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Coordenacio Editorial {en Jacinta Turolo Garcia Assessoria Administeativa ren Teresa Ans Sofiatti Assessoria Comercial uma Aurea de Almeida Nascimento Coordenagao da Colegio Vertum ‘Li, Bugénto Vescio QD VERBUM | ; ——— | | | a nocao de cultura nas ciéncias sociais Denys Cuche Tradugio Viviane Ribeiro Cuche, Dennys A nogdo de cultura nas ci®ncia s sociais | 816, 722/C963n . (182159/02) Tradugdo realizeda # parth da $? edicSo (19536). Ditetos exclusives do publcapao em lingua portuguese para o Brasi! adquirides pala tora da Universiéade do Sagrado Coragtio |.Culeura. 2.anteopologis Antropologsa social Tt pot? DOAGA? 00 206 bE en PIBLIOTECA CENTRAL UFES ~ M218 Le icao a 1-Génese social da palavra da idéia de culura y © Eyolugio da palavra na lingua framcesa da dade Média a0 século XIX 15 © 0 debate franco-ales 2 cul ‘ura ou a antitese*cultua’ -*civilizagio” (skéculo XIX- inicio do século XX) 23 Capitulo 2-4 invengio do conceito cientifico de cultura 33 © Tylor e a concepgio universalista da cultura a5 @ Franz Boas € a concepgio particu- farista de cultura ES > Aidéia de cultura entre os fundadores da etnologia francesa 48 Capitulo 3 -O triunfo do conceito de cultura 65 «6 As fazies do sucesso 65 ‘© Aheranca de Boas: a historia cultural 68 ‘© Malinowski e a arralise funcionalista 70 ura € personatidade” 7 2 As lighes da antropologia cultural 86, eo ser provisoriamente vistos como das uni Uma mesma colegio de ine la seja objetivamente tempo ¢ no espace, depende simulta nema, aacional, provine familiar, profissional, confessional rengas pant melhor se afirmar Esta constataclo deve levar adotar um procedimento “continuista’ que prt vilegie a dimensio racional interna € externa, istemas culturais em contato [Amselle, B nicrarquias sociais Hierarquias Cul EF on dado, uma heranga € uma constrigao que mais precisamente 2 grupos socials entre cultural, é entao necessitic Giohistérica que o produz como cle € [Balandier, 19551 © contato vem em primeito lugar, histori camente. Em seguida,hé 0 jogo de distinc produz as diferencas culturais. Cada coletividar suma situagiio dada, pede ter a canvencer) que seu modelo tence © carater da situagio 6 ati a-valorizar a aceatuar tal conjunto de di: ‘que mio ha hierarquia entre as culturis s or que as cukuras existem indepencen 133 te umas das outras, sem relagio umas com as ou- tras, que nao corresponde i realidade. Se todas as culturas merecem a mesma atencio € © m To interesse por parte do pesquisador, isto n4 leva A conchsio de que todas clas so social mente reconhecidas como de mesmo valor. Nao se pode passar assim de um principio metodo- 101s elas revelam conflitos; tipo de andlise, € ne pretacoes redutoras de- 5, COMO 2 qUC SUPE que O mais fomte esta real s6 existe se produ. ‘grupos que ocupam po- -ampo social, econdmico € a culturas dos diferentes grupos se en- ‘em maior ou menor posigio de forga 144 nifica, no entanto, voltar 4 afirmacio que todos ‘0s grupos sio iguais € que suas cukuras sio ‘equivalentes. Em um dado espaco social, existe sempre uma hierarquia cultural. Kafl Marx como Max “Weber nio se enganaram ao afirmar que a cultu- ra da classe dominante é sempre a cultura domi name. Ao dizer isto, eles niio pretencem eviden: temente afirmar que a cultura da classe domi- ante seria dotada de uma espécie de superiori- dade intrinseca ou mesmo de uma forga ce difw- silo que viria de sua propria “esstncia” e que per- mitiria que cla dominasse “naturalmente” as ou- 8 Para Marx assisn como para Weber, de diferentes cuituras em compe- tigio depende diretamente da forca social relat ya dos grupos cue as sustemtam. Falar de cultura “dominante’ou de. cultura “dominada” € entio recorrer a metéforas; na realidade o que existe io grupos sociais que esto em relagao de do- mminsgde ou de suboedinagao no pode desconsiderar a cuturs reciproca também é verdadeira, ainda que em um grau meno®), mas que pode re- apreender pela andlise da mesma