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APRESENTAÇÃO

O gosto pela literatura sempre esteve presente na minha vida, pois, mesmo tendo feito um
segundo grau técnico, nunca deixei de lado o prazer de desfrutar da leitura de um bom livro.
Tal atitude reforçou a afinidade com as disciplinas ditas humanas, que no ensino médio são a
Geografia, a Historia e, mais recentemente, a Sociologia e a Filosofia.

Em 2001, lendo um dos livros propostos para o vestibular, no caso O amanuense Belmiro, de
Ciro dos Anjos, impressionei-me com a história que trazia como cenário a cidade de Belo
Horizonte. À época não imaginava um interesse maior para este fato. Eu me lembrava de ter
lido outros livros de autores mineiros que se utilizavam do mesmo recurso, mas este me
chamou mais a atenção.

No segundo semestre de 2008 comecei a pensar em um tema para a monografia de


bacharelado e essas lembranças retornaram, trazendo-me a idéia de utilizar o intercâmbio
entre a Literatura e a Geografia.

Outro fator que talvez tenha contribuído para tal escolha foi observar a facilidade com que
alguns dos professores deste Instituto (IGC) transitam por outras áreas do conhecimento,
fortalecendo assim a próprio ensino de geografia e nos influenciando.

Para fins de melhor entendimento este estudo será apresentado em uma introdução e três
capítulos.

O primeiro capitulo apresenta um cunho teórico conceitual, no qual se foram inseridos


conceitos gerais e técnicos sobre a cidade, que permitirão melhor compreensão do texto, nos
capítulos seguintes.
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O segundo capitulo já apresenta idéias e fundamentos da literatura e aponta a ferramenta de


analise da mesma. Constando também de apontamentos sobre o imaginário e sua influencia
no concreto, ou seja na percepção da cidade, o capitulo ao seu final traz uma contribuição de
um autor da literatura universal, e sua interpretação do que é cidade.

O terceiro capitulo procurará enfocar a importância do imaginário na compreensão e


conseqüente, contribuição na produção do espaço nas cidades, são apresentadas textos
literários nos quais se comprovam tal afirmativa.o capitulo se encerra com a analise do texto
de Cyro dos anjos, O Amanuense Belmiro, e sua contribuição na compreensão da cidade de
Belo Horizonte nos idos da década de 1930.
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INTRODUÇÃO

A escrita literária, como arte, certamente é uma das formas de registro e conhecimento dos
fenômenos, qualquer que seja o objeto de estudo das muitas áreas do conhecimento. Trata-se
do principal pilar para a compreensão e a acumulação cultural. Não que a transmissão oral dos
conhecimentos não seja possível de se realizar, mas seu registro seria muito mais volátil se
comparada ao registro gráfico, material, que permite a literatura, em sua forma escrita.

Quantos pesquisadores não obtiveram suas idéias lendo um texto ou mesmo um romance, sem
que a princípio existisse qualquer relação com sua área de estudos. As lembranças e as idéias
não seguem necessariamente um padrão, pois são subjetivas e seletivas. No cotidiano os
indivíduos tendem a perder partes significativas do que lhes é apresentado e transmitido.
Desta forma, a escrita, por meio da literatura, torna-se guardiã desses conhecimentos.

Pensando desta forma, surge a pergunta: até que ponto pode a ciência se valer dos registros
feitos pela literatura? Quanto se pode confiar em termos de correspondência com a realidade,
no que é transmitido por tais registros? O presente trabalho pretende encontrar algumas destas
respostas, analisando a contribuição da literatura para a geografia no entendimento do
processo de produção das cidades. O trabalho finalizara com uma analise da contribuição do
livro, O Amanuense Belmiro de Cyro dos Anjos na contribuição da compreensão da cidade de
Belo Horizonte na década de 30 do século 20.

No caso da literatura brasileira, desde o final do Século XIX, período em que surge a cidade
de Belo Horizonte, são enfocados relatos não de lugares imaginários, mas de lugares reais,
onde personagens fictícios vivem e se relacionam. Assim se pode, por exemplo a partir de
textos como O cortiço, de Aloísio de Azevedo, conhecer parte do que era a vida,
principalmente nos lugares mais pobres da cidade do Rio de Janeiro do século XIX, por meio
de um relato rico de uma sociedade ainda escravista e bastante preconceituosa.
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Assim, dentre os escritores brasileiros, mesmo se valendo apenas de recursos literários, são
encontradas informações muito úteis, pois ao contar suas histórias, os autores permitem-nos
recriar, mesmo que em nossas mentes, lugares que já não existem ou que se tornaram já muito
modificados. Tais relatos podem conter informações perdidas e não registradas pela literatura
técnica das ciências humanas, entre elas certamente as da própria Geografia.

Em Minas Gerais, escritores como Roberto Drumond, Fernando Sabino e Ciro dos Anjos nos
permitiram ver, por exemplo, uma Belo Horizonte ora antiga e glamorosa, outras horas
moderna e dinâmica. Por exemplo, quando se lê uma historia como a do livro O Amanuense
Belmiro, de Cyro dos Anjos, que se passa na década de 1930, tanto no âmbito físico como
social existe nestes escritos uma serie de registros que certamente não se encontram nos dados
oficiais. Em outros instantes vemos em textos como os de Roberto Drumond, Ontem à Noite
era 6ª feira e Hitler manda lembranças, uma Belo Horizonte bastante semelhante à que
vemos em nossos dias, com personagens que muito se assemelham os que conhecemos na
vida real.

Assim, o presente trabalho pretende descobrir através da literatura, a maneira como esta Belo
Horizonte é descrita por escritores que não são geógrafos, e de que modo contribuem ou
contribuíram para registrar parte da memória desta cidade.

Justificativas:

As fontes de pesquisa sobre as cidades seguem normalmente um caminho muito institucional,


levando a respostas incompletas ou que possuam apenas um lado. Quando se pretende ir além
destas respostas, qual o caminho a seguir?

A proposta para o presente trabalho seria de descobrir, na literatura elementos que permita
torná-la como fonte alternativa, e que acrescentem algo de novo, para a compreensão da
mesma. Assim faz-se necessário um resgate dos fatos ou registros que foram ignorados ou
deixados de lado por não serem técnicos.
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Apontamentos metodológicos:

Para realizar este trabalho fez-se necessário a leitura de uma bibliografia que irá além da
literatura técnica da Geografia, pois tenciono aqui ir além desta disciplina.

A bibliografia sugerida consta de textos que caracterizam e mostram o processo de produção


da cidade, que sendo a base teórica do trabalho. Os autores sugeridos trazem textos que
permitem uma discussão com autores da literatura convencional.

CAPITULO I: DA GEOGRAFIA À CIDADE


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1.1. Definição e origem

O que seria a cidade? Perguntar o que seria a cidade seria repetir uma pergunta que,
certamente, foi feita diversas vezes. Mesmo sendo algo complexo de se responder, cada
campo do conhecimento responderia, logicamente, baseado em seus próprios fundamentos, o
que nos levaria a um emaranhado de respostas, cada uma com suas justificativas e análises. A
resposta poderia também ser baseada em outros aspectos que não abordaria o conhecimento
científico, talvez por um citadino, um componente anônimo da multidão ou mesmo por um
literato.

Então a cidade, podendo ser explicada de tantas formas, por pessoas de classes e níveis
variados, de instrução e mesmo por setores científicos tão diversos, exige para sua
compreensão próxima do ideal, uma delimitação ou um recorte metodológico apropriado de
seu estudo. Para tanto, neste capítulo foi feita uma breve revisão teórica da cidade, dentro do
campo das ciências geográficas. Entretanto, preparando para uma abordagem futura, na qual
será analisada a contribuição de outra área do conhecimento, neste caso a literatura, torna-se
ainda necessário indicar uma delimitação mais especifica. Então desde já determina-se que
não serão abordados aspectos físicos, ate mesmo por se mostrarem pouco compatível com a
literatura universal, que será parte importante na composição do tema proposto.

Em uma análise epistemológica, vê-se que o estudo das cidades está incluso na geografia
humana, caso esta segmentação seja aceita e como se faz necessário para esta investigação.
Entretanto outras subdivisões possíveis, como no caso as abordagens econômicas, sociais,
antropológicas, culturais certamente serão contempladas, uma vez que análises anteriores
mostram que a literatura universal se vale destas em suas obras.

Assim abordaremos a cidade dentro do que é aceito e discutido na geografia humana, com
uma abordagem ampla dentro desta subdivisão.

Contudo, a geografia pode se basear na literatura para, como dizem alguns geógrafos, “fazer a
leitura do mundo”. Esta expressão diz de forma direta o que seria não apenas uma frase vazia,
mas sim uma realidade. Como o interesse deste trabalho é fazer uma análise da influência das
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obras literárias na denudação da produção do espaço e, mais especificamente nas cidades,


torna-se necessário entender como tais relações são re-produzidas, tendo-se em mente que as
ciências não são neutras como pensavam os positivistas. Isto torna a tarefa um pouco mais
complexa do que a simples análise de textos literários. Assim faz-se necessário compreender
o que os teóricos chamam de cidade.

