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Direitos Reais — Casos Resolvidos nas Aulas Praticas [3° Ano] I~ Principios Gerais de Direitos Reais ———— Hipétese n® 1 Hipstese n° 2 Hipdtese n° 6. Hipétese n° 7 I~ Publicidade: a protecetio registra nnn 1B Hipstese n° 8 Hipétese n° 9 Hipotese n* I Hipétese n° 1 HI~A Posse. Hipétese n° 1 Hipdtese n° I Hiipétese n° I Hipétese n° 2 IV—A usueapito —————— Hippétese n° 21 Hipétese n° 22— Hipétese n° 2: Hipétese n° 2 V~ Causas de extincdo dos direitos reais- Hipétese n? 25 Hipétese n° 26-——— Hipétese n° 2 VI— Factos constitutivos do direito de propriedade ————————————-—— $1 Hiphtese n° 2 Hipétese n° 29— Hipétese n° 3 VIE— Diretto de propriedade—————______—_-—_______-57 Hipétese n° 3 Hipstese n° 3 Hipstese n° 3: Carlos Femandes ~ 2005/2006 Direitus Reais: I— Principios Gerais de Direitos Reais [Hipétese n° 1) = Principios Gerais de Direitos Reais : 4 : z Hipétese n* 1 lustragao 1 A, proprietério do automével X, acorda com B a venda do mesmo a este pelo prego de 10,0006. [Nos termos acordados, o preco seria pago 3 meses depois e a entrega da coisa efectuada 30 dias apés ‘a conclusao do contrato. A entrega o automével a B no prazo acordado, mas este nao pagow o preco. Entretanto, B doow o automével ao seu sobrinho C, que desconhecia o contrato entre A e B. A pretende agora que C the entregue 0 carro, alegando que o contrato de compra e venda celebrado com B nao foi cumprido, Esclarega quem é 0 proprietirio do automavel, Aspectos a considerar: 1. Da validade do contrato entre A e B 2. Da validade do contrato de doagio entre B e C 3. Da pretenséio de A relativamente a C tee 1, Da validade do contrato entre Ac B AB celebraram enire eles um contrato de compra e venda do automével ~ 874. O negécio & Iicito, fisica e legalmente possivel, nfo contrério A ordem piblica e aos bons costumes, tendo por ‘objecto coisa presente e determinada — 280, 400. A tinha legitimidade para alienar 0 automével, uma vez que era seu proprietirio — 892 a contrario. Trala-se de um contrato real quanto aos efeitos (quoad effectum) ~ 879/a), pelo que, tendo negécio eficdcia real, a propriedade transmite-se no momento da celebragio do contrato — 408/1 879/a (principio da consensualidade), © B no pagou o prego, no entanto, a falta de pagamento do preyo nfo da ao A o direito de resolugdio do contrato ~ 886. Conclustio: B adquiriu a propriedade do automével no momento em que celebrou 0 contrato, independentemente de nfo ter pago o prego ~ 408/1 ¢ 879/a). 2. Da validade do contrato de doagio entre Be C B tinha legitimidade para doar o carro a C, uma vez que era seu proprietério desde que celebrou ‘0 contrato de compra e venda com o A — 408/1 ¢ 879/a). ‘A eficicia real da doagao de coisa mével, quando néo tiver a forma escrita, exige a tradiglo da coisa (sendo um contrato real quoad constitutionem). O emunciado é omisso quanto a forma da doagio de B a C: oral ou por escrito, No entanto, independentemente deste aspecto, podemos concluir que houve tradig&io da coisa, uma vez. que A vern Carles Fernandes ~ 2005/2006 | 2 Direitos Reais: T— Princfpias Gerais de Direitos Reais [Hipstese n° 2) cexigit de C (€ nao de B) a entrega do caro. Tendo havido tradigtio da coisa de B para C, houve aceitagio da coisa doada ~ 945°, pelo que C adquiriu o direito de propriedade sobre 0 carro no momento da entrega deste, independentemente do momento da celebragao do contrato — 954/a). Logo, 0 carro é deC. 3. Da pretensio de A relativamente a C A pretensio de A nio tem raziio de ser: ele nfo pode exigir de C a restituigio do automével, uma vez. que este ¢ 0 titular do dircito real de propriedade sobre o mesmo. O que cle tem & um direito de erédito sobre B por falta do pagamento do prego, a exigir nos termos do art, 817° e no através da cgi de reivindicagao prevista no art. 1311° (aplicdvel apenas a diteitos reais). Vi nto seria assim se 0 negécio entre A e B nfo tivesse produzido o efeito real de transferéncia da propricdade, caso em que C nifo poderia opor 20 A o principio da “posse vale titulo”, pois este nfo vigora em Portugal (ao contrério da Franga e outros ordenamentos juridicos...) Bastaria ao A, neste caso, fazer prova da sua propriedade para que o carro lhe devesse set eniregue, independentemente dos negécios ¢ vicissitudes que levaram a coisa a entrar na posse do C. Hipdiese n® 2 a Ae B celebram um contrato de doagdo de um anel. Com efeito, Abel, fabricante de anéis, possui 3 anéis consigo ¢ decidiu doar um a B. Contulo, nao ficou esclarecido entre as partes qual dos 3 andis era o doado. Dois dias depois, antes que A procedesse & entrega do anel a B, o primeiro vendeu a C um dos anéis que tinha na sua posse, B reclama que esse anel é seu e prepara-se para interpor uma acgdio de declaragdo de nulidade com fundamento em venda de bens alheios. Esclareca se B tem razito, Aspectos a consider: 1. Da validade do contrato de doagio 2. Da modalidade da obrigagao 3. Do momento da transmissto da propriedade 4, Da pretensfio de B wee 1, Da validade do contrato de doagio A doagio de coisa mével que no seja acompanhada da tradigdo da coisa s6 pode ser feita por escrito (947). Logo, a presente doacdio s6 nio seré nula por vicio de forma (220) se tiver sido feita por escrito, Admitamos que assim é, para efeitos académicos. 2. Da modalidade da obrigagio Bm que modalidade do obrigagbes se integra a doagio sub judice? A obrigagfo € indeterminada, regendo nesta matéria as regres do art. 400, Mas seré cla Carlos Fernandes 2003/2006 Direitos Reais: I ~ Principias Gerais de Direitos Reais _[Hipétese n° 3) genérica? Ou alternativa? ‘Nao 6 modalidade de obrigagbes alternativas (543), uma ver. que existe apenas uma ¢ niio duas ou mais prestagdes alternativas de natureza diferente. ‘Nao se oferece clara a distingfio, mas a explicago do assistente relativamente aos cinco quadros de Vieira da Silva é uma situagio paralela e que este classificou como “obrigagdo genérica de género limitado”. Sendo assim, a transferéncia da propriedade do anel doado néo segue o regime do art. 408/1 (princfpio da consensualidade), integrando-se antes numa das excepedes do n° 2 deste artigo, que ‘manda aplicar 0 regime previsto nos artigos 539 e ss. 3. Do momento da transmissio da propriedade Nas obrigagdes genéricas a transferéncia de propriedade verifica-se apenas com a concentragiio da obrigagio e esta dé-se com o cumprimento, cuja regra é a entrega da coisa (540 e 541), ‘Nilo tendo sido entregue a B qualquer dos trés anéis antes da venda de um deles a C, nfo se dera ainda a concentrago, permanecendo o direito de propriedade sobre os trés anéis na esfera juridiea do doador (A). Logo, A no vendeu bens alheios, mas proprios, nao se verificando a nulidade prevista no art, 892 ~ 540, ‘Mas jé no poderia vender o terceiro, pois no momento em que vendesse o segundo o género cextinguir-se-ia ao ponto de restar apenas uma das coisas nele compreendidas (um anel) e este ser 0 niimero exigido satisfagio do credor, considerando-se, neste caso, que se deu a concentragao antes do cumprimento (541). 4. Da pretensio de B B nfo tinha razfo ao afirmar que o ancl que 0 A vendeu a C era o seu, tanto mais que a escolha ‘cabia ao devedor (A) ¢ a propriedade s6 transitava para a sua esfera jurfdica com a concentragio, nfo tendo esta ocorrido até ento, Hipotesé 0°3° A celebrou com B um contrato de compra e venda do imével X pelo prego de 500.000€. No contrato convencionou-se a reserva de propriedade a favor de A enquanto o preco niio fosse pago ¢ a entrega do prédio no momento da conclusdo do contrato. O prego deveria ser pago em 3 prestagées, a tiltima das quais 6 meses apés a conclustio do conirato. Este contrato foi registado, incluindo a cldusula de reserva de propriedade. ‘Trés meses depois, A vende a C o direito de propriedade, obrigando-se a entregar 0 prédio 6 meses depois Uima semana depois do contrato celebrado entre A e C, B vende a propriedade do prédio a D. No prazo de vencimento da tltima das prestagdes, B cumpre, pagando a parte do preco em divida. @) Quem é 0 proprietario do prédio X e desde que momento? 8). Supondo que B néo pagasse a tltima prestagdo ¢ estivesse impossibilitado de o fazer, quem ‘seria entdo o proprietério do imbvel? Carlos Fernandes ~ 2005/2006 Direitos Reais: 1 Principias Gerais de Direitos Reais [Hipsese n° 3) Esquema dos negécios: Aspectos a considerar: 1, Dos efeitos da reserva de propriedade 2, Da validade do contrato entre Ae C 3. Da resposta a questo da alinea b) eee 1.Dos efeitos da reserva de propriedade 1— 0 contrato de compra e venda A — B tem eficdcia real diferida, mantendo-se o direito de propriedade sobre o imével na esfera juridica do vendedor até a0 pagamento integral do prego, a realizar seis meses apés a celebragio do contrato, por efeito da reserva de propriedade ~ 409, Sendo o prego pago, como o veio a ser, a reserva de propriedade a favor de A extingue-se, 0 que desencadeia a transferéncia do direito de propriedade para a esfera juridica de B. A questo que importa agora dilucidar é a de saber a partir de que momento se deve reportar a transferéncia da propriedade: se ao momento em que se verifica o cumprimento total da obrigago de B, se A data em que este celebrou o contrato com A. Ou soja, a pedra de toque é saber so a eficécia real resultante do pagamento do prego, que poe fim a reserva de propriedade, opera a partir de ento ou retroage a0 momento da celebragaio do contrato, Tl — 0 Prof. defende a retroactividade; Menezes Leitio nega-a: Para Menezes Leitio, o que sucede & que B, comprador com reserva de propriedade, é titular de tum direito real de aquisigdo oponivel a C, que adquiriu o direito depois dele. A cficdcia real dé-se apenas com o fim da reserva de propriedade e opera apenas para o futuro. Isto gora, segundo o Prof. Coelho Vieira, um efeito inconveniente: quer B quer C tomam-se proprietérios da mesma coisa ‘imével! Para 0 Prof. Coelho Vicira, pelo contririo, a verificagao do evento de que depende a reserva de propriedade faz, retroagir os efeitos da compra e venda ao momento da celebragio do contrato, Carlos Fernandes ~ 2005/2006 | $ Direitas Reais: I— Princpios Gerais de Diritas Reais [Hipotese n° 4) ‘operando-se entifo a transmisstio da propriedade nos tormos do art, 408/1 e 879/a). B passa a ser proprietario do imével com efeitos reportados ao momento da celebragtio do contrato de compra e venda com A. O evento a que as partes subordinam a reserva de propriedade, embora no o sendo em sentido téenico (desde logo por nio se tratar de facto futuro incerto ~ 270), funciona como uma condigao suspensiva, 2. Da validade do contrato entre A eC Este contrato & nulo por falta de legitimidade do vendedor (892), uma vez. que quando A vendeu ‘8 C jf nfo era proprietério da coisa. Sendo 0 contrato nulo, nada foi transmitido da esfera juridica de A para C, tanto mais que nada havia para transtnitr. Em contrapartida, 0 contrato de compra e venda entre B e D é perfeitamente valido © produz, efeitos no momento da celebragio do contrato (por retroactividade), 3.Da resposta & questiio da alinea b) ‘Uma vez. que a resposta & primeira questo j4 foi dada, resta ver 0 que sucederia se a hipétese da alinea b) se verificasse. ‘Se 0 B niio tivesse pago o prego ¢ estivesse impossibilitado de 0 fazer, onto a propriedade manter-se-ia na esfera juridica do A, sendo a venda deste a C perfeitamente valida ¢ produzindo os seus efeitos A data da celebragiio do contrato — 408/1 e 879/a — mas s6 depois de confirmada a no vorificagio do evento de que dependia a reserva de propriedade e a impossibilidade de tal verificago vir a ocorrer no futuro. [Nesse caso, 0 contrato entre A —B seria valido mas ineficaz, nfo chegando a producir os efeitos esperados, enquanto que 0 contrato entre B —D seria nulo, por falta de legitimidade do yendedor ~ 892, Hipotese n°4 > Por contrato de compra e venda, A vendeu a B um direito de enfiteuse pelo prazo de 20 anos. No contrato, as partes estipularam que o direito em causa, ndio obstante ter sido revogado em 1977, se regularia pelo regime em vigor até essa altura. @) Esclareca a validade deste contrato: 3) Suponha agora que o direito de enfiteuse era admitido pelo ordenamento portugués, mas com contetido diverso daquele que as partes estipularam. Quid juris? Aspectos a considera Alinea a) 1. Da tipicidade dos direitos reais Carlos Fernandes ~ 2005/2006 Direitos Reais: I — Princfpias Gerais de Direitos Reais [Hipotese n° 4) Alinea a) —¥ 1. Da tipicidade dos direitos reais (apontamentos da Marina) © contrato é nulo nos termos do art. 280 —violaglo da tipicidade legal, HA conversio legal do nogécio nos termos do art. 1306/1: o negécio é nulo como real, mas Subsiste como direito obrigacional — direito de crédito, Esta conversio opera se houver natureza crediticia no contrato. Azt. 1306/1 ~ 0 Principio da tipicidade dos direitos reais implica que as partes nfo possam criar ‘novos tipos de direitos reais por contrato. Direito real de habitago periddica — direito real de gozo nao tipificado no CC. Direito do locatério: sera um direito real ou um direito de crédito? Prof. Menezes Co Cordeiro © Oliveira Ascensio defendem a sua qualificagio como direito real, com base na interpretagto e'nio do’ legislator. Dat-que-possam-ser qulificados tomo-dieitos reais sent her iii especificagio: Direitos ‘menores, como figuras decompostas do direito de propriedade. “Golocagto sistematica do preceito em relagdo A propriedade. A imterpretagio do art. 1306 tem de ser feita ora restritivamente ora extensivamente, Fora do catélogo loge as partes néo podem criar direitos reais. (apontamentos do Renato) Nulo como nogécio real, subsiste como direito de crédito, ficendo a ser regulado pelo regime do direito das obrigagées, por forga do art. 1306/1 in fine. © titular de um direito de propriedade pode constituir direitos reais menores ¢ no ao dosmembramento do direito de propriedade. A criago de um direito real menor sobre um direito real menor chama-se oneraca0. Alinea b) (Apontamentos da Marina) principio da tipicidade (que abrange quer a escolha do direito real quer do seu contetido) nto assenta na escolha de um direito real nfo constante do catélogo. Cada direito real tem um contetido injuntivo que permite autonomizé-lo face aos outros, = aeianeeans as ‘As partes niio podem escolher um direito real © nfo estabelecer 0 seu contefido, As consequéncias sio as mesmas da alinea a). (Apontamentos do Renato) Tem a ver com o tipo de direito real. As partes n&io podem estabelecer um negécio com conteiido diverso do tipo de dircito real consagrado na lei. Principio da tipicidade outra vez de outra perspectiva. Respeito pelo contetido de aproveitamento da coisa de acordo com 0 tipo de dicito real. ‘ Carlos Fernandes ~ 2005/2006 Direitos Reais: I- Prinipios Gerais de Direitos Reais [Hipdtese n° 5] Hipdtese n° 5 : : Bae A, proprietirio e possuidor do automéyel X, foi vitima de furto praticado por B. Este, com 0 carro em seu poder, vendew o mesmo a C, que desconhecia o furto. Dois meses depois do furto, C doou 0 automével X ao seu sobrinko D. Em Novembro de 2005, A vem a saber que 0 carro se enconira com D e pretende reavé-lo. @) Quem é 0 proprietirio do automével? 1). Fundamente com 0s prinelpios juridico-reais conhecidos a possibitidade de A fazer valer a sua propriedade contra D, nomeadamente se A tem de impugnar os negécios juridicos celebrados entre Be C ¢ entre Ce D. Aspeetos a considera 1. Da figura da “posse vale titulo” 2. Do prinefpio da absolutidade see 1. Da figura da “posse vale titulo” -se que 0 automével continua a ser propriedade de A, independentemente dos OE ObJeCt, Celebrados apOS vO Tirko do Mesmio. Tsid sucede assim porque em Portugal nfo vigora o principio da posse vale titulo: easo contrario, C, que adquirin a posse de boa fé, poderia opor este principio ao proprietirio do automével. A aquisigaio de um direito real depende de um facto juridico valido — principio da causalidade. Logo, neste caso néio hé transferéncia de propriedade, sendo a boa ou mé fé irrelevantes. Quer 0 contrato B - C quer o C —D so nulos, por violagdo do prinefpio da causalidade. Concretamente, 0 B nio tinha legitimidade para a yenda (892), 0 mesmo sucedendo com o C para a doagio (956). Para B, o furto nfo & titulo legitimo de aquisigdo da propriedade; para C, nio sendo a compra e venda B — C vilida, também nfo adquire a propriedade. 