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1. SUBMISSAO E ANTAGONISMO As polfticas exteriores dos paises da América Latina continuam profundamente influenciadas, ou totalmente determinadas, conforme o caso, pelas relagdes econdmicas, po- liticas e militares que esses mesmos pafses mantém com as Es- tados Unidos. Na medida em que a América Latina continua a ser uma rea de influgncia e manobra dos Estados Unidos, os paises latino-americanos, individualmente ou em grupo, somen- te se definem em suas relacdes externas a partir dos Estados Unidos. Seja por adesdo, seja por oposigao, quando ssta ocor re, as doutrinas, decisdes e agdes dos governantes dos pafses da América Latina continuam a ser profundamente determinadas, mais ou menos decisivamente, pelas doutrinas, decisdes ¢ a- gdes dos governantes dos Estados Unidos (*). E evidente que as relagdes econdmicas, polfti- cas e militares com os Estados Unidos no influenciam de modo homogéneo as polfticas exteriores de todos os pafses do hemis fério. Os interesses do governo e das empresas, ou conglome- rados, dos Estados Unidos nesses pafses variam em fungao ‘de condigdes como as seguintes: o volume de negécios, o montan- te de investimentos, 0 grau de independéncia ou subserviéncia dos governantes e burguesias locais,a posigao geo-polftica de cada pafs no sistema de seguranga hemisférica, 0 estado e as tendéncias das forcas polfticas internas nesses paises, © as- sim por diante. Além do mais, 6 freqWente que as distintas agéncias do governo dos Estados Unidos interpretem e atuem de modo auténomo e mesmo divergente, em face dos interesses do préprio governo e das empresas nos paises da América Latina, Ao lado dessas condigdes, decisivas para a de- finigao e o desenvolvimento das politicas exteriores dos paf- ses latino-americanos, é necessério tomar em conta também as relagdes recfprocas, bilaterais ou multileterais, que ssses ) Neste trabalho, a expressao América Latina engloba Méxi- co, América Central, América do Sul e povos do Caribe: Cy ba, Haiti, Reptblica Dominicana e Porto Rico 2. paises mantém entre si. Hé casos de cooperacéo e intercambio relativamente normais, mesmo que de reduzidas proporgdes. Ao Passo que em outros casos as tensdes e conflitos sdo mais ou menos persistentes. Ao mesmo tempo, hd paises que manifestam interesse em satelizar vizinhos mais fracos, ensaiando politi cas de pretensa hegemonia. €£ ocorrem, por fim, casos de pai- ses cujos governantes procuram explorar incipientes ou reduzi das relagdes econémicas com nagées de outros continentes (por exemplo: Japao, China, Alemanha, Franca, Inglaterra, Itélia, nagdes da Africa) com o fim de introduzir novos elementos de barganha em suas relagoes com os Estados Unidos. No conjunto, entretanto, as politices exterio- res dos paises latino-americanos continuam a ser profundamen~ te influenciadas, ou determinadas, conforme o pais e a conjun tura no continente e internacional, pelas relagées econémicas polfticas e militares que esses paises mantém com os Estados Unidos. Aliés, essa determ:nagao bdésica aparece em todos os principais acontecimentos das relagdes interamericanas, nas Gltimas décadas e nos Gltimos anos. Desde a entrada da maioria dos pafses latino- americanos na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos Estados Uni dos, até a novissima versao da politica de coexisténcia paci~ fica com a Unido Soviética e a China, iniciada em 1972, em to dos os principais acontecimentos econdmicos, polf{ticos e mili tares interamericanos © mundiais as polfticas exteriores dos paises da América Latina tém sido profundamente influenciadas pelas doutrinas, decisdes e agdes adotadas pelos governantes dos Estados Unidos. hs vezes, as burguesias e os governantes dos pafses do hemisfério nao querem perder ou reduzir a sua posigéo relativa no sistema de relagdes e negécios com o go= verno © as empresas norte-emericanos. Outres vezes, os mes- mos governantes latino-americanos decidem beneficiar-se do a- poio e da protecao dos governantes dos Estados Unidos, para enfrentar os desenvolvimentos internos das lutas de classes . Esse é 0 panorama no quel devemos examinar os mais importan- tes desenvolvimentos das polfticas exteriores dos pafses da 3 América Latina, diante dos Estados Unidos, entre si, e em fa- ce das nagdes capitalistas e socialistas dos outros continen- tes. 0 préprio papel singuler que Cuba socielista tem tido nas reorientacdes das polfticas exteriores.de alguns pafses do continente somente pode ser compreendido nesse contexto. S80 as relagdes de submissao e antagonismo