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TEXTOS Algumas Consideragoes sobre as entrevistas preliminares, demanda e inicio de andalises Femando Rocha O proceso analitico ndo se resume apenas a andlise mas 3 totalidade do tempo duramente o qual a atividade psiquica de um sujeito realiza a experiéncia psicanalitica clente# 0 deseo de ar forge motiuadora da erapia & 0 sfrimento do trad qe dese orga real) nso que nio se tem dado a importincia Jdevida ao estudo das questes que so sus- citadas pelo que acontece durante o tempo que precede as sessdes dle andlise propria- mente ditas. As entrevistas preliminares que deveriam const tuir um objeto de interesse para uma teflexto pro- priamente psicanalitica se passam, com freqlén- cia, como se bastasse 20 paciente aceitar as condigées materiais do tratamento analitico (prin- cipalmente o prego e 0 ntimero de sessdes), para estar em anilise; como se houvesse a crenca de que um conjunto de regras fosse um infalivel instrumento capaz de produzir com qualquer paciente e qualquer analista o surgimento de um proceso reconhecidamente psicanalitico.® ‘Tomar como base, objetivamente, a sintoma- tologia ndo nos ajudara na aval ‘ou fracasso da experiéncia analitica. Submeter-se a0 protocolo analitico ¢ pagar os honorarios nao bastam como condigao de anilise. Também nao se pode dar inicio a uma andlise quando alguém nos procura simplesmente para atender ao pedido de outrem, seja este o marido, a esposa, 0 chefe, 0 médico, a amante, seja a instituicao, Nesse caso, seria a demanda por mandato, com que 0 sujeito procura anilise tendo © outto como suporte. Quando nao ha possibili- dade de desligar-se desse mandato, a andlise transforma-se num proceso vazio, como pode- mos observar, por exemplo, em anilises fracas- * Taal apresertade no Departamento de Pecaratse oo tito Sedes Sanertine co So Pauio er ona de 1880, “Feenando Rocka ~ Pelcanalsla Fe eo nero TEXTOS sadas com adolescentes que no conseguem desligar-se do mandato paterno. Se a aceitag3o ou recusa de um paciente para anilise nao depende do diagnéstico psico- patolégico, qual seria entao o critério? No inicio, Freud via na anali- sabilidade sintomsitica as possi bilidades de proceso analitico, > considerando que o paciente pode ter uma estrutura patol6gica que justifique o tratamento, sem ter uma demanda legitima de andlise. Referindo-se ao “Caso Dora’, cle escreveu: *... Foi somente a autoridade do pai que a induziu a procurar-me*. Todavia, mais tarde, Freud com preendeu que o trata- mento de Dora fracas- sot pelo fato de ela ter vindo a andlise por imposigio familiar € por nao reconhecer em si mesma um conflito, nao se colocando nenhuma questao sobre um sin- toma que Ihe causasse sofrimento. Depois, para Freud, a demanda de andlise passa a depen- der da responsabilidade dividual do paciente, que busca, por conta de seus conflitos, dos seus sin- tomas, dos seus sofrimentos, um projeto consciente de mudanga. No final do seu texto “Sobre 0 Inicio do Tratamento”, Freud afasta-se do modelo médico da andlise passa a situar a demanda na subjetivi dade desejante do analisando, na sua iniciativa de procura: “A forca motivadora da terapia € 0 sofrimento do paciente e 0 desejo de ser curado que deste se origina’, Ele passa a consi- derar a iniciativa do analisando, sua autonomia em relacao aos familiares ou a qualquer pes- soa, como necessiria a eficaicia terapéutica. Afirma que a possibilidade de tratamento analitico ocorre quando o sujeito “€ 0 seu proprio senhor € esti no momento sofrendo de um conflito interno que é inca- paz de resolver sozinho; leva 0 seu problema ao analista e lhe pede ajuda”. O sujeito procura entao