2. Do principio da absolutidade Relativamente & questo que nos coloca a alinea b), devemos procurar arrimo no principio da absolutidade, consagrado no art. 1311, para encontrar a resposta, Significa este principio que a afectagfo da coisa ao titular do direito de propriedade nfo ¢ feita através de uma relaglo juridica, pelo que pode ser oponivel erga omnes através da acy tipica de reivindicagto, seja esse pessoa possuidora da coisa ou mera detentora. proprietario do automével (A) néo nevessita,.assim,.de. impugnar a validade dos sucessivos negdeios juridices qué Ievaram a Coisa a sor colocada sob 0 poder do actual possuidor ow detentor, bastando ‘exigir deste o reconhecimento do seu direito de propriedade e a consequente restituigdo da coisa, nos termos do art. 1311 CC. Carlos Fernandes ~ 2003/2006 Direitos Reais: I— Principios Gerais de Direitos Reais [Hipstese n° 6] Como escreve Vaz Serra, 0 contrato de compra e venda de um mon dominus a favor de um terceiro é ineficaz contra o proprietério, pelo que nao tem que discutir a validade do contrato entre ‘aquoles, mas tio 6 provar 0 seu direito de propriedade para que a entrega da coisa Ihe néio possa ser recusada, Nao significa isto, no entanto, que por nao ter de 0 fazer no possa o A arguir a nulidade dos contratos, nomeadamente nos termos do art. 286. Nota: 0 Prof. ndo considera a sequela uma caracteristica dos direitos reais; quanto & prevaléncia, esta s6 existe nos direitos reais de garantia e ndo entre os direitos reais e as direitos de crédito, Hipdtese n°6 ae Dado pelo Assistent rese | Anténio, agricultor, deslocou-se, em Janeiro de 2004, a quinta do Barnabé, que se dedica & sactividade agro-pecuciria, tem em vista a aquisi¢do de varios produtos daquela, Depois de uma visita pela quinta ¢ de uma longa conversa, ficou acordado entre ambos. ‘a venda por Barnabé a Anténio: @) De cinco vacas, que Anténio escolheu pelo seu elevado peso e grande capacidade de produciio de leite, e que Barnabé Ihe deveria entregar no prazo de um més; 4) De todas as galinhas que nascessem na quinta durante o ano de 2004; ©) Do.trigo que Barnabé combinara comprar ao seu vizinko Malaquias por altura da colheita de Julho; & De todas as magas do pomar de Barnabé, que deveriam ser cothidas em Marco; e) De wma tonelada de madeira de carvatho, a escother de entre as varias toneladas que -Barnabé tinha armazenadas, Em Maio de 2004, Barnabé, que ainda ndo emtregara a Aniénio nada do que tinha sido acordado, vende ao seu primo Carlos a quinta com todo 0 seu contetido. Interpelado por Antonio, Carlos recusa-se a entregar-the o que quer que seja, alegando ser totalmente estranko a qualquer contrato que Barnabé tenha celebrado. Quid juris? Na resolugiio deste caso pritico ha que levar em linha de conta os seguintes aspectos: 1) Tipo de negécio: obrigacional; real quoad efféctum ou quoad constitutionem; 2) 874°—Contrato de compra e venda: definig&o; 3) 879° —Bfeitos do contrato de compra e venda: efeito real ¢ efeitos obrigncionais, 4) Momento da transmissio da propriedade: a, 408°/1: regra geral — Principio da Consensualidade; b. 4089/2: a excepso a rogra: i, Obrigagdes sobre coisa futura; i. Obrigagdes sobre coisa indeterminada; ©. °408°/2, in fine: a excepgaio a excepgio: 7 Carlos Fernandes ~ 2005/2006 Direitos Reais: 1 ~ Principios Gerais de Direitos Reais [Hipetese n° 6] i. Obrigagdes genéricas; ii, Obrigagdes respeitantes a frutos naturais e partes componentes ou integrantes; 4d, 879°a)~ Do contrato de compra ¢ venda em especial; ©, 1317%a)—~ Dos direitos reais; 5) 406° ~ Eficicia dos contratos: ligagiio com o principio da relatividade (nto eficécia do contrato relativamente a terceiros; excepgdes — 443°); 6) Meios de defesa do direito: 817° ou 1311°? Estando em causa nas diversas alineas situagdes diferentes, a exigit diferente regime e solugfo, iremos ‘ratar cada uma delas separadamente. ‘Resolugio da alinea a) 1. Tipo de contrato ¢ obrigagio I — Enire A e B foi celebrado um contrato de compra ¢ venda (874°) tendo por objecto dcterminado a alienagio, por parte do B, ¢ a compra, por parte do A, de cinco vacas determinadas, escolhidas pelo A no momento da celebragdo do negécio, tendo sido estipulado um prazo de ccumprimento também ele determinado — um més a contar da data de celebrayio do nogécio. 0 objecto do negévio & determinado, licito, fisica ¢ legalmente possivel e nfo ofende quer a ordem pablica quer os bons costumes — 280° e 400°. ‘Do contrato de compra e venda resultam trés efeitos essenciais: um, de natureza real, que se traduz na transmissiio da propriedade da coisa ou da titularidade do direito (879%), © 08 dois outros do natureza obrigacional: a obrigagio de entregar a coisa, por parte do alienante, e a de pagar 0 prego, por parte do adquirente. II —0 contrato de compra ¢ venda € 0 contrato real quoad effectum prototipico, tendo inteira e cabal aplicagtio neste caso o principio da consensualidade incorporado no art. 4087/1; e, sendo assim, @ propriedade das cinco vacas objecto deste negécio transmitiu-se da esfera juridica do Barnabé para a do Anténio no preciso momento da celebragio do contrato, independentemente de quaisquer outros actos posteriores. © facto de ter sido acordada a entrega dos animais numa data wm més depois da celebragio nada releva quanto a0 momento da verificagio do efeito real de transmisstio da propriedade, atento o principio do consensualismo que vigora entre nés. Recorde-se que negécios reais quoad constitutionem s8o aqueles que fazem depender da entrega ‘ou tradigio da coisa a constituigio, modificagdo ou extingdio do direito real, de que so exemplos pparadigmiticos o penhor e a doagio de coisa mével que no é feita por escrito. IIL ~~ Nao se deve esquecer, por outro lado, que hf casos em que os negécios sto simultaneamente quad constitulionem_¢ quoad effectum. Veja-se 0 EXeiniplo do coiitrato dé mite (11425): é real quanto & constituigtio porque exige, para aiém do consenso, a entrega da coisa mutuada; ‘mas é também real quanto aos efeitos porque com a celebracdo do negocio ¢ a entrega da coisa se verifica o efeito real da transmissio do direito de propriedade da coisa mutuada para a esfera juridica do mutuério (note-se que o dinheiro que cada um dos depositantes “empresta” ao Banco passa a ser propriedade deste. O que fica a pertencer aos depositantes ¢ um direito de crédito e nio o direito real de propriedade sobre o dinheiro mutuado. E isso, de resto, 0 que explica que 0 risco corra por conta do Banco em caso de assalto ou outras causas de perecimento do dinheiro mutuado). Cortos Fernandes 200572006 |10 Direitos Reais: — Principios Gerais de Direitos Reais [Hipétese n° 6} 2. Eficacia do contrato relativamente a Carlos I — Ao ser interpelado pelo A, C alegou que nada tinha a ver com 0 negécio que aquele cclebrara com B, do qual nem sequer tomara conhecimento. Sera este argumento valido? Poder C invocar 0 principio da relatividade dos contratos expresso no art. 406° em seu favor? T— A resposta é, desde logo, negativa. E a razio € que ndo estamos aqui perante um contrato de eficacia meramente obrigacional, que implica uma relagdo juridica entre sujeitos determinados (ou determindveis) e que se caracteriza pelo principio da mediagio ou cooperagio, © contrato de que falamos 6, como se viu, um contrato real quanto aos efeitos no qual intervém outros principios priprios dos direitos reais, como o principio do consensualismo e da absolutidade Por mero efeito do contrato, 0 direito de propricdade sobre as vacas objecto do negécio transmitiu-se para a esfera juridica do A no preciso momento em que o negécio foi celebrado, conforme estipulam os artigos 408°/1, 879%/a) e 1317") do CC. A partir de entio, o novo proprictério Pode opor esse seu direito a quem quer que seja, independentemente de haver ou nfo uma relagio Juridica entre eles. Meios de defesa do direito 1— Coneluimos no ponto anterior que A passou a ser proprietirio das cinco vacas a que se refere 0 negécio descrito na alinea a) do exercicio desde 0 momento da celebragio do negécio, ou seje, Janeiro de 2004, independentemente da data de entrega ou do pagamento do progo, Assim, quando B vende a quinta a C com todo o seu contetido as vacas nfo estio jf incluidas no negécio, pois jé niio pertencem aquele. Se B vendesse essas vacas a C estaria a fazer uma venda de bens alheios, o que acarretaria a nulidade do negécio nos termos do art. 892°, por falta de legitimidade do vendedor. . : ah Poderia perguntar-se: teria o A de interpor uma acgo de anulag#o do negécio entre B e C para fazer valer 0 seu direito? E, depois de anulado tal negécio, seria ele obrigado a fazer uso do artigo 817° para ver satisfeito 0 seu direito? Se 0 negécio entre A e B fosse meramente obrigacional, a resposta a ambas as questies seria positiva. Mas nao ¢ disso que aqui se trata: aqui estamos perante um direito real, que tem um regime préprio. 1— A poderia, assim, defender 0 seu direito contra quem quer que fosse ~ possuidor ou mero detentor da coisa ~ através de uma acgto de reivindicagdo prevista no art. 1311°. Sendo 0 direito de propriedade absoluto, no sentido de que ¢ oponivel a todos, ndo tem o A de impugnar a validade ou a eficécia do ou dos negécios que colocaram a coisa sob 0 poder de facto do actual possuidor ou detentor. Ele pode exigir judicialmente que estes reconheam 0 seu direito do propriedade e Ihe restituam a coisa, ‘Resolugdo da alinea b); Cortos Fernandes 200572006 Fi Dirvites Reais: 1— Prinipios Gerais de Direitos Reais [Hipétese n° 1. Tipo de contrato e obrigagio I — Também o contrato a que se refere esta alfnea tem natureza de negécio real quanto aos cfeitos, sendo-lhe aplicével muito do que foi dito relativamente ao des vacas. Contudo, a0 contririo do anterior, cujo objecto era presente a data da celebragaio do negécio, este segundo contrato tem como objecto coisas futuras (2119),-i.,.todas.as.galinhas que nascerem na quinta durante o ano de 2004. A transferéncia do direito de propriedade sobre as galinhas dé-se, assim, nos termos do n° 2 do art. 408° e nio do seu n° 1, integrando-se-quma.das.excepgiics.ao_prinefpio.da,consensualidade ali definidas, Em qual delas, é o que importa de seguida apurar, - Tl—Recorde-se que 0 n° 2.comporta trés excepeGes & regra do consensualismo provista no n° 1, a saber: a) ‘Transferéncia de direitos reais relativos a coisa futura: dé-se quando @ coisa for adquirida pelo alienante; b) Transferéncia de direitos reais relativos a coisa indeterminada: dé-se quando a coisa for determinada com conhecimento de ambas as partes. Este regime admite, no entanto, duas excepgdes: a. A das obrigagdes genéricas: aplica-se 0 regime que resulta da conjugag8o dos artigos 540° ¢ S41°— nofe-se que a regra no regime das obrigacdes genéricas é de ‘a concentragao da obrigagdo se dar com 0 cumprimento, ie., com a entrega; esta regra admite, contudo, que a concentragdo se dé antes do cumprimento em quatro casos, ofr. art. 541°: (i) havendo acordo das partes nesse sentido; (ii) quando _género se extinguir ao ponto de restar apenas uma das coisas nele compreendidas; (Gil) quando 0 credor incorrer em mora — 813°; (iv) e no caso previsto no art. 797°. b, A dos contratos de empreitada —- ver 1207°e ss. CC. ©) Transferéneia_de direitos reais relativos a frutos naturnis ¢ 9_partes componentes ou integrantes: dé-se apenas no momento da colheita ou separagilo — ver 204° 210°. I — A primeira questio a dilucidar é a que se prende com a diivida de saber se estamos perante uma obrigagao determinada ou indeterminada (400°) e genérica ou espeeifica (539° ¢ ss.), uma vez que a classificagdo como obrigagaio de prostagio de coisifutura (211°, 880°) no oferece dificuldades. IV — Relativamente a determinabilidade/indeterminabilidade da obrigagfio, parece-nos que 0 objecto esti suficientemente preciso para que a prestag#o possa sor exigida e cumprida sett necéssidade’ de qualquet” outa acyao” das”partes rio que-se-refere” a escolhia. De facto, & prestii¢ao abrange “todas” as galinhas qué WaseeFeM na quinta durante o ano de 2004, independentemente de serem uma centena ou 10 milhares. V — Devemos, também, afastar a tentago de classificar a obrigagfo resultante do contrato como uma obrigagio genérica, Apesar de 0 objecto ser referido pelo género e de a quantidade io estar, a partida, perfeitamente determinada — porque se ignora quantas galinhas vio nascer na. quinta durante 0 ano de 2004, sabemos partida que toda e qualquer galinha que nasga na quinta nesse periodo faz parte do objecto da prestagiio. Nao é, assim, necesséria qualquer escolhs da coisa por parte quer do devedor quer do comprador: essa escotha esti feita ab initio, Entendemos, assim, que nfo ¢ aplicdvel a este caso 0 regime das obrigagbes genéricas previsto nos artigos 539° e ss. do CC, salvaguardado pelo art. 408°/2 CC. Carlos Fernandes ~ 2005/2006 Diretos Reais: I— Principios Gerais de Direitos Reais __[ipétese n° 6] 2. Meios de defesa do direito 1 — Concluimos que a obrigagdo resultante do contrato ora om andlise ¢ uma obrigagao de prestagiio de coisa futura. Neste caso, 0 contrato s6 tem eficécia real quando a propriedade se transfore para o comprador, ., no momento em que 0 alienante adquire o direito alienado, O efeito real da transferéncia do direito ocorre & medida que as galinhas vao nascendo na quinta. Logo, todas as galinhas nascidas até Maio de 2004 ~ data da venda da quinta ao Carlos —- so propriedade do Antonio, que pode intentar contra aquele uma acedo de reivindicagio nos termos do ja citado artigo 131 1° CC. As galinhas que venham a nascer dai por diante so propriedade de C, dono da quinta, uma vez que sobre essas jé 0 B nao teria legitimidade para delas dispor, Qualquer contrato celebrado por B ‘como alienante relativo a essas galinhas seria nulo por se tratar de bens alheios (892°) ¢ nfo poderia ser oponivel a terceiros (nomeadamente C). Resolugio da alinea ¢): 1 — 0 enunciado diz-nos que A acordou com B a compra do trigo que este iria adquirir de M or altura da colheita, Ora, perante isto, podem colocar-se duas situagdes distintas: ) Ou o trigo 6 comprado por B a M quando ainda se encontra ligado ao solo, ¢ entio trats-se de frutos naturais —212/1-2; b) Ou ¢ comprado por B a M ja depois de ter sido por este colhido e, eventualmente, armazenado, caso em que estarémos perante bens futuros - 211 ‘No primeiro caso, a transmissto da propriedade dé-se no momento da colheita; no segundo caso, quando a coisa for adquirida pelo alienante — 408/2. : Caso se verifique a primeira hipétese, o trigo considera-se coisa imével enquanto estiver ligado a0 solo (204/e). No entanto, ndo faz. sentido exigir a forma de contrato dos iméveis, pois quando so transaccionam frutos naturais entende-se que se esti a negociar bens méveis, sendo a forma aplicdvel estes a mais adequada. A.venda pelo Barnabé de algo que ainda ndo Ihe pertence no importa nulidgde nos termos do art, 892 (verida de bens alheios), uma Vez que a coisa é vendida na qualidade de bens 8, tds \Eritios do art. 880. Seria nula, sim, se B os vendesse como se fossem bens préprios e niio como bens faturos. Note-se que este negécio nada tem a ver com a quinta vendida pelo B: os produtos vendidos fio foram nem irdo ser produzidos nesta, pelo que a sua alienago no afecta a validade do contrato. Por conseguinte, quando o B adquirir 0 trigo a M este passard a ser sua propriedade no preciso momento em que fizer a respectiva colheita, sendo também esse 0 momento em que se preenche 0 requisito Provisto no art. 408/2 de que depende a transmissio da propriedade para o A. Seté entio que se verifica a eficécia real do contrato. Por outro lado, se 0 B adquiriro trigo j4 depois de colhido, seri no momento em que adquire a propriedade sobre o mesmo que este ditito se transferira para a esfera juridica de A. Trata-se aqui de lum contrato de compra e venda com eficécia real diferida, sujeita & aquisiggo do direito de Ppropriedade de bens futuros (211°) por parte do vendedor — 880° e 408/2. Até ao momento em que adquiro o direito de propriedade sobre o trigo vendido por M, 0 B esta Obrigado perante 0 A através de um vinculo obrigacional que the impéc uma certa conduta: a de exercer as diliggncias necessérias para que o A adquira os bens vendidos ~ 880°. Carlos Fernandes -200s/2006 [13 Direitos Reais: I— Principios Gerais de Direitos Reais [Hipstese n° 6) Resolueiio da alinea d): 1 — 0 contrato tem por objecto todas as mags do pomar de B - que se deduz fazer parte {ntegrante da quinta, Nos termos do art. 212°/1 e 2, as macds em causa integram.o conceito.de-frutos naturais, sendo que 0 n° 2 do art, 408°, im fine, estabelece um regime especifico quanto a estes. ‘Seigiido este regime, a transferéncia do direito de propriedade dos frutos naturais verifica-se apenas ‘no momento da colheita Diz-nos o enunciado que a colheita deveria ser feita em Margo, mas parece que ndo foi isso que sucedeu, uma vez que quando vendeu a quinta a C, em Maio, o B nada entregara a A do que tinha sido acordado. No entanto é omisso quanto & responsabilidade pela realizagio dessa colheita: nao diz se & do devedor ou do comprador. I— Suponhamos que a responsabilidade pela colheita era do devedor e que este a realizon em Margo, como devido. Neste caso, a propriedade das mags transferiu-se do imediato para 0 A, passando este a poder reivindicar © reconhecimento desse seu direito © consequente restituigio nos termos do art. 1311°; e280 0s frutos no tenham sido colhidos antes de a quinta ser vendida com todo o set contesido a C, 06 frutos sio propriedade deste, uma vez que 0 contrato entre A © B no chegou a ter eficdcia real, pelo que deverd seguir-se 0 regime das obrigagdes © néo dos direitos reais. B 0 vinculo obrigacional nfo tem eficdcia quanto a terceiros fora dos casos ¢ termos previstos na lei — 406972 II —E so a responsabilidade pela colheita fosse do A? Bom, neste caso ele deveria ter colhido 0s frutos no més de Margo, como acordado. Mas niio parece té-lo feito, ov nao faria sentido estar agora a exigir do C a entrega desses bens. E, assim sendo, A entraria em mora a partir do momento em que deveria ter feito a colheita e nao o fez— 813°, Caso estivéssemos perante uma obrigacdo genérica, verificar-se-ia uma das situagGes previstas no art. 541° em que a concentragdo da obrigaglio se dé antes do cumprimento. Mas, como se compreende, esta nfo & uma obrigagtio genérica: ela esti perfeitamente determinada desde a celebragio do negécio: sao todas as mags do pomar do B.