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' meee oe wk ge33h2 Editorasio Eletronica Magno Nicolau “Graphos revista da Pos Graduagio em Letras (Publicada pelo Curso de Pés-Graduacio em Letras da Universidade Federal da Paraiba). Vol Til, a, 1, 19987 Joao Pessoa: 1998 Semestal Descrigdo baseada em: Vol Ma. 1 Ganeiro - 1958) T Lingua portaguess 2. Lingistica I. Universidade Federal da Paraiba Curso de Pés-Graduagio em Letras ISSN 1516-1536, 869. (81) (05) alain EDITORA LTDA. (083) 222-5986 ULM APRESENTACAO ... 0 vocabulério na producio textual escolar M* Auxiliadora Bezerra - UEPB/UFAL Ensino de vocabulério através do modelo interacional: ma propora de amptingo do xen de akan de 4 série Jan Edson Rodrigues Leite - UFPB.. RelagGo entre leituras e ensino do léxico: uma abordagem de ensino interativo-textual Maria de Fiétima Alves ~ UFPB -sesosnoninnsesos Educagio e vida sociocultural em Teresina numa dimensio sociolingiifstica: a lingua nos processes interacionais na escola e na sociedade - projeto lingua, escola e sociedade (les) Catarina de Sena S. M. da Costa - UFPL Educador: construtor de leituras Roseane Nicolau - UFPB.... A artificialidade na passagem do discurso oral para 0 discurso escrito nas aulas de lingua portuguesa do Telecurso 2000 ‘Monica Oliveira Santos - UFPB Luiz Francisco Dias - UFPB ‘Vogal da silaba seguinte: uma restrigo a0 ‘comportamento das Médias Preténicas Dermeval da Hora - UFPB Regina Celi M. Pereira - UFPB ... (Generos de texto: uma via de abordagem As variagSes em ing eserin Jrandé Costa Antunes - UFAL... Estudo preliminar do quefsmo e dequeismo na fala culta de Salvador Eva Maria Nery Rocha - UFBA 83 Aintertextualidade e a interdiscursividade ‘em variantes populares nordestinas ‘Ana Cristina de Sousa Aldrigue - UFPB repertério verbal em uso em contextos Afro-Baianos Tracema Luiza de Souza - UFBA © funcionamento de pronomes em cartas pessoais e institucionais: uma andlise discursiva Maria das Gragas Oliveira Sousa- UFPB ... Ocorréncias de pronomes em editoriais da Folha de So Paulo ea construgio da referencialidade numa ética discursiva Sheyla Aires de Barros - UFPB 135 A interagio sincronia/diacronia nos estudos funcionalistas ‘Maria Angélica Furtado da Cunha - UFRN .. 142 A abordagem pancrdnica do processo de repet Mariangela Rios de Oliveira - UFF .. 152 Aspectos cognitivos do processo de constituigdio de sentido de construgées lexicais complexas com o verbo “levar” Eliane Ferraz Alves - UFPB ... “Né" e “eu acho que”: operadores argumentativos do texto falado Lucienne C. Espindola ~ UEPB 2. eens TD © aliscurso da propaganda: contrucioideoligien? Ivone de Lucena Figueiredo - UPB... 186 item lexical pronto: marcadot discursive e interativo Maria Elizabeth Affonso Christiano - UFPB Dermeval da Hora - UFPB s1.nn 197 Leitura ¢ texto: tecendo 0 discurso e subvertendo (n)a ordem Mirian de Albuquerque Aquino- UFPB Do conceito de cultura a culturs popular Maria das Neves Alcdntara de Pontes - UFPB ... 22 Normas editoriais para os colaboradores.. 