Para Mumford (2004), a cidade nasce não para os vivos, pois a primeira idéia de fixação parte
da necrópole, ou seja, os primeiros a ganharem uma moradia própria são os mortos, antes
mesmo de se prenderem à terra. Os homens, muito por razões religiosas, já se preocupavam
em como alojar os que tinham partido. Talvez por medo de uma vida pós-morte, ou mesmo
pelo temor de que aqueles indivíduos voltassem à vida e atormenta-se a existência dos que
ainda permaneciam vivos.

No entanto Rolnik (1994) acredita que os primeiros “embriões” das cidades, seriam as
zigurates, uma espécie de templo encontrado nas planícies mesopotâmicas. Estas construções
datam de aproximadamente 3000 anos antes da era cristã. Baseando-se nesta afirmativa pode-
se concluir que a idéia mais antiga e também mais próxima do que pode ser chamado de
cidade, seria de aproximadamente 5 mil anos. Concordante em parte com esta idéia, Benévolo
(1991) também aponta o oriente próximo como sendo o berço das cidades, alem de indicar
uma datação idêntica, ou seja, aproximadamente 5 mil anos.

Entretanto os autores indicam posicionamento um pouco diferente com relação aos motivos
que levaram ao surgimento das cidades, Rolnik (1994) considera que a origem da cidade pode
ser confundir com a origem do binômio diferença social/centralização do poder. Ou seja, para
a mesma a cidade torna-se possível quando passa a existir uma divisão certamente técnica e
social do trabalho, ao mesmo tempo em que também acontece a centralização do poder.
Assim a organização da cidade acontecerá juntamente com a ordenação do território, ou seja,
a implantação do poder.

Já Benévolo (1991) acredita que a cidade surge da necessidade natural imposta pelo
crescimento físico, de certa forma o autor acredita que a estrutura nasce antes mesmo das
relações sociais e que estas vem para uma posterior ocupação. De certa forma, o autor afirma
que o planejamento precede a necessidade que as relações sociais e econômicas trariam de um
espaço apropriado, o trecho a seguir explana bem a idéia apresentada.
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Em certos casos, a invenção urbana antecipa os desenvolvimentos do corpo social:


os monumentos do Campo dos Milagres, em Pisa – catedral, batistério e cemitério –
foram construídos nesta posição periférica, porque talvez devessem transformar-se
no centro de um novo organismo urbano ampliado rumo ao norte: mas a ampliação
nunca ocorreu, porque o poder de Pisa já terminava no século XIII.....”
(BENEVOLO 1991 p. 16).

Apesar do trecho não indicar o nascimento de uma cidade, ele exemplifica bem a necessidade
de expansão, mesmo que a afirmação diga o contrário. A própria decisão de se construir ou
mesmo ampliar a estrutura física, parte de decisões ou mesmo de acordos ou necessidades que
circulam pelo âmbito político, daí a deduzir uma influência das relações de produção social
torna-se apenas um salto dedutivo muito próximo da realidade.

Muito contrário a tal idéia, Lefebvre (1999) afirma que a cidade é o centro da prática social, é
nela que se torna possível a práxis, onde a vida social levará à consciência e esta à mudança
do indivíduo e, consequentemente, à mudança da sociedade. As estruturas são o resultado da
produção que estes executam na realidade. No trecho abaixo o autor explica melhor como tal
processo ocorre.

A filosofia desce do céu para a terra, o pensamento materialista ascende da terra


para o céu. Ele parte dos homens na sua atividade real. Não é a consciência que
determina a vida (social), mas a vida que determina a consciência. (LEFEBVRE,
1999, p.45)

O autor afirma que a libertação do homem só será possível quando este tomar consciência de
suas necessidades e que a cidade concentra todos os instrumentos da produtividade, além de
concentrar também a população e, com essa, a grande parte da produção social. Lefebvre
mostra uma idéia totalmente contrária a de Benévolo, e talvez até mesmo diferente da
apresentada por Rolnik, pois, na visão deste, a cidade é um resultado total da acumulação
social do trabalho. Na verdade a estrutura física é apenas a parte visível e vazia de relações
mais complexas.

1.2. A cidade e seu desenvolvimento na história.


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Caso fosse possível traçar uma linha indicando pontos onde a cidade se apresentasse mais ou
menos desenvolvida, seria certamente este um estudo digno das ciências exatas, ou mesmo
um belo trabalho quantitativo. No entanto partindo de afirmações feitas neste mesmo trabalho,
aceita-se que a cidade é produto das relações sociais, políticas e econômicas, relações que
provêem do homem e que naturalmente apresenta atitudes não padronizadas. Assim a história
não poderá ser considerada uma gradação progressiva da cidade, pois cada modelo é resultado
de seu contexto histórico.

Para Lefebvre (1991), a cidade ocorre em períodos históricos bastante diferenciados e assim
bem anterior a era moderna e capitalista. Seguindo ao longo da história ela assume funções e
características diferentes: hora ligado ao sistema de produção como no caso das antigas
cidades orientais e gregas – e ambos os casos cumprindo uma função tipicamente política-,
ora cumprindo funções comerciais, artesanal e bancária como nas cidades medievais,e
principalmente, servindo como oposição à feudalidade.

Segundo Lefebvre (2008), a cidade era vista como complementar a produção, sendo
considerada uma unidade de consumo, mas a cidade vai além da função de proteção e abrigo
para ser uma centralidade na era capitalista, passando a produzir e (re) produzir relações
sócio espaciais, fenômeno percebido no que o autor chama de cotidianidade, o que certamente
será encontrado nas estruturas e super estruturas da sociedade.

A cidade que precede a cidade dos mortos, ou seja, a cidade dos” vivos”, em contradição ao
que diz Mumford (1998), nasce da necessidade de proteção de organização das atividades
surgidas após o sedentarismo humano. Surge como complemento a aldeia, ou seja, é a
acumulação do excedente produzido pelos homens e desta forma ainda ligada a outras
atividades agrícolas e de pecuária o que também tornaram possível sua existência.

A polis grega ou romana é uma espécie de cidade política, Lefebvre (1991), a denomina de
cidade arcaica e a associa a posse de escravos. Seu sistema de produção não permitia relações
sócio produtivas mais complexas, o que impedia um maior avanço, mantendo como
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característica principal a representação política, e de certa forma berço de idéias jurídicas. Em


contrapartida, a cidade que substitui o modelo antigo, ou seja, a cidade que nasce em pleno
modo de produção feudal, encontrava desprovida de uma função política. Entretanto,
Lefebvre (1991), aponta a cidade medieval como comercial, artesanal e bancária, integrando
os mercadores que ate então eram quase nômades. Munford (1961), indica os antigos
mosteiros como ponto inicial destas cidades, uma vez que eram nestes que se guardavam o
conhecimento acumulado de períodos anteriores.

No plano estrutural, Rolnik (1994) diz que as cidades medievais obedeciam traçados pré
estabelecidos naturalmente e se formavam a partir da ocupação, uma vez que se encontram
fora das muralhas dos feudos, e mesmo neste, a terra era comercial, então estas cidades
cresciam de acordo com a ocupação feitas pelos seus moradores. Concordante com esta
Benévolo (1991) dizia que as cidades neste período eram verdadeiros emaranhados de
estradas e praças, onde os atuais arquitetos se debruçam a procura de significados técnicos
que possam encontrar uma eficiência técnica efetiva.

Entretanto Mumford, (1965), aponta que em uma fase posterior, ou seja, no barroco, quando
houvesse interesse na organização física do espaço, demais interesses tornavam-se
secundários. Desta forma, a construção do aparato urbano, tais como a marcação de uma
avenida ou a manutenção geométrica das construções, sobrepunham aos interesses sociais. O
que confirma que a manutenção da técnica, prevalece não apenas em períodos modernos, mas
também em períodos mais pretéritos.

Como comentado anteriormente a cidade medieval, que surgem ante o declínio do


feudalismo, torna-se possível, com a centralização do poder do estado que valendo-se de tais
condições, cria entre as cidades uma figura até então desconhecida à capital, que passa a ter
maior importância sobre as demais cidades. Para Momford (1965) a fase anterior a
industrialização, que ocorrera ainda no modelo de cidade medieval foi uma espécie de fase de
transição, que naturalmente levou ao modelo industrial. Este modelo deu a cidade nova
dinâmica deixando para trás as restrições medievais e demolindo as “muralhas urbanas”.
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As cidades na era industrial seguiram uma história à parte, adquirindo mais funções e
diversificando ainda mais suas características, perde-se então a função única e tornando centro
da vida social e política. Para Lefebvre (1999) a cidade torna-se também lugar onde se
acumula os conhecimentos técnicos e as obras (obras de arte, monumentos). Entretanto o
mesmo considera que a cidade é, ela própria, uma obra.

A própria cidade é uma obra, e esta característica na direção do dinheiro, na direção


do comércio, na direção das trocas, na direção dos produtos. Com efeito, a obra é
valor de uso e o produto é valor de troca. O uso principal da cidade, isto é, das ruas e
das praças dos edifícios e dos monumentos é a festa...” (LEFEBVRE 1991p.4)

Nesta citação, o autor mostra o quanto é complexo definir a cidade após iniciado o processo
de industrialização, pois além de agregar suas funções e atividades que não existiam nos
modelos anteriores, medieval e clássico, novos agentes surgem com produtos e objetivos bem
diferenciados. A própria definição se torna semelhante ao que se constrói, esta cidade será não
apenas o fomento para a construção do imaginário do citadino, mas também ela, poderá ser
projetada com influência deste imaginário.

