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METODOLOGIA DE PESQUISA - MÓDULO I


A CIÊNCIA1

1. - Introdução
Podemos definir a ciência como o conjunto organizado dos conhecimentos
disponíveis pela humanidade, ou de uma maneira mais particular, o conjunto de
conhecimentos relativos a um determinado objeto ou fenômeno. Portanto, existe uma
estreita relação entre ciência e conhecimento.
A ciência representa um grande patrimônio da humanidade obtido ao longo da
evolução numa trabalhosa conquista através do constante aperfeiçoamento do pensamento.
Desde o início dos tempos o homem procura interpretar os fenômenos que o rodeiam, busca
conhecer o meio em que se insere e tenta explicar os acontecimentos de seu dia a dia.
Mas o que é conhecer? É uma relação que se estabelece entre o sujeito que
conhece e o objeto ou fenômeno alvo da pesquisa. Os povos da antigüidade faziam “o
conhecer” mediante a catalogação de observações feitas, sem uma tentativa de inter-
relacionamento dos fatos e sem tentar predizer efeitos invocando as causas que o
motivaram. Foram os gregos que deram o próximo passo: foram além da catalogação dos
fatos para chegar ao pensamento científico, ou seja, o exercício de atividade intelectual no
sentido de procurar conhecer as causas motivadoras dos efeitos anotados. Esta história
caracteriza bem a passagem do simples registro de fatos para a determinação do porquê dos
dados:

No século III a.C., a grande metrópole do Oriente Próximo era a cidade egípcia
de Alexandria. A maior riqueza da cidade era a sua biblioteca, que deveria
conter meio milhão de volumes de pergaminho e papiro escritos a mão. Vivia
nesta cidade um homem chamado Heratótenes que, durante alguns anos foi
diretor da grande biblioteca.
Um dia, Heratóstenes, lendo um dos papiros depositados na biblioteca, deparou-
se com o seguinte registro: “na fronteira avançada do sul de Siena, próximo à
catarata do Nilo, ao meio-dia de 21 de junho, as varetas retas e verticais não
produziam sombra.” Era um registro, como milhares que deveriam existir na
biblioteca, que qualquer outra pessoa facilmente ignoraria. Que importância
poderia ter a sombra de uma vareta nos acontecimentos do dia-a-dia.

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Extraído de: FERNANDES, João Cândido. Metodologia do Ensino e Pesquisa Científica. Apostila para os
Cursos de Pós-Graduação da UNESP, Campus Bauru, 2005.
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Mas Heratótenes era um cientista; repetiu a experiência em Alexandria e


constatou que ao meio-dia de 21 de abril existia sombra. Perguntou a si mesmo:
como uma vareta em Siena não tinha sombra, e em Alexandria, mais ao norte,
tinha uma sombra pronunciada? E raciocinou: se admitirmos que as duas varetas
não produzam sombra para um mesmo instante, seria perfeitamente
compreensível, admitindo-se a Terra como plana. O sol estaria na vertical. Se as
duas varetas produzissem sombras iguais, isto também faria sentido em uma terra
plana: os raios do sol estariam inclinados no mesmo ângulo. Mas o que fazia
com que, num mesmo momento, não houvesse sombra em Siena e sim em
Alexandria?
A única resposta possível, ele concluiu, era que a superfície da Terra era curva.
Calculou também que, pela diferença nos comprimentos das sombras, o ângulo
entre Alexandria e Siena deveria ser de sete graus em relação ao centro da Terra.
Heratóstenes alugou um homem para medir a distância entre Alexandria e Siena
(em passos), resultando em 800 quilômetros, e concluiu que a circunferência da
terra era de 40.000 km.
Os únicos instrumentos de Heratóstenes eram varetas, olhos, pés e cérebro, além
de uma inclinação para experiências. Com eles deduziu a circunferência da
Terra com erro de poucos por cento, um feito notável há 2.200 anos. Foi a
primeira pessoa a medir com precisão o tamanho do planeta. (SAGAN, 1989)

2. - Os quatro tipos de conhecimento


Segundo Trujillo (1974), o conhecimento humano pode ser classificado em :