229 Ul ldln yssgem ta disease 01 para o discurso escrito nas aulas de lingua portuguesa do telecurso 2000 Monica Oliveira Santos PET/CAPES /UFPB) Campus I ‘Luiz Francisco Dias ‘UFPBY Campus TT Introdugaio Como se sabe, 0 ensino de Lingua Portuguesa nas escolas convencionais é, ainda, bastante questionavel em muitos dos seus aspectos. Ele nfo considera a nogdo de variagao lingtistica, nfo leva em conta a linguagem falada e trabalha com uma linguagem “estética”, ignorando as referencias discursivas. Esse ensino é ainda mais precério no que se refere ao trabalho com a linguagem oral e com os niveis de formalidade do discurso. O Discurso Oral é tomado, apenas, como ‘anti- ‘modelo’, ou seja, o que deve ser evitado, deixando de ser explorado enquanto processo ativo na linguagem; eos niveis de formalidade textual siio encarados apenas como dois pardmetros que classificam a linguagem como formal (escrita) ou informal (oral), deixando de conferir ao texto (oral ouescrito) uma posigao numa ‘escala’ de formalidade, atribuindo- Ihe a propriedade de ser mais ou menos formal de acordo com sua natureza. ( Telecurso 2000 (TC 2000) foi elaborado com o intuito de superar cesses problemas. A titulo de maior clareza, procuraremos fazer agora uma breve apresentagao dos objetivos e procedimentos do TC 2000 suas aulas de Lingua Portuguesa. Conforme o documento Fundamentos «eDiretrizes do Telecurso 2000, da Fundago Roberto Marinho, o projeto pedagégico do Telecurso incide sobre os contetidos basicos do ensino de 1° e2° graus ¢ do Profissionalizante em mecénica. Além da parte de 52 Graphs, vol... 1, 1998 ensino dos conhecimentos bisicos, busca-se expor o aprendiz.a situagdes de vida que Ihe permitam firmar atitudes de cidadania indispenséveis a0 desenvolvimento individual na sociedade. O Telecurso busca aterder, prioritariamente, a jovens e adultos que desejam fazer 0 curso ou complementar sua escolaridade até o nfvel de segundo grau, bem como adquirir competéncias basicas para o exercicio de uma profissdo. O individuo mais visado para a aplicagdo desse trabalho € o operério que parou de estudar. Para abranger esta classe, as federagdes de indistrias dos estados tém implantado as Telesalas dentro do ambiente de trabalho desses operiios. Elegemos o TC 2000 para objeto de nossas reflexdes pelo fato deste apresentar uma estrutura peculiar, no que se refere a realizagao das suas, aulas, aqui em especial as de Lingua Portuguesa. Sao diversos fatores que convergem para a construcdo deste perfil pedag6gico tao distinto (aparentemente) das aulas convencionais de portugues. Além de dispor de todo 0 aparato técnico televisivo (som, imagem, cor, animagio, entre outros), realizar-se a distancia e ser produzida em funcdo das “Cenatextos’, (representagoes de cenas informais da vida cotidiana), a “Teleaula’ do Telecurso ainda se diferencia das aulas convencionais por conferir & linguagem cotidiana uma consideraco especial, no que diz, respeito ao seu aspecto oral e escrito. Dessa forma, 0 Telecurso 2000 se propée a trabalhar com o que os seus organizadores consideram ser 0 discurso de “falantes reais”. Entretanto, a proposta do Telecurso esta distante de uma concepgio de texto que seja conseqdente em relagio a este avango, Nosso estudo pretende fomecer subsidios para verificar, nos elementos da Teleaula que se mostram inovadores, 0s aspectos que denunciam as concepgdes de Oralidade ¢ de Escrita, ¢ de niveis de formalidade subjacentes & proposta do TC 2000, bem como a construcso da textualidade. Pretendemos questionar se 0 Telecurso dispde de uma metodologia realmente adequada para tratar a linguagem cotidiana, levando em conta a importincia da diferena entre Discurso da Oralidade € Discurso da Escrita, ¢ do tratamento adequado dos niveis de formalidade. Para desenvolver estas reflexdes, nos apoiamos na teoria da Andlise do Discurso, sobretudo em suas consideragdes acerca das concepcoes de texto ¢ da relagao entre Discurso Oral e Discurso Escrito (ORLANDI, 1988 