mancira que 145 as relacées de dominagio social. Isto se di por ‘que as relagdes entre simbolos no funcionam segundo a mesma ldgica que as relagdes entre ‘grupos ¢ individuos. Pode-se observar freqiien- temente defasagens entre os efeitos Cou contra- efeitos) da dominagio cultural ¢ 08 efeitos da dominagio social. Uma cultura dominante nio pode se impor totalmente a uma cultura domi nada como uum grtipo pode fazé-1o em relacio a ‘um outro gripo mais fraco.A dominago cular ral nunca € (otal definitivamente garant por esta razio, ela deve sempre ser acompanha dda de urn trabalho para inculcar esta dominagio ectativas dos dominantes, pois softer a domi- nagio nao significa necessariamente aceitéta Como € recomendado pelos dois sociblo- 0s, © rigor metodol6gico impée 0 estudo do que as culcuras dominadas devem 20 fito de se- fem culturas de grupos dominados, e, conse: qitentemente, 20 fato de se construirem ¢ se re- construirem em uma situagio de dominacio; mas isto nio impede de estudi-tas em si mes. mas, isto é como sistemas que funciomam se- gundo wma certa coeténcia prépria, sem 0 que no faria mais sentido falar em cnltura As culuuras populares Evocar a questio das culturas des grupos dominantes é inevitavelmente evocar o debate 148 em torno da nogio de “cultura popular’, Na Franca, as ciéncias sociais intervicram relativa- mente tarde neste debate, He fot fi 0, isto & no século XIX, pelos anali literatura dos mascates. Em seguida, os folcloris- tas alargaram esta perspectiva ao s¢ interessa- xem pelas tradicbes camponesas.Apenas rece polissemia de cada um dos dois termos que a compée. Nem todos 05 autores que recorrem esta expressio dio a mesma definicio ao temo. “cultura” e/ou “popular”. © que torna o debate entre eles bastante dificil, Do ponto de vista das ciéncias sociais, duas teses unilatertis diametralmente opostas devem ser evitadas. primeira, que poderiames qualificar de minimalista, a0 reconhece nas culturas populares nenhuma dinamica, nenhi ma criatividade préprias.As culturas seria ape- nas derivades da cultura dominante que seria a 3 marginais. Seriam entio cépias de ma da cultura legitima da qual elas se dis jam somente por um processo de €mpo- brecimento. Elas seriam a expressio da aliens 147 ‘do social das classes populares, desprovidas de qualquer autonomia. Nesta perspectiva, as dife- rencas que opdem as culturas populares & culty ra de referéncia sio analisadas como faitas, de- ompreensies. Em outras pala- “verdadeim cultura” seria a cultura das clites sociais, ¢ as culturas populares sesiam apenas seus subprodutos inacabados. Em oposiéo a esta concep¢io miserabi- que no deveriam nada a cultura das classes do- minantes.A maioria deles afirmam que nenhu- ma hierarquia entre as culturas, popular ¢ “letra da” poderia ser estabelecida. Alguns nio se ees- tinge a is10 €, em uma derivagio idevlogica 50, estamos mais pro? ica da cultura popular do que de um es oso da realidade. A realidade € bem mais complexa do que € apresentado por estas tuas teses extremas. AS culturas populares revelam-se, na anilise, nem inteiramente dependentes, nem inteiramente autdnomas, nem pura imitagao, nem pura cri 148 ago. Por isso, elas apenas confirmam que toda cultura particular € uma reunido de elementos originais e de elementos importados, de inven- Ses proprias € de empréstimos. Como qual quer cultura, elas no sio homogéneas sem ser, por esta raza res sio, por definicio, culturas de grupos sociais subalternos. Els so construidas entio em uma situagto de dominacio. Certos sociologos, con téncia das classes populares a ral. Os dominados reagem & imposicio cultural pela ironia, pela provocacdo, pelo “mau gosto” ‘mostrado voluntariamente. O folclore, especial mente 0 folelore operirio ou ainda, para tomar ‘um exemplo mais preciso, o fotclore “de solda- do raso” no exército, fornece um grande niime- ro de ilustragies destes procedimentos de evi nesta dimensio “ecati- wmenor risco de cair na tese minimalista q qualquer