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Resenhas Pro-Posigées Vol. 4 N° 2[11] * Julho de 1993 RODUCAO A ANALISE DO DISCURSO Jose Horta Nunes* BRANDAO, Helena H. Nagamine. /ntroducdo @ Andlise do Discurso. Campinas: EDUC, 1991 O livro de Branddo surge em um momento em que a Andlise do Discurso vem ganhando de uma forma ou de outra contornos de uma disciplina, estabelecendo-se no interior das instituigdes educacionais brasileiras. Aparece, assim, no contexto instével em que se demarcam os dominios de uma forma de saber nos meios académicos, em que se tracam aliangas e filiagdes, em que se instauram novas problematicas que interferem nos dominios de saber ja estabelecidos. Um dos méritos desta Introducao, a meu ver, consiste em apresentar 0s conceitos € as nogGes basicas que envolvem a Anilise do Discurso de linha francesa (AD), mostrando que, embora suas fronteiras nao sejam fixas, ela possui um espaco de questies © um quadro tedrico de referéncia determinados Diferentemente do que ocorre em outros livros de introducio 4 AD, no texto de Brando nao se encontram muitos exemplos de andlise ¢ nem discussdes metodolégicas que apontem as diversas orientages de trabalho existentes. A autora se detém na apresentacdo das nogdes € dos conceitos basicos da AD, através dos seus principais autores. Dentro desta dtica, trata-se de um trabalho ao mesmo tempo conciso e abrangente que proporciona, tanto ao iniciante como a qualquer leitor interessado, um primeiro acesso aos principios tedricos da AD e um referencial para se conhecer a procedéncia de seus conceitos. A obra se estrutura em trés partes, nas quais so enfocadas respectivamente a nogio de Andlise do Discurso, a de sujeito e a de interdiscursividade. Ha ainda, propostos como apéndice, um glossario contendo definig&es de conceitos fundamentais e também uma pequena bibliografia basica comentada, Na introducao do livro, Brandao faz uma alusio que indica um posicionamento quanto ao lugar da AD: citando Bakhtin (Voloshinov), ao lado de Saussure, como um autor que considera a lingua como um "fato social", ela vé nele a antecipacio das orientagdes da “lingtistica moderna". De um lado, terfamos entio a dicotomia lingua/fala de Saussure, a lingua como sistema sincronico abstrato, 0 signo como "sinal” e a exclusao da enunciagao do campo da lingtiistica; de outro, a nocao bakhtiniana de linguagem como "interacao social”, 0 "signo dialético", "ideolégico" e o estudo do “enunciado" ¢ da "situagdo de enunciagdo", com a articulagdo do lingiiistico e do social. E neste "ponto de articulacao dos processos ideolégicos e dos fendmenos lingiiisticos” que a autora assinala o lugar do discurso. E a partir dai ela caracteriza a AD como uma “nova tendéncia lingtiistica’ que irrompe na década de sessenta. Esse ponto de vista nao deixa totalmente clara a relagdo da AD com as pesquisas lingiiisticas. Tudo se passa, por vezes, como se desde Bakhtin até lingiiistas como Jakobson, Benveniste, Ducrot e, finalmente, analistas do discurso tivéssemos a constituigao paralela de uma lingiiistica, independentemente e fora daquela inaugurada por Saussure. Nao me parece adequada esta perspectiva, e aqui vem a minha posigdo em relagdo a AD: se o funcionamento do discurso nao é integralmente lingtifstico, mas articulado ao social, por que caracterizar a AD apenas como uma lingiiistica? Saliento a observagao de Pécheux de que a AD nio visa abrir a via mitica de uma nova tendéncia para a Lingiiistica, mas im contribuir para o desenvolvimento da contradigao que marca as_tendéncias lingiiisticas, a saber, a "contradicao entre sistema lingitistico (a lingua’) e determinacoes néo-sistémicas que, @ margem do sistema, se * Professor da Faculdade de Educagao da UNICAMP. 