Sie sind auf Seite 1von 9
Notas para uma antropologia a partir da produgao do conhecimento, os usos das ciéncias, intervencées e articulacées heterogéneas' Fagio.a ROHDEN Exte trabalho tem como ponto de partida os desafios do fazer antropolagico voltado para a andlise do papel das ciéncias na procugdo contemporanea de saberes e formas de intervencio concretas em corpos € comportamentes. Embora ciente dle que esta anilise ¢ fruto de uma visio especifica do campo, gostaria de sugerir que os desafies elencados se referem a dilemas mais gerais da antropologia e precisam ser discutidos mais amplamente entre pares que ‘trabalham em éreas por vezes “apenas” paralelas. A discussio aqui proposta é resultado de minha trajetéria enquanto alguém que ‘tem pesquisado a proclugio dos saberes médicos e seus diferentes usos, espe- cialmente através da articulago com as dimensdes das relagoes de género e da sexuslidacle e que tem se inserido na interlocusdo com o campo dos chamados Estudos Sociais da Ciénciae da Tecnologia (ESCT). Mais recentemente, meus interesses de pesquisa tém se voltado para a criagio de novos diagnésticos, direcionados a condigdes ousituagdes anteriormente nao percebidas como pa- tolégicasoualvo de intervengio por parte da medicina. Trata-se, por exemplo, da promocio de categorias como menopausa, andropausa ¢ disfuncdo sexual ‘masculina e feminina, relacionadas a uma intrincada conexao simbelica que 7 jabatho arginamenteapresentado na Mesa Revlonda “Antropol da ignca:unjetias, mter- faces intervengies” na28" Reuno Brasicra de Antropolegia (Sao Paulo, PUC, 2012). Gestaria leagradccer especialmente os coments de Otavi Vadho e Cladia Fons. 50] sexe juventude, satide, beleza e atividade sexual, Embora haja uma vasta literatura centrada nos processasce medlcalizacao ch sociedade,? aconfiguragao que esses fenimenes assumem exige uma constante problematizacao do que vena a ser o fazer antropol6gico, em sentido amplo.. ‘A busca por entender 0 “sucesso” estrondoso de algo como o Viagra, entre outras drogas de “estilo de vida”, como sao chamadas, leva a necessidade de estuclarnio apenas a criacdo do medicamento especificamente, mas uma série de outros fatores inextrincavelmente relacionados, como as transformagbes nas categorias nosol6gicas, as disputas profissionais, as associagSes, congressos publicacSes especializadas, os interesses dos aborat6ris famaceuticos, os orga nismes reguladores internacionais, os govemnas ¢as politcas locas, a produsao dda midia, as transformacées associadas a novas concepgées de masculinidade, sexualidade, satide e envelhecimento, etc. (Rohden 2008). Resumichmente, 0 que se impse é uma ideia de rede complexa e que nos impede de escolher um ponto de vista a priori, como o dos cientistas, o dos Uurologistas ou o dos usustios, o que certamente implicaria no fracasso de um entendimentomais aprofundado. *Evidentemente, dar conta de mapear toca a tela é uma pretensio que nao se coloca, nao s6 pelas dificuklades que seriam inerentes aesta tarefa, mas por sta localizacao ouexisténcia depender de cada situacdo. Porém o que se toma imprescindivel & exatamente a percepcio das ilttiplas conexdes, possivelmente inesperadas, e o descentramento de certas perspectivas, ou “objetos”, Inspirada em autores como Law (1992) e Haraway (1995), sugiro a pertinéncia teGrica-metolégica-politica de uma nogao de rede no sentido de algo dinmico e fluido, que € constituddo temporariamente, em. virtude de associagdes provisdrias de interesses diversos, com efeitos possivel- ‘mente inesperados e cuja “constatacao” depende do priprio lugar provisSrio, localizado e comprometido, ocupado pelo pesquisador. Os desafios enfrentacas por varios pesquisadores neste