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NÚCLEOS INTEGRALISTAS DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Depoimento de Arcy Lopes Estrella.


NÚCLEOS INTEGRALISTAS DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO
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Depoimento de Arcy
Lopes Estrella.
Documento cedido pela UFF

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE


INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
LABORATÓRIO DE HISTÓRIA ORAL E ICONOGRAFIA

Entrevista de Arcy Lopes Estrella (E 118)

1ª Sessão:

Fita 1 - Lado A
Márcia: Hoje, dia três de setembro de 1998. Estamos aqui na casa do Senhor Arcy
Lopes Estrella, em Rio do Ouro, no município de São Gonçalo. O Senhor Arcy foi, e
ainda é, um militante integralista. O senhor continua sendo militante integralista?
Arcy: Continuo.
Márcia: Senhor Arcy, vamos começar primeiro pelo seu nome todo:
Arcy: Meu nome é Arcy Lopes Estrella.
Márcia: Sua data de nascimento?
Arcy: Vinte e quatro de junho de 1917.
Márcia: Local de nascimento.
Arcy: Rio Bonito, estado do Rio de Janeiro.
Márcia: Gostaria que o senhor dissesse também o nome dos seus pais.
Arcy: Nome dos pais é: filho de Avelino Lopes Estrella e Joaquina Clara da
Conceição.
Márcia: Local de nascimento dos pais do senhor?
Arcy: Também Rio Bonito, todos naturais de Rio Bonito.
Márcia: O senhor lembra da data de nascimento deles?
Arcy: Não, da data de nascimento não me lembro assim... Só vendo os documentos
certos.
Márcia: O que faziam seus pais em lá Rio Bonito quando o senhor era criança?
Arcy: Eram agricultores. Eram lavradores.
Márcia: Eles possuíam terras ou trabalhavam...?
Arcy: Trabalhavam por conta própria. Eram pequenos proprietários.
Márcia: Eram pequenos proprietários. Eu queria que o senhor falasse o nome dos
irmãos do senhor.
Arcy: Meus irmãos: o mais velho é Ezequiel Lopes Estrella, Alcebíades Lopes
Estrella. José .... São tantos que a gente não sabe... Antônio Lopes Estrella, já
falecido, todos já falecidos. Anair Lopes, Anadir, Modesto, [a esposa, nesse
momento, o ajuda a lembrar] Ariel e Anair. Isaquiel [ou Esequiel] Lopes Estrella.
Márcia: São sete irmãos.
Arcy: Sete irmãos.
Márcia: E algum vivo, tem?
Arcy: Tem. Vivos estão: Anair, Ariel, Alcebíades.
Márcia: Ariel é nome de homem?
Arcy: É, aliás é o mais novo, mora aqui pertinho, é meu vizinho.
Márcia: Eu queria que o senhor falasse um pouco agora sobre sua infância lá em
Rio Bonito. Como foi?
Arcy: Lá em Rio Bonito, inicialmente... eu convivi em Rio Bonito até 15 anos de
idade. Lá estudei, fiz o curso primário, terminei o curso primário. Porque aos 15
anos de idade fui para tentar a vida na cidade do Rio de Janeiro, onde fui trabalhar
no comércio, e aí encontrei com a minha segunda família: fui para a Ação
Integralista Brasileira, passei aí a viver, a conviver, onde aprendi a cantar o Hino
Nacional, que até então não sabia. Passei conviver com os integralistas levando uma
vida nova. Até mais ou menos a data do fechamento da Ação Integralista Brasileira
que se deu em dez de novembro de 1937.
Márcia: Então, o senhor veio para a cidade, a capital do Brasil, na época, aos 15
anos.
Arcy: É, aos 15 anos.
Márcia: Para estudar?
Arcy: Para estudar, no Rio de Janeiro.
Márcia: E veio sozinho?
Arcy: Vim sozinho. Lá me empreguei, vim trabalhar no comércio.
Márcia: Mas a família que mandou o senhor ou foi uma decisão só do senhor?
Arcy: A família morava lá no interior. Saí por conta própria, dispensado pela
família, pelos pais. Arranjei um empreguinho no comércio e fui trabalhar lá no Rio
de Janeiro e conviver em casa de estudantes.
Márcia: Morou em casa de estudantes. Em que bairro o senhor morava no Rio de
Janeiro?
Arcy: Inicialmente morei em Ipanema e depois no Catete. Foi no Catete que, no
núcleo de Laranjeiras, foi que eu fiz meu compromisso integralista. Assumi o
regulamento integralista em 1936, em março de 1936.
Márcia: O contato com o Integralismo foi antes disso, então.
Arcy: O contato foi anteriormente. Quando eu ingressei na Ação Integralista, núcleo
de Ipanema, lá os atendentes mandaram que eu freqüentasse o núcleo, se era jovem,
era estudante, que eu freqüentasse quantas vezes quisesse por semana e até tomar
consciência, entender a doutrina, entender o movimento, o que era o movimento...
Então, eu passei a freqüentar todas as semanas, duas vezes por semana, a Ação
Integralista Brasileira, no núcleo de Ipanema, à Rua Visconde de Pirajá, 272. Ainda
me lembro.
Márcia: 272?
Arcy: É, Rua Visconde de Pirajá, 272. Era um quarteirão grande, prédio na frente e
nos fundos tinha um quintal grande. Ali, no quintal que a gente fazia exercícios de
ordem unida e fazia concentrações. Um dia por semana fazíamos reuniões
doutrinárias, com muitas famílias, muitos jovens.
Márcia: Em que ano?
Arcy: Isso foi em 1935, um ano depois, em 1936, mudei-me para o Catete. Lá no
Catete, então, trouxe uma carta de transferência do núcleo de Ipanema para o núcleo
de Catete, para a Rua das Laranjeiras, número trezentos. Quem era o chefe do
núcleo era o Doutor Rocha Vaz. Ouviu falar no Doutor Rocha Vaz? [pergunta para
um antigo militante, o Senhor Rubens Barcellos (Rubens) que acompanha o
depoimento. O Senhor Rubens nega conhecer o Doutor Rocha Vaz]. Rocha Vaz?
Chegou a conhecer? Não? Ele era um dos chefes da Comissão nacional, da Câmara
dos quarenta.
Márcia: Ouvi falar.
Arcy: Doutor Rocha Vaz era médico, era médico... Foi aí que eu prestei meu
juramento e passei, então, a vestir a camisa verde. Marcaram lá uma noite, eu e
vários jovens, vários rapazes, ingressamos, comparecemos todos já uniformizados,
com camisa verde e prestamos nosso juramento à noite, numa sessão solene. Daí,
passamos a freqüentar o núcleo todas as semanas, duas vezes por semana. Aos
domingos, quase sempre, a gente fazia excursões lá no Corcovado, Campo de
Santana, vários bairros da Guanabara. Fazíamos excursões, dávamos ordem unida...
Permanecemos até 1937. Dez de novembro de 1937 foi que houve aquele decreto do
Estado Novo, do Getúlio, que fechou todos os partidos políticos, inclusive a Ação
Integralista Brasileira. Então, passamos, a partir de então, a nos reunir secretamente
nos núcleos. A polícia não deixava, não permitia reunião pública. Então, nós
passamos a nos reunir secretamente. Até mais tarde, quando se deu aquele
movimento de onze de maio, o levante lá em Laranjeiras. Foi aí que passamos a
conviver ocultamente.
Márcia: Senhor Arcy, sobre as reuniões de Ipanema e as reuniões que o senhor
participou depois. Como eram essas reuniões?
Arcy: Essas reuniões eram reuniões doutrinárias, se reuniam muitas famílias, havia
prestação de contas e cantávamos o Hino Nacional em todas as reuniões.
Márcia: Quando vocês cantavam o Hino Nacional, vocês cantavam o Hino
Nacional todo? As duas partes do Hino Nacional?
Arcy: Não. Cantávamos sempre a primeira parte.
Márcia: É, minha avó também falava isso.
Arcy: Nós não acreditávamos em “deitado eternamente”. Não era conosco! Nós
então cantávamos sempre a primeira parte do Hino Nacional. Achávamos muito
mais brasileiro, muito mais patriótico... E cantávamos sempre a primeira parte.
Tanto é, que eu nem sei, eu nem conheço a segunda parte do Hino Nacional. Tenho
assim por escrito.
Márcia: Vocês abriam a reunião com o Hino Nacional...
Arcy: Com o Hino Nacional, então, o presidente dava a palavra ao orador da noite,
que era o pregador, isso era dado sempre aos oradores. Nessa época era Belmiro
Valverde, chefe da Província da Guanabara. O Doutor Belmiro Valverde. Os nomes:
Doutor Raimundo Barbosa Lima, Doutor Rocha Miranda, Doutor Gustavo
Barroso...
Márcia: Vocês conviviam, então, com a elite do Integralismo.
Arcy: Aqui e em todas as áreas. O Integralismo era da Nação.
Márcia: Eu estou falando que nesse núcleo de Ipanema havia pessoas...
Arcy: Nessa época, na Ação Integralista da Guanabara havia muitos núcleos. Tinha
Núcleo de Ipanema, Núcleo de Copacabana, Núcleo de Botafogo, Núcleo das
Laranjeiras, Núcleo Nacional, que funcionava na Rua Sachet, no centro da cidade.
Márcia: Qual Rua?
Arcy: Rua Sachet.
Márcia: Onde fica essa Rua?
Arcy: Sachet, ali perto da Praça XV. Uma assim, Rua transversal. Ali era Rua
Sachet.
Márcia: Ainda existe essa Rua?
Arcy: Ainda existe.
Márcia: Com esse nome?
Arcy: Com esse nome. Uma Ruazinha pequena ali entre a Primeiro de Março e Av.
Rio Branco. Uma Ruazinha pequena. Ali funcionava também a redação do jornal “A
Offensiva”, um jornal da Ação Integralista Brasileira.
Márcia: O editor era Madeira de Freitas.
Arcy: Madeira de Freitas, que era o diretor!
Márcia: Ele tinha um outro nome com o qual ele escrevia crônicas para um jornal
de Olavo Bilac que era Mendes Fradique, tinha um pseudônimo.
Arcy: Isso mesmo! Ali funcionava o Núcleo Nacional no número 67. Em frente
funcionava a Oficina de Redação do Jornal “A Offensiva”. Então, esses núcleos,
cada uma vez por semana se reuniam e convidavam um orador da noite, um
pregador, uma espécie de um sacerdote que pregava sobre a doutrina, falava sobre a
doutrina. Também as comemorações nacionais. Nós comemorávamos as das datas
nacionais: Independência do Brasil, a História do Brasil, Proclamação da República,
sobre a data do Trabalho. Todas as datas nacionais eram lembradas nessas reuniões
nacionais que a gente fazia, nas reuniões de núcleos. Aos sábados e domingos é que
era a formação das milícias, nós treinávamos ordem unida. Fazíamos apresentar,
fazíamos exercícios militares. Porque a Ação Integralista Brasileira era uma
organização para-militar, era reconhecida pelo Exército. Eu estava vendo aqui o
registro do documento do movimento no Ministério do Exército.
Márcia: Vou ler aqui para registrar: “Ofício do Ministério da Guerra que aprova o
uniforme da Ação Integralista Brasileira: Ministério da Guerra – Armas da
República – Diretoria da Intendência da Guerra – Quinta seção – Capital Federal –
Em seis do sete de 1934 – No. 202 do Chefe da S. cinco – Ao Senhor Chefe da
Ação Integralista Brasileira. Assunto – Comunica aprovação de uniforme –
‘Comunico-vos que o Senhor Ministro da Guerra, por ato de vinte e dois de junho
do corrente ano, aprovou o uniforme escolhido por essa coletividade, conforme os
documentos por vós apresentados. a.) Tte. Cel. Atanásio Loureiro da Silva – Tte.
Coronel-Chefe.”
Arcy: Então o Movimento era um movimento regularizado e militarizado. Nós
tínhamos a maior parte de nossos militantes integralistas eram militantes da Marinha
e do Exército. Tínhamos vários generais que eram integralistas. O próprio General
Góis Monteiro era muito simpatizante da Ação Integralista Brasileira. O General
Newton Cavalcanti, que era o chefe do Estado Maior, chefe da Guarnição da Vila
Militar, General Newton Cavalcanti. O General Mourão Filho, que era o
comandante da Primeira Região Militar nessa época. A maioria de nossos militantes
eram militares. Sobre isso nós tínhamos...
Rubens: E aquele que foi presidente agora? Castello Branco.
Arcy: Castello Branco, não. Castello Branco nunca pertenceu ao Integralismo.
Naquela ocasião nunca participou. Também [incompreensível] em tudo de 1964
para cá. Assumiu a Presidência da República. Naquele Movimento de 1964. Nós
estamos na década de trinta.
Márcia: Caminhando.
Arcy: Caminhando para trás.
Márcia: Eu gostaria de retornar ao Núcleo de Ipanema. Essas pessoas que o senhor
falou. Essas pessoas importantes dentro do Movimento: Belmiro Valverde, Rocha
Miranda... Eles pertenciam a esse núcleo de Ipanema?
Arcy: Eles eram membros da Câmara dos Quarenta.
Márcia: Normalmente eles freqüentavam o Núcleo de Ipanema ou iam só como
convidados especiais?
Arcy: Eram convidados especiais. Porque tinha o Núcleo Nacional. Eles eram
Membros Diretores da Ação Integralista Brasileira, no âmbito nacional . Havia uma
denominação de Câmara dos Quarenta. A Câmara dos Quatrocentos abrangia toda a
Nação. Eram Chefes de Província, Chefes de núcleos, Chefes de sub-núcleos.
Chefes de Província que funcionava nas capitais. Chefes de Núcleos, nos
municípios. Cada município tinha um Núcleo. A Ação Integralista Brasileira foi um
movimento político, podemos dizer, orgânico. Já nasceu com a alma orgânica, e se
organizou em toda a Nação. Nós tínhamos núcleo integralista até mesmo nas tabas
de índios. Tínhamos núcleo integralista nas colônias. Colônias alemãs, por exemplo,
lá em Santa Catarina, em vários municípios. E ali reuniam-se os alemães,
ensinávamos a língua portuguesa, ensinávamos a cantar o Hino Nacional. Tanto é
que, Santa Catarina foi o estado que mais Plínio Salgado foi votado para Presidente
da República, foi no estado de Santa Catarina, em 1955, quando ele concorreu à
Presidência da República. De forma que o Movimento Integralista não era um
movimento local, era um movimento nacional. Naquela época, o Brasil com cerca
de quarenta milhões de habitantes, nós tínhamos um milhão e meio de camisas-
verdes. Era um movimento nacional, e bem organizado e bem estruturado. Plínio
Salgado escreveu o Manifesto de Outubro em 1932, que agora vamos comemorar,
sete de outubro. E daí ele passou a viajar a todo o país, por toda a Nação. Só em
1935 foi que passamos a funcionar como Partido Político. Que até então nós éramos
associação educativa, associação cultural. Funcionávamos como associação cultural
e não como partido político. Em 1935 foi que passamos a funcionar como partido
político, para eleger candidatos. Daí o Partido Político. Um Congresso realizado em
Vitória, em 1935, demos então, caráter político à Ação Integralista Brasileira.
Márcia: O senhor lembra-se do mês de 1935 desse Congresso de Vitória?
Arcy: O Congresso de Vitória? Está escrito aqui: o Congresso de Vitória foi
realizado. Este livro aqui conta a história toda. Está aqui: o Estatuto que dá o caráter
político à Ação Integralista Brasileira. Foi no dia sete de março de 1935.
