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Dossiê desigualdade

DESIGUALDADE E POBREZA:
Lições de Sen

Celia Lessa Kerstenetzky

A escolha de Amartya Kumar Sen para rece- da especialização e da fragmentação do conheci-


ber o prêmio Nobel de Economia de 1998 não mento.
suscitou grande comoção na academia, tendo sido Este é um texto preliminar que, não tendo a
amplamente prevista e, salvo engano, bem acolhi- pretensão de ser exaustivo ou sistemático, resulta
da. Se despertou pouca surpresa, tampouco pro- de um contato de longa data com vários livros e
duziu maiores reflexões. artigos de Sen, contato que agora se precipita em
Confessando desde já minha inapetência um certo aprendizado. As “lições” recolhidas, e
para tentar discernir tanto as razões da Academia que gostaria de compartilhar, acham-se agrupadas
sueca quanto as crenças dos que as anteciparam, em três seções, onde discuto as relações entre: (1)
gostaria apenas de romper a inércia que costuma Economia e ética; (2) ética e racionalidade; e (3)
seguir-se à unanimidade e propor algumas refle- desigualdade e pobreza. A seção final traz algumas
xões sobre a contribuição de Sen. Não sei se terão considerações gerais, tecidas à luz das discussões
sido os motivos que encontrei os mesmos que precedentes.
levaram ao amplo reconhecimento de sua obra,
mas espero que, uma vez articulados, a simpatia
Economia e ética
em relação a ela siga sendo ao menos tão intensa.
Minha percepção é que a preocupação com a Após a conhecida fórmula de Gary Becker
pobreza e a desigualdade orientou profundamente (1976), sabe-se que os economistas teóricos são
a obra de Sen, conduzindo a desenvolvimentos em aquelas pessoas que discernem o mundo através
várias direções e em grande profusão; por inade- das lentes do método de otimização1 e não, como
quação dos instrumentos que encontrava, Sen teria durante anos e talvez séculos chegou-se a pensar,
sido igualmente levado a produzir ou refinar mui- aqueles cientistas sociais que estudavam a esfera
tas das ferramentas analíticas que utiliza. O resulta- da produção e da distribuição de bens materiais. O
do é uma obra de ecrivain engagé, de amplo Nobel de 1992 assevera que a Economia se carac-
espectro e grande refinamento, que nos faz pensar teriza pelo método e não pelo tema, ele mesmo
produtivamente, e não apenas lamentar, os limites tendo conduzido a Economia assim redefinida a

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entender o crime, os casamentos e divórcios, a Sen aqui é um leitor atento da tradição liberal
guarda dos filhos, as relações entre pais e filhos, e clássica, tanto da economia política quanto da
uma variedade infindável de problemas. Ampara- filosofia política. Mas também é alguém especial-
dos pelas razões fornecidas por Becker, os econo- mente sensível às peculiares formas de destitui-
mistas passaram a aplicar, aparentemente com ção e exclusão, e às profundas desigualdades
maior legitimidade, o mesmo método a vários que comprimem, quando não anulam, as liberda-
temas, em virtude do que a Sociologia, a Psicolo- des efetivas em um mundo onde enormes pro-
gia, a Política (rebatizada de Economia Política gressos materiais foram alcançados.
Positiva), o Direito e a Antropologia transmudam- Dado que a dimensão ética projeta uma
se gradualmente em áreas de especialização eco- sombra sobre a Economia, sugerindo uma reflexão
nômica. sobre os fins últimos da atividade econômica em
Ora, nessa perspectiva beckeriana de “um uma sociedade, ela interrompe qualquer automa-
método, todos os temas”, cuja semelhança com o tismo que se possa atribuir a esta esfera. Como
marxismo deve ser notada, Amartya Sen afigura-se distribuir a riqueza gerada de modo a se alcançar o
um economista sui generis em sua insistência objetivo de ampliação das liberdades efetivas?
quanto às relações íntimas entre a Economia e a Como conciliar os imperativos da justiça (não
ética, ao mesmo tempo em que pratica e, por fim, apenas como eqüidade, mas como ampliação de
explicita um saudável pluralismo de método (que liberdades) com os da eficiência econômica (e Sen
não o identifica coerentemente nem com a ortodo- não parece ser insensível à necessidade de se
xia, nem com a heterodoxia na Economia). Um qualificar o famoso trade-off entre eficiência e
tema de base, vários métodos. Se a análise econô- igualdade)? Ora, é justamente no não reconheci-
mica, na sugestão de Becker, promove o que mento dessa autonomia do econômico em seu
poderíamos chamar de interdisciplinaridade à for- próprio terreno, na percepção de uma constante
ça, já que se trata da superimposição de uma visão necessidade de avaliação dos processos de gera-
de mundo a diferentes configurações do mundo, o ção e divisão da riqueza que reside o mais forte
feito de Sen sugere uma versão relativa de interdis- apelo à cooperação interdiscursiva entre o raciocí-
ciplinaridade em que se reconhece a pertinência nio ético e o raciocínio econômico.