A mudança trazida pela cidade industrial e capitalista faz com que a mobilidade das riquezas,
nela produzida, assuma dimensões inimagináveis, o que faz com que novas divisões surjam,
tais como a divisão técnica, a social e a política. Ante estas novas relações, surge uma “rede
de cidades”, o que não elimina nem a rivalidade nem a concorrência entre as mesmas.

Também Benévolo (1991), acredita que a cidade industrial, a qual chama de cidade burguesa,
é diferente de tudo que tenha surgido anteriormente, pois, ela assim envolve não apenas novas
funções, mas uma quantidade muito superior de habitantes, os quais passa a transformá-la em
uma velocidade ali então inimaginável, aliada a isto, surgem um complexo aparato urbano,
composto de estradas e estruturas físicas. Os serviços tornam-se variados e, de certa forma,
mais difíceis de serem supervisionados e mesmo controlados.
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Surgem novas oportunidades e conseqüentemente novos riscos, obrigando a uso de novos


instrumentos de gestão. Assim Benevolo (1991), acredita ter surgido a necessidade do
planejamento urbano.

Então, o processo de planejamento e execução de obras públicas torna-se traçado de


transposição puramente técnica, como pode ser observado nos casos das cidades planejadas,
como Belo Horizonte e Goiânia, pois generalizar sobre algo que se desconhece é uma prática
comum não só para quem comanda, planeja, mas legitimado pela maioria que são tornados
meros coadjuvantes na produção do espaço.

1.3. A cidade: planejamento e controle

Como produto da acumulação social do trabalho, a cidade é também produto do processo de


dominação, em seu processo de produção e ou “desprodução” ela será diretamente atingida. A
complexidade da cidade atual permite que políticas de contenção e mesmo orientação sejam
constantes na cotidianidade. Pensar uma cidade com dimensões reduzidas às cidades antigas,
feudais, onde a força militar de uns poucos aliada a vontade direta de seu dirigente, protegido
por muralhas se fazia real, seria insano para a cidade moderna.

Mesmo sabendo que a importância do lugar é essencial para os seres humanos, verdadeiros
interessados na cidade como habitat, na realidade, prevalecerá na produção das cidades os
caminhos da técnica e do planejamento, frustrando assim a idéia do prazer e instituindo o
território, dando oportunidade ao econômico, ou seja, a produção é gerenciada pela lógica
formal.
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Mas para planejar ou gerenciar uma cidade se faz necessário entende-la e entender cidades
não é tarefa simples, descrever cidades é tentar comprimir um enorme emaranhado de
relações em representações simples: são sentimentos, sofrimentos e desejos representados por
curvas e armações. Desta forma, fica claro que a cidade não são muros, nem estátuas ou
edifícios modernos; estas coisas simplesmente representam um trabalho ou acumulação de
atividades realizadas para se chegar nesse estágio.

Surgem então analogias, às vezes usadas para melhor compreensão do que é a cidade, ora
tentam vê-la como um organismo (biológico) que evolui, outras como objetos inanimados
como um imã, o que explicaria sua expansão, ou seja através da indução e do campo
magnético desta, levando a construção indireta em seu entorno.

Jacobs (2000) apresenta uma idéia que confronta de certa forma com o planejamento urbano
típico, acreditando que intervenções no espaço das cidades da forma que são feitas mais
atrapalham do que resolvem, enquanto em casos onde o fracasso é eminente, a resposta
apresenta-se muito positiva. O planejamento do espaço urbano, ou seja, da cidade, muitas
vezes traz consigo a segregação espacial, atuando diretamente na escolha do habitat.

Trazendo para um exemplo próprio, percebe-se que o mesmo acontece quando se tenta criar
uma cidade, sendo mais específico a cidade de Belo Horizonte. Um breve recuo histórico a
sua origem, percebe-se que a pretensão era fazer um sítio urbano com limites sociais – com
sua expressão física no território – muito específicos, ou seja, nos limites da Av. do Contorno,
para uma população de apenas 100 mil habitantes. Poucos anos depois, o projeto já não era
compatível com a concentração urbana e a periferia se estendia muito além do planejado e em
poucas décadas sua população já era muito maior do que o imaginado.

Entretanto, Benévolo (1991), contrariando a idéia anterior, acredita que o planejamento


sobrepõem as complexidades do corpo social, mesmo considerando que o crescimento da
cidade depende de seu desenvolvimento, pensa que as intervenções são de suma importância
para o avanço do urbano.
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Porém, mesmo com a prevalência das representações mais instituídas quanto à cidade e ao
urbano, como na geografia, observa-se que esses se realizam como movimento mais amplo, o
requer a consideração de uma noção que vá além da dicotomia entre projetos – quase sempre
representados e circunscritos às representações do planejamento – e os resultados, estes em
muito considerados como problemas resultantes da insuficiência do planejamento. Na busca
por uma noção que supere a fragmentação na visibilidade e compreensão da urbanização,
entre os autores que referenciam esta pesquisa encontra-se a noção de produção:

“... a produção não se limita à atividade que fabrica coisas para trocá-las.
Existem as obras e os produtos. A produção em sentido amplo (produção do
ser humano por ele mesmo) implica e compreende a produção das idéias, das
representações, da linguagem. Intimamente misturada ‘à atividade material e
ao comércio material dos homens, ela é a linguagem da vida real’. Os
homens produzem as representações, as idéias, mas são ‘os homens reais,
ativos’. (...) Assim, a produção não deixa nada fora dela, nada do que é
humano.” (LEFÈBVRE, 1999, p.44; grifos do autor)

Vê-se aí a possibilidade de compreensão do urbano por meio do estudo das representações


várias dos homens – no caso específico de Belo Horizonte –, como a literatura – um registro
bastante encontrado quanto a essa cidade. Assim, o próximo capitulo iniciará uma da
discussão teórica quanto à literatura, pois a literatura universal será usada para apontamentos
de novas fontes de informação para entendimento das cidades.

CAPITULO 2 – DA LITERATURA À CIDADE: A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO OU DO IMAGINÁRIO À


CONSTRUÇÃO .

A percepção das coisas ou dos lugares depende muito dos nossos desejos. Vemos recortes do
que nos interessa, enxergamos partes ou características que se assemelham às nossas
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vontades. Às vezes os lugares passam a ser recortes pessoais de nossas observações, e criam
assim conceitos pré-estabelecidos, que acabam sendo utilizado por nossas mentes em
percepções posteriores. Normalmente, são nestes momentos que fazemos registro oral ou
escrito de nossas idéias, o que pode vir a se tornar fomento para a literatura.

Assim, faz-se necessário o entendimento do que é literatura, mesmo que de forma superficial,
uma vez que assim como outros ramos do conhecimento ou mesmo das artes, fechar um
conceito torna-se uma tarefa muito complicada, pois envolveria intensos debates já
registrados e inúmeros outros a surgir. A idéia de aceitar a literatura apenas como arte não
facilitaria e também não tornaria mais fácil sua compreensão, uma vez que também a arte, não
possui um conceito fechado. É nesta linha de pensamento que Oliveira (2008), aponta a
dificuldade de se classificar não apenas a arte como também a literatura, o que segundo a
mesma já provocou inúmeras discussões. A citação abaixo apresenta melhor parte da
justificativa da autora.

Incluída nesse universo, a Literatura, cuja definição de qualquer forma sempre


desafiou seus estudiosos, esbarra na mesma dificuldade de conceituação. Mais
escorregadio se torna esse terreno após o advento dos estudos culturais. À
semelhança dos pesquisadores da arte, os adeptos mais fervorosos dessa corrente
crítica esquivam-se a formular critérios de valor ou a admitir a especificidade do
texto literário. A questão pode ser provisoriamente contornada se optarmos por uma
solução semelhante à adotada para a conceituação de arte, e recebermos como
literatura tudo aquilo que a comunidade interpretativa, através dos mecanismos de
publicação e de crítica, tenha rotulado como tal. Bem pode acontecer que o texto
assim valida do venha no futuro a integrar o cânone, mais do que nunca sujeito a
transformações. (OLIVEIRA, 2008, p.4).

Certamente a literatura possui inúmeros “fins”, sendo essencial não apenas como
entretenimento, mas principalmente como testemunho de culturas ou momentos históricos
pretéritos. Dentro das aplicações possíveis da literatura, o seu uso como forma de construção
de uma idéia, onde o indivíduo passa a encontrar alguma forma de contemplação ou de prazer
certamente é uma das mais desenvolvidas e manipuladas na atualidade e provavelmente muito
utilizada no decorrer da história.
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Para Chiaretto (2008) apud CANDIDO (2004, p.2), “... a literatura corresponderia a
necessidade de absorver, transformar e modificar a realidade, transmitindo idéias e emoções.”
Em outras palavras, a função da literatura iria muito além do simples entretenimento,
possuindo um significado bastante ampliado.