um interlocutor em resposta a este enigma, que pode ser, neste caso, 0 analista Nesta procura, imagina que 0 analista sabe sobre este clesco- nhecido (transferéncia). E uma Ei suma, faz-se essencial a todo candidato a andlise, independentemente de quem 0 incitou a empreendé-la, que deseje fazé-la por si proprio € apresente 9 reconhecimento de um sofrimento. suposicao necessaria, pois a ignorincia e a crenca do ana lisando tornam-se motor do processo analitico”. Ao aconselhar © analista a recomecar, com cada novo paciente, como se fosse 0 primeiro,. Freud formula o desvanecimento do saber ja constituido, necessario para que comece de modo auténtico a experiéncia analitica, Mostra assim que © psicanalista nao se deve deixar enganar por esse efeito de sujeito suposto-saber intrinseco a experiéncia analiti- 16 ca, Podemos dizer que a procu- 1a de anilise € movida por algo que abre uma via de contato do sujeito com o seu inconsciente Em suma, faz-se essencial a todo candidato a andlise, inde- pendentemente de quem 0 inci- tou a empreendé-la, que deseje fazé-la por si proprio e apre- sente 0 reconhecimento de um softimento. O desejo de aceder a significacdo inconsciente do sintoma incompreensivel impli- ca a aceitagao de que a causa desse sintoma habita o fundo de si mesmo. Essa concepeio indica que o futuro analisando aceita implicitamente 0 con- ceito de um eu incon- sciente. Dentre aqueles que buscam anilise movidos pelo sofrimento, alguns se apresentam como incapazes de utilizar a situacao analitica, que ida por eles como insuportavel. Geralmen- te, nesses casos, trata-se de pacientes que nao podem aceitar sua parte de responsabilidade na criagao de seus sintomas ou sao aterrorizados pelos riscos de mudanca psiquica, mudanga que a0 mesmo tempo procu- ram, Em muitos casos, isso ocorre porque os sintomas sto para cles técnicas de sobre- vivéncia psiquica, sendo assim compreensivel que travem uma luta feroz para nao abandonar sua boia de salvacao. Nesses casos, cabe ao analista decidir sobre a forma de abordagem mais adequada: psicoterapia, terapia de grupo, tratamento psiquikitrico, ete Entretanto, antes de fazer a indicacao, o analista deverd interrogar-se a respeito de qual poderia ser a sua parte, a sua implicacao naquela tomada de decisao, AS ENTREVISTAS COM MADAME X OU “A CRIANGA PRESENTE” A experiéncia clinica que sucintamente passarei a relatar passou-se ha alguns anos, em Paris, Penso que podera exempli- ficar a passagem de um pedido de ajuda a uma demanda de andlise, ‘Tudo comeca com um tele- fonema que recebi, certo dit de uma Senhora de 76 anos, solicitando-me uma entrevista para uma crianca de cinco anos que apresentava dificu dades escolares da ordem da inibicao do aprendizado. Nao vou poder entrar aqui nos detalhes, que certamente sfo de grande importin- cia para a compreensio deste caso. Ao cabo de algumas — entrevistas, decidi encaminhar a cri- anga para um. colega € acompanhar Madame X em entrevistas. No final de cada encontro, per- guntava-lhe quando desejava voltar. Assim, espontaneamente, ela passou a vir no ritmo de duas vezes por semana. Resolvi dar continuidade as entrevistas, porque havia com- preendido que através da cri- anga Madame X fazia um pedi- do de socorro de ajuda para si propria. Muito inquieta e deprimids ela fazia-me escutar, nas entre- linhas de seu discurso, algo como: “Estou com muito medo de morrer, ajude-me a morrer dem”. Em uma dessas entrevis- tas, ela deixa comigo o livro de Elisabeth Kubler Ross Sobre a Morte e 0 Morrer, que trata da ajuda as pessoas que estio a more. No inicio dessas entrevistas, ela parecia nao acreditar no meu verdadeiro interesse em escuti-la. Naquela