de cada plano discursivo e se indica as relações de Mas, também no interior mesmo da Econo-
fertilização recíproca possíveis. mia descritiva e preditiva Sen acredita na proficui-
Se a Economia é o saber sobre as relações dade do intercâmbio com a ética. Qual o papel de
humanas voltadas para a produção e distribuição supostos de comportamento alternativos ao auto-
da riqueza material, a riqueza, entretanto, nos interesse na teoria econômica? Certamente produ-
interessa principalmente como instrumento de tivo, uma vez que a Economia teria muito a ganhar
bem-estar, por sua vez parte de uma visão mais em relevância se suplementasse o suposto do
ampla dos propósitos humanos.2 Trata-se aqui de comportamento auto-interessado com outras moti-
uma hierarquia em que a dimensão ética tem vações, como o comportamento não voltado estri-
clara precedência, ou melhor, é a dimensão en- tamente para o bem-estar pessoal, ou se incorpo-
voltória: Sen nos propõe uma visão dos propósi- rasse uma noção de bem-estar mais abrangente
tos humanos que não se detenha no espaço do que o consumo pessoal, ou mesmo o comporta-
“ter”, abrangendo o “fazer” (doings) e o “ser” mento não estritamente orientado por objetivos,
(beings) — algo que, conforme veremos na ter- como o guiado por regras convencionais. O supos-
ceira seção deste artigo, corresponde à idéia de to restritivo de comportamento auto-interessado
“funcionamentos” (functionings). Entretanto, te- estaria afetando não apenas a relevância da teoria
res, fazeres e seres são importantes não tanto em econômica positiva como também a de seu afluen-
si mesmos mas como indicadores da liberdade te normativo, a economia do bem-estar.
efetiva dos indivíduos — que corresponde, como Em seu On ethics and economics, de 1988,
veremos, à noção de “capacidades” (capabilities). que ganha agora uma tradução para o português
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(Sen, 1999), Sen se estende sobre as relações pendência de seus ganhos. Neste caso, seguir
naturais e separações forçadas entre Economia e certas regras de comportamento (como a de reci-
ética, sugerindo que ambos os campos discursivos procidade) pode ser a estratégia a adotar, em razão
teriam muito a ganhar se reconhecessem os rendi- de sua importância instrumental para a promoção
mentos óbvios da cooperação. Entretanto, o argu- dos objetivos de cada um. Dizer, então, que seguir
mento concentra-se mais nas perdas para a Econo- as regras foi o objetivo dos indivíduos é no mínimo
mia decorrentes de sua incapacidade de reconhe- ambíguo: “Se a reciprocidade não é considerada
cer estes ganhos. Por um lado, observa-se o empo- importante intrinsecamente e sim instrumental-
brecimento da economia do bem-estar quando mente, e esse reconhecimento se expressa de fato
expulsa as comparações interpessoais de vanta- em comportamento recíproco para melhor atingir
gens para o terreno da ética e quando reduz a os objetivos de cada pessoa, é difícil argumentar
avaliação de estados sociais alternativos ao bem- que o ‘objetivo real’ da pessoa é seguir a reciproci-
estar dos indivíduos e o confina à satisfação de suas dade em vez de seus respectivos objetivos reais.”
preferências. Por outro, percebe-se o baixo índice (Sen, 1999, p. 102).4
de relevância da economia positiva decorrente da
imaginação rarefeita no desenho de hipóteses
Ética e racionalidade
comportamentais, usualmente mais servis ao crité-
rio de consistência. De um modo geral, sobressai o Em sua crítica à dieta auto-imposta à Econo-
tratamento meramente instrumental e caricato das mia por seu afastamento da ética, Sen queixa-se da
motivações possivelmente éticas. Perdas para a noção excessivamente restritiva de racionalidade
ética também são mencionadas, porém com ligei- utilizada pela disciplina. De um modo geral, a
reza; a mais importante seria o reconhecimento da racionalidade economista ou impõe consistência
importância do raciocínio conseqüencialista em interna às escolhas sem pronunciar-se sobre o
questões típicas do campo da ética, tais como o conteúdo destas escolhas, ou se manifesta como a
tratamento interativo dos direitos e das liberdades, busca pela maximização do auto-interesse, adotan-
que emerge da igualmente significativa, e farta- do neste caso uma posição demasiado simplifica-
mente analisada pelos economistas, interdepen- dora em relação às motivações dos indivíduos. É
dência social e cuja representação analítica se pode necessário, diz ele, reconhecer a existência tanto
encontrar nos modelos de equilíbrio geral. Porém, de outras motivações quanto de outras definições
sabe-se que a análise conseqüencialista não é de racionalidade que ultrapassem a exigência de
invenção da Economia, e tampouco a idéia de consistência interna da escolha. Esta necessidade
interdependência social. Pode-se, portanto, com- adviria do imperativo da relevância de nossas
preender as razões da brevidade na argumentação explicações, bem como da praticidade das prescri-
quanto aos ganhos da mão inversa.3 ções de políticas públicas.
