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Arqueologia, Pré-Histétia ¢ Histéria André Prows’ E freqiiente as pessoas confundirem-se quando se trata de definir as relagoes entre dlisciplinas conexas como Arqueologia, Histéria, Pré-Histéria, Paleontologia, etc. A Paleontologia ¢ ‘© ramo da Biologia (estuda as formas de vida) que trata dos seres (vegetais, animais ou homens) extintos; preocupa-se, portanto, essencialmente com os corpos. A Histéria tem por objeto de estudo jacrOnica, abordando essencialmente as que possuem escrita. As t6ria, enquanto as culturas dos povos enquanto os historiadores estudam preferencialmente os textos, os pré-historiadores analisam os vvestigios materiais conseguidos através de métados especificos, os antropélogos, 0 discurso € as ‘imagens das pessoas vivas, conseguidos através de uma longa convivéncia, pela Arqueologia, a qual dispoe de um conjunto de mécod também desenvolver um corpo teérico préprio) que permite locali imateriais da presen e da atividade dos homens no sen quadro natural e artificial. Vemos, pois, que * Museu de Histéria Natural ~ Universidade Federal de Minas Gerais. Pre-Historia da Terra Bresilis 4 Arqueologia ¢ essencial para 0 pré-historiador que dela no pode prescindir ¢ pode também ser utilizada por outros pesquisadores da tea das chamadas ciéncias humanas: 0 historiador ¢ 0 antropélogo tém, através dela, acesso a informagées ndo mencionadas — ou deturpadas pelos textos. ‘Como exemplo podemos citar os quilombos do século XIX, até hé bem pouco cempo conhecidos exclusivamente através de documentos escritos que mencionam apenas a existéncia dos mesmos, 0s danos por eles causados & estrutura escravista e As expedicées punitivas; ou seja, s6 0 ponto de vista © 08 aspectos que interessavam aos adversér de trabalhos pioneiros, como os desen excavagies ¢ levantamentos realizados em quilombo: cotidiana dos quilombos ¢ péde-se conhecer a diversidade estrututal dessas povoagées. Mais recente ainda, a andlise realizada, a pedido de uma revista brasileira, do lixo alimentar de virios mi ‘em Brasilia constitui-se numa verdadeira operacéo arqueolégica que permite comparar de maneira objeriva a realidade da pritica alimentar das elites burocraticas ¢ polfticas & de outras catcgorias socioecondmicas. A Arqueologia, portanto, é praticada por pesquisadores que tanto podem atuat na Grea da PréHistéria quanto na da Histéria ou da Sociologia. Desta forma, os historiadores lidam com 0 discurso consciente deixado pelos autores dos esctitos e tém de descobrir as razies ocultas e os aspectos por eles deixados em por sua vers 0 arquedlogo tem de se preocupar menos com distorsdes voluntérias causadas pelos homens que estuda (quasc ninguém se preocupa com o préprio lixe, pois nao im ‘mas deve analisar o papel das Forgas naturais que selecionam os vestigios (a madeira preserva-se bem menos do que a pedra, por exemplo), enquanto 0 antropéloga modemo se interessa tanto pelo discurso consciente que os homens elaboram sobre sua propria cultura quanto pelos modelos inconscientes que regem a sociedade. Outrossim, por abordar a vida material e quotidiana, estudando freqiientemense socie- dades mais dependences dos ritmos naturais e dos seus quadros geogrificos (climas, estagses, disponibilidade dos recwrsos naturais) que a nossa, os arquedlogos preocupam-se em inserir as sociedades que investigam no seu contexto ambiental, dando grande importancia 2 interagéo entre a cultura ea natureza. Assim sendo, aproximam-se de certos antropélogos (nesta perspectiva, a Ar queologia pré-histérica ¢ considerada como um ramo da Antropologia na tradicao americana) Arqueologis, Pst-Histeris ¢ Histsria Andre Prows enquanto, até hd bem pouce tempo, os historiadores tendiam a esquecer-se dos aspectos materiais da