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De: Silvio Tendler. Encontro com Milton Santos ou: O mundo global visto do lado de cá. Brasil.
Studio: Caliban Produções, 2206
Encontro com Milton Santos é um documentário produzido pelo cineasta brasileiro Silvio
Tendler, onde ele juntamente com o intelectual Santos discute os problemas da globalização sob a
perspectiva das periferias e dos países chamados em desenvolvimentos.
Milton Santos, intelectual na área de geografia, se intitula “outsider” por não se juntar a
nenhum outro grupo, seja de intelectuais, partidários ou acadêmicos. Em sua visão apresentado no
documentário estamos vivendo um segundo momento da globalização, onde se apresenta a
fragmentação dos territórios e o desmonte do estado de bem estar social, que é o estado onde o
governo busca prover as necessidades básicas do povo. Ele se refere também ao humanismo como
sendo o motor inicial da globalização, que é substituído pelo consumo voraz. Considerado por ele
como o “grande fundamentalismo”, o consumo tem sido o “deus” da globalização, valendo tudo para a
satisfação do mesmo.
Mesmo os EUA sendo o carro chefe do neoliberalismo, o seu governo não o utilizou como
método de crescimento de sua economia, pois nesse mesmo momento o governo americano em si
permanecia muito forte com altos investimentos em segurança pública.
Em 2003 aconteceu em Kioto, Japão, o 3º Fórum Mundial das águas, e uma de suas discussões
foi o paradigma da água como direito humano ou a água como mercadoria. Esse fórum se apresentou
mais como uma mascara para a decisão que já tinham tomado. Sem dar ouvido ao clamor do povo que
pedia “Água para o povo e não para o lucro”, o relatório final apresentou a grande “importância” de
alguém pagar por esse “bem de consumo”.
Milton Santos se revolta com a idéia de muito se discutir sobre economia e outra ciência e a
civilização pouco ser objeto de discussões.
A mídia tem sido o instrumento da fábula da globalização, mostrando medidas paliativas para
os problemas sociais. Institui um sistema desigual e quando necessário cria formas para amenizar a
situação de pobreza. As notícias mostram-se como interpretação dos fatos para atender a interesses
pré-determinados.
Entretanto a sociedade já tem se alertado para o uso da mídia como a revanche da cultura
popular sobre a cultura de massa. Comunidades indígenas já conectaram a internet de suas próprias
aldeias e tem a consciência de que sem abandonar o que são (indígena), eles podem ser perfeitamente
universal. A tecnologia começa a ser usada como forma de manifestação e denúncia. Como um
cineasta amador argentino que utilizada de sua câmera não profissional para junto com um movimento
social mostrar imagens de lugares que a Mídia oficial não pode ou não quer ir. Quando ele diz que
“desenvolver através de um projeto utópico, uma pequena obra que poderia servir a alguém”, nos
ínsita a entender que os movimentos populares sociais não precisam mudar todo o sistema, mudando
situações já é um bom começo. A revanche é quando a cultura popular se difunde mediante o uso de
instrumentos que na origem são próprios da cultura de massa. Santos se refere ao discurso “dos de
baixo” que é por meio da exaltação da vida de todos os dias. A utopia marxista é que o povo se revolte
e atores de baixo possa mudar a história.
O povo pode fazer mudanças através dos movimentos populares e usando a tecnologia, mas só
o estado pode mudar a condição social da nação dando direitos ao povo e limitando o poder das
empresas. Existe a necessidade da criação de novos códigos éticos. A busca é por uma ética que o
povo luta por seus direitos. Em um de seus discursos Milton diz que nosso país não tem cidadão.
Contra o consenso de Washington houve apenas alguns protestos isolados, mas o Brasil entrou a cegas
no neoliberalismo. Ele continua dizendo que o povo tem que se revoltar contra essa globalização para
que nasça uma nova ética onde os direitos são respeitados como mostrados na constituição. O povo
pode fazer algumas mudanças, mas precisa do governo para fazer grandes mudanças. Estudiosos de
outros países chamados em desenvolvimento lançam seus discursos, “Vamos ser como os EUA,
seguindo o modelo da comunidade de consumo que devora o mundo? Ou vamos gerar um mundo
diferente?”.
Essa globalização produz um novo totalitarismo global, como uma forma de vida padrão onde
não há alternativa, a democracia é mascarada e suprimida, só há liberdade para o capitalismo. Tudo se
discute, menos a democracia. Os que efetivamente governam o mundo não são democratas. O
totalitarismo da globalização é a ditadura das grandes corporações que define o rumo da sociedade
como forma de lucro. A palavra “democracia” perdeu o significado.
Tendler finaliza o documentário com a fala de Milton: “Nunca houve humanidade... Estamos
fazendo um ensaio do que será esta humanidade”. Ele sonha com uma outra globalização, uma utopia
para o século XXI, uma outra realidade.
“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho
dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve
a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”, Eduardo Galeno.