Nos EUA a idéia de febre de alguns consumidores de possuir uma
mansão sobre rodas não surge a partir da intenção de investir em algo economicamente consistente, mas sim em se diferenciar e se sentir superior aos outros que não possuem o mesmo objeto, o qual, então, só recebe valor dos consumidores por ser algo que somente uma minoria possui e a grande maioria apenas deseja. Ao se perguntar a um dos possuidores de uma mansão sobre rodas a respeito da necessidade ou não deste investimento, ele respondeu: “é um investimento obsceno, mas é bom ter algo que poucos têm!” Isto nos mostra que ao dizer que era obsceno, o proprietário utilizou como sinônimo a negatividade, contudo este investimento também é visto como algo bom por causar inveja aos que não possuem a mansão e conferir a idéia de superioridade àqueles que possuem. ”Segundo Daniel Bell, “se o consumo representa a competição psicológica pelo status, então podemos dizer que a sociedade burguesa é a institucionalização da inveja”. A permanência e o agravamento do dualismo social no Brasil esta ligado a existência deste tipo de atitude e de pensamento em nossa sociedade. Nos países do 3º mundo a forma que se tem buscado para mascarar a pobreza existente é a imitação do padrão de consumo das elites dos países ricos, mas esta forma de escape acaba sacrificando o próprio povo. René Girard declara que “o sujeito deseja o objeto porque o próprio rival o deseja. Assim a rivalidade é algo intrínseco à estrutura do desejo, nos tornando humanos no fundo a busca do “ser”. Em nossa sociedade é notória a visão de que o indivíduo precisa “ter” para “ser” e, desta forma, fica claro que as pessoas só valem aquilo que possuem. As sociedades capitalistas se organizam em torno dessa confusão entre necessidades vitais e mercadorias ou objetos de desejo. As pessoas se preocupam muito mais com o status que possuem do que com a própria saúde ou bem-estar. Os capitalistas reduzem o ser humano a meros consumidores. Não há seres de necessidades, seres humanos que necessitam de um conjunto de bens para manterem-se vivos, há unicamente consumidores que exercem suas preferências no mercado. Por isso se trona necessário revermos o que realmente é prioridade em nossas vidas, o que realmente tem valor, o que realmente merece valor. Só assim deixaremos de ser uma sociedade que se constrói com base na inveja e disputa com o outro.
TONETTO FILHO and FREGONESI. (2010) - CONGRESSO USP - Análise Da Variação Nos Índices de Endividamento E Liquidez E Do Nível de Divulgação Das Empresas Do Setor de Alimentos