O uso que se pretende para a literatura neste trabalho vai muito ao encontro da afirmação
descrita acima, pois para entender as cidades através dos textos literários torna-se primordial
extrapolar o uso da literatura, e não apenas o uso artístico e lúdico. Uma vez que a literatura
garante o direito do saber aos seres humanos, o que segundo Chiaretto (2008) é o mesmo que
ser o bastião de defesa das liberdades, servindo quando bem aplicada ao esclarecimento e
sendo contrária ao “arbítrio do poder estatal ou de qualquer sujeito que se impõe como
mestre e senhor”. (CHIARETTO, 2008, p.2)

Aceitando então o uso da literatura como ferramenta para compreensão das relações sociais,
deve-se lembrar que, além de se prestar a este serviço, cabe à mesma documentar e em outros
momentos servir de campo para a atuação do imaginário, onde o individuo transforma a
realidade, enquanto na função anterior ela reproduz a realidade. Seguindo esta linha de
raciocínio, será justamente na execução desta outra, ou seja, na adequação da realidade a uma
forma atrativa do imaginário, que servira a mão contrária do que se disse ate então, ou seja, a
percepção e construção do espaço das cidades, certamente numa escala até mesmo pessoal.

Quando se apropria da citação abaixo e a apresenta em seu texto, Amorim (2001), tenta
explicar sobre a função da literatura. Para ele, apesar de estar no campo do imaginário, se
baseia no real para se estabelecer, ou seja as produções literárias não poderiam partir apenas
do abstrato, sendo necessário mesmo que em partes ou de forma exagerada se baseasse no
real.

A arte, e portanto a literatura, é uma transposição do real para o ilusório por meio de
uma estilização formal da linguagem , que propõe um tipo arbitrário de ordem para
as coisas, os seres, os sentimentos. Nela se combinam um elemento de vinculação à
realidade natural ou social, e um elemento de manipulação técnica, indispensável à
sua configuração, e implicando em uma atitude de gratuidade.(CANDIDO,
1972:53).Amorim 2001 pg .2
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A literatura, segundo Amorim (2001), é a utilização da linguagem não submetida ao poder,


pois esta independe de regras de estruturação para sua compreensão

Assim, construindo o texto de acordo com seus próprios desejos, o escritor consegue
que sua criação tenha uma novo valor – passa da simples utilização comunicativa da
linguagem à uma utilização artística da mesma – e um novo poder. O poder
assumido pela nova linguagem é um poder ligado ao novo valor artístico. A
linguagem literária assume aspectos de representação e demonstração. Através dessa
linguagem, pode-se refletir sobre a própria língua com liberdade. A linguagem
literária permite que as palavras assumam vida própria, com novas significações que
não aquelas a elas conferidas usualmente. A linguagem passa a ter “sabor”.
Enquanto no discurso científico a linguagem é direta e não permite ambigüidades,
na linguagem literária as palavras assumem novos significados e representações.
AMORIM, 2001, pag. 1.

2.1-Literatura e método.

Para o presente trabalho, que envolve análise de textos distintos, torna-se necessário o uso de
uma abordagem: a da teoria literária. Esta pode ser entendida não apenas como uma
comparação simples entre obras distintas, mas, uma confrontação, que tem como intuito
elucidar e fundamentar juízes de valores, normalmente inseridos na estrutura textual. Para
Carvalhal (2006), a comparação em literatura (a literatura comparada) é um meio, não um
fim. Portanto, a literatura comparada é uma ferramenta que facilita a interpretação, apontando
de alguma forma uma exploração adequada para obras de estilos e tempos diferenciados.

Diante de tais afirmativas torna-se essencial que no presente trabalho se faça uso destes
recursos, pois as fontes a que se pretende utilizar pertencem a momentos históricos também
distintos e de estilos diferentes.

A teoria literária decompõe e analisa o texto, indo além da simples narrativa, para tanto é
necessário uma contextualização, na qual é levada em conta a realidade espacial e temporal
em que a obra é construída, idéia compartilhada por Beluzio (2005), que acredita que os
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fatores externos, tornam–se relevantes quando influencia a estrutura interna do texto, que na
verdade são os fatores sócio-históricos significativos, existentes no período no qual a obra foi
idealizada.

No entanto, Candido (1991) acredita que a percepção do mundo na literatura, não é apenas
resultado do que se criou anteriormente, mas resultado da relação bi direcional que a realidade
tem com o registro existente. Ou seja, não apenas o real influencia o imaginário, mas o
registro deste imaginário, outras obras literárias, também podem vir a influenciar as novas
criações. Para tanto, basta se pensar que a cada nova criação artística tem-se a impressão de se
ver um novo mundo. Na verdade o mundo é o mesmo, apenas a percepção de quem o registra
é que mudou. No entanto esta nova percepção pode não ser tão nova apesar do real (espaço)
ser diferente, mas a maneira de se ver, ou seja, o método algumas vezes já foi experimentado.

Fazendo uso da teoria literária, Candido (1991), mostra como tal método – a literatura
comparada – pode servir como ferramenta em análise de textos que em uma apreciação mais
superficial, não se encontrariam relações. Para tanto, o autor analisa o livro O Cortiço de
Aloísio de Azevedo. A obra é apresentada de forma a mostrar a estrutura, onde as relações
dos personagens, suas características psicológicas são apresentadas, além de mostrar uma
estrutura literária, que dificilmente se apresentariam em uma análise superficial. Desta forma,
Candido (1991), desnuda a obra e prova que esta não é original, em relação à estrutura
literária, mas inovador ao descrever o espaço socialmente construído, numa região pobre do
Rio de Janeiro após meados do século XIX. A obra na qual foi retirada a idéia é a do Frances

Francês Emile Zola em sua obra L´Assommoir, também ambientada em um cortiço, porém na
França. Na citação abaixo compreende-se melhor a análise do autor.

Neste ensaio o interesse analítico se volta para um problema de filiação de textos e o


de fidelidade ao contexto Aloísio de Azevedo, se inspirou evidentemente, em L
´Assommoir, de Emile Zola, para escrever o cortiço, e por muitos aspectos o seu
livro é um texto segundo, que o tornou a idéia de descrever a vida de trabalhadores
pobres no quadro de um cortiço, mas um bom número de motivos e pormenores
mais ou menos importantes. CANDIDO 1991, pag. 112

Entretanto, Candido (1991) não exclui a importância da obra, uma vez que a mesma se pauta
na realidade carioca daquele período, ou seja na segunda metade do século XIX.
24

2.2- O uso da literatura na compreensão da cidade

Se até o momento foram apresentadas idéias de como extrair informações e referências de


textos literários para a compreensão da geografia no desnudamento das cidades, no entanto
nenhum autor fora da literatura técnica havia sido apresentado, portanto este trecho do
capítulo será dedicado a interpretação das cidades baseado na obra de Ítalo Calvino, As
cidades invisíveis.

A cidade, neste trecho, certamente assumira características mais humanas e menos técnica,
lembrando que o que se encontra transcrito são percepções do autor e, em muitos casos não
passaram pelo crivo critico de planejadores ou analistas sociais. Entretanto, fica claro que
estas visões mesmo desprovidas de um posicionamento técnico, servem de alguma forma para
uma visão próxima do indivíduo comum, pois Calvino consegue decompor em alguns
momentos a cidade de forma que características marcantes e ocultas saltem aos olhos,
mudando uma posterior percepção de seus leitores.

Calvino (2007) transmite bem a idéia de que as cidades, que muitas vezes são lugares,
superficialmente se apresentam por suportes materiais e por sua beleza, mas omite que seu
significado real vai muito além destas coisas. Analisar somente o aparato material, como
forma de entender as cidades certamente não seria o correto, faz-se necessário lembrar-se do
poema de Bertold Brecht, transcrito em parte a seguir.

“Quem construiu Tebas, a das sete portas?


Nos livros vem o nome dos reis,
mas foram os reis que transportaram as pedras?
25

Babilônia, tantas vezes destruída,


quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
na noite em que o mar a engoliu
viu afogados gritar por seus escravos.” Bertold Brecht, 2009.

Torna-se, desta forma, mais fácil compreender que todo o “aparato físico” das cidades são os
resultados pobres de um processo maior, onde seu próprio desgaste pode representar esforços
de uma sociedade que não para.

A cidade possui camadas invisíveis ao olhar, mas que são importantes para a compreensão do
produto final. De acordo com Calvino (2007), as cidades são ilusórias, produtos de nossas
vontades, ou mesmo resultado do que desejamos. Não se enxerga as mesmas em suas reais
formas, pois sempre se olha de ângulos únicos e muitas vezes com idéias já pré-estabelecidas,
então o que se faz é um recorte individual e sentimental.

Só se conhece uma cidade quando o próprio sujeito se perde nela, ao se seguir por caminhos
não marcados. A possibilidade de se encontrar as camadas ocultas são maiores, pois estas
normalmente estão ocultas para olhos desavisados.

As cidades, segundo Calvino (2007), são representações, símbolos que podem ser
apresentados por medidas físicas, espaçamentos e contornos, mas que vista corretamente, é
também uma memória que constitui parte de um conjunto ainda maior. O trecho a seguir diz
com nitidez:
26

Uma descrição de Zaíra como é atualmente deverá conter todo o passado de Zaíra.
Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito
no angulo das ruas, nas grades das janelas, nos corrimões das escadas, nas antenas
dos pára-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões,
serradelas, entalha esfoladuras. (CALVINO, 2007, p. 14-15)

Entretanto, o próprio autor deixa claro que as cidades não podem ser identificadas por padrões
pré-fixados, mas antes por suas exceções. Prova-se assim que elas se produzem por diferentes
ideias.