vida quotidiana. Na atualidade, a diferenca entre historiadores, antropdlogos ¢ arqueélogos tende a diminuir se percebe que cada disciplina desenvolveu abordagens titeis para as outras, revertendo a cendéncia 4 ultta-especializagio desenvolvida durante o século XIX e a primeira metade do século XX; exemplos isto sio 0 sucesso da “historia das me consagraram a penettagio da Antropologia nos meios histéricos brasileiros nos ‘A Arqueologia, de qualquer forma, apresencou desde cdo uma vocagio interdis pois sua meta é a mesma das ciéncias humanas, ou seja, entender as adaptacées, 0 desenvolvimento, 1 Funcionamento ¢ as representagdes simbdlicas das sociedades. Precisa, entreranco, para tentar aleangar estes objetivos, langar mio de recursos deseavolvidos por ourras disciplinas, tanto nas dreas das ciéncias da tetra, quanto das ciéncias da vida e, até, das ciéncias ditas exatas. Desta forma, 0 arquedlogo, além da propria especialidade (capacidade de estudar os sitios e os vestigios da cultura material), deve trabalhar com numerosos especialistas de outras areas, tendo de dispor de conhe- cimentos gerais suficientes para dialogar com pesquisadores normalmente pouco acostumados a lidar com a problemédtica das ciéncias do homem. Quadta 1 — Respectivas tendéncias da Histéri, da Antropologia © da Arqueologia — Historia Antropologia| Arqueologia Vanusveis my Unidades de estudo cronologias, modos cultuea material definidas através de de produsio ch} Principais locals sgabinetefbiblioneca campo/gabinere camporlaboratério de escude 2 _arquivos i Relicio com a duragéo ‘diacronia —sineronia iacronia “Técnica de abordagent texto observagio diteta vestigios: materiais discusso verbal Percepgio da Fracalausente varidvel fone culeara/ambiente —— $$$ ee Pre-Historia da Terre Brosilis i A Arqueologia as ciéncias conexas Sem nos preocupar em esgotar o assunto, tentaremos apresentar uma amostra da variedade dos métodos e téenicas uilizados pela Arqueologia (muitos dos quais envolvem pesquisadores de freas conexas) através de alguns exemplos sugestivos da prética arqueolégica. Podemos dizer que esta & constituida por vérias facetas: preparagio documencal preliminar a0 trabalho de campo, identificagio de sitios (prospecgio, survey}, estudo dos sitios em campo (sondagens, escavagbes, registros diversos), andlise da documentagZo levantada (vestigios diversos documentos gréficos) em laboratérios de arqueologia, assim como analises complementares realizadas em laboratétios de outras areas; enfim, divulgagio (em congressos ou através de publicagoes para para aclequar suas buscas is condigoes topogrificas quem pretende estudar grupos de agricultores deve identificar as regides de solos férteis e irrigadoss deverd verificar os sinais de mudangas dos cursos de gua desde o passado, eventualmente visiveis nos mapas, gracas a interpretagées de cunho geomorfoldgico. Quem pretende estudar as populagdes mais antigas de um vale ou de uma regio rica em caledtio e em grutas deve evitar perder tempo em terrenos de formages mais recentes, que ‘no contém sitios antigos; desta forma, precisa conhecer as feigies caracteristicas ¢ a geologia da ‘Quem nao tem condigées de percorrer todo o tertitsrio a ser estudado precisa optar por uma técnica de amostragem adequada & sua problemética Na hora de procurar os sitios, o percurso a pé © a procura de informagdes entre os moradores locais continuam sendo méodos io pouco sofisticados quanto eficientes; no entanto, ! diversas outras técnicas estéo também disponiveis. Desde a Primeira Guerra Mundial, a prospeceio aérea tomou-se um precieso auxiliar para localizar certas formas de sitios (com fossos ow muros eenterrados, por exemplo). Esta técnica ¢ ainda pouco wt -mbora tenhamos verficado na década de 70, em Sio Paulo, sua