e GALLO, 1995). [Ménica Oavera Santos 6 Luiz Francisco Dis Para implementar este estudo, gravamos um total de trinta e ito aulas em VHS, das quais selecionamos para anélise os médulos: “Conte uma hist6ria”, “Fala, cidadio”,“Assino ou nao assino”, “Diz af, galerae “Vale 0 escrito”. Estas aulas podem ser encontradas pela ordem completas nos fasciculos de Lingua Portuguesa volumes 2 € 3. As aulas de Lingua Portuguesa procedem-se basicamente a partir de uma hist6ria criada por um personagem-escritor (Machado), que escreve pequenos cenredos sobre fatos do cotidiano (Cenatextos). Blas sdo montadas a partit «de momentos que se apresentam como: Cenatexto, Redacio, Dicionério, Entendimento ¢ Reflexio. 1, Texto, Discurso Oral e Discurso Escrito Apresentaremos a seguir algumas reflexdes acerca da concepgio de texto e de suas condig6es de produedo, bem como dos conceitos de Discurso Oral ¢ de Discurso Escrito e a possibilidade de passagem de tum para 0 outro. De acordo com Orlandi & Guimardes (1988), 0 conceito de texto estéindissoluvelmente ligado aos conceitos de linguagem e significagio. ‘A relagio que liga os sentidos &s condigdes em que eles sio produzidos € determinante para a construgio da linguagem. Essas condigdes se cconstituem, principalmente, pelo contexto hist6rico e social. Segundo esses autores, o que define um texto ¢ 0 fato de ser ele uma unidade em relagio as suas condig6es de producdo e nfo um produto inacabado ¢ ambiguo sem relacdo com o seu universo maior € referencializador que € 0 discurso. Portanto, um texto pode se constituit de uma palavra, frase ou seqiiéncia de um grande ntimero de frases. Uma frase tem determinado significado em fungao do texto de que faz parte, considerando-se que a situago ¢ fundamental para a construgio do texto. O texto deve ser consistente no que se refere a situagao que Ihe E exterior. A estruturagéo de um texto se d& pela organizagao de um conjunto de enunciados, como uma unidade. A AD interessa, pois, o conceito de texto como contraparte do conceito de discurso. O discurso, por sua vez, é o sustentéculo que garante a significacio das palavras. Conforme Orlandi (1996: 52), “Quando uma palavra significa é porque ela tem textualidade, ou seja, porque a sua interpretagéo deriva de um 54, discurso que a sustenta, que a prove de realidade significativa.” ‘Ainda nesse sentido, preocupamo-nos em deixar clara a nossaopiniiio de que acompreensio do processo de passagem do Discurso da Oralidade (DO) para o Discurso da Escrita (DE) (tanto por parte do professor quanto do aluno) € condig&o para conferir ao aluno possibilidades de atingir, na pritica, a nogdo de texto que julgamos teoricamente adequado. A produgio do estudante, quando este entra na escola, se inscreve no DO e assim prossegue desde a alfabetizacdo até o fim de sua escolaridade e pelo fato da escola nfo ensini-1o a produzir em DE tudo que ele poder produzir 6 c6pia do padrao escrito com um sentido ambiguo ¢ inacabado. No entender de Gallo (1995), a escola apresenta aos alunos 0 discurso escrito como modelo, mas nao ensina a produzi-lo. ‘Segundo a autora o proceso da passagem do DO para 0 DE s6 se realiza se 0 aluno produz o texto, ou seja, se posiciona como autor, nas seguintes situacde: a) Estd inscrito em um discurso institucionalmente produtivo (livro, jornal, palestra, gibi etc. ») Se situa no exato “impossivel” do D. Plisto é, assume-se enquanto sujeito no Discurso Pedagégico] e, por esse motivo, rompe seus limites em busca de um “possivel” que seré