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PORTA REAL E IMAGINÁRIA

Não gosto daquela porta, real e imaginária;


É alta, excessivamente alta;
Tem uma cor discreta, monotonamente discreta,
Que a torna triste, cansativamente triste,
E o impessoal ressalta, distintamente ressalta.
Situa-se entre dois aposentos, reais e imaginários:
Vazios, desoladoramente vazios,
Apesar de mobilados, inesteticamente mobilados;
Falta-lhes o elemento humano, calorosamente humano,
Que os não torne frios, desagradavelmente frios.
Serve a diversas pessoas reais:
Gente banal, comummente banal,
Que entra e sai, felizmente sai;
Que meus pensamentos quebra, repentinamente quebra,
Me traz de volta ao real, terrivelmente real.
Serve a todos de igual modo:
Abre e fecha, é o que faz, maquinalmente faz,
Dando passagem a gente, aparentemente gente,
Que a este ambiente monótono, ininterruptamente monótono,
Mais sensaboria traz, invariavelmente traz!
Só não serve a alguém, real ou imaginário?:
Que eu gostava de ver, discretamente ver,
Ainda que me ignorasse, ou propositadamente ignorasse;
Cuja voz ouvisse, gostosamente ouvisse,
Mesmo para desdizer, convictamente desdizer.
E porque não serve a esse alguém, real e imaginário:
Que eu esperava, conscientemente esperava,
Ainda que tardasse, levianamente tardasse,
E que futilidades dissesse, repetidamente dissesse,
Mas que a monotonia quebrava, sabidamente quebrava!,
Cada vez menos gosto daquela porta, real:
Que interesses não tem, visualmente não tem;
Que o tédio aumenta, gradualmente aumenta,
Que a saudade aviva, progressivamente aviva,
Porque essa pessoa não vem, definitivamente não vem!
É horrível aquela porta, real e imaginária:
Que a espera recusa, inconscientemente recusa,
Que me põe a sonhar, constantemente a sonhar,
Com ideias loucas, impraticavelmente loucas
De que a razão me acusa, claramente me acusa.
Tento por vezes separá-las, a porta e a razão:
A primeira permite-me voar, invisivelmente voar;
A outra os voos me censura, ocultamente censura;
Mas que me prende à vida, amargamente vivida,
Se não me é permitido sonhar, livremente sonhar?

Maria Lúcia
1980

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