Evidentemente, Sen não ignora uma certa O resultado destas objeções seria a incorpo-
concepção, freqüente na Economia, de que toda e ração de motivações, por exemplo, morais na
qualquer motivação pode ser incorporada no auto- E conomia, e de um modo mais amplo, implicaria
interesse dos indivíduos, inclusive suas motivações a investigação do conjunto de valores que os
morais e o seguir regras. Qualquer uma destas indivíduos procuram realizar, bem como a admis-
coisas poderia ser compreendida como o objetivo são da possibilidade de “inconsistências” na esco-
que o indivíduo quer maximizar. Analisando uma lha, na forma de incompletude, ou ao menos de
possível racionalidade alternativa, não voltada completude parcial das ordenações de valores por
para objetivos individuais e que poderia dar conta parte dos indivíduos. Pluralismo de valores e um
de comportamentos cooperativos em jogos não- racionalismo formal mitigado são as idéias centrais
cooperativos, Sen observa que o comportamento que orientam as relações entre ética e racionalida-
cooperativo poderia emergir como efeito do reco- de, gerando implicações importantes no campo da
nhecimento, por parte dos indivíduos, da interde- ética. Gostaria de chamar a atenção para alguns
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aspectos significativos das relações entre esta pro- des efetivas; a demanda por eqüidade não satisfa-
posta e as principais correntes contemporâneas de ria a demanda por justiça.
teoria normativa, o utilitarismo e o rawlsianismo,5 Ademais, pode-se dizer que a ambição de se
adiantando que a maior dificuldade com estes construir um sistema de filosofia moral baseado em
sistemas de filosofia moral encontra-se em sua um único valor como o bem-estar, assim como a de
excessiva ambição universalista. se encontrar um procedimento eqüitativo para a
A objeção maior de Sen ao utilitarismo deve- distribuição de meios plurais para a realização de
se à ênfase deste último no bem-estar, ao que ele uma pluralidade de valores, são extremamente
chama de aspecto welfarista do utilitarismo,6 que exigentes quanto à capacidade racional dos indiví-
padeceria de injustificado reducionismo de valor. duos em reconhecer estes valores ou este procedi-
Adicionalmente, ao apoiar-se na utilidade e nas mento como aqueles que se deve seguir. É aqui
preferências dos indivíduos, o utilitarismo não faria que entra o que chamei de racionalismo formal
justiça às óbvias assimetrias de informação e de mitigado de Sen.
condição existentes entre eles, as quais permitem Trata-se principalmente da saudável admis-
que alguns tenham preferências “caras” enquanto são, por parte de Sen, da existência de conflitos de
outros formem, resignadamente, preferências “ba- valor ou dilemas morais. Na construção de uma
ratas”. Na economia do bem-estar, o welfarismo do função utilidade ou do índice rawlsiano de bens
utilitarismo encontraria expressão no critério de primários, a hierarquia de valores não é problemá-
ótimo de Pareto, que justamente por basear-se em tica: no caso utilitarista, há apenas o bem supremo
utilidades, e conseqüentemente em preferências, da utilidade; na vertente rawlsiana há uma ordena-
revelar-se-ia um critério além de insuficiente, infor- ção lexicográfica entre os bens primários corres-
macionalmente inadequado para a avaliação de pondente à ordenação entre os dois princípios de
estados sociais alternativos. O utilitarismo distorce- justiça e suas divisões internas. Sen recupera a
ria a avaliação dos estados sociais possíveis sobre- discussão clássica dos dilemas morais, freqüentes,
tudo ao sancionar, de um lado, o conformismo por exemplo, na tragédia grega (como nos recor-
daqueles que sofrem opressão e discriminação dam os dilemas de Agamenon e Antígona) e
sociais continuadas, e que ajustariam suas prefe- certamente relevantes para se entender uma varie-
rências às suas minguadas possibilidades de reali- dade de problemas de escolha. Incorpora, em
zação, e de outro, os privilégios de elites que já conseqüência, as contribuições contemporâneas
deitaram raízes. sobre o problema das escolhas dilemáticas de
Quanto ao rawlsianismo, em relação ao utili- autores como Isaiah Berlin (1978), Stuart Hampshi-
tarismo apresentaria a vantagem de propor uma re (1982), Bernard Williams (1981), Thomas Nagel
