
forjar um documento ameacador, de linguagem vulgar, atribuindo-o a urna
figura eminente da Igreja Católica, ou seja, ao Cardeal Rossi.

28
CARDEAL ROSSI E PASTOR ANÍBAL PEREIRA DOS REÍS 29

E como se prova que forjou?

O Cardeal D. Agnelo Rossi, em Roma, sabedor da fraude, escre-


veu para «O Jornal Batista» um artigo acompanhado de missiva datada
de 05/2/1972, em que denunciava a falsidade do dito documento e pedia
fosse essa denuncia publicada com o mesmo destaque e no mesmo lo
cal de «O Jornal Batista», conforme a ética profissional.

Eis o teor do artigo de D. Agnelo Rossi, conforme foi publicado


pelo «O Jornal Batista» de 5 de marco de 1972, p. 1:

Grosseira Falsificacáo de Documento da Curia Romana

"Afortunadamente lembrou-se alguém de me enviar o exemplar de


'O Jornal Batista' (19 a 23 de Janeiro de 1972, ano LXXII, nB 4), que colo
ca em destaque na primeira página sob o título 'A hierarquia católica quer
liquidar o ex-padre Aníbal?' um documento da S. Congregagáo de Propa
ganda Fide, com minha assinatura. Teña eu enviado urna carta a Dom
Paulo Evaristo Arns em 12 de novembro de 1971, em que, além de des
cabidos elogios ao padre Aníbal Pereira dos Reis, hoje pregador batista,
reconhecería nele 'o hereje mais em evidencia no Brasil' e, depois de ter
auscultado as preocupagoes do S. Padre sobre o caso, tena sugerido á
Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que 'se estudem me
didas adequadas'... 'para desmoralizar'Aníbal e 'barrar-lhe a impetuosi-
dade'. Comentando a sibilina carta, 'O Jornal Batista' pontifica: 'Roma é
sempre a mesma'.

Evidentemente caí das nuvens... simplesmente porque a carta é


apócrifa e o documento é grosseiramente falsificado. Espero, portanto,
que, de acordó com a ética profissional jornalística, 'O Jornal Batista',
com o mesmo destaque, reproduza a devida retratagáo, se nao quiser
ser cúmplice de crime contra a verdade e a justiga.

Poderia dissertar tongamente sobre o assunto: procurare'! entre


tanto ser breve na justificagáo da minha assertiva, sem descera comen
tario sobre a indigna manobra e suas desabonadoras conseqüéncias.

É apócrifa a carta. A Dom Paulo, meu sucessor, escrevo geralmen-


te á máo (parece-me mais familiar e minha letra é legível), mas sempre
com aigum calor, que traduz meu afeto e aprego a ele e á Arquidiocese
de Sao Paulo. Naquele 12 de novembro, alias, estava muito ocupado
com o Sínodo e, se quisesse tratar de um assunto para a CNBB, tinha
aqui em Roma, em pessoa, o seu Presidente Dom Aloísio Lorscheider,
meu íntimo amigo, e outros prelados brasileiros, delegados ao Sínodo.
Com referencia á CNBB, esclarego que nao sou seu embaixador aqui em
Roma nem Dom Paulo é meu porta-voz junto á CNBB. Interesso-me

29
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

naturalmente pela sorte da Igreja no Brasil, mas nem substituo, nem ori
ento a CNBB, nem sou o porta-voz do Papa para o Brasil, pois nao de
hoje existem cañáis competentes para tanto. Como prelado brasileiro,
desejando sugerir algo á CNBB, é obvio, recorro ao seu Presidente ou ao
seu Secretario Geral. E, afinal, devo confessar que, se Aníbal Pereira
dos Reís nao estivesse agora ligado a esta infeliz e deprimente manobra,
talvez, se me lembrasse dele, seria apenas para rezar por ele.

Afirmei que a falsificagáo do documento é grosseira. Forjaram um


papel oficial, que nunca poderla existir em nossa Congregagáo. Pois o
escudo é do Papa Paulo VI e nao da nossa Congregacáo. O título é
anacrónico, de antes do Vaticano II. O documento publicado nao é
protocolado, o que é absolutamente necessário para indicar sua autenti-
cidade e validade. Nao observa a praxe da Curia quanto ao modo de
indicar o destinatario e quanto á conclusSo. Reproduz urna assinatura
minha, anterior ao meu cardinaiato e á minha indicagáo como Prefeito da
S. Congregacáo para a Evangelizagáo dos Povos. Fotografou-se urna
minha anterior assinatura (sic: fAgnelo Rossi), quando hoje, nos docu
mentos oficiáis, assino, gragas a universalidade de minha missáo na Igreja,
sem a cruz, antecedendo meu nome, com estes dizeres: Agnelo Card.
Rossi, Pref. Colocaram a tal assinatura abaixo de urna carta que, pelo
estilo e conteúdo, nunca poderla escrever. Infeliz manobra!

Porque nada se constrói de bom sobre a falsidade e a mentira... e


porque aínda creio que a diregáo de 'O Jornal Batista' tenha sido ludibri-
ada em boa fé, quanto ao documento, ouso esperar o conseqüente e
nobilitante gesto de retratagáo de um jornal que se preza serórgáo oficial
da Convengáo Batista Brasileña.

Cardeal Agnelo Rossi


Roma, 5-2-1971"

A carta que acompanhava tal artigo, era a seguirte:

SACRA CONGREGATIO

PRO GENTIUM EVANGELIZATIONE Roma, 7-2-72

SEU DE PROPAGANDA FIDE

"A 'O Jornal Batista'

Tendo 'O Jornal Batista'publicado, em destaque, na prímeira pági


na, um documento falso de nossa Congregagáo, com assinatura minha,
retirada de qualquer outro documento antes de minha elevagáo ao
cardinaiato, espero que, de acordó com a ética jomaiística, publique, com
o mesmo destaque e no mesmo local, a retratagáo anexa.

30
CARDEAL ROSSI E PASTOR ANÍBAL PEREIRA DOS REÍS SM

Nao Ihe fago pedido oficial, formalizado pela S. Congregagao para


a Evangelizagao dos Povos ou enderegado ao Ministerio da Justiga do
Brasil, mas confio na lisura e na seriedade de 'O Jornal Batista'. Atencio-
samente

Agnelo Card. Rossi"

Em poucas palavras, eis o que estes documentos querem dizer:


alguém (o próprio pastor Aníbal dos Reís) tomou o cabecalho de urna
antiga folha de papel de carta da Congregacáo para a Propagacáo da Fé
(que em 1972 já se chamava «Congregacáo para a Evangelizagáo dos
Povos»); esse cabecalho terá sido tirado de um documento qualquer da
Congregacáo emanado antes de 1972 e encontrado pelo pastor Aníbal.
Á guisa de armas, colocou, ao lado da rubrica, as armas de Paulo VI (que
nao figuram em papel das Congregacóes Romanas); colocou todo esse
cabecalho em folha de papel-carta comum; ai bateu á máquina a pretensa
missiva do Cardeal Rossi ao Cardeal Arns e no fim colocou urna assina-
tura (encontrada em seus arquivos) de D. Agnelo Rossi quando era arce-
bíspo de Ribeiráo Preto (t Agnelo Rossi, e nao Agnelo Card. Rossi);
pediu ao tabeliáo o reconhecimento dessa firma, reconhecimento que foi
dado, pois D. Agnelo Rossi realmente assinava t Agnelo Rossi quando
estava em Ribeiráo Preto, mas nunca assinaria t Agnelo Rossi quando
Prefeito da Congregacáo para a Evangelizarlo dos Povos.