época, a minha pouca experiéncia psi canalitica s6 fazia acentuar 0 preconceito, de que com pes- soas idosas nao se faz psi- candlise. Sua aparéncia frégil e idade avangada eram uma tentagao para me sentir movido a querer ajudé-la no real, sugerir, acon- eet eee hel seu desaparecimento das entrevistas era um abandono que ela me infligia ¢ se infligia, e se tratava da expressao trans- ferencial do abandono que ela havia sofrido quando tinha um ano de vida. selhar, proteger, ete. Mas optei por uma atitude acolhedora, conservando uma postura é escuta analiticas Comecei a perceber, a partir de um determinado momento, que alguns relates de aconteci- mentos de seu passado eram trazidos para encobrir algo que nao fora vivido, geralmente alguma coisa ligada a sexuali- dade, que se assemelhava a “lembrangas encobridoras Logo depois de haver inicia- do a falar sobre as suas origens, inffincia e problemética famili 7 Madame X deixa de vir as entrevistas. Passados alguns dias fico sabendo, através da pessoa que havia feito a indi- cacio, que ela nao estava bem, que “estava se abandonando’, que havia sofrido varias quedas nas quais tinha quebrado 0 braco por mais de uma vez. Decidi telefonarthe e convidé- laa voltar as nossas entrevistas, No seu tetorno, compreendi que 0 seu desaparecimento cas entrevistas era um abandono que ela me infligia e se infligia, € se tratava da expressio trans- ferencial do abandono que ela havia sofrido quando tinha um ano de vida. Tratava-se ento de uma repeti¢io em que 0 ato tem lugar de lembranca. Em um tempo crono- légico, se tratava da repeticao de um aban- dono ocorriddo ha se- tenta e cinco anos. Mas, para © inconsciente que a nada renuncia, tratava- se de um abandono atual, Madame X conta me, emocionada, que fora presenteada por sua mae a uma amiga (madrinha da. paciente) quando tinha um ano de idade. Explica que vivera toda a sua vida em companhia dessa madrinha, que era solteira e morava na mesma nia que seus pais. Mais tarde me diz que sua mie, quando era solteira, tivera um caso amoroso com essa madrin- ha, € imagina que teria sido dada como presente’a ela para compensar 0 fato de a mie ter se casado. Apés a interpretagio da repeticao do abandono, surge nessa velha senhora um sur- preendente interesse e curios dade pelo seu inconsciente: comega a colocar questoes a TEXTOS respeito dos seus sintomas, levando-me a tomar em consi- deragao a sua demanda de andlise Nessa hist6ria a palavra “pre- sente” se apresenta como signi- ficante importante € decisivo na entrada da paciente na transfe- réncia analitica: “presente” no sentido de estar presente € “presente” no sentido de dom. Certo dia, chega para uma sesso trazendo-me um pre- sente muito valioso. Digo-lhe que para 0 nosso trabalho analitico seria melhor eu. nao recebé-lo, mas seria importante tentarmos compreender por que ela teria sentido a necessidade de pre- sentear-me naquele momento. Madame X parece compreender © associativamente lembra sua primeira entrevista ‘comigo, na qual fizera 0 seu pedido de ajuda através da crianca Lembro-me de ter-lhe dito algo como: “— A crianga presente, se fazendo presente... dar um presente...” Ela responde: “— Eu dada como presente a minha madrinha’. B passa a explicar-me que aquele menino que trouxera para a entrevista era 0 neto de uma amiga com a qual man- tivera durante anos uma ligaclo homosexual A experiéncia psicanalitica com Madame X teve efeitos te- rapéuticos evidentes: comecou como pedido de ajuda, transfor- mando-se depois em demanda de anilise. Ela parece ter pro- porcionado a Madame X a adogio de sua propria hist6ria, © que repercutiy muito favora- velmente no seu aparelho psiquico, ajudando-a a sair de uma situacao em que reinava tum temor avassalador da morte para a retomada de um certo prazer de viver. "Se © gozo se- xual ¢ chamado de pequena morte, 0 prazer de lembrar € aquele de uma atemporalidade sindnimo da eternidade”.