visão mais plural de valor, expressa na categoria de (1979), bem como os trabalhos de Calabresi e
bens sociais primários, cujo propósito seria captar Bobbitt (1978) e de Isaac Levi (1986).7
a dimensão de liberdade real que os indivíduos A impossibilidade de hierarquização intra-
possuem em uma sociedade para realizar suas pessoal completa de valores sugerida por estes
diferentes concepções de vida, e cuja distribuição pluralistas (de quem não se pode, contudo, dizer
deve ser o mais igualitária possível (ver Rawls, que sejam subjetivistas ou relativistas éticos), indi-
1971). Fracassaria, entretanto, na capacidade de cando limites para a ambição de universalização da
dar expressão ao déficit de liberdade efetiva dos moralidade, não impede Sen de perseverar na
indivíduos desfavorecidos que estiveram expostos busca de fundamentos éticos para a legitimação da
à condição de destituição continuada ou à incapa- ação do Estado via políticas públicas. A impossibi-
cidade física ou mental. A igualdade na distribui- lidade de se produzir ordenações completas de
ção de bens primários não atenderia a estes possui- valores e das ações correspondentes nos deixa o
dores de carências especiais que, em relação aos second-best de buscar construir ordenações par-
demais, apresentam diferenciadas e desfavoráveis ciais, que podem pragmaticamente funcionar. Se
taxas de conversão de bens primários em liberda- de todo não for possível comparar duas ações que
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nos parecem boas, ou seja, se não for possível pelo fato de que quando se refere a desigualdades
encontrar a melhor entre elas ou mesmo afirmar Sen está de fato aduzindo argumentos e evidências
que somos indiferentes entre elas, isto pode repre- relativos à pobreza. Sua insistência nos fenômenos
sentar um problema formal interessante de inco- da destituição e da incapacidade física e mental,
mensurabilidade de valores (ou, mais fracamente, inclusive como pedras de toque de investidas
de incomparabilidade). O que nos conduziria a normativas contemporâneas, aparentemente indi-
explorar soluções analíticas menos elegantes do caria o acento sobre o problema da exclusão social
que a completude e a consistência, como a com- em detrimento do tema das disparidades entre
pletude parcial ou a “inconsistente” supercomple- indivíduos e grupos sociais.
tude. Mas não deveria nos paralisar como fez ao Minha percepção, entretanto, é outra. Creio
asno de Buridan que, encontrando-se incapaz de que as contribuições mais significativas de Sen ao
decidir qual entre dois montes de feno seria supe- debate sobre desigualdade e pobreza são, em
rior, morreu de inanição. primeiro lugar, a dimensão de avaliação dos esta-
A ação independe de uma resposta unívoca dos sociais em termos dos seres e fazeres, e do
para a pergunta “qual a melhor alternativa?”. É espaço aberto aos indivíduos para escolher entre
claro que o problema da justificação permanece, seres e fazeres alternativos, isto é, em termos dos
mas é preciso reconhecer que em muitas situações funcionamentos e capacidades dos indivíduos
esta permanecerá incompleta, enquanto decisões para levarem adiante seus planos de vida. Esta
serão tomadas. O pragmatismo da teoria normativa dimensão avaliatória representaria o grau de liber-
de Sen parece ainda sugerir a recuperação da dade efetivamente gozado pelos indivíduos em
importância prática da teoria social no auxílio à uma sociedade, segundo a ética do desenvolvi-
solução de dilemas e conflitos, que, neste contex- mento de Sen. Em segundo lugar, penso que Sen
to, encontra-se para os sistemas de filosofia moral elabora, para além de uma noção de pobreza
assim como o contingente encontra-se para o absoluta — que corresponderia ao alcance de uma
universal. condição de vida abaixo do mínimo fisicamente
adequado, conceito mais biológico do que social
—, uma noção de pobreza relativa. Esta seria
Desigualdade e pobreza
afetada pelo nível de desigualdade socioeconômi-
A contribuição de Sen no domínio dos pro- ca prevalecente em uma sociedade, e as noções de
blemas da desigualdade e pobreza estende-se funcionamentos e capacidades estariam aptas a
desde os aspectos conceituais e de mensuração aferi-lo. Vamos começar pelo exame da dimensão
aos de políticas públicas. Em seu On economic avaliatória proposta.