~ a titi! IV — Atente-se ainda neste outro aspecto: sobre as mags objecto do negécio entre A e B incidem dois direitos conflituantes: o dircito de erédito de A o 0 direito real de propriedade do C. Ora, pelo principio da prevaléncia, o direito de crédito code perante o direito real, pelo que A nao pode ‘opor 0 seu direito ao direito de C. Sendo assim, s6 resta ao A exigir de Bo pagamento de uma indemnizagio, j& que 0 ‘cumprimento se tornou impossivel — 790°, Resoluefio da alinea e): 1—A obrigagio resultante deste contrato tem natureza claramente genérica, sendo um exemplo Gaquilo que o Prof, assistente designou por “obrigacdo genérica de género limitado” Segundo a explicago dada na aula de 18-11-2005, as obrigagées ordenam-se de forma escalonada segundo um critério de grau pela ordem seguinte: Carlos Fernandes ~ 2005/2006 } 14 Direitos Reais: I — Princfpios Gerais de Direitos Reais [Hipétese n° 7) J* Indeterminadas: a transmissio dé-se logo que a prestagdo & determinada com conhecimento de ambas as partes ~ 40872, 2° Gonéricas (ditas normais): a transferéncia dé-se com a concentragéo; esta dé-se com 0 cumprimento ¢ este, em regra, com a entrega — 540° ¢ 541°. Nestas 0 risco corre pelo devedor, ficando este obrigado enquanto houver (no mercado) coisas do género sobre que @ obrigasdo incide. Enquanto subsistir 0 género ndo ha impossibilidade ~ 0 540” afasta 0 790°, 3°. Genéricas “de pénero limitado”: ex: A promete a B vender-the um dos 5 quadros de Vieira da Silva que tem lé em casa (admitindo que para o comprador os quadiros da autora eram fangiveis), O regime depende do que as partes quiserem. Se o género limitado perecer, e ainda que haja no mercado coisas do mesmo género, a prestacdo torna-se impossivel — 790° 4°. Alternativas: a iransmissio dé-se com a escolha — 543°. Porqué de género limitado? Porque a obrigacio se toma impossivel no caso de toda a madeira armazenada por B perecer, mesmo que haja no mercado quantidades infinitas do mesmo género de madeira. Se fosse genérica (normal), enquanto fosse possivel ao vendedor adquirir madeira do mesmo género para realizar 0 cumprimento da prestagio esta ndo seria impossivel e nfo se aplicaria o 790°, mas sim o 540%; no entanto, no caso vertente apenas ¢ possivel escolher.a.tonelada de madeira de carvalho que o A comprou de entre as varias toneladas que o B tem armazenadas ¢ de nenhuma.ontra. I — Que consequéncias praticas resultam desta classificagio? Segundo o docente, isto implicaria que o regime a aplicar quanto ao momento da transferéncia da propriedade nao fosse 0 previsto nos artigos 540° ¢ 541° ex vi artigo 408°/2, mas antes aquele que as partes resolvessem estipular. Mas nao ¢ isso que se passa face a qualquer obrigagio genérica, por forga do art. 541°? Diivida a esclarecer... Hips ae Dado pelo Assistente ~ Hipétese 2 Daniel, acompanhado de seu filho Francisco, dirighu-se a um stand de automéveis pertencente a Enmesto com o intuito de escolher um automével novo para si ¢ uma mota para Francisco, Depois da escotha dos yefculos, foi acordado-o seguinte: Fe @ Daniel comprou o automével a Ernesto pelo montente total de € 20,000, a pagar em 10 prestagées; Daniel podia levar imediatamente 0 automdvel, mas 0 registo da aguisigao sé seria efectivado depois do pagamento da tiltima prestacéo, uma vez que, até esse momento, Emesto mantinha a titularidade do mesmo; 4) Daniel compraria a mota para o seu Francisco, pelo montante de € 500, caso ele passasse no exame de Direitos Reais, a realizar dai a uma semana, comprometendo-se Ernesto a, durante esse periodo, nao a vender a ninguém. Dois dias depois, Daniel, desapontado com o sistema de travdes do automével, resolveu vendé-lo ao ‘seu vizinho Xavier. Ermesto, como retaliagio, vendeu no dia seguinte a mota a um outro cliente Quid juris? 1, Da reserva de propriedade 2. Reserva de propriedade em caso de miituo : Carlos Fernandes 2008/2006 [15 Direits Reais: I— Principios Gerais de Direitos Reais ___[Hipétese w° 7) 3. Da venda a prestaydes/venda com espera do prego 1. Da reserva de propriedade I~ O negécio celebrado entre Ee D configura um contrato de compra e venda (874) com reserva de propriedade (409) — visto que, até ao pagamento integral do prego, o Emesto mantinha @ titularidade do automével. Esta reserva de propriedade, uma vez que incide sobre uma coisa mével sujeita a registo, nfio pode ser oponivel a terceiros se nao tiver sido registada (409/2). © contrato de compra e venda entre D e X é nulo, por falta de legitimidade do vendedor, que realizou uma venda de bens alheios ~ 892. Nao. consta, no entanto, do texto que a reserva de propriedad tenba sido registad, pelo que esta nfo seria oponivel ao Xavier. TI — A reserva de propriedade tem como finalidade essencial acautelar 0 direito do vendedor. De facto, havendo transmissio da propriedade (¢ esta dé-se, como sabemos, por mero efeito do -contrato — 408/2 ¢ 879/a) ¢ entroga da coisa, a falta de pagamento nao resolve 0 contrato (886). Assim, ‘0 vendedor que no reserve a propriedade vé-se na contingéncia de nao ver o seu crédito satisfeito; e mesmo que mova contra o comprador uma acgio em que, por exemplo, pretenda a penhora do automével, terd de concorrer em pé de igualdade com os demais credores do devedor inadimplente, face ao principio par conditio creditorum. ms Havendo reserva de propriedade pode o credor, por um lado, exigir a restituigfo da coisa através de uma acgao de reivindicago (1311) uma vez que ainda ¢ 0 seu proprietirio e, por outro, ficaré a salvo dos etedores do comprador sobre a coisa transaccionada. 2. Reserva de propriedade em caso de miituo Existe uma modalidade sui generis de reserva de propriedade hoje em dia bastante utilizada, ‘mas cuja natureza levanta algumas questies (incluindo de legalidade): € a que tem a ver com a cexigéncia de reserva de propriedade por parte das financeiras sobre os bens adquiridos através de cempréstimo bancério, ‘Como se passam as coisas? Vejamos em esquema: Carlos Fernandes ~ 2005/2006, Direitos Reais: I — Prinefpios Gerais de Diresitos Reais [Hopétese n° | mito no é um contrato sinalagmitico, uma ver que sé faz. nascer obrigages para uma das partes, Por banda do mutuante exige-sc a entrega do dinheiro (entrega esta que constitui um efeito real do contrato; a transferéncia da propriedade do dinheiro para o mutudrio no é uma obrigagdo, mas um ressuposto do contrato); quanto ao mutuétio, pelo contrétio, verifica-se a adstrigo deste a um vineulo obrigacional — o de resttuir outro tanto do dinheiro que recebeu. No sendo um contrato sinalagmético, ndo se aplica a este a excepgo do cumprimento simultineo das obrigagGes. 0 objecto do contrato de mituo & © dinheiro mutuado, pelo que apenas sobre ele poderia a financeira exigir reserva de propriedade. Mas isso nao faria sentido, uma vez que em caso de pperecimento do dinheiro o riseo correria por conta do banco (que se manteria proprietério). ‘Assim, os bancos exigetit que-a reserva de propricdade incida sobre o carro, que era do stand ¢ nfo dele, o que nfo deixa de ser absurdo. Apesar de no haver suporte legal para esta reserva, o que é facto € que ha quem aceite esta modalidade de reserva de propriedade. 3. Da venda a prestagdes/venda com espera do prego Quanto a forma de pagamento, podemos enquadré-ta em duas modalidades distintas: 8) Ade compra e venda a prestages ~ 934 b) A de compra e venda com espera do prego, que nao tem regulamentagdo expressa. ‘No caso de venda a prestagées com reserva de propriedade, a falta de pagamento de uma das prestages que no exceda a oitava parte do prego nio dé dircito a resolugdo do contrato. No entanto, por forea do art. 781, a falta de pagamento de uma das prestagdes da divida importa o vencimento das restantes, ‘| Carlos Fernandes — 2005/2006 Direites Reais; I Publicidad: a protegio rgistral [Hipstese n° 8) Ti =Publicidade: a protecgao repistral’ 0. AE Hipétese n*8 O proprietario inscrito na Conservatoria do Registo Predial de Evora, por compra do prédio X a Z, vendew 0 mesmo prédio a B. Esta venda nda foi registada, Dois meses depots, F, credor de A, registow uma penhora sobre 0 prédio X. Seis meses depois, A tornow a vender o prédio a C, que desconhecia a anterior venda a B. C registow ‘a aguisieao Ao saber do registo de C, B interpés uma acedo de declarado de mulidade da venda concluida entre Aec. 4) Rsclareca a efiedcia real dos negécios celebrados por A com Be C. 8) Analise a falta de registo do contrato de compra e venda celebrado entre A e B. ©) Diga se a declaragio de nulidade requerida poderia afectar a posigito de C. d) Estaréo F protegido pelas regras do registo? Aspectos a considera 1. Bficdcia real dos contratos 2. Venda por non dominus 3. Obrigatoriedade ou nao do registo 4, Conceito de terceiro para efeitos de registo 5. Bfeitos da falta de registo, Questito da alinea a): © caso em anilise pode ser representado esquematicamente da seguinte forma: 2Mews P08 4 depois © Pesos O contrato entre A ¢ B é valido © produz efeitos no acto da sua celebragio, pelo que a propriedade se transmitin do primeiro para 0 segundo nesse preciso momento ~ 408/1 Carlos Fernandes ~ 2005/2006 Direitos Reais: IT — Publicidade: a protegioregistral [Hlipéiese n° 8) © contrato entre A © C é nulo, por falta de legitimidade do alienante, uma vez que jé nfo era proprietirio do prédio & data da alienagao. Tratou-se de uma venda de bens alheios — 892" Questo da alinea B): Embora a aquisigio do direito de propriedade seja um dos factos sujeitos a registo (2°/1.a) do ‘CRProp), este registo nao é obrigatério, pelo que o direito de B nfo é afectado pela sua falta.” No entanto, fala-se de uma “obrigatoriedade indirecta” (Oliveira Ascenso), uma vez que 0 titular do direito nao pode dele dispor sem 0 prévio registo. ae O art. 9° CRProp dirige-se ao Notério: este nio pode titular um acto de disposig&o de um direito sujeito a registo sem-que este tenha sido definitivamente inscrito. E aqui que se baseia o Prof. Oliveira Ascensio para afirmar que existe obrigatoriedade indirecta do registo predial. ; (O Prof. Carvatho’ Fernandes fala, ao invés, de legitimagio: s6 pode dispor de um direito (sé test ~ Tegitimidade para tal) aquele que beneficiar de um registo. O Prof. Coelho Vieira profere esta posisio.. anterior. : Apesar de o registo no ser necessirio para a transmissto do direito de propriedade para a esfera Juridica do B, que opera por mero efeito do contrato (408/1), 0 registo tem um efeito consolidative ou ‘confirmativo: néo constitui o dircito, mas coloca o seu titular ao abrigo do efeito aiributivo. Seo B 1i¥880 registado a aquisigdo do sou direito este consolidava-se, néo permitindo a C adquiri-lo por via tabular. eeree Questiio da alinea ¢}: Seré C protegido pelo registo da sua aquisigo? Para responder a esta questio importa esclarecer 0 que se entende por terceiro, para os efeitos previstos no art, 5° do CRProp. Podemos encarar este conceito numa acepgo ampla © numa acepsao restrita. Na primeira, terceiro soria qualquer pessoa exterior a relagdo juridica considerada; na restrita, s6 & assim considerado quem preencha 05 requisitos constantes da n?-4 do citado-artigo. ———~>Até ha pouco tempo, esta questio gerava fortes polémicas, sendo interessante analisar os Acérdios STJ.4/97.¢.3/99 (confirmar as referéncias). Hoje,o n° 4 resolveu essa questio, ———> Terceiro, para este efeito, ¢ aquele que tiver adquirido de um autor _comum direitos incompativeis entre si. No caso em aprego, F niio ¢ fereeiro, pois nada adquiriu de A; C é tereeiro, pois adquitiu de Aum direito de_propriedade incompativel.com.o direito que B adquiriu do mesmo lade C nada adquiriu, uma vez que A jé nfo dispunha do direito para o alienar; mas ele ‘io © sabia nem tinha obtigaggo de o saber, dada a presungio do art. 7 CRProp. Resumindo, B e C adguiriam de A ~ autor comum — direitos incompativeis, pelo que C & terceiro em relagio a B, titular substantivo do direito, (O caso configura aquilo que se designa como dupla disposigiio do mesmo direito, Do ponto de vista substantivo, esta situagdo tem uma solugio muito simples: quando A vende 0 prédio a C jé nio tinha legitimidade para o fazer. O que fez. foi uma venda de bens alheios (892°) que 6, assim, nula. Como foi entio possivel realizar esta segunda venda? O que se passa & que 0 Notirio, ao ser-the exibida uma certidio que dé A como proprietério, nada pode fazer a néo ser titular a aquisigio da propriedade por parte de C. Caras Fernandes 2008/2006 [19 : [Hiporese n° 9) (Quo efeitos tem a precedéncia do registo da aquisisao do C sobre a de B? O art. 5°/1 CRProp refere que os factos sujeitos a registo 96 so oponiveis a tereciros depois da data do respectivo registo, Esta norma vai, aparentemente, a0 arrepio do principio da absolutidade, segundo o qual-uin direito real 6 oponivel erga ommes. Mas 0 sentido desta ¢ o de conferir protecgao a terceiro, sem afectar a oponibilidade erga omnes dos direitos reais, que existe independentemente de registo, Vimos ja que C & terceiro para efeitos do art. 5/1. Mas para que possa obter protecgo por via registal é necessério que, para além disso, preencha cinco requisites cumulativos: 1) Que exista um registo anterior desconforme; J 2) Que o acto de disposieao ¢ alienaggo se fundamente no registo desconforme; 3) Que o negécio seja oneroso; ee 4) Que o tereeiro adquirente esteja de boa £é (subjectiva ética); 5) Que o terveiro adquironte tenha registado o facto juridico relativo & sua aquisig&o antes do registo da acedio de impugnaeas, Prof. Carvalho Eernandes, em nota dissonante de toda a doutrina autorizada, defende que 0 neta peoicea mesa caso de neg gre. ibutivo, também E o que acontece a0, titular do direito de propriedade em termos substantivos? Bem, 0 seu direito extingue-se por efeito da aquisig#o tabular do C, uma vez que sio incompativeis entre si e nfl podem subsistir. Na esfera jurfdica do C constitui-se um direito ex novo, uma vez que esta aquisigdo é originéria e niio derivada, Mas serd que é sempre assim, ie., que sempre que seja adquirido um direito real por via tabular se dari a exting&o do direito adquirido substancialmente por um titular diferente. Por outras palavras, se o C tivesse adquirido, em lugar de um direito de propriedade, um mero usufruto, ainda assim se cextinguiria o direito de propriedade de B? ‘A resposta é negativa: uma vez que os direitos nfo sto absolutamente incompativeis entre si, 0 primeiro subsiste, mas fica onerado com o segundo. Questio da alinea d): Relativamente & penhora que F registou sobre o prédio de B, pode este, em qualquer momento, cancelar esse registo, uma vez que aquele nao pode onerar bens que no pertencem ao patriménio do seu devedor (A) ~ 8° 13° CRProp. Pela divida de A responde o patrimdnio desto 6 0 prédio X jé nfo faz parte desse patriménio. Logo, nfo sendo F abrangido pelo conceito de terceiro constante do art. 5°/2, no pode ele beneficiar da protecgo do n° 1 deste artigo. Hipotese n° 9 A celebrou com B um contato de doagdo do prédio X. A inka insrigto regisal a seu favor desde 02- 01-2000. O contrato de doagdo néo foi registaco. Dois anos depois, B vendeu a C 0 referido prédio. C registou de imediato a respectiva aquisicdo. Dois anos apés a compra e venda entre B e C, A intentou uma acciio de declaragéo de nulidade da doagiio, acgéo essa que veio a ser declarada procedente, com irdnsito em julgado, em 05-12-2005. Carlos Fernandes 2005/2006 [20 Direitos Reais: II — Publiidade: a proteso regstral [Hipétese n° 9) Diga, findamentadamente, quem & 0 proprietirio do prédio X. Aspectos nsiderar: 1. Da validade dos contratos e seus efeitos 2. Da legitimagao de direitos sobre imbveis e suas consequéncias 3. Da validade/invalidade do registo da aquisigo de Ce seus efeitos 4, Da proteegaio de terceiro de boa fé — regime aplicavel 1. Da validade dos contratos ¢ seus efeitos © contrato de doagio tem eficécia real, transmitindo-se © direito de propriedade para a esfera juridica do donatério no momento da sua celebragiio ~ 408/1 ¢.954/a) Sabemos, no entanto, que 0 contrato de doagéo A - B ¢ nulo (cfr. sentonga transitada em julgado). Ora, um contrato nulo nfo produz quaisquer efeitos Linco sb ilo, Por eonsepunt, 0 direito de propriedade sobre o prédio nunca se transmitiu de A para B (289). 