POPULAR CIENTIFICO FILOSÓFICO RELIGIOSO (TEOLÓGICO)


valorativo Real (factual) valorativo Valorativo
reflexivo contingente racional Inspiracional
assistemático sistemático sistemático Sistemático
verificável verificável não verificável não verificável
falível falível infalível infalível
inexato aprox. exato exato exato

O conhecimento popular, ou vulgar, é um conhecimento empírico, transmitido de


uma geração a outra de modo informal, baseado na experiência pessoal e na imitação de
outros. É, portanto, fruto de tentativas e erros e de processos casuais que se mostraram
eficientes.
O conhecimento científico se baseia em conhecimentos contingentes, é obtido de
maneira racional, conduzido por processos que investigam a natureza dos fatos e seu inter-
relacionamento e que é transmitido seguindo uma certa sistemática por meio de treinamento
especializado.
Ao se falar em conhecimento científico cumpre diferenciá-lo de outros tipos de
conhecimentos existentes. LAKATOS e MARCONI (1995) apresentam um exemplo com
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base em uma situação histórica.

Desde a Antigüidade, até aos nossos dias, um camponês, mesmo iletrado e/ou
desprovido de outros conhecimentos, sabe o momento certo da semeadura, a
época da colheita, a necessidade da utilização de adubos, as providências a serem
tomadas para a defesa das plantações de ervas daninhas e pragas e o tipo de solo
adequado para as diferentes culturas. Tem também conhecimento de que o
cultivo do mesmo tipo, todos os anos, no mesmo local, exaure o solo. Já no
período feudal, o sistema de cultivo era em faixas: duas cultivadas e uma terceira
em repouso, alternando-as de ano para ano, nunca cultivando a mesma planta,
dois anos seguidos, numa única faixa. O início da Revolução Agrícola não se
prende ao aparecimento, no Séc. XVIII, de melhores arados, enxadas e outros
tipos de maquinaria, mas à introdução, na segunda metade do Séc. XVII, da
cultura do nabo e do trevo, pois seu plantio evitava o desperdício de se deixar a
terra em pousio: seu cultivo "revitalizava" o solo, permitindo utilização
constante. Hoje, a agricultura utiliza-se de sementes selecionadas, de adubos
químicos, de defensivos contra as pragas e tenta-se, até, o controle biológico dos
insetos daninhos.

Segundo Ander-Egg (1978), o conhecimento popular caracteriza-se por:

• Superficial : conforma-se com a aparência, pois expressa-se por frases


como “porque o vi”, “porque o disseram”, “porque todo mundo diz”;
• Sensitivo : se refere a vivência, estados de ânimo e emoções da vida diária;
• Subjetivo : é o próprio sujeito que organiza suas experiências e
conhecimentos, tanto os que adquire por vivência própria quanto os “por
ouvir dizer”;
• Assistemático : a organização das experiências não visa uma sistematização
das idéias, nem na forma de adquiri-las nem na tentativa de validá-las;
• Acrítico : verdadeiros ou não, a pretensão de que estes conhecimentos o
sejam não se manifesta sempre de uma forma crítica.

O conhecimento científico não é habitual para o comum dos homens e é adquirido,


em geral, com o estudo e a aplicação de um método.
Suas características são:

• Real ou factual: porque se refere a ocorrências ou fatos, e a toda forma


manifesta de existência;
• Contingente: suas proposições ou hipóteses são postas à prova pela
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experiência e não por interpretações subjetivas ou por inspiração ou apenas


pela razão (razão + experiência);
• Sistemático: é um conhecimento logicamente ordenado formando teorias
(ou sistemas de idéias) e não um corpo disperso e desconexo;
• Verificável: em princípio, hipóteses que não podem ser verificadas não são
hipóteses científicas;
• Falível: está sempre em permanente evolução, não havendo conhecimento
científico absoluto ou definitivo;
• Aproximadamente exato: pelas razões anteriores. O conhecimento é
provisoriamente aceito até que novos fatos e ou técnicas venham a ampliá-lo
ou modificá-lo ou substituí-lo (Ex.: na época: átomo = menor partícula
indivisível).