validade para identificar sitios de habitagio tupi-guaranis, cujo solo, enriquecido pelo refugo orginico, evidenciava uma vegetasio com feigies distintas da dos Arqecologis, ProH Andre Prass arredores, Estruturas enterradas podem também ser derectadas desde a superficie por téenicas _gcofisicas, pois provocam microperturbages nos campos elétrico e gravitacional locais que podem ser registradas. Variagies de resistividade foram desta forma utilizadas por pesquisadores do Museu Goeldi para analisar os aterros de Marajé; a presenca de grandes urnas de cerimica enterradas também pode ser notada através das alteracdes gravitacionais que acarretam. Durante os trabalhos de escavagio, os arquedlogos utilizam, na medida do possivel, técnicas de “decapagem” que permitem separar entre si os diferentes niveis sedimentares de deposigio; estas, adaptadas dos métodos escratigréficos dos gedlogos, possbilitam distinguir os vestigios mais recentes dos mais antigos, Além deste método para separar vestigios de idades diversas (cronologia relativa), ‘05 arquedlogos contam com os fisicos para conseguir uma eronologia absoluta (idade calculada em nimero de anos, com certa margem de erro). O mais conhecido mede 2 atividade residual do radiocarbon (14C) nos restos orginicos de scrcs vivos, a qual decresce regularmente com o tempo (existem laboratérios especializados em Séo Paulo e Belo Horizonte), sendo particularmente utilizado para datar carves de fogueiras de até 40 mil anos (Fig. 1); mas existe outros métodos, como a medigéo da rermoluminescéncia residual de particulas de silica queimadas (nas cerdmicas arqueo- Tégicas e em alguns instrumentos de silex) ou as medigdes de urinio/tério utilizadas para datar ossos até perfodos muito recuados. Ouirossim, os arquedlogos mapeiam as ocorréncias para analisar em laboratério as relagbes centre os vestigios de uma mesma época, da mesma maneira que os policiais ¢ legistas reconstituem a cena de um crime a partir do registro cuidadoso dos no local do Os vestigios arqueolégicos (todos os testemunhos da presenga ¢ da atividade do homem, bem como do ambiente no qual esteve atuando} incluem restos ambientais ou corporais (geralmente, apenas esqucletais), sobras de instrumencos ou de alimentagio, indicios de atividades estéticas ou rituais, etc. * Os restos esqueletais sio confiados a bioantropslogos (no Brasil, quase rodos cariocas tas) © 2 quimicos que estudam as caracteristicas das populagées: determinam as “ragas” pré- atualmente vém sendo realizadas as queletos pré-histéricos (Belo Horizonte) de DNA mitocondri liam também a demografia das sexo, estudam as doengas ¢ os acidentes, as tarefas que exigiam esforco fisico intenso © as post hhabituais do corpo que deixaram marcas nos ossos; bioquimicos procuram identificar os par Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro) e descobrir quais cram os alimentos principais -, pot s como o milho ¢ a mandioca determinam a presenga de formas diferentes de carbono nos ossos. 1mentos fabricados pelo homem, o primeiro passo é a identificagZo das matérias-primas com as quais foram claborados: ai petrogrifica da rocha em que foi feito um —- Argueologia, Peé-Histaria e Hi Andre Prous objeto de pedra pode indicar o local de extracio (desta forma, pode-se verificar as relag6es de toca ou movimentos de populagio através da repartigio dos machados de silimanita ou de hematica em Minas Gerais); a andlise quimica por ativagio neutrénica dos minerais que cntram na composigdo das angilas utilizadas para fazer cerdmnica fornccem informagbes 5 pioncira, 4 alguns anos). A segui a quais os instrumentos foram produzidos; para tanto, praticam a experimentagio, passando a fabricar eles mesmos réplicas dos inscrumentos de pedra laseada ¢ pedta polida, de osso ou de