70 opéem a ele ¢ intervem nele", Esta visio de Pécheux se mostra no proprio livro de Brandao (p. 33), em contraste com a apresentacdo introdut6ria da autora. Na primeira parte, depois de tragar_ um pequeno esboco histérico ¢ de indicar a perspectiva da linha francesa, caracterizada por um quadro teérico que alia o lingufstico a0 sécio-histrico, Brandao aborda dois conceitos necleares para a AD: 0 de ideologia ¢ 0 de discurso. Para tratar do primeiro, ela mobiliza trés autores: em Marx, através da leitura de Chaui, a ideologia estaria ligada 4 categoria filosotica de ilusio ou mascaramento da realidade social ¢ corresponderia especificamente & ideologia de classe dominante; em Althusser, teriamos 0 uso do conceito de “ideologia dominante” ¢ a distingio entre “ideologias particulares" "deologia em geral”, esta tiltima sendo "a bstragio dos elementos comuns de qualquer ideologia concreta, a fixagio tedrica do mecanismo geral de qualquer ideologia"; em Ricoeur, a ideologia seria considerada de um ponto de vista funcional em trés instincias: "funcdo geral da ideologia’, a "“fungio de dominagio" ¢ a “fungio de deformacao”. Quanto ao conceito de discurso, a autora enfora primeiramente Foucault, para quem o discurso seria uma “dispersio" de "objetos”, tipos de enunciagio", “conceitos", "temas € teorias", cujas regras de formagio determinam uma "formagao discursiva". Embora Foucault ndo tivesse uma preocupagio com o discurso enquanto problema lingitistico, salienta Brandao, suas idéias sdo fecundas para a AD: Em seguida, focaliza-se 0 trabalho de Pécheux, que é caracterizado por uma articulagdo entre a concepgio de discurso de Foucault ¢ uma teoria materialista do discurso, englobando trés regides do conhecimento: 0 materialismo histérico, a Lingiiistica e a teoria do discurso, atravessadas pela referéncia a uma teoria da subjetividade de natureza psicanalitica. Ressalto aqui a auséncia do conceito de discurso para Pécheux (1969), como “efeito de sentidos" entre locutores, a Pro-Posigbes Vol. 4 N° 2{11] * Julho de 1993 fundamental na obra deste autor, que, independentemente do uso que faz do conceito de formagao discursiva de Foucault, apresenta uma nocdo espeifica de discurso. Brandao fala ainda sobre o conceito de “condigdes de produgio do discurso" em Courtine, em ‘oposicdo a uma concepcdo psicologizante das determinagoes histéricas do discurso, e por fim trata da relagio entre os conceitos de "formagao ideolégica". e —"formaca discursiva", passando por Pécheux, Haroche, Foucault ¢ Courtine. Na segunda parte, é discutida a questéo da subjetividade na linguagem, apontando-se um percurso, com apoio em Orlandi, que culmina num estado em que as concepgdes de sujeito no se centram nem no ew nem no fu, mas no espaco discursivo criado entre ambos Refazendo esse percurso, a autora analisa a nogao de subjetividade em Benveniste, para quem 0 “ego” seria o centro da enunciagao; depois fala do “sujeito descentrado", destacando outras abordagens para as quais a nogao de histéria seria fundamental, com a consideracdo do "Outro" como constitutive do sujeito. Entre esas abordagens estio a de Authier-Revuz, com seu estudo das formas de heterogencidade discursiva, em que ha a articulagiio por um lado da nogio de dialogia de Bakhtin ¢ por outro de uma teoria psicanalitica; e também a teoria polifénica de Ducrot, que traz conceitos. de valor operacional para a AD como os de locutor ¢ enunciador, com a restrigzio de que nesse autor estaria excluida a nocio de Finalmente, aponta a proposta de uma "teoria ndo-subjetivista da enunciagio”, com 0 estabelecimento de uma relagao entre inconsciente ¢ ideologia. O sujeito ai seria constituido —paradoxalmente entre uma subjetividade livre © uma subjetividade assujeitada. ‘A terceira parte enfoca a nogio de interdiscursividade. Brandio aponta a critica de Courtine e Marandin, que