3. - Conceito de Ciência
Eis algumas definições de Ciência, por vários autores:
• Acumulação de conhecimentos sistemáticos;
• Caracteriza-se pelo conhecimento racional, sistemático, verificável e,
portanto, falível;
• Conhecimento sistemático dos fenômenos da natureza e das leis que o
regem, obtido através da investigação, pelo raciocínio e pela
experimentação;
• Conjunto de enunciados lógica e dedutivamente justificados por outros
enunciados;
• Forma sistematicamente organizada de pensamento objetivo;
• Conceito de ANDER-EGG: é um conjunto de conhecimentos racionais,
certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis,
que se referem a objetos da natureza;
• Conceito de TRUJILLO: sistematização de conhecimentos, conjunto de
proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos
fenômenos de interesse. A ciência é todo um conjunto de atitudes e
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atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento, com objetivo


limitado, capaz de ser submetido à verificação.

4. - Classificação da Ciência
Vários autores já propuseram classificações para a Ciência. Augusto Comte dividiu em
matemáticas, físico-químicas, biológicas, morais e metafísicas. Outros autores como
Carnap, Bunge, Wundt optaram por classificar a Ciência em dois grupos: formal e factual.
Ciências formais: aquelas cuja verdade se apoia em sua estrutura lógica. Contém
apenas enunciados analíticos, apoiados no significado de seus termos. Estudo das idéias.
Ciências factuais: aquelas cuja verdade se apoia em sua estrutura lógica e,
também, no significado dos fatos inerentes ao problema. Contém enunciados analíticos e
sintéticos, apoiados no significado de seus termos e nos fatos a que se referem. Estudo dos
fatos.

Lakatos e Marconi (1995) sugerem a classificação do diagrama a seguir:


As ciências formais estudam as idéias. Abordam entidades não encontradas na
realidade e, portanto, não podem se valer da experimentação ou do contato com a realidade
para a convalidação de suas propostas.
As ciências factuais estudam os fatos que supostamente ocorrem na realidade e
podem, por isso, recorrer à observação e à experimentação para o teste de suas hipóteses.
Nas ciências factuais faz-se uso da estrutura lógica, da manipulação de idéias, que são
complementados pela observação natural ou controlada dos fatos que ocorrem
objetivamente na realidade.

LÓGICA
FORMAIS
MATEMÁTICA

FÍSICA
CIÊNCIAS NATURAIS QUIMICA
BIOLOGIA

FACTUAIS ANTROPOLOGIA
DIREITO
ECONOMIA
POLÍTICA
SOCIOLOGIA
PSICOLOGIA
ADMINISTRAÇÃO
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SOCIAIS

Considerações:

ITEM FORMAL FACTUAL


Enunciados baseados em Objetos empíricos fenômenos naturais,
Objeto ou tema
entidades abstratas coisas e processos
Relações entre símbolos Relações entre entes, fenômenos, fatos
Enunciados
Uso da lógica dedutiva para Necessita da observação e/ou da
demonstrar seus teoremas experimentação. Manipulação
Método de
Dedução: coerência do deliberada dos fenômenos e objetos para
comprovar
enunciado com um sistema verificar os fatos. Usa a Indução
enunciados
previamente aceito. Não usa
Indução.
Grau de Suficiente quanto ao Seu conteúdo depende de fatos. Utiliza
suficiência em conteúdo e aos métodos de experimentação (ou observação) para
relação ao prova. assegurar a validade de suas hipóteses
conteúdo e ao
método de
prova
Coerência do enunciado com A coerência com um sistema
um sistema prévio de idéias. previamente aceito é necessária mas
Grau de A verdade não é absoluta, não suficiente. A estrutura lógica não é
coerência para mas sim relativa ao sistema sufi ciente para garantir a verdade. A
alcançar a previamente admiti do. Ex.: experiência garante a verdade sem
verdade geometria euclidiana e não excluir a possibilidade de que esta possa
euclidianas ser melhorada com a evolução do
conhecimento
Verificação de hipóteses
comprovando ou refutando-as. As
Resultado Demonstração ou prova, hipóteses, comprovadas são
alcançado completa e definitiva provisórias. A verificação é incompleta
e, portanto, não definitiva.

