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P rojeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razáo da nossa
esperanga a todo aquele que no-la pedir
{1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta


da nossa esperanga e da nossa fé hoje é
mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á
fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenga católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
___ ~ controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
i dissipem e a vivencia católica se fortalega no
Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar
""""~ ~ este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagao.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada


em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
Ano xl . Junho 1999 445
"Tarde eu te amei..."

A fé e os obstáculos á fé

O testemunho de ateus

Todas as Religióes sao equivalentes entre si?

"O demonio entende portugués"

As etapas de desenvolvimento do feto humano

Doacáo e venda de semen humano

Livros em estante
PERGUNTE E RESPONDEREMOS JUNHO1999
Publicagáo Mensal N°445

Diretor Responsável
SUMARIO
Estéváo Bettencourt OSB "Tarde eu te amei..." 241
Autor e Redator de toda a materia
O Enigma do Homem:
publicada neste periódico
A fé e os obstáculos a fé 242
OJretor-Administrador: A Historia qual Mestra da Vida:
D. Hildebrando P. Martins OSB O testemunho de ateus 251

Indagam:
Admin¡stra9áo e Distribuicáo:
Todas as religlóes sao equivalentes
Edigoes 'Lumen Christi" entre si? 261
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5° andar - sala 501
Falarem línguas:
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"O demonio entende portugués" 264
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Endereco para Correspondencia: As etapas do desenvolvimento do
feto humano 270
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Livros em estante 286


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e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
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COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

NO PRÓXIMO NÚMERO:

O 669 Milagre de Lourdes. - Curia Romana: que é? - O Movimento do Alimento Glorioso.


"Os Caminhos do Espirito Santo" (J. Parker). -"O Exemplo de urna Esposa" (J. Heady).
Ainda o ex-rabino Zolli. - "Meu Pai nunca deixou de ser um judeu" (M. Zolli). - Ainda Pió
XII e os judeus. - "O Sonho da Paz" (M. Barros).

(PARA RENOVACAO OU NOVA ASSINATURA: RS 30,00).


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CHRISTI" Caixa Postal 2666 / 20001-970 Rio de Janeiro-RJ

Obs.: Correspondencia para: Edicóes 'Lumen Christi'


Caixa Postal 2666
20001-970 Rio de Janeiro RJ
"TARDE EU TE AMEL."
(S. Agostinho)

Em sua autobiografía escreveu S. Agostinho famosa passagem, muitas


vezes citada no decorrer dos séculos:
Tarde eu Te amei, Beleza táo antiga e táo nova! Tarde eu Te amei... Tu
estavas dentro de mlm, e eu Te procuras/a fora, onde me precipitava... sobre as
belas coisas da térra, iuas obras. Tu estavas comigo, e eu nao eslava contigo,
mantido longe de Ti por aquetas criaturas que, se nao estivessem contigo, nao
existiriam. Tu estavas dentro de mim, e eu estava fora. Tu chamaste, gritaste e
rompeste minha surdez".
Agostinho havia levado urna vida devassa, procurando a beleza ñas cria
turas que só podiam ser belas porque reflexos da Beleza Divina. Havia também
procurado a verdade onde ela nao se encontra, e acabara cedendo ao cansaco.
Finalmente descobriu a sua resposta no Evangelho. Deus está dentro do homem
nao no sentido de que o ser humano traga urna centelha da Divindade em seu
íntimo (Deus nao se parcela em centelhas), mas pelo fato de que todo homem
pode ouvir na sua consciéncia a voz do Criador que o chama para a prática do
Bem e a fuga do mal. Sabedor disto, Agostinho, em seu retrospecto, averiguava
ter perdido tempo, e lamentava-o amargamente.
O caso do mestre de Hipona se repete freqüentemente na historia da hu-
manidade. O ser humano, no inicio da sua vida racional, tende naturalmente a
procurar fora de si a satisfacáo dos seus anseios: os olhos, os ouvidos, os senti
dos em geral póem a criatura em contato com urna variedade de coisas materiais
e atraentes, que fascinam o individuo... Por vezes esse fascínio dura decenios
antes que a pessoa descubra que é no silencio do coracáo que ela encontra a
resposta para as suas aspiracóes á Verdade e ao Bem. Entao toma consciéncia
de que foi feita para muito mais do que para valores passageiros ou bolhas de
sabáo; os bens fugazes se esvaem e deixam urna grande lacuna, que só Deus
pode preencher. Oxalá esta experiencia seja feita "enquanto é tempo"; ela pode
ocorrer tarde demais, quando já nao há como preencher o grande vazio. Na
verdade, todo ser humano tem a capacidade do Infinito, do Absoluto, do Eterno.
Muitas vezes só após duras experiencias e longo tirocinio toma consciéncia dis
to, verificando que perdeu muito tempo na vida.
Já se tem definido o homem como "um ser de desejos". Sabiamente dizia
Sao Bernardo: "Deus fez de ti um ser de desejo, e o objeto do teu desejo é o
próprio Deus". "Adáo, onde estás?" (Gn 3, 9) é a voz de Deus que procura o
homem,... o homém que vagueia fora de si, sem rumo, em busca de satisfacáo.
Possam estas verdades aflorar, sem demora, á consciéncia de todo ser
humano! Nao exista no vocabulario do cristáo a expressáo larde demais" (tarde,
sem possibilidade de recuperacáo); nem sequer exista o tristonho "tarde", fruto
de displicencia culposa. O tempo se vai rápido e nao volta; ele requer de todo
cristáo urna constante vigilancia. - Caso verifique eu que perdí tempo, possa
dispor-me ciosamente á conversáo, como fez o mestre Santo Agostinho! E sem-
pre hora de voltar para Deus ou de acelerar o passo tibio em demanda do Bem
Infinito!
E.B.

241
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XL - Ns 445 - Junho de 1999

O Enigma do Homem:

A FÉ E OS OBSTÁCULOS Á FÉ

Em síntese: Afeé a adesáo do homem a Deus que Ihe fala, reve


lando o misterio de sua vida íntima e o seu plano de salvagáo. Visto que
se trata de verdades transcendentes, a fé é adesáo no claro-escuro ou
na penumbra. Por isto é um ato da inteligencia que nao tem a evidencia
do que professa, mas é movida pela vontade para dizer o seu Sim. A
vontade, porém, só pode impelir ao Sim se está isenta de paixóes e afe-
tos desregrados, pois a fé exige conversáo. Vé-se, pois, que o ato de fé
mexe com toda a personalidade do ser humano. Daí encontrar obstácu
los diversos de ordem intelectual e de ordem moral. As crises de fé tém
motivos complexos, muitas vezes ligados a problemas de ordem ética.

Pode-se dizer que o ato de fé é o ato mais nobre que alguém possa
realizar, pois procede da inteligencia aplicada ao mais nobre objeto, que
é o Ser infinitamente perfeito ou Deus. As crises de fé por que passam
muitas pessoas em nossos días, tém motivos complexos e variados. No
intuito de colaborar na solucáo dessas crises, vamos, a seguir, propor o
que é propriamente a fé, e quais os obstáculos que a podem por em xeque.
1. Que é a Fé?

Ó Concilio do Vaticano I (1870), tendo em vista concepcóes erró


neas do século XIX, definiu a fé nos seguintes termos, que bem resu-
mem o ensino tradicional da Igreja:

"A fé... é urna virtude sobrenatural pela qual, prevenidos e auxilia


dos pela graga de Deus, eremos como verdadeiro o conteúdo da Revela-
gao, nao em virtude da verdade intrínseca (evidencia) das proposigóes
reveladas, vistas á luz natural da razáo, mas por causa da autoridade de
Deus, que nao se pode engañar nem pode engañar a nos" (Denzinger-
Schoenmetzer, Enquirídio de Definigoes... 3008 [1789]).

242
A FÉ E OS OBSTÁCULOS Á FÉ

O Concilio do Vaticano II, em 1965, retomou o conceito de fé, enca


rando outros aspectos:

"Ao Deus que revela, deve-se a obediencia da fé, pela qual o ho-
mem Hvremente se entrega todo a Deus, prestando ao Deus revelador
um obsequio pleno do intelecto e da vontade e dando voluntario assenti-
mento a revelagáo feita por Ele" (Constituicao Dei Verbum nB5).

Estas duas definic5es convergem entre si, propondo as seguintes


conclusóes:

1) A fé nao é um sentimento cegó, nem meramente emotivo. Afas-


te-se a afirmacáo: "Todos temos que crer em alguma coisa, qual-
quer que seja". Essa "alguma coisa" nao pode ser algo de vago, inde
finido, sentimental, mas é algo que o intelecto reconhece "inteligentemente".
2) A fé nao é mero ato de confianca, mero ato do coracáo e dos
afetos, que se entregam a Deus como Salvador. Isto quer dizer: a fé tem
caráter também intelectual ou inteligente (nao meramente cerebrino ou
frió, sem dúvida). É o ato mais nobre do homem, pois aplica a faculdade
mais digna do ser humano (a inteligencia) ao Objeto mais elevado e per-
feito, que é Deus. Afaste-se, pois, todo anti-intelectualismo ao se tra
tar da fé.

3) A fé é um ato da inteligencia..., mas nao só da inteligencia. É


urna atitude da inteligencia movida pela vontade. Com efeito; o objeto
proposto pela fé nao é evidente por si mesmo (nao é claro á razao, por
exemplo, que Jesús é Deus e Homem). A inteligencia humana tem o
direito (as vezes... tem mesmo o dever) de estudar cada urna das propo-
sicóes da fé: Jesús é Deus e Homem, Deus é Uno e Trino, Jesús está
presente na Eucaristía... Após estudar a documentacao respectiva (ou o
porqué crer), a inteligencia concluí: nao sao proposicoes evidentes como
"dois e dois sao quatro, o todo é maior do que qualquer de suas partes",
mas também nao sao absurdas e contraditórias como "o círculo é qua-
drado, o triángulo é redondo...". Se fossem evidentes por si mesmas, a
inteligencia estaria coagida a dizer-lhes Sim, como é coagida a dizer Sim
a "dois mais dois sao quatro". Por conseguinte, feito o exame das propo
sicoes da fé, a inteligencia diz ao estudioso: "Se queres, podes crer" e
passa para a vontade a decisao final - o assentimento ou a recusa.

4) Vé-se, pois, que a fé nao é movida pela evidencia intrínseca das


proposicoes reveladas por Deus, mas ela tem motivos de credibilidade.
Ela pede credenciais; baseia-se na evidencia extrínseca, ou seja, na au-
toridade e credibilidade de quem ou do que transmite a mensagem. An
tes de crer, a inteligencia vé que deve crer; existem preámbulos neces-
sários á fé. Diz S. Tomás de Aquino: "O homem nao acreditaría se nao
visse que deve crer" (Suma Teológica ll/ll qu.1, art. 4, ad 2).

243
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 445/1999

5) Por conseguirte, a fé é um ato livre; é um obsequio voluntario


prestado pelo fiel á autoridade de Deus que se revela. É portanto um ato
mais nobre do que os atos cujo objeto é táo evidente que eles se tornam
obrigatórios. O ato de fé supóe reflexáo e decisáo consciente e responsável.
6) Acontece, porém, que a vontade humana pode ser influenciada,
consciente ou inconscientemente, pelas paixoes e os afetos do indivi
duo. Alguém pode ter posicoes preconcebidas contra a fé, pois esta exi
ge mudanca de vida que o homem desregrado pode nao querer realizar;
quando a verdade nao Ihe convém, a pessoa tenta "provar" que ela nao é
verdade e que a evidencia nao aparece. Escreveu o filósofo Thomas
Hobbes (t 1678): "Se nisto tivessem os homens interesse, duvidariam da
geometría de Euclides" (Sistema da Natureza 2, 4).
Em muitos casos, a falta de fé nao se deve a dificuldades intelectu-
ais, mas aos sacrificios que a fé impóe. O hedonismo, a procura do pra-
zer e a fuga das renuncias dificultam enormemente o acesso as verda
des da fé. Já Séneca (t 63 d.C.) dizia: "Muitas vezes ocorrem-me pesso-
as que julgam ser impossível fazer o que elas nao podem fazer... Tais
pessoas, na verdade, podem fazé-lo, mas nao o querem... Nao se diga:
'Nao ousamos fazé-lo por ser coisa difícil1, mas 'é coisa difícil porque nao
o ousamos fazer'" (A Lucílio, epístola 104).

7) Vé-se assim que a fé solicita a pessoa humana e todas as suas


faculdades. Ter fé implica a mobilizacáo geral das virtualidades do indivi
duo; "pela fé o homem se entrega todo a Deus", diz a Constituicáo Dei
Verbum atrás citada.

Examinemos agora a fundamentacáo neotestamentária desta no-


9áo de fé.

2. Que diz o Novo Testamento?

No Evangelho freqüentemente a palavra crer (pisteuein, em gre-


go) indica, nos ouvintes, urna atitude de resposta a urna verdade propos
ta ou a um ensinamento:

Jo 7, 46: "Se vos digo a verdade, por que nao me credes?"


Jo 5, 46s: "Se crésseis em Moisés, haveríeis de crer em mim, por
que foi a meu respeito que ele escreveu. Mas, se nao credes em seus
escritos, como crereis em minhas palavras?".

Jo 10, 37s: "Se nao fago as obras do meu Pai, nao acreditéis em
mim. Mas, se as fago, aínda que nao acreditéis em mim, crede ñas obras,
a fim de conhecerdes e conhecerdes sempre mais que o Pai está em mim
e eu no Pai".

Jo 11, 26s: "Eu sou a ressurreigáo e a vida; crés nisto? - Sim,


Senhor, creio que és o Cristo".

244
A FÉ E OS OBSTÁCULOS Á FÉ

Sao Paulo professa a mesma concepcáo em Rm 10, 9: "Se com


tua boca confessares que Jesús é Senhor e creres em teu coracáo que
Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo".

O cristáo eré num fato que ele considera verdadeiro, e esta fé salva:

CI2, 6s: "...Enraizados em Cristo, sobre ele edificados e apoiados


na fé, como aprendestes, e transbordando de alegría. Tomai cuidado para
que ninguém vos escravize por vas e engañosas especulacóes da filoso
fía, segundo a tradigáo dos homens".

A doutrina da fé transmitida pelos Apostólos é verdadeira e distin-


gue-se das especulacóes da falsa filosofía. Por conseguinte, a fé é a
adesáo á verdade; o que nao se coaduna com ela, é crendice, é heresia
ou erro.

Hb 11, 1: "A fééa posse antecipada das coisas que esperamos; é


a demonstragio das coisas que nao vemos".