Márcia: Tornou-se Partido.
Arcy: Se deu no Congresso de Vitória. Aí foi que à Ação Integralista Brasileira já
estruturada, já organizada em todo o Brasil, foi dado o caráter político partidário à
Ação Integralista Brasileira, ou melhor: a Ação Integralista Brasileira se
transformou em partido político. Foi nessa época. Eram candidatos à Presidência da
República: Plínio Salgado, José Américo e Armando Salles de Oliveira. A Ação
Integralista Brasileira, nessa data, se transformou em Partido Político. Eram essas
pessoas candidatas à Presidência da República. Realmente, se as eleições se
realizassem no dia três de janeiro de 1938, conforme estava programada, não tenho a
menor dúvida que Plínio Salgado seria o Presidente da República. Porque era o
único Partido Nacional.
Márcia: E a militância era importante.
Arcy: Naquela época havia partido mas de âmbito... estaduais. Cada estado fundava
o seu partido. Mas a Ação Integralista Brasileira era o único partido que se
organizou, já estava organizado, como associação e passou então a funcionar como
Partido Político no âmbito nacional. Por isso éramos um partido forte. Éramos um
partido orgânico. Éramos um partido que muita gente, muitos intelectuais, pessoas
ligadas à cultura ingressavam nesse partido por natureza cultural que já desde 1932
se manifestava.
Márcia: O senhor soube de uma viagem que Plínio Salgado fez à Itália em que ele
teve contato com Mussolini?
Arcy: Não. A viagem de Plínio Salgado à Europa e ao Oriente se deu em 1930. Foi
até uma viagem de estudos feita, muito antes da fundação da Ação Integralista
Brasileira. E nessa viagem que ele visitou a Alemanha, visitou a França, visitou a
Itália fazendo estudos políticos, sociais e políticos. Mas ele nunca simpatizou-se
com a doutrina do nazi-fascismo. Ele defendia fazer no Brasil, estabelecer um
regime, uma Democracia Orgânica. Porque o nazismo e o fascismo, que é sistema de
regimes, como o comunismo, eram ditaduras. O nazismo e o fascismo, de caráter
individual, de cima para baixo. O comunismo de caráter coletivo, internacional.
Agora, o corporativismo pregado pelo Integralismo subentendia a formação das
classes obreiras para agir politicamente na Nação. Por exemplo: as classes sociais
tinham já os grupos naturais, como a família, a profissão, a propriedade e o
município. Eram os quatro tripés que tínhamos na formação da doutrina integralista.
Com isso é que Plínio Salgado queria formar as corporações e formar o regime
integralista. Daí está o Manifesto de 1932. Está nas diretrizes de base integralista.
Está tudo escrito aqui, toda a programação. Então, essa visita que Plínio Salgado fez
a Europa em princípio, foi mais uma visita cultural. Inclusive ele visitou a Ásia,
onde Jesus Cristo nasceu... lá em Jerusalém, lá na Galiléia, toda aquelas regiões lá.
Foi um enriquecimento cultural. Ele estava com a sua formação política já
concretizada. Agora, politicamente, ele visitou líderes lá na Alemanha, visitou a
Itália também, várias outras nações, outros países, Portugal, Espanha. Mais para
enriquecimento cultural, conhecimento cultural, já que tinha planejado o sistema
político nacional que daria no Integralismo. A idéia de fundar o Integralismo deu-se
mais tarde, por ocasião da Revolução Constitucionalista de São Paulo, em 1932. E
ele era contra aquela revolução. Ele foi contra aquela Revolução. Uma vez
fracassada a Revolução chefiada por São Paulo, que era contra a posse de Getúlio
arbitrariamente, conforme se deu, em 1930. Houve eleições livres e elegeu-se
Presidente da República Júlio Prestes, por São Paulo, governador de São Paulo.
Getúlio não se conformou com a vitória de Júlio Prestes e, aliado à Terceira
Internacional e aos comunistas, foi que se deu aquela marcha do Rio Grande do Sul
para o Rio do Janeiro e no Rio de Janeiro depuseram Washington Luís que era,
então, o Presidente da República. Os paulistas não se conformaram com esse Estado
arbitrário, da tomada do Governo pelo Getúlio e deposição de Washington Luís e
então se reuniram em São Paulo para combater a Constituição que se haviam
implantado no país. Eles preferiam a Constituição anterior. Daí que se deu a
Revolução de 1932, em São Paulo. Revolução essa que durou três meses. Perdida a
revolução paulista foi que Plínio idealizou a fundação da Ação Integralista
Brasileira. Em 1932, março de trinta e dois.

Fita 01 - Lado B
Arcy: Mas em face da Revolução, houve conselhos para que Plínio não fizesse o
lançamento naquela data. Fracassada a Revolução, então houve o lançamento do
Manifesto da Ação Integralista Brasileira, em sete de outubro de 1932, na Praça da
Sé, em São Paulo com uma concentração de vários intelectuais, vários estudantes,
muitos estudantes. Ali se deu um grande manifesto e um choque entre comunistas e
integralistas, que até houve gente ferida, houve gente morta naquela data. Daí
começou a Ação Integralista Brasileira.
Márcia: Antes havia a SEP, a Sociedade de Estudos Políticos.
Arcy: A Sociedade de Estudos Políticos já funcionava há vários anos. A Sociedade
funcionava na Praça da Sé, em São Paulo, a Sociedade de Estudos Políticos. Daí
também surgiu a idéia de se fundar a Ação Integralista Brasileira.
Márcia: O senhor se lembra o nome desses intelectuais fundadores?
Arcy: Não me lembro, assim, dos principais fundadores, mas dentre eles estava o
Professor Miguel Reale. Estava o professor, genro de Plínio Salgado, também, o
nome dele era Loureiro Júnior.
Márcia: Gustavo Barroso também?
Arcy: Gustavo Barroso, mais tarde foi que ingressou, depois de fundada a Ação
Integralista Brasileira, foi que ingressou Gustavo Barroso na Ação Integralista
Brasileira no Rio de Janeiro, ele foi até o Chefe Nacional de Doutrina da Ação
Integralista Brasileira.
Sobre as atividades integralistas em São Paulo nós não estávamos muito... Naquele
tempo eu era muito jovem, lia pouco sobre esse Movimento e conhecia mais o
Integralismo no Rio de Janeiro, que passou a se desenvolver a partir de 1932. Eu
mesmo não tive contato, nessa época, até 1935, depois que eu vim me encontrar com
a Ação Integralista Brasileira, conforme disse, no Núcleo de Ipanema, ali foi que eu
ingressei, ingressei civilmente. Dado meu entusiasmo de jovem, quis logo me
inscrever, me filiar ao partido, mas os atendentes me aconselharam que eu devia
freqüentar a sede quantas vezes quisesse, sem compromisso algum. Depois que
conhecesse a doutrina, conhecesse o Movimento, que eu atestaria, então, o meu
juramento. Então eu freqüentei de trinta e cinco até... durante todo o ano. No final do
ano foi quando eu me mudei para o Catete, conforme disse, e prestei meu juramento
no Núcleo de Laranjeiras, com Doutor Rocha Vaz. Daí foi que eu passei a conhecer
o Movimento Integralista. Até então eu não conhecia, nada conhecia sobre o
Integralismo.
Márcia: Doutor Rocha Vaz era médico?
Arcy: Era médico.
Márcia: E essas pessoas que participavam do Integralismo, quais as profissões mais
comuns aqui na cidade do Rio de Janeiro?
Arcy: Na cidade do Rio de Janeiro, mais comuns eram: Doutor Madeira de Freitas...
Márcia: Que era médico também.
Arcy: Não.
Márcia: Era médico
Arcy: Médico. Foi o diretor e fundador do jornal “A Offensiva”, Madeira de Freitas;
Doutor Lanare; Rocha Miranda...
Márcia: O senhor lembra das profissões deles?
Arcy: Advogados, O Doutor Lanare era advogado. Rocha Vaz era médico. Muitos
deles...
Márcia: As profissões eram diversificadas? Tinha muita gente que participava?
Arcy: Muita gente participava. Nessa altura cada bairro tinha seu núcleo. Se reunia
nos seus núcleos. Tinha o Núcleo Santo Antônio.
Márcia: O Santo Antônio era onde?
Arcy: Funcionava na Rua da Constituição, no Centro da cidade. Nesse Núcleo o
chefe dele era Luís Carlos Machado, diretor, então, da Rádio Tupi, naquela época.
Era o chefe do núcleo Santo Antônio.
Márcia: Esse Carlos Machado era aquele que trabalhava em teatro?
Arcy: Isso mesmo.
Márcia: Era o pai de Djenane Machado, ou avô, uma atriz da televisão?
Arcy: Não cheguei bem a tomar conhecimento de sua família. Tinha também o
Núcleo da Gamboa, funcionava ali na Gamboa, naquela Rua principal, onde
funciona hoje a Rádio Tupi. Vários núcleos. Cada bairro tinha um núcleo que
funcionavam com independência.
Márcia: E quantas pessoas participavam geralmente desses núcleos?
Arcy: Geralmente as reuniões nos núcleos eram sempre cinqüenta, sessenta. As
sedes e os salões enchiam de gente. Nessa época o núcleo funcionava sempre com
bastante assistência porque eram reuniões de família. Não eram reuniões políticas
conforme hoje se fazem lá nas sedes políticas, juntam aqueles grupos de homens.
Não, naquele tempo eram reuniões de famílias. Eram donas de casa que se reuniam
com seus filhos e participavam dos núcleos. Como se a sede integralista fosse uma
igreja. Tem na simbologia: a Igreja e o núcleo integralista. Porque ali se reuniam não
era aula de Faculdade, assuntos partidários, não. Nem candidaturas, nem serviço
eleitoral, nem coisa nenhuma, não. Eram pessoas que se reuniam, as mulheres se
reuniam para estudar arte culinária, para estudar assuntos ligados ao lar, assuntos
ligados à família, a educação dos filhos. Então, a finalidade dessas reuniões era toda
versátil a esse problema da família. O pensamento de Plínio Salgado, eu não
conheço na história do Brasil, um homem que tenha um pensamento tão alto,
místico, com relação à estabilidade da família. Tanto é que nos grupos naturais que
ele prega, que ele fala: o primeiro de todos é a família; o segundo, a profissão; o
terceiro, a propriedade e o quarto, o município, ele diz que o município é uma
sociedade de famílias. O município é uma sociedade de profissionais, o município é
uma sociedade de proprietários. O conjunto desses valores é que forma o pedestal do
município. Então, no município, em vez de se eleger vereador do partido do PMDB,
do PTB, do partido A, B, C ou D, elegeria candidatos chefes de família, donas de
casas, candidatos operários, candidatos sapateiros, o médico, o advogado, o
engenheiro, o militar, o civil. Então, a prerrogativa da representação política no
Integralismo era exatamente o corporativismo. Nós estávamos substituindo os
valores políticos, partidários para os valores das classes obreiras, que formariam o
município. Então, o eleitor elegeria o Conselho Municipal, os conselheiros
municipais, entre si, eleitos, escolheriam o prefeito e o Presidente da Câmara, daí a
independência e autonomia municipal. O município seria autônomo. Não teríamos
essa humilhação de andar com pires na mão atrás de governadores, nem atrás de
deputados federais pedindo ajuda para o município. Então, dizia Plínio Salgado, o
eleitor votaria no vereador, votaria no deputado estadual ou provincial, no deputado
federal, Senado da República. Os eleitos elegeriam, o que é importante colocar aqui,
os eleitos elegeriam o seu presidente, o prefeito, o governador da província e o
Presidente da República. Então, Plínio Salgado, ele pretendeu ser Presidente da
República, não por eleição movimentada pelos partidos políticos, mas pelas
corporações. Tanto é que, ele preparou, no início da fundação da Ação Integralista
Brasileira, primeiro, criando, organizando a nação como sociedade, conforme
falamos aí, Sociedade dos Estudos Políticos, e criando núcleos nas comunidades:
núcleo provincial, nas capitais; núcleos municipais, no município; núcleos distritais,
nos distritos. E assim, nós fomos espalhando por todo o Brasil esses núcleos. E só
depois, da sociedade organizada nacionalmente foi que os integralistas tentaram
transformar a Sociedade em partido político, porque para se eleger, para se votar
precisaria que fosse partido político para poder eleger candidatos à Presidência da
república, a deputados, a senadores, a prefeitos etc. Então, em síntese, o nosso
movimento era corporativista. Atualmente, muitos companheiros chegam e dizem
assim: “Estrella, vamos fundar o Partido Integralista.” Eu digo assim: “Mas o
Partido Integralista já está fundado, já está legalizado, por que fundar mais partido?”
“Ah, mas o Integralismo foi fechado por Getúlio Vargas em 1937.”
“Não, extinto pelo Estado Novo em 1937. Tendo a Carta Outorgada em dez de
Novembro de 1937, esta Carta caiu em 1945. Em 1945 voltou a normalidade política
do país. Ora, se voltou a normalidade política do país em 1945, por que não
recomeçarmos a vida integralista como ela era? O povo está aí, as classes estão aí, a
História está aí, os livros estão aí, toda a escrita em toda a forma. Então, em vez de
ficarmos de aventurinhas por aí, fundando partido A, partido B, partido C, esse
carnaval de partidos políticos, que nada resolve para a nação. Quando mais fundam
partidos políticos, mais o Brasil se afunda nesse caos, nessa bagunça, nessa anarquia
que nós vivemos no dia de hoje. Que o próprio presidente da República não tem
estabilidade orgânica. Está sujeito a qualquer momento cair por um golpe de Estado,
por um golpe político nacional, de movimentos sociais. Então é que nós entendemos
que a melhor forma é se voltar à mesma caminhada. Há um velho ditado que diz:
“quem volta para trás não erra caminho”. Então, se o Integralismo era bom, por que
não voltemos novamente à Ação Integralista Brasileira?”
Nós não somos contra o homem. Quando falam que: Lula, Brizola, Fernando
Henrique, A, B, C, para nós, são todos iguais. Eles são políticos, são candidatos, tem
seus partidos políticos. Procuram sempre laurear a sua programação política. Mas,
nós temos uma doutrina. Nós não temos apenas uma programação política. Os
partidos, o máximo que conseguiram foi criar programas, programas temporários.
Mas nós, integralistas, temos uma doutrina, uma doutrina filosófica, uma doutrina
social, uma doutrina orgânica. Então, por que nós não prosseguimos? Nós temos o
exemplo na sociedade, como Igreja Católica, que nasceu há dois mil anos e nunca
fracassou. Foi combatida, mas nunca fracassou, nunca terminou, nunca parou. Por
que nós integralistas, que somos um ramo da Doutrina Social da Igreja vamos parar?