Ao ver a denuncia, o pastor Aníbal Pereira dos Reis insistiu em


defender a genuinidade da carta que forjara. Essa apología saiu publicada
no «O Jornal Batista» de 19 de marco de 1972; finalmente apareceu tam-
bém um libelo do pastor Aníbal Pereira dos Reis intitulado «O Cardeal
Agnelo Rossi desmascara o ecumenismo», contendo todo o documentário
respectivo. Quem leia essas páginas de defesa, verifica que absoluta
mente nada dizem de válido; contornam o problema; ofuscam o leitor
incauto, mas deixam ficar a evidencia da fraude que o pastor Aníbal quis
legitimar.

Diante de tais fatos, de que a imprensa batista mesma se tornou o


porta-voz, pergunta-se: pode-se dizer que a mentira, a falsidade e a frau
de sao os instrumentos de auténtico ministro do Evangelho? Quem re
corre a tais meios, ainda está procurando difundir realmente o Reino de
Cristo ou está servindo a si mesmo, visando á sua autopromocáo e des-
carregando azedumes pessoais sobre o grande público? O Evangelho
ensina a verdade e a caridade; quem deseja ser arauto do mesmo, há de
se distinguir pelo culto destes dois grandes valores cristáos.

31
Falso amor...

"POR AMOR AOS CATÓLICOS ROMANOS"


por Rick Jones

Em síntese: Rick Jones, outrora católico, hoje protestante, apre-


senta 37 pontos doutrinários do Catolicismo que Ihe parecem estar em
confuto com a mensagem bíblica. Para tanto, escolhe da Biblia as passa-
gens que Ihe convém e omite as que contradizem á sua posigáo. Tratase
de argumentagáo altamente tendenciosa, que procura tirar da Igreja os
fiéis católicos, numa atitude de falso amor aos irmaos católicos. Nao é
difícil desvendar quáo precarios sao os arrazoados de Rick Jones.
* * *

Rick Jones, ex-católico, hoje protestante, quer justificar perante a


própria consciéncia a sua defeccao em relagáo á Igreja Católica, e tenta
induzir os irmaos católicos a seguir o seu exemplo, apresentando-lhes
urna argumentacáo pouco honesta, porque manipula a Biblia e omite a
citacáo de textos que contrariem o seu propósito. A obra "Por Amor aos
Católicos Romanos" parece ser um gesto de apreco aos irmaos católi
cos, mas na verdade é um ataque violento á única Igreja fundada por
Cristo e entregue ao pastoreio do Apostólo Pedro; sob a capa de
benquerenca, presta um mau servico. O autor pretende explicar aos fiéis
o que a Igreja Católica ensina, deturpando a doutrina desta a fim de os
convidar a se fazer protestantes. O livro foi impresso nos Estados Unidos
da América por Chick Publications e traduzido por Mary Schultze, conhe-
cida por seus artigos agressivos divulgados pela "Folha Universal" da
Igreja Universal do Reino de Deus.

O que mais chama a atencao do leitor desse livro, é a sua tenden


cia preconceituosa; procura difamar e caricaturar á custa de distorcoes
da Palavra bíblica; o autor cita os textos que Ihe convém e silencia outros
de igual ou maior peso, que nao Ihe interessam. É o que as páginas
subseqüentes tentaráo por em evidencia, analisando alguns capítulos de
tal obra.

1. Infalibilidade Papal (pp. 59-62)

O autor cita o Catecismo da Igreja Católica § 891, que fala da infa


libilidade ou inerrancia doutrinária em materia de fé e Moral concedida
por Jesús ao Sumo Pontífice. E, a fim de refutá-la, apela para os textos
bíblicos que afirmam ser todos os homens pecadores: Rm 3,10.23... Eis
um espécimen típico de mal entendido.

32
"POR AMOR AOS CATÓLICOS ROMANOS" 33

Com efeito. Infalibilidade doutrinária nao é impecabilidade. Os fiéis


católicos reconhecem que todos sao pecadores. A questáo em foco nao
é esta. A infalibilidade doutrinária tem em vista a conservacáo incólume
da doutrina revelada pelo Senhor Deus em meio ás correntes de
ensinamentos que a podem deturpar. Vem a ser algo de indispensável
para que nao tenha sido váo o sacrificio de Cristo. A infalibilidade doutri
nária se baseia em textos que Rick Jones nao cita. Se tal autor conhece
bem a Bfblia e a tem como única norma de fé, nao pode ignorar os dize-
resde

Mt 16,17-19: "Feliz és, Simáo, filho de Joñas, porque nao foia car
ne nem o sangue que te revelou feto, mas meu Pai que está nos céus. E
eu te declaro: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificare'! a minha Igreja, e
as portas do inferno nao prevaleceráo contra eia. Eu te darei as chaves
do reino dos céus: tudo o que ligares na térra, será ligado nos céus, e
tudo o que desligares na térra, será desligado nos céus."

Le 22,31s: "Simáo, Simio, eis que Satanás pediu insistentemente


para vos penetrar como trigo; eu, porém, orei por ti, a fim de que tua fé
nao des!'alega. Quando te converteres, confirma teus irmáos."

Jo 21,15-17: "Depois de comerem, Jesús disse a Simáo Pedro:


'Simáo, filho de Joáo, tu me amas mais do que estes?' Ele respondeu:
'Sim, Senhor, tu sabes que te amo'. Jesús Ihe disse: 'Apascenta os meus
cordeiros'. Urna segunda vez Ihe disse: 'Simáo, filho de Joáo, tu me amas?'
- 'Sim, Senhor', disse ele, 'tu sabes que te amo'. Disse-lhe Jesús: 'Apas
centa as minhas ovelhas'. Pela terceira vez disse-lhe: 'Simáo, filho de
Joáo, tu me amas?' Entristeceu-se Pedro porque pela terceira vez ihe
perguntara 'Tu me amas?' e Ihe disse: 'Senhor, tu sabes tudo; tu sabes
que te amo'. Jesús Ihe disse: 'Apascenta as minhas ovelhas'".

Mt 28,18-20: Toda autoridade me fot dada no céu e na tena. Ide,


pois, ensinai a todas as nagóes; batizai-as em nome do Pai e do Filho e
do Espirito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis
que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo."

Estes sao textos em que Jesús assegura á sua Igreja o carisma da


infalibilidade doutrinária indispensável para que o Evangelho nao seja
deturpado através dos séculos. Se nao fosse a garantía da infalibilidade
doutrinária do magisterio da Igreja, a mensagem de Cristo se diluiría e
deterioraría como acontece em denominacóes nao católicas.

2. Transubstanciacáo (pp. 83-88)

Rick Jones critica o Catecismo da Igreja Católica §§ 1333-1376,


que afirmam a real presenca de Jesús sob as especies do pao e do vinho

33
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

consagrados. Pretende refutar esta doutrina afirmando que Jesús enten-


de por "pao" a fé: esta é que salvaría e nao o sacramento da Eucaristia.

A propósito observamos que as palavras de Jesús em Jo 6,51-56


sao muito claras no sentido de afirmar a real presenca:

"A minha carne é verdadeira comida e meu sangue é verdadeira


bebida.

Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em


mim, e eu nele".

A clareza e a insistencia destas palavras exigem que sejam enten


didas em seu pleno realismo. Notemos que no v. 52 os judeus pergunta-
ram como Jesús Ihes poderia dar a sua carne a comer (phagein, em
grego); entáo, procurando esclarecé-los, Jesús, longe de propor uma in-
terpretacáo alegorista, reafirmou o sentido literal das suas palavras, utili
zando no v. 54 uma expressao ainda mais forte, isto é, o verbo trogo, que
significa "mastigar, dilacerar com os dentes", num realismo extremo.

Quem quisesse interpretar metafóricamente as palavras de Jesús,


deveria comprovar a sua tese - o que seria difícil, pois o sentido metafó
rico que os dizeres de Jesús podiam ter em linguagem semita, nao com
bina com o contexto de Jo 6: "comer a carne de alguém" significaría me
tafóricamente "ofender essa pessoa, persegui-la até a morte" (cf. SI 27,2);
"beber o sangue de alguém" equivaleria a "arder de odio para com tal
pessoa". Ora está claro que Jesús, em Jo 6,54, nao poderia convidar os
ouvintes ao odio para com o Divino Mestre, prometendo-lhes em troca a
vida eterna.

Os ouvintes de Cristo entenderam naturalmente as palavras do


Senhor em sentido literal, perguntando conseqüentemente, cheios de
admiracáo: "Como nos pode dar a comer a sua carne?" (v. 52). Ora, acon
tecía que, quando os discípulos se enganavam a respeito das afirma
res do Mestre, tomando ao pé da letra expressóes que deviam ser en
tendidas metafóricamente, o Senhor tratava de desfazer o equívoco; no
caso, porém, de Jo 6, Jesús nao somente nao atenuou o realismo de
suas palavras, mas, ao contrario, o acentuou: nos w. 53 e 54 acrescen-
tou, em sua resposta, a mencáo de "beber o sangue do Filho do Homem"
e de "mastigar, dilacerar com os dentes a sua carne". O Senhor manteve
a sua posicáo, embora soubesse que, em conseqüéncia, varios de seus
ouvintes haveriam de O abandonar (cf. v. 66); Cristo nao hesitou mesmo
em intimar os doze discípulos a definir a sua atitude com toda a clareza:
ou crer no realismo das palavras do Senhor e, conseqüentemente,
acompanhá-lo, ou negar a fé e, conseqüentemente afastar-se (cf. v. 67).

Eis, porém, que o v. 63 tem causado dificuldades: "É o espirito que


34
"POR AMOR AOS CATÓLICOS ROMANOS" 35

vivifica; a carne para nada serve. As palavras que eu vos disse, sao espi
rito e vida". Que tinha em vista o Senhor ao dizer isto?
Jesús apenas visava a remover um entendimento grosseiro de suas
afirmacóes: nao se tratava de comer carne enquanto tal (está claro que
esta por si nao santifica c homem) nem de comer a carne do Senhor em
suas condicoes terrestres (como se come a carne do acougue), mas,
sim, de receber a carne de Cristo glorificada, emancipada das leis do
espaco e do tempo. É a carne nessas circunstancias novas que Jesús
chama "espirito"; é espirito, porque está toda penetrada pela Divindade
(na verdade, é a Divindade de Cristo que, mediante a carne, vivifica os
fiéis na Eucaristia).

Acrescentou o Senhor que as suas palavras sao espirito, nao como


se tivessem de ser entendidas em sentido figurado, mas pelo fato de
terem um alcance espiritual e exigirem um entendimento de fé; sao vida
também, porque nos revelam o meio de termos a vida em nos.

É á luz de Jo 6 que se háo de entender as narrativas da instituicáo


da Eucaristia.

As narrativas da instituicáo durante a última ceia do Senhor empre-


gam palavras muito claras: "Isto é meu corpo... Isto é meu sangue" (Mt
26,26-28; Me 14,22-24; Le 22,19s; 1Cor 11,23-25).

Jesús naquela ocasiáo, ao deixar as últimas instrucóes aos discí


pulos, terá evitado qualquer termo de sentido ambiguo (ñas horas supre
mas e decisivas os homens costumam recorrer a linguagem precisa).
Cristo, sentado á mesa com os Apostólos, tinha diante dos olhos todas
as geracóes cristas através da historia; sabia previamente que, durante
séculos e sáculos, os seus discípulos haviam de interpretaras suas pala
vras em sentido realista, prestando adoragao ao SS. Sacramento. Nao
obstante, segundo as hipóteses de racionalistas, teria usado termos am
biguos induzindo em erro (no erro de crer na real presenca) os seus Apos
tólos, homens simples e rudes, e, depois deles, urna multidao de fiéis
cristáos!

Mais: Cristo teria usado palavras aparentemente claras para es


conder um simbolismo difícil de se perceber. Sim; é difícil definir qual o
significado metafórico que Jesús possa ter tido em vista ao proferir as
suas palavras simples sobre o pao e o vinho. Em 1577, sessenta anos
após o comeco da Reforma protestante, Sao Roberto Belarmino dizia ter
aparecido, havia pouco, um livrinho que apresentava duzentas interpre-
tacóes dos protestantes para as palavras "Isto é meu corpo"!

3. O perdió dos pecados (pp. 35-39)

Sao citados os §§ 982s, 986,1448,1461 do Catecismo, que atribu-

35
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

em á Igreja, mediante o sacramento da Reconciliacáo, o poder de perdo-


ar os pecados. Em contraparte, Rick Jones refere Me 2,7; Ef 4,32; Hb
4,16, textos que afirmam que só Deus pode perdoar os pecados.

Na verdade nao há contradicáo entre a afirmacáo de que só Deus


pode perdoar pecados e a assercáo de que Ele o presta mediante o sa
cramento da Penitencia. É sempre Deus quem perdoa; nenhum homem
pode, por sua própria virtude, perdoar alguma ofensa feita a Deus. O
fato, porém, é que Deus quis confiar aos Apostólos e seus continuadores
a faculdade de perdoar os pecados ou nao os perdoar, segundo se lé em
Jo 20,21-23:

"Disse Jesús outra vez: 'A paz esteja convosco! Como o Pai me
enviou, assim também eu vos envío a vos.' Depois destas palavras, so-
prou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espirito Santo. Aqueles a quem
perdoardes os pecados, ser-lhes-áo perdoados; aqueles a quem os
retiverdes, ser-lhes-áo retidos.'".

É de notar também a passagem de Mt 9,8: ao ver que Jesús per-


doou os pecados do paralítico, e o curara, as multidóes glorificaran! a
Deus,"que dá tamanha autoridade aos homens". Esta afirmacáo no plu
ral ("aos homens") supóe estar em vigor a praxe de perdoar os pecados
por parte dos ministros da Igreja.

Chama-nos a atencáo também o fato de que Rick Jones, para di-


zer que Deus perdoa os pecados diretamente, cita textos do Antigo Tes
tamento, época em que nao havia ainda aparecido o Messias e nao fora
instituido o sacramento da Reconciliacáo de que trata Jo 20,21-23. Está
claro que, antes de Cristo, ¡mportava confessar diretamente a Deus: isto,
porém, foi modificado pela vinda do Senhor Jesús. O mesmo acontece
no capítulo 28 da obra de Rick Jones, em que o autor volta a tratar do
perdió dos pecados. Os textos do Antigo Testamento que ele cita, sao
vagos e nao excluem o sacramento da Confissáo.