Esta quase definicáo da fé póe em evidencia o aspecto intelectual


da fé: ela demonstra ou faz ver antecipadamente o que o cristáo conhe-
cerá plenamente na visao face-a-face da Beleza Infinita.

Tt 1,9: "O epfscopo (= vigilante da Igreja) deve ser de tal modo fiel
na exposicáo da palavra que seja capaz de ensinara sá doutrina e refu
tar os que Ihe contradizem".

Me 16, 15s: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda


criatura. Quem crer e for batizado, será salvo; quem nao crer, será con
denado".

Este texto póe em evidencia o aspecto iivre do ato de fé. Quem


ouve a mensagem do Evangelho, pode aceitá-la crendo como a pode
rejeitar recusando crer.

Tais passagens bíblicas sao citadas para comprovar que a fé nao é


um sentimento cegó nem um mero ato de confianca afetiva em Deus,
mas, sim, urna atitude da inteligencia, que, movida pela vontade Iivre, diz
Sim á Palavra de Deus que se revela.

Á guisa de complemento, pode-se acrescentar que ter fé nao é


algo raro ou extraordinario para o ser humano. Na vida cotidiana, todo
homem, mesmo o ateu, exercita a fé,... a fé na autoridade de quem Ihe
fala, e, na base dessa fé, pauta o seu comportamento. É o que se dá, por
exemplo, com quem lé ou ouve o noticiario dos jomáis; noticias relativas
á economia nacional e internacional Ihe sao transmitidas em caráter de
cisivo; se a fonte de informacóes é segura, a pessoa nao se preocupa
com averiguacóes empíricas, mas eré e tira suas conclusóes concretas.
Todo homem eré também nos historiadores que com sertedade Ihe rela-
tam o passado. Cré também que N.N. é seu pai ou sua mae, sem procu-

245
TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 445/1999

rar provas fisiológicas ou médicas para cré-lo. Cré no médico que Ihe
receita um remedio ou um tratamento...

O Papa Joáo Paulo II lembra estes aspectos na sua encíclica "Fé e


Razáo":

«Na vida de urna pessoa, sao muito mais numerosas as verdades


simplesmente acreditadas do que aquetas adquiridas por verificagao pes-
soal. Na realidade, quem seria capaz de avaliar criticamente os inumerá-
veis resultados das ciencias, sobre os quais se fundamenta a vida mo
derna? Quem podería, porconta própria, controlar o fluxo de informagóes
recebidas diariamente de todas as partes do mundo e que, por principio,
sao aceitas como verdadeiras? Enfim, quem podería percorrer novamen-
te todos os caminhos de experiencia e pensamento pelos quais se foram
acumulando os tesouros da sabedoría e religiosidade da humanidade?
Portanto, o homem, ser que busca a verdade, é também, aquele que vive
de crengas» (n6 32).

Examinemos agora de mais perto os obstáculos intelectuais e os


obstáculos moráis que dificultam ou mesmo impedem o ato de fé.

3. Obstáculos intelectuais

Assinalam-se dois principáis obstáculos: a ignorancia religiosa e


os vicios de método.

3.1. Ignorancia religiosa

O primeiro dos obstáculos intelectuais é a ignorancia ou também a


errónea transmissao das proposicóes da fé. Com efeito; nao é raro al-
guém negar as verdades da fé, porque nao as conhece adequadamente
ou só conhece caricaturas da verdade. Tal é o caso, por exemplo, de
quem rejeita a fé porque julga que ela ensina a criacáo do mundo em seis
dias de 24 horas, a origem do homem a partir do barro, a da mulher a
partir da costela de Adáo... Já Tertuliano (t 220 aproximadamente),
apologista cristáo, escrevia aos pagaos: "A religiáo crista vos pede urna
só coisa: que nao a condenéis sem a conhecer".

Pascal (t 1662), filósofo e matemático francés, censurava os que


superficialmente abordam as verdades da fé:

"Julgam ter feito grandes esforgos para se instruir porque empre-


garam poucas horas na leitura de algum livro da Escritura ou interroga-
ram algum eclesiástico sobre as dificuldades da fé. Depois disto ufanam-
se de haver procurado em váo nos livros e nos homens" (Pensées, sect.
III nB 194), Brunschvig II, p. 102).

O Pe. Leonel Franca apresenta alguns exemplos da ignorancia re


ligiosa que leva a renegar as verdades da fé:

"Infelizmente é com lacuna de informagóes e descuidos críticos que

246
A FÉ E OS OBSTÁCULOS Á FÉ

se fundamentan) conclusóes frágeis e apressadas de certos manuais de


historia comparada das religióes. Esbatem-se na penumbra diferengas
essenciais, poem-se em relevo semelhangas de superficie, forgam-se
analogías até a identidade; interpretam-se ritos e cerimónias pela
materialidade externa dos atos e nao pelo profundo significado intimo da
idéia que as anima e especifica; explicam-se todas as concordancias por
simples empréstimo ou influencias históricas. As conclusóes sao inespe
radas e radicáis" (A Psicología da Fé, p. 77).

O autor se refere aos estudiosos que, por exemplo, afirmam que o


dogma da SSma. Trindade nao é senáo o eco cristáo de tríades de deu-
ses do Egito e da india...; a maternidade virginal de María sería o mito da
Virgem-Máe transposto para o Credo cristáo; o Batismo cristáo nao seria
mais do que urna das tantas ablucóes rituais da antigüidade; a ceia
eucarística... copia das refeicóes sagradas do paganismo... Somente urna
análise superficial dos fatos leva a dizer tais coisas. Na verdade, há ma-
nifestacoes e cerimónias religiosas que sao espontáneas á natureza hu
mana como tal e, por isto, encontradas em varias correntes religiosas
com grande semelhanca entre si. Diferem, porém, urnas das outras pelo
espirito ou a visáo doutrinária que inspira cada urna dessas práticas. Em
conseqüéncia nao se pode falar de empréstimo ou dependencia do Cris
tianismo em relacáo a outras correntes religiosas.

Além de quanto foi dito atrás, deve-se notar que, em nossos dias
principalmente, a fé requer estudo continuado. Com o passar dos anos,
as verdades reveladas podem ser penetradas com mais maturidade. O
cristáo as contempla numa síntese harmoniosa, que depende da aplica-
cao da mente e da vivencia concreta. Por outro lado, a multiplicacáo de
correntes religiosas, sociedades "místicas", escolas de orientalismo ...
exige do fiel católico urna constante atualizacáo de seus conhecimentos
religiosos, a fim de que nao se deixe levar por objecoes mal construidas
e sofismas. Especialmente importante, no caso, é o estudo da Escritura
Sagrada e da Historia da Igreja.

3.2. Vicios de Método

Há quem se faca de pesquisador autodidata, as vezes precon-


ceituoso. Tal pessoa difícilmente atingirá a beleza das verdades da fé.
S. Agostinho, ao descrever seu itinerario espiritual, refere-se a urna
época em que ele quería enquadrar Deus dentro de ¡magens quantitati-
vas. Este preconceito Ihe dificultou o acesso á verdade:
"Quería terna área das realidades invisfveis urna certeza iguala de
que tres mais sete sao dez... O que nao era suscetfvel de urna represen-
tagáo quantitativa, parecia-me nao existir" (Confíssóes VI4: Vil 1):
Requer-se do estudioso nao urna diminuicáo do rigor lógico, mas o

247
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 445/1999

que Aristóteles considerava sinal de maturidade científica: a plasticidade


da inteligencia, que sabe adaptar-se aos múltiplos aspectos da realida-
de, procurando em cada aspecto os caminhos que, decorrentes da pró
pria natureza das coisas, levam á certeza. Trata-se de ser dócil á realida-
de investigada em toda a riqueza da sua complexidade.

Os vicios no método de estudo podem levar a urna falsa certeza ou


a um saber falso, que é pior do que a própria ignorancia. Já Platáo (t 347
a.C.) o notava:

Na obra "Leis", um dos interlocutores diz a Platáo: "Parece-me que


receias entrar nessas questóes por causa da nossa ignorancia". Respon
de o mestre: "Muito mais recearia tratar com pessoas que tivessem estu
do tais coisas, porém mal. No caso, nao é a ignorancia das multidóes a
mais perigosa, nem a mais temível, nem o maior dos males. Ter estuda-
do muito e muito haver aprendido, mas com métodos viciosos, é mal
muito maior" (Leis X 818s).

Com outras palavras: aprender mal é pior do que nao aprender. As


falsas "verdades" causam maior mal do que a ignorancia.

Um dos mais serios obstáculos á apreensáo da verdade é o pre-


conceito do racionalismo. Este afirma que tudo pode ser explicado racio
nalmente. O que a razáo nao abarca, só pode ser lenda ou mito. Assim
fica de antemáo excluida a possibilidade de qualquer ¡ntervencáo extra
ordinaria de Deus no curso da historia. No principio da investigacáo cien
tífica póe-se um ato de fé,... ato de fé num preconceito estabelecido
dogmáticamente. Ora a ciencia deve ser imparcial; ela nao pode ser cerce-
ada por preconceitos ou por principios estipulados a priorí ou de antemáo.

4. Obstáculos Moráis

4.1. O Orgulho

O orgulho é a recusa de qualquer submissáo: é a pretensáo a urna


independencia sem limites. É claro que isto dificulta, se nao impede, o
acesso a Deus.

O orgulho é excitado pelas conquistas científicas e tecnológicas do


homem contemporáneo, que, ao menos inconscientemente, tende a colocar
Deus de lado para ocupar o lugar dele. Alias, já no século passado Pierre
Eugéne Marcelin Berthelot (t 1907), grande químico francés, escrevia:

"Para que a ciencia nao se fragmente em especialidades, é mister


que naja pelo menos um cerebro capaz de abracá-la no seu conjunto.
Esse cerebro crelo ter sido eu; receio ser o derradeiro" (citado por Paúl
Painlevé, Le Temps, 20/3/1907).

Nao é necessário desenvolver a temática, clara por si mesma.

248
A FÉ E OS OBSTÁCULOS Á FÉ

4.2. A Sensualidade

A sensualidade é a busca do prazer sensual pelo prazer, sem res-


peito á finalidade das fungóes sexuais. A Moral filosófica nao é contraria
ao prazer, mas afirma que o prazer é um derivado decorrente do exercí-
cio harmonioso de determinada atividade.

A sensualidade pode escravizar o homem e obnubilar a sua mente.


Produz desequilibrio no comportamento humano e assim incompatibiliza
as pessoas com as verdades da fé.
Esta afirmacáo é evidente aos pensadores desde os tempos mais
remotos. Já Pitágoras, no século VI a.C, submetia seus discípulos a lon
go exercício de virtudes que os preparassem ao estudo da sabedoria. A
ascese era o vestíbulo da escola pitagórica.

Séneca (t 63 d.C.) escrevia:

"Se a virtude a que aspiramos, é de tao grande valor, nao é porque


a isengao de vicios seja urna felicidade real, mas porque assegura a alma
toda a sua liberdade e a prepara ao conhecimento das coisas celestes, toman
do-a digna de conversar com Deus" (Quaestíones Naturales, Prefacio).

Alias, o Senhor Jesús o confirma no Evangelho, dizendo: "Bem-


aventurados os puros de coráceo, porque veráo a Deus" (Mt 5, 8).

O impuro nao pode conhecer o puro. A maneira de viver condiciona


a maneira de ver.

Á guisa de ¡lustracáo, sejam citados aínda outros pensadores, mes-


mo nao cristáos:

Rogério Bacon (t 1294), o fundador da ciencia experimental, es


crevia:

"A virtude esclarece a inteligencia e facilita-lhe a compreensáo nao


só das verdades moráis, mas até mesmo a das puramente científicas"
(Opus Maius II).

Maine de Biran (t 1824), um dos pensadores modernos mais pers-


picazes, observa:

"É mister reconciliar o coragao com as luzes, a consciéncia com os


costumes, os deveres com os prazeres e, por ai, chegará paz do coragao,
a esta paz interior, sem a qual nao há felicidade possivei" (Journal Intime).
Na Alemanha Johann Gottlieb Fichte (t 1814) afirmava:

"Se minha vontade é reta, se ela tende constantemente para o bem,


a verdade se revelará sem dúvida a minha inteligencia. Eu sei que nao
pertence só ao pensamento produzira verdade" (Destination de l'homme).

249
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 445/1999

A grande Santa Teresa de Ávila (t 1582) notava:


"A coisa mais razoável do mundo parece-nos loucura quando nao
temos vontade de praticá-la" (Fundagóes cap. V).x

Passemos agora á

5. Conclusáo

Escreve o Pe. Leonel Franca em sua Nnguagem erudita:

"A conquista da verdade religiosa encontra numerosos obstáculos,


uns de ordem intelectual, outros de caráter moral. Na reaiidade viva das
almas, a agáo de uns e de outros... funde-se na sfntese de um todo soli
dario e complexo. As ignominias do coragáo procuram sempre a cumpli-
cidade da inteligencia. Os extravíos intelectuais raras vezes deixam de
refletir-se na desordem dos costumes. Erro e vicio colaboram freqüente-
mente em afastar o homem da verdade total.

Destas dificuldades triunfam as pessoas retas e sinceras" (A Psi


cología da Fé. Ed. Agir, p. 195).

Após quanto acaba de ser exposto, verifica-se que a fé mexe com


toda a personalidade do ser humano: intelecto (pois é a adesao á Verda
de, e nao um sentimento cegó), vontade (pois vem a ser entrega total e
livre a Deus, que fala e convida) e afetos ou paixóes (pois exige ordem
e equilibrio no mundo afetivo do ser humano, que é, muitas vezes, sorra-
teiro e traidor). A fé, porém, assim concebida vem a ser o antegozo do
encontró final com Deus, que é a Grande Resposta aos anseios humanos.

1 O Pe. Leonel Franca S. J. explica:


«A psicología religiosa projeta aqui a claridade de suas luzes e mostra-nos como a
desorganízagáo dos costumes e a ascensáo espiritual sao movimentos, de sua natu-
reza, opostos, dos quais o prímeiro tende fatalmente a parausar o segundo.
É, antes de tudo, uma questáo de lógica elementar. No dominio religioso, fé e cos
tumes acham-se, de direito, unidos por uma solidaríedade indestrutivel. É uma e a
mesma reaiidade que funda em si duas ordens de reiagdes diversas, uma para com
a inteligencia, outra para com a vontade. O conhecimento da vida íntima de Deus e
da participagáo desta vida ás criaturas na economia atual da Providencia: eis a fé.
As condigoes práticas de ralizar esta economia e atingir a felicidade dos destinos
que nos foram preparados; eis a leí. O símbolo, portanto, dogmata, e o Decálogo,
mándala, sao as duas expressóes da mesma reaiidade objetiva, uma no dominio do
pensamento, outra no dominio da agio; fundando Iá a ordem da verdade, aqui a da
moralidade; impondo á inteligencia uma regra de crer e á vontade uma norma de
agir. Esta conexáo íntima, baseada na própria natureza das coisas, cria, para quem
se fuña ao deverdos mandamento, uma situagño de hostilidade, manifesta ou laten
te, ás exigencias da fé. Subjugada aos sentidos, a inteligencia perde a liberdade
indispensável ao exame objetivo e imparcial da reaiidade. Os livres-pensadores'
sao os pensadores mais escravos do mundo» (A Psicología da Fé, 6a edigáo, Rio
.de Janeiro, p. 171).

