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INDIVIDUALISMO E INDIVIDUALIDADE COMPREENDER A CULTURA DOS PROFESSORES AHERESIA DO INDIVIDUALISMO No Ambito da lideranga educacional, da eficécia da escola, do desenvolvimento dos estabelecimentos de ensino (schoo! improvement) ¢ do desenvolvimento profissional dos docentes (staff development), a ideia de que as escolas deveriam ter uma miso, ‘ou um sentido de missio, tem cada ver maior aceitacdo'. As misses desfazem as incertezas do ensino que s4o indutoras de sentimentos de culpa, forjando crengas & ‘objectivos comuns no seio da comunidade docemte’. Através da construgdo de finali- dades comuns, bem como da partitha da expectativa de que estas podem ser atingidas, as misses também fortalecem o sentido de eficécia dos professores, ou seja, a8 suas crengas relativamente & possibilidade de melhorarem 0 sucesso de todos os seus alunos, independentemente dos seus antecedentes", As missdes geram motiv investem as coisas de sentido, representando muito, particularmente para aqueles que participaram no seu desenvolvimento. O desenvolvimento de um sentido de miso numa comunidade escolar gera lealdade, empenhamento e confianga ¢ constitui um poderoso estimulo para 0 aper- feigoamento. Contudo, embora as misses descnvolvam lealdade entre os crentes € confianga entre os empenhados, também criam heresia entre aqueles que questionam, discordam e duvidam. Quanto mais estreita ¢ fervorosa a missio, maior e mais ampla- mente difundida a heresia, Para o missionério, as heresias estdo para além dos muros da sabedoria e das fronteiras da crenga. Nio devem ser depreciadas nem descartadas. Considerar que uma iddeia herética € recusé-la, sem qualquer consulta ou conside- ragtio. A construgdo social da heresia é, neste sentido, uma forga ideol6gica poderosa que suprime a discussio apropriada das escolhas e alternativas, menosprezando pater- nalmente sua seriedade ou minando a credibilidade pessoal daqueles que as propdem. Neste sentido, os heréticos nio sao simplesmente diseordantes ou desagradaveis: so 184 PARTE I —A CULTURA também pessoalmente defeituosos. A fraqueza, a loucura ou & maldade so as imagens de marca do herético, as qualidades que 0 distinguem dos restantes individuos. 'Na sua extensa e intrigante discussiio da heresia enquanto fenémeno social, Szasz.defende que ela [se refere] a0 no se acreditar naquilo em que todas as outras pessoas ‘acreditam ou naquilo em que se deveria acreditar; ao proclamar-se a descrenga, quando a coisa certa a fazer seria manifestar crenga ou, pelo menos, permanecer silencioso*. ‘A heresia existiré, diz Szasz, «sempre que houver tenso entre o individuo € 0 grupos". Os individuos devem pensar por si proprios: ¢ isso que faz deles individuos Porém, 0 grupo quet que os seus membros fagam eco das suas crengas. Szasz.chama & {sto a estrutura permanente da heresia. "A heresia é uma companheira bem conhecida das crengas e doutrinas religiosas, sas também pode estar associada a ideais cientificos e tecnolégicos ou a sistemas de crengas politicas ¢ culturais. Proclamar que 0 parto da Virgem Maria nfo é uma ver- dade literal mas antes uma metiffora literalizada, € uma heresia, segundo a tradigi0 crista. Afirmar que o Ocidente fem muito a aprender com o Oriente (¢ néo apenas vice- “ versa), ou que 0 progresso nem sempre & bom, € uma heresia, no contexto das demo- ‘cracias ocidentais, Os sistemas educativos, bem como aqueles que trabalham neles (ou em nome deles), também possuem as suas heresias. Que as escolas poderiam ser mais bem ditigidas sem 0 cargo de director; que deveriam ser as principais respon- eis pelo desenvolvimento dos seus proprios curricula; que muitas eriangas com necessidades especiais tém mais a ganhar em ndo serem integradas em salas cle aulas hhormais; estas so heresias do pensamento educacional contemporiineo. Nos sistemas educativos actuais, tais heresias sio indiziveis. Proferi-las nao é simplesmente mani- festar discordancia: é ser-se malévolo ou fraco. As heresias estéo para além dos limites da razio. “Todas