O autor concluí, como em outros casos, que a Igreja inventa dispo


sitivos para escravizar os homens e convida os leitores a abandonar a
Igreja Católica. Realmente é doloroso ver a falta de honestidade desse
escritor: na base de textos bíblicos manipulados preconceituosamente,
quer provocar a apostasia dos fiéis que pertencem a única Igreja funda
da por Cristo.

4. Salvacáo através de boas obras (pp. 29-34)

No seu capítulo 22, Rick Jones enfatiza, mediante textos de Sao


Paulo (Gl 3,8.26; Tt 3,5; Ef 2,8s...), que somente a fé nos salva; "as boas
obras jamáis poderiam salvar pessoa alguma" (p. 33).

36
"POR AMOR AOS CATÓLICOS ROMANOS" 37

Ora é surpreendente o fato de que o autor silencia, por completo, a


epístola de Sao Hago, que afirma: a fé que nao se traduz em obras, é
morta (cf. Tg 2,14-16). Alias, o prono Sao Paulo observa que o que vale,
é "a fé que atua pelo amor" (Gl 5,6). Os Apostólos Paulo e Hago nao se
contradizem mutuamente, Sao Paulo tem em vista a entrada na graca ou
na amizade de Deus e enfatiza que ela é gratuita, nao comprada nem
merecida mediante boas obras; Deus chama quem Ele quer e quando
Ele quer, como chamou Abraáo, sem que a criatura possa dizer que me
rece ser amiga de Deus.

Sao Hago tem em vista outro aspecto da questáo, a saber: a per-


severanca na amizade de Deus: nao basta crer; é preciso agir, pois o
demonio também eré, mas estremece, porque nada fez de bom. Assim
conciliam-se perfeitamente Sao Paulo e Sao Hago, de modo que nao é
lícito ater-se a um apenas, esquecendo o outro, como faz Rick Jones.

Quem lé o livro desse autor, compreende bem que é mais fácil ser
protestante do que ser católico. Jones diz ter sido católico..., católico que
experimentou enorme alivio quando passou para o protestantismo, que
deixa ao individuo o livro exame da Biblia e Ihe permite fazer sua religiáo
pessoal e subjetiva.

5. Celibato (pp. 191-194)

Rick Jones pretende condenar o celibato ou a vida una e indivisa


consagrada totalmente a Deus e ao seu servico. Para tanto cita os textos
bíblicos que propóem a dignidade da vida conjugal, mas nao se refere a
1Cor 7,25-35, texto em que Sao Paulo apresenta a vida una ou celibatá-
ria como a mais genuína resposta do cristáo á Boa-Nova da chegada do
Reino de Deus á Térra. O Antigo Testamento valorizava únicamente o
matrimonio, porque os judeus sabiam que o Messias viria através da li-
nhagem de Davi e Abraáo: daí o anseio, de toda mulher israelita, de ser
máe. O Novo Testamento, escrito após a vinda do Messias, tem consci-
éncia de que o Eterno se faz presente no tempo; por conseguinte, o tem-
po é pouco para atender ao Eterno presente; conseqüentemente quem
recebe de Deus o dom da continencia, recebe importante graca, que Ihe
permite estar todo entregue aos interesses do Reino, antecipando, de
ce río modo, o gozo da vida eterna.

6. María, Virgem Perpetua (pp. 107-109)

Rick Jones se vale dos Evangelhos que falam dos irmáos de Je


sús, para dizer que María teve outros filhos além de Jesús; cf. Mt 13,55;
Me 6,3; Gl 1,19.

O autor esquece que a palavra irmio (brother) traduz o grego

37
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

adelphós, que, porsua vez, traduz o aramaico 'ah. Este vocábulo semita
corresponde á língua em que o Evangelho comecou a ser apregoado;
tem sentido ampio, podendo significar diversas modalidades de paren
tesco. Com efeito, deve-se dizer que a palavra 'ah em hebraico tem o
sentido de parentesco em geral; nao significa apenas irmios; ver Gn
13,8; 29,12.15;31,23; 1Cr 23,21-23; 2Cr 36,10; 2Rs 10,13...

Ademáis é de notar que Jesús, aos doze anos, parece ser filho
único (cf. Le 2,41-50). Se teve irmáos, filhos do mesmo pai e da mesma
máe, eram, no mínimo, 12/13 anos mais jovens do que Jesús - o que nao
condiz com a atitude autoritaria assumida por tais "irmáos" frente a Jesús
(cf. Jo 7,3-5). Por último, sabemos que Jesús, ao morrer, entregou sua
máe a Joáo, filho de Zebedeu e Salomé, e nao aos "irmáos" - o que,
mais urna vez, insinúa que Jesús era filho único; cf. Jo 19,25-27.

De resto, a auténtica interpretacáo dos Evangelhos é-nos fornecida


pela antiga e persistente tradicáo crista, que afirmou a perpetua virginda-
de de María. O parentesco dos "irmáos" com Jesús pode ser explicado
de duas maneiras:

- ou tratava-se de filhos de S. José, nascidos em anterior casa


mento de José; este teria esposado María em idade mais avancada, na
qualidade de viúvo. Tal hipótese é atestada pelo Evangelho apócrifo de
Tiago, mas carece de fundamento na própria S. Escritura;

- ou eram filhos de Cleofas ou Alfeu, irmáo de S. José, casado


com certa Maria; cf. Jo 19,25; Mt 27,55s; Me 15,40s. Tal explicacáo é
geralmente adotada pela exegese católica: os "irmáos" eram primos de
Jesús..

O autor afirma aínda que o culto á Vírgem María é inspirado por


semelhantes formas de culto do paganismo, que adoravam deusas. Ora
isto é dito gratuitamente, pois nenhum estudioso até hoje demonstrou a
afinidade entre o culto mariano e os cultos pagaos; ao contrario, sabe-se
que os antigos cristáos eram muito ciosos de guardar incólume a sua fé,
preservando-a de contaminacáo paga a ponto de morrerem mártires para
nao trair a mensagem do Evangelho.

Em suma, poder-se-ia dissertar longamente sobre os preconceitos


de ñick Jones, cujo propósito confessado é tirar da Igreja os fiéis católi
cos, a título irónico de Ihes querer bem... Felizmente, a argumentacáo de
tal autor é táo falha, táo preconceituosa que um leitor conhecedor do
assunto percebe os sofismas. É de recear, porém, que muitos leitores
desprevenidos se deixem iludir pela dialética de R. Jones. Eis por que
procuramos, ñas páginas deste artigo, mostrar alguns espécimens da
falsa argumentacáo de um lobo vestido com pele de ovelha (cf. Mt 7,15).

38
Valioso relatório:

O VENENO DO FUMO

Em síntese: A ProfB Dra. Regina Lucia de Moraes Moreau elabo-


rou interessante relatório, em que expóe científicamente os efeitos do
tabagismo ou do uso do tabaco. Mostra quao nocivos sao os muitos in
gredientes do cigarro e da sua fumaga, causadores de dependencia do-
entia e de morte em cifras elevadas. Nao somente o tabagismo ativo é
daninho; também o tabagismo passivo é pernicioso, podendo afetar gra
vemente criangas para o resto da vida. Daía conveniencia de se proibira
venda de cigarros a adolescentes em consonancia com o artigo 243 do
Estatuto da Changa e do Adolescente.