® © TEMPO ANTES. DO ENCONTRO Segundo Piera Aulagnies", se chamamos de proceso nao somente a andlise propriamente dita, mas a totalidade do tempo durante © qual a atividade psiquica de um sujeito realiza a N ‘© modelo médico-paciente, a hipotese fundamental implica apenas a’ crenca no saber diagnstico e na eficacia terapéutica. Na andlise, o paciente possui um saber que Ihe € subtraidoe ¢ supde um saber ao analista. experiéncia psicanalitica, pode- remos dividi-la em quatro tem- pos: a) 0 tempo antes do encontro; b) as entrevistas preliminares ou prélogo; c) a anilise: d) 0 p6s-encontro ou tempo aps a anilisi ,Aulagnier vai chamar o tempo antes do encontro’ aquele durante 0 qual ama- durece no sujeito a idéia que o conduzira a0 analista © sofrimento € suficiente para o surgimento de uma demanda de ajuda, que podera levar 0 sujeito a0 amigo, ao 18 médico, a0 padre, ao pai-de- santo ou ao analista. Mas, para que haja possibilidade de andlise, faz-se necessario a adesio a hipétese fundamental da existéncia do inconsciente. Apesar da confusao que possa fazer 0 eventual analisan- do do termo inconsciente, ape- sar das diferencas que possam existir entre ele € 0 analista sobre esse conceito, a comum, adesio ao reconhecimento da existéncia do inconsciente ter’ um impacto € conseqiiéncias no decorrer do proceso. Esse reconhecimento € a viga mestra que permitiri 2 transfe - réncia no cair na pura dependéncia afetiva sera importante para autorizar 0 analisando a reconhecer © assumir a autonomia de sua de- manda. Aulagnier Iembra que analisar a - relacdo analitica privilegiando os fendmenos transfe- renciais € mais que ju tifiedvel. Mas, para isso, preciso nao nos esquecermos de que nao existiria andlise, se © seu primeiro efeito nao fosse 0 de consoli- dar 0 investimento que se apoiar sobre formas de pensamento, tais como a rememoracao, 2 associacao, 0 relato do sonho, a verbalizagao da fantasia. Uma das prova disso, diz ela, € 0 desinvesti- mento dessa forma de fun- Gionamento que ocorre nos fins de anilise, quando observamos © paciente dizer: “Nao tenho mais nada o que dizer aqui’ No modelo médico-paciente, a hipotese fundamental implica apenas a crenca no saber diag- nOstico © na eficdcia terapéuti- ca. Na aniilise, 0 paciente pos- sui um saber que the € subtra do e supe um saber ao an; lista Freud indicou que o analista deve aprender a "se servir do seu inconsciente como de um instrumento”. Mas decodificar 0 que diz 0 paciente s6 € possivel quando 0 analista no opde a isso uma resistencia, Todo recalcamento nao liquidado no analista produz um ponto cego em sua faculdade de percepeao analitica. Sabemos que, por me- ihor analisado que seja 0 ana- lista, ele ira sempre apresentar resist@ncia € pontos cegos em relagio a determinados aspec~ tos de sua escuta. Desa forma, além da possibilidade de existirem — pacientes inanalisiveis para aquele analista em particular, também, cada paciente, de alguma maneira, ira colocar questdes em relagdo ao inconsciente do analista. Assim, a resisténcia deve ser en- tendida em primeiro lu- gar do lado do analista.A situacao das primeiras entrevistas € delicada: a0 mesmo tempo em que o analista escuta com 0 seu “instrumento”, de- verd fazer a indicagao € decidir se deseja ou nao empreender com aquele paciente singular a viagem analitica. ‘As razOes de indicagio de lise estio ligadas diretamente aos critérios do analisavel proprios