inerentes &s rela- gdes entre os paises da América Latina e os Estados Unidos que explicam, em boa parte, as variagdes, avangos e recuo3 de governantes latino-americands em face de Cuba, desde 1959, e do Chile, desde 1970. ‘ Como vemos, a partir das proposigdes prelimina res apresentadas, as relagdes entre os pafses da América Lati hae .os Estados.Unidos esto. fortemente mpregnadas de situa- A maneira pela qual se exerce a hegemonia dos Estados Unidos. .e codes de acomodagao 6 conflito, ou submissdo e antagonismo. © mado pelo qual as distintas classes sociais, ‘no interior das sociedades letino-americanas, incorporam e:elaboram essas relagSes de acomodago e conflito sao fundamentais para a com preenso dos sentidos e vAriagdes nas polfticas exteriores dos pafses da América Latina. Essas sdo as bases das polfti- cas exteriores’mais ou menos alinhadas ou autOnomes, de sub- missdo ou antagonismo, ensaiadas ou postas em prdtica, de mo- do episédico ou persistente,' por pafses da América Latina, um face da preeminéncia econdmica, politica e militar dos Esta- dos Unidos. Em sfintese, para compreender o estado presente e as tendéncias possiveis‘nas relagdes entre os paises da Amé rica Latina e os Estados Unidos, :parece-nos indispensével ana lisar os seguintes aspectos dessa problemética: (a) o caré- ter da hegemonia econémica, politica e militar dos Estados U- nidos no conjunto da América Latina e em alguns dos seus pai- ses; (b) as situagdes de acomodagdo, tensSo e conflito:. fre= qUentes nas relagdes entre pafses latino-americanos, entre si mesmos e nas disputas pele apoio, a protegdo e a preferéncia dos Estados Unidos; (c) as mais importantes mudangas havidas nos anos recentes, nas relagdes entre as duas super-poténcias 4a mundiais, isto 6, os Estados Unidos e a Unido Soviética; (d) © modo pelo qual as distintas classes sociais incorporam e e- laboram as situagdes de acomodagao e conflito, ou submissao e antagonismo, inerentes 4s relacdes dos pafses da América La tina com os Estados Unidos. . Antes de prosseguir, entretanto, julgamos con- veniente fazer aqui mais uma observacgao preliminar. Referimo- nos ao uso mais freqUente da expressdo "governantes" em lugar de "governo" deste ou aquele pafs. Nao se trata de artiffcio semantico, trata-se de uma exigéncia da andlise das ambigWida des, controvérsias e contradicdes préprias das relagdes poli- ticas que estamos analisando. Preferimos distingtir governantes de governo, j& que entendemos por governantes também os grupos econémicos, politicos o militares - as vezes em conjunto, &s vezes em se~ parado ~ que direta ou indiretamente participam das decisdes governamentais, seja no 4mbito da polftica interna seja no da externa. Os governantes podem distingUir-se, superpor-se au Opor-se ao povos ou, mais especificamente, as classes assala riadas. Com freqlencia estas classes sociais, em particular © proletariado urbano e rural, nao s&0 nem consultadas nem re presentadas nas decisdes sobre polftica externa. Isto signi- fica que o governo, propriamente dito, nem sempre representa mais que uma classe social, ou uma facgao de classe. N&o hé ddvida que o governo representa formalmente todas as classes sociais. Na prética, entretanto, ele tende a representar os interesses econdmicos e polfticos das classes sociais dominan tes. E esses interesses raramente correspondem aos da maio- ria assalariada ou proletéria. Em suma, a distingao entre governo e governan- tes é tanto mais necessd4ria quanto mais se evidencia 0 que os fatos esto continuamente a sugerir: que o Poder Executivo, muito mais que o Legislativo, tem sido a verdadeira expressao do governo. Ora, a maneira pela qual em geral se compde e a= tua o Poder Executivo, além da sua hegemonia as vezes absolu- ta sobre os outros poderes do Estado, revelam que, na prética, © gdverno uma expressao abstrata, fdérmal ou simplesmente va zia, enquanto que os*governantes sao ia sue manifestagao con- creta. $86 sempre os governantes que aparecem nas. decisdes, relagdes e estruturas envolvidas na polftica externa da maio- ria dos paises capitalistas. Raramente sao os governados, o povo, as classes assalariadas ou o proletariado que. aparecem nessas decisdes, relagdes e estruturas. Como vemos, peld-que foi exposto, 0 esclareci~ mento nZo diz respeito a”uma questao semantica. Ele faz par- te do processo dé concéptualizagao inerente-& perspectiva ana litica adotada. & evitaré as raificagdes freqlentes nas dis- cusses sobre as relagdes interamericanas, suas condigdes e tendéncias.

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