250
A Historia qual Mestra da Vida:

O TESTEMUNHO DE ATEUS

Em síntese: O estudo da psicología da fé mostra quáo complexo é


o ato de fé; mobiliza todas as faculdades da pessoa em foco. A teoría é
ilustrada pelos casos concretos, de modo que as páginas seguintes apre-
sentam o testemunho de homens e muiheres que lutaram para chegarao
ato de fé e tornarse férvidos servidores do Senhor Deus.

Após estudar a psicología da fé, ¡nteressa-nos levar em conta o


que se deu no íntimo de homens e muiheres que passaram por fase de
ateísmo e chegaram finalmente á luz da fé. Trata-se assim de vislumbrar
a luta do ser humano feito para o Infinito e atormentado enquanto nao se
volta conscientemente para Ele. Seráo considerados apenas vultos do
século XX.

1. Alexis Carrel (1873-1944)

Alexis Carrel foi Premio Nobel em Medicina. Perdeu a fé de sua


infancia e entregou-se ao materialismo positivista. Aos poucos, porém,
foi tomando consciéncia de que este nao respondía a perguntas funda
mentáis do seu coracáo. Viajou para Lourdes, acompanhando uma en
ferma de cáncer terminal; lá verificou, com todo o rigor científico, a cura
da molestia. Isto o ¡mpressionou profundamente, levando-o a uma busca
sincera e sequiosa da verdade. Escreveu contra o materialismo e tam-
bém contra a religiáo acomodada ou de fachada, sem, porém, chegar a
uma crenca definida. No fim da vida, caiu gravemente enfermo; entao
agucou-se-lhe o drama do sentido da vida; resolveu entregar-se a Deus
como um menino e pediu os sacramentos da Igreja. O empurráo decisivo
foi-lhe dado ao presenciar a tempera forte e heroica de uma órfázinha.
Exclamou entáo: "Minha salvacáo está em que uma pobre ignorante me
segure a mao e me guie... Sim; quando se trata de nao morrer como um
cao, mas de terminar a vida nobremente, é somente junto aos humildes
adoradores de Deus que os filósofos háo de buscar licóes de Lógica".
A propósito verPR 406/1996, p. 137-144 (A Viagem de Lourdes).
2. Paúl Claudel (1868-1955)

Famoso poeta francés, Claudel aos dezoito anos de idade aderia á


incredulidade e á devassidáo. Ao terminar seus estudos no Liceu Louis-
251
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 445/1999

le-Grand, já havia lido os filósofos alemaes ateus, admirava Ernest Renán


(sarcástico em relacao ao Evangelho) e professava o culto da ciencia
como resposta aos seus anseios naturais. Ele mesmo descreveu poste
riormente o seu estado de alma:

"Evoquem-se esses tristes anos da década de 1880, a época do


pleno desabrochar da literatura naturalista. Nunca pareceu mais firme o
dominio da materia. Os grandes nomes ñas artes, na ciencia, na literatu
ra eram todos irreligiosos... Renán imperava. Foi ele quem presidiu a
última distribuigáo de premios do Liceu Louis-le-Grand, a qual eu assisti,
e creio que fui cornado por suas máos... Vivía entáo na imoralidade e
pouco apouco caíem estado de desespero... Esquecera completamente
a religiáo; a seu respeito a minha ignorancia era de seívagem" (ver J.
Calvet, Le Renouveau Catholique dans la Littérature Contemporaine,
París 1927, p. 139)?

Aos vinte anos de idade, por ocasiáo do Natal, entrou na basílica


de Notre-Dame em París e ouviu o canto do Magníficat, que muito o
impressionou, como ele mesmo relata:

"Foi entáo que se deu o acontecimento que ia mudara minha vida.


Num instante foi sacudido o meu coracáo e passei a acreditar. Acreditei
com forte adesao, com o bem-estar de todo o meu ser, com períeita con-
vicgáo, com certeza isenta de qualquer dúvida: todos os livros, todos os
arrazoados, todos os percalgos da minha vida agitada nao conseguiram
abalar a minha fé, nem mesmo tocá-la... Quáo felizes sao aqueles que
tém fé! Ó, se tudo isso fosse verdade! Mas é verdade! Deus existe! Está
ai! É alguém, um serpessoal, táo pessoal como eu! E Ele me ama, Ele
me chama! ...Eeu estive diante de Vos como um lutador, que zombeteia.
... Vos me chamastes por meu nome. E, como alguém que conhece, Vos
me escolhestes dentre todos os meus companheiros".

Apesar de táo explícitas declaracoes, Claudel ainda lutou dez anos


contra Deus. Prendia-o o medo dos companheiros ou o respeito huma
no, que por muito tempo Ihe paralisou os passos e a última decisao:

"Farei esta confissáo? No intimo, o sentimento mais forte que me


impedia de declararas minhas convicgóes era o respeito humano. A idéia
de anunciar a todos as minhas convicgóes e a conversáo, de dizer aos
meus pais que nao comería carne ás sextas-feiras, de me proclamar um
desses católicos táo ridicularizados, fazia-me suar frío" (Les Témoins du
Renouveau Catholique, p. 68).

1 Contase que nesse discurso Renán teve urna inspiracáo e disse: "Quem sabe?
Hoje estáis aquí á roda de mim; há talvez entre vos algum que mais tarde se levan
tará para dizer que foi ruinosa a minha influencia sobre a juventude". Claudel o disse.

252
O TESTEMUNHO DE ATEUS 13

Em seus embates íntimos, Claudel pensou em fazer-se monge


beneditino, mas verificou que sua vocacáo era outra. Passou por outra
crise, que finalmente chegou a equilibrio tranquilo. Em suma, teve urna
conversáo que durou a vida inteira, o que bem revela quanto a graca
encontra resistencia no recóndito de muitas pessoas dilaceradas entre o
Bem Infinito e os bens finitos.

3. Ernesto Psichari (1883-1914)

E. Psichari era neto do incrédulo e sarcástico Ernest Renán. Após


um fracasso amoroso, tentou duas vezes o suicidio. Fez-se militar e foi
para o deserto do Saara; ali percebeu o vazio dos atrativos das grandes
cidades; o contato com a natureza rude e despojada fé-lo pensar; enfren-
tou os grandes questionamentos relativos ao sentido da vida. O próprio
Psichari relata o que Ihe aconteceu, falando de si na terceira pessoa:

"Nos seus anos de adolescencia, que miseria e abandono! Seu pal


alimentara-lhe a inteligencia, mas nao a alma. As primeiras perturbagoes
da juventude encontraram-no desaparejado, sem defesa contra o mal,
sem protegió contra os sofismas e as falacias do mundo... Durante oito
anos, dos vinte e dois aos trinta, errara pelo mundo e atírara a todos os
céus a sua maldigao... Fugia de continente a continente, de océano a
océano, sem que alguma estreia oguiasse entre as variedades da terra"(Le
Voyage d'un Centurión, 14a. ed. París 1916, pp. 4,6).

No silencio do deserto, a voz de Deus falou a Psichari: "Tu me


procuras e eu ai estou, nesse desgosto de ti mesmo que te assalta, nes-
se peso de tua alma cativa e até no pesadelo horrendo dos teus peca
dos" (ibd., p. 196).

Pediu entáo o Batismo, após ter-se preparado devidamente, e es-


creveu a famosa obra "A Viagem dum Centuriáo", que relata a historia de
sua conversáo.

4. Giovanni Papini (1881-1956)

Giovanni desde menino muito leu, procurando satisfazer á sua sede


de saber. Em busca da verdade, entregou-se á Filosofía, que o deixou
descontente. Passou entáo para o pessimismo, o materialismo, o
pragmatismo, chegando a tornar-se ocultista e espirita. Era sempre mo
vido pelo desejo de ser grande e tornar os outros felizes. Entre as suas
reflexóes de tal época, lé-se a seguinte:

"Ser Deus! Empreendimento impossível, mas é a soberba meta al-


me]ada. Tal é o meu programa eode outros... Aínda nao acreditava em
Deus; Deus nao existia para mím, e jamáis tinha existido. Eu quería cría
lo para o futuro e fazer de um homem pobre e miserável o Ser supremo,
soberano, muito rico e poderoso".

253
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 445/1999

Essa pretensao deixou-o frustrado e inspirou-lhe outras considera-


9Óes:

"Pego, rogo humildemente dejoelhos e com toda a pujanga de mi-


nha alma um pouco de certeza, urna só, urna pequeña crenga certa, um
átomo de verdade. Mas por que aínda nao me encontré! com ela?... Nao
posso continuar vivendo assim, vacilando entre a dúvida e a negagáo,
sempre ansioso por causa de um desejo que renasce todos os días, e
abatido pelo fracasso cada vez mais freqüente... Quero urna certeza fir
me e déla preciso, aínda que seja urna só. Quero urna fé indestrutfvel,
mesmo que seja urna só. Quero urna verdade auténtica, por pequeña e
exigua que seja..., urna verdade que me faga tocar o ámago mais íntimo
do mundo, e me confira o derradeiro e mais firme apoio".

Pós-se entao a procurar mais a fundo nos Evangelhos: "Retornei


aos Evangelhos para procurar Cristo; entrei ñas igrejas para encontrar
Deus".

Papini encontrou Deus finalmente, refletindo sobre os horrores da


guerra mundial á luz do Evangelho. Foi entáo que escreveu a sua céle
bre "Historia de Cristo". A firmeza da conversáo de Giovanni Papini
transparece na seguinte declaracáo, que ele redigiu com o próprio san-
gue:

'Temos necessidade de Ti, de Ti, e de mais ninguém. Só Tu, que


nos amas de verdade, podes sentir por cada um de nos o que sofremos;
só Tu podes conhecer a solicitude que cada um de nos experimenta por
si. Só Tu podes sentir plenamente quáo grande, quáo ¡mensa é a neces
sidade que temos de Ti neste mundo e nesta hora".

5. Adolfo Retté (1863-1930)

A. Retté foi anarquista, inimigo entranhado da Igreja, entregue aos


prazeres do sexo e da bebida. Certa vez, socialista que era, falou a um
auditorio de socialistas em Fontainebleau. O tema era o materialismo de
Haeckel e Büchner; Deus será "exorcizado" pelas conquistas da ciencia
e banido do universo. Terminada a palestra, quatro pessoas aproxima-
ram-se do orador e pediram-lhe explicacóes mais minuciosas: dissesse
como foi que o mundo comecou, se por ninguém o universo foi criado. A.
Retté repugnava falar sobre o que ele ignorava, por conseguinte balbu-
ciou e hesitou. Tal incidente Ihe pos em foco o problema das origens, que
a ciencia por si só nao resoive:

"Estava profundamente perturbado; sentia-me mal; tinha necessi


dade de refletir a sos com a minha consciéncia".

Internou-se na floresta: "Mas já nao apreciava o encanto da som


bra e do silencio. O coracao pesava-me no peito; tinha vontade de cho-

254
O TESTEMUNHO DE ATEUS 15

rar; um remorso estranho e insólito parecía tumultuar dentro de mim" (Du


Diable á Dieu, París 1907, p. 15).

Retté comecou a duvidar do valor da vida. Caiu no desespero, que


o levou a tentar o suicidio. Foi buscar uma corda:

"Entao senti-me como que partido em dois: a metade do meu ser


quería o suicidio ¡mediato. A outra metade resistía e parecía estar pedírt
elo socorro, enquanto em torno de mim eu sentía desencadear-se uma
tempestade de blasfemias e palavróes... Ouvi uma voz celeste, que me
gritava: 'Deus, Deus está ai!' Fulminado pela graga, caí de joelhos e en
tre solugos murmurei: 'Eu te dou gragas, ó meu Deus, por te haveres
voltado para mim!'".

Após tres anos de ansiedade, aos quarenta e tres anos de idade,


Adolfo Retté fez sua Primeira Comunhao e tornou-se católico convicto,
dedicado ao servico dos pobres e ajudando muitos irmaos a se levantar.

6. Eva Lavalliére (1866-1929)

Eva Lavalliére era uma atriz de vida desregrada. Como tal, fazia o
papel de mulher feliz, mas carregava dentro de si uma tragedia. Chegou
ao desespero e as portas do suicidio. Caiu doente e foi procurar alivio no
espiritismo, mas sem resultado. Voltou-se entao para o Catolicismo e
perguntou a uma amiga: "Julgas que Deus me aceitará após uma vida
táo devassa?" Pós-se a ler e conversar com pessoas amigas e finalmen
te redigiu uma carta, da qual dizia: "Custa-me muito escrever esta carta,
e mais ainda custa-me enviá-la: nela vai proclamada a minha morte ao
teatro. Nunca mais representaren" Após nova enfermidade, que Ihe pro-
porcionou viva experiencia de Deus, resolveu dedicar-se ao servico dos
semelhantes.

7. Thomas Merton (1915-1968)

Thomas Merton foi educado sem religiáo e no odio ao Catolicismo.


Foi fortemente impressionado pela guerra mundial de 1939 a 1945 e pela
enfermidade de pessoas queridas. Estudou as obras de filósofos católi
cos, mas sem se convencer definitivamente. Refere-se ele a essa época
dizendo: "Coisa estranha! Eu assimilava tudo, mas encontrava-me vazio
de tudo. Devorando prazeres e alegrías, nao encontrava senáo angusti
as, miseria e temor. Nessa extrema desgraca e humilhacáo, passei por
uma aventura sentimental, na qual fui tratado como fora de muitas outras
nos últimos anos... Como um cáozinho, eu mendigava um pouco de cari-
nho e uma prova de afeto. Tal era a morte do herói ou do grande homem
que eu sonhara ser. A minha derrota foi a ocasiao da minha salvacáo".

Após novas buscas de respostas, leu obras de Newman, que o

255
_16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 445/1999

inspiraram fortemente. Dizia de si para si: "Que esperas? Que fazes aquí?
Sabes o que tens de fazer. Entáo por que nao o fazes?"