inequality, de 1973, Sen debruça-se sobre a ques- Em suas Tanner lectures de 1985 (Sen,
tão da medida da pobreza e da desigualdade. Mais 1990), sobretudo na segunda conferência, Sen
tarde, retoma o argumento deste pequeno livro em busca formular a agenda positiva de sua discus-
uma empreitada mais abrangente onde examina são sobre o padrão de vida como expressão das
em profundidade os aspectos conceituais ligados à condições de vida dos indivíduos. Ele o faz após
definição de desigualdade, sendo a pobreza um haver descartado, na primeira conferência, a no-
dos subtemas de seu livro Inequality reexamined ção de padrão de vida como opulência ou rique-
(1992). Em 1997, publica uma extensão de On za, ou ainda como utilidade, quer no sentido de
economic inequality. Seu trabalho sobre pobreza prazer, satisfação do desejo ou escolha, tendo em
é no mínimo igualmente prolixo e remonta pelo vista o argumento central que norteia sua rejeição
menos aos anos 60. De fato, os dois temas apare- ao utilitarismo bem como a uma abordagem eco-
cem freqüentemente interligados, o que tem pro- nomicista da escolha social e do bem-estar, qual
vocado a afirmação, por parte de alguns críticos, da seja: ademais de seu injustificado reducionismo
precedência da temática da pobreza sobre a desi- valorativo, o problema óbvio de dissonância cog-
gualdade em sua obra, que poderia ser atestada nitiva (preferências caras e baratas) que todas
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estas abordagens endossariam de maneira acríti- análises recentes uma ênfase crescente na avalia-
ca. Precisamos, diz ele, redefinir os objetos de ção das necessidades básicas, incluindo renda,
valor de modo a minimizar os problemas de um saúde, educação, expectativa de vida, e na constru-
subjetivismo radical tal como o utilitarista, que ção de indicadores sociais que transcendem o
apresenta distorções óbvias. O argumento, que indicador de renda. Temos aqui o deslocamento
reaparece inúmeras vezes ao longo de sua obra e valorativo do espaço do ter para o do fazer e, mais
se reveste de crescente refinamento retórico e abrangentemente, o do ser:
impressionante permanência substantiva, é assim
expresso na segunda conferência Tanner: A questão central é a qualidade da vida que
podemos levar. A necessidade de possuir merca-
Os fracassados e os oprimidos acabam por per- dorias para que se alcance um determinado pata-
der a coragem de desejar coisas que outros, mais mar de condições de vida varia grandemente
favoravelmente tratados pela sociedade, desejam segundo características fisiológicas, sociais e cul-
confiantemente. A ausência de desejo por coisas turais, além de outras igualmente contingentes […]
além dos meios de que uma pessoa dispõe pode O valor do padrão de vida repousa na vida, e não
refletir não uma valoração deficiente por parte na possessão de mercadorias, a qual tem relevân-
dela, mas apenas uma ausência de esperança, e cia derivada e variável. (Sen, 1990, p. 25)
o medo da inevitável frustração. O fracassado
enfrenta as desigualdades sociais ajustando seus O motivo deste deslocamento está, pois,
desejos às suas possibilidades. (Sen, 1990, pp. esclarecido justamente pela contingência e variabi-
10-11) lidade sociais e naturais, que respondem pela
diferenciação das carências entre indivíduos e
À unicidade valorativa que encontra no utili- grupos. Segundo Sen, ele terá sua melhor repre-
tarismo e na economia do bem-estar de um modo sentação no espaço dos funcionamentos — os
geral, Sen contrapropõe, em sua abordagem dos seres e estares e fazeres que os indivíduos podem
funcionamentos e capacidades, uma pluralidade realizar: “Os funcionamentos […] podem variar
de objetos de valor, afirmando que o que tem valor daqueles mais elementares, como estar bem nutri-
para nós é constitutivamente plural, refletindo a do, escapar de morbidade e mortalidade prematu-
pluralidade possível de seres e fazeres em conso- ra evitáveis etc., a realizações bastante complexas
nância com a diversidade das carências dos indi- e sofisticadas, como possuir auto-respeito, ser ca-
víduos. Ademais, estes objetos de valor seriam paz de tomar parte na vida da comunidade, e assim
medidos por meio de ordenamentos parciais, ad- por diante.” (Sen, 1992, p. 5). As capacidades, por
mitindo-se a não rara ocorrência de comensurabi- sua vez, refletiriam as oportunidades de escolha
lidade apenas parcial entre os diferentes funciona- por diferentes conjuntos de funcionamentos que
mentos e as diferentes capacidades. estariam abertas aos indivíduos, representando a
A noção de funcionamentos como os objetos extensão de sua liberdade efetiva, e não apenas,
de valor na avaliação das condições de vida dos como no índice rawlsiano dos bens sociais primá-
indivíduos em uma sociedade encontra precurso- rios, os meios para a liberdade, que em princípio
res em Aristóteles, William Petty, Adam Smith, seriam insensíveis à variabilidade interpessoal de
Lagrange e uma vasta tradição da economia políti- carências, à sua duração e intensidade.