A Prof8 Regina Lucia de Moraes Moreau, da Faculdade de Cienci


as Farmacéuticas da Universidade de Sao Paulo, apresenta valioso rela
tório sobre os efeitos negativos do uso do tabaco. Visto que a problemá
tica está freqüentemente no noticiario da imprensa, vai, a seguir, repro-
duzido o texto da ilustre mestra, a quem a Redacáo de PR apresenta
seus melhores agradecimentos.

PARECER TOXICOLÓGICO
Dependencia causada pela Nicotina, presente nos produtos do tabaco, com
vistas á aplicacáo no art. 243 do estatuto da crianca e do adolescente

Introducáo

O tabagismo representa um dos mais graves problemas de saúde


pública, configurando urna epidemia global, com poucos sinais de declínio.
As estatísticas sao assustadoras: é responsável por 3,5 milhoes de mor
tes por dia. Se esta tendencia nao for revertida, a epidemia tabagística
será responsável por 10 milhoes de mortes por ano durante os anos 2020
ou 2030, com 7 milhoes destas mortes ocorrendo nos países em desen-
volvimento.

Há por volta de 1,1 bilhao de fumantes no mundo, o que representa


cerca de 1/3 da populacáo global de 15 anos para cima. Destes, 800
milh5es estáo nos países em desenvolvimento. Estima-se que o tabagis
mo matará 500 milhoes de pessoas da populacáo atual: cerca de 250
milhoes corresponderáo ás enancas e adolescentes de hoje!

No Brasil sao 30,6 milhoes de fumantes; 27,5 milhoes (90%) co-


mecaram antes dos 19 anos e 2,8 milhoes estáo na faixa dos 5 aos 19
anos. Estima-se que, a cada ano, 80 mil brasileiros morram precocemen-
te devido ao tabagismo, número que vem aumentando ano a ano.

39
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

O consumo de tabaco é a mais devastadora causa evitável de do-


encas e mortes prematuras da historia. Por volta do ano 2020 prevé-se
que ocasionará mais mortes em todo o mundo do que o HIV, tuberculose,
mortalidade materna, acidentes com veículos motorizados, suicidio e
homicidio juntos. O tabaco é a causa reconhecida ou provavel de cerca
de 25 doencas, como cáncer do pulmáo, diversos tipos de tumores,
cardiopatias e enfisema. A Organizacáo Mundial de Saúde registra mais
de 60 mil pesquisas realizadas por grupos renomados que comprovam a
relacáo causal entre o uso de cigarro e cáncer do pulmáo (90% dos ca
sos), enfisema pulmonar (80%), infarto do miocardio (25%), bronquite
crónica...

2. Substancias da fumaca do cigarro

A fumaca do cigarro contém mais de 4.700 substancias diferentes.


A composicáo química da fumaca depende da qualidade do tabaco, de
como é embalado, do comprimento do cigarro, das características do
filtro e do papel, da temperatura em que é queimado e da maneira de
fumar. No entanto, duas fases fundamentáis podem ser diferenciadas: a
gasosa e a particulada.

A fase gasosa é composta de gases e vapores, sendo monóxido


de carbono, amónia, acetaldeído, ácido cianídrico alguns exemplos im
portantes sob o ponto de vista toxicológico.

A fase particulada é também chamada de condensado e é formada


pelo alcatráo, nicotina e águá". Alcatráo é o nome que se dá ao produto
de queima de um composto natural; nao é urna substancia em si mesma.
É constituido de alguns componentes comprovadamente carcinogénicos
ou suspeitados como tais, como arsénio, níquel, benzopireno e cadmio.
Também contém compostos radioativos como polónio 210.

3. Conceitos: Dependencia Física e Psíquica x Dependencia e


Neuroadaptacáo

Os termos dependencia psíquica e dependencia física estáo cain-


do em desuso. Atualmente prefere-se utilizar os termos dependencia e
neuroadaptagáo. A dependencia caracteriza-se por um comportamento
ativo de busca ao fármaco ou droga de urna forma compulsiva, sem me
dir as conseqüéndas, de forma que este passa ser um comportamento
dominante na vida do usuario. Nem toda pessoa que faz uso de urna
droga ou fármaco, se tomará dependente. Apenas urna parcela peque
ña, aínda que numéricamente importante, desenvolve um padrao de auto-
administracáo periódico ou continuado, que as leva a sofrer graves pre-
juízos individuáis e, em muitos casos, infligir danos a outrem, bem como
á sociedade em geral. Em outras palavras, tornam-se dependentes do
uso de drogas para manter seu equilibrio psicológico, a ponto de ser

40
O VENENO DO FUMO 41

levadas a se afastar das normas e padróes culturáis para manter a de


pendencia, ás custas de doencas, perdas afetivas e financeiras. Portan-
to, existe urna diferenciacáo entre o usuario ocasional ou até mesmo
freqüente e o dependente. Esta distincáo é extremamente importante.
Um dependente nao pode viver sem a droga, pois esta passou a ser para
ele urna questáo de sobrevivencia.

A neuroadaptacáo é urna alteracáo do sistema nervoso central


devido á presenca de urna droga ou fármaco, após exposicáo única ou
repetida, que se manifesta pelo aparecimento de transtornos físicos in
tensos, quando se interrompe o uso (sfndrome de abstinencia) ou pela
necessidade de o usuario aumentar a dose para obter o mesmo efeito
(tolerancia).

4. Nicotina e Dependencia

A nicotina é a única substancia presente em todos os produtos de


tabaco (tais como cigarro, charuto, cachimbo, fumo-de-rolo) que causa
dependencia. Todas as formas de uso do tabaco, inclusive os cigarros
com mentol, filtros especiáis, com baixos teores etc., tém urna composi-
cáo semelhante, nao havendo, portanto, cigarros "saudáveis" ou cachim
bos e charutos que facam menos mal. Isto ocorre porque, mesmo esco-
Ihendo produtos com menores teores de alcatráo e nicotina, os fumantes
acabam compensando esta reducáo, fumando mais cigarros por dia e
tragando mais freqüente ou profundamente, ou seja, fazendo outras mo-
dificacóes compensatorias em conseqüéncia da dependencia á nicotina.
5. Dependencia como doenga

A dependencia é doenga; foi incluida na Classificacáo Internacio


nal de Doencas em sua 10a Revisáo (CID-10) como um transtorno men
tal e comportamento devido ao uso de substancia psicoativa, onde o fumo
está incluido. A CID é feita pela OMS e homologada pela OIT (Organiza-
cao Internacional do Trabalho). A facilidade de obtencáo e a exposicáo
continua e diaria da nicotina sao fatores que contribuem para a instala-
gao da dependencia. Em muitos países, cerca de 90% de fumantes fu-
mam todos os dias e aproximadamente 90% ou mais sao dependentes.
Pesquisas revelam que 42% dos jovens que fumaram apenas tres cigar
ros, se tornaram dependentes.