do analista e esto Jonge de ser undnimes. A prova exemplar disso nos é dada pelas opgdes dos analistas diante da psicose ¢ da perversio. A analisabilidade, como vemos, é uma condicao ne- cessiria, mas ndo suficiente para o engajamento proprio do analista naquela andlise em par- ticular; ou seja, a indica podera nao implicar 0 seu préprio engajamento numa andlise com aquele paciente determinado. Assim, aos critérios de analisabilidade que © analista deve justificar em nome de suas opcdes tebricas, se acrescenta um fator pessoal que parece escapar a qualquer codificacao. Concebendo a anilise como um trabalho € uma atividade que se desenvolve em comum, a escuta analitica s6 ser possi- vel se for no analista fonte de um interesse (*) por aquele dis- curso em particular, daquele determinado sujeito € daquela iw prologo € 0 tempo durante o qual 6 analista nao tem simplesmente que interrogar uma demanda, mas, além disso, se interrogar a respeito das motivacées de sua resposta aquela demanda, anilise. Esse é um problema que, segundo Aulagnier, se pre- fere pudicamente esconder.” Ser analista nao é suficiente para que todo discurso, porque testemunho de uma neurose ou de uma psicose, interesse. Faz- se necessirio insistir sobre 0 papel essencial desse interes que s6 podera ser eficaz se ele nao se reduzir a um faz-de conta. Nesse tiltimo caso, diz Aulagnier, sabemos a que preco 0 discurso podera continuar, como, por exemplo, a atencao flutuante tornar-se desaten 19 constante. A auséncia de interesse pode ser camuflada por uma série de racionaliza- oes que fazem apelo a0 desejo do analista (que pode transfor- mar-se em desejo de nada), a neutralidade (que nao € mais a neutralidade de julgamento, mas uma neutralidade de intene20), prologo € 0 tempo durante © qual analista nao tem sim- plesmente que interrogar uma demanda, mas, além disso, interrogar a respeito das moti- vacdes de sua resposta iquela demanda. As entrevistas preliminares devem servir a analista para prever as resisténcias que a sua escuta corte 0 risco de criar e julgar 0 que de analitico preserva a sua resposta. E lamentivel que se tenha cada vez mais a tendéncia de pois somente este tempo de reflexdo poderé permitir a anilise da resposta do analista, que € tao importante quanto a andlise da demanda do eventual analisando. O tempo do prologo da andlise representa este tempo no qual 0 analista, a escuta de uma deman- da, analisa as motivagdes que iro decidir de sua respos- ta, Este trabalho uma vez. con- cluido, 0 eventual “sim” inaugu- 1a 0 tempo das sessOes. O INICIO DE ANALISE Como ja vimos até agora, basta um individuo deitar no diva, aceitando as regras técnicas de um contrato, para que haja processo analitico. O (() Segundo cciondra Auréso, interosse (40 lat inter-esse,"estar ene, no meio, participa’ substanivado). TEXTOS comego de anilise nao € pois uma resposta automatica a qualquer paciente que nos procura Freud, no seu artigo de 1913 “Sobre 0 Inicio do Tratamento”, faz compreender que, para haver autorizagao do comeco de uma anilise, € necessirio um desejo decidido e este dese- jo decidido deve estar articula~ do ao sofrimento causado por um sintoma. Um pedido de andlise sustentado pelo desejo de conhecer-se melhor ou de ser analista nao € suficiente. Podemos organizar em trés 05 momentos que atravessa uma demanda decidida:” 1 —O instante de ver: impli- ca perceber 0 sintoma como um corpo estranho que provo- ca sofrimento. 2 — O tempo de compreen- der: compreender que este sin- toma tem um significado que 0 sujeito desconhece. 