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Uma introdução à sociologia em grande estilo Page 1 of 3

 
 
RESENHA
por VIANA, Nildo. Introdução à Sociologia. Belo Horizonte: Autêntica,
JOÃO 2006
ALBERTO DA  
COSTA PINTO
Doutor em
História (UFF) e
Uma introdução à sociologia em
docente no grande estilo
Departamento
de História -   
Universidade A obra de Nildo Viana afirma-se a cada livro publicado como uma
Federal de Goiás das mais instigantes do marxismo brasileiro e o leitor terá a prova
(UFG) desse fato inconteste com a leitura deste livro, esta excelente
Introdução à Sociologia, recentemente publicada pela Editora
Autêntica (Belo Horizonte), na Série Ciências Humanas, coordenada pelo autor. Nildo
Viana que é professor de Sociologia na Universidade Estadual de Goiás (UEG) é
responsável por um já expressivo conjunto de estudos marxistas com temas e
problemáticas interdisciplinares em livros como A Dinâmica da Violência Juvenil (2004),
Estado, Democracia e Cidadania (2004), Escritos Metodológicos de Marx (2001), entre
outros títulos e dezenas de capítulos de livros e artigos em periódicos nacionais e
internacionais. Nildo Viana compõe sua trajetória política e intelectual nos quadros do
marxismo brasileiro a partir de sua prática na universidade, ressalvando-se de modo
enfático que a sua perspectiva rompe radicalmente com os cânones que sempre
fundamentaram a cultura marxista brasileira: o marxismo pecebista, o marxismo
fenomenologista acadêmico e o marxismo de tintas politicistas de matriz gramsciana. Seu
projeto marxista insere-se de modo intransigente e radical na cultura dissidente
anticapitalista, naquilo que a ortodoxia leninista-stalinista sempre convencionou chamar
pejorativamente de “esquerdismo”. Exceto pela obra de Maurício Tragtenberg não há no
Brasil uma tradição consolidada de heterodoxias marxistas pautada fundamentalmente
por posições antileninistas, propositora, portanto, da radicalidade política anticapitalista de
bases autogestionárias.
O mercado editorial brasileiro tem inúmeros exemplos de estudos introdutórios à
Sociologia. O que distingue o trabalho de Nildo Viana desses outros trabalhos é a sua
perspectiva analítica originalíssima: uma perspectiva marxista radicalmente ortodoxa com
a matriz marxiana, com a obra original de Karl Marx. Esse aspecto está admiravelmente
exposto no paradigmático capítulo cinco – “Temas fundamentais da Sociologia” – onde o
autor apresenta reflexão sobre quatro questões fundamentais à análise sociológica: a
relação indivíduo – sociedade (percebida através do conceito de socialização), o problema
da divisão da divisão social do trabalho (vista através do conceito de classes sociais), a
questão da cultura e da ideologia e, por fim, a questão da mudança social.
Para o autor o processo de socialização do indivíduo na sociedade capitalista está
marcado pela competição, mercantilização e burocratização. Tais marcas estruturais são
oriundas do processo histórico da divisão social do trabalho intrínseco às determinações
fundamentais do modo de produção capitalista, determinações essas, projetadas nas
práticas interrelacionais das classes sociais.
Nildo Viana afirma que no modo de produção capitalista existem fundamentalmente duas
classes sociais – a burguesia e o proletariado. A relação destas classes determina
estruturalmente na sociedade capitalista a existência de outras classes sociais que têm
sua existência determinada relacionalmente a formas secundárias de exploração, formas
realizadas na ação institucional do Estado, do capital comercial e do capital bancário.
Nessas configurações institucionais da sociedade capitalista estão reproduzidas formas
de exploração outras que reproduzem de modo ampliado a relação de exploração central
do modo de produção capitalista: a expropriação da mais-valia no ato da exploração
burguesa da força de trabalho proletária. Exemplos dessa prática societal são o
campesinato e a burocracia. O campesinato que não reproduz mais-valia é explorado pela
classe dominante e a burocracia como classe aliada da classe dominante tendo no Estado
o seu aparelho de ação fundamental. Como corolário desse modelo, o fato de que a
ideologia com suas bases reais (nas classes sociais) teria de ser entendida de modo
determinante como uma forma de pensamento sistemático que, no entanto, reproduz a
deformação da realidade social por causa de sua origem determinada pela divisão social
do trabalho. A ideologia como pensamento sistemático nasce das práticas do trabalho
intelectual vinculado historicamente no capitalismo, enquanto modo de produção, às
classes “auxiliares” ligadas à classe dominante (a burguesia), caso, por exemplo, dos
intelectuais nas burocracias estatais.
A cultura na sociedade capitalista seria a expressão da consciência concreta de