Apesar das ruínas das cidades servirem como memória de um passado ora glorioso e em
outros momentos de seu fracasso, elas servem apenas para provar fatos perceptíveis do
concreto. Raramente “contam” a verdadeira história de seus construtores, pois estas não
contam a história individual, mas os recortes de uma memória coletiva.

A imagem das cidades é composta por impressões particulares – individuais, grupais, sociais
– de quem as observam, apesar de se apresentarem concretas, com armações materiais com
curvas ornamentais e estruturas, não se mostram igualmente para quem as observa. Calvino
(2007) observa que muitas cidades apresentam-se ricas e bem ornamentadas, mas
normalmente suas maiores peculiaridades estão ligadas a algum aspecto antropológico, como
se as estruturas fossem o corpo e as memórias que as compõem a alma, ou mesmo a mente,
escondendo segredos e características ainda maiores.

As divisões e ordenações existentes na sociedade mostram um pouco das condições pré-


estabelecidas para a formação também das cidades. Regras e normas que não são discutidas
nem comentadas, ações e resoluções que servem apenas a uma pequena parte do todo.
Realmente as estruturas de algumas cidades seguem os sonhos, mas apenas de uma fatia do
todo.

Apesar das cidades serem mais idéias e sentimentos, ou seja, muito maiores do que se
apresentam, Calvino (2007) atenta para a maneira com que os homens tentam simplificá-la.
27

Assim, novamente algo que possui um significado muito mais amplo, passa a ser identificado
por um símbolo simples e muitas vezes ambíguo. Então, mesmo que mais tarde, seu
significado seja apresentado em uma longa narrativa, permanecerá na memória aquela
primeira associação.

Cabem apontamentos de que mesmo nas obras citadas, a cidade é produção (prática social) e
produto (materialidade, concretude em movimento), até para influenciar as impressões, os
olhares, os registros e escritos literários.

CAPITULO 3 – ANÁLISES DOS TEXTOS LITERÁRIOS

3.1-A cidade e o imaginário literário

O vigor da urbanização no século XIX na Europa Ocidental levou às cidades do mundo, ou


melhor, a seus dirigentes fomento para mudanças consideráveis no cenário urbano; a reforma
de Paris, que influenciaram outras reformas no mundo, certamente mexeu com o imaginário
de governantes e artistas do mundo todo.

Portanto naquele momento histórico, o modelo de cidade ideal desejado era representado por
Paris. Sabe-se que a reforma hausmaniana, foi exportada para todo o mundo, sendo a cidade
do Rio de Janeiro então capital do Brasil, esta também foi fortemente influenciada por tais
idéias, o cenário sócio cultural talvez não foi tão desenvolvido como o Parisiense, entretanto
era a cidade mais desenvolvida do país.

A reforma Pereira Passos só se realizaria algumas décadas depois, mas a cidade já tinha
grandes surtos de desenvolvimento, mesmo com uma elite agrária e escravocrata com idéias
ainda pouco modernizantes, as idéias vindas de além-mar já se apresentavam no cotidiano da
28

população. A cidade era não apenas o centro político, como o centro receptor de imigrantes
brasileiros e estrangeiros, que além de contribuírem na nova formação de uma classe
assalariada, trazia consigo fragmentos de suas antigas culturas.

Nesse cenário a literatura teve uma forte representatividade. Segundo Candido (2006), o
romantismo foi o estilo literário que mais influenciou, primeiramente com autores como Jose
de Alencar e Castro Alves, e suas obras nacionalistas, sendo o primeiro responsável pelo
indianismo europeu, que tinha como propósito criar figuras heróicas que representassem o
Brasil, como faziam os europeus. Isso comprova que o imaginário é sem duvida a grande
inspiração para a construção da realidade, ou pelo menos uma tentativa, esta vontade de
alcançar o sobre humano – o fantástico-, certamente permeou a mente de muitos citadinos
naquele período que viam a possibilidade de se alcançar a igualdade junto a outros povos,
desta forma as lendas e mitos tornaram-se fomento para inúmeras possíveis obras concretas.

No entanto, esta relação entre o imaginário e o concreto pode ser considerada uma via de mão
dupla, pois o concreto influencia o imaginário, assim como este pode também servir de base
para sua construção. Indo além, pode-se lembrar do que já inclusive foi relatado neste
trabalho- o imaginário, feito concreto nas obras pode ser também modelo para reconstrução
do mesmo, isto acontece quando uma obra literária serve de inspiração a construção de outra.

Para Miceli (2004) o processo de construção literária é influenciado pela origem social e
mesmo geográfica de seus idealizadores, sua cotidianidade certamente influenciara a
construção de seus personagens, e a espacialização de suas historias. O exemplo citado pode
ser do cortiço de Aloísio de Azevedo, que mesmo sendo apontado por Cândido como uma
obra com fortes fundamentações em outros trabalhos, reflete a realidade de um cortiço na
cidade do autor. Tal idéia é compartilhada por Oliveira e Vilela 2008. O literato afirma que,
ao narrar suas historias, utiliza partes que podem ser autobiográficas, o mesmo exemplifica,
citando uma obra de Humberto Campos.
29

Um levantamento bibliográfico poderia claramente apresentar comprovações de que aspectos,


fatos e mesmo funções que os escritores incluem em suas obras, se fazem ou se faziam
presentes em seu cotidiano. A inspiração desses autores, certamente, seguem de forma mais
aleatória e subjetiva do que a chamada ciência, entretanto extrair idéias da realidade pode ser
mais fácil do que concebê-las de um marco zero. As obras, por mais fantasiosas ou
improváveis que sejam, apresentam alguma ligação com a realidade, se não por uma realidade
concreta, mas por outra obra religiosa, mitológica que normalmente surgem da super
valorização de um feito.

O imaginário literário pode refletir o desejo, mas também as decepções, algumas vezes esta
pode se mostrar ainda mais importantes nas obras do que o sentimento inverso. Um bom
exemplo ocorreu na primeira fase do romantismo no Brasil, os escritores e poetas deste
período escreviam seus trabalhos voltados para si mesmos, retratando seus desejos
impossíveis, dos quais faziam parte amores impossíveis, e feitos improváveis. Tais atitudes os
levaram a uma fuga de realidade, bastante insalubre, desejo de morrer, neste período surgiu a
expressão “mal do século”; esta fase antecedeu ao naturalismo.

O imaginário pode se concretizar, possibilitado pelo pensamento (Lefebvre 1958). O


pensamento, em seu movimento, pode se estancar, ou seja, dar uma pausa que resulta em
obras e produtos como textos, resultados ideológicos e a verdade convencional, como
exemplo pode ser citado todo o produto intelectual, tais como livros, projetos e mesmo
ideologias. Entretanto, o pensamento não segue um cadencia linear, sendo improvável que se
encontre um início e fim do mesmo.

3.2-A cidade no ideário literário do século XIX (Paris e Rio de Janeiro)


30

Como comentado anteriormente, a literatura universal pode conter inúmeras obras que
contenham historias de caráter apenas lúdico ou “contemplativo”, mas que trazem em suas
entrelinhas informações úteis à interpretação da realidade. Por exemplo, a citação abaixo do
livro A cidade e as serras, de Eça de Queiros, traz um recorte de uma parte de Portugal onde o
autor tem a sensibilidade de descrever perfeitamente o espaço, que supostamente seria de uma
propriedade rural. O texto transmite a impressão de que a paisagem descrita encontra-se a
frente do leitor.

No Alentejo, pela Estremadura, através das duas Beiras, densas sebes ondulando por
colinas e vales, muros altos de boa pedra, ribeira, estradas, delimitavam os campos
desta velha família agrícola que já entulhava grão e plantava cepa em tempos Del-rei
D. Dinis. (QUEIROZ,1963, p.11)

Pelos detalhes escritos é possível extrair certo volume de pequenas informações que
certamente serviriam de fonte para pesquisadores, que tivessem o propósito de inferir sobre
atividades econômicas ou mesmo características físicas da região citada. Entretanto, na
seqüência, o autor chama para a vida o que seu personagem leva, enfatizando que o mesmo
preferia viver em um palácio em Paris do que naquela propriedade que pertencia a sua
família– mesmo que tivesse sido a da boa situação em que vivia. A citação a seguir esclarece
melhor a afirmação: “Mas o palácio onde jacinto nascera, e onde habitara, era em Paris nos
Campos Elíseos, nº 202” (QUEIROZ, 1963, pag.11), Por uma conclusão bem natura, a idéia
de civilização, para Jacinto não se separava da imagem de cidade, de uma grande cidade
com todos os seus vastos órgãos funcionando poderosamente.” (QUEIROZ, 1963, pag.20),
esta afirmação indica de certa forma a ligação que o personagem tem com o urbano, o que
pode ser entendido como negação ao rural e elitização do espaço em que vive atualmente a
cidade.