ceramica, comparando os seus resultados com os artefatos arqueolégicos. Também existe em Belo Horizonte um laboratério que analisa os vestigios microseépicos deixados pelo uso nos gumes de peda, o que permite conhecer as matérias trabalhadas eo tipo de trabalho efetuado (Fig. 2, 3 ¢ 4). Para reconstituir o cima, a paisagem ¢ a vegetacio do passado, os arqueslogos contam com a ajuda dos geomorfélogos e dos palindlogos (estes ultimos estudam os microscépicos gros de pélen de utilizagio (Foto: Setor de Pre-Histsria Figura 4 ~ Experimentagio: preparando jum inserumento de madeira com uma raspadeira de lex. (Foro: Secor de Arqucologis/Marcia Coses) aa Teree Brasilis Ficus 3 ~ Abrigo de Santana do Riacho. Gume de um raspador de quartro. Marcas de iaagio pata raspar madeira (prains de abrasio picas, estrias indicando a directo do movimento © microestilhagament Fotografado com aumento x 100. (Foro Acqueologia!Mircio Alonso) Acqueologis. Pré-Historia ¢ Historia André Prous fossilizados que se conservam em certos sedimentos); desta forma e trabalhando em conjunco, arquedlogos, gedlogos ¢ bidlogos conseguem identificar e datar as mudancas ambientais ocorridas a0 longo dos milénios. A meta do arquedlogo consiste em propor um quadro da vida quotidiana das populagées dentro do seu relacionamento com © meio, interpretando as miiltiplas observagoes ¢ anilises realizadas dentro dos quadros teéricos que o momento histérico coloca 4 sua disposicao. Assim sendo, suas conclusdes nao sio nem mais nem menos definitivas do que as dos historiadores e reflerem nao a realidade do passado, mas a visio que dele podemos conseguir hoje. A arqucologia brasileira no contexto mundial Podemos considerar que a Arqueologia nasceu com as escavagoes de Pompéia, no século XVIIL. Nesta época, procuravam-se essencialmente objetos de arte para colegGes ¢ museus; aos “poucos, os pesquisadores passaram a procurar até o li No século XIX, os navuralistas interessavam-se indiscriminadamente pela Geologia, pela Zoologia, pela Botinica... ¢ pelos indigenas, considerados como fésscis vivos do ponto de vista cultural; com cfeito, antes que o conceito cvolucionista se firmasse cm biologia, tinha sido introduzido pelos estudiosos das culturas, passando-se a denominar os povos nio-curopeus de “primitivos”, conceito inexistente até o final do século XVIII. Desta forma, o naturalista dinamarqués P. Lund, crabalhando em Lagoa Santa por volta de 1840, nocou que oss0s humanos encontravam- se misturados com oss0s de animais extintos (considerados entio “antediluvianos’), sendo o primeiro a postular a grande ancestralidade do homem americano. No final do século XIX, com o incentivo de D. Pedro Il, reuniram-se as primeiras colegdes arqueoldgicas (ceramicas amazdnicas, objetos de ppedra dos sambaquis) e realizaram-se os primeiros trabalhos de escavagbes (K. von den Steinen em Santa Catarina e Ft. Krone em So Paulo). Nesses cempos de colonialismo e racismo, os estudiosos, ccertos da inferioridade dos indigenas brasileiros, procuravam explicar as realizagGes artisticas achadas nos sitios por supostas migragdes de povos da antigitidade mediterranica (daf as histérias sobre a vinda dos fenicios 20 Brasil), Praticada sobretudo no ambito dos museus (Museu Paulista, Museu ae Pre-Historis da Terre Bresilis Goeldi, Museu Nacional), @ arqucologia pré-histérica parecia cer como tatefa essencial aplicar as idéias européias e confirmar a inferioridade tecnol habitances do Pais; no encanto, vale destacar © cardter pioneiro de certas andlises ambientais feitas por R. Krone © das expetimentagdes praticadas por H. von Ihering. A primeira metade do século XX foi pobre em trabalhos arqueolégicos, pois os ‘universitérios estavam mais interessados em estudar as populagdes negras (um componente numeroso na formagio