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determinada classe social, a cultura, ao contrário da ideologia, é parte constituidora da


totalidade histórica porque é a consciência própria de cada classe, que é sempre afirmada
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relacionalmente no confronto com as outras classes. Conforme o autor, a cultura seria
cadastre-se para então parte constituinte das práticas de classe, logo, elemento estrutural da realidade
receber os informes histórica. A ideologia seria então forma específica de pensamento complexo, uma falsa
mensais da Revista consciência sistematizada que pode “assumir a forma de Filosofia, Teologia, Ciência,
Espaço Acadêmico etc.” (p. 127).
Do conjunto dessas questões aquela referente à mudança social fica de imediato
subentendida como um processo social, nunca como uma lei natural ou qualquer outro
teleologismo histórico. A mudança social seria então imanente aos conflitos sociais
originados pelas práticas interrelacionais das classes sociais.
No livro, para chegar a este quadro analítico radicalmente centrado na perspectiva
marxiana, o autor, nos quatro primeiros capítulos, desenvolve extensa e detalhada análise
dos significados próprios do que é presentemente a Sociologia como ciência acadêmica
na sua condição histórica de ciência intrinsecamente vinculada à afirmação da sociedade
capitalista, considerando-se, principalmente, o quadro de suas referências clássicas em
Max Weber e Emile Durkheim que procuraram afirmar a Sociologia no seu estatuto de
ciência. Mesmo sendo considerado uma referência clássica fundacional, o projeto teórico
de Karl Marx, ao contrário, jamais se tentou propor, afirma o autor, com qualquer premissa
de cientificidade sociológica para a realidade capitalista.
O leitor obtém desta extraordinária introdução uma extensa e detalhada apresentação do
desenvolvimento institucional da Sociologia ao longo do século 20, assim como o
desenvolvimento institucional imanente à crescente complexificação das práticas
capitalistas, com o autor, privilegiando nessa exposição, as marcas nacionais da cultura
sociológica contemporânea, destacando-se com esse propósito, os percursos
institucionais da sociologia alemã, francesa, norte-americana e a do “resto do mundo”,
incluindo-se aí, a sociologia brasileira. Na sociologia alemã, o autor comenta de modo
sucinto, mas objetivo, os percursos clássicos de autores-instituições como Max Weber,
Ferdinand Tönnies, Georges Simmel, Karl Mannheim, Norbert Elias, Robert Michels, a
Escola de Frankfurt, e ainda, os estudos sobre a indústria cultural elaborados por Dietr
Prokop. Na sociologia francesa apresenta-se a escola durkheimiana (Marcel Mauss,
François Simiand, Paul Fauconnet, entre outros) e as escolas rivais ao modelo
durkheimiano centradas em nomes como os de Frédéric Le Play e o de René Worms em
conjunto com Gabriel Tarde. Da experiência francesa apresentam-se ainda as trajetórias
marxistas de Henri Lefebvre e Lucien Goldmann e a escola “sócio-objetivista” de Pierre
Bourdieu e seus colaboradores como Passeron, Chaboredon, Boltanski e Wacquant,
grupo que Bourdieu reuniu em torno da revista Atas de Pesquisa em Ciências Sociais. No
caso norte-americano, os destaques são dados a Tornstein Veblen, ao funcionalismo de
Talcott Parsons e Robert Merton, como também as críticas a esse modelo elaboradas por
Wright Mills; considera-se ainda, a sociologia industrial de Elton Mayo, o empiricismo da
Escola de Chicago em nomes como o do urbanista Louis Wirth e o interacionismo
simbólico de G. H. Mead. No quadro amplo da sociologia do “resto do mundo”, o autor
ressalva com muita razão, na sociologia britânica, apesar de ser um nome de projeção
internacional, a “sociologia sem grande importância” de Anthony Giddens.
Enfim, desse amplo quadro objetivo, o que se destaca é que, na sua condição de livro
introdutório, mas portador de uma perspectiva teórico-política marxista apresenta-se como
peça profundamente inovadora aos estudos sociológicos universitários, trata-se, portanto
de um livro de divulgação fundamental a qualquer bibliografia nos cursos de ciências
sociais.
Da década de 1980 aos dias atuais, o marxismo brasileiro sofreu a marca indelével do
abandono, da abjuração teórica, o marxismo tem sido sistematicamente rejeitado como
modelo explicativo e como perspectiva política. Com as práticas acadêmicas
colossalmente reacionárias que pululam no esteio universitário nestas últimas décadas, os
vértices heurísticos do marxismo foram sistematicamente derrotados pelas práticas dos
rigores formais de investigação que os gestores da cultura acadêmica impõem aos seus
próprios campos de atuação numa escalada fratricida de lutas e locupletações entre
camarilhas universitárias que absolutamente nada têm a dizer à realidade histórica da
exploração capitalista que lhes faculta – na expropriação da mais valia – a sua miserável
existência nos pálidos contracheques mensais. Entretanto, nessa mesma universidade,
mas com outras práticas acadêmicas aos poucos renasce o marxismo como perspectiva
proletária, como perspectiva de estudantes proletários que não podem mais compactuar
com a simples perspectiva de um dia tornarem-se gestores intermediários do capital
transnacionalizado, dessas práticas de novo tipo nascidas nas frestas da universidade
tecnocrática entre alguns professores e alunos é que aos poucos se vão delineando
  
relações sociais fecundamente anticapitalistas e é dentro de tais práticas que o livro de
Nildo Viana se justifica historicamente. Com os trabalhos de Nildo Viana, e em especial  
com este estudo introdutório a uma das principais balizas científicas do conhecimento da
sociedade capitalista, desenham-se as possibilidades concretas de na tradição do
marxismo brasileiro afirmar-se como definitivo o diálogo com a obra marxiana e
 
apontarem-se assim as possibilidades de outras práticas intelectuais para o combate que
pouco a pouco se vai instaurando na universidade brasileira contra os racionalismos  

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positivistas tecnocráticos e/ou contra os irracionalismos culturalistas.


 
por JOÃO ALBERTO DA COSTA PINTO

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