11— Também no contrato de compra venda se verifica eficécia real, transmitindo-se 0 direito de propriedade do alienante para o adquirente no momento da celebragdo — 408/1 ¢ 879/a), Verifica-se, cantudo, que por efeito da nulidade.do contrato de. doaciio.o prédio.era.ainda.de A quando B 9 yendeu,a.C. Logo, o contrato de compra ¢ venda B - C é igualmente mulo, por falta de legitimidade do alienante, que praticou uma venda de bens alheios como sendo do préprio (892). A propricdade continua, em termos substantivos, na esfera juridica de A. 2. Da legitimagio de direitos sobre iméveis ¢ suas tonsequéncias 1—A aquisigao dos direitos de propriedade 6 um facto sujeito a registo, nos termos do art,2/1.a do CRProp. E diz-nos o texto que o A tinha uma inscrigiio registal em seu favor relativa ao prédio X. Ora, nos termos do art. 9/1 CRProp, a transmisstio de direitos sobre iméveis nfo podem ser titulados som que os bens estejam definitivamente inscritos a favor da pessoa de quem se adquire 0 direito. ‘Como foi entio possivel a celebragao do contrato entre B C, tendo em atengao que, por ser um imével, a lei exige forma especial -escritura piblica? ‘Tal-deveu-se.a0 facto de.o.Notétio, a quem 0 art. 9/1 CRProp se ditige, alo ter cumprido com esta disposigaio legal, titulando a transmissio do imével sem verificar que 0 mesmo nao estava insérito a favor de B, alienante. “TL — As consoquéneias da violagio do art. 9/1 sto diferentes consoante os autores: pata Menezes Cordeiro, 0 acto de aquisig’o & nulo; para Oliveira Ascenso, milo passa de mera imregularidade, gerando paralelamente responsabilidade diseiplinar por parte do notério responsivel. © Prof. Coelho Vieira segue esta posigao, Carlos Fernandes 2005/2006 [21 Direitus Reais: I— Publicidade: a protec registral [Hipotese n° 9] 3, Da validadclinvalidade do registo da aquisicao de Ce seus efeitos I — O principio do trato.sucessivo, consagrado no art. 34° do CRProp, diz-nos que o registo definitive “de aquisigao de direitos depende de prévia inscriglio dos bens em nome de quem os transmite. Assim, para poder ser registada a aquisigdo de C feita a B, era necessério que 0 prédio alienado estivesse registado em nome deste iltimo. Mas, como vimos, este registo nfio foi feito, verificando-se, assim, violagdo deste principio. Ora,.a.violaptio do-prine\pio.do-trato-sueessivo 6, precisamente, a causa de nulidade do registo prevista no art. 16/e), pelo que o registo da aquisigio de C é nulo. 1 — Que efeitos, se é que alguns, se podem verificar em relagio a C em resultado deste registo nulo? Seré que pode o adquirente C almejar protecgo conferida pelo art. 17/2 do CRProp a terceiros. de boa £8? A resposta tem de ser liminarmente negativa, Terveiro, para eftitos do art. 17/2, 6 aqucle que adquire de beneficidrio de um registo nulo. Mas aqui ‘© beneficidrio é 0 proprio C, logo, este nfio ¢ considerado terceiro no ambito desta norma. ‘Note-se que a ratio da lei ao dar protecgiio a tereciro de boa fé contra os efeitos da nulidade do registo em favor de quem adquire é a necessidade de ir de encontro as expectativas de certeza e seguranga juridica que este criow ao confiar na verdade e exactidio dos registos piiblicos. Mas 0 C nem esse argumento tem em seu favor, uma ver que adquiriu de quem néo tinha a scu favor uma inscrigéo registal. Facto que ele sabia ou tinha a obrigagao de conhecer, dada a fungio de publicidade do registo. ~ ee 4. Da protecciio de tereeiro de boa fé — regime apliciivel 1 — Afastada a possibilidade de C beneficiar da proteogio do art. 17/2 CRProp, resta-nos verificar se a sua situago pode ser abrangida pelo regime previsto no art. 291° CC. Este regime exige, para a sua aplicabilidade, seis requisites cumulativos: 1) Pré-existéncia de um registo desconforme ("); 2) Acto de disposigtio (negocial) fundado no registo mulo ¢ ferido de ilegitimidade por provir de titular aparente; 3) Quo a aquisiglo seja onerosa; 4) Que o registo da aquisigiio pelo terceiro preceda o rogisto de acgio de nulidade; 5) Que o terceiro esteja de boa fé, na acepeao do art, 291/3 do CC; 6) Que a acgiio niio tenha sido interposta nos 3 anos seguintes contados da data do negseio nulo ou anuldvel, TI — Vejamos se preenche os requisitos assinalados. Desde logo, verifica-se que nfo existe, antes da celebragio do negécio entre B e C, um registo desconforme, pelo que néo hé como o subadquirente possa invocar qualquer fé pablica ou presungao fundada no registo. Logo, também aqui a protecedo do C no pode ter lugar, sendo irrelevante que ‘enham decorrido os 3 anos referidos no art, 291/2 ou qualquer outro ~ todos os requisitos tém que estar cumulativamente preenchidos. 2 Note-s que a desconformidade do rogisto de aquisigo pelo terceiro(subadguirente) no releva pera este eftito; 0 regis ‘que importa & 0 de auisigso em favor de quem alisnou o bem a0 teeciro. Cartos Fernandes 200972006 [22 Wet Ore se er ee Direites Reais: U— Publcidade: a protcpo reistral [Hlipotesen? 10) Quer nos casos abrangidos pelo art. 17/2 C.R.Pr., quer naqueles em que ¢ aplicével o art. 291 CC, 86 pode beneficiar da protecgdo registal o subadquirente ¢ noo beneficisrio do registo desconforme. Vejamos em esquema: - on regis (alo) Subadqurente ( ) : (©) C) nmin —— mer, laze, ee coere ceed tr eel eee Conclui-se, assim, que o proprietério actual do prédio X ¢ 0 proprietétio original, ie., 0 C. Hipstese nn 10 A, aproveitando o facto do prédio X nto constar do Registo Predial, forjou uma justificagao notarial de usucapiao da propriedade e promoveu o registo dessa aquisigdo a seu favor. Dois meses mais tarde, A vendeu a B a propriedade do prédio X, ignorando o comprador que estava a comprar um bem alheio. B registou a aquisicdo. Entretanto, C, 0 verdadeiro proprietirio, interpGe uma acgdio de relvindicagdo contra B pedindo 0 reconhecimento do seu direito de propriedade e a condenagéo de B na enirega da coisa, @) Diga quais sao os aspectos registais envolvidos nesta hipstese 2) Esclarega se a acgao seria procedente se B invocasse também ele ser proprietirio da coisa. Aspectos a considerar: 1. Da omissdo de registo do prédio 2. Da validade dos titulos de aquisigao e dos registos 3. Da protecgto de terceiro de bos fé — regime aplicével aes 1, Da omissio de registo do prédio A primeira questiio que se levanta é a de saber como é possivel a existéncia de prédios omissos no registo, A resposta a esta questo prende-se com a nio obrigatoriedade de registo que vigora em Portugal. Cartos Fernandes 2005/2006 [23 Dirvites Reais: Il — Publicidade: a protesgo registral [Hipétese n° 10 art, 2° do CRProp enuncia quais os factos juridicos sujeitos a registo, mas o art. 41 sujeita esse registo ao prinefpio da instGncia, o que significa que o impulso inicial cabe aos interessados; s6 a pedido destes serio os factos registados, Mas, poderlamos perguntar-nos, a existéncia de prédios omissos niio vai contra os fins do registo predial expressos no art. 1°? E claro que sim, mas a situagiio nfo é assim to grave pois os interessados acabardo, mais tarde ou mais cedo, por fazer esse registo, uma vez que s6 assim teri legitimidade para alienar esses bens (9° CRProp). por isso que, conforme jé referido no desenvolvimento do caso anterior, Oliveira Ascensio fala da existéncia de uma espécie de “obrigatoriedade indirecta” © o Prof. Coelho Vieira, seguindo 0 Prof. Carvalho Fernandes, de legitimagao. Conclui-se, assim, que o A teria que proceder & descrigéo do prédio para poder inscrever @ aquisigdo da propriedadc. E foi o que fez, recorrendo embora a um titule forjado. 2. Da validade dos titulos de aquisigio e dos registos O enunciado fala-nos de uma escritura de justificagéio notarial. Em que consiste esta escritura de |justificagao notarial? Trata-se de uma escritura que, obedecendo a certas formalidades especificas, tem por fim a justficaglo da aquisigao da propriedade do prédio Por exemplo, alguém que esteja em cor de um titulo que Ihe permita registar essa aquisi tal escritura de justificagdo para o cftito, No caso presente, essa eseritura de justificasio notarial que voio a servir de titulo para a realizagio do registo foi forjada pelo proprio B. Para além da responsabilidade criminal em que incorre pela pratioa desse ilicito (crime de falsificagaio de documentos ~ art, 256 do Cédigo Penal), a falsidade do titulo determina a nulidade do registo, nos termos do art. 16/a) do CRProp. E facil constatar que, nada tendo o A adquirido, nada poderia transmitir ao B por falta de legitimidade. © A é um non dominus, apesar da presungdo do art, 7°, tendo procedido a uma venda de bens alheios, que ¢ nula nos termos do art, 892 CC, pelo que o B nada adquiriu. © registo da sua aquisisdo 6, por conseguinte, nulo também pelos mesmos motivos, igdes de adquirir a propriedade por usucapido precisa do em seu nome. Dirige-se entio ao notirio e obtém a Em termos substanciais, o prédio continua a pertencer aC. 3. Da protecgio de terceiro de boa {6 — regime apliciivel 1 — Enquanto os primeiros dois pontos procuravam responder, essencialmente, & questo da alinca a), este debruga-se sobre o que 6 perguntado na seguinte Dissemos hé pouco que o C continua a set, substantivamente, o propristirio do prédio X. O facto do nifo ter rogistado a aquisigo da propriedade do prédio em seu nome nao basta para negar-lhe a titularidade do seu direito, Este existe independentemente do registo, que, como vimos, nem sequer obrigatério. A oponibilidade erga ommes do direito de propriedade, como direito real tipico, advém-lhe do principio da absolutidade que Ihe & caracteristico, ‘Mas a falta de registo nfo é isento de consequéncias: apesar de 0 registo niio ser constitutive do direito, ele niio deixa de ter um efeito consolidativo, o que significa que quem dele beneficia fica ‘protegido contra uma eventual aquisigdo tabular por parte de terceito, i.e. fica salvaguardado do efeito atributivo do registo. Tl —Hverd, neste caso, protecgtio registal de B? ‘A protecgio conferida pelo art. 5° CRProp é de afastar liminarmente: 8 no preenche o conceito de terceiro definido no n° 4 deste artigo: quer A quer B nada adquiriram de C. Carlos Fernandes 200s2006 [4 Direitus Reais: I~ Publicidade: a protegio regitral [Hpétese n° 17) A protecgio a conferir pelo art. 17°/2 depende da verificactio cumulativa de cinco requisitos: 7) Pré-existéncia de um registo nulo; 8) Que a aquisigdo pelo terceiro se funde na pré-existéncia do rogisto nulo 7); 9) Que a aquisigao seja oncrosa; 10) Que o registo da aquisig&o pelo terceiro preceda o registo de acgo de nulidade; 11) Que o terceiro esteja de boa fi, na acepgfio do art. 291/3 do CC, Pela andlise que fizemos, podemos concluir que esto preenchidos todos os requisitos que a lei exige para protecgiio do terceiro. De facto, (i) existe um registo nulo prévio ao negécio de compra e venda entre A e B (0 que registou a aquisi¢ao a favor de A com base numa escritura de justificagio notarial forjada) (ji) a compra pelo B fundou-se nesse registo desconforme; (ii) 0 negécio foi oner0so (compra e venda); (iv) 0 B registou a aquisig&o antes de C registar a acgdo de reivindicagdo ¢ (v) 0 B estava de boa fé, pois ignorava a falsidade do titulo de aquisigao do A e do registo deste © nao the era exigivel que fizesse mais do que consultar o registo predial relativo ao prédio, face A f€ publica destes registos e & prosungiio estabelecida no art. 7° do eédigo respectivo. Assim, a acgio de reivindicacdo ndo poderia proceder, sendo B o legitimo proprietério actual do prédio por aquisi¢ao tabular (efeito atributivo do registo), nos termos do citado art. 17/2 do CRProp. IL— Ponto a reter que todas as hipsteses do art. 17/2 se idemtificam pela pré-existéncia de um registo nulo, Haver alguma forma de evitar o efeito atributivo do registo quando, por falta de registo do proprietario (em termos substanciais) no se verificou o efeito consolidativo? A resposta é afirmativa ¢ é-nos dada pelo art. 5/2.a CRProp: quando a propriedade ¢ fundada na aquisi¢ao por usucapitio tal facto afasta a possibilidade de aquisi¢&o por via tabular. Hipotese n? es z ee a Entre Ae B foi celebrado um contrato de doagao do prédio X, no dia 03-Jan-2002. O contrato, celebrado por escritura publica, foi levado ao registo por A. Um ano depois, em 03-Fev-2003, B vendleu a C o direlto de propriedade adquirido no negocio com A, Cregistou a sua aquisicdo. Em 02-Jan-2006, 0 Supremo Tribunal de Justiga declara nulo o contrato celebrado entre A e B. Com base nesta decisdo, A reclama de C a entrega do prédio, Quid iuris? 108 a con: 1. Da validade dos contratos seus efei 2. Da validade/invalidade do registo da aquisigfio de C e seus efeitos 3, Da protecgao de terceiro de boa fé — regime aplicavel s * Note-se que « milidade do registo de aquisigho pelo tercero nko releva para este efeito; © registo nulo que importa & 0 de ‘aquisigdo em favor de quem alicnou o bem ao teezir, : Carlos Fernandes — 2005/2006 |25 Direitos Reais: I — Publividade: a protecpao registral [Hipéiese n° 17) 1, Da validade dos contratos e seus efeitos T— 0 contrato de doagSo tem eficécia real, transmitindo-se o direito de propriedade para a esfora juridica do donatario no momento da sua celebragiio — 408/1 ¢ 954/a). [CI \bém art. 947°/1 CC ~ embora ni tenha sido referido pelo Prof.) —EE fi Sabemos, no entanto, quo o contrato de doagio A — B é nulo (cf. sentenga). Ora, um contrato rnulo no produz. quaisquer efeitos juridicos ab initio. Por conseguinte, 0 direito de propriedade sobre 0 prédio nunca se transmitiu de A para B (art. 289° CC). {Importa aqui considerar 0 PRINCIPIO DA. CONSENSUALIDADE em vigor na ordem juridica portuguesa] I — Também no contrato de compra e venda se verifica eficdcia real, transmnitindo-se 0 direito de propriedade do alienante para o adquirente no momento da celebragdio — 408/1 ¢ 879/a). Verifica-sé, contudo, que por efeito da nulidade do contrato de doago o prédio era ainda de A quando B o vendeu a C. Logo, 0 contrato de compra ¢ venda B ~ C € igualmente nulo, por falta de egitimidade do alienante, que praticou uma venda de bens alheios’ como sendo do proprio (892). A propriedade continua, em termos substantivos, na esfera juridica de A. Tal remete-nos para uma desconformidade entre a realidade substantiva (A é proprietirio) e a realidade registal (B é proprietirio). ee 2..Da validade/invalidade do registo Considerando que estamos em presenga de factos contemplados nos artigos 2° e 3° do Cod. Registo Predial, tal dado remete-nos para o art. 7° do mesmo diploma no que eonceme a presungto da. titularidade do direito. ‘A poderia ter registado? Sim — eft. art. 36° Cd. Registo Predial (neste easo niio foi o donatério a registar mas sim o doador). 3. Da protecsio de terceiro de boa fé~ regime aplicivel Tendo por base a desconformidade existente entre a realidade substantiva (A é proprietario) © a realidade registal (B 6 proprictério), entende o legislador que o terceiro, neste caso C, beneficia de profecgfio nos termos do art.291° CC. Este regime exige, para a sua aplicabilidade, seis requisitos cumulativos: - 1. Preexisténeia de um registo desconforme ('); 2. Acto de disposigo (negocial) fundado no registo nulo e forido de ilegitimidade por provir de titular aparente; 3. Que a aquisigaio seja onerosa; 4. Que o registo da aquisig&o pelo terceiro preceda o registo de acgiio de mulidade; Que o terceiro esteja de boa fé, na acepyao do art. 291/3 do CC; > Uma mésima que importa reter a de que “Ninguém pode transmitr direlios que ndo tem”. Cf. ar. 892° CC (compra venda) ¢ art. 956° CC (doagio}. * Note-se que a desconformidade do registo de aquisigho pelo terceiro (subadquirente) nfo releva para este efit; 0 rgisto «que importa € 0 de aqusigao em favor de quem alienou o bem ao fereciro. Carlos ernandes 2005/2006 {26 Dirvitos Reais: I — Publicidade: a proteegao reistral [Hipotese n° 11) 6. Que a acgdio nifo tena sido interposta nos 3 anos seguintes contados a partir da data do negécio invalid’ (nulo ou anulavel). [Importante: Aqui o que conta é que a acpiio de declaragéo de nulidade ou de anulagdo seja proposta e registada dentro daquele prazo, nif0 relevando a data da deciséo do tribunal]. Conclusdo: Considerando que (pelo menos tudo o indica uma vez que uma acgio nfo chega a0 cconhecimento do Supremo tribunal em menos de um ano) que a acgao de declaragio de nulidade foi interposta nos 3 anos seguintes, contados a partir da data do negécio, entende o legislador que nestes casos prevalece a posigao substantiva em detrimento da posigao registal. Nota: Artigos 5° ¢ 17° Céd. Registo Predial — a protecgdo do terceiro é automética © ocorre por via do registo. Artigo 291° CC - a protecgao do terceiro s6 se da desde que nonhuma acgtio tenha sido interposta nos 3 ‘anos soguintes contados a partir da data do negécio invalido. Hipétese Suponha agora que a acgdo de declaractio de nulidade foi intentada apenas em 02-Jan-2006.Poderia esta aceao influenciar o conflito entre Ae C? Nilo. Mesmo que o tribunal viesse a declarar nulo 0 negécio entre A e B, tal seria irrelevante para C {que beneficiaria de protecgto registal (adquirindo o direito real a que se reporta o seu registo). Apontamentos: Artigos 5° ¢ 17° Céd., Registo Predial + Artigo 291°CC ‘A aquisigo tabular de um direito implica a extingfio do direito anterior, O direito adquirido tabularmente é um direito ex novo, Art. 5°/1 Céd. Registo Predial: aplica-se em hipsteses de dupla disposigdo (A mesma pessoa dispoe duas vezes do mesmo direito) ~ Conjugar com art. 5°4 Cd. Registo Predial Art. 17°72 Cbd Registo Predial: aplica-se em hipéteses de sub-aguisicdo com nulidade registal (ver art. 16° Céd. Registo Predial) — cenério de sucesso de contratos, Art, 291° CC’: -se om hipétoses de sub-aqui negécio invilide— cenério de sucessio de contratos. ‘fo em que se verifica a preexisténcia de um $ Tratarse do 1° negécio nulo ou anulvel, aquele negécio que nfecta» cadcia dos negécios subsequentes, * drtigns 5°@ 17° Cbd Registo Predial. sto ambos casos de protecgéo automstica do terceiro. " drigo 291° CC: a proteasso do tereciro nto é antamisica, Carlos Fernandes — 2005/2008 [27 Hipatese n° 12] 1) A Posse ~ Perspectivas Dogmdticas Actuais, 2) A Posse, de Manuel Rodrigues 3) Artigos sobre a posse do Cédigo Civil Anotado, do Prof. Antunes Varela Prof, Menezes Cordeiro | a i - jose n® 12 ‘A encontrou um edio abandonado e pegou nele levando-o para sua casa. Trés semanas depois, quando andava a passear oNeu ao, A sojreu um atague de B que Ihe roubou o cto. Bveio a vender o cdo aC, que desconhecia 0 roubo. @) Exclareca a situacdo juridico-possesséria dos trés intervenientes, 4) Diga quem é 0 proprietirio do cdo. SS a ote Allnea a): T—Situaydo do A: : o> Este adquire a posed — 8, §6 ago « propes ea sobre odio. por-eenpasiGh(I3TB), passando a exetoar sobro de an controle materi poder de facto” (1252/2) que caracteriza o elemento objectivo da posse, Le, 0 corpus. - Para os dofensores da concepsao objectivista mais néo é preciso para afirmar que o A tem a posse do fo, salvo se alguma das situagdes previstas nas trés alineas do art. 1253 descaracterizasse 2 sua jtuagio de_possuidor_a wentor.