da nova populagio brasileira) do que os ancestrais dos indios. ‘Também, ninguém acreditava que os indios tivessem penetrado nas Américas sendo poucos milénios antes da chegada dos curopeus. No inicio da segunda metade do século, pesquisadores estrangeiros vieram testar no Brasil tcorias elaboradas por pesquisadores curopeus ¢ norte-americanos; anos mais tarde, estes pesquisadores orientaram a primeira geragao de arquedlogos profissionais brasil Em 1949/1950, B. Meggers e C. Evans realizaram os primeiros ttabalhos sisteméticos no Paré, procurando caracterizar as culturas da Floresta Amar6nica. Segundo as idéias do seu mestre, J. Steward, 0 ambiente amazénico nao permitiria 0 desenvolvimento de civilizagGes elaboradas; desta forma, a brilhante cultura Marajoara foi interpretada como conseqiiéncia de uma migragio de populagdes de origem andina. Em 1954-1956, J. Emperaire ¢ A. Laming estudaram os sambaquis do Parand ¢ de Séo Paulo, com a ideia de verificar as hipéteses do seu orientador, P. Rivet, sobre a possibilidade de migragoes para a América do Sul a partir da Austrélia; introduziram as técnicas de escavagio com estratigrafia natural e conseguiram as primeitas radiodarag6es para o Brasil. Durante varios decénios, as publicages dos Evans e dos Emperaire foram as principais referéncias para a arqueolog cordinea Também cng 1954-1955 uma missio brasileiro-americana chefiada por W. Hure rornava, sem sucesso, a procurar provas da associagao da fauna extinta com © homem em Lagoa Santa. ‘A década de 60 marca o inicio da fase moderna da arqucologia brasileira, ao mesmo tempo que P. Duarte, ctiador do Instituco de Pré-Histéria da Universidade de Sa0 Paulo, Castro Faria, do 4 Arqueologis, Pré-Historis « Histésis — Aadré Prous Museu Nacional do Rio de Janeiro, e Loureiro Fernandes, criador do Centro de Pesquisa Arqueolégica da Universidade Federal do Parand, conseguiam uma lei federal de procegéo aos sitios pré-histéricos (em 1961) e procuravam formar arquedlogos brasileiros ¢ introduzir a Arqueologia nas instituig6es universicirias. A Universidade Federal do Parana teve papel relevante neste processo, promovendo cursos de formacio: escavagio ¢ anilise de mat ico sob a diregéo de A. Laming- Emperaire; prospecgao ¢ andlise de material cerimico com B. Meggers ¢ C. Evans, Em Santa Catarina, W. Hurt também treinou uma equipe local em escavagao de sambaquis. Coordenado pelos Evans, foi montado um ambicioso programa que reunia 11 arquedlogos de oito estados: o PRONAPA (1965/1970), destinado a fornecer uma primeira visto sintética da Pré- Histéria dos extados costiros brasileitos parc de uma pesquisa invegrada gragas & uslizagto de uma metodologia tinica e de uma mesma perspectiva tedrica. Os “pronapistas”, como foram chamados, conrinuaram aplicindo a mesma metodologia apés 0 fim do programa; vitios deles saram de um projeto semelhante para a Bacia Amazénica (0 PRONAPABA) e seu modelo foi seguido por outros pesquisadores ao longo das décadas de 70 ¢ de 80. Estudando sobretudo as culturas dos povos ceramistas (os mais recentes e considerados horticulcores cribais em oposicio 2s populacdes sem cerimica, supostamente formadas por “bandos” de cagadores-coletores, na nomenclatura neo-evolucionista americana) através de prospecgdes intensas (mais de 1.500 sitios ‘eadastrados em cinco anos) ¢ sondagens répidas para caracterizar a evolucéo da ceramica nos lacais ‘estados, criaram um quadro de tradigdes arqueolégicas que ainda nao foi substituido, apesar das suas insuficiéncias. Paralelamente, outros pesquisadores ~ principalmente da Universidade de S40 Paulo ¢ do Museu Nacional — preferiam trabalhar numa perspectiva paleoctnografica que detalhado de sitios-tipo ¢ dos vestigios ncles contidos, sob uma visio mais préxima da tradigio ‘européia