criatividade auténoma dis culturas populares, Como € res saltado por Grignon ¢ Passeron, as calturas po- tio mobilizadas permanentersen- te em uma atitude de defesa militant cionam também “em repouso”. Nem 149 ridade popular se encontra na contestacio, Por outro lado, os valores € as préticas de uma atitu- de de resisténcia cultural nao bastem para criae uma autonomia cultural suficiente para que sur ja uma cultura original. Ao contritio, elas assur s integradoras, pois si0 pelo grupo dominante (aqui também o exemplo do folclore “de solda- do raso”é pertinent) Sem esquecer a situagio de dominagio, € talver mais correto considerar a culture papular como um conjunto de “maneiras de viver com esta dominacio, ou, mais ainda como um modo remética & dominacio. Desen- Gia, Michel de Certeau [1980] que se fabrica na cotidiano, nas atividades 20 ‘mesmo tempo banais ¢ renovadas a cada dia, Para cle, a ctiatividade popular no desupare- Para captita, é preciso captar a inteligéncia pritica da pessoas comuns, ptincipaimente no uso que elas fazem da producio de massa. Para uma produgio facionalizada, padronizada, ex- pansionista ¢ a0 mesmo tempo centralizada, cor responde uma outra producio chamada por (Certeau de consumo” Para cle, trata-se realmen- te de uma “produgio’, pois apesar de nao se ca racterizar por produtos préprios, ela se distin gue pelas “maneiras de viver comestes produ tos, isto é, pelas maneiras cle utilizar 0s produtos jimpostos pela ordem econdmica dominante. Reabilitando a atividade de consumo to- ntido mais amplo, Certeau def popular como sendo uma sumo, pois ela € caracteriae da pela astiicia e pela dandestinidade.Além dis- So, este “consume - produao cultural” € muito disperso, insinuando-se em toda a parte, mas de maneira discreta. Em outras palavras,o consumi- dor no poderia ser identificado ou qualificado a partir dos produtos que ele assimila. B preciso encontrar o“autor" sob o constmidor. entre ele (que usa os produtos) ¢ os produtos (indices da ordem cultural que s¢ impiem a cle), ha a defs- sagem do uso que ele da aos produtos. A pes quisa sobre as culturas populares se situa preci- samente nesta defzsagem. ‘Os usos devem ser analisados em si mes- mos, Eles sio auténticas “artes do fazer" que, se- gundo Certeau, dependendo do caso, tem pa- rentesco com o “faa vocé mesmo colagem,com a improvisagio, com & com priticas multiformes € binatérias, sempre anénimas, Por estas manciras de fazer, ‘0s consumidores io uma outra fungio 40s pro” dutos padronizados, diferente daquela que havia sido projetach para eles. 181 Michel de Certeau chega até a evocar uma analogia entre esta atividade de consumo dis- pliscence € a atividade de colheita nas socieda: des tradicionais. Consumidores € colhedores produzem pouco materialmente, mas io. mui to engenhosos para tirar proveito do meto que ‘os cerca, Esta engenhosidade € to criativa cul turalmente quanto 2 que resulta cm produtos especificos. Estes produtosmercadorias siio, de certa maneira, o repertério com o qual os con sumidores fazem operagies culturais que hes sio proprias. Tal anilise tem 0 mérito de mostrar que se uma cultura popular € obrigata a funcionar, a0 menos em parte, como cultura dominada, no sentido em que 0s individuos dominados de- i dominantes io impede Strauss [1962] a aplicacio da mm (colagem, construcio, conserto,atranjo feito com materiis divers0s) a0 fates culzurais. le usa a metifora da brico- su teoria do pensamen- to mitico, Segundo ele, a crlagio mitica depen- 152 ‘Gio tecnica, baseada ne comheciment co 0 universo instrumental de quem colagem ¢ fechado, 40 contrério do unl ‘obrigado a usar este repertorio em qualquer ‘que seja a circunstinci2, pois no possui mais nada & sua disposigio. © pensamento mitico aparece assim como uma espécie de bricola como a criatividade oitieca examina os arranjos 1m estoque limitadlos de s mais diversax origens ).A eriagio consiste ‘em uma nova disposigZo de elementos peeesta- belecides cuja natureza