vasto campo de fron teira com as outras ciéncias e seus usos quotidianos, acirra esta necessidade de reflexao. Os estuclos em tomo da formacio de associagdes de pacientes, porexemplo, remetem a descoberta de novas drogas, criacdo de diagnésticos, construgdo de identidades e formas de sociabilidade, judicializacao da satide, relacdo entre associacdes médicas, laboratérios farmacéutices, universidadles ‘Ver Rescrsberg (2000), Conrad (2007), Clarke era (2002), Rese (2007). [Nesse proces, abresecaminho para perccer como os midicos no soma agentes entrain roasso de medicalaacio, face ace aborts farmatutices, por exemple. Ox para entender como a mls nao pete ser trata como “divulda” de nenes dlagnstcos on preutese sim ‘comme agente prxhitor pees teinegralo ra reve (Robe, 2011} € govemas, ete. Se as etnografias de laboratério tiveram um grande impacto em virtude de terem descortinado a ciéncia do seu cariter sagrado, deixando evidentes todas as suns caracteristicas mundanas," um campo importante tem, se aberto em tomo des estudos marcados pela preocupacdo em entender a presenga da ciéncia no quotidiano, na administracao concreta da vida.® Parece ‘tomar-se cada vez mais evidente que estamos lidando com um emaranhadode ‘elas, em que a propria separagao entre a ciéncia de boratorio, seu contexto de producio e seus diversos “usos” nao faz. mais tanto sentido. A etnografia dessas novas redes-objetos, das quais 0 antropslogo também faz. parte, traz novos problemas de pesquisa, novos desafios teéricas, novos tipos de fontes, novos dilemas éticos.* p Se, porum lado, a emergéncia desses estudos indica a producio de um campo consistente e promissor no Brasil, por outro, intensifica, uma série de desafios concementes 4 pesquisi antropoligica. Como lidar com esses “objetos” que nao podem ser recortadas de uma maneira mais “tradicional’? O que significa fazer este tipo de antropologia, hoje? Proponho discutirisso a partir de certas contribuicées que a fronteira com os ESCT nos obriga a considerar.” Nao se trata certamente de questdes que ndo estivessem presentes no horizonte da antropologia. Mas de um contexto em que se tomam fundamentais, aiudando inclusive a problematizar diferentes freas temiticas ~o que nos leva também @ pensar sobre a importincia de mais espacos de articulacao entre diferentes, dominios ou subsireas na disciplina. ‘uveupayieo op opSnpord ep sued «ebojodanve Wun eid si0N Gostaria aqui de fazer uso de um comentario de O. Velho durante 0 seminétio “A Religtio no Espago Pablico”* (NER/UFRGS, 2012) a respeito da incon ‘tomével “perda da inocéncia” por parte dos antropslogos. A questo que se colocava era que, a0 estudar certos segmentos do campo religioso no censrio piiblico do Brasil de hoje, era imprescindivel considerar também as aspectos econdmicos no que se refere, por exemplo, a associagao entre certas igrejas 5 Comomosaa T Hock 2010), descreveracigncia con rnclana rio ipicaem desantrinia, map exatamenterewlar com Gsax carter soc quca toma plnamentelegtina. (ME Callon (2008) vai chara a atengo para este proaesso, ementrevista que disute a tansfor- ages no campo dhs ESC © Neradscussio fita por Fonseca e Si (2011). Fatedleracertarente nioG rove, rustahezestejames dante de um quadkocomnovascdimensées, ‘al comosigere Latour ao tratar do impacto da tecnceendia € as complemaseeas deassociagio _mobilizdas mo proceso de alaggimento da sia importincis no mundo contemporince (Latour, 1994, 2000), © O seins fi ergantatlo pelo Niddeo de Fstucles ca Religie da Universidade Feleal do Rio Granle do Sul erealizado nos dias 14 € 15 de unho de 2012, em Porto Alege. 