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AS CONCEPQOES ACERCA DO «SISTEMA ECONOMICO MUNDIAL» E DO «ANTIGO SISTEMA COLONIAL»: ‘A PREOCUPACAO OBSESSIVA COM A «EXTRACAO DE EXCEDENTE» Giro Flamarion 8, Cardoso Nao pretendemos neste trabalho, ao retomar o tema dos modos de produgéo da Colénia, expor outra ver as nossas proprias idéias a respeito. Por um lado, publicamos j certo mimero de artigos onde as nossas posigdes aparecem clara- mente apresentadas.' Além disso, em duas obras de recente publicacio ampliamos e reformulamos tais posicdes.* O que pretendemos aqui é referir-nos a uma postura relativa ao tema deste debate, a qual tem considerdvel difusio hoje em dia e se opde Aquela que defendemos ¢ praticamos. As sociedades que se constitufram na América Latina e nas Antithas em decorréneia do surto comercial e colonizador da Europa moderna colocam 0 pesquisador interessado no seu estudo diante de um verdadeiro dilema. Tais sociedades 86 revelam o seu pleno sentido se forem consideradas como 1. GL, cardte, Ci F, 8; tedeaxtgor Inlidos em Modoe de produccn, en América set Staten de Palade v ‘Bsconte ny Ady Mesic, onde, Coker Boone leg ior (Grad) ¢,« “Loe moder Ge broductés cloviaies” eatedo ein" ctetion Yoteapection Uoviea"” tn Historia "Sociedad (Eésim), ne Se pwtmavern de WE, toms, Maa te i SE eRe Ga, 109 integrantes de um sistema mais vasto, na medida em que surgiram como anexos complementares da economia européia, dependentes de Areas metropolitanas, elementos que devem ser levados em conta na andlise que pretenda descobrir a racionalidade das estruturas econdmico-sociais das colénias. Mas também 6 verdade que as atividades de conquista e co- lonizagdo tiveram como resultado o aparecimento de socie- dades cujas estruturas internas possuem uma légica que nfo se reduz exclusivamente ao impacto da sua ligagio com 0 mercado mundial em formagio e com as metrépoles euro- péias, Por isso, a sta concepcfo em termos de anexos com- plementares, de partes constitutivas de conjuntos mais am- plos, mesmo sendo — como 6 — um momento central da pesquisa, é claramente insuficiente, Sem analisar as estru- turas internas das colénias em si mesmas, na sua maneira de funcionar, 0 quadro fica incompleto, insatisfatério, por néo poderem ser explicadas algumas das questées mais essen- ciais (como o porqué das diferencas profundas constativeis, na época colonial como na atualidade, entre as estruturas econdmico-sociais do México, da Costa Rica e do Brasil, por exemplo). Falamos de um dilema porque é freatiente o recorte do uni- verso de anélise de modo a privilegiar um dos dois aspectos mencionados em prejuizo do outro, No primeiro caso, ver- se-ia o mundo latino-amerieano e antilhano apenas ou fu damentalmente como uma projecio ou resultado da expansio mereantil (para alguns, inclusive capitalista) da Europa dos Tempos Modernos. No segundo, analisar-se-ia a configuraca estrutural interna das sociedades coloniais, sem atencio sufi ciente aos lagos que mantinham estas com o que I. Wallerstein denomina «sistema econdmico mundial europeus. Na nossa opinido, a primeira das opcdes citadas — que queremos, jus- tamente, criticar — predomina ha j4 bastante tempo no con- junto dos estudos sobre a América Latina, Entre as suas caracteristicas principais est4 a insisténcia numa visio par- ticular dos processos globais da acumulacao originéria (ou primitiva, ou prévia) de capital, passando para o segundo plano a andlise intrinseca das estruturas presentes no inte- rior das coléhias. Comecaremos por referir-nos a trés exemplos que consi- deramos significativos e so sucessivamente mais amplos 110 quanto as dimensdes do universo de andlise: a interpretagéio da colonizagio do México apresentada por Angel Palerm, as idéias de Fernando Novais acerca do «antigo sistema colo- nials eo «sistema econdmico mundial europeu» de Wallerstein. Posteriormente, faremos consideragées gerais sobre esta ten- déneia no seu conjunto. Numa série de trés comunicagdes apresentadas a reunides internacionais entre 1974 e 1976, Angel Palerm, depois de discutir questées tedricas globais relativas a como focalizar © estudo do mundo colonial, propés um modelo explicativo para o processo de formagio e funcionamento do que chama © «sistema colonial» no México. ‘A primeira comunicagio afirma cinco pontos de vista fundamentais: 1) 0 rechago de que a nogio de modo de produgio seja apliciivel as colénias americanas, j4 que estas ndo eram uma totalidade nem poderiam ser manejadas analiticamente como entidades isoladas, por formarem parte de um sistema geral dominado e caracterizado por certo modo de produgéo (0 qual, na terceira comunicacko, aparece definido como . O que unifica tal sis- tema € que uma mesma classe dominante «se apropria do produto excedente de ambas as estruturas e o utiliza de acordo com as possibilidades e valores vigentes no império espanhol considerado como -um todos. As duas estruturas mencionadas por Semo sio a despético-tributdria ( (p. 32), mereceria alguma tentativa de comprovacio documental on bibliogréfica, 0 que, porém, néo foi feito (de fato, duvi damos que seja’possivel fazé-lo convincentemente). Por outro lado, 0 texto que examinamos exagera muito 0 peso do comércio colonial em geral, e do tréfico de escravos em particular, na histéria do capitalismo, Embora o autor afirme (p. 36) que o funcionamento do sistema colonial néo foi 0 primitiva, j4 que existiram fatores internos do desenvolvimento capitalista na Europa, nfo deixa de opinar que aquele constituiu : temos a impressio de que 0 eram igualmente capitalistas, O autor justifica assim a existéncia de relagdes de produgio diferentes dentro do sistema econd- mico mundial 3° «Por que diferentes modos de organizagao do trabalho — escravidao, ‘feudalismo’, trabalho assalariado, trabalho por conta prépria — no mesmo momento temporal dentro da eco nomia mundial? Porque cada modo de controle do trabalho se adapta melhor a tipos particulares de produgéo. B por que estes modos se concentravam em diferentes zonas da eco- nomia mundial — escravidio e ‘feudalismo’ na periferia, o trabalho assalariado e o trabalho por conta prépria no micleo € como veremos, a parceria na semiperiferia? Porque os modos de controle do trabalho afetam muito o sistema po- Iitico (em particular a forga do aparelho de Estado) ¢ as possibilidades de engendramento de uma burguesia autéetone. A economia mundial estava baseada precisamente na cons- tatagdo de que de fato existiam estas trés zonas, as quais tinham de fato diferentes modos de controle do trabalho. Se nao fosse assim nfo teria sido possivel assegurar o tipo de fluxo do excedente que possibilitou o surgimento do sistema capitalistay, Wallerstein 6 consciente de que 0 feudalismo medieval per- siste com forma de exploracio no seu da Europa Oriental e da América Espanhola, ele aponta as diferengas seguintes que apresenta com o feudalismo medie- val: 1) 08 senhores no produzem agora primariamente para a economia local, e sim para uma economia mundial capi- talista; 2) tais senhores nao derivam o seu poder da fra- queza da autoridade central, como na Idade Média, e sim da sua forea, pelo menos da forca que exerce sobre os tra- balhadores rurais, Por conseguinte, recusa chamar «feudalis- mo» tais relages de produgéo modernas, preferindo inven- tar a expressio «trabalho foreado em cultivos comerciais» (coerced cash-crop labor). Quanto aos trabalhadores, a di- ferenga consistiria em que, ao contrério do servo medieval, 08 escravos @ e da «superexploracio» da forca de trabalho nas regides periféricas, apresentadas por A. Emma- nuel, Samir Amin, R. Mauro Marini e outros. 49. Kuta, ital Thderie deonomique du sytime fll, trad. do yolks, Pariee Extra Sean ito “Beene, Smt ochal da ‘een Watery ase hee notan varine eritioas_ que. fieman em sorrerpondinela cost "autor “da mem. Slenada‘recabar cert Sites Siiney" We, “ihe veaion “Wong, Sytem Ec Dialer ‘sel Rerpose™ in eitroplony ameter 127 Estas trés correntes surgiram primariamente como tenta- tivas de explicag&o de realidades do século XX, e as vezes como contribuigdes & teoria marxista do imperialismo; mas © esquema resultante foi estendido também ao periodo da formacdo do capitalismo e. ao sistema colonial mereantilista. Em certos casos — como o de Gunder Frank —, 0 quadro proposto assume a forma de um modelo a-histérieo multis- secular, com leis e caracteristicas constantes desde 0 século XVI até a atualidade. Rosa Luxemburgo propés a hipétese de que a realizagio da mais-valia capitalista se faz por meio, seja de grupos sociais internos A sociedade capitalista (como os artesios os camponeses), soja de sociedades diferentes, que nio pro- duzem em forma capitalista *: «O capitalismo vem ao mundo e se desenvolve historica- mente num meio social nfo-capitalista, Nos paises europeus ocidentais, rodeia-o em primeiro lugar 0 meio feudal de cujo seio surge... depois, desaparecido o feudalismo, um meio no qual predomina a agricultura camponesa e 0 artesanato, ou seja, a producto simples de mercadorias... Além disto, cerea 0 capitalismo europeu uma enorme zona de culturas néo-européias, que oferece toda a gama dos graus de evolucdo, desde as hordas primitivas de cagadores némades até a pro- ducdo camponesa e artesanal de mercadorias. Em meio a este ambiente abre caminho... 0 proceso de acumulagio capi- talista... © capitalismo necessita, para a sua existéncia e © seu desenvolvimento, estar rodeado de formas de produgao néo-capitalistas>. As idéias desta autora, bastante frageis teoricamente, de- rivam a sua forea do fato de constitufrem uma tentativa no sentido de resolver problemas realmente presentes na teoria marxista, e do uso as vezes brilhante de argumentos tirados da andlise histérica, * A primeira edigio em inglés de A Economia Politica do Desenvolvimento, de P. Baran, é,de 1956, Desde entdo, tive- ram enorme influéncia 0 conceito de

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