É alta, excessivamente alta; Tem uma cor discreta, monotonamente discreta, Que a torna triste, cansativamente triste, E o impessoal ressalta, distintamente ressalta. Situa-se entre dois aposentos, reais e imaginários: Vazios, desoladoramente vazios, Apesar de mobilados, inesteticamente mobilados; Falta-lhes o elemento humano, calorosamente humano, Que os não torne frios, desagradavelmente frios. Serve a diversas pessoas reais: Gente banal, comummente banal, Que entra e sai, felizmente sai; Que meus pensamentos quebra, repentinamente quebra, Me traz de volta ao real, terrivelmente real. Serve a todos de igual modo: Abre e fecha, é o que faz, maquinalmente faz, Dando passagem a gente, aparentemente gente, Que a este ambiente monótono, ininterruptamente monótono, Mais sensaboria traz, invariavelmente traz! Só não serve a alguém, real ou imaginário?: Que eu gostava de ver, discretamente ver, Ainda que me ignorasse, ou propositadamente ignorasse; Cuja voz ouvisse, gostosamente ouvisse, Mesmo para desdizer, convictamente desdizer. E porque não serve a esse alguém, real e imaginário: Que eu esperava, conscientemente esperava, Ainda que tardasse, levianamente tardasse, E que futilidades dissesse, repetidamente dissesse, Mas que a monotonia quebrava, sabidamente quebrava!, Cada vez menos gosto daquela porta, real: Que interesses não tem, visualmente não tem; Que o tédio aumenta, gradualmente aumenta, Que a saudade aviva, progressivamente aviva, Porque essa pessoa não vem, definitivamente não vem! É horrível aquela porta, real e imaginária: Que a espera recusa, inconscientemente recusa, Que me põe a sonhar, constantemente a sonhar, Com ideias loucas, impraticavelmente loucas De que a razão me acusa, claramente me acusa. Tento por vezes separá-las, a porta e a razão: A primeira permite-me voar, invisivelmente voar; A outra os voos me censura, ocultamente censura; Mas que me prende à vida, amargamente vivida, Se não me é permitido sonhar, livremente sonhar?