ilustrada na década de 60 por A. Leroi-Gouthan. Esta linha foi representada no Brasil pelos alunos de A. Lamimg-Emperaire, que, em 1971, iniciou um programa de pesquisa na regiao de Lagoa Santa, para estudar as mudangas ambientais no Brasil central desde o Pleistoceno (periodo geolégico anterior a 10 mil anos) e as adapragdes do homem a estes eventos € treinou nas longas escavagdes _ de Lagoa Santa um grande nimero de pesquisadores até stua morte acidental, em 1977. Foi também a9 Pré-Historia da Terre Brosilis ‘A, Laming-Emperaire que trouxe para 0 Brasil o autor deste texto, que iniciou o ensino regular da Pré-Histéria na Universidade de Sio Paulo, em 1971. Durante @ década de 70 e parte da década de 80, a maioria dos arquedlogos nacionais foi se enquadrando num dos dois “clas” principais, chamados no Brasil de “escola francesa” ¢ de “escola americana’, com objetivos, métodos ¢ habilidades diversos. Poucos pesquisadores, percebendo que ambas as escolas eram em parte complementares, tentaram escapar a essa dicotomia; polarizou-se entéo de maneira negativa 0 panorama arqueolégico do Pais, 0 que dificultou a reflexdo critica atrasou a penetragio de outras vendéncias inovadoras, como a da chamada “arqueologia processual” ou “New Archaeology”, triunfante no mundo anglo-saxénico na década de 70, que pretendia, « partic de um rigor maior na definigéo dos objetivos dos métodos, levar a Arqueologia & condicio de uma ciéncia preditiva, capaz. de enunciar leis sobre © comportamento humano € restar rigorosamente as hipéteses ¢ modelos propostos pelos pesquisadores. Esta “nova arqueologia” comegou a influenciar a jovem geragio da década de 80, no mesmo momento em que suas pretenses exageradas ¢ seu sectatismo estavam sendo criticados no exterior. Hoje em dia, verifica-se a existéncia de abordagens mais ecléticas (“p6s-processualismo”) que permitem aproveitar 0s pontos positivos de codas as tendéncias anteriores valorizam as perspectivas historicas © as particularizagses, desprezadas pela New Archaeology em beneficio da busca de leis permanentes. Ao mesmo tempo, a criagio na década de 70 de um curso particular de bacharelado em Arqueologia no Rio de Janeiro (¢ de cursos de pés- graduagdo em vérias universidades do Pais, na década de 80) facilirava a formagio de centenas de profissionais; sew campo de trabalho dirigiu-se cada ver mais para a arqueologia de contrato (pesquisas “preventivas” financiadas por empresas privadas em regides descinadas a serem desfiguradas por grandes obras) em oposicdo as pesquisas bsicas desenvolvidas tradicionalmente pelas universidades. As restrigdes de créditos governamentais acabaram criando uma competi¢ao entre as ices puiblicas ¢ entre’estas ¢ os grupos particulares, enquanco a disputa por espago € as novas perspectivas abertas pag um ensino mais estrucurado e diversificado provocaram o surgimento de uma geracio inquieta e critica ¢ um verdadeiro confronto entre geracies, Em 1980, uma primeira tentativa de aproximar os arquedlogos entre si foi a criagio da Sociedade de Arqucologia Brasileira (SAB), que’promove reunides cientificas a cada dois anos, cujas 30 Arqueologis, Pre-Histaris ¢ Histaria André Prous Aras fornecem uma radiografia atvalizada das discusses ¢ das pesquisas em curso, Em 1995, criou- se 0 Férum de Arqucologia, com o objetivo de promover debates metodolégi a arqueologia brasileira, jé reconhecida no exteri smo tempo que procura no se isolar desse m numerasos sio os pesquisadores americanos e franceses que trabalham com equipes brasileiras mas, agora, menos como mestres do que como parceitos, num clima de cooperagio para beneficios muicuos. - Referencias bibliograficas Arqueologia em geral e téenicas FUNARi, Pedro Paulo de Abreu. 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