Na literatura brasileira, José de Alencar, outro romancista e talvez um dos primeiros escritores
de folhetins populares, descrevia em suas obras comportamentos e hábitos da sociedade
carioca no século XIX, que mesmo pertencendo a uma categoria menos intelectualizada da
literatura, o obra do autor permite a extração de informações úteis ao estudo sociológico
daquele período, inclusive sendo comentado por Candido (2006) e como na citação abaixo.
31

Tomemos um exemplo simples: o do romance Senhora, de José de Alencar. Como


todo livro desse tipo, ele possui certas dimensões sociais evidentes, cuja indicação
faz parte de qualquer estudo, histórico ou crítico: referências a lugares, modas, usos;
manifestações de atitudes de grupo ou de classe; expressão de um conceito de vida
entre burguês e patriarcal. Apontá-las é tarefa de rotina e não basta para definir, o
caráter sociológico de um estudo. (CANDIDO, 2006, p. 16)

Numa fase que na literatura é chamado de “Naturalismo” o escritor Aloísio de Azevedo,


escreve romances que, como apontado anteriormente, mostram na ficção parte da realidade
social de sua época. Este trabalho irá discutir partes de dois de seus romances.

Em O homem e o cortiço, Azevedo, narra a historia de uma jovem que descobre que seu
grande amor de infância, na verdade era seu meio irmão, desta forma o livro gira em torno da
trágica corrosão da sanidade da moça e as tentativas do pai e do médico da jovem, para que
esta tenha uma vida normal. No entanto, as suas frustrações levam-na à loucura, culminando
num final trágico, bem ao estilo naturalista. Em vários momentos o autor cria cenários onde o
espaço é representado, hora negando a cidade e em outros a exaltando. Na citação a seguir o
autor descreve um momento na Paris do século XIX, onde se percebe que o ideário de cidade
para o carioca daquele período seria representando pela “cidade luz” : Lembra-se que a
expressão corresponde à insígnia da Paris desde o iluminismo e perdura até os dias de hoje.
Novamente aparece uma referência às imagens de outros lugares que não no território
brasileiro, o que sugere a relevância das obras de literatura quanto aos diferentes lugares e sua
análise, a literatura comparada – como discutida no capítulo anterior.

A semelhança do Rio de Janeiro com outras grandes cidades, foi assim expressa, em outra
obra, pelo autor em destaque:

As multidões assustavam-na com a sua grosseira e ruidosa atividade dos grandes


centros de indústria e do comercio; o verminar das avenidas do boulevards, as
enchentes de teatro, a concorrência dos passeios públicos, as aglomerações das
oficinas e dos armazéns de moda, cheiro de carvão-de-pedra, o vaivém de operários
o zunzum dos hotéis, tudo isto lhe fazia mal. (AZEVEDO, 2005, p.49)
32

A idéia do pai de Magda, personagem do livro O homem, seria de levá-la a uma viagem pela
Europa, para que esta, talvez, pela mudança de ares ou por motivos emocionais, obtivesse
uma recuperação, uma vez que a mesma vem sofrendo de problemas emocionais.

Para Oliveira e Vilela (2008), a cidade do Rio de Janeiro enxerga nos primeiros anos do
século XX, inúmeras transformações resultantes do século anterior, que se apresentou como
um período de grandes mudanças, tanto nos âmbitos sociais, como políticos e culturais
servindo como fomento a frustrações dos escritores e assim refletindo em sua literatura. A
idéia de se atingir uma suposta modernidade era a esperança destes autores, que viam nas
mudanças estruturais uma forma do Brasil sair do atraso cultural e alcançar os padrões
europeus e, mais especificamente, o modelo Francês.

No entanto Lefebvre (2008), diz que a cidade não responde nem às vontades nem às
necessidades de seus ocupantes. O espaço urbanístico responde a um conjunto de normas e
regras dominado pela ordem próxima da vizinhança, ou seja, mesmo que se alcance mudanças
consideráveis, assim mesmo o espaço se moldara conforme seu entorno.

Assim, o lugar serve como complemento para as cidades. Caso contrário, o espaço, mesmo
que construído pela lógica funcional, a fim de suprir as necessidades de seus ocupantes não
seria atrativo ao indivíduo, o que prejudicaria a reprodução social. Novamente Aloísio de
Azevedo, através de seus personagens, parece negar a cidade do Rio de Janeiro, ou melhor,
seu centro como um espaço propício a melhora da personagem. No olhar desse, a cidade não
estava facilitando a melhora da doente Magda. Desta vez o conselho parte do médico para o
pai de Magda, pois na visão deste o estado de saúde de Magda se alteraria para melhor, se esta
mudasse de “ares”, certamente mais salubres:

Depois de praguejar contra todo o mundo e ralhar cuidadosamente com o


conselheiro, aconselhar a este que levasse a doente para outro arrabalde mais
campestre, onde não houvesse igreja perto de casa e onde ela pudesse estar mais em
liberdade e mais em movimento. E, logo que se sentisse melhor, convinha despertar-
lhe o gosto por qualquer ocupação matinal. Nada de belas artes, nem leituras:
exclamava o cirurgião – jardinagem, serviço de horta, jogos de exercício, como
brilhar, a caça, a pesca... (AZEVEDO 2005 pag. 57)
33

Percebe-se pela narrativa que o personagem, ao mesmo tempo que descreve o ideal de lugar
para recuperação de seu paciente, no seu imaginário, elege o campo como sendo melhor que a
cidade. Esta também foi uma idéia que durante muitos anos, esteve ligada ao imaginário
popular brasileiro, podendo ser citado como exemplo a cidade de Belo Horizonte, que durante
muitos anos foi chamada de “cidade jardim”, por possuir um clima supostamente mais
ameno, propício ao bem-estar dos doentes de tuberculose.

Como mais um detalhe importante da obra em foco, e que também pode servir como registro
para a compreensão da cidade do Rio de Janeiro no século XIX, é a apresentação do autor
onde o mesmo, mostra o bairro da Tijuca, fora do centro urbano e o classificando como
bucólico e com características rurais, percebe-se desta forma que a cidade, ainda que a mais
desenvolvida daquele período, no Brasil, tinha, em termos territoriais, o rural bem próximo ou
mesmo ainda inserido nela.

Já em O cortiço, Aloísio de Azevedo experimenta observar a cidade do Rio de Janeiro de


anglos diferentes. Seus personagens estão inseridos em camadas diferenciadas da sociedade
carioca do final do século XIX, desta forma ele percebe de forma mais apropriada
determinados aspectos, descrevendo melhor certas relações, que existiam nas camadas menos
favorecidas, ao contrario de Jose de Alencar seu contemporâneo, que em suas historias
apresenta a cidade e a sociedade, daquele período através das camadas mais abastadas.

O cortiço tem o seu dia a dia narrado na história, a descrição do espaço físico é bastante
explorada pelo autor transmitindo ao leitores uma idéia de como a cidade respondendo às
necessidades e mesmo a ganância, cresce de forma desordenada, servindo apenas às
necessidades mais básicas e emergenciais.

Em outros momentos, por interesse, o dono do cortiço, João Romão, passa a alterar a forma e
a dinâmica da construção, retirando o maior lucro de seu empreendimento. No decorrer da
34

historia a percepção do “rentismo” o ganho monetário que a propriedade da terra pode


propiciar – é perceptível no livro nos momentos onde João Romão altera o tamanho dos
barracos e em outro quando o mesmo resolve substituir o cortiço por uma construção “mais
nobre”. O trecho abaixo mostra parte da transformação do cortiço.

.... E assim como este, notava-se por ultimo na estalagem muitos inquilinos novos,
que já não eram gente sem gravata e sem metais. A feroz engrenagem daquela
maquina terrível, que nunca parava, ia já lançando os dentes a uma nova camada
social que, pouco a pouco, se deixaria arrastar inteira pra dentro...(AZEVEDO,
1981, p.141).

O interesse de um dos seus personagens principais, no caso João Romão, em vários momentos
apresenta-se como agente transformador da cidade, ora empreendendo as construções, criando
ou aumentando seu cortiço, ora tentando galgar nas posições sociais e se mostrando
intolerante com seus inquilinos, mesmo com aqueles a quem explorou para alcançar tais
posições.

O trecho a seguir mostra o primeiro instante onde o personagem, privando-se de qualquer


conforto ou luxo para partir de seus lucros fazer novos empreendimentos, no caso a
construção do cortiço.

João Romão não saia nunca a passeio, nem ia a missa aos domingos; tudo que rendia
a sua venda e mais a quitanda seguia direitinho para o caixa econômico e daí então
para o banco. Santo assim que, um ano depois da aquisição da crioula, indo em hasta
publica algumas graças de terras situada ao funda da taverna, arrematou-as logo e
tratou sem perda de tempo de construir três casinhas de porta e janelas. (AZEVEDO,
1981, p. 15)

Neste período, o personagem João Romão aproveitava da ausência do controle fundiário pelo
Estado e se valendo da esperteza, roubava de construções vizinhas materiais e ferramentas
para então tocar seus novos negócios. Aloísio de Azevedo traça assim parte do que seria a
expansão da cidade do Rio – a produção de sua periferia. No período pré-republicano e
escravista, já com algumas características capitalistas, o autor, apesar de enfatizar o caráter de
seus personagens, trás nas entrelinhas um perfil das relações sociais. O interessante é que, na
obra em foco, o autor mostra a todo o momento que o estado pouco se faz presente, com as
35

iniciativas nas poucas vezes apenas através do uso da força, inclusive a policial, para manter
uma posição ou atendendo a vontade dos mais abastados.