3 — O tempo de concluir: quando o analista € investido com a possibilidade de decifré- lo. Este Gltimo tempo implica que, para © analisando, © ana- lista tenha vindo ocupar a funcio de sujeito suposto-saber © se pde em evidéncia com a aparigio da transferénci Geralmente © sujeito chega as entrevistas para falar de seus sintomas — quer dizer que 0 instante de ver” se di antes de todo contato com o analista. Este pedido deve ser diferencia do de uma demanda de analise. sujeito chega com queixas, 0 que pede é um alivio, mas nao tem ainda uma questio sobre seu sintoma; ainda nao com- preendeu que ha um sujeito desconhecido por cle mesmo que est se exprimindo atraves desse sofrimento. Outras vezes chega durante © momento de compreender’, ou seja, com a nogdo de que 0 sintoma tem um significado que © ‘sujeito desconhece. Para que © sintoma seja analisavel, é necessirio que o analista seja incluido na dindmica do incons- ciente. © _ANALISTA E SUA IMPLI- CACAO NO SINTOMA Michel Silvestre, tentando compreender 0 que é que se passa. no momento em que um sujeito decide telefonar para 0 analista, diz que podemos chamar este momento de ‘descompensacio de um estado Dee instante em que desliga 0 telefone, © analista esta implicado, esta inchrido na demanda. de equilibrio”. Se ele telefona € porque supde uma questio e Conseqilentemente uma respos- ta, que ele localiza no analista, mesmo se pensa que esta resposta nio seri encontrada logo e 0 analista nao vai di-la de imediato. Entretanto, 0 sujeito que telefona a supde no analista a quem se dirige, que é entio um suposto-saber. Isso tem 0 surpreendente significado de que o sintoma, no sentido analitico, implica o analista Desde 0 instante em que desliga © telefone, 0 analista esta impli 20 cado, esta incluido na demanda. Silvestre afirma que o analista é incluido no proprio sintoma, j4 que encarna a resposta a questio que © sujeito coloca. Esta questdo, ou mais exata- mente esta resposta recaleada, podemos chamd-la de um saber em sofrimento, como uma men- sagem que permanece em sofri mento. Digamos que ela € uma ‘mensagem que nao chega até o sujeito. Esta mensagem que o sujeito supe no analista lhe é constantemente comunicada, € cle nto a compreende, embora constate © seu efeito, que é 0 seu proprio sofrimento. Esta mensagem que ele encarma no analista € interrompida no seu percurso, e é esta interrup¢io que 0 faz sofer. A hipotese de Freud € que o analista recoloca a mensagem em - circulagio. Quando a mensagem chega a0 seu destinatério, 20 sujeito, 0 sintoma, ou mais precisamente 0 softimento, desaparece. Na medida em que sintoma designa um saber recaleado, é equivalente 2 interpretacdo, ou seja, 4 decifracdo; 0 sintoma é ‘equivalente a tradugdo do saber recalcado. Porém, nao existe razio para que essa interpre- taglo seja a tltima. A interpre tacao é apenas uma espécie de deslocamento verbal, signifi- cante do sistema, O texto de Freud “Lembran- ¢as Encobridoras” postula que por tras da tela se encontra a coisa, isto é, a lembranga em si Dizendo de outra forma, se uma andlise comeca a partir do momento em que analisando se coloca uma questao, esta analise comeca justamente por nao terminar. A TRANSFERENCIA Ainda no seu trabalho “O Inicio do Tratamento”, Freud diz que “o paciente por si proprio fara essa ligacao e vin- cular o médico a ume das ima- gens das pessoas por quem estava acostumado a ser tratado com afeicao™. Podemos dizer que a transfe- réncia omega no momento em que © paciente quer ocupar um lugar no desejo do analis Neste momento se produz a alienagio na transferéncia, ou scja, a alicnagtio do desejo do sujeito no desejo do analista. © paciente coloca seu analista na série das pessoas pelas quais foi amado ou das pessoas pelas quais deseja ser amado. Freud dizia que somente