Seria covardia para nós, parar nessa altura. Nós temos grandes elementos aí
integralistas, inclusive estou esperando o Doutor Gumercindo Rocha Dórea, que é
editor dos livros de Plínio Salgado, que vem aqui, dentro de poucos dias, em data a
ser marcada, para se entender comigo para fundarmos um Partido Político, ou aderir
a um Partido Político. Já disse, por telefone, que não há condições para isso. Se eles
escreveram a Doutrina e a política de Plínio Salgado, se levaram para os livros tudo
aquilo que foi feito, nesses sessenta e seis anos de existência do Integralismo, não
como organização, mas como doutrina, se tudo isso que foi escrito, se tudo isso que
foi dito é verdade, eu não sei por que agora temos que bandear para outros lados. Já
tivemos erros graves! Eu disse ao Rufino do jornal “Voz do Oeste” há poucos dias
numa carta, se quando foi fundado o Partido de Representação Popular pelo “Seu”
Raimundo Padilha, em 1945, eu tivesse a idade que tenho hoje, e tivesse a
experiência que tenho hoje, tivesse estudado o Integralismo como já estudei, eu não
ingressaria no Partido de Representação Popular. Eu não seria candidato a cargo
eletivo, como fui no Partido de Representação Popular e em outros partidos. Porque
reconheço, hoje, que foi um grande erro esse negócio de parar com a Ação
Integralista Brasileira. Outro erro que eu não entendi: Plínio Salgado, vindo do
exílio, em 1945, de Portugal, onde foi manobrado pelo Estado Novo, onde foi
assediado por Getúlio Vargas que lhe convidava para participar do Estado Novo,
com o cargo de Ministro da Educação. Ele que resistiu a tudo aquilo, eu não entendi
por que Plínio Salgado, ao chegar ao Brasil, preferiu dar as mãos para Raimundo
Padilha num partido político, que chamou-se: Partido de Representação Popular. E
por que nós não reabriríamos os nossos núcleos? Depois que muitos dos nossos
companheiros morreram, foram sacrificados, depois que participaram de uma guerra
mundial. Com muitos de nossos companheiros sendo mortos nos navios fundeados
pelos alemães. Depois de tanto sacrifício como esse, cruzar os braços e preferir
descerrar uma bandeira política partidária com denominação diferente da Ação
Integralista Brasileira. Eu não entendi.
Rubens: O Supremo Tribunal Eleitoral disse que, em 1945, poderia abrir o
Integralismo.
Arcy: Poderia, poderia.
Rubens: Aliás, autorizou abrir.
Arcy: Está vendo, você também, velho companheiro entendia mais ou menos isso.
Estão aqui os registros feitos pelo Supremo Tribunal Eleitoral, a Ação Integralista
Brasileira registrada pela segunda vez, pela segunda vez. Por que nós vamos ser tão
liberais e esquecer o nome da Ação Integralista Brasileira, depois de tanto sacrifício
que tivemos. Eu, com meus vinte e um anos de idade, um dia, era sacristão na Igreja
da Glória, ajudava missa, lá no Catete, de comum acordo com os sacerdotes, com os
padres, montava numa bicicleta, ia visitar as casas das famílias, cujos chefes
estavam em Fernando de Noronha presos pelo Estado Novo. Nós fazíamos
assistência às famílias. Até que um dia ao chegar em casa, um motorista, que eu
morava na casa deles, um baiano, chamava “Seu” Paixão, a senhora estava
preocupada, que o marido saiu para trabalhar de manhã e não havia chegado ainda à
noite. Eu então saí procurando pelo motorista, pelo Manoel. Fui nas delegacias. A
primeira delegacia que cheguei, foi na 9º Distrito, no Catete. Lá subi, perguntei pelo
Manoel. Me perguntaram, fui muito bem atendido pelos policiais: “Ele é político?”
Eu disse: “Eu não sei se é político. Sei que saiu de casa, está desaparecido e a
família está preocupada com ele. A mulher precisa do dinheiro para fazer o jantar,
sem ter dinheiro para comprar o material para se alimentar. Cinco filhos pequenos.”
Então o policial disse assim: “Olha, vá na Rua da Relação, Polícia Central, se ele for
político ele está preso lá.” Eu então, trepei na bicicleta e parti para a Polícia Central.
Na Polícia Central fui atendido pelo Major Denir, comandante lá da Polícia Central.
Fui muito bem atendido: “Ele está preso aí, mas está incomunicável”. Eu digo: “O
que nós podemos fazer? O que eu vou dizer à família?” O Major disse assim: “Não
sei o que vai fazer.” Eu disse assim: “Eu não podia trazer a senhora aqui para
conversar com o senhor sobre a prisão do marido?” “Pode trazer.” Então, peguei a
bicicleta e saí direto para a casa do Manoel, lá, então, dei notícia do Manoel. Trouxe
a mulher à presença do major com todos os cinco filhos, eram cinco meninas que
freqüentavam a nossa igreja. Daí, ele atendeu a mulher, deu notícia à mulher,
apresentou a mulher ao marido que estava preso lá, numa grade, numa portilhozinha
de ferro, sem se comunicar. Ele disse para Dona Olívia: “Olha, se ele nada tiver,
hoje à noite vou ouvi-lo em cartório. Se ele não tiver nenhuma cumplicidade, eu,
então, o liberto. Amanhã, às oito horas da manhã ele chegará em casa.” Bem, saímos
dali, fomos para casa, no outro dia seguinte Manoel chegou em casa. O major o
libertou. Mas a polícia passou a me seguir. Passei a ser seguido. Na noite seguinte,
há uma hora da manhã, eu dormia lá no porão, tocaram a campainha. Olhei pela
grade, era uma ladeira que a gente morava, lá vi que era o carro da polícia. Eu já
tinha planejado o que tinha que fazer, caso fosse perseguido pela polícia. Isso, um
ano depois da revolução de onze de maio de 1938. Isso foi já, em meados de 1939.
A polícia estava lá, tentando entrar na casa. Então botei uma calça em cima do
pijama, um paletó, uma certidão de nascimento no bolso, mil e duzentos réis de
dinheiro, que tinha no bolso. Saltei, escalei o muro, e fugi pelos fundos da casa.
Sabe para onde eu fui? Fui para a Vila Militar. Ali sentei praça como voluntário no
Exército, com vinte de dois anos de idade. Três dias depois eu já era soldado. Eu era
soldado e vinha para o Catete visitar o pessoal. Primeira casa que eu cheguei foi
visitar a igreja, a Igreja do Largo do Machado, que era a igreja onde a gente
trabalhava, mantinha contato com os padres, os sacerdotes eram todos integralistas.
Os sacerdotes se assustaram quando me viram fardado. Sentei praça no Regimento
Andrade Neves na Vila Militar, na Escola de Cavalaria. Pois bem, então eu pergunto
à senhora o seguinte: depois desse sacrifício todo, me mandar para um partido
liberal qualquer? Que não fazem nada em favor da nação, não fazem nada em favor
do povo? Ficar pulando de partido em partido, para ser candidato a vereador, a
deputado e fazer o que fazem os liberais que não resolvem nada para a Nação
brasileira? Hoje nós somos uma população de 160 milhões de habitantes, a maioria
empobrecida e desempregada, vivendo essa situação. Quando a gente conhece, sabe
perfeitamente o segredo da História. O assunto, a solução está no Integralismo, na
Ação Integralista Brasileira. Esse é o nosso caminho que virá mais hoje ou mais
amanhã. Pode demorar um ano, dois anos, três anos. Mas um dia a Ação Integralista
Brasileira voltará. Voltará porque: eu acredito na juventude. Eu mantenho contato
com muitos jovens no interior: São Paulo, Rio Grande do Sul... Está aqui o meu
protocolozinho, a minha correspondência. Aí no Boletim mesmo estão as
correspondências que eu recebo dos jovens lá do interior. Já temos grupos de
nacionalistas fundados...

Fita Nº 2 - Lado A
Arcy: Já não podemos esperar, portanto... Mas, um dia, essa meninada ressurgirá e o
movimento estará de pé, outra vez, com a gloriosa bandeira do Sigma.
Rubens: Com a participação...
Arcy: Com a participação e ajuda da nossa grande jornalista.
Márcia: Historiadora. Então, vamos voltar um pouquinho à Doutrina. O senhor
conhece bastante a Doutrina. Quanto à origem dessas pessoas que participam e
participavam do Integralismo. A origem social? Qual o critério?
Arcy: Geralmente a origem desses participantes é gente estudiosa. Professores,
médicos, advogados, jornalistas. Eles estudam, estudaram o problema, estudaram o
programa da Ação Integralista Brasileira e resolveram, então, ingressar na Ação
Integralista Brasileira. Conforme nós temos a história. Hoje, a juventude pouco
conhece e é um grande mal. Por isso, eu sou contra esse negócio de estar mudando
de nome. Ora é União Operário-Camponesa, outra hora é Cruzada de Renovação
Nacional, outra hora é Confederação da Juventude. Essas denominações fazem com
que se esqueça da principal obra que é a Ação Integralista Brasileira. A Ação
Integralista Brasileira não pode ser esquecida. Geralmente, as pessoas estudiosas é
que vão buscar nos livros o que está escrito sobre a Ação Integralista Brasileira. Os
próprios professores, muita gente assim, os próprios professores em escola não
ensinam aos estudantes, não falam sobre a história. Ora, os professores da escola não
ensinam o Hino Nacional à nossa juventude. Se vê aí jovens, os rapazes que não
sabem nem cantar o Hino Nacional. Se esqueceram da História do Brasil. Se
preocuparam com o futebol, se preocuparam com o carnaval. Se preocupam com as
coisas supérfluas da vida e se esquecem das coisas nobres, da causa que é a nossa
História. Então, por isso, é que a nossa juventude não conhece a Ação Integralista
Brasileira. Mas eles estão chegando, estão aprendendo. Aqui mesmo, nós estamos
nos reunindo uma vez por mês, fazendo nossas reuniões como era antigamente. Lá
em Belo Horizonte também tem outro núcleo que funciona. Lá em São Paulo tem
outro núcleo que funciona, com denominações diferentes, sim, mas, estão
funcionando. Agora, eu prego que devemos unificar todos esses grupos e reabrir a
Ação Integralista Brasileira. Nós estamos nos preparando para isso. Para um
Congresso que brevemente devemos realizar em Brasília, um Congresso Nacional,
para unificar todos os Centros Culturais para reabrir a Ação Integralista Brasileira.
Márcia: E quanto assim, pessoas de todas as raças podem participar? É aberto para
todos?
Arcy: Publicamente.
Márcia: Publicamente. Não tem preconceito?
Arcy: A participação, tudo é público.
Márcia: Agora, o senhor fala da Doutrina, que a Doutrina é muito importante. O
senhor acha que essa ideologia integralista é bem entendida pelas pessoas que
participam, ou as pessoas entram porque é interessante... Ou... elas conseguem
captar a Doutrina integralista?
Arcy: Conseguem. A doutrina integralista só pode ser bem assimilada e
compreendida com a freqüência. Nós temos aqui um grupo no Rio do Ouro que já
mantém esse “espírito integralista”. Nós costumamos dizer que muita gente é
integralista e não sabe. São integralistas. Um bom chefe de família é um bom
integralista. Um bom profissional no emprego é um bom integralista. Então, todas as
pessoas assimilam, é questão de freqüência, é questão de organização. Quando se
organizarem em grupos, para cada classe defender a sua classe, como fazíamos
antes, aí nós teremos a assimilação e compreensão geral da doutrina.
Márcia: O senhor poderia nomear as qualidades de um bom integralista?
Arcy: As qualidades do integralista: um bom profissional é um bom integralista; um
homem que é um bom funcionário público, que comparece nos horários de
repartição e no programa de freqüência ao trabalho é um bom profissional, é um
bom integralista. Um chefe de família, um bom chefe de família, o homem que
cuida da esposa, o homem que cuida dos filhos, que pensa na vida da família, esse é
um bom integralista. Nós temos aqui nesse livro de Dona Maria Amélia Salgado
Loureiro, filha de Plínio Salgado, um slogan diz assim: “Não pense no que a Pátria
deve fazer por você, mas o que você faça pela Pátria.” Uma coisa assim. Está nesse
livro. “Não peça o que a Pátria deva fazer por você, mas no que você deva fazer pela
Pátria.” Isso está publicado naquele livro: O Integralismo: síntese da doutrina
política e doutrinária de Plínio Salgado (sic). Então, as qualidades da juventude são
exatamente essas. Um bom profissional para nós. Tudo é pelo homem, nada é sem o
homem. O homem para nós, nessa altura, nem mesmo os comunistas, que pertencem
à uma corrente materialista, nem mesmo eles nós dispensamos, desde que eles se
tornem bons cidadãos, bons brasileiros, bons patriotas, bons chefes de família, bons
cumpridores de seus deveres. Então, para nós, a base é o homem. Nós temos na
História, pessoas que foram más e que depois se tornaram boas. Na História vemos
muitos fatos assim: uns que erram e depois acertam. Esse é o problema.
Márcia: Senhor Arcy, outra coisa importante, o senhor, então, sentou praça aos
vinte e um anos e quando o senhor deixou o exército? Em que época?
Arcy: Eu nunca deixei o Exército, que eu saí do Exército reformado.
Márcia: Chegou a algum posto...?
Arcy: O que aconteceu foi o seguinte: em 1939 que eu ingressei para o Exército.
Um ano depois eu era aluno da Escola de Cadetes, da Escola Militar. Consegui
algumas amizades com o comandante lá de meu Regimento e ele me matriculou. Eu
vivia com os livros na mão estudando e praticando. Ele me matriculou na Escola do
Realengo. Mas, eu longe da família. Chegando os fins de semana, fim do
expediente, os soldados iam para as suas casas, os alunos iam para as suas casas e eu
ia para o quartel dormir. A minha casa, onde eu tinha que dormir era no quartel.
Então, eu já era aspirante, já estava militar, já tinha dois anos já como soldado. Ia
para o quartel dormir. No outro dia seguinte eu me apresentava na Escola do
Realengo outra vez. Minha escola era a Escola de Cavalaria. Mas, um domingo, eu
estava no quartel, de camiseta, short, uniformizado e o oficial de dia me chamou
para fazer uma construção no campo de esporte, disse: “Corre lá na garagem, me
chama o motorista e convoca um grupo de soldados e venha para carregar areia lá da
Estrada Rio-São Paulo para a construção do campo de basquete.” Eu então saí,
convoquei os soldados, mandei tirar o caminhão da garagem, com ordem do oficial
de dia e fui à sessão e convoquei dez homens, botei no caminhão e fui carregar areia.
Quando regressei, o chofer parece que não estava lá muito satisfeito com o serviço, e
saiu pela estrada, lá numa curva, o caminhão capotou e me caiu por cima, me
quebrou a perna. Me quebrou a perna esquerda, fiquei com a perna presa embaixo,
parado. Naquele tempo, os caminhões tinham aquele estribo. Fiquei com a perna
presa embaixo do caminhão. Os soldados, nenhum deles se feriram, porque foram
todos jogados fora... Mas, levantaram o caminhão, e tentaram me tirar debaixo do
caminhão. Não podia mais me levantar, estava com a perna quebrada. Aí, fui
socorrido, fui para o Hospital Central do Exército, tive um ano e pouco, tanto é que
não fui para a guerra por causa disso. Foi no tempo da guerra. Em 1941 que saiu o
primeiro esquadrão dos brasileiros para irem para guerra eu estava machucado no
Hospital do Exército. E fui julgado incapaz para o serviço militar. Me reformei
como sargento.
Márcia: Quantos anos o senhor, então, tinha nessa época?
Arcy: Eu tinha vinte e três anos já. Sentei praça com vinte e dois anos. Fui julgado
incapaz para o serviço militar com vinte e quatro anos. Então, não saí mais do
Exército. Vim para a vida civil, depois fiz concurso público, ingressei no Serviço
Público.
Márcia: Trabalhando como? Em que setor?
Arcy: Eu trabalhei no Ministério da Educação, ainda no Governo Getúlio Vargas.
Foi Getúlio Vargas que me nomeou para o Ministério da Educação e Saúde.
Márcia: Qual o seu cargo?
Arcy: Era escriturário.
Márcia: O senhor tinha feito curso antes?