necessariamente ‘assumido por esse sujeit ©) Reconhece uma ambigitidade permanente no sentido construido, mas apesar disso produz um “fecho” para o texto, compreendendo, finalmente. que a figura do autor (a func do autor) é responsavel pela producdo do efeito de sentido de “fim” para ‘aguilo que era somente um “fecho” . Gallo,1995: 106) Com isso Gallo mostra a grande diferenga entre re-produzir eproduzir um texto de DE Segundo a autora, “0 texto do D.O. sempre teré a fungdio-autor elaborada, mas é na escola que essa elaboragao poderia e deveria ser explicitada. No entanto, sabemos que a escola, na maioria dos casos, ndo permite nem fungéo-autor (reproducdo do D.E.),muito menos a expiicitagdo dessa elaboragéo (passagem do D.O. para oD.1 (Gallo, 1995: 107) 55. Ménica OWeira Santos ¢ Luiz Francisco Dias Conforme Gallo et alii (1987: 40-2), € importante considerar que 0 que assegura a constituigéo do sujeito como autor ni é ainda o que ele diz, mas a maneira como o faz, em qualquer que scja o tipo do discurso em que esteja inserido. Nesse sentido, 0 sujeito esta garantindo a autoria de seu texto, A fungio-autor é assegurada no exato momento em que 0 sujeito estabelece uma relacio de sustentacao entre as “bases” sobre as ‘quais seu texto se constr6i, Segundo a autora, “Os elementos que esto na base de um texto desse tipo sao de duas naturezas: a) elementos do contexto sécio-historico; b) elementos textuais (locutor | enunciador). A realizagao, no texto, do seu contexto historico, tem que ser necessariamente uma funcdo do autor. Isto porque sé 0 autor tem 0 projeto total do texto e pode garantir, através dessa realizagdo, a sua unidade.” (pp. 42) 2, Discurso da Oralidade e Discurso da Escrita no TC 2000 Uma vez que 0 Telecurso se propée a trabalhiar com a linguagem cotidiana, privilegiando, assim, a linguagem falada em seu contexto cenunciativo ‘natural’, pretendemos verificar a questio da ‘artficialidade’ na linguagem do Telecurso, no sentido de avaliar 0s prejuizos acarretados por esta, em relagao a pretenséo de se trabalhar com a linguagem falada. © ponto de partida de nossa andlise acerca da proposta de ensino do ‘Telecurso 2000 seré 0 procedimento de composigio textual utilizado ‘em suas teleaulas. Sob esta perspectiva, julgamos importante especulat um fator especial na construcao textual do Telecurso: as cenatextos. Blas sio produzidas por um personagem recorrente em todas as teleaulas Trata-se do personagem/escritor Machado. Tanto as histérias, quanto a situagdo de escritura criadas pelo personagem/escritor “Machado” sio textos, ou melhor, roteiros pré-escritos que simulam situagdes cotidianas, ‘onde prima a lingua oral ou informal. © primeiro ponto que nos chama a atencdo € justamente o cariter simulado da oralidade que se instala nas teleaulas. Nao temos nas, teleaulas textos verdadeiramente ‘exponténeos’, mas sim cenatextos (0u mini-novelas) pré-escritas que simulam situagGes de fala informal ¢ oral. ‘A partir deste ponto, apresentaremos alguns aspectos relativos & Graphos, vo In 1, 1998 abordagem da ‘artificiatidade’ na elaboragto textual no TC 2000. Dentre (08 principais aspectos que achamos pertinente mencionarmos, temos a artificialidade textual: 1) na passagem de textos informais para textos formais; ») na abordagem de jarg6es profissionais e populares; ©) na composigao do texto, tendo em vista a questo gramatical; 4) na utilizagéo do dicionério. Tais aspectos participam conjuntamente do processo de ensino de Hingua no TC 2000, e esto