depois de estar estabelecida atransferéncia € que uma inter- pretagio poderia ter efeito, aconselhava a nao interferir durante 0 que chamava trata- mento de prova. Podemos dizer que uma intervengao do ana- lista s6 ind operar como inter- pretacao a partir do momento em que a tansferéncia estiver estabelecida, quando o paciente tiver posto o analista no lugar do suposto-saber, ou seja, quando conferir o saber incon- sciente, que é um saber sem sujeito, a0 analista Na base do fundamento da transferéncia — do sujeito suposto-saber — esti a propria génese do sujeito: parte da Mae a primeira oferta de resposta a0 primeiro grito de necessidade da crianga. Porém, essa Mae que a oferece em verdade nao sabe 0 que 0 sujeito necesita, € responde segundo seu proprio desejo. Desta forma, se © saber € mera suposicio para quem 0 enuncia, para © sujeito cle tem efeito de verdade Assim, a uma falha no saber se contrapde uma suposigzo de verdade. : O suposto-saber € antigo como 0 desamparo e a ignoran- cia dos homens. Antigo na historia individual como o ‘outro materno que respondeu a crianca. Sua origem e con- tinuidade esté implicada na constituicio mesma do sujeito, dividido € alienando do seu saber inconsciente.® Quando perturbardo por algum sintoma criado pela sua divis4o, 0 sujeito constata que existe algo nele proprio que o atinge mas que nao com- preende. Como no seu hori- zonte cultural a psicanilise se difundiu como um saber privi- legiado, a figura do analista aparece como sujeito suposto- saber. Esse sujeito suposto- saber nao € exclusive da psi- canalise, mas € um artificio fun- damental para que ela possa operar. A suposicio do saber é uma ilusio necessaria para o adven- to da anilise, e a dissolugio desta suposicao é uma das finalidades do processo anal co, 0 que equivaleria a levar o sujeito ao reconhecimento da limitagao do mundo humano, reconhecimento de que ninguém tem o falo, 0 que tera nitidas repercussoes no que concerne ao fim da andlise. Quando o analista se identifi ca a0 sujeito suposto-saber, ele concebe 0 fim da andlise como a identificagao do analisando com ele, analista, com toda a conotagao narcisica que isso implica 0 analista aquele que no deve se confundir com o sujeito suposto-saber, que abdica dessa gratificagto narcfsica em favor do inconsciente. Nesse caso, o fim da andlise traz depressao (M. Klein), aceitagio da castracdo simbéli- ca (Lacan). O sujeito suposto-saber pode ser encontrado em qualquer cultura, sendo um lugar que 2 pode ser ocupado por qualquer pessoa. O que especifica a posigio do analista € 0 fato de respeitar essa ilusdo necessi mas nao se deixar capturar por ela. B isso que vai caracterizar toda a dimensio de respeito a0 inconsciente © distinguir a psi- candlise dos demais sistemas de crencas, apontando para o desvanecimento desta supo- sicao, E, portanto, parte do dever ético do analista nao confundir © seu saber de analista qualquer com 0 saber inconsciente do sujeito, saber que por efeito de transferéncia € atribuido ao ana lista. E por isso que, do lado do analista, 0 lugar do nao saber € central, “Este nao saber nao é de modéstia, mas € 0 que permite ocupar um lugar de ‘reserva’ que possibilita a aparigao do Gnico saber oportuno”.” Analisar 6 um fazer saber ndo um saber fazer. BIBLIOGRAFIA (1) AUIAGNTER, P, “Temps de parole et temps de Iécoute: remazques elnigues” In Topigue, 1-12, Pais, 1973 @) BIRMAN, J. € NICEAS. CA. — Apresentagio™. in: Teoria da Pratica Pacanaltica 2.— Paicandlise © Psiccerspa Rio de Janet, tdoce Campus Ll, 1985 1G) FRANCO COSTA, JA, — “Teroduo & andlise da demanis". Ins Gradva, 46, Ri, yon. 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