Arcy: Tinha feito curso. Fiz curso. Minha vida sempre foi estudando. Se bem que o
curso superior mesmo, só fiz depois de velho.
Márcia: Então tornou-se escriturário quando tinha vinte e quatro anos?
Arcy: Não, eu trabalhei no Ministério da Educação até 1953. Em 1953 foi fundado o
Ministério da Saúde, desmembrou-se a Saúde da Educação. Eu então passei para o
Ministério da Saúde.
Márcia: O senhor tinha vinte e quatro anos, então, quando ingressou no Ministério
da Educação?
Arcy: Não, quando eu entrei no Ministério da Educação já estava com vinte e seis
anos de idade. Foi em 1946 que eu ingressei no Serviço Público. Trabalhei trinta e
cinco anos no Serviço Público. Me reformei no Serviço Público outra vez. Sou
reformado no Exército e sou aposentado no Serviço Público. Em 1959 eu fundei a
União dos Lavradores do Estado do Rio de Janeiro.
Márcia: E por quê? Qual a ligação do senhor, que sempre viveu na cidade, com os
lavradores do Rio de Janeiro?
Arcy: Quando eu me casei com aquela moça que está ali. Ela tinha um problema de
coração. Foi julgada lá pelos médicos, que não podia operar, que não podia ter
filhos, não podia ter nada. Então, foi desenganada pelos médicos. Naquele tempo, o
tratamento de coração era coisa muito difícil, naquela época. Então, eu resolvi
comprar um sítio aqui no Rio do Ouro. Nesse sítio onde eu estou. Aqui vim fazer
uma plantação de laranja. Fiz uma plantação de laranja aqui. Cheguei a ter aqui,
nesse morro, cinco mil pés de laranjas. Trabalhando no Rio, no Ministério e
trabalhando aqui, com empregados. Levando atividade dupla. Foi nessa época que
eu fundei a União dos Lavradores do Estado do Rio de Janeiro.
Márcia: Eu fiz uma conta aqui, o senhor falou que entrou no Serviço Público em
1946. Então o senhor estaria com vinte e nove anos.
Arcy: Dá, mais ou menos com vinte e nove anos.
Márcia: E, entre o Exército e o Serviço Público, o senhor trabalhou em quê?
Arcy: Trabalhava no comércio. Voltei outra vez à vida de trabalhar no comércio,
como comerciário. Sempre estudando à noite, me preparando. Tinha hora que
trabalhava num lado, trabalhava em outro e assim por diante.
Márcia: O senhor casou-se com quantos anos de idade?
Arcy: Casei-me com trinta e um anos.
Márcia: A sua esposa? O nome dela?
Arcy: Alcina Ferreira Estrella.
Márcia: Alcina Ferreira Estrella. Qual o local de nascimento dela?
Arcy: Ela é natural daqui, de São Gonçalo.
Márcia: E o ano em que ela nasceu?
Arcy: Em 1927. Não é, Alcina?
Dona Alcina: É, dois de setembro de 1927.
Márcia: Fez aniversário ontem. Parabéns!
Arcy: Já vamos completar cinqüenta anos de casados!
Márcia: Maravilha! Então, em que anos vocês casaram mesmo?
Dona Alcina: Em 1948.
Arcy: 1948.
Márcia: E quantos filhos?
Arcy: Não tivemos filhos. Ela sofria do coração e os médicos recomendaram que
não tivesse filhos. Por isso eu vim morar aqui na roça, no interior e passei a cuidar
da cultura de laranja e estamos vivendo aí até hoje.
Márcia: Senhor Arcy, o senhor falou que uma das bases que Plínio Salgado
colocava era questão da propriedade. E essa questão da propriedade, por que os
comunistas falam que são contra a propriedade privada dos meios de produção. Mas
como se daria a questão da propriedade no integralismo? Haveria uma distribuição
da propriedade?
Arcy: Muito boa pergunta. A propriedade para nós é até o limite do bem comum.
Porque defendemos a propriedade, mas não a propriedade ilimitada, conforme os
latifundiários têm aí, que não ocupam a propriedade. Nós entendemos a propriedade
com direitos e deveres para o proprietário. Pode ser fazenda, pode ser pequenos
sítios, pequenas casas. O conceito de propriedade no integralismo é exatamente isso:
até o limite do bem comum. Defendemos a propriedade. Entendemos que o homem
deve ter a sua casa, a sua moradia. A sua casa, a sua prole, o seu sítio, a sua gleba.
Mas nunca a propriedade ambiciosa, a propriedade que não produz. São
latifundiários aí que têm dois, três, duzentos empregados, alqueires de terra e não
produzem nada. Nós somos pela propriedade, mas diferente. Com relação ao
conceito do comunista... O conceito comunista entende que a propriedade não é do
homem, a propriedade é do Estado. Nós entendemos o contrário, nós entendemos
que o homem deve ter a sua propriedade porque o Estado é feito pelo homem, não o
homem feito pelo Estado. Então, no comunismo, o proprietário é o Estado. O Estado
é o senhor de tudo. Nosso conceito é diferente. Nós achamos que o homem deve ser
o detentor da propriedade. Deve ter a propriedade livre e com todo o livre arbítrio
para dirigir a propriedade. Não como os comunistas pensam. O senhor da
propriedade, no Estado comunista, é o governo. O governo é o dono de tudo. No
regime corporativo, como nós defendemos, a propriedade deve ser particular.
Márcia: Como é que seria a conquista dessa propriedade por esses homens? Como
esses homens conquistariam essa propriedade? Porque, no caso de um regime, um
governo integralista, precisariam fazer reformas, no momento de sua aplicação.
Arcy: Certo.
Márcia: Como seria a conquista dessa propriedade, a distribuição dessa propriedade
por todos esses homens?
Arcy: A propriedade é adquirida com esforço e capacidade de cada indivíduo numa
economia. Nós temos a divisão de classes em que a pessoa vai encontrar o conceito
de propriedade. Nós tivemos no tempo de Getúlio, que copiou a nossa programação
contida no nosso Manifesto de Outubro. Temos aqui. O Getúlio entendeu e resolveu
fazer. Adotar o nosso sistema: o corporativismo. Mas, depois ele entendeu que ele
que devia ser o chefe de tudo. Então, acabou com o integralismo e adotou aquilo que
o integralismo defendia, que eram as profissões. Então, o que ele fez? Fundou o
Instituto, IAPETEC, IAPM, IAPI, Instituto do Judiciário, Instituto dos
Comerciários, Instituto dos Marítimos. E a coisa estava dando certo. Naquela época,
não havia ninguém desempregado, não havia ninguém mendigando assistência
médica nas portas de hospitais. Porque cada classe cuidava de seu quadro social.
Esse programa era o programa da Ação Integralista Brasileira. Está aqui no nosso
Manifesto de Outubro como entendemos as questões sociais. Não deu certo no
Estado Novo e não daria em nenhum outro regime liberal por causa do interesse
pessoal das pessoas. A senhora vê um candidato a deputado estadual, e vê, por aí,
deputado federal defendendo programa, defendendo que vai fazer isso, que vai fazer
aquilo. Mas não fazem nada. Acaba, vêm as eleições, se elege ou não se elege,
pronto, acaba com tudo. Esquece tudo. Chega na época da eleição, é aquela mesma
cantilena: vai fazer isso, vai fazer aquilo e acaba não fazendo nada porque não tem
nada para fazer. Se ele se elege, e vai para lá para Câmara, ele não vai fazer nada,
não tem nada para fazer. Porque não tem o povo. O povo é organizado sem norma,
sem forma, grupalista. Ao passo que a sociedade organizada dentro dos grupos
profissionais, cada grupo defendendo os interesses da sua classe: o advogado, o
engenheiro, o médico, o empresário, o trabalhador, o comerciário, a classe patronal.
Todos esses formados e organizados dentro de suas classes, automaticamente, todos
adquiririam as suas propriedades. Porque tendo, por exemplo, a propriedade. O que
é a propriedade? A propriedade, o indivíduo que tem a sua fazenda, tem a sua casa, a
sua propriedade, desde que ele tenha obrigações com a propriedade. Se ele é
fazendeiro, vamos criar boi, vamos plantar laranja, vamos cuidar da agricultura. Mas
vamos dar assistência ao trabalhador, vamos enquadrar o trabalhador dentro da
legislação do Trabalho para que ele tenha a sua família, possa cuidar de sua família.
E possa também, economicamente, juntar dinheiro para comprar a sua casa. O
Estado não vai dar terra para ninguém, não. Quem vai adquirir a terra é o próprio
homem. Então vocês são contra a reforma agrária? Não, nós não somos contra a
reforma agrária. Nunca fomos contra a reforma agrária. Mas, entendemos que o
detentor da terra seja o homem que conheça a terra. Saiba trabalhar na terra. Saiba
viver da terra. Saiba produzir. Tenha meios para conduzir a terra, fazer a terra
produzir. Isso que é a verdadeira reforma agrária. Plínio Salgado, quando foi
deputado federal, ele apresentou um projeto de reforma agrária. Não sei se você
conhece o projeto de reforma agrária apresentado por Plínio Salgado. Eu tenho aí na
estante. Então, ele entende: nada adianta dar a terra ao homem se o homem não tem
saúde, se o homem não sabe ler, se o homem não sabe ver qual é a terra melhor para
produzir, se ele não conhece a técnica da agricultura. Então, todos esses homens, o
agricultor deve ser formado numa escola de agricultura. Deve descobrir a sua
vocação dentro das instituições, criar as cooperativas de créditos, conforme eu fiz
aqui na União dos Lavradores. Eu criei a Cooperativa de Crédito, a Cooperativa de
Consumo e Produção. Quando eu fui criar a Cooperativa de Crédito, aí veio a
Revolução de 1964 e me abafou. Me botou na cadeia, porque achou que eu estivesse
mancomunado com os comunistas. Então, aí acabou. Por isso é que eu sou contra os
partidos políticos. Mas não condeno o homem não. Os erros são comuns. Eu acho
que o sistema é do regime. O segredo está na adoção do regime, no sistema. Se nós
viermos para criar o sistema orgânico, corporativo, cada setor dirigindo o seu setor.
Eu não sei se, na sua idade, não deve ter conhecido, mas deve se lembrar que muita
gente adora o Getúlio Vargas. Por que adoram Getúlio Vargas? Porque Getúlio
Vargas fez o instituto de previdência social. Criou o sindicalismo, criou Volta
Redonda, criou as empresas estatais criou muita coisa beneficiária. Mas tudo graças
a este programinha que está aqui [bate as mão em um exemplar do Manifesto-
Programa para a eleição presidencial de 1938]. Que ele foi o primeiro leitor. Um dos
primeiros leitores liberais foi o Getúlio Vargas. Antes, quando se deu o anúncio de
que Plínio Salgado seria candidato a presidente da República em 1938, Plínio
Salgado organizou uma comissão: Rocha Vaz, Madeira de Freitas, Belmiro
Valverde, De Lanari, um grupo, mandou levar no Palácio do Catete a comunicação a
Getúlio Vargas de que a Ação Integralista Brasileira tinha um candidato a Presidente
da República. Getúlio, então, passou a se unir aos integralistas. Fez um discurso
muito bonito. Está tudo escrito aqui, tudo direitinho, exaltando a Ação Integralista
Brasileira. E passou a receber isso aqui. Com este programa que está aqui, foi que o
Getúlio fez a previdência social. Fundou os institutos de previdência social. Agora,
se o Instituto de Previdência Social foi uma programação útil ao povo, nessa época
ninguém vivia aí mendigando recurso, assistência médica...

Fita nº 02 - Lado B
Arcy: ... Na miséria que estamos hoje, vivendo o nosso povo. Porque, o INPS que
criaram nada mais é que uma fonte de ladrões, de falsários. Vem um dá um golpe,
vem outro dá outro golpe, vem outro dá fraude, criam fraudes. Tudo falta de
organização e de doutrina política e social. Ao passo que no instituto de previdência
social, nós já tínhamos tudo. E Getúlio fez o nome dele em cima desse instituto de
previdência social. Era uma programação nossa.
Rubens: Organização do Trabalho.
Arcy: É, organização do Trabalho. Nós tínhamos o Instituto dos Bancários, o
Instituto dos Marítimos. Tínhamos o Instituto do IPASE. O IPASE chegou a ter o
maior hospital da América do Sul. Que hoje virou um hospital de mendigos, de
pobretões.
Márcia: Qual é esse hospital, hoje em dia?
Arcy: O do IPASE é o Hospital dos Servidores do Estado, que era um grande
hospital.
Márcia: Na Saúde? Naquela região?
Arcy: Hoje pertence ao INAMPS. Já não é mais... Nós, servidores do Estado, se não
quisermos morrer, por falta de assistência médica, temos que ter dinheiro para pagar
um plano de saúde. Que de nada valeu aquela contribuição que nós fizemos de oito
porcento do nosso salário para nosso Instituto porque os espertalhões roubaram.
Hoje se nós queremos viver, temos que pagar plano de saúde. E esses que não
podem pagar um plano de saúde? coitados! Vivem morrendo por aí.
Márcia: Senhor Arcy, eu queria voltar um pouquinho à época da tentativa de
Belmiro Valverde, Otávio Mangabeira de chegarem ao Palácio Guanabara.
Arcy: Esse é um ponto que eu estava estranhando a senhora não ter perguntado
ainda.
Márcia: Olha só, eu li que foram dois momentos: um em março, com a presença de
Belmiro Valverde, e outro em maio. Foi isso mesmo, dessa maneira?
Arcy: Não, em maio.
Márcia: Em março.
Arcy: Não foi em março, não, foi em maio.
Márcia: Só em maio, o único?
Arcy: O negócio, no Guanabara, o Levante do Guanabara ocorreu na noite de dez
para onze de maio de 1938. Esse movimento havia um outro movimento do qual
Plínio estava fazendo parte, mas estava sendo reunido em São Paulo. Que era o
movimento chefiado pelo general Castro Júnior. A maior parte desse movimento
estava reunindo os principais militares que estavam descontentes com o Estado
Novo. Queriam dar um outro golpe no Estado Novo. Queriam depor Getúlio por
causa do Estado Novo. Mas havia dois oficiais integralistas na Escola Naval, que eu
conheci muito todos os dois: Belmiro Valverde e o então Tenente Júlio do
Nascimento. Esses dois oficiais que se reuniram com Belmiro Valverde, que
obtiveram o apoio de Belmiro Valverde, que era chefe da Província integralista da
Guanabara, foram que arquitetaram o plano de ocupação do Palácio Guanabara. Na
semana de dez de novembro, quando Plínio tomou conhecimento lá em São Paulo de
que havia um grupo na Guanabara querendo depor Getúlio, Plínio mandou uma
carta expressa para Belmiro Valverde procurando impedir esse movimento porque já
estava sendo cuidado com outro plano, um plano mais superior. Mas, nessa altura,
Belmiro Valverde não teve mais tempo para se comunicar com Júlio Nascimento e
nem com Loureiro Júnior. Já era dez de maio de 1938, o plano estava para a noite. A
noite eles invadirem o Palácio da Guanabara. O plano foi muito bem arquitetado. Eu
assisti parte da execução. Era jovem ainda, morava ali no Largo do Machado, assisti
parte da execução. Nessa época, havia à noite, assim por volta de nove e dez horas
da noite, havia no Largo do Machado um café que chamava “Café Lamas”. Ali se
reuniam os artistas e os estudantes da Faculdade Nacional de Direito. Se reuniam ali
no Largo do Machado. Ali estava sempre aquele Grande Otelo, vários artistas,
artistas de rádio que se reuniam nesse café para fazer serenata. Eu era jovem ainda,
estava solteiro, morava ali no Largo do Machado, ali, numa casa de cômodos. No
Largo do Machado, fui para lá à noite. Quando chegou por volta de meia-noite a luz
apagou. Ficou tudo na escuridão. A Usina da Light era naquele quarteirão entre a
Machado de Assis e Dois de Dezembro. Então, ali, a luz apagou e logo saímos todos
para fora, para a praça e vimos quando uma meia dúzia de caminhões com uma
porção de homens de lenços brancos no pescoço, vestidos de macacão, contornando
o Largo do Machado para entrar na Rua das Laranjeiras e subir. Bom, nas escuras,
não sabíamos o que era, do que se tratava, pensava que era gente da companhia de
luz elétrica que estava restaurando lá da Usina. Bem, fomos para casa, vamos
dormir. Quando chegou no dia seguinte, às oito horas da manhã, chego na loja e meu
patrão diz assim: “Olha, há um movimento grande aí contra os integralistas, melhor
você sair logo fora daqui que eles estão prendendo tudo quanto é integralista aí.”
