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lvaro de Campos
ODE TRIUNFAL
ODE TRIUNFAL
dolorosa luz das grandes lmpadas elctricas da fbrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
rodas, engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fria!
Em fria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lbios secos, grandes rudos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabea de vos querer cantar com um excesso
De expresso de todas as minhas sensaes,
Com um excesso contemporneo de vs, mquinas!
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical
Grandes trpicos humanos de ferro e fogo e fora
Canto, e canto o presente, e tambm o passado e o futuro,
Porque o presente todo o passado e todo o futuro
E h Plato e Virglio dentro das mquinas e das luzes elctricas
S porque houve outrora e foram humanos Virglio e Plato,
E pedaos do Alexandre Magno do sculo talvez cinquenta,
tomos que ho-de ir ter febre para o crebro do squilo do sculo cem,
Andam por estas correias de transmisso e por estes mbolos e por estes
volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um acesso de carcias ao corpo numa s carcia alma.
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
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6-1914
Poesias de lvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: tica, 1944 (imp. 1993): 144.
1 publ. in Orpheu, n1. Lisboa Jan.-Mar. 1915. Lacunas completadas segundo: lvaro de Campos Livro de Versos. Fernando Pessoa. (Edio Crtica. Introduo, transcrio, organizao
e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993
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