{Como facilmente se verifica, nenlnima dessas hipdteses se fcontra preenchida: nto resulta do texto que o A exerga o poder de facto sem intengo de agir como beneficiério do direito, nto se aproveita da tolerdncia do titular do direito, uma vez que sendo 0 cfo +), abandonado este € res nulius ¢ também nfo é representante nem mandatirio do possuidor nem age em nome de outrem, a Contrariamente, para os defensores da concepgaio subjectivista, nao bastaria 0 cc para caracterizar 8 posse; seria necessério que se verificasse ainda a existéncia de um elemento subjectivo, © dnimist entendido como a intengo de quem detém o corpus em agir como titular do dircito que a poste exterioriza.[Bsta concepso deve-se fundamentalmente a Sayigny © foi duramente contestada por ichring, o primeiro objcetivista. Segundo o Prof., que segue nesta matéria a posigio do Oliveira Ascensio — pioneiro do-objectivismo « sip Ratu = niio tem mziio de ser esta alusiio a uma intehgsio subjectiva de ash excise oper de facto: ial, s6 sendo a caracterizagiio da iesdle 953.) Assim, e em conelusio, o A é um possuidor-e.néo. jo ofc. E é um possuidor causal, uma vez que a posse coincide com a titularidade do direito a que a mesma se refere. Mesmo sendo desapossado fisicamente do animal através do roubo, nfo perderi a posse de imediato: isso_s6 sucederd se a posse de outrem, ainda que contra sua vontade, durar por mais.da.um.ano (1267/1-d). AD awed se T—Situagio do BILD pn a (& AN Apesar de o roubo ser tm acto ilicto, B adquire a posse por apossamento do animal, Isto porque o regime possessério abstrai da titularidade do diteito de propriedade. Dai que a anilise da posse e da propriedade deva ser sempre feita separadamente. B apossou-se do animal através do roubo e, havendo controle material — poder de facto ~ sobre a coisa, haveri posse desde que nflo se verifique 0 preenchimento da previsdo das normas do art. 1253. aoe OB 6, no entanto, possuidor formal, por néo ser titular do direito que a posse exterioriza. Carlos Fernandes ~ 2003/2006 _}28 B Kaye, De Direitos Reais: I — A Posie [Hipésese n° 13) IL —Situagaio do C: O contrato celebrado entre Be C 6 nulo por falta de legitimidade. O B nao adquiriu a propriedade do animal através do roubo, uma vez que este, sendo um acto ilicito, mio 6 causa de aquisigéo. Por conseguinte, por violagio do principio da causalidade, B nada adquiriu. E o facto de ter a posse de nada The adianta, uma vez que em Portugal nao vigora o principio da “posse vale titulo”, _—v Sendo assim, B, como non dominus do c&o, nfo tinha legitimidade para dele dispor, sendo assim o negécio juriico ferido d& nulidade por se trtar de uma venda de bens alheios (892). Por sua vez, também o C nada adquite, face a ja referida nulidade do contrato de compra e venda que celebrou com B. Todavia, 0 facto de nio ter adquirido a propricdade nao significa que também no tenha adquirido a posse. Como se disse jé, a andlise da posse e da propriedade faz-se de forma dissociada. Verifica-se que 0 C exerce um poder de facto sobre o animal e que esta situagao no cai no ambito do artigo 1253; logo, o C & possuidor. Esta posse foi adquirida por tradigtio da coisa, nos termos do art, 1263-6). E note-se que a caracterizago como possuidor formal nada releva, uma vez que se trata de 'uma construgéo doutrinéria que nao tem subjaconte qualquer distingo de regime) Pergunta-se: ser que 0 C tem direito a algum tipo de protecgdo resultante da sua boa f8 no que toca a direitos reais de goz0? A resposta é liminarmente negativa, face & constatagio de que em Portugal no Yigora 0 principio da “poss tulo”, No que toca tutela possesséria, no entanto, pode vir a impedir a legitimidade passiva (1281/2). Alinead}: © proprietétio do animal 6A, que adquiriu por ocupagao, nos termos do art, 1318, Note-se que no tém aqui aplicagio dos requisitos previstos no art. 1323, uma vez que o co nao estava perdido nem tinha sido escondido pelo seu proprietirio: ele tinha sido abandonado, e as coisas abandonadas so consideradas res nulius, Prof. diz que voltaremos a este caso para analisar outros aspectos cuja matéria ainda ndo foi dada, BR Hipittise 1 ee ae ee 4; Proprietério do prédio ristico X, aworizou B, seu vizinho, a levar 0 seu gado a pastar na parte norte do prédio X. Dois meses mais tarde, depois de utilizar o pasto varias vezes, B faz circular na aldeia ser possuidor da parte norte do prédio, uma vez que tem intengdo de possuir. &) Qualifique a situagdo juridico-possessdria de B; 4) Esclareca se a intengéo manifestada por B tem relevancia juridico-possesséria, oo Allinea a): B exerce un poder de facto sobre a coisa, tendo, por conseguinte, o” corpus possessério,(Para oy ‘subjectivisias, na Senda de Savigny, tanto nao bastaria para se poder afitmar que B ¢ possuidor. Eles Ceigee — &xigem, para além do corpus, que se verifique a existéncia do element jectivo que denominam im Salus © que se sraduzna iensdo, por parte daquele que tem o control material da coisa, de exereer odireito correspondente ao direito de propriedade « tro dircito real (1251). Nunca haveria posse se no eivesem eunidos estes dos elementos o primero objesive, Rie 9 segundo, Cofatiimeiie, os objectivistas, na esteica de Thoriny, sonic ‘posse, independentemente de qualquer intengiio subjectiva, todo aquele que exerce um controlo material sobre a coisa, ou seja, que tem 0 corpus possessério, independentemente da intengdo subjectiva do agente, salvo se tal situagtio for degradada por disposigéo expressa da lei_a_mera_detencio. E isto que sucede, por jot g Carlos Fernandes - 2005/2006 {29 Diretos Reais: I~ A Post™ Regeru sf [Elipétese n° 13] exemple, quando a stuagdo ti no dmbito de uma das alineas do art 1253 CC. 4. 4s), yasrsce No caso em aprego, a situagiio do B enquadra-se elaramente na previsio da alinea b), uma vez que 0 controlo material que aquele exerce sobre parte do prédio X se deve a um acto de tolerdincia do titular do direito. Por conseguinte, aquele é mero detentor e nfo possuidor da.coisa em questio, oh evi, aul € mero detent possuidor da.co ES, ge pater linea by pu A relevaincia positiva ou negativa da intengfo menifestada pelo B depende da concepgio que se adopte: objectivista ou subjectivista. ae be She z 1 —Para os objectivistas“ela nao tem Gualquer relevancia positive, uma vez que nto € pelo facto de se anunciar uma determinada intengo de possuir-que-hé passe. Para haver posse bastaria, por um lado, que ele exercesse, como exeree, um controle material sobre a coisa e, por outro, que nfo cxistisse disposigio da lei que afastasse a qualificayio da posse degradando-a a mera detengio. Vimos que, no caso vertente, esta disposigdo existe (1253/b), pelo que 1 hi posse mas apenas deténgao, ) peepee ‘Hs quanto a relevancia negativa, a histéria é outra. Imaginemos que o B tinha o corpus possessério sem que @ situago se enquadrasse quer na alinea b) quer na c) do art, 1253, Neste caso 0 corpus seria suficiente para se dizer que havia posse (a menos que houvesse uma qualquer disposigo legal que afastasse esta qualificago). No entanto, caso o B tivesse manifestado que nfo tinha intengio de possuir, tal declaragio relevaria no Ambito da alinea a), afastando a qualificagio de poss em favor da mera detengio. 125. 2. / 7 Em suma, para os objectivistas, a declarago do B de que tom intonedo de possuir nada releva para o feito da qualificagio juridioo-possesséria deste; a declaragtio contréria — a de que ndo tem intengiio de_ possuir —releva apenas para o preenchimento da previsio da alinea a) do art. 1253. roi Aon Oe hoe Ghee fs ne 2 ak gees eesy Baier Tl— Para 08 subjectivistas, polo contritio, a intengiio do agente nao s6 é relevante como € pressuposto daposso. Para 9s defer don corrente, mesmo havendo corpus nfo hé posse-sem diimus, ja que Giniquer desis elementos éimprescingivel para se caracerzar ua situaglo de posse, Qual a solugdio para o presente caso, tendo em conta que o controlo material exercido sobre parte do prédio pelo B se deveu a um acto de tolerincia do titular do direito de propriedade e possuidor do prédio? Bom, parece-nos que nem mesmo os subjectivistas defendem que a mera_intengii polo detentor possa afastar a estatuigéo do art. 1253 uma vez preonchida a previséo da sua alinea b). E, sendo assim, apesar de a relevéncia que esta corrente confere a intencdo_subjectiva do agente, a ‘conclusio a extrair neste caso continuaria a ser a de que estamos perante um caso de mera detenciio. ‘I — Pareve-nos, todavia, que a situagdo pode evoluir num sentido que, a final, pode redundar numa transformagao da situagdo de mera detengo em posse. Suponhamos que o B, detentor da coisa, depois de fazer“Circular na aldeia ser possuidor da parte norte do prédio, uma vez que tem intenedo de possui*exerce, efectivamente, uma oposico clara 20 proprietétio do atitularidade do Neste caso, desde que essa oposigtio fosse, como diz sobrepor-se-2_aparéncia.que-era representada pelo titulo” e fosse dada “a saber_ao_proprietirio a sua ‘oposigio”, estariam preenchidos os requisites de que o art. 1265 faz depender a inversio do titulo da posse. Ora, sendo a inverséo do titulo da posse uma das modalidades de aquisigaio da posse (1263/d), 0 B passaria de detentor a possuidor, sendo tal posse originaria e formal, ni la (1259/1), de_ma fe SasEnSEGEEDIEEFIEGPSDENSINIDGTES acshy as eins Mes le * Direito Civil Reais, Coimbra Etora, Ba, 2000, 8 92 actin p Beek Carlos Fernandes "2005/2006 | 30 Mere. ws Direitos Reais: INA Posse [Hipétese n° 14) (1260/1-2), pacifica (1261/1-2) e piblica (1262) : c f LEE alley Me, OP RS Fo anode 2g ONS “fae deve ont dhe 2 [en Te Lec ew Hipsiese 1d ie ks ee e 2 ; 2] C. proprietirto do automivel ¥, consitui a face de Bram diveto de usufruto. Com a conclustio do | Contrato, 0 automével foi entregue a D para que exercesse o seu direito. Entretanto, D contratou E como motorista, fieando 0 carro a cargo deste quando D néo necessitava dele para ax suas |_destocagdes. 4 Esclareca o estatuto juridico-possessério dos diversos intervenientes ——| C~ Proprietirio: 6 possuidor do automével, exercendo essa posse por intermédio de D (1252/1). A { | —| ae 4) ) | constitnigdo ¢ venda do usufruto a D, e a entrega do carro a este, no fazem cessar a sua posse nos termos da propriedade, ficando este onerado pelo direito de usufruto, / D ~ Usuffutuério: adquire a posse nos termos do usufruto, por tradigdo simbélica du coisa (1263/b). Cumula o estatuto de possuidor nos termos da posse com o de detentor nos termos do diveito de propriedade, uma que vez. que exerce o poder de facto correspondente ao direito de propriedade em rome de C (1253/e). E ~ Motorista: “Possui” em nome de outrein, logo & mero detentor (1253/c). Tem 0 controlo material da coisa mas nilo exterioriza o exercicio de qualquer direito real sobre ela em nome préprio, ‘Nota: os titulares de direitos reais menores so possuidores nos termos desses direitos, mas detentores nos termos do direito de propriedade, Trata-se de uma detengée complexa, pois sio simultaneamente possuidores nos termos de um direito real proprio. Suponhamos agora que 0 conirato entre C ¢ D é nulo. Hé alteragtio da situagdo juridieo-possesséria de cada.um dos intervenientes? Depende. Se a nulidade for substancial, a posse de D continua a ser titilada (1259/1), passando, contudo, de causal a formal. No entanto, esta diferente qualificagdo & doutrindria, nfo acarretando-diferengas de ‘FBgime, Quanto aos restantes nfo hé qualquer diferenca em resultado desta nulidade do contrato, 16 se, pelo contritio, a nulidade for formal, a posse de D, embora continue a existir ~ por ter sido aadquirida por tradigio da coisa ex vi do art. 1263/b) — deixa de poder ser considerada tituleda, o que tera j4 alguns efeitos em termos de regime, desde logo na presungiio de mé f8 -expressa no art, 1260/2 e ‘os prazos para a usucapido. & claro que esta & uma presungto juris tantum, pelo que pode ser iidida por prova em coniririg- i 2 f wnpSe a epee pode Hipbiese n* 13 ay ER ie segielamag itdouear be A instalow-se com a sua familia na feaceao.aulgnoma XO prédio estava vazio ¢ A, julgando estar 9 Wée | ‘mesmo abandonado, ai se iistalow. [ody 2 Voqrhoaenebileh, agy So OS = c ee 2 so Um ano depois, A vendeu o prédio a8, entregando-the 0 mesmo na data de celebrasio do contrato. free @) Caracterize a posse de A, indicando o facto aguisitivo respectivo, | 2) Facao mesmo relativamente a B. Estatuto juridico-possessério de A: Carlos Fernanies 20052006 [1 5 Soh ae -——® Ni titulada (1259/1): porque nao se funda em qualquer modo legitimo de adquir D aw’ wey ApossedeAt fox ne? soot pes a= fa 1 wae Direites Reais: II — A Posse LS ag oe tel [Hipétese 15) A adie w posse etrwvés de moi de aipesamento (2634), que consiste, tratando-se de coisa mével, na apreensio material da coisa sem ou contnia vote do seu posquidor; tratando-se de coisa imével, esia apreensiio malerial_eonsiste em colocar a cofsa sob o seu dominio com exclusiio do seu possuidor, > A expressio “pritica reiterada...” constante do art. 1263/a) deve ser entendida no sentido de intensidade © néo do niémero ou sua sequéncia de actos praticados; este conceit pode mesmo ser preenchido com a pritica de um tinico acto. Origingrie: esta posse no constitui a continuagao da posse precedente, antes se constitu ex novo. Por isso se diz que o apossamento é um facta constitutive da posse,// Eormal: em obediéncia ao principio da causalidade, a aquisigdo de um diryito real tem que ter Subjacente ima causa, mas a posse tanto pode ser causal como fy formal quando possuidor ndo é, simultancamente, titwwlar do dirsit 9 io.da posse exteriariza, como 0 casa sub,Judice; 6 causal quando-se-dé-na-pessoa do possuidor a coincidéncia da posse © da titularidade do direito real a que a mesma se refere. popsScno = paseo Esta expressto ~ ‘modo legitimo de adguirir” — deve ser interpretada de modo a abarcar todo e qualquer facto juridico — e nfo apenas os contratos — de eficdcia real que seja idéneo, em abstracto, para @ ‘Aquisisdo de um diteito real sobre uma coisa, Nio relova para a qualificago como titulada ou nao titulada o facto de o modo de aquisigao ser ferido de invalidade substancial (como nao releva a ilogitimidade do disponente), mas se a nulidade for formal a posse seri sempre no titulada ().

Pode ser titulada ou no titulada (1259/1): se o negéeio de compra e venda celebrado entre A cB, que constitui, em abstracto, modo legitimo de adquirir, respeitou a forma legal (escrit ica), seri titulada; caso contririo, sera nfo tiulada. Recorde-se que a invalidade substancial do negocio Juridico no afasta 2 qualificagéo Ya posse como titulada, o mesmo. sucedendo a falia_de Iegitimidade do alignante; mas ja ndo assim om se tratando dgfinvalidade. igmmal, ‘=H De mi £6 (1260/1-2): caso se trate de posse nfo titulada, o B tem contra si a Presungao prevista no 7 art, 1260/2, que poderia, no entanto, ilidir fazendo prova em contrério; independentemente disso, j no effafo,tratando-se ce um imével Sujeto a regsto predial, entonde-se que, numa conceptio de | boa fé subjectiva ética — que, apesar de nfo expressamente consagrada no 1260/1, € aquela que deve Ser tida em conta —o actual possuidor deveria ter-se asse; ido de que 0 alienante tinha a seu favor um registo predial onde constasse como titular do direito de que estava a dispor. Nao havenido esse Fegisto ~ como parece ser 0 caso ~ dif ‘poderd alegar estar de boa f8. A ‘mora consulta do registo permitir-Ihe-ia conhecér que estava a losar 0 diteito do outrem. 7 ® Piblica (1262): uma ver. que é exercida de modo a poder ser conhecida pelos interessados. ~-® Pacifica (1261/1-2): 86 ¢ considerada violenta a posse obtida por coaceio fisica ou moral sobre 0 Possuidor, A violéncia sobre a coisa.(ex. arrombamento da porta da fracgdo auténoma) nao releva para @ Caracterizago como violenta da posse). Neste caso néo houve violencia quer contra 0 possuidor — tnica relevante para este efeito — quer sobre a coisa. Para a classificagao da posse como violenta ou pacifica atende-se apenas ao momento da sua aquisiga ~~~] Nota: na resolugdio de qualquer caso sobre esta matéria deve fazer-se sempre a caracterizagio da posse / segundo todos estes eritérios { oa — 3 Note-se, no enfanto, que hé bastante jurispradéncia que accita como tal posse obtida com violéncia vontta as ooisas (nomeadamente através de arrombaniento de portas ou janelas,substinuigbo de fecheduras, cle.) : Caries Fernandes ~ 2005/2006 [33 [oe ee — Dintitos Reais: IH —A Posse [Hipétese n° 16) +r | Hipétese n® 16 A furtow o veleula ¥, pr reine de Z, Dois meses mais tarde, por acordo verbai/A) jvenden.aBso ‘usufryto sobre 0 veleulol. Um ano depois, em Janeiro de 2005/ B descobre que( A hao & 0 proprietério do carro e comnica-the «que nao tenciona devolvé-lo no final do usufruto nem Vai permitir qualgier so do mesmo. @) Qualifique asituagao, juridtco-possessiria dos intervenientes: 4) Esclareca quem € o proprietério do veiculo e como se articula esse direito com as posses sobre 0 mesmo. 