Pediu e recebeu o Batismo, mas verificou que se conveliera na


inteligencia mais do que no seu tipo de vida concreto. Para rematar sua
caminhada, entrou no mosteiro trapista de Gethsémani (U.S.A.), onde se
aprofundou ñas verdades da fé e na prática da ascese; disto resultaram
escritos notáveis de projecio mundial e benéficos para muitos leitores.

8. Tatiana GoritcHeva (1947-)

Tatiana nasceu em Leningrado no ano de 1947. Estudou Filosofía


e Radiotécnica. Observa:

"Nasa num país em que os valores tradicionais da cultura, da reli-


giáo e da moral foram arrancados pela raíz de maneira planejada e com
éxito. Eu odiava tudo e amava a solidáo".

Oesgostosa da ideología reinante em seu país, voltou-se para os


"ídolos" do Ocidente, especialmente Nietzsche e o existencialismo ateu
de Sartre e Camus. Chegou assim ao "desespero, com ü qual comeca a
fé". Aos vinte e seis anos de idade, iniciou a luta contra a mentira:

"Cansada e desiludida, eu fazia meus exercícios de Yoga e repetía


os manirás. Até aqueta fase de minha vida, eu nunca tinha proferido uma
oragáo. Mas o livro de Yoga propunha como exercfcio uma prece crista,
ou seja, a oragáo do Pai-Nosso. Comecei a repéti-la mentalmente como
um mantra, de modo inexpressivo e automático. Compreendi - nao com
minha inteligencia ridicula, mas com todo o meu ser - que Deus existe.
Ele, o Deus vivo e pessoal, que me ama e ama todas as criaturas. A
velha criatura morrera. Nao somente abandonei meus valores e ideáis
anteriores, mas também meus antigos costumes. Finalmente meu cora-
gao se abriu. Comecei a querer bem as pessoas... Tornei-me impaciente,
desejando servirá Deus e aos homens. Que alegría e que luz esplendorosa
jorraram em meu coragáo!".

Tatiana teve consciéncia de fazer parte da Igreja perseguida e excla-


mou: "Eu também pertenco a esse povo!". Recebeu os sacramentos e
pós-se a estudar a Religiáo em Seminarios integrados por intelectuais.
Foi presa pela KGB e submetida a interrogatorios. Acabou sendo expul
sa da Rússia em 1980, quando fixou domicilio em París.

Em 1986 Tatiana Goritcheva dava o seguinte testemunho:

«Há milhares de conversoes inesperadas, como foi a minha. Em


torno de mim muitas pessoas se tornaram cristas; descobriram o Evange-
Iho e a sua vitalidade aos 20,30... 60 anos de idade; o corpo inteiro treme
quando se lé o Evangelho. Hoje o Evangelho e os Padres da Igreja cons-

256
O TESTEMUNHO DE ATEUS 17

tituem a literatura mais importante da Rússia. A oragáo, para nos, vale


mais do que o ar; é ela que nos dá forga para transformar o mundo. Num
Estado totalitario, vivemos sob cerco constante, mas, quando rezamos,
sentimo-nos livres. A experiencia da prísáo é pavorosa, mas os nossos
prisioneiros se julgam ainda muito felizes porque sao perseguidos por
amor a Cristo... Voces nao podem imaginar a forga que Deus dá as pes-
soas em extrema necessidade.

O cristianismo tomou-se quase moda na URSS; ser intelectual e


ser cristáo é praticamente a mesma coisa. É curioso como se encontra
liberdade na Igreja, onde nao há riquezas, nem poder, mas onde existe a
forga dos valores místicos. A Igreja quase nao existe como instituigáo,
mas sim como um corpo vivo, purificado pelo sofrimento e o martirio. É
por isto que ela atrai tanto. - Nao podemos dizer quantos cristáos exis-
tem na URSS: trinta milhóes, ou mesmo, segundo o Patriarcado de Mos
cou, cinqüenta milhóes... O número nao importa; o fato é que nem todos
os convertidos se dizem cristáos, pois tém medo das represalias; fre-
qüentam a igreja, mas nao se mostram dissidentes em relagáo ao regime
soviético. Há outros, como eu, que se tornam dissidentes, porque nao
podem ocultar a alegría de ser cristáo; é preciso levar o Evangelho ao
resto do povo russo. Perdemos todo medo; organizamo-nos em peque-
nos grupos; verdade é que temos poucos padres; menor ainda é o núme
ro dos sacerdotes que tém a coragem de liderar a juventude; o padre que
se destaque, é encarcerado e os seus filhos sao enviados para educandá-
ríos do Estado ou para prisóes de críangas. Em Leningrado temos cinco
padres que trabalham com a juventude convertida; correm grande risco.

Organizei um clube de mulheres, ao qual dei o nome de María (nem


podía ser outro, pois queríamos honrar a Rainha do céu e da Rússia).
Este clube tinha por objetivo ajudar-nos a perseverar na fé, já que nin-
guém sabe o que é isto: ...Cristianismo e Cultura, Cristianismo e Histo
ria... éramos 50 ou até 200 pessoas no meu apartamento, sempre na
espreita de que a Policía interviesse para nos prender; muitos amigos
nos abandonaram por medo; outros se admiraram de que nao éramos
encarceradas, pois nos Ihes parecíamos loucas. Na verdade, o nosso
grupo era vigiado pela KGB dia e noite, finalmente alguns dos seus mem-
bros acabaram presos, e outros expulsos da URSS".

A respeito de Tatiana Gorítcheva, ver PR 295/1986, pp. 530-542;


301/1987, pp. 242-251.

9. Edith Stein (1891-1942)

Edith Stein fo¡ judia, discípula do filósofo alemáo Edmund Husserl.


Perdeu a fé da sua infancia. Estudou entáo varios pensadores alemáes,
sem encontrar resposta para seus anseios. Estando em ferias, leu a au-

257
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 445/1999

tobiografia de Santa Teresa de Ávila, que muito Ihe falou: "No mesmo
instante, senti-me cativada: nao pude interromper a leitura até chegar aá
última página. Quando fechei o livro, disse a mim mesma: 'Aquí está a
verdade!'". Estudou a doutrina católica, foi batizada e entrou no Carmelo.
Morreu em campo de concentracáo, vítima do nacional-socialismo.

Ver PR 443/1999, pp. 187-191.

10. Douglas Hyde (1860-1949)

Douglas Hyde era Secretario do Partido Comunista da Inglaterra e


diretor do The Daily Worker. Por sua profissáo, tinha que refutar escrito
res católicos como Chesterton, Belloc e, de cada vez, ficava muito im-
pressionado pelo confronto das idéias. Em certa ocasiáo, ao entrar numa
igreja católica, num recanto escuro frente á imagem da Virgem SSma.,
foi profundamente tocado: "Era feliz. Dei-me conta de que minha doloro-
sa peregrinacáo terminara. Murmurei: "Senhora táo meiga e tao boa, sé
boa para mim!'".

11. Carlos Nicolle (1866-1936)

Carlos Nicolle foi Premio Nobel em Medicina, pesquisador de do-


encas infecciosas e Diretor do Instituto Pasteur. Incrédulo ferrenho, sus-
tentava a tese de que a razáo explica tudo. Todavía o problema do sofri-
mento humano o perturbava. Procurou esclarecimentos em escolas filo
sóficas, mas em váo. Mais tarde dizia: "Nao foi difícil encontrar de novo,
debaixo das cinzas de preocupares científicas, o resquicio de fé sobre
natural depositado por minha máe, cujos sentimentos religiosos eram
profundos". Escreveu um amigo seu: "Após ter-se insubordinado contra
os fracassos averiguados por nossos próprios olhos, chegou, por fim, a
por sua confianca em Deus".

12. Willibrord Verkade

Verkade era pintor dinamarqués. Dedicou-se á arte, á literatura e a


filosofía, sem professar religíáo alguma. Certo día entrou numa ¡greja
católica, quando durante a Missa se cantava o Sanctus, Sanctus,
Sanctus... Todos se ajoelharam. Mais tarde escrevia ele: "Como? Ajoe-
Ihar-me eu? Meu orguiho protestava com todas as suas fibras contra tal
humilhacáo. Mas, já que eu estava ali, ajoelhei-me como as demais pes-
soas. Quando se levantaram, também eu me levantei, mas algo havia
mudado dentro de mim. Eu já era católico pela metade, pois meu orguiho
se tinha quebrantado; eu me tinha ajoelhado". Procurou instruir-se na
doutrina católica. Foi batizado e mais se dedicou á pintura, pela qual
exprimía sua ansia de Deus. Finalmente tornou-se monge beneditino e
escreveu sua autobiografía intitulada Unruhe zu Gott (Inquietude para
com Deus).

258
O TESTEMUNHO DE ATEUS 19

13. Charles de Foucauld (1858-1916)

Charles foi educado de acordó com seus caprichos infantis. Após a


Primeira Comunháo, perdeu a fé e entregou-se á licenciosidade. Fez-se
militar no exército francés e foi servir na África. No seu ritmo de idas e
vindas foi seqüestrado. Comecou entáo a repensar sua religiao... Foi pro
curar um sacerdote para pedir-lhe esclarecimentos e ouviu do padre as
palavras: "Ajoelha-te e confessa-te!". Charles o fez, e disse, mais tarde,
ter sido inundado por luz e paz. Tornou-se monge trapista na Térra Santa.
Mas preferiu a vida eremítica, que ele passou a viver heroicamente no
deserto do Saara, dedicando-se aos muculmanos mais pobres. Certa
noite, quando rezava, foi assassinado. Seu testemunho de vida e seus
escritos suscitaram numerosos seguidores e seguidoras.

14. Léon Bloy (1846-1917)

Léon era filho de pai sarcástico, que zombava da religiao (discípulo


de Voltaire), e de máe muito religiosa católica. Recebeu educacáo con-
traditória, que nele suscitou lutas internas entre a verdadeira crenca reli
giosa (sugerida por sua máe) e os preconceitos (incutidos por seu pai).
Aos poucos estes foram desmoronando, mas com grande sofrimento para
Bloy, que ele descreve em sua obra A Muiher Pobre. Acabou pedindo o
Batismo, mas nem por isto conseguiu definir o seu ritmo de vida: quis
tornar-se monge beneditino, mas nao Ihe foi possível, porque caía e re
caía em seus vicios. Retirou-se para um mosteiro cartuxo, a fim de lá
escrever; mas sua consciéncia Ihe dizia que suas palavras nao
correspondían! ao seu tipo de vida. Um belo dia pareceu-lhe ouvir urna
voz interior, que Ihe dizia: "Se fores dócil a graca, eu te anuncio com
certeza alegrías táo profundas, táo intensas, táo puras, táo luminosas
que julgarás estar para morrer". Comecou entáo urna vida nova, que com
seus escritos e conversas levou muitos irmáos a Deus.

15. Takashi Nagai

Takashi Nagai era médico japonés, impregnado de materialismo.


O falecimento de sua mae muito o impressionou, assim como a cura de
grave molestia de que sofría. Pós-se a ler os escritos de Blaise Pascal,
que Ihe deram o impulso final para procurar a Deus. Resolveu pedir o
Batismo e dedicou o resto de sua vida á Medicina em favor dos que so-
frem e precisam de atencáo abnegada.

16. Outros grandes vultos

Em suma podem-se citar aínda

Agostinho de Hipona (t 430), que levou vida devassa; bateu as


portas do maniqueísmo, caiu no ceticismo, passou pelo neoplatonismo e

259
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 445/1999

finalmente, debaixo de urna árvore, ouviu urna voz que Ihe indicava a
leitura do Novo Testamento. Pediu o Batismo e tornou-se um dos maio-
res doutores da Igreja, grande vulto da filosofía e da historia universal.

- Inicio de Loiola (t 1556). Militar libertino, que, convalescente


num hospital, leu a vida de Cristo e se converteu em penitente, místico e
apostólo, fundador da Companhia de Jesús.

- S. Francisco Xavier (t 1552), ambicioso professor da Sorbonne


(París), que, feito jesuíta, se tornou apostólo das indias Orientáis.
- Inácio Lepp, psicoterapeuta marxista, que se converteu e se tor
nou sacerdote. Entre outras obras, escreveu Psicanálise do Ateísmo
moderno, obra cujo primeiro capítulo tem por título "O ateu que eu fui".

Os depoimentos até aquí registrados tém o valor de mostrar o fas-


cínio do Infinito exercido sobre a psique humana, que Ihe diz um Sim
espontáneo, entravado pelos vínculos de bens transitorios e paixóes um
tanto irracionais e cegas. Ñas pessoas sinceras o fascínio supera a re
sistencia e leva á autenticidade de vida.

A PERSONALIDADE DO SEGUNDO MILENIO

A revista "Times" fez urna pesquisa para saber qual terá sido a
personalidade mais importante deste milenio. Foram sugeridos milhares
de genios, artistas, Papas, presidentes... Eis os dez mais votados:

19 lugar: a personalidade escolhida como a mais importante destes mil


anos foi o meigo e humilde Francisco, que nasceu em Assis, na Italia, no
ano de 1182. Fundador da Ordem Franciscana; pelo seu extraordinario
amor as criaturas e á natureza, foi proclamado patrono do movimento
ecológico.

2- lugar: o inventor da imprensa Joáo Gutemberg.


3Q lugar: o navegante Cristóváo Colombo.
49 lugar: o escultor e pintor Miguelángelo Buonarroti.
5a lugar: o fundador do protestantismo Martinho Lutero.
69 lugar: o cientista que provou que a térra gira em torno do sol Galileu
Galilei.

7S lugar: o grande escritor e dramaturgo inglés William Shakespeare.


8a lugar: o herói da independencia dos Estados Unidos Thomas Jefferson.
9a lugar: o genio da música Wolfgang Amadeus Mozart.
10a lugar: o cientista da Teoría da Relatividade Albert Einstein.

260
Indagam:

TODAS AS RELIGIÓES SAO


EQUIVALENTES ENTRE SI?

Em síntese: A resposta a pergunta exige a distingáo entre o as


pecto objetivo e o aspecto subjetivo da Religiáo. Objetivamente talando,
nao sao todas as religióes equivalentes entre si, pois ensinam Credos
diferentes, com Códigos de Ética diferentes (reencarnagáo ou nao, poli
gamia ou nao, divorcio ou nao...). A Igreja Católica é a única portadora da
Revelagáo confiada por Deus aos homens. - Subjetivamente talando,
pode-se dizer que o fiel de urna religiáo nao católica poderá salvarse
nela, se a professar e vivenciar de coragáo sincero, julgando com certeza
estar no caminho reto. Deus nao pede mais do que aquilo que Ele revela
e o coragáo do homem candido e leal Ihe pode dar.