5. - O Espírito Científico
O espírito científico nada mais é do que uma atitude do pesquisador em busca de
soluções, com métodos adequados, para o problema que enfrenta.
O espírito científico exige:
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• Consciência crítica: saber distinguir o essencial do acidental, o importante


do secundário;
• Consciência objetiva: é o rompimento com todas as posições subjetivas,
pessoais e mal fundamentadas do conhecimento vulgar;
• Objetividade: o trabalho científico é impessoal. Não aceita meias-soluções
ou soluções apenas pessoais.
• Racionalidade: a razão deve ser “o único juiz” nas decisões da pesquisa. As
“razões” da arbitrariedade, do sentimento e do coração nada explicam nem
justificam no campo da ciência.

Estas condições exigem que o pesquisador seja dotado de inteligência, memória e


vontade. Impõe um domínio mínimo da lógica, para realizar corretamente as operações
mentais e uma formação escolar que assegure o conhecimento da matéria, objeto da
investigação pretendida. Portanto, são necessárias tanto qualidades inatas como adquiridas.
O conjunto inteligência, sensibilidade e vontade (qualidades inatas) constitui a
essência da personalidade do pesquisador. A aquisição, conservação, elaboração e inter-
relacionamento das informações, auxiliadas pela memória e pela imaginação compõe o que,
genericamente, se designa por inteligência.

6. - Leituras Recomendadas
Capítulo 1 de LAKATOS e MARCONI, 1995.
Capítulo 1 de CERVO e BERVIAN, 1993.
Capítulo 1 de JOHNSON e SOLSO, 1975.
Capítulo 1 de SEVERINO, 1996.
Capítulo 1 de CASTRO, 1977.
Capítulo 1 de FAZENDA, 1991.
Capítulo 4 e 6 de RUIZ, 1986.
Capítulo 1 de WEATHERALL, 1970.
Introdução e Capítulo 1 de SAGAN, 1989.
Introdução de SAGAN, 1987.
Capítulo 1 de HAWKING, 1988.
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7. - Referências Bibliográficas
ANDER-EGG, E. Introducción a las técnicas de investigación social: para trabajadores
sociales. 7ª edição. Buenos Aires: Humanitas, 1978.
ASTI-VERA, A. Metodologia da Pesquisa Científica. Porto Alegre: Editora Globo, 1978.
CASTRO, M. C. A prática da pesquisa. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977
CERVO, A. L. e BERVIAN, P. A. Metodologia Científica. 3ª Edição. São Paulo:
McGraw-Hill do Brasil, 1993.
FAZENDA, I. (org.) Como fazer uma monografia. 2ª Edição. São Paulo: Editora Cortez,
1991.
FERNANDES, João Cândido. Metodologia do Ensino e Pesquisa Científica. Apostila para
os Cursos de Pós-Graduação da UNESP, Campus Bauru, 2005.
HAWKING, S. W. Uma breve história do tempo. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1988.
HEGENBERG, L. Etapas da Investigação Científica. São Paulo: EDUSP, 1976.
JOHNSON H. H. e SOLSO, R. L. Uma introdução ao planejamento experimental em
psicologia: Estudos de casos. São Paulo: EPU, 1975.
LAKATOS, E. M. e MARCONI, M. A. Metodologia Científica. 2ª Edição. São Paulo:
Atlas, 1995.
POURCHET-CAMPOS, M. A. Metodologia da Investigação Científica. São Paulo:
mimeografado, 1980.
RUIZ, J. A. Metodologia Científica. 2ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 1986.
SAGAN, C. Cosmos. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1989.
SAGAN, C. Os dragões do éden. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1987.
SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 20ª Edição. São Paulo: Editora
Cortez, 1996.
TRUJILLO, F.A. Metodologia da Ciência. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Kennedy,
1974.
WEATHERALL, M. Método Científico. São Paulo: EDUSP-Polígono, 1970.

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