Então, o que eu fiz? Peguei na bicicleta, saí para a Rua do Catete, peguei a José de
Alencar, peguei a Rua Paissandú, entrei e fui lá no Palácio para ver o que estava
havendo. Ora, realmente os integralistas não tomaram parte daquele movimento. O
meu núcleo, ali nas Laranjeiras, na Rua das Laranjeiras, número trezentos, tinha para
mais de mil camisa-verdes, milicianos. Eu era decurião, comandava dez homens.
Não tínhamos conhecimento de nada! Há cinco minutos do Palácio! Tinha
conhecimento de nada. Então, peguei a bicicleta e saí, dia onze, por volta de nove –
dez horas. Quando chego próximo ao Palácio, vem o Getúlio pela Rua, com uma
porção de gente acompanhando ele. Os policiais mandando eu tirar a bicicleta da
Rua. Tirei a bicicleta, encostei num pé de palmeira, deixei o séquito passar.
Márcia: Getúlio a pé ou de carro?
Arcy: Getúlio estava a pé.
Márcia: A pé?
Arcy: A pé. Ele com aquele grupo de policiais dele. Que ele costumava ir a pé para
o Palácio. Já não era também novidade porque ele costumava ir a pé para o Palácio.
Saía das Laranjeiras, passava pela Rua Paissandú. Conhece a Rua Paissandú?
Márcia: Sim.
Arcy: Chegava na Rua do Catete, descia a Rua do Catete e ia para o Catete a pé.
Passava nas portas da nossa loja. Passava na porta de nossa loja, onde a gente
trabalhava. Esse trajeto não era novidade não.
Márcia: Mas, no caso, Belmiro Valverde participou? Ele era integralista...
Arcy: Mas Valverde era o chefe da Província da Guanabara e havia prometido aos
oficiais lá da Escola Naval que ele daria cobertura. Mas nesse período que ele
prometeu, chegou o ultimato de São Paulo, por ordem de Plínio Salgado, impedindo
de colocar os integralistas nesse movimento de aventuras revolucionárias. Então, o
que aconteceu? Os integralistas, comandados por Júlio do Nascimento. Esse foi um
comentário que, posteriormente, o Júlio do Nascimento pessoalmente nos contou
toda a história como foi. Eles foram naquela noite, de dez para onze, para o Palácio,
substituíram a guarda, tomaram o Palácio, entraram, ocuparam, substituíram a
guarda. Já estava tudo combinado direitinho. Mas ficaram esperando a turma de
Belmiro Valverde, os integralistas que não chegavam.
Márcia: Mas Belmiro Valverde não participou?
Arcy: Não participou.
Márcia: Não participou. Mas ele foi acusado depois...
Arcy: Ele não participou por isso, por que houve essa contra-ordem de Plínio para
ele não envolver os integralistas nesse movimento revolucionário. Então, ele não
participou.
Márcia: Mas os livros sempre falam que Belmiro Valverde tinha participado. Ele
foi preso depois, fugiu da prisão.
Arcy: Posteriormente ele foi preso. Mas, então, os integralistas entraram no Palácio,
conforme havia de ser. Ocuparam o Palácio à meia-noite.
Márcia: Eram integralistas ou era o pessoal...
Arcy: Não, não eram integralistas, eram os civis.
Márcia: Civis. Mas não tinha participação de militares? No caso, o senhor falou da
Marinha.
Arcy: Sob o comando desses militares, lá na Escola Naval: o Júlio do Nascimento e
o Founier Junior. Então, ficaram esperando no Palácio que o reforço integralista
chegasse. E esse reforço integralista não chegava. Dos civis que entraram, da
primeira entrada, tinham nove integralistas, eram todos funcionários da Marinha. O
Júlio do Nascimento e o Fournier Junior vendo que os integralistas do reforço não
chegavam, eles comandaram o recuo às quatro horas da manhã. E os nove
integralistas não saíram, não atenderam, porque ainda acreditavam que os
integralistas chegariam. Então, foi quando o reforço do Palácio chegou pelo Campo
do Fluminense, entrou nos fundos do Palácio, prenderam os homens e metralharam
os homens. Morreram nove integralistas nessa vez.
Márcia: No Palácio ainda, no ambiente do Palácio?
Arcy: Foi no jardim do Palácio.
Márcia: E no caso de Otávio Mangabeira? Como ele participou?
Arcy: Otávio Mangabeira estava no grupo, lá em São Paulo.
Márcia: Lá em São Paulo.
Arcy: Em São Paulo. Otávio Mangabeira e muitos outros líderes.
Márcia: Liberais.
Arcy: Liberais, tinha vários... Estava nesse grupo que era comandado por esse
homem que está aqui... Ele que era o chefe do grupo que ia dar o golpe no Getúlio.
Márcia: General Castro Júnior.
Arcy: Castro Júnior. Ele aqui está dando uma entrevista aos “Diários Associados”.
Márcia: “Era um movimento destinado a restabelecer a democracia.”
Arcy: Exato.
Márcia: Castro Júnior participava do integralismo?
Arcy: Não, Castro Júnior era liberal, ele não era integralista. Mas ele era conta ao
Estado Novo. Tanto é que ele seria o chefe da contra-revolução, do contra-golpe.
Nesse grupo estava Plínio. Porque Plínio quando saiu da Guanabara para São Paulo
ele saiu fugido. Ele morava em Botafogo, na Rua Voluntários da Pátria. O Ministro
Francisco Campos chegou a dar um ultimato para Plínio: “Ou aceita o cargo de
Ministro no Estado Novo ou será preso.” O Plínio se viu numa situação difícil,
quando uma noite, fugiu para São Paulo. Lá em São Paulo ele foi se reunir com
Castro Júnior e muitos outros líderes, entre os quais, até o Brigadeiro Eduardo
Gomes também participava desse grupo. Esse grupo de militares era para depor
Getúlio. Agora, a tomada do Palácio Guanabara não foi mais que uns quarenta
homens. Se os integralistas estivessem unidos, tivessem planejado, estivessem de
acordo, conforme iniciaram as conversações com Belmiro Valverde e Barbosa Lima,
só bastava o Núcleo de Laranjeiras para depor Getúlio. Lá tinha pra mais de mil
homens, ali no Núcleo de Laranjeiras. Só o Núcleo de Laranjeiras dava para tomar o
Palácio da Guanabara, prender Getúlio e mandar Getúlio passear. Mas o fracasso foi
isso: na hora H, os integralistas não apareceram e os aventureiros entraram lá no
Palácio Guanabara, ocuparam o Palácio. Quando eles viram fracassado o intento,
resolveram, então comandar o recuo. Júlio do Nascimento fugiu pelos fundos do
Palácio. Valverde saiu pelo Corpo da Guarda e correu para a Embaixada da Itália,
logo ali perto das Laranjeiras. Júlio do Nascimento fugiu lá pelo lado de Botafogo,
que comandou o recuo dos homens. Mas os nove integralistas ficaram e pagaram o
pato, e morreram. Foram assassinados. Porque presos e desarmados foram
metralhados pela polícia do Palácio.
Márcia: Então, Belmiro Valverde estava presente nesse momento. Apesar de não
ter levado...
Arcy: Exato. Belmiro Valverde rompeu com o integralismo nessa época.
Márcia: Antes do levante ou depois?
Arcy: Não, no levante. A partir do levante.
Márcia: A partir do levante.
Arcy: A partir do levante, porque eu estava no PRP, ainda me lembro, uma vez, por
volta de 1946, 47, o Padre Fonciano dos Santos ia fazer uma conferência lá na sede
dos integralistas, lá na Rua Almirante Barroso, e eu, então, fui pessoalmente
convidar Belmiro Valverde na casa dele, lá em Madureira. Fui lá pessoalmente.
Então, me contou lá uma porção de histórias, e tal, que ele não queria mais saber do
Movimento porque havia dado tudo errado. Estava contrariado porque Plínio havia
tirado a autoridade dele de Chefe Provincial da Guanabara. Que ele não queria mais
saber do Movimento. Então, o rompimento de Belmiro Valverde foi a partir dessa
data. Agora, veja a senhora, os principais intelectuais do integralismo não aceitaram
o Partido de Representação Popular. O próprio Gustavo Barroso que dizia sempre:
“Partido parte a Nação! Partido divide a Nação! Eu, como chefe integralista, da
doutrina integralista, não posso aconselhar meus companheiros a ingressar num
partido político.” E eu estava trabalhando ali no Ministério da Educação, na
Esplanada do Castelo, então, quase todos os sábados recebia a visita de Gustavo
Barroso, na minha repartição. Ele sempre ia lá procurar registro de diplomas, de
pessoas amigas dele e eu que cuidava de andar com os processos. Então, certa vez
eu disse assim: “Chefe, o senhor não vai à conferência lá do quadro social?” Ele
disse: “Menino, eu que comandei vocês aqui da Guanabara, que lutei contra os
partidos políticos, vocês me acham com cara de hoje entrar na sede de alguma
partido político?” Então eu disse: “Claro, chefe, já não está aqui quem falou!”
Naquele tempo eu era moço. Então, Barroso foi o primeiro a se afastar. Barroso se
afastou. Mas ele se afastou do partido político. Daí que eu digo para a senhora: eu
não entendi por que Plínio Salgado, ao chegar de Portugal, em 1945, Getúlio já tinha
ido embora, o Estado Novo tinha acabado, os partidos reabriram outra vez, a Câmara
passou a funcionar, o Senado passou a funcionar... Por que nós, os integralistas, não
podíamos continuar? Não podíamos continuar a nossa marcha a partir dessa data?
Rubens: É a mesma pergunta que eu também sempre estou com ela na cabeça. Por
quê?
Arcy: Então, numa carta que eu dirigi ao jornalista Levy, lá de Lins, São Paulo,
recentemente, eu dizia para ele o seguinte: “Se naquela época eu tivesse o
conhecimento que tenho hoje, eu também não teria ingressado no Partido de
Representação Popular.” Mas ingressei, era jovem, naquele tempo eu não entendia
nada... Ingressei mais por entusiasmo e nunca me afastei de Plínio. Sempre
acompanhei Plínio, na época em que ele foi candidato à Presidência da República,
sempre o acompanhei. Visitei o Brasil todo, em quase todos os Estados em
campanha eleitoral, fazendo comício. Plínio sempre dizia: “Não, o PRP é uma
tribuna de defesa do integralismo.” Então, nisso que está o problema. Tanto hoje,
nessa idade, eu não quero saber de partido político. Agora, para prosseguir as
conversações sobre a Ação Integralista Brasileira, eu estou pronto porque sou
integralista, me considero integralista, não me considero um liberal democrata e
estou pronto a recomeçar a qualquer tempo, enquanto eu puder me movimentar. Mas
como partido político, não. Vários integralistas fundaram partidos políticos. Nós
tivemos... Esse Enéas, se diz integralista, esse Doutor Enéas. Família veterana, lá na
Tijuca, integralista. Ele está com toda a idéia nacionalista na cabeça. Mas, coitado,
está dentro da liberal-democracia. Como ele, Doutor Enéas, muitos outros. Nós
elegemos em 1955, nós elegemos um senador da República e oito deputados
federais, todos integralistas. Onde estão eles? Estão lá todos no recesso de seus lares.
Estão vivos. Mas integralistas mesmo, como integralistas não aparecem. Agora, de
vez em quando me mandam uma carta. Mandaram um cheque de cinqüenta reais
para tirar o boletim. De vez em quando, uma contribuiçãozinha para tirar o boletim
que eu estou publicando aí... Em 1988 teve um médico, Doutor Sebastião Cavalcanti
de Almeida. Nos procurou: “Vamos reabrir a sede da Ação Integralista Brasileira!”
“Então vamos embora”. Ele, com o Doutor Jorge Medeiros. “Então vamos reabrir a
sede da Ação Integralista Brasileira, então vamos reabrir”. Então, arranjei a sede da
Associação de Jornalistas aqui de Niterói, fizemos uma Convenção, reabrimos a
sede da Ação Integralista Brasileira. Agora, recentemente.
Márcia: Tinham quantas pessoas, mais ou menos, nessa reunião?
Arcy: Tínhamos delegação de vários estados. Nós íamos nos reunir na Associação
de Jornalistas de Niterói. Reunimos umas duzentas ou trezentas pessoas. Vinha
delegação de Minas Gerais, Ceará, veio da Bahia...Veio o Jader Medeiros... Você
conheceu o Jader Medeiros? [pergunta para Rubens]
Rubens: Jader Medeiros? Conheci.
Arcy: Jader Medeiros, um grande animador, era também jornalista, tinha um jornal
aí, periódico, “A Renovação Nacional”, grande animador. Então, fundamos a Ação
Integralista. Mas, daí, dessa vez, a coisa deu errado que o coitado do homem era
médico novo, era médico do Souza Aguiar, leu a doutrina Integralista, entendeu, se
entusiasmou, mas logo em seguida foi obrigado a se desligar da presidência
nacional. Apanhou câncer, foi para o hospital, se internou, levou cedo, cedo. Está ali
o retratinho dele, ali.
Rubens: Ele era padre, não era?
Arcy: Era. Sim, é bom programar as perguntas que a senhora queira fazer e me
mandar por intermédio de Rubem para eu fazer consulta nos livros. Que de
momento assim a gente não se recorda dos nomes das pessoas. Então eu consulto os
livros, faço, organizo direitinho e aí faço a entrevista com a senhora mais completa.
Agora, eu gostaria que a senhora comparecesse aqui a nossa festinha do dia três.
Márcia: Eu venho dia três, sim. Eu não venho para o churrasco, não, eu venho para
a reunião.
Arcy: Às três horas da tarde.
Márcia: É, às três horas. Que para o churrasco vêm as pessoas que se conhecem. Eu
venho às três horas para a reunião. Eu vou dar meu telefone ao senhor e... Mulheres
integralistas, o senhor conheceu algumas?
Arcy: Não, não conheci, não. Conheci muitas mulheres mas assim com nome, que
tenham influência política, não. Conheço a filha de Plínio, que ainda hoje é atuante.
Maria Amélia Salgado Loureiro, essa é escritora, autora do livro “Escravidão e
Abolição da Escravatura”, autora do livro “Integralismo perante a Nação”. Mulheres
militantes as que eu conheço, base de influência...
Márcia: De liderança?
Arcy: ...mas de liderar esses assuntos...
Márcia: Liderança distrital, municipal, não havia aqui na cidade do Rio de Janeiro?