6. Interrupcáo do uso do tabaco e síndrome de abstinencia

A interrupcáo brusca do uso crónico do tabaco pode ser seguida


de urna síndrome de abstinencia que varia em intensidade de um indivi
duo para o outro. As principáis manifestacoes clínicas que se observam,
sao transtornos do sonó (soñolencia, insónia), náusea, irritabilidade, fa-
diga, cefaiéia, ansiedade, dificuldade na concentragáo e na corrdenacáo
psicomotora, ganho de peso, reducáo da freqüéncia cardíaca e da pres-

41
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

sao arterial, com aumento do fluxo sanguíneo periférico. Tem inicio ¡me
diato; em geral, ñas primeiras 24 horas de abstinencia, podendo durar
varios meses. Diversos autores admitem que a dificuldade para o fuman
te abandonar o hábito de fumar deve-se aos efeitos experimentados pela
abstinénica. De acordó com pesquisas, de cada 100 pessoas que fazem
a tentativa, cerca de 90 voltaráo a fumar ao final de um ano.
7. Tabagismo passivo e criancas

O tabaco oferece risco nao só para os fumantes, mas também para


os nao fumantes que ficam expostos passivamente á fumaca do mesmo.
O tabagismo involuntario, também conhecido como tabagismo passivo
ou inalacáo da fumaca de tabaco ambiental, é motivo de grande preocu-
pacáo devido aos seus efeitos nocivos para a saúde.
As criancas sao particularmente vulneráveis a esta exposicáo, pois:
• contraem mais tosse e resfriados e estáo mais propensas a sofrer infec-
cóes de trato respiratorio superior e inferior. Um estudo mostrou que as
criancas expostas á poluicáo tabagística durante os primeiros 18 meses
de vida tém um aumento de 60% no risco de desenvolver enfermidades
respiratorias inferiores, tais como difteria, bronquite, bronquiolite e
pneumonía;

• tém mais possibilidade de desenvolver asma. Se já sao asmáticas, o


fumo passivo pode provocar ataques de asma e fazé-las piorar;

• estáo sob o risco de enfraquecimento da funcáo pulmonar e poderáo ter


problemas respiratorios no futuro;

• tém com maior freqüéncia ¡nfeccóes no ouvido medio, o que pode levar
a urna reducáo da audicáo.
Tanto os bebés expostos ao tabagismo involuntario como aqueles
nascidos de mulhres que fumam durante a gravidez correm risco signifi
cativamente maior de morrer de síndrome infantil de morte súbita.
8. Conclusáo

Os produtos de tabaco podem causar dependencia ao usuario por


conterem nicotina. Portanto, estes produtos se enquadram no art. 243 do
Estatuto da Crianca e do Adolescente.

Este parecer contém sete (7) páginas impressas somente nos seus
anversos, todas rubricadas.
Sao Paulo, 17 de agosto de 1998.

Regina Lucia de Moraes Moreau


Prof. Dr. de Toxicologia da Faculdade de Ciencias
Farmacéuticas da Universidade de Sao Paulo.

42
Inédito:

ORDENAQÁO DE MULHER NA IRLANDA?

Em síntese: A Sra. Francés Meigh, que vivía como eremita foi


"ordenada" presbítera por um Bispo irlandés excomungado. Tal rito nao
tem o valor de ordenagáo sacerdotal, visto que á Igreja nao foi concedida
porJesús a faculdade de ordenar mulheres. A historia do Bispo ordenante
Pat Buckley é complexa, mostrando sempre animosidade contra a autori-
dade da Igreja. O caso é doloroso.
* * *

A pretensa ordenagáo sacerdotal da Sra. Francés Meigh é fato iné


dito, que chamou a atencáo do público em geral, deixando os ánimos
perplexos. Eis por que, ñas páginas seguintes, será proposta toda a his
toria relacionada com tal evento.

1. Ordenacoes Episcopais Ilícitas

A complexa historia comecou há mais de dez anos, quando um


sacerdote irlandés, de nome Michael Cox, foi á Espanha, onde há um
reduto de católicos cismáticos ou separados da Santa Sé, situados numa
regiáo chamada El Palmar de Troya. Esses católicos tém Bispos
validamente ordenados, pois um Bispo do Vietná, exilado e já idoso, pas-
sou por lá e, atendendo as solicitacóes que Ihe foram feitas, ordenou um
Bispo que se autodesignou Papa daquele lugar com o nome de Gregorio
XVII (ver PR 273/1984, pp. 133-149). Portanto o padre irlandés Michael
Cox foi pedir a ordenagáo episcopal em El Palmar de Troya e a recebeu
validamente, mas ilícitamente.

Michael Cox foi, em conseqüéncia, excomungado, pois o Código


de Direito Canónico estabelece que todo bispo ordenado sem autoriza-
gao da Santa Sé incorre em excomunháo:

Canon 1382: "O Bispo que, sem mandato pontificio, confere a al-
guém a consagragáo episcopal e, igualmente, quem dele recebe a con-
sagragáo incorrem em excomunháo latae sententiae1 reservada á Sé
Apostólica",

Ora, na década de 1980, Michael Cox pediu reconciliacáo com a


Igreja Católica e obteve-a em 1982. Acontece, porém, que se tornou re
belde á Igreja, pois, entre outras coisas, estava dando a absolvicáo sa-

1 Latae sententiae, feto é, em decorréncia dopróprio delito (N.d.R.)

43
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 440/1999

cramental pelo telefone - o que nao é lícito. Por isto em 1996 os Bispos
da Irlanda declararam publicamente que Michael Cox nao estava em har
monía com a Igreja Católica.
Entra em cena a figura de outro sacerdote, o Pe. Pat Buckley. Foi
ordenado presbítero em 1976, mas, aproximadamente, dez anos depois,
comecou a se mostrar avesso as normas da Igreja, pois celebrava casa-
mentos de pessoas divorciadas e abencoava unióes homossexuais. O
Bispo da respectiva diocese de Down and Connor, o Cardeal Cahal Daly,
resolveu censurar o Pe. Buckley, retirando-lhe o uso de ordens sacerdo-
tais e pedindo-lhe que deixasse a casa paroquial em Lame. O Pe. Buckley
recusou-se a obedecer e permanece até hoje na casa paroquial; conti
nua também a celebrar os casamentos de pessoas divorciadas, alegan
do para tanto, que a lei civil da Irlanda do Norte o autoriza. Já que nao
podia usar a igreja paroquial de Lame, o Pe. Buckley constituiu urna capelinha
em sua residencia para celebrar os casamentos ilícitos e inválidos.
Aos 19/5/1998 o Pe. Buckley pediu ao Bispo excomungado Michael
Cox que Ihe desse a ordenacáo episcopal. Recebeu-a ¡licitamente e foi
excomungado.

O atual Bispo local de Down and Conner, Mons. Walsh, intimou


Buckley a desistir de suas práticas ilícitas, dando-lhe vinte e um dias para
se render á obediencia. Buckley respondeu escrevendo ao Arcebispo de
Armagh. Primaz da Irlanda, Cardeal Sean Brady; alegava ter recebido a
ordenacáo episcopal aos 19/5/1998 e nao mais precisar de dar contas a
algum Superior.

A esta altura dos acontecimentos entra a figura de Francés Meigh


em cena.