ligados por um trago comum que é 0 da ‘simulagio’ da fala oral, ou, para nés, ‘artificialidade’ textual. Analisaremos esses aspectos e verificaremos se eles constituem um ‘avango em termos de ensino de lingua materna ou reafirmam a posico convencional de ensino. Quanto ao primeiro aspecto, verificamos um problema na proposta de reescriturae passagem de textos orais ou informais para textos escritos ou formais. Vejamos 0 exemplo da Cenatexto do médulo ‘Conte uma hist6ria’. LS, apresenta-se um texto em que dois moradores do morro, integrantes de uma escola de samba, esto discutindo e se utilizam da linguagem estritamente informal (giria carioca). Esses moradores utilizam termos como “maluco”, “cara”, “mermao”. Mas, na proposta de reescritura, o que se verifica é uma situagdo por demais artificial: 05 moradores do morro agora se tratam por “‘cavalheiro”, por exemplo. ‘Vejamos 0s textos: (informal _ E.al, Manecio? Tu acabou com nossa festa, maluco! = Serd que tu num verificé comé que tava os troco ld? Tu é sujo merméo! Eu sei que foi sujeira, e da grossa! __Sabe o que eu queria jazer agora? Quebrar a tua cara, maluco! formal _ Devo dizer, seu Manecdlo, 0 senhor arruinou nosso desfile, cavatheiro! _ Serd que 0 senhor ndo supervisionou o trabalho de seus assistentes? Trata-se de um caso de irresponsabilidade! Sem diivida! Estou ciente de que foi falta de profissionalismo de sua parte, 57 Monica Oliveira Santos @ Lule Francisco Dias _ Se fosse para obedecer aos meus instintos, eu partiria para @ agressdo fisica. (médulo, “Conte uma hist6ria”) ‘Como vimos, ndo houve uma simples substituigéo de termos que conferisse ao texto oral qualidades de texto escrito dentro da realidade cotidiana vivida na cenatexto. Houve, sim, uma mudanga radical do texto oral para uma modalidade formal, fora da realidade vivida na cena. Vemos aqui que apesar de serem, sem davida, dois textos diferentes pertencentes a realidades diferentes (um € incisivo o outro € eufémico), o Telecurso insite em classificé-los como simples passagem de um texto informal para sua “correspondente” modalidade formal, dentro de uma mesma situacio. Temos aqui um exemplo do que Gallo (1995) afirma como auséncia do carter de produgao do discurso escrito © sua conseqilente defasagem na passagem do “Discurso da Oralidade” para © “Dicurso da Escrita”. A autora prope que esta passagem se dé respeitando os limites ¢ autenticidade de cada situagdo e do individuo que a produz. Percebemos que a artificialidade da linguagem ‘pré elaborada’ invade o terreno da verossimilhanga da fala que deveria ser ‘real’, ou natural, impedindo a passagem desta pelos niveis de formalidades aceitos na situagio em estudo. Quanto ao aspecto da abordagem de jargdes profissionais ¢ populares, percebemos que 0 TC 2.000, recorrentemente em suas aulas, explora jarges, sejam estes gftias ou linguagem técnica propria de uma profissio (banco, oficina, empresa, giria etc). Como pudemos perceber no exemplo anterior de texto informal, temos uma situagao em que a linguagem predominante € a giria carioca. Vejamos outros exemplos: () (Cenatexto-escritor Machado) _ Diz ai, galera qualé 0 babado? = Que é isso, Alencar? Ficou Louco? = Que nada! Vocés néo me disseram que queriam uma idéia diferente para escrever a histéria de hoje? Eu tive essa idéial Vamos escrever uma que é um rap! Ah! Legal! Uma festa na fabrica Santa Gertrudes com a participagao dos nossos personagens. _ Embalada pelo show do grupo de rap LDs. (hist6ria) 38 Graphs, vol Mn. 1, 1998 _ E agora o show mais esperado do ano ! Os Lds ! com nossos colegas da produgéio! _Leozinko! T At galera! = Danit "Tudo em cima? Prontos pré curtir 0 nosso rap? = Dingo! _Enido se liga que 0 Lds esté pronto pré arrazar ! Vocé vai entrar no mundo do Hip hop. (..) (m6dulo. “Diz a galera”) Como vimos, apesar de nas Teleaulas serem apontados diversos Jangdes que representam ora a linguagem técnica peculiar a umaprofissio, ‘ora a linguagem propria de alguns grupos sociais, o que teria seu valor numa nova metodologia de ensino de Portugués, a attficialidade com ‘que € constnuido o texto afasta-se daquilo que seria a fonte original dos Jargdes. Aliado a isso, temos a falta de objetividade metodolégica com que se aplica esta proposta pedagégica. O grau de incompletude com que se constitui este ‘texto’ o leva a ser julgado ou como ridiculo, ou como sem sentido, Nessa proposta, 0 Telecurso nao explorao valor ativo da linguagem oral abordada (giria/rap), nem aproveita a ocasiao para verificar 0 nivel de formalidade que & propria desse tipo de texto (a partir de uma misica de rap ou outra coisa do género que estivesse histérico-ideolégico-socialmente contextualizada), 20 contrério, ele apresenta um texto artificialmente pré-elaborado que enfatiza, ‘pretextualmente’, algumas palavras do universo rap e, com isso, acredita estar oferecendo a seus alunos a oportunidade de conhecerem alinguagem oral dentro de uma de suas muitas facetas. Quanto ao aspecto da relagio entre a produgao 60s fatos gramaticais, percebemos que a proposta do TC 2000 de trabalhar com textos da “vid cotidiana fracassa ao apresentar cenas forgadas, com o pretextode abordar determinados aspectos da gramética. Vejamos os casos a seguir: (3) (historinha) _Isso é blé, bld, blé ! [Que zum, zum, zum é esse ? —Otha a zueira ? = Ué, por qué ? Vamo, Vamo ter que sussurrar agora? 59 Ménica Otvaira Santos @ Luiz Francisco Dias Qué, qud, qué! = Qualé, vai xispar ? LXbi! (médulo: “Assino ou nfo assino”) (4) (historinha) _Também assisti um bom filme ontem! “0 filme teve algum acidente? = Claro que ndo ora ! Que perguntal T Endo voce ndo assistiu um filme ontem! {Por qué? = Quer vér o que é assistir um filme? (pega o filme e joga no cho) _ Répido, chamem ajuda o filme caiu, coitado ! (médulo: “Assino ou nao assino” (5) (entrevista) (local: gindsio onde uma grande torcida esté assistindo a um jogo de basquete; cena: uma rep6rter faz uma pergunta a alguns ‘espectadores e eles respondem.) _Vocé gostou? = Gostou de qué? (médulo: “Assino ou néo assino” ) Como vimos nos exemplos acima, a artificialidade nos faz refletit sobre que conceitos de textualidade subjazem a proposta do TC 2000. ‘Qual a finalidade do trabalho com o texto? No primeiro exemplo, 0 trabalho com o texto foi introduzido a pretexto de se estudar a onomatopéia; no segundo caso, vimos que o texto, elaborado numa situagZo potencialmente artificial, funciona apenas como pretexto para ‘a explicagao do funcionamento do verbo assistir a partir dos moldes da gramética tradicional, moldes esses que estao longe das situagdes de ‘ocorréncia do verbo no cotidiano; no terceiro caso, apesar de a situacao de fala dispensar 0 uso do objeto direto, o personagem artificialmente & incoerentemente) pergunta ao repérter do que ele esté falando (se os falantes estavam no lugar e na hora da ocorréncia enunciativa, & claro «que eles saberiam do que o repérter estaria falando, ¢ responderiam se tinham, ou nao, gostado do jogo, no caso). Percebemos que o Telecurso 60 