Arcy: Não, não.
Márcia: Senhor Arcy, eu vou me despedir por hoje, mas eu vou voltar depois aqui
para retornar a perguntar mais coisas ao senhor. Por hoje, então, muito obrigada...
Arcy: Lhe agradeço a sua presença, seu interesse pelo nosso movimento
Márcia: Muito obrigada, o senhor foi de grande valia. Vou reorganizar e vou trazer
aqui, muito obrigada.
2ª Sessão
Fita Nº 3 - Lado A
Márcia: Estamos hoje aqui, na casa do Doutor Arcy Estrella para a segunda sessão
da nossa entrevista sobre o movimento Integralista. Hoje é dia vinte de outubro de
1998, município de São Gonçalo, bairro Rio do Ouro. Bem, Doutor Arcy gostaria de
continuar nossa entrevista pedindo para o senhor falar mais sobre as reuniões da
década de trinta, quando o senhor era decurião, como eram aquelas reuniões...
Arcy: Na década de trinta... O movimento começou em 1932, de 1932 a 36 eu era
muito jovem. Só em 1936, foi que eu ingressei na Ação Integralista Brasileira. Era
na época presidente do núcleo Doutor Rocha Vaz, da Rua das Laranjeiras, número
trezentos, Rio de Janeiro. Doutor Rocha Vaz era médico e mantinha ali o núcleo
como uma espécie de assistência, com assistência médica, com assistência jurídica,
com assistência social. Organizando serviço de assistência social sustentação através
da organização do núcleo. Daí até final de 1937 quando deu-se o golpe de Estado,
dez de novembro de 1937. Daí fechou a Ação Integralista Brasileira, juntamente
com outros Partidos Políticos. Todos os partidos políticos, câmara, senado todos
fecharam e a Ação Integralista Brasileira. Daí, nós passamos a trabalhar de modo
mais reservado, mas não com a sede funcionando legalmente. Em janeiro de 1938
foi que deu-se a pressão política do Governo na pessoa, pessoalmente, de Plínio
Salgado. Plínio Salgado teve que se deslocar de Botafogo para São Paulo. Lá em
São Paulo ele uniu-se com os militares, General Castro Júnior, que era o chefe do
movimento que estava se preparando para dar o contra-golpe. E até 1938 deu-se
então o Levante da Guanabara. O Levante da Guanabara não foi um movimento
integralista. Foi um movimento geral de todos os partidos políticos. Todos os
partidos políticos se reuniram com a cumplicidade de alguns oficiais da marinha, na
ocasião, professores da Escola Naval, foi que deu-se então esse movimento isolado,
completamente isolado do comando geral, foi o que tomou os jardins do Palácio
Guanabara. Também não foi um assalto conforme anunciaram. Esse negócio de
assalto foi muito acomodado na imprensa getuliana, do Estado Novo, na época. Não
houve assalto. O que houve foi uma ocupação do Palácio Guanabara. Eu morava ali
pertinho, no Largo do Machado, e fui testemunha visual de tudo o que havia
acontecido naquela época e não houve assalto. O que houve foi uma ocupação do
palácio Guanabara. Por volta de cinco horas da manhã as forças regulares do
exército voltaram, cercaram o Palácio, prenderam os insurretos que se encontravam
no jardim do Palácio Guanabara. E fuzilaram os que não quiseram desocupar o
Palácio, um pequeno grupo. Morreram nove integralistas, que eram completamente
estranhos ao nosso núcleo. Eram integralistas lá também da Escola Naval, da
Marinha, eram militares, não eram propriamente gente ligada ao nosso núcleo das
Laranjeiras.
Márcia: E nesse núcleo das Laranjeiras o senhor falou que tinha serviço social.
Tinha também escola? Eles se preocupavam em alfabetizar?
Arcy: Tinha, tinha, escola de alfabetização de adultos, escola, assim social, escola
com enfermagem, escola infantil [incompreensível]. Ali funcionava uma
organização de segunda a sábado, todos os dias. Não era como um centro político,
funcionava diariamente, durante todo o dia. As reuniões doutrinárias faziam às
quintas-feiras. Aos sábados e domingos as famílias se reuniam para fazer excursões,
acampamentos, era um movimento muito bonito, muito social.
Márcia: Vocês acampavam também?
Arcy: Acampavam. Diversos acampamentos nós fizemos lá no Cristo Redentor,
fizemos ali naqueles morros do Cristo Redentor.
Márcia: As famílias iam também?
Arcy: Famílias, crianças, as senhoras, moças, plinianos, a escola de plinianos.
Todos faziam acampamento ali naquela região.
Márcia: Acampavam assim em barracas de Campanha?
Arcy: Barracas de Campanha, faziam caminhada.
Márcia: O objetivo qual era?
Arcy: O objetivo era mais artístico, físico, educação física e recreativo.
Márcia: Doutor Arcy, toda essa sua sabedoria na questão da doutrina, o senhor acha
que naquele momento, na década de trinta o senhor já conhecia ou foi politizado
numa época depois, foi estudando mais... O que o senhor acha? Se foi uma coisa
assim da década de trinta que o senhor se preocupou em estudar ou foi uma coisa
que o senhor adquiriu ao longo de sua vida?
Arcy: Posteriormente, depois que se deu o Levante do Guanabara, nós tivemos, eu
pessoalmente tive uma participação ativa junto aos padres da Igreja da Glória. Ali
nós dávamos assistência às famílias integralistas. Eu era jovem, andava de bicicleta
na região. Então ia de casa em casa visitando as famílias, vendo o que necessitava, o
que precisavam do comércio porque os chefes integralistas, os maridos, os homens
eram presos na Polícia Central. Então, um desses integralistas presos e eu fui
procurar por ele, encontrei preso na Polícia Central. Chamava-se Manoel Paixão, era
um motorista de praça, era baiano. E conseguimos localizar o Manoel no depósito de
presos da Polícia Central. Voltei, dei notícia à família de que ele se encontrava
preso, detido. Daí, a polícia soltou o Manoel para poder socorrer a família. Passou
então a me perseguir pessoalmente. Numa madrugada, na mesma semana, eu acordei
de madrugada na casa que eu morava e era a polícia que estava lá na porta da casa.
Eu então resolvi: apanhei o paletó, a calça, com mil e duzentos réis no bolso, uma
certidão de idade e fugi para a vila militar onde sentei praça como soldado. Foi
assim que eu consegui fugir da polícia. Fugindo para os quartéis da Vila Militar e
fiquei então liderado lá no exército. Fiquei durante um ano e oito meses no exército.
Terceiro Regimento Andrade Neves, Escola de Cavalaria da Vila Militar. Voltando,
tendo sido acidentado lá no exército, quebrei uma perna, fui acidentado, julgado
incapaz do Serviço Militar, voltei a vida civil. Aí voltei para o Catete outra vez e fui
trabalhar no comércio. Trabalhei até 1946. Já nessa época o Estado Novo caiu, em
quarenta e cinco. Voltou a normalidade política em 1945. Já havia assumido o
governo do país. O General... Não me lembro...
Márcia: Dutra.
Arcy: Dutra, General Dutra. Assumiu o governo em 1946. No final de 1946, chega
então Plínio Salgado do exílio. Daí, então fiz concurso público e ingressei então no
Ministério da Educação e Saúde ali na Esplanada do Castelo. Fui então ser
funcionário público.
Márcia: No Palácio Gustavo Capanema?
Arcy: É, exato, exato.
Márcia: Doutor Arcy, eu percebi na reunião que eu participei da tentativa de vocês
de mostrarem a história do Plínio Salgado, toda a história do Integralismo,
ensinando a doutrina. Era assim também, quando o senhor participava?
Arcy: Isso aí é muito importante, porque as reuniões da Ação Integralista eram
feitas regularmente em todos os núcleos, não era só o nosso núcleo, dirigido pelo
Doutor Rocha Vaz, funcionava no Catete, na Rua das Laranjeiras. Tinha um outro
núcleo, de Santo Antônio, que funcionava no centro da cidade, na Rua Sachet,
funcionava o núcleo Nacional. E funcionava o núcleo da Gamboa, tinha o núcleo da
Tijuca, tinha o núcleo de Botafogo, Rua da Passagem, núcleo de Copacabana, na
Av. Nossa Senhora de Copacabana, tinha o núcleo de Ipanema, núcleo de Jardim
Leblon. Em todos os bairros, vários núcleos. Esses núcleos funcionavam como uma
espécie de clubes educativos e recreativos. E funcionavam as reuniões quase sempre
uma vez por semana, eram reuniões doutrinárias, era um orador convidado, para
fazer a conferência, para fazer a palestra, e essas reuniões versavam quase sempre
em homenagem a datas histórica, como: o Sete de Setembro, o 15 de Novembro,
problemas ligados à Guerra do Paraguai, problemas da evolução política do país,
época do Império, época da colonização do Brasil. Então, são datas comemorativas
que nós comemorávamos nos núcleos integralistas. Então, era sempre convidado um
orador, um professor entendido da matéria, fazia a palestra, convidava todas as
famílias e, no final, cantávamos o Hino Nacional. Ainda hoje adotamos esse sistema,
nós abrimos as reuniões cantando o hino Avante, que é um hino de autoria de Plínio
Salgado e encerramos as reuniões com todos de pé, cantando o Hino Nacional. Esses
movimentos eram movimentos cívicos, históricos e educativos. Ali nos núcleos se
reuniam nem só os plinianos, que eram menores de idade a partir de oito anos, dez
anos, que já freqüentavam o núcleo, a escola do núcleo, a juventude e a milícia. A
milícia quase sempre era independente. A milícia dava ordem unida, fazia exercícios
militares. Nós éramos para-militares. Está aqui um trabalho, foi publicado esse livro
da camisa verde: “Ofício ao Ministério da Guerra aprovando o uniforme da Ação
Integralista Brasileira, Ministério da Guerra, arma da República. Diretoria de
Intendência da Guerra, quinta sessão, capital Federal em seis do sete de 1934. Ofício
número duzentos e dois do chefe da E5 ao senhor Chefe da Ação Integralista
Brasileira. Assunto: comunico a aprovação do uniforme. Comunico-vos que o
Senhor Ministro da Guerra por ato de dia vinte e dois de junho do corrente ano
aprovou o uniforme escolhido por essa coletividade, conforme os documentos por
vós apresentado. Assinado Tenente-coronel Athanásio Loureiro da Silva. Tenente
Coronel Chefe. O nosso uniforme era um uniforme para-militar. Por isso os oficiais
nos reuniam e nos davam as instruções militares, a ordem unida, apresentação, não
de armas porque a gente nós não tínhamos armas. Só ordem unida, meia volta,
volver, ordinário, marcha. Fazíamos esses passos físicos mas cívicos, do que
propriamente militares. O nosso Movimento Integralista era um movimento que
apesar de sermos na época muito combatidos pelo comunismo e também
combatermos o comunismo, na época, nós éramos um movimento desarmado. Não
trabalhávamos com armas. O próprio Levante que se deu em onze de maio de 1938
que foi um movimento de ocupação do Palácio, sem armas. Disseram que houve
tiroteio, tudo isso foram mentiras, foram calúnias da Imprensa da época. O que o
Júlio Nascimento que na época era oficial da Marinha, professor da Escola Naval e o
Fournier Júnior, que foram os dois comandantes do Levante do Guanabara, eles
reuniram os civis, funcionários da Escola, um grupo de trinta a quarenta homens e
ocuparam o Palácio.
Márcia: Uma vez encontrei um senhor que me falou que ele participou da reação do
governo contra os integralistas. Parece que o governo, pelo que essa pessoa falou, já
estava preparado para o Levante porque parece que os canhões, não sei se estavam
na Praça Mauá ou na Ilha das Cobras, parece que havia canhões apontados para o
Palácio do Guanabara numa reação. O que o senhor acha disso? O senhor acha que
havia, o governo já estava sabendo, estava preparado?
Arcy: Não, o governo não estava sabendo nada. O governo não estava sabendo de
nada. Aquela ocupação foi uma ocupação de um grupo de rebeldes que estava
discordando do comando da Ação Integralista Brasileira, que estava sediado em São
Paulo. Que tinha como chefe o General Castro Júnior. Então com a mudança de
Plínio Salgado do Rio de Janeiro para São Paulo, que ele alega que foi fuga, não foi
fuga. Então, nessa época, foi que os professores da Escola Naval chefiados pelo
Tenente Júlio Nascimento e o Tenente Fournier Júnior, foi que reuniu um grupo e
resolveram ocupar por conta própria o Palácio do Guanabara, fazer uma ocupação
no Palácio do Guanabara. Não havia previsão nenhuma porque estava em
entendimento o governo com Plínio Salgado para criar o Estado Novo. Então não
havia nenhuma previsão, nenhuma previsão de revolta. E já mais de dois ou três
meses antes, já Plínio Salgado estava em entendimento direto com o governo,
chamado pelo governo para entendimento para instalar o Estado Novo que Plínio
Salgado discordou do Estado Novo. E até que estes entendimentos não resultaram
em nada porque há dez de novembro Plínio Salgado alega que em sua carta ele foi
surpreendido com o decreto presidencial instituindo o Estado Novo. Está aqui a
carta do chefe nacional da Ação Integralista Brasileira, Plínio Salgado, ao senhor
Doutor Getúlio Vargas, presidente da República, em vinte e oito de janeiro de 1938.
Não houve previsão de nenhuma revolta porque já há alguns meses anteriores já o
governo estava em entendimento com Plínio. Diretamente por intermédio do
General Milton Cavalcanti que era comandante da Vila Militar no Rio de Janeiro.
Ele é uma espécie de advogado da Ação Integralista Brasileira junto ao governo. E,
esses entendimentos estavam diretos com o ministro da Justiça, Francisco Campos,
que era ministro do governo. Já viu que não havia nenhuma previsão de revolta,
nenhuma previsão de insurreição, havia um entendimento. Entendimento que nunca
se chegou chegar num acordo porque o Getúlio queria implantar o Estado Novo.
Baseado numa carta que havia escrito, redigido. E o Plínio discordava do Estado
Novo porque alegava que era um Estado totalitário. Sendo um Estado totalitário, ele
discordava. Daí foi que encerrou-se o assunto. A dez de novembro foi decretado o
Estado Novo, a Imprensa toda começou a publicar, inclusive combatendo a Ação
Integralista Brasileira, que os diretores de jornais alegavam que era ordem do
Governo, que estavam cumprindo ordens do Governo para combater o Integralismo.
Então, passamos a nos reunir ocultamente nos núcleos, a milícia. Não mais as
reuniões que se faziam com as famílias. Mas a milícia passou a se reunir
ocultamente dentro dos núcleos. Mas não com o intuito de rebeldia, nem de
preparação de golpes militares. Sempre aguardando ordens de entendimento da
chefia nacional da Ação Integralista Brasileira. Em janeiro, Plínio transfere-se do
Rio de Janeiro para São Paulo. Em São Paulo passam a se reunir ele, Miguel Reale,
Loureiro Júnior, os militares, dentre eles até mesmo civis, políticos civis, como
Otávio Mangabeira. Então é que se estava preparando um golpe contra o golpe. O
que estava se querendo fazer naquela época era um golpe nacional conta o golpe do
Estado Novo de Getúlio Vargas. Mas o grupo dos militares da Guanabara adiantou o
grupo liderado por Júlio Nascimento e Fournier Júnior que resolveu fazer aquela
ocupação que já chamam de assalto ao Guanabara. Não houve assalto ao Guanabara.