2. A "Ordenacáo" de Francés Meigh

Francés Meigh nasceu em Londres. Até os vinte e um anos de


idade, foi anglicana ou membro da Igreja Episcopal da Inglaterra. Con-
verteu-se entáo ao Catolicismo e sentiu o desejo de abracar a Vida Reli
giosa conventual. Todavía um sacerdote a dissuadiu; por isto casou-se e
teve tres filhos. Após anos de vida conjugal, separou-se do marido, ale
gando seu profundo desejo de entrar num convento. Obteve da autorida-
de eclesiástica a declaracáo de nulidade do casamento em vista de ter,
como diz, urna outra vocacáo mais genuína, ou seja, a vocacáo religiosa.
Na década de 1980 colaborou com Madre Teresa de Calcuttá na
india e ficou profundamente impressionada pelo que lá viu.
Regressando a Londres, escreveu o livro The Jack Preger Story",
que refere ¡mpressóes de viagem. E iniciou vida solitaria ou eremítica.
Por quase dez anos viveu a sos na igreja de Sao Patricio em Whilby,
44
ORDENAgÁO DE MULHER NA IRLANDA? 45

Yorkshire. Em 1994 recebeu a consagracáo de eremita das máos do seu


Bispo, conforme o canon 603:

Canon 603-§1. "Além dos institutos de vida consagrada, a Igreja


reconhece a vida eremítica ou anacorética, com a qual os fiéis, por urna
separagáo mais rígida do mundo pelo silencio da solidáo, pela assídua
oragáo e penitencia, consagram a vida ao louvor de Deus e á salvacáo
do mundo.

§2. O eremita, como dedicado a Deus na vida consagrada, é reco-


nhecidopelo Direito, se professarpublicamente os tres conselhos evangé
licos confirmados por voto ou por outro vínculo sagrado, ñas máos do Bispo
diocesano, e se mantlver o próprio modo de vida sob a orientagáo dele".

Francés Meigh professou entáo pobreza, castidade e obediencia


na cápela particular do Bispo Mons. John Crowley de Middlesborough.

Nao contente com isto, a Religiosa foi procurar o Bispo excomun-


gado Pat Buckley após a ordenacao episcopal do mesmo realizada em
19/5/1998. Desejava ser ordenada sacerdotisa a tal ponto que havia redi-
gido um apelo á Corte Européia dos Direitos Humanos, pedindo que o
seu caso fosse examinado pela Corte, pois se julgava discriminada. Aos
14/9/1998 Francés Meigh foi "ordenada" presbítera com 67 anos de ida-
de, por Pat Buckley, segundo um rito nao somente ilícito, mas também
inválido.

Alguns comentadores do evento julgam que Francés Meigh tem


saúde mental afetada. Na verdade, a sua trajetória de vida apresenta
tendencias contraditórias: quis ser Religiosa num convento, mas casou-
se e teve tres filhos; depois abandonou a vida conjugal e professou a
vida eremítica, ¡solada do mundo; mais tarde pediu a ordenacao sacer
dotal, que leva á vida pastoral ou voltada para as necessidades do próximo.

3. Por que inválida a ordenacio?

O S. Padre Joáo Paulo II tem repetido que a Igreja nao recebeu de


Cristo a faculdade de ordenar muiheres; cf. PR 388/1996, pp. 396-402;
407/1997, pp. 153s. Jesús mesmo nao ordenou mulher alguma, nem
mesmo María SSma. Na última ceia transmitiu aos Apostólos e seus su-
cessores o preceito de consagrar o pao e o vinho: "Fazei isto em memo
ria de mim" (Le 22,19; 1Cor 11,24s). Durante quase vinte sáculos o com-
portamento de Jesús foi tido como norma nao só pelos católicos ociden-
tais, mas também pelo cristáos orientáis. Em conseqüéncia, a Igreja jul-
ga que nao tem o poder de ordenar muiheres, procedendo diversamente
do que Jesús e a Tradicao fizeram. Nao se trata de querer ou nao querer,
mas de nao poder ou nao estar autorizado para inovar nesta área.

Estéváo Bettencourt, O.S.B.

45
ECOS DE UM ABORTO

É notorio o fato de que em principio de outubro pp. foi cometido um


aborto, sendo paciente urna menina de dez anos de idade, moradora na
cidade de Israelándia (GO). A Igreja Católica e outras comunidades religio
sas muito se empenharam por salvar a vida tanto da genitora como da enanca,
queja tinha maisde quatro meses. Tais esforgos, porém, nao lograram efeito.
Grande foi a celeuma em torno do caso, que terminou em aborto. Após o
fato, o Sr. Bispo D. Washington Cruz, da diocese de Montes Betos, á qualper-
tence a cidade de israelándia, publicou urna Nota, que passamos a transcrever,
pois vem a ser um marco na historia do debate sobre o aborto no Brasil.

"Anunciamos o Crucificado (1Cor 1,23)

Prezados irmáos e irmás,

Filhos e filhas desta nossa querida diocese de S. Luís de Montes Be-


los. Louvado seja Nosso Senhor Jesús Cristo!

A nossa diocese está de luto.

Todos estáo ao corrente da gravidade dos tatos ocorridos a partir de


nossa pequenina cidade de Israelándia e tristemente culminados no hospi
tal do Jabaquara em Sao Paulo.

A comunidade católica de Israelándia, apoiada também por fiéis de


outras Igrejas e por pessoas varias de boa vontade, deu um belíssimo teste-
munho de apreco á vida que de Deus recebemos, e pode pregar de cima
dos telhados "o Evangelho da vida".
Com efeito, "o Evangelho da vida está no centro da mensagem de
Jesús. Amorosamente acolhido cada dia pela Igreja, há-de ser fiel e corajo
samente anunciado como Boa-nova aos homens de todos os tempos e cul
turas. Tudo quanto se opóe á vida, como seja toda especie de homicidio,
genocidio, aborto, eutanasia e suicidio voluntario, tudo o que viola a integri-
dade da pessoa humana... todas estas coisas e outras semelhantes sao
infamantes, ao mesmo tempo que corrompem a civilizacáo humana, deson-
ram mais aqueles que assim procedem, do que os que padecem injusta
mente e ofendem gravemente a honra devida ao Criador" (Joáo Paulo II).

Foram vaos todos os nossos esforcos, urna verdadeira maratona em


favor da vida, e o empenho concreto do Pro-vida de Anápolls e de S. Paulo
ficaram sem o efeito tao ansiosamente esperado. Éramos movidos pelo único
intento de salvar a vida de um inocente indefeso, mas nem a familia, nem as
autoridades, nem os próprios médicos nos quiseram ouvir. De nada valeram os
nossos servioos oferecidos, os nossos pedidos, os nossos rogos e o nosso pranto.

E agora, meus irmáos, que tudo passou, nos estamos tristes, mas

46
ECOS DE UM ABORTO 47

nao derrotados.

Saibam todos que "nenhuma circunstancia, nenhum fim, nenhuma lei


do mundo poderá jamáis tornar lícito um ato que é intrínsecamente ilícito,
porque contrario á Lei de Deus, inscrita no coracáo de cada homem, reco-
nhecível pela própria razáo, e proclamada pela Igreja" (Joáo Paulo II).

Se é verdade que os homens ás vezes agem sem ter presente a vonta-


de soberana de Deus Criador, é verdade também que a nobre causa da vida
tem do seu lado o Espirito Santo, o Onipotente, "que é o Senhor e dá a vida".
A Igreja e a nossa comunidade diocesana continuaráo lutando para
testemunhar ao mundo que a vida humana é sagrada e inviolável em cada
momento de sua existencia, inclusive na fase inicial que precede o nasci-
mento. Desde o seio materno, o homem pertence a Deus, que tudo perscru-
ta e conhece, que o forma e plasma com suas mios, que o vé quando aínda
é um pequeño embriáo informe, e que nele entrevé o adulto de amanhá,
cujos días estáo todos contados e cuja vocagáo está já escrita no "livro da
vida"(cf. S1139/138,13-16).