no pode ser modifica ificacio nasce desta disposigioy ccompésita final ‘A metifora da bricolagem obteve rapidamente tum grande sucesso c foi estendida a outras for mas de criacio cultural. Ha foi usida pars ca 153 rnctertzar 0 modo de criatividade proprio das culturis populares [Certeau, 1980] € das cultur ras imigradas (Schnapper, 1986), assim como dos novos cultos sinezéticos de terceira mundo ‘on das sociedades ocideniais. Roger Bastide tambem conteibuiu de maneira decisiva para a cextensio desta nocio. Em um artigo intitulade ~Meméria coletiva ¢ sociologia da bricolagem" 11970}, ele moserou que esta nogio da conta nlio someme de proces iturais acabados, mas também de transformacdes em curso. Lev Strauss, através dos mitos amerindios, estudou ‘uma matéria composta hi muito tempo"; Bastide, av examnar 08 casos das cultucas afto- americanas, observa a"bricolagem se fazendo" cacio nio vai ser reservada unicamente 208 mk tos. No caso de culturas negras das Américas,a._, bricolagem permite preencher as lacunas da meméria coletiva, profundamente perturbada pela escravidio © pela transferéacia de local, [Neste caso, bricolagem € eestauraciio: ela faz ‘uma espécie de“colagem”, de“remendo™.a par tir de mareriais recuperados que podem scr ‘emprestados de diferentes culturas, desde que se insiram funcionalmente no conjunto que ‘constitul a meméria coletiva, Esta insencio em ‘um ove conjunto leva necessarameate a dar ‘uma nova significagio a estes materiais de acor ‘Querer considerar todas as formas de sincretis- -va,no sentido dado por Lévist ‘tra senso. Um grande mtimtero de mani da cultura chamada de “pésmoderna” corres pondem mais a uma“colagem(briscollage), do que a uma verdadeira bricolagem, segundo Mary (Mary, 1994] No entanto, ests andlise no evidencia su ficientemente a ambivaléncia das culturas po- pulares que Grignon ¢ Passeron consideram como uma cara uma cultura cultura de aceitagio uma cultura de negacio, (© que feva uma mesma pratica a ser interpreta da como participando de suas l6gicas opostas. Para dar um exemplo, a atividade de bricolagem nas classes populares foi analisada por certos soci6logos como dependente da necessiiade, Iho, pois realizar 0 que cle nao tivesse condigdes de ad 155 quirir ou mesmo, em outras anilises, ete realiza- a por nilo saber fazer de seu tempo livre outra diferente de wm tempo de trabalho. Mas, € 0 dono da gestio de seu tempo, da organiza. io de sua atividade, da utilizagdo do produto fi. nal, Este segundo aspecto explica 0 sucesso da bricolagem como Inzer:a bricolagem reintroduz ‘um espace de attonomia em universo de obri- gages, Na realidade, a bricolagem (como a jar- dinagem ou a costura € 0 tricb, para as mulheres assalariadas) pode set feita de tédio, de trabalho forgado do prazer da iniciativa, da obrigagao € da liberdade, ‘Ao darmos demasiada atengio ao que as culturas populares devem ao fato de serem cul tras de grupos dominados, corremos o risco de minimizarmos de mancira excessiva sta relativa autonomia, Heterogéneas, estas culturas so em certos aspectos mais marcadas pela dependén- cia em relagio 4 cultura dominante €,a0 conte’- trio, em outros aspectos, mais independentes. E isto se dt porque os grupos populares nic esto sempre € em toda a parte confrontados ao gr po dominante. Nos lugares € nos romentos cm que cles se encontram “a 86s", 0 esquecimento da dominagio social € simbélica permite uma atividade de simbolizacio original. De fato, € 0 esquecimento da dominagio € nio a resisténcia a dominagio que torna possiveis as atividades 156 culturais auténomas para as classes populares. (Os lugares € 05 momentos subtraidos da con- frontagio desigual sio maltiplos ¢ variados: € a folga do domingo, a arrumagio da casa de acor do com o gosto do seu proprietario,sio os luga- res € os momentos de socializagao com seus pa- 05 ...),€t€. Grignon ¢ Passeron con: ue a apticio para a alteridade cultu is fortes, escapando assim a0 confros isolamento, mesmo quando cle representa