estas heresias so aquilo a que poderfamos chamar heresias substantivas, ‘ou heresias de conteido. Trata-se de heresias que questionam, que ameagam partes fespecificas de um sistema de crengas, de doutrinas particulares muito queridas pelos crentes. Mas, por detrés destas heresias, existem outras ainda mais profundas. Chamar- “Ihes-ei heresias genéricas, ou heresias de forma. As heresias genéricas desafiam 0 propésito central da pr6pria missdo e os principios que a fundamentam, No ambito do Uesenvolvimento das escolas, do desenvolvimento profissional dos professores © da tmudanga educativa, uma heresia genética e crucial € a do individualismo. As quali- dades ¢ caracteristicas que cabem na algada das etiquetas de «individualismo», «isola- mento» ou «privatismo» dos professores, so amplamente entendidas como ameagas ‘ou barreiras significativas ao desenvolvimento profissional, & implementacao da mudanga ou ao desenvolvimento de objectivos educativos compartilhados, CAPITULO 8 9 VIDUSLISMO E INDIVIDUALIDADE 185 Contudo, termos como «individualismo» e «colegialidade» so bastante vagos & imprecisos, estando abertos a uma diversidade de sentidos e interpretagdes. A respeito da colegialidade, por exemplo, Little observou que o termo & «conceptualmente amor- fo e ideologicamente sanguindrio»®, © mesmo pode ser dito do individualismo, Tais ermos nio so, em muitos sentidos, utilizados ¢ entendidos enquanto descrigdes pre- cisas de tipos de priticas, de politicas ou de aspiragdes. Pelo contritio, sio essencial- mente simbélicos, motivando a ret6rica, num discurso mitico de mudanga e de aper- Feigoamento. Neste contexto, a colaboragi ¢ a colegialidade transformaram-se em imagens poderosas de aspiragbes preferidas; 0 isolamento eo individualismo, em ima- gens igualmente poderosas de aversdo profissional. O individualismo, o isolamento © «privatismo» tornaram-se, portanto, preocupagdes e alvos-chave dos movimentos de reforma educativa, A sua erradicagto, tal como a erradicagio da heresia, passou a ter uma prioridade elevada Neste capitulo analisa-se 0 fenémeno do individuatismo enquanto heresia érica da mudanga educativa. Comega-se por fazer uma revisio critica da investi- gagio existente e de outra bibliogratia sobre 0 individualismo, o isolamento e 0 pri- vatismo dos docentes ¢ identifica-se aquetes que tm sido considerados os seus tragos cconstitutivos essenciais ¢ os seus padrdes de causalidade. Posteriormente, os resultados do estudo sobre 0 tempo de preparac’ Esta pesquisa qualitativa revela as explicagdes fornecicas pelos professores pata dar » slo contrapostos a esta base de conhecimento. conta das suas preferéncias pela utiizagdio individualista do tempo de preparacao, a guais fornecem pontos de contraste interessantes e surpreendentes relativamente & bi- bliografia existente. No set conjunto, a revisio critica desta bibliografia e os resulta dos do estuda do tempo de preparagio fomecem bases para uma reinterpretagio e recons-trugio do conceito de individualismo docente e das suas implicagées para a mudanga, de modos que si menos consistentemente negativos do que muitos autores e investigadores nos fizeram supor. AS CULTURAS DO ENSINO individualismo, 0 isolamento ¢ 0 sprivatismo> constituem uma forma particular daquilo a que se tem chamado a cultura do ensino, Mas existem no ensino outros tipos importantes de cultura que influenciam o trabalho dos professores. Em geral, estas viirias culturas fornecem um contexto no qual as estratégias especificas de ensino sio desenvelvidas, sustentadas ou preferidas, ao longo do tempo. Neste sentido, as culturas do eusino compreendem as crengas, valores, hibitos e formas assumidas de fazer as coisas em comunidades de professores que tiveram de lidar com exigéncias ¢ cons- trangimentos semelhantes ao longo de muitos anos". A cultura transmite aos seus novos: membros inexperientes as solugdes historicamente geradas colectivamente parti- Ihadas de uma comunidade, Constitui, portanto, um enguadramento para @ aprendiza-

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