52 | ‘ou movimentos © a aquisicao de espaco nos meios de comunicagio. Nao se discutia simplesmente a producao dos dados etnogrificos, mas sobretudo 0 papel do antropslogo ao se deparar com evidéncias de uso do dinheiro doado pelos figis para propésitos niio explicitados e/ou indevidos. Aquestiode fundo, contudo, parecia ser muito mais relativa a certo desconforto provocado por ‘uma associago que pareceria “esptiria” por principio, entre odominio religicso © omercado, Certamente, na visio de um analista que privilegiasse um recorte fechado no que tradicionalmente seria definido como religioso, dar-se conta da dimensio econdmica envalvida levaria a essa espécie de perda da inocéncia. Esse caso € especialmente interessante aqui porque remete a uma comparagao, prodlutiva com a drea da satide. Neste campo, tal como se constitu na nossa sociedale atualmente, nao é possivel ignorar a forte presenga dos interesses econdmicos. Mas 0 curioso & que também neste dominio pareceria dificil, & primeira vista, acreditar que as leis do mercado poderiam suplantar as cuidados com a suite. Tanto no caso da religido como no caso da satide, parece haver algum tipo de prurido, incorporado também pelas antropslogos, em perceber cou admitir, muitas vezes, o predominio dos interesses econémicos, em émbi- ‘tos cercados pela aura sagrada de valorizagao da vida e do bem comum, Cabe lembrar, no que se refere acs grupos religicsos, que inclusive juridicamente pressupde-se que sejam “sem fins lucrativos”. No caso especifico do campo da satide e do marketing farmacéutico, o mais impressionante € que € exata- _mente esse capital simbolico ético associado medicina que é transformado em moeda por alguns laboratérios farmac@uticos que se apropriam com muita cficécia dessa legitimidade especifica para promover seus produtos (Fishman, 2004; Rohden, 2011). A figura dos experts médicos nao se constitu apenas em, funcio da autoridade cientifica ou técnica desses profissionais, mas também por conseguir incorporar este crédito concedido socialmente aqueles que juraram proteger a vida, ‘As etnografias tém mastrado, tanto no campo da religido como da side, que articulagSes aparentemente estranhas, segundo nossos prOprios valores, entre religido e mercado ou satide e mercado, tomam-se cada vez mais visiveis. Na verdade, como alguns estudos tém tomado evidente, a propria distingio ana- Iitica entre diferentes dominios parece ser totalmente inadequada. Quando partimos em direco a uma perspectiva antropologicamente mais aberta, no sentido de mapear as conexdes relevantes sem determinagoes simplistas, caf ‘mosem uma malha muito mais complexa. Percebemos, por exemplo, que no contexto de criagio de alguns diagnésticos tratamentos noha como conceber separadamente a dimensio da atengio a saiide e a dimensio do lucro. Elas slo de tal forma imbricadas ¢ constituintes dos processos estudlados que as dlistingGes analiticas operadas apenas acabam por inviabilizar um entendimento 2 ‘mais aprofundado, Esse panorama exige, portant, que posicées inocentes sejam definitivamente abandonadas, Isto, em dois ambitos a}o primero diz respeito acomo etnografar esses fendmenes, a quis seriam as teorias e os métodlos mais adequados para produzirmos estuclos pertinentes; bJo segundo se refere a questo do préprio posicionamento do antropslogo como mais um integrante dessa redes, cus contribuicées podem ser apropriadas em diferentes sentidos. Enesse momento da discussdo que acredito ser titil recorrer a certas inspiracies ‘trazidas mais enfaticamente pelos ESCT, a partir de minha kitura especifica deste campo que atenta sobretudo para a cimensio da interface entre géner> e ciéncia e a relevancia da critica feminista. No que se refere a0 questiona- mento a respeito de “como estudar” esses dominios que tanto nos desafiam hoje, uma