mar- ginalizacio, pode ser fonte de autonomia (relat vva) e de criatividade cultural, A nogio de “cultura de massa” A nocio de ‘cultura de massa” obteve um grande sucesso na década de sessenta, Este su- cesso devense, em parte, & sua imprecise se- ‘mantica € 2 associacio paradoxal, do ponto de vista da teadigio humana, dos termos “cultura” € “massa”. Nao € surpreendente que esta noclo tenha sido utilizada para embasar analises de orientagio sensivelmente diferentes. Certos socidlogos, como Edgar Morin 11962} por exemplo, enfatizam o modo de pro- ducio desta cu da produgio industrial de massa. © desenvolvi- mento dos meios de comunicacio de massa acompanha 2 introducio cada vex mais determi- 187 nante dos critérios de rendimento ¢ de rentabilt- dade em tudo 0 que se refere 3 produclo cultu- ral. A“produgio” tende a suplantar a“criacio”. No entanto,a maioria dos autores dedicam ‘suas andlises essencialmente 4 questio do con- sumo da cultura produzida pelas mass media. Boa parte destas andlises pate ‘ha uma certa forma de nit ia da generalizacao dos meios de comuni de massa. Nesta perspectiva, supde-se que as mi- dias provoquem uma alienagio cultural, uma aniquilag3o de qualquer capacidade criativa do individuo, que, por sua vez, nao teria meios de escapar 3 influéncia da mensagem transmitida. Jo de massa € imprecisa, pois se- gundo as anilises, a palavra "massa"remete tan- to ao conjunto da populace como ao seu com- ponente popular. Evocanda sobretudo este se- gundo caso, certos pesquisadores chegaram até a denunciar o que eles consideram um “embru- tecimento"das muss ‘um duplo erro, Por a para as massas"e “cultura das massas". Nio € porque certa massa de individuos recebe a mes- ma mensagem que esta massa const junto homogéneo. f evidente qu tuniformizigio da mensagem mididtica mas, isto nio nos permite deduzir que haja unifermiza io da recepgio da mensagem. Por outro lado, € falso pensar que 0s meios populares seriam 158 mais vulneriveis mensagem da midia, Estudos sociolégicos mostraram que 2 penetragio da co- ‘eunicacio da midia é mais profinda nas classes médias do que nas classes populares. £ essencial que se considerem as condi- .gbes de recepcio. Richard Hoggart mostrou que a receptividade das classes populares & mens gem midiatica € muito seictiva, Ela depende do que chamames de “atengio obliqua", que vem de uma atirude geral de prucéncia ¢ até de cet cismo em relagao a tudo © que rio cmana do meio popular 20 quai se pertence:*£ preciso st ber pegar ¢ largar’,e sobretudo ndo confundir a divulgados, Eles tame segundo suas propriaslglcascultras assistida pelas mesmas razes em to igares, em todos Os meios sociais. Por ‘padronizado” que seja 0 produto de uma emissio, sua recepcio nio pode ser uniforme depende muito das particularidades culturals de 159 cada grupo, bem como da situagio que cida grupo vive no momento da recepeio. As culturas de classe © fraco valor heuristico da nogio de cule rade massa ca imprecisio das nogdes de culty sa dominante ¢ de cultura popular, as quais se acrescenta a evidéncia da relativa auonomia das culturas das classes subalt pesquisadores a rcconsiderar conceito de cultura (ou subcuttura) de classe, baseando-se, no mais nas deduces filoséticas, ‘como em uma certa tradicio marxista, mas em pesquisas empiricas. Numerosos estudos mostraram que 0s sis temas de valores, os modelos dle comportamen- to € os principios de educacio variam sensivel- mente de uma classe a outta, Estas diferencas culurais podem ser observadis até nas praticas tago diferentes. O abastecimento num mesmo supermercado, que pode dar a impressio de ‘uma homogeneizacio dos modos de consumo, dissimula escofhas diferenciadas. No campo da alimentacio, os habitos ligados as tradigGes dos diferentes meios sockais sio bastante estiveis.A principal razao disto nao sao as diferengas de po- der de compra.As priticas alimentares esto pro- fundamente ligadas aos gostas que varias pow 160 co, pois eles remetem a imagens