ca moderna. O objeto de investigação parece Para encerrar esta breve apresentação da
localizar-se nas condições e tipos de vida que o contribuição de Sen no que respeita ao espaço de
acesso a diferenciados meios, econômicos mas não avaliação, deve-se notar que a avaliação em termos
exclusivamente, seria capaz de proporcionar. Esta de funcionamentos e capacidades estaria apta a
investigação requer ir além dos indicadores estrita- representar três níveis de objetivos das pessoas:
mente econômicos, como os do crescimento do seu padrão de vida (standard of living), seu bem-
produto e da renda. De fato, Sen reconhece em estar pessoal (well-being) e seus objetivos como
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agência (agency). O indivíduo pode ser visto, realizações de uns ao que outros conseguem al-
multidimensionalmente,8 como alguém que pos- cançar, reduzindo ou eliminando os sentimentos
sui ambições que dizem respeito às suas condições de vergonha e baixa estima resultantes de uma
pessoais de vida e que não envolvem expectativas comparação sempre desfavorável com os mais
quanto às condições de vida de outros (por exem- bem situados. E os fatos sociológicos da eventual
plo, respirar o ar puro da montanha nos fins de invisibilidade destas diferenças, e seu confinamen-
semana); que possui ambições que podem envol- to em grupos de referência, não devem impedir o
ver as condições de vida ou o bem-estar de outras exame crítico da justeza destas situações.
pessoas, a simpatia podendo ser incluída como um
aspecto de seu bem-estar pessoal (por exemplo,
Comentários finais
levar a família para respirar o ar puro da montanha
nos fins de semana); e, finalmente, como alguém Uma estratégia argumentativa algo freqüente
que possui compromissos que envolveriam a rea- sobretudo nos textos menos técnicos de Sen é
lização de objetivos que devem ser perseguidos minimizar as diferenças entre as suas contribuições
independentemente de seus efeitos sobre seu e a dos contemporâneos seus com quem dialoga.
bem-estar pessoal (por exemplo, em suas horas de É assim quando, em seu Inequality reexamined,
lazer, militar em movimento em defesa da preser- Sen reúne os utilitaristas, os libertarianos e os
vação do meio ambiente em uma poluída megaló- contratualistas na mesma comunidade de igualita-
pole). Correspondentemente, podemos pensar es- ristas, mais ou menos autoconscientes de seu
tes diferentes aspectos e objetivos em termos de igualitarismo. Neste mesmo volume, Sen reconhe-
funcionamentos e capacidades. ce sua enorme dívida intelectual com John Rawls,
Passemos agora ao exame da conexão entre de cuja concepção de justiça se diz adepto, suge-
pobreza e desigualdade que, creio eu, indica rindo apenas alterações no equalisandum e forne-
uma importante contribuição de Sen. De novo, a cendo razões aparentemente secundárias para es-
fonte é a economia política, Adam Smith em tes reparos que não atingiriam o edifício da cons-
particular, de quem Sen extrai a importante capa- trução rawlsiana. Também este parece ser o caso
cidade de “poder apresentar-se em público sem no que diz respeito a contribuições à economia do
sentir vergonha”. Distinguindo os funcionamen- bem-estar e à discussão do problema da racionali-
tos e as capacidades biológica e universalmente dade em Economia: Sen entra no barco da econo-
determinados daqueles que o são socialmente, mia do bem-estar, e em particular no debate da
isto é, que dependem de um padrão médio efeti- teoria da escolha social pós-Arrow, com interven-
vamente alcançado por uma comunidade, Sen ções pouco ortodoxas (como a crítica aos funda-
invoca Smith para lembrar que mentos do critério de Pareto e a formulação do
paradoxo do liberal paretiano, em Sen (1970),
[p]ara levar a vida sem sentir vergonha, para ser assim como no debate em torno da noção de
capaz de visitar e cultivar amigos, para manter-se racionalidade econômica com os seus “tolos racio-
a par do que está acontecendo e sobre o que os nais” (Sen, 1977) e a crítica nada lateral ao suposto
outros estão falando, e assim por diante, é preciso comportamental do auto-interesse, como se fos-
um conjunto mais caro de bens e serviços em uma sem apenas extensões não problematicamente in-
sociedade geralmente mais rica, e na qual um corporáveis ao mainstream da literatura. Penso
grande número de pessoas tem, digamos, meios que esta atitude seja uma socrática afetação de
de transporte, vestimenta adequada, aparelhos de modéstia, amparada na aristotélica sabedoria de
rádio e televisão etc. (Sen, 1990, p. 18) acomodar as diferenças em diferentes dimensões
para dissolver as antinomias, que mal esconde uma
Neste caso, a pobreza relativa ganha grande dissensão e um poder de fogo consideráveis.