Nao é raro ouvir-se que todas as religióes sao boas ou sao equiva
lentes entre si. Afirma-se que é preciso crer,... crer em alguma coisa,...
nao importa em que coisa. O sentimento religioso seria um sentimento
como a honestidade, a benevolencia, o ser metódico..., sentimento que
"cai bem" ou que faz bem á saúde. O aspecto subjetivo da religiosidade
prevalecería. Ademáis toda religiáo prega os bóns costumes e a edu-
cacáo, de modo que nao haveria por que preferir um a outro sistema
religioso.

É a esta temática que vamos dedicar a nossa atencáo.

Refletindo...

O problema exige que distingamos o aspecto objetivo e o aspecto


subjetivo da religiáo.

1. Aspecto objetivo

Nao se pode dizer que todas as religióes sao equivalentes entre si,
pois nao coincidem entre si quanto ao Credo: algumas sao politeístas
(admitem varios deuses), outras sao panteístas (identificam a Divindade,
o mundo e o homem entre si), outras sao monoteístas (professam um só
Deus, distinto do mundo). Mesmo dentro de cada tronco há correntes e
variantes... Ora a verdade é urna só, de modo que, objetivamente talan
do, haverá Credos verídicos (em grau pleno ou menos pleno) e Credos
erróneos.

261
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 445/1999

Sem dúvida, o senso religioso inato é o mesmo em todos os ho-


meris. Ele tem as mesmas expressoes religiosas, independentemente
do Credo que professam; por efeito de sua religiosidade natural, todos os
homens rezam, dobram os joelhos, prostram-se por térra, levantam as
máos ao céu, e praticam as virtudes ditadas pela Ética natural: o senso
religioso ensina a nao matar, nao roubar, nao caluniar, nao adulterar...
Todavía, além dessa base natural comum a todas as religióes, cada reli-
giáo tem o seu Credo, seu culto e sua Moral própria; neste plano é que se
dáo as divergencias: há quem creia na reencarnacáo e quem nao a acei
te; há quem admita o divorcio, o aborto, o homossexualismo, a guerra
santa, a poligamia... e há quem nao os admita.

Em conclusáo: objetivamente falando, as religióes nao sao equiva


lentes entre si; nao sao igualmente verídicas, nem sao igualmente boas.

Os católicos, a bom titulo, dizem que só há urna religiáo revelada


por Deus: a que culmina em Jesús Cristo e se prolonga através dos sé-
culos no Corpo de Cristo que é a Igreja confiada por Jesús a Pedro e
seus sucessores.

É o que o Concilio do Vaticano II professa na Declaracáo Dignitatis


Humanae n31:

«Professa o Sacro Sínodo que o próprio Deus manifestou ao géne


ro humano o caminho pelo qual os homens, sen/indo a Ele, pudessem
salvarse e tornarse felizes em Cristo. Oremos que essa única verdadei-
ra Religiáo subsiste na Igreja católica e apostólica, a quem o Senhor
Jesús confiou a tarefa de difundi-la aos homens todos, quando disse aos
Apostólos: 'Ide pois e ensinal os povos todos, batizando-os em nome do
Pai e do Filho e do Espirito Santo, ensinando-lhes a guardar tudo quanto
vos mandei' (Mt28, 19-20). Por sua vez, estáo os homens todos obriga-
dos a procurar a verdade, sobretudo aquela que diz respeito a Deus e a
Sua Igreja e, depois de conhecé-la, a abragá-la e praticá-la».

Na Constituicáo Lumen Gentium ns 8 lé-se:

«Esta é a única Igreja de Cristo, que no Símbolo professamos una,


santa, católica e apostólica (12), e que o nosso Salvador, depois da sua
Ressurreigáo, confiou a Pedro para que ele a apascentasse (Jo 21, 17),
encarregando-o, assim como aos demais Apostólos, de a difundirem e de
a governarem (cf. Mt28, 18s), levantando-a para sempre como 'coluna e
esteio da verdade' (1Tm 3, 15). Esta Igreja, como sociedade constituida e
organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada pelo su-
cessorde Pedro e pelos Bispos em comunháo com ele, aínda que fora do
seu corpo se encontrem realmente varios elementos de santifícacao e de
verdade, elementos que, na sua qualidade de dons próprios da Igreja de

262
TODAS AS RELIGIÓES SAO EQUIVALENTES ENTRE SI? 23

Cristo, conduzem para a unidade católica».

2. Aspecto subjetivo

É fato que nem todos os homens chegam ao conhecimento do


Evangelho tal como Jesús Cristo o pregou e continua a pregar na sua
Igreja; nao tém culpa disto. Todavía tém coracáo reto e sincero ao seguir
urna filosofía religiosa diferente do Catolicismo: nao duvidam de que es-
táo professando a verdade e a ela devem obedecer, mesmo praticando a
poligamia ou crendo que a reencamacáo divide os homens em castas
diferentes, que tém que sofrer (uns) ou ser inclementes (outros). A tais
pessoas Deus nao pedirá contas do que nao tiver revelado ou do que
tiverem ignorado sem culpa própria. Poderáo salvar-se nao pelo falso
Credo que professam, mas pela boa fé ou sinceridade candida com que
o professam. É o que declara a Constituicáo Lumen Gentium n2 16:

«Aqueles que ignoram sem culpa o Evangelho de Cristo e sua Igre


ja, mas buscam a Deus na sinceridade do coragáo, e se esforgam, sob a
agáo da graga, porcumprirna vida a sua vontade, conhecida através dos
ditames da consciéncia, também esses podem alcangara salvagáo eter
na. Nem a Divina Providencia nega os meios necessários para a salva-
gao aqueles que, sem culpa, ainda nao chegaram ao conhecimento ex
plícito de Deus, mas procuram com a graga divina viver retamente. De
fato, tudo o que neles há de bom e de verdadeiro, considera-o a Igreja
como preparagáo evangélica e dom daquele que ilumina todo homem
para que afina! venha a ter vida».

Ou aínda a Constituyo Gaudium et Spes n9 22:

«Tendo Cristo morrido por todos e sendo urna só a vocagáo última


do homem, isto é, divina, devemos admitir que o Espirito Santo oferece a
todos a possibilidade de se associarem, de modo conhecido por Deus, a
este misterio pascal».

Assím, de um lado, fica excluido todo relativismo religioso - o que


seria relativizar a verdade. Doutro lado, fica excluido também todo fana
tismo cegó, que nao leva em conta a inocencia ou a candura de quem,
sem culpa própria, nao adere á verdade, mas se esforca por cumprir o
que o único Deus Ihe revela através dos ditames da consciéncia reta e
sincera. Deve-se acrescentar que quem se salva fora da Igreja visível,
salva-se por Cristo e pela Igreja Católica, mesmo que nao conheca Cris
to e a Igreja. Nao há outro caminho de salvacáo senáo Jesús Cristo e seu
Corpo Místico.

263
Falar em iínguas:

"O DEMONIO ENTENDE PORTUGUÉS"

Em síntese: O demonio é um anjo que Deus críou bom e a quem


permite tentar os homens para consolidara fidelidade destes ao Senhor.
Nao podemos descera pormenores ao tratarmos do conhecimento que o
demonio tem das realidades humanas. Écerto, porém, que ele nao apren
de determinadas Ifnguas e ignora outras. O maligno conhece o que vai
no íntimo dos homens táo somente na medida em que estes manifestam
por sinais o que Ihes vai no coragáo. A Escritura e a Tradigáo sempre
exortaram os fiéis a rezar em voz alta e publicamente, sem recelo de que
suas intengóes pudessem ser contraditadas pelo Maligno cíente do que
pedimos a Deus. Ademáis a glossolalia é um carisma, um dom esporádi
co de Deus, que nao pode ser institucionalizado ou exercido a gosto do
cristáo.

Um caso realmente ocorrido oferece ocasiáo a reflexóes.

Certa vez, num grupo de oracáo, a pessoa que coordenava perce-


beu que um dos participantes orava em voz alta na língua portuguesa.
Exclamou entáo com grande ánimo: "Ore em línguas, pois o demonio
está entendendo o portugués!"...

O fato sugere algumas considerares.

REFLETINDO...

Proporemos tres ponderacóes.

1. O que o demonio sabe...

O demonio é um anjo, espirito sem corpo, que Deus criou bom,


mas que se perverteu por soberba. É dotado de inteligencia e vontade
mais agudas do que a inteligencia e a vontade dos homens, porque nao
sujeitas aos entraves da corporeidade.

Sendo espiritas sem vinculacáo com a materia, os anjos bons e


maus nao dependem dos sentidos, como nos dependemos. Nao preci-
sam de abrir os olhos ou os ouvidos para captar impressóes visuais ou
sonoras e elaborá-las pelo raciocinio,... raciocinio prolongado e sujeito a
erros. O conhecimento dos anjos é ¡nato e intuitivo.

Inato: Deus Ihes ¡nfundiu, desde que os criou, as nocóes que Ihes

264
"O DEMONIO ENTENDE PORTUGUÉS" 25

convinha saber, a respeito de Deus, dos outros anjos, dos homens e da


natureza. Intuitivo, isto é, nao discursivo; o anjo vai direto ao amago das
coisas, sem experimentar hesitacóes - o que Ihe permite ter um saber
muito mais sólido, firme e penetrante do que o nosso saber.
Em conseqüéncia, os anjos conhecem os "futuros necessários",
isto é aquelas coisas que decorrem necessariamente das leis da nature
za assim como o astrónomo pode prever fenómenos distantes (eclipses,
por exemplo) aplicando simplesmente as leis da natureza. Todavía os
anjos nao podem conhecer os "futuros livres", isto é, os acontecimentos
que dependem da liberdade humana; também nao podem conhecer os
pensamentos e desejos íntimos dos homens (só Deus os conhece); per-
cebem porém, nossos pensamentos e sentimentos na medida em que
os manifestamos de algum modo, mediante sinais e expressóes adequa-
das.
Dotados de inteligencia, os anjos tém necessariamente vontade.
Esta é tanto mais perfeita, firme e forte quanto mais perfeito é o conheci-
mento que Ihe antecede. Ninguém pode querer algo sem o conhecer; e
há de queré-lo ou repudiá-lo na medida do que conhece.
Estas ponderacóes sao necessariamente sobrias, visto que nao se
tém dados seguros para afirmar algo mais sobre o conhecimento do de
monio Donde se segué que nao tem propósito afirmar que o Maligno
aprendeu a língua portuguesa, mas nao aprendeu outros idiomas. Isto
equivaleria a equiparar o anjo mau a um inimigo humano, que tem Umita-
cóes lingüísticas.

2. O que o demonio pode...


Em sua linguagem sobria ensina o Catecismo da Igreja Católica:
«394 A Escritura atesta a influencia nefasta daquete que Jesús
chama de 'o homicida desde o principio1 (Jo 8,44) e que até chegou a
tentar desviar Jesús da sua missáo recebida do Pal 'Para isto e que o
Filho de Deus se manifestou: para destruirás obras do Diabo (Uo 3,9).
A mais grave dessas obras, devido as suas conseqüéncias, foi a sedu-
gáo mentirosa que induziu o homem a desobedecer a Deus.
395 Contudo, o poder de Satanás nao é infinito. Be nao passa de
urna criatura, poderosa pelo fato de ser puro espirito, mas sempre criatu
ra- nao é capaz de impedirá edificagáo do reino de Deus. Embora Sata
nás atue no mundo por odio contra Deus e o seu Reino em Jesús Cristo,
e embora a sua agio cause graves danos - de natureza espiritual e,
indiretamente, até de natureza física -para cada homem e para a socie-
dade esta agáo é permitida pela Divina- Providencia, que com vigore
dogu'ra dirige a historia do homem e do mundo. A permissáo divma da
265
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 445/1999
atividade diabólica é um grande misterio, mas •nos sabemos que Deus
coopera em tudo para o bem daqueles que o amam' (Rm 8,28)».
Verdade é que o Maligno pode querer prejudicar nossas boas in
tenses formuladas na oracáo. Todavía a Escritura e a Tradicáo sempre
exortam os homens á oracáo, e á oracáo em vernáculo, sem jamáis pro-
por o uso de língua estranha, que 9 demonio desconheca; levem-se em
conta os Salmos e as passagens do Novo Testamento: Le 11, 9-13; Jo
14,13s; 16,24-27... A oracáo é a forca do cristáo, o recurso permanente
que Deus Ihe deu para resolver seus problemas. Nao há oracáo perdida
ou ineficaz, pois, se o Senhor nao concede o que Ihe sugerimos conce
de o que mais convém ao bem do orante: "Pedí e vos será dado- buscai
e acharéis; batei, e vos será aberto, pois todo aquele que pede recebe
aquele que busca encontra, e a quem bate se Ihe abrirá" (Mt 7,7).
Donde se depreende nao ter propósito a exortacáo a que alguém
ore em línguas para que o demonio nao o compreenda e entrave a prece
feita em vernáculo.

Examinemos agora de mais perto


3. O Dom das Línguas

O dom das línguas (glossolalia) é um carisma, ou seja, urna graca


do Espirito Santo concedida para a edificagáo da comunidade. É o que
Sao Paulo exprime longamente em 1 Cor 14,2-15. Por isto quer o Apostó
lo que o dom das línguas seja acompanhado do dom da ¡nterpretacáo
para que toda a assembléia compreenda o que é dito e daí tire proveito:
"Quando estáis reunidos, cada um de vos pode cantar um cántico
proferir um ensinamento ou urna revelagáo, falarem línguas ou interpréta
las; mas que tudo se faga para a edificagáo! Se há quem fale em línguas
falem dots ou, no máximo, tres, um após o outro. E que alguém as inter
prete. Se nao há intérprete, cale-se o irmao na assembléia, fale a si mes-
moea Deus" (1Cor 14,26-28).