Eu era muito jovem na época, morava na vizinhança, ali no lado do Catete e estou
bem lembrado de que não houve nenhum assalto, não houve nenhuma revolta. O que
houve foi uma ocupação. Eles planejaram bem a ocupação, houve uma troca de
guarda do Palácio. Era uma guarda liderada pelo Fournier Júnior, então entraram
com os quarenta homens, quarenta ou cinqüenta homens que eles levaram. Eu
cheguei a ver até esses caminhões que transportavam esses homens lá para o Palácio
do Guanabara, nessa noite de dez para onze de maio. Dez para onze de maio.
Também que não houve nenhuma revolta, não houve tiro nenhum. Tiro, tiro que
houve foram às cinco horas da manhã, quando as forças do Governo chegaram,
entraram no Palácio, pelos fundos do Palácio, onde funcionava o campo do
Fluminense, então tomaram o Palácio. Fournier Júnior, numa palestra que fez
posteriormente, aliás, Júlio Nascimento, alegou que ele comandou a retirada mas um
grupo de integralistas de oito ou dez integralistas resolveram não sair do Palácio.
Então foram presos e assassinados dentro do Palácio pelas forças do Governo, pela
própria força do governo. Acredita-se que não tenha havido choque entre os
militares, não houve combate, não houve tiroteio entre uma força e outra. O que
houve foi um grupo de sete lá do Palácio que se presume que tenha até sido
comandado pelo Coronel Benjamim Vargas que era irmão do presidente Vargas,
Getúlio Vargas, tenha comandado aquele assassinato dos nove integralistas, presos,
já presos e desarmados que não tinham armas, eles não tinham arma nenhuma. Eles
eram como esse pessoal aí dos sem-terra. Chegam, invadem fazenda, ocupam,
ocupam prédios públicos. Então eles entenderam de ocupar o Palácio do Guanabara
como se fosse um simples prédio público. Então, isso foi a verdade dos fatos que
aconteceram naquela época.
Márcia: Então depois o senhor vai para o serviço militar, torna-se civil de novo e
vai trabalhar como funcionário público. Enquanto isso, o senhor mantém algum
contato com o Integralismo?
Arcy: Nosso contato novamente com o integralistas foi no começo de 1945, quando
Raimundo Padilha que era um subchefe da Ação Integralista Brasileira, resolveu
fundar um Partido de Representação Popular. Os escritórios onde funcionavam essas
reuniões funcionaram na Rua Evaristo Abelha, número 16, sexto andar. Ainda me
lembro. Aí, houve umas reuniões preparatórias para instalar, fizeram uma
convenção, fundaram o Partido de Representação Popular, aí foi que passou o nosso
contato novamente com os integralistas através do Doutor Raimundo Barbosa Lima,
Raimundo Padilha e o Amaral Netto, que na época era muito jovem também,
ingressou no Partido, era um dos fundadores do Partido, o Amaral Netto, morava em
Niterói. Daí foi o nosso contato. Então, passamos a nos reunir no partido.
Inicialmente a sede do Partido foi na Rua Presidente Wilson, número duzentos, na
sobreloja. Passamos a nos reunir na sede do Partido, até a chegada de Plínio, já no
segundo semestre do ano de 1946. Foi que Plínio regressa do exílio e aí houve então
a mudança da sede do Partido, PRP, Partido de Representação Popular para a Rua
Almirante Barroso, número noventa. Era um andar térreo, várias salas, salões de
reuniões. Passamos então a fazer integralismo dentro do Partido. Continuava a
mesma coisa como era anteriormente, mas já com o nome do Partido. Esse ponto foi
que nós éramos muito jovens na época, estávamos sob a liderança de outras pessoas
e havia muitas pessoas que...

Fita Nº 3 - Lado B
Arcy: [incompreensível] ... da Faculdade Nacional de Direito passaram a se reunir
na sede do Partido. Nós éramos muito jovens, e passamos então a ficar sendo
liderados por esses líderes. E o movimento do PRP prosseguiu até novamente ser
extinto, por volta de 1976 (sic), quando houve lá movimento estudantil já no Estado
Novo, aliás, já nesse Estado Militar, depois da Revolução de 1964, foi que foi
fechado outra vez o PRP junto com outros partidos. Todos os partidos foram
fechados novamente. E criou-se então a ARENA, a Aliança Renovadora Nacional, e
o movimento do MDB, o Movimento Democrático Brasileiro, duas correntes
políticas. O PRP não quis se aliar ao MDB porque no MDB estavam filiados
comunistas. Então os integralistas não podiam ficar junto com os comunistas. Então
preferiram a se aliar a Aliança Renovadora Nacional.
Márcia: Eu queria que o Senhor repetisse o nome dos líderes então do PRP, nesse
momento?
Arcy: Os líderes do PRP nessa época eram, antes da chegada de Plínio: Raimundo
Padilha, que era o presidente nacional do PRP, Partido de Representação Popular.
Era Alberto Cotrim Neto, era presidente do diretório municipal do Rio de Janeiro.
Raimundo Barbosa Lima, e ... tinha outras pessoas lá, não me lembro agora mais
não, várias outras pessoas.
Márcia: Tinha esse poeta que o senhor falou...
Arcy: Quem?
Márcia: O poeta.
Arcy: Tasso da Silveira.
Márcia: Tasso da Silveira...
Arcy: Tasso da Silveira freqüentava muito às reuniões lá do PRP, logo do início,
logo no início. Levado pelo senhor Lustesa dos Santos, que é o grande sociólogo,
que mais tarde veio ser candidato a senador pelo estado do Espírito Santo. O Partido
chegou a se organizar, elegeu oito deputados federais, elegeu um senador da
República...
Márcia: Quem foi o senador?
Arcy: Talvez por falta de liderança política é que o partido não se desenvolveu, não
cresceu, porque na verdade é, ser integralista era pena integralista, não era, nunca,
integralista não nasceu para ser político-partidário. Porque a alma do Integralismo
era o voto classista, grupalista e não o voto sufrágio universal. Nós sempre fomos
contra o sufrágio universal. Somos pelo grupalismo, representação de classe. Então,
a base da Ação Integralista Brasileira como doutrina: defendíamos o sufrágio
classista e não o sufrágio universal. Esse é o nosso princípio. E o PRP não se
desenvolveu exatamente por isso, é que houve esse impacto. A nossa representação
é grupalista e não do sufrágio universal. Talvez por isso o PRP, como partido
político, não se desenvolveu, não progrediu. Precisou então, ultimamente, quando
Plínio exerceu mandato de deputado por quatro vezes, por quatro legislaturas
seguidas no Congresso Nacional, mas foi por outra legenda e não pelo partido que
ele havia sido presidente nacional. Que a verdade é essa: integralistas nunca foram
partidários politicamente. Sempre foram adeptos do grupalismo, da organização
grupal. É a família, é a profissão, é a propriedade, a defesa da propriedade, é a
defesa do município, o municipalismo... esses eram temas de que nós nunca nos
afastamos. Ainda hoje, quando os grupos, as associações, tendem para ingressar em
partidos políticos, nós, outros grupos somos contra. Eu, por exemplo, pessoalmente
sou contra partido político. Defendo o grupo, defendo a sociedade, defendo a
família, mas nunca como partido político. Porque, segundo Gustavo Barroso,
conforme está escrito aqui nesse livro, ele diz assim, diz assim: “Partido... o
Integralismo não é um partido político.” Está aqui escrito. “O Integralismo não é um
partido político”. Nós sempre fomos fiéis a esses ensinamentos de Gustavo Barroso.
“O Integralismo não é um partido político. Nem de modo algum deve ser
confundido com qualquer partido político. Os partidos representam os interesses
parciais de um grupo de eleitores, organizados à sombra de um programa destinado
a duração de mandatos daqueles que elege. O Integralismo põe o interesse da nação
acima de todos os interesses parciais ou partidário e se guia por uma doutrina, não
por um programa.” Esses são os ensinamentos de Gustavo Barroso que nós,
integralistas continuamos hoje em dia. Eu estou muito feliz com esse movimento da
Ação, desses jovens de hoje que se apresentam na sociedade como nacionalistas
porque eles seguem os nossos ensinamentos, pregam o nacionalismo, pregam a
resistência dos grupos naturais, que são a família, o homem, a família, a profissão, o
município, a propriedade. Então, nós pretendemos, mais hoje ou mais amanhã,
entendemos que vamos conseguir nacionalizar as forças políticas do país. No dia em
que conseguirmos isso, nós instauraremos a democracia orgânica, que é o Estado de
direito, é o estado de direito, de fato e de direito, essa democracia orgânica e nada
tem a ver com o nazismo, nem fascismo, nem política estrangeira de espécie alguma,
nem comunismo, nem coisa nenhuma. É uma política nossa, criação nossa, criação
do povo brasileiro, criação dos ensinamentos da liderança integralista. Mais hoje,
mais amanhã, nós instauraremos o Estado de Direito, que é a democracia orgânica
no país. Por isso é que nós não aceitamos o partidarismo. Partidarismo político é a
organização de cima para baixo. Nós queremos a coisa organizada de baixo para
cima. Fortalecendo a família, defendendo e fortalecendo a família; defendendo e
fortalecendo a juventude, as novas gerações. Queremos uma coisa, queremos que a
pátria seja revivida conforme a história do passado. Queremos viver sempre em
comum com os nossos grandes heróis, como foram Luís Alves de Lima e Silva, o
Duque de Caxias, patrono do nosso Exército Brasileiro. Como o Almirante
Tamandaré, como foram esses líderes que agüentaram e suportaram a política do
velho Império de Dom Pedro II, durante quarenta anos. Então esse é o nosso Brasil
que nós almejamos. É reviver as forças do passado para a manutenção de nossa
História.
Márcia: E o senhor acha assim que esses jovens que estão freqüentando aqui, o
senhor acha que eles estão acompanhando isso, que eles estão conseguindo aprender
com vocês, o senhor acha que eles dão essa resposta?
Arcy: Eu estou. Eu estou certo de que os nossos jovens estão estudando a nossa
doutrina e estão praticando a nossa doutrina. Ainda agora, recentemente, essa
semana, eu fui comunicado de que o grupo jovem de Niterói, que está organizado
em Niterói, está criando um movimento junto às escolas de orientação e de
doutrinação dos estudantes contra a droga, contra o tráfico, contra os entorpecentes,
que está se generalizando e sendo infiltrado por marginais nos colégios, nas escolas.
Então esses grupos, esse grupo nacionalista de jovens em Niterói estão criando
grupos dentro das Universidades, dentro das escolas, orientando seus próprios
colegas contra esses grandes males. Como um desses rapazes foi chamado para...
por causa de um boletim com um comunicado, deram a nota contra os
entorpecentes, então a Delegacia do trinta e seis distrito chamou esse jovem para
prestar declarações. Eu ontem era para eu comparecer a Delegacia, para esclarecer
às autoridades o que estavam pretendendo fazer esses jovens. Mais tarde
telefonaram avisando que já não era preciso mais, que já tinham resolvido o
problema. Tinham comparecido à delegacia em companhia de advogados, já tinham
resolvido o problema. Então, essa é a preocupação de nossos jovens. Eles estão
estudando a doutrina integralista e estão se organizando, estão se reunindo.
Atualmente eles têm aqui o nosso espaço no Centro Cultural Plínio Salgado, que
tem dado toda a cobertura a eles. Em São Paulo, foi fundado a Juventude Nativista
Bandeira do Sigma, sob a liderança do jovem Nilo Barreto Júnior e também o
professor José de Carvalho da Casa Plínio Salgado. Em São Pedro de Sapucaí, existe
lá também uma biblioteca, um Centro Cultural, que a gente chama de Espaço Plínio
Salgado, também mantido pela prefeitura local. Em Porto Alegre existe o Centro de
Documentação da Ação Integralista Brasileira e do PRP. E em Santos, em São
Paulo, existe o Movimento da Consciência Integralista. Então, em Brasília, nós
temos o CEPOTEC, Centro de Estudos Políticos, Teológicos e Culturais, liderado
pelo jovem Paulo Costa, que esteve na nossa reunião aqui, dia três. De maneira,
professora, é que os nossos jovens estão se movimentando. Eles não estão contentes,
não estão satisfeitos com o regime brasileiro, que é o regime de liberal democracia,
o regime de desorientação da nossa juventude. Então estão procurando os caminhos
para se organizarem numa sociedade séria que nós pretendemos, amanhã ou depois,
criar, reunir todos esses centros culturais e criar uma denominação que poderá ser,
inclusive, a própria Ação Integralista Brasileira. Porque nada temos, nada vemos de
mal contra a Ação Integralista Brasileira. Ninguém, nenhum político, nenhum
adversário da nossa política, dos nossos ensinamentos poderá nos acusar de algo que
tenha sido contrário a nossos princípios. O máximo que chegam a nos acusar é de
nazista e de fascista, coisa que nós temos em mãos toda a documentação que prova
que nós nunca tivemos nada com nazismo, nem fascismo, nem doutrinas nem
políticas estrangeiras. A nossa política é nacionalista, é histórica e é patriótica.
Márcia: Vamos voltar um pouquinho a vida do senhor. Então o senhor depois foi
secretário público e depois de algum tempo o senhor passou a estudar, voltou a
estudar, não é? Se formou...
Arcy: Ah, sim, é... Eu como jovem, sempre vivendo por conta própria, nunca tendo
amparo e ajuda da família que como camponês que era, de origem campesina; tive
que deixar minha família lá no interior de Rio Bonito e vir para o Rio de Janeiro em
busca da vida, sempre pretendendo estudar, melhorar de vida e tudo mais. Mas
sozinho, vida de rapaz solteiro, sozinho, tive que me empregar no comércio para
poder pagar pensão, para pagar as minhas despesas. E mais tarde, em 1946, por
concurso público prestado, tenho ainda o meu diploma, o meu certificado de
admissão naquele... no DARC, concurso prestado ao DARC, fui nomeado como
escriturário para o Ministério da Educação e Saúde. Na época funcionava lá na rua
da Imprensa, lá para o lado do Castelo, ainda funciona hoje, que é o MEC, que é o
Ministério da Educação e Cultura, nessa época era Ministério da Educação e Saúde.
Trabalhei no Ministério antes, como Ministério da Educação e Saúde. De 1953 para
cá passou, desmembrou o Ministério: de Educação e Saúde, criou-se o Ministério da
Saúde. Eu então, por necessidade de serviço, fui trabalhar no Ministério da Saúde.
Passou a funcionar na Avenida Rio Branco, número 277, ali inaugurou-se o
Ministério da Saúde. Em 1959, eu já havia casado e tinha adquirido aqui um sítio.
Esse sítio com uma plantação de laranja. Morava aqui, e fui trabalhar... trabalhava
no Rio, no Ministério. E em dia de sábado, domingo, dia de feriado, cuidava do
sítio, com os empregados. Nunca podendo prosseguir estudo, porque sempre em
dificuldade com a vida, nunca podendo estudar. Em 1959 fundei a União dos
Lavradores do Estado do Rio de Janeiro. Uma sociedade grande, aqui do lugar.
Criamos várias cooperativas, criamos Cooperativa de Consumo, Cooperativa de
Produção. Quando íamos criar a Cooperativa de Crédito veio a Revolução de 1964.
Aí me prenderam, botaram na cadeia. Fui três meses preso por causa da Revolução
de 1964. Aí me acusaram de subversivo, me acusaram de coisas que nunca fui.
Graças a minha história, graças a minha documentação que havia adquirido,
felizmente, passei três meses na cadeia sem responder processo. Veja como é que
era a situação política no nosso país, como é ainda a situação política de nosso país.