direcio fundamental tem sido o privikégio a ideia de redes, ndo no sentido de algo plnamente estabelecido mas, a0 contrério, pela sua remissao 20 cariter instivel e heterogéneo das articulagoes. Alem disso, a preconizago de certos descentramentos também tem sido fundamental. Nesse caso, trata- -se de discutir com profundidade a equacao sujeito/objeto do conhecimento, uestionando as implicagoes da particao nessas diferentes posigdes € quem ou 6 que tem sido enquadrado sob essas diferentes formas. Pensar sobre a agéncia nao humana, por exemplo, tem nos exigic refletir sobre as conseqquéncias do antropocentrismo, no que se refere a aspectos tesricos, politicos, éticas. Esses deslocamentos nos fazem também discutir com mais propriedade nosso enfoque a respeito de distintas “teorias nativas’, sejam aquelas que precisariam ter sua forma de racionalidade “resgatada” pela antropologia, sejam aquelas, como 60 caso de produces tecnocientificas, que parecem “resistir” ao debate antropo- logico porque percebidas como dotadas de uma especie de racionalidade plena. ‘uveupayieo op opSnpord ep sued «ebojodanve Wun eid si0N No que se refere & questo do posicionamento do antropslogo, remeto mais, uma vez. a0s exemplos dos campos da save e da religido. A perda inevitavel da inocéncia tem certamente como consequéncia entender que fazemos par ‘te do jogo, as vezes mais, as vezes menos do que gostarfamos, ou a partir de apropriagdes em sentidos distintos ou mesmo inesperados. Fazemas parte do campo ao pesquisare ao expor nassos registrase reflexdes sobre 0 que as outros, fazem. Mas uma questo que se coloca ainda de maneira ambigua e incomoda € relativa a se, € como, assumir de maneira mais enfitica nossas posigSes a partir do conhecimento produvido e qunis as implicagies éticas envolvidas, Um desdobramento desse debate ¢ enfrentar com empenho nao s6 a Sbvia recusa da imparcialidade, mas também a ret6rica do “denuncismo”, Parece 54) ae mas facilmente se cai nesse polo quand se esta tentando produzir um conhecimento engajado ~ 0 que pode inclusive enfraquecer o peso desse conhecimento no jogo de interesses mais amplo. Nao estou me referindo a deniincias que se fazem absolutamente pertinentes © necessirias. Mas sim a certa confusio que envolve preconceitos analiticos que, porexemplo, estariam, associados a separacio entre as esferas econdmica e religiosa ou da sate e que fazem com que a “descoberta” de conexdes intrinsecas no campo implique no escindalo/estranhamento do pesquisador, que parece paralisar a andlise. Esse tipo de situacdo toma-se sintomaitica quando os préprios interlocutores de pesquisa demonstram ao pesquisador que nao desconhecem ou escondem, certas conexdes, mas que estilo cientes de que “é assim que as coisas funcio- nam ~frase que poderiamosouvira respeito da forca dos interesses financeiros ‘tanto no caso da religio quanto da satide, esse tipode dilema, nao se trata, certamente, dle abrir mio do pesicionamento ‘mas de fazer isso com mais competéncia, Essa competéncia estaria ndo apenas na capacidade de prodwzir versdes consistentes da realidad, mas também na busca por enfrentar os interlocutores assumindo a consisténcia da sua pro- pria versio, em contraste com a deles, ¢ levandoa sério as verses “nativas”. ‘Acredito que esse contraste de verses operacionalizado publicamente pode ser uma forma mais eficaz de contribuigdo politica do que a dentincia pouco qualificada. Mas, sem diivida, o ponto central aqui é que, para proxuzir esta eficécia, 0 trabalho etnogrifico requer um empenko de grande magnitude, desde a pesquisa propriamente dita até nossa capacidade de produzir uma comunicagio efetiva, E, certamente, apesar dos esforgos, ainda estamos no inicio e