A glossolalia resulta do entusiasmo do orante, que passa a falar


linguagem ¡ninteligível, porque a grandeza das obras de Deus nao pode
ser adequadamente expressa pelo linguajar comum. O entusiasmo po-
rem, pode redundar em desordem na assembléia; daí as medidas de
cautela do Apostólo. Se nao há disciplina no exercício do carisma pode
o culto divino assemelhar-se a urna reuniáo de loucos:
"Se a Igreja se reunir e todos falarem em línguas, os simples ouvintes
e os incrédulos que entrarem, nao diráo que estáis loucos?" (1Cor 14,23).
Por causa do perigo da indisciplina, Sao Paulo parece preferir ao
dom das línguas o da profecía, que é a proclamacáo das maravilhas de
Deus em línguagem intelígível:

266
"O DEMONIO ENTENDE PORTUGUÉS" 27

«Se ao contrarío, todos profetizaren, o incrédulo ou o simples ouvinte


que entran há de sentirse argüido por todos, julgado por ^s:oss%r^fs
do seu coragáo seráo desvendados; prostrar-se-a por te a^doraraa
Deus e proclamará que Deus está realmente no meio de vos (1 Cor 14,24).
A qlossolalia parece ter desaparecido ñas comunidades cristas
desde o sáculo IV. S. Joáo Crisóstomo (t 407) referia que na sua época
havia embaraco para explicar o que seria o dom das línguas mencionado
pelo Apostólo; com efeito, ao comentar 1Cor 12,1s, dízia o Santo:
"Esta passagem é totalmente obscura; tal dificuldade provém do
fato de que ignoramos o que ocorria outrora e nao mais acontece em
nossos días" (In epist. 1 ad Cor. Homilía 29,1).
Orígenes <t 250) mesmo parece ter ignorado o que fosse a
alossolalia pois interpreta a afirmacao paulina "Falo em línguas ma.s do
aue todos vos" (Cor 14,18) no sentido de que Sao Paulo tinha mi agro-
samente o co'níecimentó da língua de cada povo que ele ««ngehzava
(In epist. ad Romanos 113). S. Ireneu (t 202) e Tertuliano (t 220) aínda
azern referencia ao carisma da glossolalia. Há quem juIgue que o abuso
do pretenso dom de.línguas por parte dos hereges montañistas no secu-
lolH tenha provocado o desinteresse dos fiéis ortodoxos por tal cansma
nos lempos subseqüentes. Santo Agostinhojt 430) escrevia: «Quem
üoderia pensar hoje que a imposicáo das máos provoque o dom das
línguas?" (De Baptismo III 16,21).
Nostempos posteriores, parece que alguns místicostiverarn c.dom
da ebrietas spiritualis, embriagues espiritual, estado de alma em que a
consclacáo dada por Deus se apodera do fiel com tal veemencia que ele
se toma incapaz de exprimir sua experiencia em llnguagem convencio
nal e se expande com palavras estranhas e desarticuladas. Tal estado
Srto'de embriagues" correspondería ao que os Apostólos expenmenta-
ram no dia de Pentecostés, merecendo, por isto, ser t.dos como ebrios
(cf. At 2,13-15).
Em sua autobiografía S. Teresa de Ávila (t 1582) refere algo que
poderÜ se? assemelhado ao estado de embriagues espiritual ou a
glossolalia:
"Pronunciam-se entáo muitas palavras para o louvor de Deus, mas
sem ordem a menos que Deus queira ai colocar ordem; a mente,humana
Po7snl7e^apaz di fa*4o.A alma desejaria prockunarbemattoa
gloría de Deus Ha fica fora de si mesma no musomve dehnc)... Bh
quisera ser, por inteiro, línguas para louvar o Senhor" (Vida, cap. 16, 3-4).
Visto que tal fenómeno é de ordem muito íntima, reservado á expe
riencia pessoal dos místicos, nao nos é possível avallar a frequenc.a com
que tenha ocorrido no passado.
267
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 445/1999
Nos últimos séculos registraram-se certas "explosoes" de qlosso/alia
em grupos numéricamente restritos. Tais foram os grupos huguenotes
(protestantes franceses) dos Pequeños Profetas das Cevenas ou
paSrí (1658-1710), os jansenistas de Paris (1731) e os discípulos
de Edwardlrvmg na Inglaterra (1830-1900). Tais casos podem ser «dos
como efusoes de animo entusiástico, sem que existisse algum dom es-
«ma h fSP'rÍt0 ?nt0: h0UVe na historia da mística- muitos fenómenos
semelhantes aos do extase e da linguagem desarticulada provocados
por conviccoes naturais, sem particular intervencáo de dons
transcendentais.

O século XX, porém, registra o surto de movimentos pentecostais


tanto entre os católicos como entre os protestantes. Entre estes últimos
instaurou-se a crenca de que todo adulto cristáo, após a sua conversáo e
o seu Batismo, deve preparar-se para receber o Batismo no Espirito San
to ou urna nova efusáo do Espirito, que o habilitará a dar testemunho em
línguas estranhas, como faziam os Apostólos no dia de Pentecostés (cf
At 2,4); tal dom, dizem, em muitos casos é permanente e vem a ser ex-
presso tanto na oracáo particular como no culto público. O Movimento
Pentecostal, iniciado no come?o do século XX, tornou-se especialmente
vivo e atuante a partir de 1956, aproximadamente, entre os protestantes
e 1967 entre os católicos. Nem todos os grupos católicos de oracao che-
gam a dizer que o Batismo no Espirito Santo é sinal indispensável de
conversáo, mas todos estimam o dom das línguas; muitos pedem tal ca
nsina como sinal normal de que o Espirito Santo entrou na vida do fiel
com novo vigor.

Os numerosos casos contemporáneos de glossolalia estáo sujei-


os a anahse de teólogos e psicólogos. Pode-se indagar, com fundamen
to, se em todos esses casos se trata realmente de inspiracáo divina Sem
querer negar a intervencáo do Espirito Santo em muitas de tais ocasioes
pode-se admitir que outras manifestares se devam ao entusiasmo pes-
soal e a sugestáo exercida pelo ambiente sobre o orante Sao Paulo
mesmo Iembra aos Corintios que alguém pode falar em línguas "como
um bronze que soa ou como um címbalo que tine" (cf. 1Cor 13,1).
Em nossos dias nao costuma haver intérprete para o dom das lín
guas, de modo que a comunidade nao se pode beneficiar dessa lingua
gem estranha. Há quem explique que mesmo em tais casos o dom tem
sua razao de ser: é urna efusáo entusiástica do ánimo do orante que
assim louva a Deus. Tal explicacáo pode ser aceita; Sao Paulo observa
ría que, em tais circunstancias, o orante deveria rezar a sos, em casa
Hoje em día a glossolalia toma nova modalidade: quando auténtica é
exerc.daem público, por efeito de poderosa intuicáo do orante, sem que
a comunidade seja enriquecida pelo carisma.

268
"O DEMONIO ENTENDE PORTUGUÉS" 29

Haja discernimento! O Apostólo recomenda:


-Nao extingáis o Espirito... Discerní tudo e ficai com o que é bom"
(1Ts5, 19s)S
A propósito merece especial consideragáo o artigo de Francis A .
Sullivan: LANGUES (Don des), em Dictionnaire de Spiritualite, t. IX,
París 1976, cois. 223-227.

Que sabemos sobre a Biblia? vol. 4, por Ariel Álvarez Valdés.


Tradugáo do Pe. Afonso Pachotte C.Ss.R. - Ed. Santuario Apareada,
1999, 140x210mm, 123 pp.
O autoría redigiu tres volumes com o mesmo título, publicados pela
mesma Editora. Tenciona relera Biblia a luz da ciencia e da filosofía con
temporáneas. A intengao é louvável, mas a execugáo é deficiente, pois
¡añora ou, se nao ignora, distorce a palavra do magisterio da Igreja. Em
consecuencia o livro destrói a auténtica maneira de lera Biblia em vez de
Ihe favorecer. Assim no tocante á possessáo diabólica, o autor nega a
sua possibilidade; mas é obrigado a reconhecer que o Código de Direito
Canónico (canon 1172) a admite (p. 16); pouco adiante, porem, afirma
aue "em 1984 Joáo Paulo II publicou um novo Ritual Romano em que se
elimina definitivamente da Igreja Católica a cerimónia do exorcismo (p.
17) Ao dizer isto, o autor se engaña, tanto que em 1998 a Santa Sé
reformulou seu Ritual de Exorcismo, afirmando a existencia do demonio
e da possessáo diabólica e apresentando o Ritual de Exorcismo revisto e
atualizado (ver PR 444/1999, pp. 194-200).-As pp. 19-28 o autor nega a
existencia de Adao e Eva e interpreta Gn 2 de maneira subjetiva; na ver-
dade quando a Biblia /a/a de Adáo e Eva, quer referirse aos pnmeiros
pais do género humano (dois ou mais, pouco importa) e descrever o esta
do original da humanidade elevada a filiagáq divina..., filiagao que os pn-
meiros pais perderam pela desobediencia. Alvarez Valdes nega este epi
sodio, que faz parte do patrimonio da fé e vem a ser °Pan0JeufndR0^
obra da Redengáo realizada por Jesús Cristo, o segundo Adao (cf. Rm 5,
14; 1Cor 15, 44-49).
Em suma o livro, redigido em estilo simples e popular, incute urna
visáo deformada da mensagem bíblica, e nao pode ser tido como roteiro
para se entender o texto sagrado.

fln/*esenraoo5 resufíJíuea/nciiio wiw * * >» ** • ••--— — - ■ „ -j—-

c/cfo numa s/íuapáo concretó e no encon/ro com o oufro, visando a editicagao aos
irmáos".

269
Perscrutando

AS ETAPAS DE DESENVOLVIMIENTO DO
FETO HUMANO

Em sfntese: A vida humana comega no momento da conceicao ou


da fecundagáo do óvulo peto espermatozoide. Para ilustrar esta verdade
serao apresentadas, a seguir, algumas das etapas do desenvolvimentó
do embríáo humano.
* * *

Em 1965, pela primeira vez um fotógrafo - o sueco Lennart Nilson


-fotografou embrioes humanos em cores, conseguindo assim revelar ao
mundo estudioso as sucessivas fases do desenvolvimento do embriáo
Isto interessou muito especialmente as gestantes, pois Ihes possibilitou
tomar consciéncia da realidade rica e frágil que trazem em seu seio.
Vamos, a seguir, apresentar as principáis etapas do desenvolvi
mento do embriao, pondo assim em evidencia a sabedoria e o misterio
da vida que se forma.

1. Os insucessos da natureza

O momento da conceicáo é decisivo, a ponto de já se ter dito- "o


verdadeiro nascimento é a conceicáo".
Urna fecundacáo sobre duas é falha. Por conseguinte, a metade
das conceicóes é naturalmente frustrada em todas as categorías de se
res vivos, nos primeiros dias após a fecundacáo do óvulo. A mulher nem
o percebe.

Por vezes o embriáo continua a se desenvolver, mas nao tem como


prosseguir após certo ponto, de modo que ele é eliminado naturalmente.
Na especie humana apenas oito sobre cem óvulos sao deficiente
mente formados: a natureza os elimina na proporcáo de sete sobre oito
por aborto espontáneo. Vé-se assim que a regulacáo natural elimina quase
todos os deficientes, pois só vem a nascer um sobre cem; em conseqü-
encia, vem a luz criancas belas e promissoras. Hoje sabe-se que as ano
malías decorrem do patrimonio genético do pai ou da máe.
Quanto mais jovem é a genitora, tanto mais probabilidade tem ela
de gerar filhos sadios; aos 35 anos de idade, as probabilidades sao de
99,60%, ao passo que aos 20 anos sao de 99,95%.

270
AS ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DO FETO HUMANO 31
2. Seis horas depois a vida explode
Seis horas após a fecundacáo ocorre formidável explosáo de vida.
A célula inicial se divide em duas, que se dividem e subdividem,
formando células envolvidas num envoltorio protetor e transparente cha
mado "zona pelúcida». Isto se dá em poucos minutos. O processo se
desenvolverá pois as células se dividiráo em orto, dezesseis, trmta e
duas"seSaPe cuatro... até os 60.000.000.000 de células que constitu-
em urna crianca recém-nascida. Nesse minúsculo embnao, que se^sus
tentarla na ponta de urna agulha, tendo apenas um ou do.s decimos de
milímetro, está definido tudo o que o adulto será: cor dos olhos, da pele
género masculino ou feminino, tipo de cábelo, grupo sanguíneo... O que
ele requer, é apenas alimentacáo e cuidados para que o seu dinamismo
se possa exercer normalmente. As células decorrentes dasdiv.soes e
subdivisoes nao sao iguais as suas matrizes; assumem funcoes diferen
tes.
Na segunda semana, o ovo faz sua nidacáo na parede do útero.
Seu involucro se dilata: o ovo lanca raízes no muco materno para ai ab-
sorver a alimentacáo e lancar seus dejetos
No 15° dia a máe ainda nao sabe que está grávida, mas o feto
interrompe seu ciclo menstrual; ela assim é avisada. O bebé e um disco
oval de cerca de um milímetro em sua maior dimensao. Esse disco cons
ta de tres carnadas sobrepostas:
- a carnada inferior será responsável pela formacáo das visceras;
- a carnada do meio... pelas estruturas do corpo: esqueleto, mús
culos, vasos sanguíneos...
- a carnada superior,... por todos os órgáos de comunicacáo: pe
los sentidos, pelo sistema nervoso...
Cada célula recebe de urna central única e unificante as informa-
$óes indispensáveis ao seu desenvolvimento.
No 17S dia tendo o feto dois milímetros, já possui um coracáo, que
bate e só há de parar com a morte do individuo. Já se podem perceber os
lobos do cerebro, o esboco dos bracos e das pemas.
3. O semblante do pequeño astronauta
Com tres semanas de existencia, o embriao tem forma humana
bem nítida.
Aos 26 dias, os bracos aparecem. Aos 28 dias, as pernas.
Com quatro semanas, o embriáo tem quatro milímetros e está en
volvido numa cápsula de 1,5 cm de diámetro. O sangue da enanca e bem
271
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 445/1999

distinto do sangue de sua máe e propaga-se por todo o corpo. O coracao


bate 65 pulsacóes por minuto. Este ritmo se acelera de modo que na
quinta semana, se pode perceber o ritmo de 70 batidas por minutó do
coracao da máe e o de 150 a 170 batidas por minuto do coracao do filho.
Tem impressionado os estudiosos a analogía existente entre um
embriao e um astronauta. Em ambos os casos se coloca o mesmo pro
blema: como pode um ser vivo subsistir sem estar adaptado ao ambiente
que ele e chamado a conquistar? O ambiente, no caso do embriáo é o
mundo exterior; no caso do astronauta é o vazio inter-sideral. A solúcáo
consiste em que ambos fiquem encerrados num conjunto de involucros
herméticamente fechados; nesses habitáculos eles flutuam dentro de um
meio fabricado pelo próprio veículo: o líquido amniótico para a crianca o
oxigemo pressurizado para o astronauta. Em ambos os casos todos os
sistemas de canalizacáo e circulacáo ocorrem em circuito fechado no
interior desse universo fechado -o que torna o habitáculo quase autónomo.
O oxigénio, os elementos nutritivos, os anticorpos penetram no in
terior pelos vasos placentários da crianca. Os dejetos (gas carbónico
ureía...) sao eliminados para ser lancados na circulacáo materna.
A partir da décima primeira semana, o bebé dorme quando a máe
dorme, mas pode também despertar a máe dele, e ser despertado quan
do fazem barulho. Tem seis cm de dimensáo.
Comeca a se agitar. Um professor inglés, lan Donald, conseguiu
produzír em 1984 um filme que mostra um bebé de onze semanas a
dancar. Ja que o seu corpo tem a mesma densidade que o líquido
amniotico, ele nao senté a gravidade e danca de modo lento, com graca
e elegancia que seriam impossíveis em qualquer lugar da térra Somente
os astronautas em suas condicóes de náo-gravidade, chegam a tal sua-
vidade de movimentos. A sua máe senté a crianca dancar em seu útero e
com isto se regozija.