7 Alinegs): G76 proprietirio e possuidor, tendo sido privado do. “enna pelo furto Dai resulta a posse para o “autor do furto, por apossamento (1263/a), mas nio a perda imediata da posse do Z. sta s6 ocorre pela “posse dO“A Ou de outrem, contra a vontade do esbulhado, por um porfodo superior a um ano (A267/1,d), Este prazo conta-se, no presente caso, a partir da data em que Z tiver tomado conhecimento da posse do esbulhgdor, uma vez que foi tomada a ocultas (1267/2). Nao tem aplicagao parte final do art. 1267/2, por neste caso a posse nfo ter sido tomada com violéncia sobre 0 possuidor (ou entio nose pode ia falar do arto is so de. spuo) Esta posse & em principio, causal, 6 nfo efectiva, en principio ttulada (1259/1) e de boa £8 (1260/1- 2), pacifica U26L) e piiblica (1262). [Nao hé dados suficientes para apurar se ¢ originéria ou dorivada, () T—0 A adquire a posse, como se disse, através de um acto ilicito penal ~ o furto — pelo qual priva 0 anterior possuidor do controlo material efectivo sobre a coisa.(O facto aquisitivo.da posse de A é 0 apossamento, previsto-no art. 1263/a), ainda que se trate de um tinico acto (como jé se referiu Anieriormente, a expressdo “pratica 1a” deve ser interpretada no sentido de intensidade dessa pritica © nfo de um certo namero de repetigdes ou de sequéncia dos actos), Esta posse € efeetiva, formal, nfo titulada, de_mé f, pacfliea e_oculta (nfo ¢ suposto que os interessados, vg. o proprietaro, tenliam conhectnento da posse do autor do furto — apesar de o mesmo poder usar 0 veiculo em condigdes idénticas a um possuidor normal, tal_nio quer dizer que 0 roprietério tenha conhesimento quem ele ¢ ¢ onde se encontra), / 7 ufo _-&v IIL ~ 0B 6 possuidor nos termos do usufruto, mereé do contato de compra’ venda que celebrou com A. Adquire a posse por meio de tradigdo simbélica da coisa (1263/b) ede.modo.paciico. No entanto, o contrato qe compra e venda do usufruto é nulo por fata de legitimidade do alienante, nos termos do art, “892° pelo que o usufruto ndo chega a transmitir-se para a esfera juridica do comprador. Tal facto pode — ou nfo. — ter reflexos quanto a caracterizagdo da posse como caysal jou formal, como veremos de seguida. Basta posse &: Efectiva e formal: porque niio ha coincidéncia entre a titularidade do direito.e a posse que 0 GKterioriza: sendo o contrato nalo nada se transmitiu, pelo que B no é titular do direito de uusufruto nos fermos do qual exerce a posse, Titulada (1259/1): porque tem subjacente um modo legitimo de adquirir considerado em abstracto ™ Uma ver feita a qulificasto pormenorizada em casos enterirores com exaustiva explicaga0 dos critérios usados, julga-se desnocessirio estar a repetir tudo de novo... Carlos Fernandes — 2005/2006 |34 <5 BM a ae Direios Reaie: I $A Posse] [Hipétese »° 16] ~ a compre ¢ venda é um contrato juridico idéneo a adquirir um diteito real, por forga do art 08/1 © 879/a do CC ~, apesar de, em concroto, essa eficdcia real nfo se ter verificado. E é em absiracto que a idoncidade ou inidoneidade do facto juridico de aquisigdo deve ser aferida, sendo irelevente Para a qualificagio como causal quer a falta de legitimidade do alienante quer a invalidade Substancial do modo de aquisigo. Quanto a uma possivel invalidade formal, pensamos que esta nil se verifica no presente caso por se tratar de negécio jurfdico consensual, em que vigora a liberdade de forma (219 CC). = ~ De mé fe (1260/1): apesar de haver uma presungdo de boa f& na posse titulada (1260/2), caso se ° audopte, como parece ser mais correcto, a concepgio de boa fé subjectiva ética, teremos de concluir pela qualificagio desta posse como de mé f8, uma vez que o comprador do usufruto podia ~ & devia — ter consultado os registos de propriedade-automével para se assegurar que o alicnante deste_direito tinha Tegifimidadé para-dele dispor| Se o tivesse feito estaria em condigdes do ‘conhecer que a sia posse Tesava 0s direitos do proprictério do automével, pelo que néo pode agora vir alegar boa f. : — cutia (1262): A posse 86 seria oes. fosse exercida de modo a que os interessados dela pudessem conhever — como sucederia com um uso normal do vefoulo nas vizinhangas do seu Proprictirio. Neste caso concreto, a posse é piblica relativamento a A ¢ oculta relativamente az.| > ~ Pacifica (1261/1): 0 comprador do usufruto recebeu a coisa sem ter agido com qualquer tipo de violéncia. IV — Releviincia juridico-possessoris way Recordemos os factos: -~& }°~ 0B 6 possuidor nos termos do“usufrutd ¢ detentor nos termos da propriedade, uma vex que “possui” em nome de outrem (0 proprio - 1253/b), > 2°~ A partir do momento em que descobre que 0 A furtou o veiculo, commica-the que no the iré devolver o carro nem permitir 0 seu uso (i.e. arrogn-se_a gual de. popitirio ose esse alidade 20 A, inipedindo-o de . —* 12 63) « 1LES wuss bay ee nea ee eee > O art consagra a lidade de “aquisi 2_posse por invers respectivo titulo, segundo o art. 1265, uma das formas de inversio do titulo da posse consiste na “oposigdo do detent do_diveito contra aguele em cujo nome possuia". Temos, assim, dois requisites de procnchinento ‘cumulativo para que a inversio do titulo da posse possa ocorrer: (i) que 0 novo ) possuidor seja detentor isa; € (li) que exista uma efectiva oposigiio do detentor contra aquele em nome de quem pou > 0 primeiro requisito esti, indubitavelmente, preenchido. Quanto ao segundo, diz-nos Oliveira Ascenso ("), “a_oposigo tem que ser categorica, de modo a sobrepor-se a cia que era ‘opresentada pelo titulo” ¢ em que dar “a saber ao propricitio a Sua oposigdo”. Foi isto o que suesteu 5d prosente caso, pelo que se considera ter havido inversio do tale-de posse nos lermos do art 1265, adquirindo 0 8 a posse nos termos da propriedade, para além da que jé tinha nos termos do usuftuiay —» Esta posse & otiginaria, formal, ng titulada (1259/1), de ma £8 (1260/1-2).¢ Pacffica (1261/1-2). B, ainda, piblica relativamente a0_A, ¢ ogulta relativamente ao 7, (1262). _—— V — Fo que avonteve & posse de 2? 4, Esta 86 se extingue decorrido um ano a contar da data em que tiver tomado conhecimenta da nova Go” Posse (1267/2). Esta solugSo insere uma desconformidade com 6 Teginis do ar [362: enquanto neste de Shasta, para que a posse seja caracterizada como piiblica, que esta possa ser conhecida pelos a inferessados, para o inicio da contagem do prazo de extingio da posse exige-se que seja efectivar * Direito Civil~ Reais, Coimbra Faltora,5* Ed, 2000, p. 92 Carlos Fernandes ~ 2005/2006 See Dirvitos Reais: II - A Posse [Hipotese n° 17| conhecida, Note-se, no entanto, que a contradigo é apenas aparente: a norma do 1267/2 ndo se destina a caracterizar a posse como pUblica ou oculta — esse papel cabe ao art, 1262 ~ ela visa, tio 6, garantir a possibilidade de exereicio dos meios de tuela possesséria ~ 1282. ‘A posse do A também nfo se extingue automaticamente: da mesmna forma, s6 ocorre passado um ano, ‘Mas aqui o prazo conta-se desde o inicio da posse de B, uma vez, que esta é piiblica e conhecida do A. Isto significa que, pelo menos durante um ano, subsistem t185 posses sobre a mesma coisa, apesar de incompativeis entre si: a do Z, a do A ea do B. O art, 1278/2-3 estabelece regras quanto a esta matéria, que serd estudada mais tarde, Mica by): O proprietirio do vefculo continua a ser o-Z, porque quer o apossamento quer a inversio do titulo da posse (ou qualquer outro facto aquisitivo da posse) ndo implicam aquisigio da propriedade. Estas duas roalidades tm que sor mantidas estritamente separadas. ‘Assim como pode haver posse sem_propricdade, pode igualmente hayer propriedade sem_posse (recorde-se quo este principio é aplicdvel a qualquer outro direito real). fies __-® 0 proprictirio som posse pode reaver a coisa mediante uma acgo de zeivindicaydo (ZL), sendo esta acgiio impreseritivel, presente Nesta hipétese no chegou a haver perda da posse pelo Z, pelo que a acgfo adequada para reaver a coisa seria uma aceiio de restituigdo da posse, a que se refere o art. 1278/1 ("). Lae @ S09 a o~ we Fok 2s yley Hi Aé proprietirio do prédio ¥ que se encontra arrendado a B, 0 qual exerce 0 seu comércio no local carrendado. 7 ae Em 19-01-2005, A vendeu a propriedade a C, ndo entregando o prédio ao comprador. @) Esclaresa a situagdo juridico-possesséria dos trés intervenientes; 4) Suponha agora que 0 prédio ¥ nao se encontrava arrendado e que A néio efectuou a entrega do mesmo 4B no momento da compra e venda ou.em momento pasteriot. Adquiriu Ba.posse? _& ©) Diga qual é a regra geral de transmissaio da posse no Direito Portugués. it a fapretie ter eB Alineaa): pass => I—Situagao de B: A Jei portuguesa no trata o arrendamento como direito real, Coloca-se aqui o problema de saber se pode haver posse nos termos de um dircito de erédito. © Cédigo (1037/2) permite o uso dos meios de defesa possesséria pelo arrendatirio. Assim como 0 permite nos casos de parcoria pecuiria (1125/2), de comodato (1133/2) ¢ de depésito (1188/2). O que quer isto dizer’? Aparentemente, a Ici portuguesa permite apenas a posse no tocante 2 direitos reais de.gozp. Seré assim? © arrendatirio que recebe a coisa arrendada nio exterioriza o direito de propriedade; ele niio possui Como esta maria ainda ndo foi dada, nto seré aqui aprofundada, Carlos Fernandes ~ 2005/2006_}36 Direitos Reais: UI — A Poste an [Hipstese n° 17) : wins om nome proprio, mas em nome do propritito’ do nos termos do direito de propriedade, Resta saber se a exteriorizagao de um dizeito proprio ~o dirsto da losatério— permite a posse. Para alguns, a faculdade de usar os meios de defesa da posse existe para defesn do dieito de detengio nfo de uma qualquer pretensa posse. Mas, segundo o que foi ensinalo na aul, isto nBo faz sentido, Porque a defensao ¢ um no-direito. A defesa da posse no pode sor explicada nestes termos, <= llveira Ascenso (¢ 0 Brof-segue.esta-posigio)entende que ha aqui uma posse a que chama passe interdital. A esta aplicar-se-ia apenas parte do regime possessério, como a tutela da posse, ¢ no todos 0s aspectos desta, A esta posse interdital nao seria aplicivel, por exemplo, o regime da usucapizo © dos fhutos. Jé os regimes da presungéo de titularidade, do direito de indemnizago © de tutela Possesséria teriam aplicago nestes casos ("*), Considera, assim, que B 6 possuidor (posse interdital) nos termos do arrendamento e detentor nos termos do direito de propriedade, Para o Prof, ls posse para além dos direitos reais de gozo... Baseis-se no raciovinio do Jhering de que hha posse sempre que alguém tem 0 corpus e apareea a exteriorizar 0 exercicio de um diteito, salvo se a lei degradar tal situago a mera detengo, ‘Nota: no interessa fazer a caracterizagio da posse interdital. (1253/e). Sendo assim, é um mero detentor I — Situagao de C: OC adquiriu a propriedade e a posse, esta através do consttuto possessério (1264/2), que & um facto translativo da posse (1263/c). eae 3,0 constitu possessrio supe: Yoh, BA) Umacto de transmisstio; css (ii) por parte do possudor; ‘ple: 9 (iii) que continua a doter a coisa on ape ne continua a deter a coisa on is SY ivy quo coisa sein del 1a conti Jo —}> Foi isto o que sucedeu no presente caso: por efeito do contrato de compra e venda celebrado entre A ¢ G, & propriedade transmit i -o.segundo no. proprio. momento da celebracio do sontrato (408/1_¢ 879/a); a posse transferiu-se também, independentemente do facto do a coisa finwar @ ser detida por terceiro, nos termos do art, 1264/2. = jesse yak > _Trala-se de uma transmissio juridioa da posse, que dispensa a entrega material ou simbblica da coisa, Cuja origem remonta ao Direito Romano. O constitute possessério representa, apesar disso, uma excepefo a regra goral de ransmissto da posse: a tradigfio material ou simbslica da coisa, A posse do C € causal, ttulada, de boa f6, pacifica e piblica, Alinea 6): Niio havendo arrendamento nom causa justificativa, para a nfo entrega da coisa no momento da celebrardo do contrato, no hé transmissio da posse. Niorh4 constituto possessério porque falta uma ‘causa justificativa para a nto entrega. | ~~ O C adquire, neste caso, a propriedade (408/1 ¢ 879/a), mas niio a posse, que continua com 0 A, fransformando-se de causal em formal. © novo proprietério (C) pode obter a entrega da coisa (6 ‘adquitir @ posse) através de uma ace8o de reivindicago da propriedade (1311) ou através de uma Nota: Oliveira Ascenso nfo diz nada sobre so no manual; verse hé bibliograta sobre a metre. Carlos Fernandes ~ 2005/2006: 16 E11 36108 Direitos Reais: I — A Passe. [Hipétese n° 18) acgiio de cumprimento (87), mas nio através de uma acgfio de restituigéo da posse (278), uma vez ‘que nilo pode ser restituido naquilo que nunca teve, / _——® Hipéiese 0°18 a A, proprietério do prédio X, vendeu a B esse direito, convencionando simultaneamente as partes que A permanecerta como arrendatdrio durante seis meses. Nao houve entrega da coisa. arrend Nao houve entrega da coisa a) Esclareca a situagiio juridico-possessoria dos ervenientes. }) Suponka agora que A, proprietério do prédio, vendeu o mesmo.a B,-sem contudo, entregar a coisa ao comprador. Esclareca a situagdo juridico-possesséria de ambos. 1agdo juridico-possessoria do A. © A cra proprietirio ¢ possuidor do prédio antes da sua alicnagiio. Com a celebragio do contrato de compra ¢ venda a propriedade transfere-se pata.o B, por efeito do principio da consensualidade previsto no art. 408/1 e 879/a. Simultaneamente, por eedéncia (1267/1.c), perde a posse nos termos da propriedade, passando a mero detentor nos termos deste direito, uma ver. que “possui” em nome de ‘outrem (1253/e). ‘Segundo a doutrina do Prof. Oliveira Ascensio, seguida pelo Prof. Coelho Vieira, o A adquire a posse ‘nos termos do arrendamento, por considerar que a posse pode ter lugar para além dos direitos reais de gozo (1037/2). Trata-so daquilo a que chamam posse interdital ('*). Este interveniente passaria, assim, a ser detentor nos termos da propriedade e possuidor nos termos do atrendamento, sendo que a sua posse é interdital;-o-que significa que nfo beneficia de todos os aspectos do regime possessério e que no se toma necessério proceder sua caracterizagao. IL -Situagdo juridieo-possess6ria do B._ OB adquire, por forga do contrato de compra e venda, a propriedade do prédio (408/1 e 879/a). Relativamente & posse, niio tendo havido tradigo nem apossamento nem inversio do tftulo da posse, 1hé que verificar se esto reunidos os pressupostos do constituto possessério, nos termos do art, 1264/1. Os requisitos deste institut sfo os seyuintes: 1) Um acto translativo da propriedades > 2) Que o transmitente tivesse a posse da coisa > Una cause jurcion que jusique 0 fete d6-0 -iransmitente continuar com a coisa em seu ‘Vemos claramente que todos os requisitos cumulativos do constituto possessério estio preenchiidos: 0 ‘A era proprietério e possuidor, transmitiu a coisa por compra e venda e manteve a coisa em seu poder devido a um contrato de arrendamento celebrado com 0 adquirente. 