temos muito a aprender no aprimoramento desse processo. Os estuclas sobre ciéncia, a0 enfatizarem as redes, os descentramentos e, portanto,o inegivel cariter social do conhecimento, tém ajucado a realcar os desafios envolvidos também na pritica antropol6gica. Uma referéncia central ‘tem sido a nogao de conhecimento situado ou localizado que atenta para a parcialidade das perspectivas e a qualificacio de certo tipo de objetividade, nos termos de D. Haraway (1995). Trata-se, portanto, de assumir cada ver. ‘mais esta parcialidade e objetividade que estamos tentando construir no fazer antropoligico, mantendo em vista quais $30 os compromises pretendidos. Isso implica em admitir que, se inocéncia nunca houve, cada vez mais a cren- Exta nogdo pode ser titil nos dois sentidos do problema tratado aqui: como estuxlar fendmenos complexos que pdem em cena articulacées heterogéneas; € como compreender © lugar da analise antropokigica. Ou seja,a co-produsao pode ser um conceito titil para analisar os “outros” ea “nds mesmos”, nessa interlocucio com “eles”. No primeiro caso, evidentemente, estarfamoslidando com a perspectiva de interconexao entre fendmenes, envolvendo diferentes dimensdes da construgio de processos complexos. Além disso, estariamos considerando que criagoes da tecnociéncia, mas ndo $6, esto plenamentee as- sociadas a determinadas visdes de mundo e pretenses politicas. Nesse sentido € que a anilise da producao de um medicamento, por exemplo, pode remeter eventos, entidades, categorias ou atores tio dispares como cientista, clinicos, publicitarios, investidores, consumidores, jomalistas, ética médica, autorida- de da ciéncia, mercado, disputas profissionais, politicas piblicas, moléculas, exames, Alguns desses virios elementos articulados podem estar ajudando a conformar ou expressando a configuracio de determinado conjunto de valo- res, como uma nova forma de percepcio sobre o corpo e a subjetividade mais ‘marcades agora por uma referéncia biomolecular, como diria N. Rose (2007). ‘uveupayieo op opSnpord ep sued «ebojodanve Wun eid si0N ‘Temos assistido a ascensio de um estilo de pensamento, nes termos de L. Fleck (2010), que redefine a distingao entre social e natural por meiode novas, énfases. Como alguns discursos reducionistas da biomedicina centrada em bor- _ménios ou genes, porexemplo, tém mostrado, a causalidade ea determinacao dos fenémenos (como o “comportamento de género”) estaria dada no plano natural. A agéncia privilegiada parece ser a desse nivel biolégico molecular e indo aquela do sujeito racional. Fina antropologia temas localizadoa agéncia atrelada unicamente a esse suit, dono de vontade, ignorandlo até mesmo a presenga a densidade material. Em oss articulagdes singulares, temos escolhido 0 foco nos individuos humanos €, muitas vezes, apenas em certos tipos ou categorias de pessoas, desprezando 56] xtra O “queens dizer”, do ponto de vista de escolhas éticas e episte- ‘mol6gicasao fazermos iss0? Nés, antropalogos, a0 prvilegiarmos esta cadeia de associacio, centrada em certas pessoas e no outras, estamos fazendoescolhas. ‘Talvez pudéssemos pensar na linha do que argumentou R. Wagner (2010) a repeito da nocio da cultura. Assim como ele se pengunta sobre 0 que estamos falando quando “inventamos a cultura” e definimes de qual forma vamos falar das diferencas, poderfamos nos perguntar sobre o que estamos falando quando restringimos.a agénciaa certos tipos de humanos, nes recusando a pensar sobre diferentes formas de produzir efeitos no mundo. Possivelmente, ao enfatizarmos certas articulagées, colocando-as a prova, podemos contribuir para problematizar as escolhas politicas que fazemos em nossa sociedade, expressas também nas nossas