relevância. O reconhecimento da relatividade so- De fato, sob certos importantes aspectos, sua
cial e cultural das necessidades parece conectar as obra não se confunde com a de seus interlocutores
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mais próximos, constituindo, de um modo geral, [n]ós diferimos não apenas na riqueza que herda-
uma alternativa original. Assim, podemos dizer que mos, mas também em nossas características pesso-
sua reflexão sobre a pobreza e a desigualdade ais. Além das variações puramente individuais
manteve-se a meio caminho entre a teoria norma- (i.e., habilidades, predisposições, diferenças físi-
tiva pura e a análise sociológica contemporânea,9 cas), há também contrastes sistemáticos entre
o que se reflete nos conceitos elaborados, os quais grupos (por exemplo, entre homens e mulheres
buscam capturar dimensões sociológicas que tra- em aspectos específicos como a possibilidade de
zem à tona aspectos contingentes do mundo social gravidez e os cuidados requeridos pelos recém-
que não podem ser considerados (de fato, têm de nascidos). (Sen, 1992, p. 27)
ser sistematicamente abstraídos) pelas teorias nor-
mativas puras: os tipos sociológicos dos subnutri- Aqui aparece uma importante diferença entre
dos, dos mórbidos, dos deficientes físicos e men- Rawls e Sen: este se opõe tanto à distorção utilita-
tais; as grávidas, os idosos, os pobres, os miserá- rista, indiferente às assimetrias do mundo social
veis, as classes sociais, as mulheres e os homens, as que levam à formação distorcida de expectativas,
raças, as castas, verdadeiro mosaico sociológico a quanto à indiferença de Rawls às carências dos
tornar complexo o raciocínio normativo, a qualifi- especialmente destituídos, em nome da responsa-
car a avaliação quanto à justeza dos estados sociais. bilidade. Sen replica que é possível invocar a
Teremos de elaborar sozinhos — pois aqui Sen nos responsabilidade pelas escolhas individuais com o
abandona — a conciliação possível entre a eqüida- propósito de temperar as demandas por justiça
de rawlsiana e a discriminação positiva aparente- apenas num mundo contrafactual onde estão
mente sugerida por ele, bem como a suspensão do plenamente disponíveis o conhecimento e a habi-
véu de ignorância. Mas, seguramente, a visão de lidade das pessoas de entender e escolher inteli-
Sen é mais subjetivista do que a de Rawls, e mesmo gentemente a partir das alternativas diante delas
sua ambição de universalismo mais tímida, admi- (cf. Sen, 1992, p. 149). Entretanto, ante a existência
tindo uma relatividade posicional e métodos de factual de incertezas e sobretudo de formas de
avaliação relativos às posições dos indivíduos.10 condicionamento social que fazem a pessoa perder
Não obstante, Sen nitidamente se distancia a coragem de escolher, e mesmo de desejar, qual o
do subjetivismo utilitarista, elitista e conformista sentido de imputar a ela a responsabilidade por
(recordar o problema de dissonância cognitiva das suas escolhas? A questão relevante parece, implici-
preferências “baratas”). Para Rawls, o princípio tamente, ser a seguinte: não estaríamos sobrecarre-
utilitário esbarra no problema da responsabilidade: gando em demasia a quantidade de fatos ocultados
pessoas racionais têm de ser capazes de revisar pelo véu de ignorância, ao mesmo tempo em que
suas demandas por bens primários tendo em vista estaríamos magnificando as habilidades cognitivas,
a razoabilidade destas, e aqui Rawls tem em mente interpretativas e de discernimento à frente dele?
sobretudo o problema das preferências caras. Esta Obviamente, a necessidade de um método objeti-
crítica aparentemente se aplicaria também à consi- vo de avaliação é imperiosa, mas Sen parece
deração por Sen das variações interindividuais e sugerir que este possa ser encontrado por vias
sua afirmação de que estas devem ter um peso na menos excessivamente racionalistas.
avaliação dos estados sociais: para Sen, o mesmo O racionalismo mitigado de Sen rejeita, pois,
conjunto de bens primários pode representar dife- tanto a concentração extrema em uma visão de
rentes extensões de liberdade efetiva para pessoas racionalidade como consistência interna da esco-
que sejam, por exemplo, fisiologicamente diferen- lha e como maximização do auto-interesse, habitu-
tes ou que apresentem, de modo geral, carências al na teoria econômica moderna, quanto o raciona-
diferenciadas. Teríamos de levar em conta as dife- lismo contrafactual, igualmente radical, presente
rentes taxas de conversão dos bens sociais primá- nas teorias normativas. Ser racional requereria
rios sugeridos por Rawls em realizações e liberda- apenas, à la Bernard Williams (1985), ser capaz de
des efetivas: prover razões para a ação ou a inação, que não
DESIGUALDADE E POBREZA: LIÇÕES DE SEN 121

necessariamente precisam obedecer cegamente ao discussão sobre as escolhas trágicas, e em Levi (1986),
critério de consistência, nem produzir ordenações onde se desenvolve uma discussão não apenas concei-
tual mas também técnica do que ele chama de escolhas
completas das alternativas que se apresentam. Mas difíceis.
o imperativo da decisão, sobretudo das decisões 8 Sen apresenta este argumento extensamente em suas
que envolvem políticas públicas, e dentre elas as conferências Dewey (Sen, 1985a) e em Sen (1985b).
comprometidas com a redução da pobreza e da 9 Tenho em mente a literatura anglo-saxônica. Ver, a
desigualdade no mundo contemporâneo, não pre- propósito, Bradley (1996).
cisa esperar pela completude da análise formal que 10 Ver o argumento por uma objetividadade posicional em
pode paralisar-se diante do problema da incomen- Sen (1993).
surabilidade das alternativas e das escolhas trági-
cas; pode apoiar-se nas razões contingentes produ-
zidas pelo second-best das ordenações parciais BIBLIOGRAFIA
que seremos, em cada caso, capazes de produzir.
