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‘Poema de amanha Mamie! sonho, que, um dia, em vez de campos sem nada, do éxodo das gentes nos anos de estiagem deixando terras, deixando enxadas, deixando tudo, das casas de pedra solta fumegando do alto, dos meninos espantalhos atirando fundas, das légrimas vertidas por aqueles que partem € dos sonhos, aflorando quando um barco passa, dos gritos e maldigdes, dos édios e vingangas, dos bragos musculados que se quedam inertes, dos que estendem as mos, dos que olham sem esperangas o dia que hé de vir, —Mamée! soho que, um dia, estas leiras de terra que se estendem, quer sejam Mato Engenho, Dacabalaio ou Santana, filhas do nosso esforgo, frutos do nosso suor, ‘sero nossas, © barulho das méquinas cortando, as aguas correndo por levadas enormes, plantas a apontar, trapiches pilando, cheiro de melago estonteando, quente, revigorando os sonhos e remocando as ansias novas seivas brotardo da terra dura e seca! Anténio Nunes, 1945 0 Nova poesia ‘Um dia, misteriosamente, A Poesia perdeu-se. E muita gente ‘Andou por montes ¢ vales ‘ Buscando-a raivosamente. é Encostas inacessiveis Foram galgadas em vao. Gritos ¢ mios para os céus, Lagrimas, sangue e suor.. Ea propria vida CABO VERDE \ “. y ‘A coma Tix wi Fe Mie negra A mile negra embala o filho. Canta a remota cango \ Que seus avés ja cantavam _ Em noites sem madrugada, Canta, canta para o céu ‘Tao estrelado ¢ festivo. E para o céu que ela canta, Que 0 céu ‘ As vezes também é negro. No céu ‘Tao estrelado e festivo. Nao ha branco, nao ha preto, oe Nao hé vermelho e amarelo, 0 ! —Todos so anjos e santos Guardados por maos divinas. © / Amie negra no tem casa_ A mae négra & triste, triste, ¥ E tem um filho nos bragos... Mas olha o céu estrelado E de repente sorri. Parece-the que cada estrela E uma mio acenando ‘Com simpatia e saudade. Foi também oferecida... Mas a poesia estava, Inremediavelmente perdida. Z Os homens gritavam raivas: —Nio sabiam que fazer.. Mas, de cada peito contrito, De cada légrima ou grito, De cada gesto de dor, De todos o sangue ou suor Discretamente nascia ‘Uma nova Poesia, Aguinaldo Fonseca, 1951 Flagelados do vento-leste ‘Nés somos 05 flagelados do vento-leste! A nosso favor niio houve campanhas de solidariedade no se abriram os lares para nos abrigar ‘eno houve bragos estendidos fraternalmente para nés Somos os flagelados do vento-leste! O mar transmitiu-nos a sua perseveranga Aprendemos com o vento a bailar na desgraga ‘As cabras ensinaram-nos a comer pedras para no perecermos ‘Somos 0s flagelados do vento leste! ‘Morremos e ressuscitamos todos os anos ppara desespero dos que nos impedem acaminhada ‘Teimosamente continuamos de pé ‘num desafio aos deuses e aos homens Eas estiagens jé no nos metem medo porque descobrimos a origem das coisas ‘(quando pudermos!...) ‘Somos os flagelados do vento leste! ‘Os homens esqueceram-se de nos chamar irm&os Eas vozes solidarias que temos sempre escutado ‘Sao apenas as vozes do mar que nos salgou o sangue as vozes do vento ue nos entranhou o ritmo do equilibrio eas vozes das nossas montanhas estranha e silenciosamente musicais 'Nés somos os flagelados do vento-leste! Ovidio Martins, 1974 pennies Anti-evasio“)— Peditei Suplicarei Chorarei [Néo vou para Pasirgada Atirar-me-ei a0 chao ¢ prenderei nas maos convulsas ervas e pedras de sangue y no vou para Pasérgada nae Berrarei Matarei ‘Nilo vou para Pasdrgada vidio Martins, 1974 Adiado o tempo para amar Desculpa meu amor ‘Nao ha tempo para o amor Quando methor arfar o mar © céu for mais azul lua menos leviana Desculpa meu amor ‘inda é cedo para o amor Quando fenderem os ares os passaros da liberdade Desculpa meu amor temos em breve 0 nosso amor ‘Quando solucarem os tambores na Mae-Terra distante Quando endoidecerem tinindo 08 sinos todos de Cabo Verde Ovidio Martins, 1974

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