A grande contribuição da obra de Aloísio de Azevedo é a de conseguir apresentar uma


registro de um período de crescimento da cidade do Rio de Janeiro, ou seja, na segunda
metade do século XIX, de centro receptor de influências e idéias estrangeiras, principalmente
européias, o que fazia com que as transformações de seu espaço girassem em grande
velocidade e que mudavam sua paisagem consideravelmente. A idéia transmitida pelo trecho
abaixo extraído do livro o cortiço, exemplifica bem o crescimento e as transformações pela
qual passavam a cidade.

Entretanto, a rua lá fora povoava-se de um modo admirável. Construía-se mal,


porem muito; surgiam chalés e casinhas da noite para o dia; subiam-se alugueis; as
propriedades dobravam de valor. Montara-se uma fabrica de massas italianas e outra
de velas e os trabalhadores passavam de manhas e as aves Maria, a maior parte deles
iam comer a casa de pasto que João Romão arranjara aos fundos de sua varanda.
(AZEVEDO, 1981, p. 20)

3.3-Belo Horizonte: do produto ao lugar na literatura

Observa-se que Belo Horizonte, como exemplo dessa lógica, nasceu do planejamento
moderno. Seus marcos, seus limites, suas ruas foram previamente estabelecidos, seus
idealizadores acreditavam estar criando a cidade-modelo da recente República. Uma vez que
Ouro Preto não permitia grandes reformulações; sua demarcação física não facilitava a
construção de grandes avenidas ou bulevares como os parisienses, nem a possibilidade de
intervenções grandiosas, devido à existência de ladeiras e becos e de casas em morros.
Mesmos esses que, no entanto, serviram há tempos para os governos. Agora, não
interessavam mais aos planejadores da recente República. Foi necessária a produção de uma
nova cidade, num sítio mais propício à “modernidade”, muito festejada naqueles idos.
36

O individuo, ou seja, o componente humano, num processo como este, não é visto como se
deveria: normalmente são expropriados ou mesmo expulsos de suas terras, como foi o caso
dos moradores do antigo Curral Del Rei. Os planejadores, afim do sucesso de seus projetos,
reconhecem o espaço apenas como um “vazio a ser preenchido”. As pessoas são vistas como
multidão, como um fluido que deve ser liberado, quando necessário realocado, ou
transportado como o gado ou como objetos inanimados.

Quando Lefebvre (1991) chama o leitor a escolher um dia no inicio do século XX, onde o
mesmo deveria procurar mais fontes de informações sobre o ocorrido naquele dia, certamente
não se encontraria nas fontes convencionais nenhuma noticia de pessoas comuns a não ser que
estivessem envolvidas em algo muito importante. Como a pessoa comum não terá seus dias
contados nos livros de história, tampouco são considerados parte da mesma, normalmente são
considerados integrantes da multidão. A história dos moradores do antigo Curral Del Rei foi
muito pouco registrada. Pouco se encontra sobre a antiga ocupação do vilarejo, anterior à
capital, muito menos de cada morador, sendo esta uma informação oficial, apresentada
inclusive no portal oficial da prefeitura.

De onde se pode retirar então as histórias e registros que mostram o cotidiano, a vida real, o
indivíduo? Na verdade seria impossível guardar tais registros na sua totalidade. No entanto, a
literatura, através de suas várias ramificações, faz um registro não oficial de parte destas
memórias e, de certa forma, serve de apoio à história e aos demais segmentos do
conhecimento.

Bergman (1982) apresenta argumentos que embasam tais afirmações, pelo menos no caso da
“Paris de Baudelaire”. Seguindo no caminho inverso da multidão e da burguesia parisiense,
este adentra pelo submundo da cidade, ou seja, pelos lugares do povo e, daí, tenta mostrar a
cidade oculta por grandes obras e atrás do projeto dominante e moderno.

Na Belo Horizonte da década de 30 do século XX, inaugura-se um tempo histórico diferente.


Seus procedimentos são também refeitos por escritores e poetas. Logicamente que estes
relatos serão comuns em outros tempos e, mesmo hoje, é feito por outros literatos, inclusive
37

com publicações muito recentes. Os escritores mineiros do século XX e, principalmente das


três primeiras décadas daquele século, no decorrer de seus trabalhos acabaram contribuindo
para o registro de parte da memória da cidade. Como dito anteriormente, o fizeram de uma
forma não oficial.

Por exemplo, Ciro dos Anjos (1937) mostra, já nas primeiras linhas de seu livro e através de
seus personagens, a insatisfação dos mesmos com a jovem cidade de Belo Horizonte,
planejada para a função administrativa, se a capital do Estado de Minas Gerais. O autor se
utiliza de um de seus personagens para compará-la a Paris, não pela grandiosidade, mas pela
falta de lugares para a diversão.

Em vários trechos do texto, a cidade é apresentada ora por personagens boêmios e outros
momentos pelo personagem principal, Belmiro, que mesmo não sendo pertencente à classe
mais abastada, também não faz parte da mais humilde.

Os personagens de Ciro dos Anjos, mesmo estando nos locais onde se encontram e se
divertem as classes menos abastadas, não praticam as mesmas atividades sociais dessas. Ao
citá-las, o autor mostra-as a certa distância de suas vidas. Mesmo Belmiro, que aparentemente
não era mais detentor de grande fortuna, mantinha-se distante, demonstrando conhecer este
mundo, mas deixando claro que sua esfera era outra.

O trecho:“ .. fiquei rente do cego da sanfona, não sei se ouvindo as suas valsas ou se ouvindo
outras valsas que elas foram acordar na minha escassa memória musical (p. 33), mostra
Belmiro transitando pelas ruas de Belo Horizonte absorto em seus pensamentos, mas o mais
importante é como ele percebe parte do movimento: das ruas, seus integrantes. Mesmo tendo
o pensamento em outros lugares o personagem não deixa de citar o encontro que tem com um
sanfoneiro cego, que lhe reforça as lembranças de um outro tempo. Mesmo tocando um
instrumento musical, o cego não é considerado um artista pelo personagem, que o considera
apenas como um pedinte.
38

Em outra esquina, logo em seguida, Belmiro encontra outro sanfoneiro e a este chama de
artista, não pelos critérios artísticos do mesmo, mas porque este não se valia da arte para
sobreviver. “Era precisamente por ali que estacionaria outro sanfoneiro que não esmolava
nem era cego e tocava apenas por amor a arte, ou talvez para chorar as mágoas.” (p. 33).

Como nas citações acima percebe-se que, mesmo esmerado no chamado cotidiano, Belmiro
não se sentia parte dele, não se via como proletário ou como integrante das classes menos
abastadas, de seu grupo de amigos e mesmo de vizinhos. Certamente a arte literária imita a
vida, pois assim também eram os escritores mineiros dos anos da década de 1930: apesar de
escreverem e verem a cidade do meio da multidão, como Baudelaire no século anterior,
claramente não eram do povo; apenas transitavam por eles.

De certa forma Bergman (1982), mostra, nas palavras de Baudelaire, e em suas próprias,
como a arte apesar de liberária, também pertence à burguesia,

O motivo burguês fundamental, aqui, é o desejo de progresso humano infinito não


só na economia mas universalmente suas esferas da políticas e cultura. Baudelaire
assinala ao que ele sente como a criatividade inata e a universidade de visão dos
burgueses uma vez que eles são impelidos pelo desejo do progresso na indústria e na
política, estaria aquém de sua dignidade parar e aceitar a estagnação em arte”
(BERGMAN, 1982, p.131).

Assim, a arte também serve à burguesia e ao processo de dominação, mesmo praticando certa
liberdade.

3.3.1.Percepções de Belmiro/Cyro dos Anjos


39

Belmiro idealiza a cidade ao mesmo tempo em que nega ele idealiza um lugar que possuía o
melhor dos dois, pois percebe na cidade de Belo Horizonte o lugar em que vive, em que se
diverte. Mas, ao mesmo tempo, não é de onde ele tira suas melhores lembranças o prazer esta
num tempo diferente e principalmente num espaço diferente, aparentemente é em Vila
Caraíbas que ele encontra a felicidade:

“inútil tentativa de viajar o passado, penetrar no mundo que já morreu e que, ai de nós,
se nos tornou interdito, desde que deixou de existir, como presente, e se arremessou
para trás. Vila Caraíbas, a montanha, o rio, o buritizal, a fazenda, a gameleira solitária
no monte – que viviam em mim , iluminados por um sol festivo em 1910...” ANJOS
pag 96.

Ciro dos anjos remete o personagem Belmiro para o que lhe trazia mais felicidade. Não que
Belo horizonte não fosse o local onde Belmiro gostaria de estar, mas o verdadeiro sentido de
lugar para o personagem é aquele em que ele encontrava a felicidade e onde a paisagem e seus
componentes lhe traziam significado.