7 Este instituto tem origem romana ¢ destinava-se a evitar certas exigéncias absurdas que resultariam do facto de contrato de compra ¢ venda entre eles no ter eficdecia real mas apenas obrigacional. Para que a propriedade se transmitisse era necessirio que a coisa fosse entregue, material ou simbolicamente, a0 adquirente. Mas seria absurdo que 0 disponente tivesse que entregar a coisa a0 adquirente para este a éntregar de novo ao primeiro, com quem deveria manter-se por forga do *© No explicou como & que 0 A adquiru esta posse: nko fi por apossumento, amémn no fol por tadiggo, no parece que ‘scjaros peante uma inversio do titulo da posse e no & de certeza um caso de constito posessrioa for do (6-0 sim ‘favor de B, mas ji iemos). Terk sido por taigao revi mar? Carlos Fernandes - 2005/2006 [38 Direitos Reais: A Posse [Hipotese n° 19) contro de arrendamento, Foi por isto que se instituiu uma espévie de posse iuidica, para cuja aquisigao deixava de ser necesséria a tradigiio da coisa, + 0 iinterveniente B adquire, assim, uma posse meramente juridica, mesmo que a coisa nao the seja entregue, por forga da norma estabelecida no 1264/1. __-sAlinea b): A diferenca entre esa hipstse oa anterior ¢ que nesta nao hé contato de arrendamento nem qualquer Outra causa uridiea) que justifique que o alienante continue a exercer 0 controlo matorial ‘sobre # coisa. B isto quer dizer que, na falta deste requisito (causa), néio hi it sessorio, 0 que resulta numa situacdo em que o A ¢ possuidor sem propriedade (formal) ¢ o B proprietdrio sem posse. Nao chega 1 haver aqui qualquer tradigio da coisa (ainda que na modalidade de brevi mana), pelo que © primitivo possuidor (A) mantém a. Posse sobre a coisa, Para obter a entrega da coisa, 0 comprador poderia recorrer a uma acgiio de reivindicagéo da coisa (1311) ou a uma acgiio de: ‘cumprimento (817), uma vez, ‘que © contrato de compra e venda produz, para alm des efeitos reas de transmissio da propriedade, a obrigagéo de entropa da cosa (879/). Mss |a niio poderia recorrer @ uma acgo do restituigio da posse (e muito menos de manutengio), por nao se pode restituir © que nunca se teve (1278). Hipoiese n° 19 ae ae eS —— 4 ¢ proprietirio do awomével X e igualmente seu possuidor. No dia 01-01-2004, B furtou o automével de A, ignorando este quem o tinha furtado. Em 0: ‘005, B vem a doar 0 carro.a C, que ignora o furto do mesmo. Em 15-05-2005, A vem a saber por intermédio da Policia que C tem o carro. Perante a recusa de C em devolver 0 carro, diga 0 que pode A fazer, esclarecendo a situagéo jurldico-possesséria de todos 08 intervenientes e a caracterizagdo da posse de cada um deles. MOP a wi AG 1a7ay idico-possessdria de A. Como se disse no enunciado, A era proprictério possuidor do automével & dala em que foi furtado Por 3 ¢ continua a ser uma coisa e outra. Continua proprictirio, porque 0 furto nto é um medo legttimo de aquisigio da propriedide (1316-1317 a contrario); © continua possuidor porque a perda da Posse do anterior possuidor pela posse de outrein, ainda. que contra a sua vontade, s6 corre decorrido um ano a.contar da data em que teve conhecimento da nova posse (1267/I/d e2). ‘Ora, sendo a posse do B cculta, 0 prazo em questiio apenas comega a contar a partir de 15-05-2005, data em que o A ¢ informado pela Policia que o C esta a exercer a posse sobre o carro, Verifca-se, por conseguinte, que durante esse periodo hi duas posses inconciliiveis sobre a mesma coisa: a do A, que ¢ uma posse meramente juridica (uma vez que perdeu 0 corpus), ¢ ado B, esta uma posse de facto, A posse do A é causal, em principio titwlads, de boa fe, pacifica e piblica. I~ A situagio juridico-possesséria de B. 2.8 acquire a posse por apossamento, nos termos do art. 1263/8), contada da data em que praticou 0 furto. Como 0 furio ntio é modo legitimo de adquirir, a posse € niio titulada; sendo nfo titulada, presume-se do mé fé (1260/1-2), presungao esta que & confirmada pelo facto de neste caso set notérig gue 0 novo possuiidor conhecia perfeitamente, no momento da aquisigio da posse, que lesava 0 direito de outrem; trata-se de uma posse pacifia (1261), uma vez que nao hd coacgao fisca ou moral contac Cartos Fernandes ~ 2005/2006 [39 Diretos Reais: II—A Posse [Hipstese n° 19) anterior possuidor (ou entdo tratar-se-ia de roubo ou violéncia depois da subtracgao e ndo de furto) © & ‘oculta, uma yez.que 0 A no tem idade de conhecer a posse do B. OB perde a posse por cedéncia a0 C em 05-02-2005 (1267/1/c), no momento em que ela ¢ adquirida por este ditimo. aa IIL ~ A situa juridico-possess6ria de C. © C adquire a posse por tradigo (1263/b), mediante o contrato de doagiio, independentemente da -validade ou invalidade substancial do negécio celebrado com B. © contrato de doagio em causa é substancialmente invélido, por o art. 956 ferir com a sangfio da nulidade a doago de bens alheios; e, como vimos, a propriedade do automével manteve-se com 0 A, por o furto praticado pelo B ndo ser um modo legitimo de aquisigo deste dirvito. ‘Sendo o contrato de doago nulo, o C nada adquire em termos de direito de propriedade: nao sendo 0 B titular deste direito nunca o poderia transmitir. ‘A posse do C tem, assim, um caricter formal, por ndo haver coincidéneia entre a posse € o direito que © seu exercicio exterioriza, A posse & contudo, titulada, pois se fundou em modo legitimo. de adquirir ~ a dosgio (1317-1318). Este modo legitimo de adquirir é considerado em abstracto, independentemente da sua validade ou invalidade substancial no caso concreto (1259), Apesar de este contrato de doagéo ser nule por invalidade substancial, tal nfio afecta o carécter titulado da posse que o C adquiriu, uma vez que o art. 1259 define como titulada a posse fundada em modo legitimo de adquirir, independentemente da validade ou invalidade substancial desse facto juridico com eficécia real de que a situaglio juridica retira o seu modo de ser. 0 que quer isto dizer? Quer dizer que a posse seri titulada ainda que o facto juridico com eficdcia real (contrato, acto juridico unilateral...) que constitui o modo legitimo de adquirir sea invalido por vieio ‘outro que no o formal. Tendo em conta que a doagio de coisa mével s6 esta sujeita a forma especial se ndo for realizada a entrega da coisa, e tendo neste caso o carro sido‘entregue ao C, no se verifica aqui qualquer vicio desta natureza (947/2). A posse titulada presume-se de boa fé, nos termos do art, 1260/2. Mas esta é uma presungao iuris tantum, pelo que pode ser ilidida por prova em contrério. E parece-nos que, neste caso, essa pfova Bode ser encontrada se considerarmos, no seguimento da doutrina de Oliveira Ascenso seguida pelo ‘nosso regente, que o art. 1260/1 consagra uma concepeiio subjectiva ética de boa fé. B que bastaria a0 C uma mera consulta aos registos da conservatdria do registo automével para se poder assegurar se quem Ihe doava a coisa era ou nfio 0 seu proprietirio. Consideramos, assim, que o C tem posse de mé f&. ‘A posse 6, no entanto, pacifica pelas mesmas raztes aduzidas quando caracterizimos a posse de B (1261). Quanto a publicidade, temos uma caracterizagio dualista: 2 posse 6 piblica relativamente ao B, que ‘tem conhecimento da posse de C, © oculta relativamente ao A, que nio tem possibilidade do a ‘conhecer (1262). TV ~0 gue pode o A fazer para reaver a coisa. © A pode, neste caso, intentar uma acgao de reivindicagdo da coisa (1311) ¢ obter, por intermédio desta, a restituigdo da coisa. Mas seri que poderia obter © mesmo efeito através dos meios de tutela possesséria, designadamente através de uma acgio de manuteng&o ou de restituigdo da posse nos termos do art. 12787 Quanto & primeira a resposta é negativa. Em primeiro lugar, porque a acgo de manutengio sé pode ter Carlos Fernandes ~ 2005/2006 |40 Dinites Reais: I-A Posse _ _[Hlipétese n° 20) lugar naquelas situaydes em que, tendo-se verificado a perturbagllo do possuidor (nomeadamente através de tentativas de esbulho), este nunca tenha chegado a perder 0 controlo material da coisa, Hé ‘entativa de esbulho, mas este nio & concretizado. E quanto a acgao de restituigtio da posse? Bom, aqui depende. So quem fom aetuzlmente 0 poder de facto da coisa for um possuidor de boa f, entiio esta possibilidade astada, uma vez que o art. 1281/2 in fine s admite a acghio de restituigao da posse contra quando este.tenha conhecimento do esbuilho (""). Neste caso s6 Ihe testard a altemativa da acgaio de reivindicagao prevista no art. 1311 CC. / No presente caso concluimos que 0 C adquiriu a posse de mé fé, fundamentando tal qualificaggo nos | termos da concepeao subjectiva ética do conceito de boa f. E, assim sendo, 0 A poderia perfeitamente ( intentar uma acgio de restituigao da posse contra o C ('"), j Mas, atengdo: quer a aceo de tenedio.quer.a de restituic&o partem do pressuposto fundamental dé que da aego ainda tem a posse da coisa, ainda que meramente juridica. Se tiver pordido a Posse - nomeadamente pelo decurso do prazo definido no art. 1267/1/d e2 ~ jé nfo Iho serk possivel Tecorrer a este mecanismo de tutela juridica, devendo antes recorrer A acgdo de. reivindicagao do art 1311. CC, so? a OEE ye Dee Vee V— Posse vs. Direito de propriedade e outros direitos reais de goz0. Tevantou-se a questo de saber © que sueederia se 0 C, possuidor formal, opusesse a sua posse ao Jireito de propricdade de A, no ambito da acgo de reivindicagao que este Ihe move, Bom, segundo 0 que foi ensinado na aula, o sistema juridico esta estruturado de forma ‘coerente © nunca poderia permitir que o direito de propriedade, como direito real, fosse afastado quando Confrontado com a posse. Em qualquer confionio entre a posse formal e qualquer diteito reil de gozo (€ nto 86 0 direito de propriedade) sto estes que prevalecem, Wipes n° 20 if i ee A & Possuidor formal nos termos da propriedade do prédio X desde 01-01-2003. A sua posse 6 ttulada, de boa fé, piblica e pacifica Fm 05-05-2005, B instala-se no prédio de A e retira-lhe o controlo material sobre ele 9 Esclareca 0 que pode A fazer, explicando 0 desfecko de uma acedo possessiria de restituigao movida por A; 2) Suponha agora que na aceio possesséria de resttuicéo, B invoca e prova a titularidade do direito de propriedade. Qual seria o desfecho desta acgdo? Alinea a): I~ OB adquire a posse no titulada (1259), demi apassamento, nos termos do art. 12634a, Trata-se de uma posse formal (1260) e pithlica (1262), havendo divides quanto a sua Classificagao 2” Note-se ue aq lei diz, refirindo-s a teres, “yue tena conhecmsento do exbulho" nquanto que no a. 1250/1 aie expressamente quo “A posse diz~se de bos f, quando 0 possuidorignorava, ‘Pazece-nos que no se fla da mesma coiss: no art. 1260 releva para efeitos de Trantn da aqulsigso da posse (a posse adquirds de boa f8 manter-s-A de boa f& para sempre, mesmo sue pecs TUR I Gomberimento posteiormente que est & esr o dircito de ourom); aqui no art. 1281, exgee apne us 6 {reci tenha conhecimento do esbuiho, indepeadentemente do momento ein que esse conhecimento the tea chop, ¢,Na eslueo inci feta ma auaprtica nto se elevou ext spect teno-se considerado qua posse sre de bon com basoma presunpo do ar. 1260/2, resaltante de so ter consderady quo posse da Cera titel Cortes Fernandes —200sr006 [ai Direitos Reais: IV — A nsueqpido [Hipotese n° 21) ‘como pacifica ou violenta (1261), dado que o texto niio nos fornece elementos suficientes para esta caracterizagio. Apesar de se poderem admitir as duas hipéteses, consideramos, no entanto, que esta posse é violenta, uma vez que se diz no texto que B retira ao anterior possuidor o controlo material sobre 0 prédio, Note-se que, segundo a posiglo eiisinada nas aulas, so hé posse Violenta quando ‘a ccoaesio fisica ou moral se drige contra a pessoa do antiga passuidore-néa.contra as coisas.” I~ Apesar de B ter adquitido a posse logo que passa a exercer, com exelustio do anterior possuidor, 0 controlo material sobre a coisa, A no perde de imediato a sua posse. A lei exige para tal que a nova posse tenha durado mais de um ano. Este prazo conta-se desde o inicio da nova posse (lembre-se que a posse adquitida por apossamento & origina), se foi tomada publica ¢ pacificamente, Caso soja oculta e/ou violenta, 0 prazo s6 comeca & ccontar da data om que se tornou publica e/ou cessou a violéneia (1267/1 ‘Vimos que a posse do B era piblica, mas considerimo-la violenta, pelo que 0 prazo sé comeya a contar da cessagio desta violencia #” Ill - Segundo o texto, B apossou-se da coisa em 05-05-2005, pelo que nfo decorreu ainda um ano desde o inicio da‘nova posse. O A continua, assim, a ser possuidor da coisa, pelo que pode recorrer aos meios de defesa da posse, nomeadamente a acciio de.restituigo-da-posse-prevista no.art,1278. Mas nfo pode recorrer & acgo de reivindicagio prevista no art. |QLJ, uma vez que, sendo possuidor formal, nao é titular do dircito ios termos do qual exercia a posse. O desfecho da acgao possesséria de restituigéo depende de qual das duas ¢ a melhor posse. O artigo 1278 estabelece as regras a este respeito, considerando que ¢ melhor posse: 1. A que for titulada; 2. na falta de titulo, a mais antiga; e, 3. se tiverem igual antiguidade, a posse actual. Aplicando estas regras ao caso em anilise, vemos que a posse do A é titulada e a do B niio, pelo que a primeira & melhor posse. Alinea b): Caso tal prova fosse realizada, prevaleceria o direito de propriedade sobre a posse, pelo que a acgio intentada pelo A seria improcedente. Assim, face 20 disposto no art. 1278/1, A niio poderia ser restituido na posse. Note-se que a garantia de restitui¢ao proviséria da posse por esbulho violento, sem audiéncia previa do esbulhador, prevista no art. 1279, aplica-se sem prejuizo dos artigos anteriores, pelo que nio afecta a solugdo prevista no art. 1278/ TVA usueapiio: Hipitese n° 21 Aula de 21-02-2006 A vendeu a propriedade do prédio x a B em 12-01-1985. B sabia, porém, que 0 direito ndio pertencia a ‘A, mas sim a Z, Nao obstante, 4 figurava no regisio como adquirente da propriedade. B registou a sua aquisiciio dois dias depois (14-01-1985). Em 15-05-2002, B doa aC a propriedade do prédio x. Nessa mesma data, C recebe 0 prédio por entrega de B. Carls Femandes 2008/2006 [a2 Direites Reais: IV —A usucapio __[Pipétese n° 23) Em 10-02-2006, Z, proprietario do prédio segundo acérddo do STJ de 10-01-2005, move uma acgdo de reivindicagdo contra C. Considerando que a decisdo judicial acima referida foi proferida em acedo movida por Z contra A e B, diga qual seré o resultado possivel da ac¢do de reivindicagdo tendo em conta os meias de defesa que C pode invocar. Na aniilise desta questi considere dois cendrios: 1. Cencirio em que 7 demonstra a propriedade na acgao de reivindicagéio; 2. Cendrio em que Z no demonstra a propriedade na acgiio de reivindicagdo, 2 faz prova da propriedade: ‘Nota: 0 acérdio judicial que declara Z proprietirio 6 emitido na sequéncia de uma acco interposta contra A e B, Consequentemente, nio faz caso julgado em relagdo @ C (que ¢ terceiro). Em suma, esta decisio nio pode ser invocada contra C— vale $6 para Z, Ao B. Considerando que a acgo nio faz. caso julgado contra C, Z tem que provar a titularidade do direito real, Analisando o enunciado do caso pratico temos: T— Um contrato de compra ¢ venda entre A ¢ B: este contrato é nulo por ilegitimidade do alienante, que assim fez uma venda de bens alheios (892); como tal, B nada adquire do ponto de vista substantivo. Todavia, adquire posse, uma vez que recebe a coisa. Esta posse ¢ formal, titulada, de mi £8, pacifica e piiblica, —~ I — Um contrato de doagio entre B e C: é E Por falta de legitimidade de B (956). Néo sendo proprietério, B nlo poderia validamente transmi Como tal, C nao adquire o direito real ~ Propriedade — mas adquire a posse por tradi sa (1263/b). A sua posse é formal, titulada (0 contrato de doagdo 6 um contrato com efieécia real, sendo um modo idéneo para 2 aquisigo de um dircito real ~ 1316), de boa fé, pacifica e piblica (sendo um imével, a posse s6 pode ser exercida em condiges de vir a ser conhecida pelos interessados, que-sabem.onde fica). Considerando que estamos perante 0 cendrio 1, em que Z prova a_titularidade do direito de ropriedade, © que C seria um mero possuidor, nos termos do art. 13] somos levados a concluir que nesta acedo prevalecoria o direito real contra a posse do réu. A nica forma de C ganhar a demanda era invocando a usucapiio. Hipsteve n? 23. Aula de 2: 2006 A, proprietério do prédio x e possuidor desde 05-01-1970, decide, em 10-02-1975, vender a B 0 direito de superficie para construgao de um armazém. A superficie foi constitulda por um prazo de SO anos. O prédio foi entregue a B na data da escritura de compra e venda. A partir de Janeiro de 1985, B declarow, por diversas vezes, a A que doravante se considerava 0 proprietirio do terreno e que ndo o entregaria no final do prazo contratual. A ainda tentou restabelecer o controlo material sobre o prédio, mas, foi sempre impedido de o fazer. Em 03-02-2000, B celebrou com C um contrata de compra e venda da propriedade por escrito articular, tendo nessa data entregue o prédio ao comprador. En 10-02-2006, A interpoe uma acgao de reivindicagdo contra C. Carlos Fernandes ~ 2005/2006 |43 Direitos Reais: IV — A usucapiao [Hipdtese n° 22) Coloque-se na posigéo de advogado de C e esclareca todos os dados pressentes na hipdtese, considerando igualmente os meios de defesa ao alcance de C. 1 Situacdo juridico-possesséria de A. A. proprictirio e possuidor do prédio, cujo direito de superficie vendeu a B por um prazo de 50 anos a contar de 10-02-1975, Com a entrega da coisa ao comprador do direito de superticie, a posse nos termos deste direito transfere-se para B, mas a posse nos termos da propriedade permanece com 0 A. superficidrio é mero detentor nos termos da propriedade, uma vez que “possui” em nome de outrem (253i). ed II Situagao juridico-possess6ria de B. O contrato de compra e venda do direito de superficie tem eficdcia real, constituindo-se o direito por ‘mero efeito do contrato, atento o principio da consensualidade (408/1 e 879/a). O facto aquisitivo do direito de superficie esta sujeito a registo (art. 2° C. Reg. Predial). Tendo havido entrega da coisa, B adquire a posse 10s do direite de superficie por tradigfio (1263/b); nos termos do direito de propriedade & um mero detentor, uma vez que “possui” em nome do proprietério (1253/c). Esta posse de B ¢ causal, titulada, de boa f& pacifica.« piblica. A niio perde a posse nos termos da propriedade: passa a exercé-Ia por intermédio de B (1252/1). B, que era mero detentor nos termos da propriedade, comeca, em Janeiro de 1985, a arrogar-se a titularidade do direito de propriedade, opondo-se ao exercicio da posse nos termos deste direito por parte do anterior possuidor. Trata-se de uma oposigao firme, que é dada a conhecer a A por mais do que uma vez. Estio, assim, reunidos todos os requisitos de que a lei faz depender @ constituiglio da posse por inversio do titulo da posse (1263/4 ¢ 1265). B passa, a partir de entio, a possuidor nos termos da propriedade, sendo tal posse formal, nio titulada, de ma £6, pacffica e publica. Quanto a posse de A, esta manter-sc-A pelo prazo de um desde que tomou conhecimento da nova posse (1267/1, al. d) e 2).