inconscientes,a aprendizados © a lembrancas de infancia. AS el vagens sociais vio se inscrever até na escolha dos legumes € das carnes, das frutas e das sobre suesas”, como 0 cameiro € ypulares*como 0 porco, a 9s frescas (na Franca), Ha tam- bém uma hieranquia dos legumes frescos, indo. dos mais sofisticados (as endivias) aos mais cam- poneses (0s aipos) c aos mais operitios (as bata tas). O modo de prepara culinario € também re- volador dos gostos de classe. Comer € entio um modo de marcar sua vinculagio a uma classe $0- cial particular [Grignon, Cl. © Ch., 19801. Max Weber © meitos ensaios que relacionam s € as classes sociais. Em seu ido, A ética protestante e 0 esp! classe dos empresacios sio compreensiveis somente se levarmos em consideracdo a sua concepGio de mundo ¢ seu sistema de valores, Nio € por acaso que esta devido a uma série de las a0 nascimento do 161 © que Max Weber pretende estudar nesta obra nia é a origem do capitalismo, no sentido mais amplo do termo, mas 2 formagio da cultu- fl que ele chama de “espirito” - de uma nova classe de empresérios que criou,de certa mancé- ra, 0 capitalismo modemo: Conseqentemente, em una hist6ria tuniversal da civilizagio, o problema central - mesmo do ponto de vista puramente econémico + no sera, pars nés, em Gltima anilise, o desenvolvi ‘mento da atividade capitalista enquanto tal, atk vidade que (em uma forma diferente de acordo com as civilizagdes [..]; mas, 0 desenvotvimen- to de capitalism de empresa burgesés com sux organizacio racional do trabalho Livre. ou, pari nos exprimirmos em termos de historia das civillzacSes, nosso problema seri o do may -cimento da classe burgess ocidental com seus tragos distintivas ((1905) 1964, p.17 -18}, Mais do que a grande burguesia tradicio- nal, a classe que vai desempenhar um papel de- cisivo no progresso do capitalismo moderno, & a média burguesia., “classe em plea ascensto a qual se recrutavant principalmente os em- presicios" [fbfd.nota 1, p.67] no comego da era industrial, £ ela que se encontra em maior ade- quacio com o sistema de valores do capitalismo moderno € que vai contribuir mais eficazmente para sua difusto: 162 {ull no comege dos sempos modernos, 05 em mente is camidas i a58¢ que procuravam wna ascensio (1908) 1964,p.67) O que caracteriza esta classe média, segun- do os préprios termos de Max Weber, é um “es: tilo de vida", um *modo de vida", ou seja, van cultura particular, baseada em um novo ethos , que constitu uma cupt ‘os principios tradicionais, Este ethos € de- ido por Weber como um “ascetismo secular”. jsta impbca uma ética dt ‘uma valorizacio do tem um fim em si mesma. O trabatho nie € somente um meio pelo qual se obtém os recursos necessaries part viver. © trabalho di sentido & vida. Pelo traba Iho, a partir de agora livre” devido a introducio dio salario, o homem moderno se realiza en: quanto pessoa livre € responsivel. © trabalho torna-se um valor central do novo modo de vida. que supse que se dedique a ele o essencial da eneegia ¢ da tempo, isto no implica, no entanto, que o enriquecimento pes soal seja 0 objetivo procurado. O enriquecimen- to como fim em si mesmo niio € earacteristico ‘do capitalisma modemo. Ao contririo, busex-se ‘olucto (medido pela rentabilidade do capital in- 163 vestido) € a acumulagao do capital. Ito supde, da parte dos individuos, uma certa forma de"as- cese", de comedimento ¢ de discrecio, muito di- Ferentes da logica da prodigalidade e da ostenta- io do sentido tradicional da honra. Os indivi- sentido €= trito, agrupadas em um mesmo bairro, desenvok vendo uma soclabilidade intensa de vizishanga 167 ¢ reunindo toda a populacio em intervalos re- gulares nas fesias coletivas, O particularismo cultural operario, seja na linguagem, nas roupas, nas casas, etc. fomnou-se menos visivel sem, no entanto, ter desaparecido, A “privattz modos de vida operiria se acentuou, com um forte recuo para © espago familiar, No entanto, esta evohigio, estududa particularmente por Olivier