tecnociéncias. Dessa forma, chegamos a importincia da nogio de co-producao para discutir o prprio lugar da antropologia. E nesse caso, a problematizacao da sacralidade da ciéncia, enquanto algo fora do mundo, parece ter algo a contribu, Pensar o mundo como redes heterogéneas, mais ou menos estaveis, articulando elementos hu- manos € ndo-humanos ¢ produzindo efeitos de poder, nos termos de J, Law (1992), ajuda nao s6 a pensar as ciéncias dos outros mas também a nossa. A antropologia aparece ai enquanto coproduzida por um conjunto de conexdes heterogéneas e também coproduvindo redes particulares. Assim como é fnito de arranjos especificos, seus focos de anilise também o so, 0 que nos obriga, a buscar nio 0 que estaria dado de antemao, mas os efeitos das associagdes singulares procuzidas em contextos especificos. Se admitimos que estamos apenas tragando redes “virtuais”, nao fixas, mas plenamente potentes em termes dos seus efeitos, toma-se mais evidente que estamos excolhendo focos temporitias, instaveis e criando versdes a partir dessa localizacio e objetividade especifica, que, porsua vez, também tém seus efeitos. Retomando mais uma vez:D. Haraway, para se ter uma visio objetiva € preciso adotar uma perspectiva parcial e localizada, uma perspectiva que poss ser responsabilizada, Dessa forma, o conhecimento passa a ser situado e comporificado, tomado-se responsivel e plenamente distinto do conhecimento nao localizavel e irresponsével ou, nos termes de Haraway, “incapaz. de ser chamadoa prestar contas” (Haraway, 1995:22). Referéncias bibliograficas CALION, Michel. "Entrsistar Dos estes de labortrio aos estilos de coletivos hetercyncos, pasandopelesgerenciamentos conics”, Serialgias, Porto Alege, ano 10, n° 19, 2008, jan/ jun, pp. 302-321, CLARKE, Adde; SHIM, anes; MAMO, Lining FOSKET, Jennifer; FISHMAN, fennifer (ones). Biomatiaalizion: ecluasciene and tansformaions of health and ies: in the US. Dushan Duke University Press, 2008. CONRAD, Peter: Maticalzation of scien onthe tansfamatonof Iron cmditons igo tetable disorders. Paltimore: The fons Hopkins Univ: Press, 2007, FISHMAN, Jennifer, "Manufacturing desire the commodification of ferale sual dysfunction” ‘Sal Slee of Scien, v3, 2.2, 2004, pp. 187218, FLECK, lndwik Genee e desenvolvimento der ato cinco. Belo Horizente: Fabrefacaum, 2010, FONSECA, Claudia; SA, Guilherme “Apresentagio", Horizmtes Anmopoligica, ano 17,n.35, 2011, 723. [HARAWAY, Donna. Saher Jocalizados a questo da cifcia para o feminism e 0 privikigo da perspectia paral”. Cademas Rt, 35, 1995, pp. 7 JASANOTF, Sheila. States of knowledge: the coprodusion of science and social onder: Now York Routledge, 2004 LATOUR, Brno Jamis Fors Modemas. Sao Pauls Fitera 34, 1994, Ciencia em accor can sagir cientiaas e engenteirassoxiedade afora. Sio Pauls Fiivors TUNESR, 2000, LAW, John. "Noteson the theoryof the actor network: ordering sbutegy and heterogeneity” Spstemic Practice and Action Research. v5, n. 4, Spring, 1992, pp. 37939, ROHDEN, Fabiola, “O home ¢ mesmo a sua testosteron’ promocio da andropeua © resent es solve semulidade e envethecimento no cenrio breiléro”. Horizmes Antropagies, 35, 2011, pp-161-196: Diferncas degneroe medialzagiodaseudacle ra eriasiodo diag cstico das cisfangses Sexi”. Estudos Faminista. x 17, m1, 2008, pp89-108, ROSE, Nikolas. The plies of Iie ited: biamedicine, paver subjesvity in the twenty firs century Princcton: Princeton University Press, 2007 ROSENBERG, Charles: “The tyranayof diggnos's: specific entities and individual experience”. The ‘Milbenle Quarady. x $0, n° 2, XD, p. 237-250, WAGNER, Roy A inven dt cud, So Paulor Cosae Nay 2010. soon p fupupayie op orsnpord ep suede ebojodoe ene

Das könnte Ihnen auch gefallen