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FAZER DA ESCOLA UM CENTRO DE CRIACAO DO QUE f VIVO, E NAO A ANTECAMARA UMA SOCIEDADE PARASITARIA E MERCANTIL Europeia um memorando sobre o ensino jor. Nele recomendava as universidades que se comportassem como empresas subme- tidas as regras concorrenciais do mercado. ‘© mesmo documento formulava 0 voto de que os estudantes fossem tratados como ‘As aulas tornavam-se deste modo produtos, indo os termos «estudantes» e «estudos» gar a expresses mais apropriadas a nova fentagio: «capital humano», «mercado do balho». "Em Setembro de 1993, a mesma Comissio ‘eincide com um Livro Verde sobre a Dimen- Europeia da Educagao, Nele explicita ser rio, a partir do pré-escolar, constituir ecursos humanos para as necessidades 37 exclusivas da industria» e favorecer «uma maior adaptabilidade dos comportamentos, cle maneira a comesponder a procura do mer cado de mio-de-obra». E aqui temos nés a maneira como 0 z00m ensebado do presente projecta em futuro radioso a ida eficiéncia do passado! Uma vez eliminado 0 que subsistia de mediocremente rendivel na escola do pasado — © latim, © grego, Shakespeare e compa- nhia —, os estudantes teriio por fim 0 pri- vilégio de aceder aos gestos salvadores: equilibrar a balanca dos mercados, produ- zindo inutilidades € consumindo merda. A operacio esta bem encarreirada, visto os governos, por mais diversos que sejam, ade- firem por unanimidade ao principio que reza assim: «A empresa deve estar orientada para a formacio, e a formagio deve estar orientada para as necessidades da empresa.» Recrutados para gerir a faléncia Nao serd intitil, para dar uma ajuda ao entendimento da nossa época, explicitar 0 processo através do qual o desenvolvimento do capitalismo conduziu a uma crise planeti- tia, a crise da economia no seu funciona mento totalitario. © Aquilo que dominou, a partir do inicio do século XIX, 0 conjunto dos comportamentos individuais e colectivos, foi a necessidade de -produzir. Organizar a produgio através do tra- balho intelectual ¢ do wabalho manual exigia um método directivo, uma mentalidade autori- tdria, ou até despdtica. ~ Chegara a altura da conquista militar dos mercados. E os paises industriais, sera escrti- pulos nenhuns, saqueavam os recursos das novas col6nias. Quando © proletariado se langou na coor “denagio das suas reivindicagdes, ficou sujeito, apesar da sua espontaneidade libertria, a “influéncia autocritica que a preeminéncia do sector produtivo exercia nos costumes. Os. "sindicatos € 0s partidos operirios organizam- “se entdo numa estrutura buroeritice que a breve trecho int obstruir as massas laboriosas com 0 pretexto de as emancipar: © poder vermelho instala-se tanto mais facilmente quanto arranca a classe explora- dora porcdes de beneficios, taduzidas em “aumentos salariais, em novas ordenagdes do tempo de trabalho Gornada de oito horas, férias pagas), em conquistas sociais (subsidios de desemprego, assisténcia médica). Nos anos de 1920 e 1930 € atingido o €st4dio supremo na centralizagio da produ- $40. A passagem do capitalismo privado ao capitalismo de Estado opera-se brutalmente 59 em Itdlia, na Alemanha e na Réssia, onde a ditadura dum partido Gnico — fascista, nazi, estalinista — impde a estatizacio dos meios de produgao. Nos paises onde a tradigio liberal salva- guardou uma democracia formal, a concentra- 40 monopolistica que atribuia ao Estado uma vocacdo patronal realizou-se de maneira mais lenta, mais sorrateira, menos violenta. £ nos Estados Unidos que primeiro se manifesta uma orientagdo econémica nova, prometida a um desenvolvimento que trans- formari de modo palpavel as mentalidades 0s costumes; a incitagZo a consumir, com efeito, ira ali ultrapassar a necessidade de produzir. ‘A partir de 1945, 0 Plano Marshall, oficial- mente destinado a ajudar a Europa devastada pela guerra, abre o caminho a sociedade de consumo, identificada com uma sociedade de bem-estar, ‘A obrigagao de produzir a todo 0 custo dé lugar a um empreendimento ornamentado com os atractivos da sedugao, sob a qual de facto se dissimula um novo imperativo Prioritario: consumir, Consumir seja o que for, mas consumir, Dé-se ento uma evolugao surpreendente um hedonismo de supermercado e uma democracia de self-service, propagando a ilu- sdo dos prazeres e da livre escolha, conse- 7 guem minar — e mais seguramente do que nunca os anarquistas do passado teriam espe- rado — 08 sacrossantos valores patriarcais, autoritérios, militares e religiosos que uma economia dominada pelos imperativos da producio privilegiara ‘Avalia-se melhor, hoje em dia, 2 que ponto a colonizacio das massas laboriosas, incitadas com jinsisténcia a consumir uma felicidade a prestagdes, pdde aliviar o aperto exercido pela economia nas col6nias ultramarinas, favore- cendo 0 éxito das lutas de descolonizacdo. Se € certo que a liberdade das trocas comerciais € a sua indispensdvel expansao contribuiram para o fim da maior parte dos regimes ditatoriais e para a derrocada da cida- dela comunista, também € verdade que rapi- damente desvendaram os limites do bem-estar consumivel Frustrados duma felicidade que nao coinci- dia exactamente com a inflacdo de intteis quinquilharias e produtos adulterados, os consumidores, desde 1968, foram tomando consciéncia da nova alienagio de que eram ‘objecto. Trabalhar por um salirio, que se investe na compra de mercadorias dum valor de uso aleatério, ndo sugere propriamente um estado de beatitude, mas sim a impressio desagradavel de se ser manipulado em con- formidade com as exigéncias do mercado. “Aqueles que tinham de suportar a oficina e 0 a escritério durante 0 dia, s6 dali salam para entrar nas fabricas, menos coercitivas. mas mais embusteiras, do consumivel. Avantajando-se as falsas necessidades as reais, este «seja 0 que fom que se impunha comprar por sua vez acabou por engendrar uma produ¢o cada vez mais aberrante de servicos parasitatios, urdidos em redor do cidaddo com a missio de Ihe tansmitirem um. sentimento de seguranga, de o enquadrarem, de o aconselharem, de o apoiarem, de o guiarem — em suma, de Ihe darem mel pelos beigos numa solicitude que aos poucos o assimila a um deficiente. Assim foram os sectores prioritérios sacti- ficados em proveito do sector tercifirio, que vende a sua propria complexidade burocré- tica sob a forma de ajudas e proteccées A agricultura de qualidade foi esmagada pelos lobbies do agro-alimentar, produzindo em excesso sucedineos de cereais, de car nes, de legumes. A arte do alojamento ficou sepultada debaixo do cinzentismo, do tédio € da criminalidade do betio armado que assegura os rendimentos dos circulos de negocios. Quanto 4 instituigao escolar, € cha- mada a servir de reserva para os estudantes de escol, a quem fica prometida uma bela carreira na inutilidade lucrativa e nas méfias financeiras. Fecha-se assim o circulo: estudar Para arranjat emprego, por mais aberrante 62 we ele seja, acrescentou-se ordem expressa de consumir no interesse exclusivo duma iquina econémica que no Ocidente avaria todo o lado por falta de lubrificante — ar de os especialistas todos os anos nos anunciarem © triunfal relangamento da mnomia, _ Enterramo-nos nos pauis duma burocracia ‘parasitéria e mafiosa onde o dinheico se ‘acumula ¢ roda em circuito fechado, em vez se investir no fabrico de produtos de qua- de, titeis 4 melhoria da vida e do seu meio ambiente. O dinheiro € aquilo que menos falta, contrariamente ao que respondem os “yossos politicos eleitos; mas o ensino 240 é ‘um sector rendivel. E todavia existe uma alternativa 4 econo- ‘mia de declinio ¢ ao seu impossivel retanga- ‘mento. Desviando-se do fosso que se alarga cada vez mais entre os interesses da mercado- fia ¢ 0 interesse do que € vivo, essa alterna- ‘tiva propde reconverter ao servigo do humano uma tecnologia que o imperialismo lucrative desumanizou — até dela fazer, no ‘caso da fissdo nuclear e da experimentacao genética, temiveis nocividades. Uma tal alter- ‘nativa exige que se dé prioridade a qualidade ‘da vida ea estas actividades que a absurdez do arcaico capitalism precisamente condena a desmembrarem-se, por imposi¢ao de inces- Santes restrigdes orcamentais: a habitagio, a 63

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