Graphs, vol in 1, 1908 se divide entre aplicar uma metodologia que abranja os fenémenos relacionados a enunciacio, e nao desvincular-se das normas lingiisticas da Gramitica Tradicional, O resultado disso, evidentemente, nao positivo, ‘Com relagao ao diltimo aspecto, 0 da artificialidade na utilizagdo do diciondrio, percebemos que a utilizac3o do dicionério na Teleaula (para consulta, pesquisa etc) & uma prética recorrente e muito valorizada, no ‘que se refere a aquisicao da lingua culta. porém, aqui, também, fracassa proposta do Telecurso, tanto no que se refere & artificialidade textual, quanto no que diz respeito as concepcdes de “aquisicao de lingua”. Percebemos que o texto 6 construido com o pretexto de destacar algumas palavras, para consulta no dicionério. Vejamos o exemplo: (6) (cenatexto - Machado) _Tem um pedaco ai que cé fala uma ... € uma palavra que eu acho dificil, mas toda firma tem. _Psicéloga'(...) ~ E isso mesmo! Eta palavrinha pernéstica ! Psicéloga !(..) Otha! Aqui esté dizendo que a terminagado logo ou loge indica profissiio do sujeito. (médulo: “Vale 0 escrito”) No exemplo acima, vemos que ironicamente o personage nao conhece a palavra “psicéloga”, que € muito comum, porém coahece a palavra “peméstica”, que, pelo contexto, poderia oferecer maiores dificuldades para se encontrar 0 seu significado. ‘Como se pode verificar, esse problema alcanga grandes proporgdes, ‘que nos leva acrer que os textos elaborados pelo TC 2.000 nao passam de pretexto para ensino da gramética ou consulta ao dicionério, assemelhando-se muito 4 metodologia aplicada pelos manuais tradicionais de ensino. E a artificialidade lingifstica com cue sio elaborados os textos os distancia significativamente do que se poderia considerar ‘linguagem cotidiana’, como quer a pedagogia do Telecurso. 3. Conclusio De acordo com 0 que pudemos observar, acerca da proposta 6 Monica Olvera Santos Luiz Francisco Dias pedagégica de ensino de lingua portuguesa do Telecurso 2000, dentre 0s demais aspectos que concorrem para fracasso dessa proposta, destacamos artificialidade na passagem do Discurso da Oralidade para ‘© Discurso da Escrita. Percebemos que quanto a este aspecto, o Telecurso ‘no demonstra ter uma metodologia de ensino objetiva e definida para abranger a lingua falada, muito menos a passagem do Discurso da Oralidade para 0 Discurso da Escrita. OTC 2000, em sua proposta, equivoca-se a0 confundir 0 texto com’ espaco aberto para o treino ortogréfico © gramatical, em que o aluno & um mero imitador daquito que se considera padrio em linguagem, desconsiderando papéis importantes como o da criagio, o da autonomia, e 0 da autoria. Acreditamos que um dos principais problemas na metodologia do "TC2000 € a tentativa de trabalhar com duas propostas antagénicas, ou seja o fato do TC2000 privilegiar o trabalho com a linguagem cotidiana sem querer se desvincular dos moldes convencionais da GT. Referénclas Bibliogréficas Fundagto Roberto Marinho, Telecurso 2000: fundamentos e diretrizes, Rio de Janciro 1 Sto Paulo, sd. GALLO, Solange Leda. Discurso da Eseritae Ensino. Sdo Paulo: Editors da UNICAMP, 1995. ct Alii. Sobre s histéria do contador de histérias. IN: DURIGAN, J. A.et Ali. A Magia da Mudanga. Campinas: Editora da UNICAMP, 1987, p. 31-43. ORLANDI, Eni P. Linguagem e seu Funcionamento; as formas do discurso. Sto Paulo: Brasiliense, 1983. ORLANDI, Eni P. & GUIMARAES, Eduardo, Texto, Leitura ¢ Redagio. Sto Peulo: SEICENP, 1988.

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