questionam abordagens que escamoteiam 0 carder heterogéneo do discurso: propéem um trabalho 1 Metodologia do Ensino Superior que faca aflorar as contradigdes, o diferente que subjaz a todo discurso. Ressalta_ em seguida a posigao de Maingueneau, que coloca © primado do interdiscurso sobre 0 discurso, fazendo a distingdo entre “universo discursive", "campo discursivo" e "espaco discursive". Nos tiltimos jtens, a autora parte da nogao de interdiscursividade para discutir a questio da meméria discursiva. Depois de mencionar a ligacio que Maingueneau faz entre a interdiscursividade e a "génese discursiva", onde se mostra que nao existe discurso autofundado, de origem absoluta, ela discorre sobre a configuracdo de “dominios do campo enunciativo", Cita Foucault, indicando as formas de coexisténcia de diferentes formacdes discursivas, que delineiam: um “campo de presenga", um “campo de concomitancia” e um "dominio de meméria”. Expoe ainda, numa perspectiva proxima a de Foucault, mas contra qualquer interpretagao cronologista, a distingdo de Courtine entre: um. "dominio de meméria", um "dominio de atualidade” e um "dominio de antecipacao". Por fim, fala do “efeito de meméria", que segundo Courtine seria 0 produto da relacio entre 0 nivel interdiscursivo (do "enunciado") € 0 nivel intradiscursivo (da "formulagao"). Em relacao a esta parte, gostaria de mencionar estudos posteriores em AD, sobretudo os iiltimos trabalhos de Pécheux, que enfatizam a questio da “leitura de arquivo", onde esto envolvidas as nogdes de “trabalho de leitura", "descrigao" © “interpretacdo", assim como a propria nogdo de meméria discursiva Como se vé, 0 livro de Brandéo abrange muitos autores ao redor de questées basicas para a AD. Os conceitos so expostos, ora como aproximacées, vizinhancas, filiagdes, ora mais isoladamente, com disjungdes, apagamentos, de modo que € possivel observar a constituigdo tanto de um espago de questdes determinado para a AD como de posicionamentos divergentes dentro desse espaco. Eu diria que esta Introduedo se afirma pelo seu aspecto informativo, indicative e heterogéneo, mais do que por uma coeréncia, homogeneidade ou articulagdo das referéncias te6ricas delineadas. METODOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR ‘Amélia Domingues de Castro* GIL, Antonio Carlos. Metodologia do Ensino Superior. Sao Paulo: Ed. Atlas, S.A., 1990. © peso de um passado que considerava 0 saber como Unica credencial do professor universitério dificulta 0 tratamento pedagégico do ensino superior. Em época na qual o saber evolui tao rapidamente, seré necessdrio também pensarmos na permanente capacidade de atualizacio do docente, que se torna um perpétuo estudante. E para incentivar no aluno essa mesma atitude de busca constante, nada melhor que uma incurséo pela seara pedagégica. O livro de Antonio Carlos Gil empreende essa tarefa ¢ para evitar a entrada direta em matéria didético-pedagégica abre suas paginas com capitulos que examinam questées que interessam a0 professor na _sociedade brasileira: requisitos para o exercicio da profissio e alguns pontos de vista sobre o papel do professor, em geral. Poder-se-ia esperar, diante da copiosa produgdo atual sobre 0 temactitulo do 2° capitulo ("Compromisso social do professor") que este fosse objeto de discussio mais ampla ¢ atualizada, 0 que no acontece. Do terceiro ao décimo primeiro capitulos o Autor dedica-se exposi¢ao dos temas didaticos tradicionais: planejamento, objetivos, contetido, estratégias de ensino -aprendizagem (com capitulos especiais sobre aula expositiva, discussao e simulacées), recursos dudio-visuais e avaliago. Nota-se que o autor parece esquecer que trata de alunos-adultos ou jovens * Professora da Faculdade de Educagao da UNICAMP, 2

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