4. O desenvolvimento continua
No fim da sétima semana, o embriáo mede dois centímetros.
O cerebro primitivo emitiu prolongamentos até a face do futuro sem
blante para ai abrir-se em dois hemisferios, como se fossem flores- sao
as retinas.

A pele se torna mais espessa e fica transparente para formar urna


lente: o cristalino. As pálpebras aparecem, mas ficam fechadas para pro
teger os olhos durante seis meses.

O cerebro vai-se formando com seus lobos, atingindo a sua confi-


guracao definitiva, com cinco partes distintas.

272
Com oito semanas o embriáo mede quatro centímetros: e quarenta
mil vezes maior do que o óvulo do qual ele surgiu. A d.v.sao das células
vai assumlndo um ritmo mais lento. A principio a estatura da enanca se
dup«cava rápidamente; crescia todos os dias, todas as semanas. Com
dois meses, a crianca já mexe a cabeca e levanta o braco.
A máo se desenvolver o polegar e o índice se contrapSem. Os de
dos iá trazem seus traeos digitais; com um bom aparelho, munido de
fentes de aSmento, poder-se-ia fazer a carteira de identidade da cnanc^
Os pés se formam por ocasiáo da décima semana, com seus artelhos em
leque.
O nariz desponta sobre o semblante, as narinas se abrem, os labi
os se esbocam e ñas gengivas já se encontram as raízes dos dentes de
leite.
Já se sabe se o bebé será menino ou menina. Os seus caracteres
sexuais se constituem e já contém as células que deverao programar as
geracoes seguintes.
Aos tres meses, o corpo está constituido; os órgáos estáo todos
constituidos ou esbocados.
Os órgáos aprendem a trabalhar em conjunto. Relacóes de contro
le recíproco sao assim instituidas; por exemplo, o co[a5a°. qu^ia a
sos, passa a ser controlado pelo sistema nervoso; este o acelera ou re
freia em vista do bem do organismo em geral.
Entre o quarto e o quinto mes, o feto passa de quinze a vinte e
cinco cm de coqmprimentoqisto é, chega á metade da estatura que tetó
até ao nascer. O crescimento assim assume ritmo menos acelerado, po.s
se continuasse no ritmo das primeiras semanas, atingma tamanho e peso
insólitos.
Os pormenores da formacáo váo-se sucedendo:
- a iris da crianca se pigmenta; terá olhos castanhos ou azuis;
- os pulmóes apresentam seus alvéolos ainda fechados;
- as glándulas da saliva se desenvolvem;
- as gengivas se tornam mais espessas e a orla dos labios se es-
boca;

- o corpo se cobre de finos pelos e as unhas aparecem.


Desde o ovo original, o individuo já estava definido como um ser
particular. Ele aos poucos vai ostentando os sinais distintivos da sua .den-
tidade.

273
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 445/1999

Pergunta-se: quando comeca a vida psíquica do bebé? - Aos tres


meses, quando o cerebro está desenvolvido? Aos quatro meses, quando
a mae senté os movimentos da crianca em seu seio? Aos cinco meses
quando o encéfalo comeca a sua maturacáo? Ou quando a crianca nas
ce e lanca o seu primeiro grito? Aos dois anos, quando ela fala? Aos sete
anos, quando atinge a idade da razáo? Aos quatorze anos, quando se
torna responsavel por si mesmo(a)?

- Na verdade, nao se pode assinalar um comeco absoluto- o de-


senvolvimento da vida mental segué urna linha continua, talvez erri forma
de escada, por etapas, com seus patamares.
Produz-se no fim do quarto mes notável transformacáo, que só
estara terminada aos quatorze anos; é a maturacáo nervosa.
Primeramente, as células mais nobres, os neurónios, lancam fi-
v^r«7HentáCUl°VUntam"Se a outros nonios e assim formam
vasta rede de ñervos. Numa segunda fase, células especiáis envolvem
as fibras dos ñervos com urna substancia branca, ¡solante: a mielina
Esta e responsavel pela integridade da ¡nformacáo.
Aos tres meses, os labios movimentam os músculos da face de
modo desordenado. Aos quatro meses, o movimento se disciplina- o feto
abre e fecha a boca alternadamente. O polegar se move e os labios tam-
bem, de maneira que, já antes do sexto mes, o feto chupa o polegar.
O bebé recebe informacóes de fora, que o fazem amadurecer o
mundo ambiente contribui para plasmar o cerebro. Em sua piscina escu
ra, a enanca recebe grande variedade de estímulos.

No sétimo mes, o cerebro superior ou cortical comeca a se organi


zar. A enanca nasce com o número completo de células cinzentas- apro
ximadamente quatorze bilhoes.

5. O fim da gestacio

No mundo aquático em que vive a crianca, a vista e o olfato sao


pouco solicitados. O tato, porém, tem ampias funcoes; a crianca toma
conscencia da sensibilidade do seu corpo: a principal coisa que ela co-
nhece, e a sua boca.

Os sons estimulam a zona auditiva. O feto isola os sons insólitos


dist.nguindo-os dos ruidos de fundo. Nao os compreende; nao se recor-
da deles, mas grava-os em seu íntimo para o resto da vida. A crianca nao
tem a consc.encia de um adulto, mas é um ser vivo que tem sua experi
encia pre-natal, que Ihe deixa marcas indeléveis. Todo o seu sistema
nervoso registra os dados do ambiente materno e, por vezes, Ihes res-

274
AS ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DO FETO HUMANO _35

Máe e filho estao embarcados na mesma aventura bioquímica.


O cansaco, os transportes, o trabalho em pé ou de bracos levanta
dos, o fumo favorecem o parto prematuro: a enanca geralmente nasce
menor.

A proporcao de partos prematuros é de cerca de 10% para as máes


que fumam entre cinco e dez cigarros por dia. Vem a ser de 30% ou mais,
quando fumam mais de vinte cigarros por dia. A influenc.a negat.va do
fumo sobre o tamanho e o peso da enanca segué as mesmas propor-
cóes A um adulto costuma-se perguntar se o fumo de um companheiro
de viagem incomoda; á crianca nada se pergunta, quando na verdade
ela é muito mais dependente da sua companheira de viagem.
Os riscos de parto prematuro aumentan se a máe leva vida menos
sadia. Há, porém, quem queira minimizar os efeitos negativos do alcool -
tolerancia esta inaceitável.
6. O nascimento

Ao chegar ao fim do nono mes, tanto a crianca como os pais se


preparam para o desfecho.
Em poucas semanas, os músculos e os ossos da crianca se tor-
nam mais fortes e consistentes. Os alvéolos dos pulmoes se robuste-
cem. O estomago "digere" os destroces que estejam flutuando no l.quido
amniótico.

A temperatura do mundo exterior é mais baixa do que a do útero


materno. Um espesso tecido adiposo recobre o corpo do bebe. Este ga-
nha sempre mais peso, de modo que acaba por sent.r-se imprensado no
seio materno. A forma de pera do útero obriga a crianca a colocar-se de
cabeca para baixo na expectativa dos acontecimentos .
Finalmente, no 2662 dia de sua viagem o feto está pronto para de
sembarcar no mundo exterior. Tem sua historia. E gente que va. aparecer
num universo que Ihe é desconhecido.
No momento oportuno o ápice da cabeca aparece, para grande
surpresa e emocáo de quem assiste. Depois vém a testa o nanz a boca
o queixo. Finalmente a crianca elimina o muco, resp.ra forte e solta o seu
primeiro grito; um auténtico ser humano acaba de nascer.
Mesmo depois de nascida, a crianca continua, de certo modo, a
viver em simbiose com a sua máe. Por cada urna de suas mensagens -
caricias, sorrisos, olhares e palavras amigas - ela suscita no f.lhc, osen-
timento de seguranca e apoio; ela o ajuda a conceber o sentimento de
que ele existe.

275
TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 445/1999

O cerebro da crianca possui a totalidade de suas células cinzentas


que sao quatorze bilhóes; mas elas nao estáo inter-relacionadas urnas
com as outras. Pouco a pouco cada qual lanca ramificacóes que váo
ligar-se a outras ramificacóes. Dado que cada célula pode emitir dez liga
mentos, calcula-se que o número total de conexóes assim realizadas
ultrapasse os cem mil bilhoes.

Essas ramificacoes ocorrem na proporcáo das experiencias feitas


pelai enanca. Comecam no sétimo mes de vida intra-uterina e terminam
na idade de quatorze anos. O cerebro da enanca deve ser ativado pelos
estímulos do mundo que a cerca. O desenvolvimento de um bebé fica
sendo um misterio. Parece que se deve a dois fatores hereditarios Um é
a neranca física, que transmite á enanca o cerebro complexo, fruto de
longo desenvolvimento. O outro é a heranca cultural, que Ihe vem trans
mitida de geracáo a geragao. Com efeito; existe urna forma tradicional de
sornr, de olhar, de andar, de comer, de falar,...; isto tudo constituí o fundo
comum de urna familia, de urna nacáo, de urna cultura. Tal heranca cultu
ral e passada pelos genitores aos filhos nos primeiros tempos de vida
extra-uterina e vem a ser a base do equipamento mental da crianca.
Além disto, deve-se notar que, desde os primeiros días, a crianca
manifesta tres emocoes violentas: a do mal-estar, que a faz chorar- a da
fome e do prazer de se alimentar (a crianca mama com apetite) e a do
reconforto: a crianca se acalma e adormece. Este ciclo termina e reco-
meca constantemente.

7. Conclusio

As noticias que acabam de ser expostas, tém por objetivo ilustrar o


fatode que o ser humano é gente desde a conceicáo ou desde a fecun-
dacao do óvulo pelo espermatozoide. O ovo fecundado já contém todo o
potencial necessário para formar um adulto perfeito. Reconhecem os
geneticistas que "o verdadeiro nascimento é a conceicáo11.
APÉNDICE
UM SER SENSÍVEL Á ESCUTA
Famoso pesquisador, especialista em "escuta", escreve:
"Verifiquei que no embriáo a escuta era muito sensível. O feto é um
ser que vibra com a escuta. Ele vive um extraordinario intercambio com
sua mae. O feto está envolvido por sua máe. Ele necessita da máe e de
seus lances de afeto e amormais do que da injecáo de metabolismo que
passa pelo cordao umbilical. Com efeito; ele ouve sua máe; ele escuta
sua mae; a voz de sua máe tem importancia considerável desde os pri
meiros días de sua vida. Quando eu descobrí que um feto ouvia caídas
nuvens...

276
AS ETAPAS DE DESENVOLVIMIENTO DO FETO HUMANO 37

Estou convencido - e muitos casos nó-lo demonstram - de que a


crianca ouve desde os seus primeiros días. Mesmo que o sistema nervo
so nao parega elaborado, ala percebe pelos nodulos periféricos que me-
morizam e projetaráo sobre o córtice todo fenómeno. Aconteceu-me ver
país e máes surpresos pelo fato de que na Franga seus filhos compreen-
diam melhor o inglés do que o francés. Isto foi possível pelo fato de que
nos tres primeiros meses de gestagáo a máe trabalhou numa firma de
comercio que Ihe ocasionava falar inglés o dia inteiro. Houve assim urna
influencia íntima e forte sobre os neurónios da crianga. Esta foi modulada
pela voz materna, mais necessária do que o fator nutritivo para a sua
evolugáo".
Noticia extraída da revista MISSI ns472, abril de 1985, p. 124.

A RESPONSABILIDADE DE QUEM ESCREVE

"Grande é a responsabilidade de quem escreve.

Agitar ¡délas é mais grave do que mobilizar exércitos. O soldado


poderá semear os horrores da forga bruta desencadeada e infrene; mas
enfim o brago se cansa e a espada torna a cinta ou a enferruja e consomé
o tempo. Ao contrario, a idéia, uma vez desembainhada, é arrnasempre
ativa queja nao volta ao estojo nem se embota com os anos. A lamina do
guer'reiro só alcanga os corpos, pode mutilá-los, pode trucida-los, mas
nao há poder de brago humano que dobre as almas. Pela materia nao se
vence o espirito. A idéia do escritor é mais penetrante, mais poderosa,
mais eficazmente conquistadora. Vai direto a cidadela da inteligenca. Se
a encontra desapercebida (e quantas inteligencias desaparejadas para
as ¡utas do pensamento!) toma-a de assalto, instalase no seu trono edaí
dirige e governa, a seu arbitrio, toda a atividade humana. Pelo espirito
subjuga-se a materia.
Quantos crimes que se atribuem a forga, sao filhos da idéia! Se
fora oerfeita ajustiga humana, muitas vezes, nao sobre o brago que
vibrou o punhal assassino, mas sobre a pena que semeoua ,dé,a
homicida, é que deveriam pesar os rigores da sua sevendade.
P. Leonel Franca S.J.

277
Manipulando a vida:

DOAQÁO E VENDA DE SEMEN HUMANO

Em síntese: Vai, a seguir, apresentado o problema da compra e da


doagao de sementé vital humana. Taispráticas ferem a ética, pois ferem
a leí natural, segundo a qual a reprodugáo humana se faz em conseqüén-
cia do amor de esposo e esposa. Ao homem nao toca o direito de interfe
rir no processo de reprodugáo como se fosse mero processo bioquímico-
a sexualidade humana transcende os seus aspectos físicos, pois tem por
sujeito pessoas que sao chamadas á dignidade de filhos de Deus.
* * *

Os avaros da Medicina desligados de conceptees éticas podem


ser nocivos á pessoa humana, em vez de a nobilitar. É o que se verifica
quando se lé que há instituicoes prontas para receber óvulos doados ou
mesmo comprados como se faria com o semen do gado. Manipula-se
assim a sementé vital humana, como algo de meramente físico-químico
sem se levar em conta a transcendencia da sexualidade humana. A in-
dustrializacáo do semen humano é documentada pelas noticias que se
seguem e ás quais proporemos breve comentario.
1. O problema
1.1. Compra de semen humano

O jornal O GLOBO, edicáo de 17/01/99, p. 45 traz a seguinte noti


cia:

«Casáis esteréis criam mercado de compra de óvulos de universitarias


com boas notas

Anuncios em campus oferecem até US$ 7,5 milajovens inteliqen-


tes e bonitas.