Schwartz, no representa 0 declinio puro € simples dos espagos sociais em benefi- cio dos espacos privacdos, mas significa que os espacos privados fizem atualmente uma con corréncia muito is fortes aos espagos socials. Poe outro lado, © proprio espaco privado operi- fio € organizado segundo narmas especificas: a vida familiar Cotidiana € especialmente maccada por uma estrita divisio sexual dos papéis [Schwartz, 1990]. De uma maneira geral, observa Jean-Pierre Terrail, as evolugdes cultur rais que 2companhan a entrada dos operacios ‘a era da abundancia" sio a adogao de novas normas tomadas do exterior [Terrail, 1990} ccentes, Este atraso deve-se a cipalmente os fitores metod rio do mundo operirio, « burguesia produ init 168 mens representagdes de si mesma, te} ‘gBes literirias, cinematogrificas, jo No entanto, pretendendo conservar o dominio de sua prépria representagio, cla se defende cuidadosamente contea a curiosidade dos pes quisdores ¢ de suts andlises. Por outro lado, tuma das enracteristicas dos burgueses enquanto individuos, € 0 fato de nao se reconhecerem como tais, de cecusarem que 0s qualifiquem por mente uma Cultura que as pessoas reivindicam ¢ da qual se ongulltam. Dai a dificuldade de estud#a de ma- neira empirica Devemos a Beateix Le Wita uma clas pri meiras abordagens etnogréficas da cultura bur- 1isa principalmente so- rarticulares catslicos Sainte: se de Neuilly,e sobre as mutheres saidas destas instituigdes. Para analisaz a cultura bburguese, cla toma trés elementos fundamen tais-a atencio dada aos detalhes ¢,em particular ao detalhe vestimentar, estas “pequenas coisas” que mudam tudo e fazem a “distingio"; © con role de si mesmo, que vem do ascetismo © que ‘Max Weher considerava como uava propriedade essencial da burguesia capitalista; enfim, 1 ti talizacao das priticas da vida cotidians, entre as quais as boas maneiras mesa tomaram uma ‘grande importancia: A refeicio €, de fato, vivida conscientemente como um momento privilegiada de socialize 169 ‘cao em tore do qual se concentra e se trans: inka dos signos distintivos de geu- po famtliar bungués (Le Wita, 1988, p. 841. A estes trés clementos ela acrescenta um ‘outro, igualmente caracteristico: a manutengio €0 Uso Constante de uma meméria fas funda ¢ precisa. Outras pesquisas realizadas nos anos oitenta, completam © especificam este quadro da cultura burgucsa ¢ evidenciam a fungio pri- mordial da socializagio das instituig&es priva- das, freqiientemente as escolas catélicas, cujo modelo historico € 0 jiesuita, comple- mento muito eficaz da educagao familiar [Saint Martin, 1990; Faguer, 1991]. liar, pro- Bourdieu ¢ a nocdo de *habinis™ Nas suas anilises sobre as diferencas cule Jem. Os BMUpOS socials, sejam as so- usa raramente 0 conceito a de cultura. Em scus textos,a palavra um dos principais representantes da sociologia 170 da cultura (que adota a acepcio restrita do ter mo), porque se dedica 4 elucidagio dos meca rismos sociais que dio origem 3 criagio artisti- ca € dos que explicam 0s diferentes modos de consumo da cultura (no sentido restrito), segu do 03 grupos sociais. Para suas andlises, as prati- cas culturais estio estreitamente ligadas & estra- tificacao social ‘Bourdieu trata da cultura no sentido antro- polégico, recorrendo a um outro conceito, o “habitus, Ble ro foi propriamente seu criador (ver Héran [1987), mas 0 pesquisador que o ‘usou de maneira mais sistematica, Em sua obra © Sentido Pritico ele explica mais detalhads mente suit concepgio do “habitus”: {08 habitus) silo sistemas de dfsposigces duré- ve's © cransponivels, esteuturss estraturadas: predispostis 2 funcionar como estruturas es ‘runarantes, sto éa furnctonar como principios geradores e onganizadores de ede re Presentagies que podem ser objeti adaptadas a seu objetivo sem supe n mim consclentemente estes fins ¢ 0 As disposigdes tratadas aqui sio adquiridas a série de condicionamentos préprios @ de vida particulares.O habitus € 0 que caracteriza uma classe ow um grupo