Entretanto, ele via na cidade uma maneira de mudar, pois via na cidade as oportunidades de
mudanças. Belmiro considerava o meio em que viveu, no caso Vila Caraíba, como influência
negativa para a formação dos indivíduos. Talvez esta seja uma influência sofrida pelo autor,
acreditando que o meio seja o fator determinante na formação do individuo. Idéia semelhante
parece se expressar via “Jeca Tatu” personagem de Monteiro Lobato em Urupês – no caso o
homem rural pobre e doente.

“O que a meus olhos surgiu foi a sombra miserável de um tempo que morreu. O sertão
estraga as mulheres e a pobreza as consome. Mas, a devastação maior lhes causa
porventura a nossa imprudência, querendo cotejar com a realidade as invenções de
uma desenfreada fantasia...” (ANJOS, pag. 97)

Entretanto, o próprio autor nega que o espaço seja o responsável pelos problemas para este é o
tempo em que não é o mesmo por isto a infelicidade de Belmiro e suas irmãs. Mas em trechos
anteriores o autor, através de outros personagens, nega e idealiza a cidade; o que lhe trazia de
conforto maior na cidade era impessoalidade de alguns momentos. Apesar de Belo Horizonte
ainda engatinhar nos idos da década de 1930, já possuía, segundo a obra agora em foco,
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multidão onde o cidadão podia se converter em citadino e desaparecer ou se ocultar, num


anonimato inconcebível em Vila Caraíbas.

Os dias de festa coletiva, introduzo o elemento multidão na minha esfera e


propondo-me novos espetáculos ou novas sugestões, interrompem o equilíbrio do
meu pequeno mundo e nele vem produzir desnivelamento que suscitam mais fundos
movimentos interiores.

Neste carnaval de 1935, hoje começado, mais do que nunca me senti de modo tão
vivo a impossibilidade de me fundir na massa, de seguir, como célula passiva, seu
movimento de translação, de receber e transmitir essas forças misteriosas que atuam,
comunicando-se de individuo para individuo e resultando, afinal, numa força
uniforme, esmagadora, de força ou ciclone. (ANJOS, 2001, p. 35)

Percebe-se que o fenômeno da multidão, para o autor, permitia o anonimato mas,


contraditoriamente, no momento da festa, aproximava os indivíduos que se viam desprovidos
de preconceitos e de regras morais, se encontrando assim em comunhão, pois a contradição é
apenas aparente: o anonimato implica em não precisar ter medo dos julgamentos e
condenações dos familiares, amigos e das instituições, como a Igreja.

A grande contribuição da obra de Ciro dos Anjos está em descrever tão bem as percepções de
um belo-horizontino, no caso de Belmiro que adotou a cidade, pois não nasceu na mesma.
Mas este a vivia em seu cotidiano e a percebia a seu modo. Tais percepções são descobertas
relevantes ao conhecimento de Belo Horizonte, pois não estão descritas em livros ou em
jornais, são registros de um período e de uma cidade. Certamente que o personagem e ao
autor se assemelham, uma vez que, em Ciro dos anjos, tal cidade é mostrada como uma
cidade nova sem os problemas da metrópole: seus moradores ainda se conhecessem e os
vizinhos ainda se encontram nas ruas, têm relações amistosas, preocupam-se uns com os
outros. A contribuição da obra de Cyro dos anjos é justamente esta retratar uma memória da
cidade em um tempo que os registros não eram tão atentos à vida e às expressões dos
citadinos, como ainda não são. Mostra que as relações eram diferentes das praticadas pelos
homens de decisão, os governantes, e os de execução, os engenheiros e os funcionários
públicos. Para os migrantes, entretanto, a capital não era o lugar que estes “novos belo-
horizontinos” idealizavam: o campo ainda esta presente em seu cotidiano.
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4- CONSIDERAÇÕES FINAIS.

A pesquisa acadêmica segue um caminho inicialmente planejado, onde o todo se inicia com
uma conversa ou uma idéia. No entanto, tanto a conversa como a idéia seguem caminhos
subjetivos. Assim pensar todo o trajeto que se realiza do início da pesquisa, ou seja, da
primeira idéia, passando pela primeira orientação ate chegar às referências bibliográficas, é
um longo caminho.

Para um aluno de graduação este caminho se torna ainda mais complicado, pois juntamente
com todo o trabalho, ainda tem-se que preocupar com fechamentos de outros compromissos,
mesmo assim faz-se necessário envolvimento, compromisso e muita leitura.

O presente trabalho seguiu uma linha semelhante ao descrito nos parágrafos anteriores
surgindo de uma idéia, a princípio, subjetiva, e bastante pessoal, mas que em seu percurso
mostrou-se trabalhosa e complexa. O planejamento é somente o início do trabalho, predizer
tudo que possa vir a ocorrer seria insanidade e cumpri-lo, sem alterações seria uma distorção
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da realidade. Desta forma a conclusão que pode se chegar é que ao se iniciar uma pesquisa,
como esta, tem-se apenas a certeza de que ocorreram imprevistos, mudanças e contratempos.

Compreender a cidade é uma tarefa difícil, mesmo quando se percorre um caminho técnico,
como o praticado pela geografia e demais áreas do conhecimento. Assim, o primeiro passo
seria delimitar, dentro das possibilidades, o que seria a cidade – origem e desenvolvimento ao
longo da historia – para alcançar o objetivo principal que seria apontar, em textos literários, a
contribuição da literatura universal para a compreensão das cidades.

O longo e ardoroso caminho a se percorrer mostrou-se possível, quando se fez necessário


conhecer a literatura, mesmo esta possuindo suas próprias questões, temáticas, ferramentas de
análise etc. Escolher apenas uma e que fosse adequada para a tarefa proposta, fez com que
novas idéias surgissem dando novo fôlego à pesquisa. A literatura comparada foi a escolha
mais apropriada, apesar desta por si só já permitir possíveis inúmeros trabalhos acadêmicos
como o apresentado aqui.

Ter um contato com métodos fora de prática científica em que estamos inseridos pode parecer
complexo, pois em determinadas situações, vemo-nos condicionados a um tipo de idéias ou
mesmo a linhas já pré-determinadas. Mas no caso deste trabalho foi muito empolgante, pois
além de ser uma ótima ferramenta para analise de textos literários, a literatura comparada
mostrou-se agradável de ser manuseada, mesmo que superficialmente, além de permitir as
analises de textos bastante distintos.

A consideração do imaginário neste trabalho – uma das palavras mais utilizadas neste trabalho
não seria exagerada, pois é justamente este o fomento de toda a idéia apresentada, o
questionamento se a cidade é produto do imaginário ou se em algum momento está a
influenciá-lo. A conclusão a que se chega é de que esta é uma via de mão dupla e, com uma
possível marginal, “na paralela”, o processo mostra-se dinâmico, pois ora a cidade fornece
atributos que influenciam a idealização de um espaço imaginário ideal e, em outras, os
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indivíduos transformam o espaço naquilo que lhes tragam sentido, sendo um bom exemplo o
lugar.

A marginal citada acima corresponderia à idealização derivada de outras obras. Assim como
na literatura, a idealização pode se inspirar em algo que já foi construído, mesmo este não
sendo concreto. Muitas vezes, apenas se apropriando da estrutura do que já existe como, por
exemplo, a relação percebida por Antônio Cândido sobre o livro O Cortiço, de Aloísio de
Azevedo, e a obra de Emile Zola, como citado por este trabalho.

Como relatado anteriormente, predizer o que pode se encontrar na pesquisa é complicado,


entretanto uma afirmativa é certa: a primeira idéia normalmente apenas arranha a superfície
do que pode surgir no decorrer do processo. A crença de que a literatura contribuiria para o
entendimento da geografia sempre existiu e foi o ponto de partida, mas ao findar a pesquisa, a
impressão que fica é de que esta contribuição não é apenas exceção, mas regra, pelo menos no
romance.

A relação entre personagem e autores em alguns casos vai além do exercício de produção
textual, o que se percebe é que alguns personagens possuem características muito semelhantes
à de seus idealizadores. Analisando o caso do personagem principal de Cyro dos Anjos,
Belmiro, percebe-se neste uma busca além de seu cotidiano, o personagem parece refletir
angustias e decepções de um indivíduo real, algumas destas características se assemelham
muito as do próprio autor.

No entanto, partes destas características se encaixam em pessoas que conhecemos


normalmente, o que leva a comparações possíveis, por exemplo, mesmo estando em tempos
históricos diferentes é possível identificar um personagem que se pareça com um conhecido,
um vizinho ou mesmo um parente. Esta afirmação se mostra possível pelo processo ao qual se
passa o pensamento, e muito pela seletividade e subjetividade da memória.
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Mesmo caso quando se analisa a obra de Aloísio de Azevedo, O cortiço, quando o leitor se
envolve nas narrativas feitas sobre o espaço físico do mesmo, percebe-se características muito
semelhantes com as encontradas neste tipo de ocupação nos dias de hoje, mesmo a historia
tendo sido ambientada no século XIX.

Na medida do “impossível”, talvez devido ao tempo curto, para um trabalho acadêmico como
este, a impressão que se fica ao findá-lo, como documento, não como pesquisa, é de que ainda
existem inúmeros pontos a se explorar, caminhos que devem ser seguidos, mas que por razões
institucionais ficaram na expectativa de investimentos futuros, certamente atendendo não mais
a uma formalidade, mas como uma prazerosa ocupação.

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