Como é que o homem fica na cadeia três meses sem responder a processo. No final:
pode ir embora. Não deve nada. É o fim da picada.
Márcia: Não tem habeas corpus.
Arcy: 1964, 1967. 64, 65, 66, 67. Passei então aos militares do SNI. Vendo que a
sociedade que eu estava presidindo era boa, e era útil, fui chamado no Ministério da
Marinha, uma vez. Lá o Diretor do pessoal da Marinha, o Almirante Aldo Álcila, me
convida para reabrir a sociedade: a União dos Lavradores outra vez. Eu digo: “Se os
senhores mandarem eu reabrir a sociedade, eu reabro a sociedade hoje mesmo. Vou
para o campo, vou reunir os núcleos, vou reabrir a União dos Lavradores outra vez.
Mas a polícia não me deixa, a polícia está atrás dos meus calcanhares. Não me deixa
agir.” Então, um advogado lá da Marinha me acompanhou à sede do SNI de Niterói
e lá, então, o major concordou que eu reabrisse a sociedade mas não podia assumir
cargo de direção na sociedade. Porque já tinha sido envolvido com a Revolução de
1964. Então não podia ocupar cargo de liderança. Então, nessa reunião estava eu
com uma comissão de lavradores presentes e lá na sala do SNI deliberamos não
reabrir mais a sociedade, extinguindo a sociedade. Já tínhamos perdido o nosso
patrimônio, todos. Já tínhamos várias casas, que eles demoliram as casas, tínhamos
um depósito de material de construção aqui em Itaipu, que eles tomaram tudo, todo
o material. Fizeram as mesmas atrocidades que fizeram em 1937 com a Ação
Integralista Brasileira. Bem, em 1973, não tendo advogado para defender os nossos
colonos no campo, eu resolvi então ingressar na Faculdade. Já tinha o curso colegial
feito, resolvi então fazer o exame vestibular da Faculdade Cândido Mendes e
ingressei na Faculdade, 1973. 73, 74, 75. Entrei logo no grupo de estágio para
trabalhar. Fui trabalhar na advocacia, já como estagiário. Me associei a um colega lá
da Avenida Rio Branco e com um funcionário do Hospital de Advogados. 1977
aposento no serviço público, trinta e três anos no serviço público, e mais dois de
serviço particular, fiz trinta e cinco, me aposento no serviço público no mesmo ano
em que me formei em Direito, foi em 77 o ano, em 1977 com o diploma de bacharel
em Direito na Faculdade Cândido Mendes. Daí passo a advogar. Aí foi que eu fui
resolver o problema do pessoal do campo. A restabelecer, a normalizar as áreas que
estavam sendo invadidas, estavam sendo tomadas pelos latifundiários, essa coisa
toda. E passei a me especializar no assunto de Direito Possessório. Ainda hoje, ainda
continuo advogando. Já estou com vinte anos de prática forense, trabalhando, ainda
com muito sacrifício. Sacrifício, mas ainda trabalhando. Foi assim que eu resolvi ser
advogado, porque em 1973, com aquela política nacional que havia de política dos
militares, que os Presidentes da República eram eleitos pelo Congresso, escolhidos
pelo Congresso, com isso nós tínhamos aqui um regime muito difícil para a vida no
campo. Eu lamento estar meio rouco, não poder falar, porque muita coisa poderia
contar sobre isso. Eu acho que a causa do desajuste social atualmente no campo,
com esse fenômeno dos invasores de terra no campo, em todo Brasil, se denominam
de Movimento dos Sem-Terra, isso foi uma conseqüência da política gerada, nascida
em 1964. Os militares e os governos da época atiraram no que viam e mataram o
que não viram. Pensaram eles que os comunistas estavam armados até os dentes. E
os comunistas não tinham nem canivete. Não tinha arma, tinha coisa nenhuma. O
que os comunistas estavam organizados eram nos sindicatos, nas associações, e
entretanto, os sindicatos, nas associações. Então, o que que fizeram? Passaram a
meter os lavradores, os trabalhadores do campo na cadeia. Como eu mesmo fui
preso, era dono de uma propriedade rural aqui, tinha uma propriedade rural, era
presidente de uma associação de trabalhadores rurais e fui preso. E, como eu,
centenas e centenas de trabalhadores liderados por nós, aqui no Estado do Rio: na
cidade de Silva Jardim, Macaé, Cachoeira de Macacu, Maricá, Saquarema e vários
outros municípios dessa região. Perderam suas propriedades, tiveram que ir para a
cidade morar na favela. Que o trabalhador do campo perdia suas casas, seus animais
e iam para a favela criar uma nova geração, que é a geração que nós temos hoje:
geração de bandidos. Que circundaram, encheram de favelas as cidades de São
Paulo, a cidade do Rio de Janeiro, e as cidades... abandonaram o campo. Eles
chamam isso de êxodo rural. Eu discordo, não houve êxodo rural, houve uma
expulsão do trabalhador do campo para as cidades. Então, os trabalhadores tiveram
que morar aonde? Na favela, não podiam morar em apartamento, não tinham casa
para morar, não tinham dinheiro para pagar aluguel, iam morar na favela. Então
criou uma nova geração, uma geração que nós temos hoje com uma situação
impotente do Estado para resolver esse problema social do país. Nós não somos de
todos descrentes. Nós acreditamos que vamos resolver esse problema. Já estamos
resolvendo em parte, nos associamos, chamamos professores e alunos das escolas
para se reunir, estudar problemas sociais e econômicos do país e se afastarem desse
momento de agitação político-partidária. Porque os partidos não constróem nada, os
partidos não fazem nada para o povo. O que fazem é galgar postos conforme está se
vendo atualmente. Mas, nós temos muita esperança de, num dia futuro, restabelecer
outra vez o Estado de Direito e voltar novamente a normalidade e através, no nosso
entender, através do ensino, que só a escola quem lucra. Quando o poder público
resolver amparar a escola, prestigiar o magistério, valorizar o magistério, valorizar
as escolas, criar a saúde pública, chegaremos a época em que nós restabeleceremos
outra vez o nosso Estado de Direito e nosso ensino e a nossa posição integral da
Nação. E esse é o nosso, tem sido o nosso sonho.
Márcia: Doutor Arcy, o senhor é uma liderança nacional do integralismo. O senhor
acha assim que hoje entre os integralistas existe um grupo que tem conhecimento da
doutrina básico e assim... existe dentro desse grupo um chefe, uma liderança que
vocês considerem aquela pessoa que poderia substituir Plínio Salgado hoje? O
senhor poderia até ser essa pessoa?
Arcy: Sim. Nós temos muitos valores, temos muitos valores em nosso meio. Porém,
ainda existe um espírito de temor. O que está existindo nos meios integralistas é um
espírito do passado. Eles pensam que, com a nova organização, amanhã ou depois
voltem, outra vez a perseguição política, conforme já fomos vítimas. Mas, temos
esperança das novas gerações, por isso é que nós temos esperança nas novas
gerações. Que essa nova geração vai surgir, dela, líderes capacitados para exercer a
função de líderes da liderança integralista. Nós temos, por exemplo, não gosto de
estar citando nomes...

Fita Nº 4 – Lado A

Arcy: (Paulo Costa) Muito inteligente, a senhora conheceu ele aí na reunião, muito
inteligente, um moço culto, um patriota exemplar, um estudioso exemplar da
doutrina Integralista. Dentro de São Paulo, o professor José de Carvalho, também a
senhora conheceu na nossa reunião, que é um grande mestre, é um grande educador,
que hoje é o presidente da Casa Plínio Salgado em São Paulo. Temos jovens como o
Barreto Júnior que é um rapaz inteligente, é universitário. Quase todos disso aqui
são os universitários eles estão ainda em luta com a sua vida colegial. Logo que
terminem e se formem, eles vão, então, passar a exercer posição de liderança no
nosso movimento. Temos muitos líderes. Muitos integralistas. Mas já velhos, já
cansados, estes não querem mais exercer a posição de organização nenhuma. Mas
toda nossa esperança está se repousando exatamente na juventude. Estes são os
continuadores da nossa bandeira.
Márcia: Aqui no Rio de Janeiro também tem aquele Marcus, o Marcus Ferreira...
Arcy: Dentro aqui do Rio de Janeiro, o jovem universitário Murilo Silva, Luís
Aguiar, temos o Marcus Ferreira. Esses jovens são estudiosos, eles, logo que tenham
a sua vida independente, logo que consigam se formar nos cursos que estão fazendo
eles vão assumir a liderança do movimento integralista. Nós estamos tranqüilizados
quanto a isso.
Márcia: O Paulo Costa, lá de Brasília, ele falou sobre um padre, lá também em
Brasília, que está participando, um Bispo...
Arcy: Dentre diversos. Lá em Brasília temos diversos Bispos. Temos o autor desse
livro, por exemplo, é um Bispo, não vou citar o nome dele, porque também não
posso estar citando nomes assim. Ele escreveu esse livro com o pseudônimo
Sacerdos e quer que se mantenha o pessoal ao lado dele. É um grande líder. E lá a
Igreja Católica mantém vários prédios que estudiosos da doutrina integralista
utilizam. O autor desse livro, ele é Bispo, foi bispo, até recentemente ele ainda
estava. “O homem integral, Estado integral”. É um livro que serve para nós como
uma cartilha. Daqui a gente busca os comentários, tudo direitinho.
Então nós temos uma nova geração que está estudando, está estudando. E nós temos:
bases da Democracia: primeiro - o homem livre; segundo - os grupos naturais.
Examinando como doutrina, que procuro da democracia? Grupos naturais se
constituem: a família, a profissão, a propriedade e o município, esses são as bases de
nossa doutrina. “Mas então como os senhores pretendem fazer essas bases?” Nós
pretendemos criar nessas bases as suas hastes, que é exatamente a formação de
grupos. Na família, as donas de casa é que se reúnem e falem em nome da família: a
defesa da prole, a defesa da família, a educação dos filhos, o convívio social entre
homem e mulher, são problemas complexos do lar atinentes à família. Da Profissão:
ora, meu Deus do Céu, por que em vez de PMDB, em vez de PSDB, PT, de PRP, de
tantos pês, por que não a profissão do homem? O engenheiro, o advogado, o médico,
o professor... Por que não as profissões? Então, estas profissões, organizadas em
grupos, os seus líderes seriam os indicados para as câmaras políticas. O município, a
província – porque nós não entendemos o Estado dentro de Estado – e os
Congressos Nacionais. Os vereadores do município, representantes das classes
profissionais e não de partidos políticos, elegeriam o presidente da Câmara e o
prefeito do Município. O eleito para a província, conjunto de deputados provinciais,
elegeriam o presidente da câmara e o Governador do Estado. Os Congressos Gerais,
a mesma coisa: elegeriam o presidente da câmara, do Senado e o presidente da
República. É essa a democracia orgânica que nós sonhamos. É a tal Democracia
Orgânica que nós sonhamos é assim. Tendo por base, como alicerce, a família, a
profissão, a propriedade e o município. Então, nós mataríamos, assim, a luta de
classes, que é um grande mal. Esse negócio de patrão brigar com empregado,
empregado brigar com patrão, isso é um atraso. Patrão precisa se entender com
empregado, empregado precisa se entender com patrão. E a luta de classe... nós de
ponto, nós mataríamos a luta de classe. No entanto, essa luta de classe é uma arma
poderosa para comunismo, para o regime das ditaduras. Nós não queremos nem o
comunismo nem ditaduras, de espécie alguma. Queremos o bom entendimento das
classes, das classes obreiras. Para a constituição do regime do Estado. A
propriedade. Se eu não me engano uns senhores são contra, são pela propriedade,
são pelo latifúndio. E o homem? Onde é que ele vai morar? A nossa propriedade que
nós defendemos é a propriedade até o limite do bem comum. Nós entendemos que
todo o cidadão deve ter a sua casa própria, deve ter sua fazenda, deve ter seu sítio,
deve ter seu domínio que é o espaço do homem no tempo. Então, nós, esses eventos,
esses estudos, não vamos sonhar, pensar que vamos resolver isso do dia para a noite.
Plínio Salgado dizia sempre “Eu não estou fazendo uma horta para alimentar os
apressados. Eu estou plantando couves, estou plantando hortaliças para alimentar as
gerações do futuro.” Esse é o nosso sonho, a nossa idéia está aqui, Plínio Salgado
deixou uma sementeira para nós e nós, cumpre a nós conservar essa sementeira,
essas hortaliças para novas gerações. Um dia, acabaremos com a força do
predomínio, a força da ditadura. As ditaduras para nós, ela não é só o comunismo, o
grande mal para nós não é só o comunismo. É também o nazismo, é o fascismo, é o
regime que suprime o livre-arbítrio do homem. Nós queremos que o homem seja
livre como ele foi criado por Deus. Queremos que as gerações, as famílias sejam
livres conforme foram criadas por Deus. E esse é o nosso sonho, esse é o nosso
sonho.
Márcia: Doutor Arcy, o senhor acha que hoje, nessas reuniões sente falta de alguma
coisa? Nessas reuniões, que o senhor sentia e não sentia antes ? Sente alguma falta?
Sente, assim, no ar que está faltando alguma coisa a essa juventude?
Arcy: Hoje falta tudo para as pessoas. Inclusive, inclusive a formação do lar. A
senhora vê que pobreza que nós chegamos: de estarem querendo igualdade de
direitos para pessoas anormais. Isso é um absurdo! Casamento de homossexuais, a
lei do aborto, que absurdo, dessa gente querendo criar, minto, eliminar as crianças
ainda no útero materno. Onde é que nós chegamos, o descalabro social que nós
chegamos! Nunca em nossa história nós tivemos tão adiantado esse desajuste social
como nós estamos. Tudo graças ao internacionalismo! Ainda há poucos dias eu li
uma revista que dizia que na China, de Mão Tsé-Tung, o casal não podia ter mais
que um filho. A mulher se engravidava, tinha que ir no posto de saúde tirar o feto.
Isso, fazendo limite de convívio social, limite de convívio social. E o brasileiro,
como é sempre importador de idéias estrangeiras, então quer também pregar essa
anomalia desses regimes ditatoriais, esses regimes anti-cívicos, anti-patrióticos e
anti-cristãos, e anti-cristãos. Mas, por outro lado, nós não nos conformamos porque
vemos, por exemplo, que a Rússia soviética, hoje, já é um país de democracia. Já
está sendo governada pela democracia. Aqui nas Américas, na América, nós temos o
regime de Fidel Castro que já está se democratizando. Então, a finalidade é
democratizar os povos, democratizar os povos, e criar idéias para que haja a legítima
perfeição da família, da sociedade humana, conforme a história nos registra e os
nossos ensinamentos que recebemos nas escolas.
Márcia: Doutor Arcy, eu vou parar por aqui, que quanto mais eu falo, mais eu
aprendo, mais o senhor coloca novas coisas... Então eu pretendo não parar por aqui,
quer dizer, continuar, continuar... acaba aqui essa sessão, mas continuar
posteriormente até participando das reuniões para conhecer mais.
Arcy: Eu estou a disposição da senhora...
Márcia: Muito obrigada, se eu precisar de alguma coisa eu retorno.
Arcy: Eu vejo que a senhora é uma educadora, que quer levar os ensinamentos para
o bem comum, e nós temos essa obrigação de estar à disposição da senhora também
que é uma pessoa jovem, uma pessoa que sonha com um futuro melhor para o nosso
povo.
Márcia: Muito obrigada. Obrigada Doutor Arcy.

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