social em relagio aos outros que nio partiham das 71 mesmas condicies sociais. As diferentes posi- ges em um espago social dado correspondem estilos de vida que sto a expressio simbética das diferengas inscritas objetivamente nas con digdes de existéncia. Bourdieu afirma que o “habitus como a materializagio da meméria col reproduz para 0s sucessores a8 precursores” [1980a, nota 4, p. a0 grupo “perseverar em seu set” [1b4d.].O tus € profundamente interiorizado € nao impli- ca consciéneia dos individuos para ser eficar. Ele €"capaz de inventar meios novos de desem- penhar as antigas fungdes diante de situa-coes explica porque os membros 3€ agem freqiientemente de maneira semelhiante sem ter necessidade de cn ‘rar em acordo para isso. © habitus € entio 0 que permite aos indi viduos se orientarem em seu espaco social € adotarem priticas que esto de acordo com vinculagio social, Ele torna possivel para o indi- viduo a elaboragio de estratégias antecipadoras que sio guiadas por csquemas inconscientes, “esquemas de percepgio, de pensamento ¢ de ago" (tid. p. 91] que resultam do trabalho de eciucacio ¢ de socializagaa 20 qual o individuo ipadas € que tém tm “peso des- p90] em eclaio As experiéme cias posteriores, 172 tuem a‘hexis corporal’ (a palave atts € a tradugio do grego hexis) Est formam uma relagio com o corpo que dia crda grupo um estilo particular. Mas Bourdieu obser- ‘Ya que a hexis corporal € mmito mais que um ¢s- tilo proprio. Ela é uma concepcio de mundo so- cial “incorporada”, uma moral incorporada. Cada pessoa, por seus gestos e suas postucns,re- yela o habitus profundo que o habita,sem se dar conta ¢ scm que 05 outros tenham necessa riamente consciéneia disso Pela hexis corporal, as caracteristicas sociais Zo de certa forma “na- turalizadas":0 que parece € 0 que € vivide como “natural” depeade, na realidade de sum habitus. Esta *naturalizago" do social € um dos mecanis- ‘mos que garantem mais eficazmente a perenida- de do habitus, ‘A homogencidade dos habitus de grupo ou de classe, que garante a homogeneizacio dos gostos, € o que torna imediatamente inteligiveis € previsiveis as preferéncias ¢ as priticas,“con- sideradas como evidentes® [1980a, p. 97]. Reco- nhecer a homogeneidade dos habitus de classe do implica negagio da diversidade dos"estiios pessoais’. No entanto, estas variantes indi- viduals devem ser compreendidas, segundo Bourdieu, como ‘variantes estruturais” pels 173 quais se revelaa singularidade da posigao no in- terior da classe € da trajet6ria” ({6/d., p. 101] A nocio de “trajetéria social” permite que Bourdieu escape de uma concepgio fixista do habitus, Para ele, o habitus nao é um sistema ci gido de disposigdes que determinariam de ma- neira mecinica as representages € a8 agdes dos individuos ‘garantitia a repcoducio social pura ¢ simples.As condigdes sociais do momen- mobilidade social (ascensio ou queda de nivel social, ou ainda a estagnagio) acumnulada por vi- ‘nas geracdes ¢ interiorizada, deve ser levada em. conta para analisar as variagdes do habitus. 174 G cultura e Identidade Fdledtlas sociais, hd, no entanto, im ou. ‘ue € freqiientemente associado a ete jentidade” - cujo uso € cada vez mais fre- levando certos analistas a verem neste des, aids, em grande parte alheia ao desenvolve mento da pesquisa cientifica. ‘Atualmente, as grandes interrogayées so- bre a identidade remetem freqiientemente & questio da cultura. Ha 0 desejo de se ver € identidade para to is como crises de iden desenvolvimento dex no contexto do enfraquecimen- de Estadonagio, da extensio da integracio politica supraniacionat ¢ de certa for ma da globalizagio da economia, De maneira | mais precisa, a recente moda da identidade o prolongamento do fendmeno da exaltagio da diferenga que surgin nos anos setenta € que te vou tendéncias ideol6gicas muito diversas ¢ até opostas a fazer a apologia da sociedade multi cultural, por wim lado, ou, por outro lado, a exak

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