Ao invés de asnos inteligentes teremos então sido BECKER, G. (1976), The economic approach to hu-
humanos, apenas parcialmente inteligíveis. man behaviour. Chicago, University of Chica-
go Press.
BERLIN, I. (1978), Concepts and categories. Oxford,
Oxford University Press.
NOTAS
BRADLEY, H. (1996), Fractured identities — chan-
ging patterns of inequality. Cambridge, Polity
1 Refiro-me, evidentemente, aos economistas do main- Press.
stream da ciência econômica.
CALABRESI, G. e BOBBITT, P. (1978), Tragic choices.
2 O aristotelismo ético que pode ser aqui pressentido é Nova York, Norton.
presença constante na cosmologia de Sen, e vem fre-
qüentemente associado ao trabalho de Martha Nuss- HAMPSHIRE, S. (1982), “Morality and convention”, in
baum. A. Sen e B. Williams (eds.), Utilitarianism and
3 Devemos recordar que Sen dirige estas suas conferênci- beyond, Cambridge, Cambridge University
as Royer — que proferiu na Universidade da Califórnia Press.
em Berkeley, e que reuniu e publicou em 1988 sob o
título On ethics and economics — a uma platéia com- LEVI, I. (1986), Hard choices. Cambridge, Cambridge
posta também por economistas. University Press.
4 Sen retoma a crítica ao reducionismo envolvido nesta NAGEL, T. (1979), Mortal questions. Cambridge, Cam-
concepção de racionalidade em inúmeras passagens de bridge University Press.
sua obra. É, entretanto, notável o que parece ser uma
inflexão em seu pensamento em Sen (1991), onde ele RAWLS, J. (1971), A theory of justice. Cambridge,
defende a plasticidade do conceito de preferência. Mass., Harvard University Press.
5 Refiro-me à abordagem procedimental de Rawls (1971) SEN, A. (1970), “The impossibility of a paretian libe-
na derivação de princípios de justiça. ral”. Journal of Political Economy, 72.
6 As outras duas características do utilitarismo seriam o
conseqüencialismo e a ordenação pela soma das utilida- __________. (1973), On economic inequality. Oxford,
des individuais. Ver a formulação original destas idéias Clarendon Press.
em Sen e Williams (1982). O rawlsianismo, por exem- __________. (1977), “Rational fools: a critique of the
plo, seria uma forma de conseqüencialismo não-welfa-
behavioural foundations of economic theory”.
rista, já que os valores são os bens sociais primários e
não as utilidades individuais, e os estados sociais seriam Philosophy and Public Affairs, 6.
julgados não pelo critério de maximização do agregado __________. (1985a), “Well-being, agency and free-
das vantagens mas sim pela maximização das vantagens dom: the Dewey lectures 1984”. Journal of
em termos de bens sociais primários ordenados lexico-
Philosophy, 82.
graficamente.
7 Berlin aponta a possibilidade de perda moral por conta __________. (1985b), “Goals, commitment and identi-
de conflitos entre valores em que não se pode definir ty”. Journal of Law, Economics and Organiza-
claramente um trade-off entre eles. Idéia semelhante é tion, 1.
desenvolvida em Calabresi e Bobbitt (1978), em sua
122 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 15 No 42

__________. (1988), On ethics and economics.


Oxford, Blackwell.
__________. (1990), The standard of living (The Tan-
ner lectures). Cambridge, Cambridge Universi-
ty Press.
__________. (1991), “Welfare, preference and free-
dom”. Journal of Econometrics, 50 (1-2):15-29.
__________. (1992), Inequality reexamined. Nova
York, Russel Sage Foundation.
__________. (1993), “Positional objectivity”. Philoso-
phy and Public Affairs, 22 (2).
__________. (1999), Sobre ética e economia. São
Paulo, Companhia das Letras.
SEN, A. e WILLIAMS, B. (1982), Utilitarianism and
beyond. Cambridge, Cambridge University
Press.
WILLIAMS, B. (1981), Moral luck. Cambridge, Cam-
bridge University Press.
__________. (1985), Ethics and the limits of philoso-
phy. Londres/Cambridge, Mass., Fontana/Har-
vard University Press.

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