Nada no mundo nos demoverá da luta em favor da vida humana e da


sua defesa desde o seio materno.

Gostaria hoje de agradecer a todos os que nos ajudaram concreta


mente e a todos os que se solidarizaram conosco por Fax, telefone e men-
sagens. Em particular agradeco o empenho admirável do Pe. Fernando de
I pora e da Ir. Zélia. A Ir. Zélia demonstrou com a vida como a consagracáo a
Deus é fecunda e operante.

Agradeco, sensibilizado, ao Pe. Luiz Carlos Lodi e ao Pro-vida de


Anápolis, como também aos prezados irmaos Bispos, Dom Antonio Ribeiro
de Oliveira, Arcebispo de Goiánia, e Dom Manoel Pestaña, Bispo de Anápolis,
pelo apoio que deram.

Agradeco ainda ao Pró-vida de Sao Paulo por todas as providencias


em ajuda de nossa causa.

Enfim, irmáos e irmás, ao mesmo tempo que agradeco aos homens,


desejo agradecer ao Pai Eterno, porque, pela Paixáo e morte do seu Filho,
podemos crer no amanhá.

E, como foi cometido um grande delito, que resultou na morte de um


inocente, como Pastor da Igreja que está em S. Luís de Montes Belos, invo
co sobre todos nos, e especialmente sobre Israelándia, e de modo especial
sobre as pessoas envolvidas neste grave delito, a misericordia divina. "Tem
piedade do teu povo, Senhor!" (Joel 2,17). "Perdoa-lhes, Pai, porque nao
sabem o que fazem" (Le 23, 34).
t Washington Cruz C.P.
Bispo de S. Luís e Montes Belos (GO)"

Referencias á encíclica Evangelium Vitae §§ 58-63.

47
DISPONÍVEL COMO ARGILA
"O Senhor Deus plasmou o homem
com o pó da térra" (Gn 2, 7)

Eu, naquele entardecer da criacáo, senti passos no jardim. Era ele,


o SENHOR DA CRIACÁO. Acontece que, nesse entardecer, ele parou,
inclinou-se, com um olhar carregado de amor. E, de repente, juntou-me
do chao, a mim, pobre e pequeño punhado de térra e ficou a me olhar
pensativo... Remexeu-me longamente... tongamente... com todo carinho!

E, entáo, comecou a me amassar: primeiro, retirou de mim urna


porcáo de impurezas que o atrapalhavam: pedrinhas, pedacinhos de pau,
ciscos. E eu fui ficando térra pura, do seu gosto. Fez ainda operacóes,
que eu nao compreendia, nem poderia compreender: "Pode por acaso
um vaso dizer ao oleiro: eu entendo disso mais do que vocé?" (Is 29,16).

Eu nada perguntei. Oferecia simplesmente o meu ser em disponi-


bilidade de amor. Deixava-me trabalhar. Deixava que ele me fizesse.
Porque eu sabia que era obra sua e que ele transformava com amor.

De fato, fui tomando forma. Urna forma á maneira sua, á sua ima-
gem! Para que haveria eu de servir no futuro? Eu nao o sabia. "Como
argila ñas máos de um oleiro, assim estava eu em suas máos" (Jr 18, 6).
E fui-me tornando obra de Deus. "E ele aplicava seu coracáo em aperfei-
coar-me, pondo cuidado vigilante em tornar-me belo e perfeito" (Eclo 38,
31).

Depois, veio urna etapa difícil. Porque foi um forno superaquecido


que ao barro veio dar forca e consistencia. É o calor e o valor de minha
vida que leva a bom termo a obra de suas máos, o SENHOR CRIADOR.
A cada vaso muito querido, ele dá contornos de eternidade. Entáo, co-
mecei a olhar em torno de mim. E descobri outros vasos que suas máos
habéis e cheias de amor haviam amassado e modelado artísticamente.
Sem se cansar, dava ele mais outra demáo aqueles que nao haviam
saído bem. Cada um tinha sua forma e sua cor, sem dúvida, isso confor
me á destinacáo no mundo. Mas, do mais humilde ao mais rico, todos
eram lindos, todos bem feitos. Ele nos tinha feito como ele bem quería...

"Pode, por ventura, um vaso perguntar ao oleiro: por que me fizes-


te assim? Nao tem o oleiro poder sobre o barro para fazer da mesma
argila um vaso de uso nobre e outro de uso vulgar?" (Rm 9, 20-21).

Ó OLEIRO DIVINO, CRIADOR E RAÍ, permite que se cumpra em


mim a obra que comecaste. Seja meu projeto o teu projeto sobre mim!

48
PARA O ANO LETIVO:

1999

Que livros adotar para os Cursos de Teologia e Liturgia?

A "Lumen Christi" oferece as seguintes obras:

1. RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA (2a ed.), por Dom Cirilo Folch Gomes
O.S.B. (falecido a 2/12/83). Teólogo conceituado, autor de um tratado completo
de Teologia Dogmática, comentando o Credo do Povo de Deus, promulgado
pelo Papa Paulo VI. Um alentado volume de 700 págs., best seller de nossas
Edicóes R$38,20.

2. O MISTERIO DO DEUS VIVO, P. Patfoort O. P. O Autor foi examinador de D.


Cirilo para a conquista da láurea de Doutor em Teologia no Instituto Pontificio
Santo Tomás de Aquino em Roma. Para Professores e Alunos de Teologia, é
um Tratado de "Deus Uno e Trino", de orientacáo tomista e de índole didática.
230 págs R$ 18,40.

3. LITURGIA PARA O POVO DE DEUS (4a ed., 1984), pelo Salesiano Don Cario
Fiore, traducáo de D. Hildebrando P. Martins OSB. Edicáo ampliada e atualiza-
da, apresenta em linguagem simples toda a doutrina da Constituicáo Litúrgica
do Vat. II. É um breve manual para uso de Seminario, Noviciados, Colegios,
Grupos de reflexáo, Retiros, etc., 216 págs R$7,90.

4. DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos. 3a Edicáo.


Seu Autor, D. Estéváo Bettencourt, consideraos principáis pontos da clássica
controversia, entre Católicos e Protestantes, procurando mostrar que a discus-
sáo no plano teológico perdeu muito de sua razáo de ser, pois, nao raro, versa
mais sobre palavras do que sobre conceitos ou proposigóes - 380 páginas.

SUMARIO: 1.0 catálogo bíblico: livros canónicos e livros apócrifos - 2. Somen-


te a Escritura? - 3. Somente a fé? Nao as obras? - 4. A SS. Trindade, Fórmula
paga? - 5. O primado de Pedro - 6. Eucaristía: Sacrificio e Sacramento - 7. A
Confissáo dos pecados - 8. O Purgatorio - 9. As indulgencias - 10. María,
Vírgem e Máe - 11. Jesús teve irmáos? - 12. O Culto aos Santos - 13. E as
imagens sagradas? -14. Alterado o Decálogo? -15. Sábado ou Domingo? -
16.666 {Ap. 13,18) -17. Vocé sabe quando? -18. Seita e Espirito Sectario -
19. Apéndice geral: Aera Constantína R$ 18,40.

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