Washington. Casáis americanos sem fílhos estáo colocando anun


cios em jomáis dos diretórios académicos das principáis Universidades
americanas, como Yale e Cornell, na esperanga de que algumas estu-
dantes Ihes vendam os óvulos. O objetivo é usá-los para produzir bebés
superinteligentes, por meio de procedimentos de fertilizagáo in vitro Já
se foi o tempo em que casáis esteréis desejavam simpiesmente ter um
bebe, qualquer bebé. Agora, eles procuram por óvulos que aumentem a
chance de ter um filho com determinada cor de olhos, pele e cábelo que
278
alcance urna determinada altura e que se/a de alguém brilhante o sufici
ente para obtersempre ótimas notas na Umversidade.
Candidatos a país querem produzir dentistas e artistas
Os anuncios freqüentemente sugerem as características que o ca
sal gostaria de encontrar na vendedora dos óvulos, como dotes arUsti-
cos sorrso contagiante ou sociabilidade. A procura por país biológicos
Te'aícZgou aun ponto que aspessoas compram óvulos na esperanca
de gerar um dentista genial ou um artista brilhante.
Anuncios publicados no "Vale Daily News" dizem: "Procuramos
desesperadamente por urna pessoa generosa, inteligente, sensivel eale-
am"ou"Amável casal infértiprocura urna mulhercom compaixao entre
2?e31 anosquTpossa nosajudar a ter um bebé. Será maravilhosose
elattoermatsde 170 metro, for branca, magra, possuir cábelos escures
fo^nteigenl e gentil. Embora nossa gratidáo nao possa ser medidaem
Zlar^Parílmos de que aceitasse US$ 7,5 mil, alem do pagamento
de todas as despesas com o procedimento .
Outro anuncio publicado no mesmo jornal de campus ^Jf^

jáveis".
Urna nova onda de publicidade também comega a aparecer nos

SksSSsS
home-page da empresa para os candidatos a país.
A empresa também oferece a seus clientes fotos das alteres de

aínda aquetas cujo sorriso nao seja o considerado ideal pelo casal.
Numa época em que fertilizagSo in vitro e bebés de

mÉtm
msuas máes biológicas.
_ O maior risco para os bebés de butique é que seus pais sejam
infelizes com emporqué nao nasceram com as características que de-
279
cíuahan» ^^ ° bi°eticista da u^ersidade de Nova York Daniel
1.2. Doa9áo de semen humano

d Sá emitiu
SEMEN

VOCÉ JÁ PENSOU EM DOAR?


í qUand0 inicia uma vida em comum> sonha em ter fi-
T °S conse9uem experimentar essa emogáo. Cerca de
/o dos casa,s possuem algum tipo de dificuldade para alcangar a gravi-

A medicina pode, entretanto, oferecer solugoes para este tipo de


RÓLOGA S 6ntre 6laS P°dem0S mencionar a INSEMINAQÁO HETE-
O que é?

Tratase de inseminagáo com semen de um doador anónimo.


É complicado?
Nao, éum procedimento realizado no mundo inteiro há mais de 30
anos eposs,b,ltta ao casal ter um filho. Isto ocorre porque o casal passa
por todo o processo de gestagao. A inseminagáo éumsegredo dele!
É seguro?
Sim, o Banco de Semen seleciona candidatos entre 18 e 40 anos
s^xxrri9omsissima triasem psrs a :
E a escolha do semen?

> futuro bebé seja parecido com o -pal', o semen é seleci-


°atívtí. Seme'hante ao mesmo- '"olusive com grupo
É ético?

Sim, oConselho Regional de Medicina de Sao Paulo, através o


parecer de número 1756/89-SPR, expediente 24264/88, considerouque
se as partes esUverem cientes e de acordó com as finalidades do proces-
so, a msemmagao heteróloga é considerada um procedimento ético.
E o doador?

Além de ajudarum cásala realizarse, o doador recebe uma avaiia-


280
DOAQÁO E VENDA DE SEMEN HUMANO

gao completa de seu estado de saúde, incluindo exame físico, sorológico


e espermograma.

Se vocé está interessado em ser um doador de semen, procure-nos:


Banco de Semen do Hospital Israelita Albert Einstein
Os textos apresentados sugerem algumas reflexóes.
2. Comentando...

A doa5áo de semen humano foi, pelo Conselho Regiona. de Medí-

t
algo é ético?
Deve-se responder que a liceidade da conduta humana nao de-

SrSK SSHKSS
homem sadio. Aprofundemos tal conceito.

2.1. A leí natural


A natureza é dom e obra de Deus; por isto ela manifesta ao homem

natural.
1 Em todos os povos primitivos encontra-se a nocáo de precarios

mwmi
natural, atribuindo-a á Divindade.
2 Na S Escritura S. Paulo é o arauto mais explícito da leí natural
existente em todos os homens; ver Rm 1, 24-27; 2,14s.
3.0 Concilio do Vaticano II reaflrmou tal doutrlna em termos multo
claros:

281
a existéncla da l6i natural

SsSaSSBS
onentatao interior é precisamente o que se chama "a le, naS

a le, natural, atribuí ao Estado civil o poder de definfrTbem e o mal


^YTade d° EStd° tOma-Se a f0nte da "loraliLe e d Íl
xxegitima?§o do totaiitarism°e da
,COnSeqÜénCÍas do tota«tarismo moral do Estado

LC°-tra a^exist§ncia da lei natural, a mentalidade moderna

b6l"Pra2er' desvland0 rios f

piritual. PrÓPriaS: n§° é Um mer° instrument° de urna pessoa es-


mem
^fS C,°L° ~JP'a"° ^¡o'ó9¡co a corporeidade impóe ao ho-

282
y

de da comida da bebida, do fumo, ao uso do sexo...); como a


nobservTcia das leis fisiológicas .eva a pessoa a «^mnbj^dej;
prezo das leis moráis naturais induz o ser humano a desmtegracao psi
quica e quicá física.
6. Qual seria o conteúdo da lei natural?
da lei natural soa: "Pratica o bem, evita o mar

r3S
20 1-í conclusóes ¡mediatas seguem-se outras mani

pecaminosidaSL d9o suicidio e do duelo, a condenante do aborto...


O principio fundamental da lei natural pode ser conhecido com cer
teza por todo homem normal, pois é evidente por si mesmo. O mesmo se
dia^a íespeito das conclusóes ¡mediatas. Quanto ás conclusóes remo-

«ÉSSkSSSsSSK
mediocridade e a dureza dos coracoes.

do medo de crescer interiormente.


7. A lei natural é válida para todos os homense todos os tempes.

2.2. A reprodufáo humana


1) Em particular no tocante á reprodujo humana a lei natural tem
seus difames:
_ A ciencia e a técnica estáo a servico da pessoa humana; nao sao
valores abluios mas acham-se subordinados á ética e aos d.reitos
inalienáveis do ser humano.

especial culto a Deus.


283
T A Pe!soa numana, embora conste de um corpo constituido por
estes
estes. neZdoSl ^ ? d°a procriacáo
De modo espec.al, dema¡S an¡maÍS'
humanan§0 Pode
está ser a™2££Z
ligada valores que
aen mram
hmpmr t T nenhüm °Utroo vivente criad°- A corporedade
dd no
qS
quenc a, oquem
aem »nrada """" C°nJUnt°
toca do corpo, <"" também
toca a pessoa é eSPÍritU^
com seus emespiritu-
aspectos C°^
le !ra"scendenta.s; criado á imagem e semelhanca de Deus oto-
oto
nTnh,fmCK-Tad° 3 SS real¡2ar Pe"^
P|ename"^ em
em Deus.
Deus. Isto quer taque
Isto quer taque
"mb °í?° 0UméíC° P°de"-em
í? 0UHméíC° P°de"em nome da ciéncia'
ciéncia decidir sobre a
mana
ní wS 'i0"16"8" E IÍCÍt°" Sim' ao cientista ins«t"¡r suas
geneUcas desde que guarde sempre o respeito á pessoa hu-

dois: jU'9arem as novas exPeriéncias sao

n,,rm a ^ d0 ^ hurnano nao é apenas ° resultado de reacóes físi-


o-qujm.cas, mas e o patrimonio de alguém chamado á eternidade;

arnorrllí?
l * VÍda humana foi' Pela natureza. associada ao
amor conjugal, que e sempre pessoale consciente; por conseguinte nao
deve ser realizada fora do contexto conjugal. c°nseguinte nao

nio? 2) E P°r qUe a procria5áo humana deve ocorrer dentro do matrimó-


r 1procria?ao seia talmente assumida com responsabi-
deve ser fruto do matrimonio ou de um compromisso estávelentré
*fi°? 3Ue eSP°S0S
Se dÍSP°nham a 9erar e e'ducar a sua P^~ Tam!
a° seu matr¡mónio implica o direito de w
S°mente através um d0 outro- Com efeito; os genitores
ca a Dro^nnT ^T?30-e Um comP|eme"to da sua doa^re^
sí Lw P f" lad°' e a ima9em d0 amor mút"o de esposo e

Mais: o equilibrio da sociedade exige que os filhos venham an


°SeÍO ^ Uma famíHa 6 qU6 6St ^ estave,mente íuníada no
- . 3>Orecursoa°s gametas de terceira pessoa (mediante proveta ou
fatt* n?» Ta vlola?So d0 compromisso recíproco dos esposos e
suauSa aqU Propr¡edade essencial do matrimonio que é a
do n H»'é7 d-St%alfecunda5§0 heteróloga lesa direitos do filho, privan-
do-o da relacao filial com um dos seus genitores - o que pode prejudicar
284
Observe-se aínda que a alterado das relacóes pessoais dentro^da

social.
Por razóes ainda mais imperiosas, entende-se que .^
artificial de urna mulher nao casada - solteira ou v.uva - seja qual for o
doador, nao pode ser justificada no plano moral.
4) Resumindo:

O Criador fez o ato conjugal unitivo e fecundo. Em

esposa
a.

Com outras palavras: a origem de uma pessoa humana é 01resulta-

os de controle e dominio.

CRISTIANISMO: 1,9 BILHÁO DE FIÉIS


cristáos continuam sendo o grupo majoritário no canario das
cnsm . -t nuiíkín m■ coa nnimomais

285
LIVROS EM ESTANTE

paula procun lazé-lo. mas MelizmJ,

"O Di
pp. , SP,

duIo" h/¿%
pulo ha v,nte M0BCyr UmOngÍ
e um anos. M°reira
O n° vempublicagáo,
83 dessa editand0 ° datado
testículode"O Discí

Ao seu autor, ¡lustre batalhador, a gratidao do PovodeDeus

Mons. Jean Cadilhac é blspo de Nímes (Franca) desde

descobrir a Igreja a partir do Interior e assim ajudá-lo


286
mais tongamente a problemática, com

S&HSSSS SSSS
da ioreTo absurdo dessa dicotomía aparece claramente napalavra de
Cristo (Le 10 16)" Nos capítulos seguintes, é explanada a Igreja como
Eslosa ícorpodeCrísto, vivificada pelo Espirito Santo, alma da Igreja.
fspedJmente importante é o capítulo 8: "A Igreja nossa Mae .
"Se a Igreja é realmente nossa Máe, como nao a amar, fesardo

vida" (pp. 74s).


Deus Paí, porDadeus Grings. - Ed. Santuario, Aparecida, SP, 140
x210mm, 147 pp.
O ano de 1999 é o último ano de preparagáo do Grande Jubileu
ano especialmente"dedicadoá reflexáosobre Deus Pal A funde faotor

midade consigo" (p. 146).


A Parábola do Pai Misericordioso, por Alvaro Barreiro S.J. - Ed.
Loyola Sao Paulo 1998, 135x210mm, 143 pp.
Atendendo ao desejo, da Igreja, de consagrar o ano de 1999 á
287
^SHSíSS

como obse™a Concluslo


também nós devemos amar-n°
#x££
rcoraia (p. 127). Em anexo ao corpo do livro encontram-se
Hustragoespara a liturgia penitencial. O livro é deZaTvZorparlTue
procura reforgarsua vida de oracao e seus conneciZmTte7ó9icos
Btf. S//¿eSU|rfM^^NaZo-'P°M/eteandrM^
bilva. - Ed. Cdade Nova, Sao Paulo, 140 x 205 mm,Tradugaodelrami
213 pp.

PR 440/1999- P- 26¡á foi apresentada tal obra. Faz-se mister


eTqL!e 6m doisP°nt°s ^toa da doutrina S 1

ass'm "° f"6p"° Evangelh° e da *»**»


Estéváo Bettencourt O.S.B.

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PUBLICACÓES MONÁSTICAS
BENTO UM MESTRE PARA O NOS» TEMPO. O. Qregório

£? 1996 Artpress - Sao Paulo. 142 pags. R? 12,50.

pela Santuario Editora. 222 pags '"'"^"^'. z* edicáo revista. Aprésenla-

ANTES SU A ASSINATURA DE PR. r$ ^ qq

renovaqáo ou novaAss.NATURA (ano de 1999^;;;;;;;;;;;;;:;:;:;;::::;:::::::::::::: R$ ¿oo.


MMKíPRn AVULSO ' -l^ ~~~~

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NOVIDADE!
^ OSB
'.morta¡iciate da alma no "Fédon"~de ñ '
RS12

Sumario geral do livro: * 12'

PUBLICACÓES MONÁSTICAS
publicado or¡g¡na.mente na Franca
Place, da Abadía de Notre Dame dé Seot e biblio9^¡a do ¡rmáo FrarSs
T? TrapÍSta
ulo, tendo de dos
o apoio Nossabeneditinos
Sora doda Rio
^ude "i8™8" f¡ Uma iniciaSdo
^\sen "a«nga, em Sao
Lu* A.heriS>
Lu,s Alberto
PD°r muitos anos correspondente no bS f.
berto Rúas Santos, O. Cist., fo¡ o resoonsáS nf. JornaLfrancés "Le
JLfrancés Le Monde.
Monde". Padre
O hvro sai pela Musa Editora de Sao SE í Pí
í revlSao da obra-
de Janeiro (254 páginas) .'. . aU'°' em CoedlPao COf" a "Lumen Christi". do Rio
?,ALTÉRI° MEU MINHA ALEGRÍA osTwZ i R$ 25,00.

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- '994. ,15 pá9s. *„..„ P 'm Encon.ro, CuritWPR CIMBRA

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