La O contrato de compra e venda celebrado entre B e C é qulo, cumulando um vicio substancial (ilegitimidade do alienante para dispor do bem — 892) e outro formal (a compra ¢ venda de bens iméveis_s6_pode ser feita_por_escritura-piiblica — 878, 220). Logo, C nada adquire em termos substanciais no que ao dircito real de propriedade diz. respeito. Contudo, tendo havido entroga da coisa, adquire a posse nos termos da propriedade por tradig&o (1263/b), perdendo-a do mesmo passo o codente (1267, LE, assim, desde 03-02-2000, possuidor formal, sendo a sua posse nfo tityleda (1259/1 a conirario), ‘ima vez que 0 vicio de forma, ao contrério da invalidade substancial e da ilegitimidade do alienante, releva para esta caracterizagiio, presume-se.de_mé fé (1260/2) e a concepgiio subjectiva ética aponta neste sentido — bastar-lhe-ia consultar os registos para ficar a saber que lesava o direito alheio, pacifica (12641) © pation 1282), IV ~ Meios de defesa de C contra a acgfo de reivindicagao interposia por 4. A tinica defesa possivel contra uma acelo de reivindicagfio em que o reivindi do direito de propriedade & a conferida pelo regime da ugucapio. Veremos, em seguida, se estiio Curios Rernandes—2o0s/2006 [44 Dirvitas Reais: TV — A usucapito (Hipatece n° 22) reunidos todos os requisitos necessérios para que C possa invocé-la em sua defesa. (1) Existéncia de um direito usucapivel ou usucapionsrio (direito real que nfo seja excluido da ‘usueapitio~ 1293); ee (2) A existéncia de uma posse boa para usucapito (posse publica e pacifica— 1297); (3) O decurso de um prazo (que varia consoante a coisa seja méyel ou imével © a posse seja titulada ou no titulada, haja ou ndio registo do titulo da posse ¢ esta seja de boa ou ma fé) @) A usucapiio tem que ser invocada judicial ou extrajudicialmente (303 ex vi 1292). isto os dados do nosso caso © os requisitos exigidos para a usucapifio, vejamos se C poderia defender-se por via de excepeio, invocando a usucapiao. O direito de propriedade & um direito usucapivel e C era possuidor nos termos da propriedade e a sua posse & piblica ¢ pacifica, pelo que estio jé preenchidos dois dos requisitos exigidos, Quanto ao prazo de usucapiio, verificamos tratar-se de coisa imével © nao haver titulo nem registo, Para além disso, a posse de C ¢ de mi fé, pelo que, tudo conjugado, o prazo para usueapito &.ds,20 _anos (1296). Embora a posse de C date apenas de 03-02-2000, pelo que dura apenas hé 6 anos, este poderia recorrer a figura da acessio da posse (1256), juntando A sua a do anterior possuidor, uma vez que a sua foi adquirida por tradigiio. Note-se que a acessio s6 opera quando estamos perante os modos de aquisigio da posse (tradigao © constituto possessério) © nilo quando a posse se deve @ um acto constitutive (apossamento ou inversio do titulo da posse), pois que, sendo esta uma posse originéria, no tem com as anteriores qualquer tipo de ligaséo, Assim, temos: : inicia-se a posse deste nos termos da superficie; 1983 ~ B inverte.o titulo da posse: tomna-se possuidor nos termos da propriedade a partir de entio; Fi 10 — B vende a C: este toma-se possuidor nos termos da propricdade FEV 2006 data da aceiio de reivindicagto [Vemos, assim, que B foi possuidor nos termos da propriedade entre 1983 ¢ 2000 (17 anos), 0 que ‘somado a posse de C (6,qnos) perfaz um total de 23 anos. O art. 1256/2 estabelece, no entanto, que sendo as posses de diferente natureza, a acessiio se dar nos limites da que tiver menor émbito. Importa, pois, comparar as posses de B eC: Posse de B Posse de C Format Formal ‘Nao titulada Nio titulada Ma fé Ma fe Pablica Pabtica Pacifica Pacifica Neste caso, vemos que os caracteres das duas posses so precisamente idénticos, pelo que no haveria Problema. Mas, supondo que a posse de C era de boa fé e a do B era de ma fé, por exemplo, isso significaria que C teria de so sujeitar aos prazos da mé f8. Ou se uma fosse titulada e a outra nfo titolada, todo 0 periodo das duas posses contaria como ni titulada, etc. Cortos Fernandes 2005/2006 [4s Direitos Reais: IV — A nsucapido [Hipétese n° 23] Hipstese n° 23 woe pe eee A, possuidor formal nos termos da propriedade, vendeu o direito a B, por escritura piiblica celebrada ‘em 10-01-1990. B, que recebeu as chaves do prédio nesse dia, registou a sua aquisicdo com dada de 01-02-1990. 72, tf Em 05.02.2006, C intenta acgito de reivindicagao contra B pedindo a condenagdo judicial deste na entrega da coisa, oe 4) Diga qual o desfecho da acgéo se C provar a propriedade; 8). Digas qual 0 desfecho da acgéo se C nao provar a propriedade; Em cada uma destas alineas, pondere 6s meias de defesa de B. a Alinea 0) 1—A era possuidor formal nos termos da propriedade, o que significa que no era titular desse direito. (Ora, se iio & titular do direito, nfo tem legitimidade para dole dispor. é _-/ Assim, 0 contrato de compra ¢ venda celebrado entre Ae B é nulo, por falta de legitimidade do} alienante, consubstanciando uma yenda de bens alheios (892). B no adquiriu a propriedade com base neste negécio, por falta de causa legitima de adquirr. II — Aposar de ndo adquirir a propriedade, B toma-se possuiidor por tradi¢o da coisa (1263/b), com inicio em 10-01-1990, Trata-se de uma posse: Formal: uma vez que ndo hé coincidéncia entre a titularidade do direito de propriedade e o possuidor), Titwlada (1259): porque fundada om modo legitimo de adquitr, considerado em abstracto — 0 contrato de‘compra ¢ venda ¢ modo legitimo de adquirir eff. 1316. Por outro lado, a forma foi respeitada (escritura_piblica), no relevando a invalidade substancial para efeitos de qualificago da posse como nfo titulada; De boa fé (1260): sendo a posse titulada presume-se de boa fé (1260/2). Nao se vé como afastar a presungtio de boa f€ no presente caso, a menos que niio houvesse registo prodial a favor do t alienante, caso em que o comprador estaria obrigado a um dever de se informar previamente desse facto (se 0 io fizesse considerar-sc-ia de ma f, desde que optemos por uma concepslo subjectiva ética de boa fé), Apesar de esta possibilidade existir, nio nos parece que a escritura fosse feita sem | esse registo, atento o dever de vigilincia que impende sobre os notirios por forga do art. 9 do C. Rog. Predial (a menos que tal registo tivesse sido forjado). {/)— Pacifica (1261) e Piblica (1262). IIL Face a situagao descrita, verios que o B tinha titulo de aquisigdo (0 contrato de compra e venda - e nfio a escritura, uma vez que esta no passa da forma do contrato) e registo deste, realizado em.01- 02-1990, i. é, hd cerca de 16 anos atris. ‘A.usucapitio 6 um efeito da posse que representa um facto aqusitivo de direitos reais de gozo, supondo {que estejam reunidos trés requisitos: — Que o adquirente tenha sobre a coisa uma posse pacifica e pliblica (1297); Que tenba avido o decurso de um certo prazo (que varia consoante a coisa seja mével ou imével, possuiidor tenha titulo e registo deste ou ndo, haja registo da mera posse ou nem sequer isso, € & posse seja de boa ou ma fe), — Que a usucapitio seja invocada (1292. 303). Carlos Fernandes ~ 2005/2006 | 46 Direitos Reais: V— Causas de ectino dos direitos reais [Hipétese n° 24) ‘No caso vertente, vimos que B tinha sobre o imével uma posse piblica, pacifica e de boa fé; que tinha titulo de aquisigdo e registo deste; e que decorrera um prazo de_16 anos desde a data do registo. Ora, diz-nos o art. 1294 que, havendo titulo ¢ registo deste a usucapiio tem Iugar, quando a posse é de boa fé, decorrido o prazo de 10_anos, contado a partir da data de registo do titulo, Pelo que forgoso é concluir que o B est em condigses de adquirir por usucapiio, bastando-lhe para tanto fazer a sua jnvocagdo nos termos do art. 303 ex vi do art. 1292, Esta invocagio pode ser feita tanto judicial como extrajudicialmente (303) A defesa de B seria, assim, por excepefo, invocando a usucapifo. Para o efeito teria de alegar os factos ue preenchem os requsitos de que a lei faz depender a usucapido, A eficdcia da usucapito retroage ao inicio da posse (1288), Por efeito da usucapito constituise na esfera juridica de B 0 direito de propriedade ex mgyo ou Criginario, extinguindo-se, do mesmo passo, o dirieto de propriedade que existia na esfera juridica do anterior proprietirio. A usucapido é um modo de aquisisao origindria do dieito de propriedade ou, por utras palavras, & um facto juridico com eficdcia real constitutivo do direito de propriedade, Hipotese n? 24 a ee Aula de 21-02-2006 A vendeu a propriedade do prédio x a Bem 12-01-1985. B sabia porém que o direito ndo pertencia a A mas sim a D, niio obstante A figurar no registo como adquirente da propriedade, B registou a sua aquisigdo 2 dias depois. Em 05-05-2002, B doa a propriedade do prédio x a C. Nessa mesma data, C recebe 0 prédio por entrega de B. Em 10-02-2006, D Propriettirio do prédio segundo acérdéo do STI de 10-01-2005, move uma aceéio de reinvindicagdo contra C. Considerando que a decisdo judicial acima referida foi proferida em acgdio movida por D contra Ae B, diga qual seré o resultado. possivel da acgdo de reinvidicacdo, tendo em conta os meios de defesa que C pode invocar. Renato dixit Passando & frente a venda de ben: ilegitimidade bla bl4 bli, o c(h) C podia invocar com sucesso @ usucapiéo! ieios, a doagtio de bens alheios, a nulidade em causa, a Diga como!!! V = Calisas dé'extincio dos direitos reais’? Hipotese n° 25 : i Vee A ¢ proprietirio do prédio x, sendo igualmente possuidor do mesmo. B & superfickirio, com diretto constituide por contrato de compra ¢ venda, com data de 02-01-1989. Quer A quer B tém registo a seu fervor. Em Outubro de 1991, A desapossou B ¢ nunca mais consentiu que este praticasse algum acto de exercicio do seu direlto. B tampouco reagiu judicialmente Carlos Femandes 200572006 [ay Direitos Reais V— Casas de exctingtio dos direitos reais [Hipétese n° 25] @ Suponha que B morre e ihe sucede C ¢ que este pretende exercer 0 direito de superficie que hherdou. 3B) Suponha agora que Ando chegou a desapossar B, mas este nunca exerceu 0 seu direito até hoje. Pode A impedir que B inicie o exercicio do seu direito? Alinea a): 1—Fam primeiro lugar, importa proceder & caracterizagao da situagdo juridica dos varios intervenientes no que toca A posse sobre a coisa. Assim, ‘A ~ jf era possuidor nos termos da propriedade (que exercia por intermédio do usufrutnario), nfo adquire com 0 apossamento a posse nos termos da superficie: passa ¢ a ter uma posse nos termos da propricdade desonerada. B — era possuidor nos termos da superficie e detentor nos termos da propriedade. A sua posse mantém- se pelo prazo de um ano a contar do inicio do apossamento da coisa pelo A (1267/1. e 2). C~ sucede, por morte de B, no direito de superficie. Quanto a posse, tudo depende: se B tiver morrido durante 0 ano subsequente & perda do controlo material da coisa, C adquire a posse por sucesso (1255); caso contririo, a posse jd estava extinta, pelo que néo se poderia transmitir 20 sucessor. TI-Quais sto os meios a que C pode recorrer para exercer 0 seu direito de superficie? Os meios de tutela da posse referidos no art. 1278 esto fora de hipotese: mesmo que tivesse adquirido 1 posse por sucesso por morte de B (se esta morte tivesse ocorrido antes de Outubro de 1992), esta ter-se-ia extingnido com 0 decurso do prazo de um ano a coniar da data do apossamento por A (1267/1.d © 2), pelo que a acgiio de restituigtio j& no poderia ser intentada (1281/2). Restar-he-ia intentar uma acgiio de reivindicagdo do direito de superficie (1311), visto esta acglo ser imprescritivel. Note-se, no entanto, que o A poderia defender-se por excepydo caso 0 direito de superficie se tivesse extinto por uma das causas de extingdo de direitos reais de gozo, nomeadamente a definidas no art, 1536. Vejamos se & esse 0 caso. TIT— As alineas a) ¢ b) do art. 1536 consubstanciam casos de extingfio do direito de superficie por no ‘uso, Segundo 0 art, 298/3, “Os direitos de propriedade, usufruto, uso e habitastio, enfiteuse, superficie servidao no prescrevem, mas podem extinguir-se pelo nao uso nos casos especialmente previstos na Iki, sendo aplicdveis nesses casos, na falta de disposigo em contrério, as regras da caducidade”, © que deve entio entender-se por no uso? Bastard que o titular do direito nfo o exerga, independentemente do. motivo, para que possamos falar de nfo uso? Ou seri nevessério que a abstengdo resulte de uma resolugdo livre e voluntariamente assumid Por outras palavras, o que se cura de saber é se releva apenas para cfeito de nilo uso a abstengao livre ¢ voluntiria do titular do dircito, ou se pode ainda falar-se nesta figura quando este foi impossibititado de exercer 0 dirvito, como & o caso da hipétese. Para Prof. Coelho Vieira, esta hipétese nunca configuraria uma situagio de no uso, visto que 0 titular do diteito foi impossibilitado, contra sa vontade, de o exercer; ¢ nfo da relevancia, sequer, a0 facto de o titular nada ter feito durante todos estes anos para por fim & oposigo do A ao exercicio do seu direito, 0 Prof. Oliveira Ascensto define nfo uso como “uma causa de extingao de direitos reais como mera consequéncia de um no exercicio prolongado” e considera que a sua mais desenvolvida coneretizagao se encontra no art. 1569/1-b, a propésito da servidiio — mas que considera generalizével a qualquer direito real. Arrimando-se & parte final desta norma (“qualquer que seja © motivo”), considera que os Carlos Fernandes — 2005/2006 _}48 Dinvites Reais: V~ Causas de extingio dos dircitns reais [Hlipétese n° 25] motivos do nao uso séo absolutamente itrelevantes ("”), TV ~ Adiitindo que nao tenha aplicagdo a causa do extingo de nio uso, que outras causas poderia A invocar? Trata-se claramente de uma situago enquadravel na figura da usucapio libertatis, de que trata o art. 1574. Apesar de esta causa de extingo de direitos reais de gozo estar prevista expressamente para as servid6es prediais, a doutrina considera que ela deve ser vista como regra geral e, portanto, aplicdvel a extingdo de qualquer outro dos direitos reais menores. A usucapio libertatis opera a desoncracio do direito real maior quando o titular deste se opée durante um determinado perfodo de tempo, calculado segundo as regras da usucapifi, ao exereicio do direito real menor que 0 onerava, Esse periodo ¢ varidvel, consoante haja on nfo titulo e registo, O titulo espectivo registo relevante para o nosso caso é 0 que se refere ao direito de propriedade, uma vez que A possuia nos termos deste direito. ‘Néio nos devemos deixar enganar pelo termo “usucapitio” aqui utilizado: néo é de verdadeita uusucapitio que aqui se trata. O titular do direito de propriedade onerado pelo direito de superficie nfo adquire este Giltimo direito por usucapigo (ou entio resultaria, daqui, a extingio do dizeito real menor por confusio, através da reuniio numa s6 pessoa do direito de propriedade e do direito menor que a onerava); do que se trata é duma causa de extingo do direito real menor que tem lugar quando esteja, reenchida, para além das condigSes de que a lei faz depender a aquisisto do direito real por ‘usucapido, 0 requisito especifico deste regime: que se tenha verificado, por parte do proprictirio (...), ‘oposigio a0 exercicio da servidio. Note-se, por outro lado, que a usucapio ~ tal como a usucapiio — precisa de ser invocada (303 ex vi 1292), sendo a sua eficécia oxtintiva. O requisito especifico da oposigao ao exereicio do direito real menor por parte do titular do direito real maior est claramente preenchido no caso sub judice. ‘Vejamos se estéio reunidas as condigdes para que a usucapifio possa ser invocada. Nao havendo titulo nem registo, & aplicdvel 0 prazo de usucapidio previsto no art. 1296, pelo que se torna necessirio © decurso de um periodo de 20 anos contados desde 0 inicio da oposigiio ao exercicio do direito de superficie. Como s6 decorreram 15 anos desde entio, nio estava preenchido este requisito da usucapio, pelo que esta niio podia ser invocada (*). Alinea b) Nido uso significa 0 nfo exercicio esponténeo do direito por parte do scu titular (¢ niio quando é impossibilitado de o fazer): no releva apenas 0 niio aproveitamento das utilidades da coisa, mas também 0 néio exercicio juridico ~ repare-se que 0 titular do direito pode nao aproveitar de facto a coisa, mas ainda assim exercer juridicamente o seu direito (arrendando a coisa, por exemplo), O titular no esté obrigado a exercer todos os poderes inerentes ao direito; mas nao pode suceder 0 inverso, isto é, no exercer absolutamente nenhum deles. Isto significard nfo uso do diteito. O nfo uso s6 conduz a extinglio do direito real nos casos previstos na lei (298/3). No que se refere a extingio do direito de superficie, esta previsto nas alineas a) ¢ b) do art. 1536/1 O superficiério nao actuon o seu direito durante 17 anos; logo, esti preenchida a previsio da alinea a) do ja citado 1536/1, Contrariamente ao que se passa com a prescrigdo, a caducidade ~ cujo regime o art. 298/3 manda aplicar ao nfo uso — permite 0 seu conhecimento oficioso pelo tribunal, nfo precisando de ser ® Direito Civil ~ Reais, Coimbra Editora, 3" Bd, 2000, pg. 410 Esclarecer este ponto: no enunciado diz-se quo tanto A como B tm registo a seu favor. Cortos Fernandes 2o0sc006 [as Direitos Reais: V— Causas de exctingao dos direitos reais [Hipérese n° 26) invocada (333/1). Hipstese n’ 26 dula de 21 006 Responda ds seguintes questbes: 1. Diga se o proprietirio de um imével pode renunciar ao seu direito para evitar 0 pagamento dar contribuiedio autérquica. 2. Esclarega se a resposia que deu ao pardgrafo anterior € igual no que toca a reniincia & propriedade sobre coisa mével. 3. Distinga rentincia abdicativa e rentincia liberatéria e ainda rentincia de abandono, one Aula de 31-03-2006 O Sp. A constituiu gratuitamente usufruto sobre um prédio a favor de B por 40 anos. @) B morre passados 10 anos. 5) Passados 5 anos, B transmite por venda o usufruto a C ¢ morre 10 anos depois. ©) Passados 5 anos, B transmite por venda o usufruto a Ce desta vez & C quem morre 20 anos depois, @ Passados 5 anos, B transmite por venda o usufruto aC e agora quem morre 6 0 A. ©) A vende o prédio aD. Alinea a): usufruto extingue-se por morte do usufrutudrio (1476/1-a ¢ 1443). Allinea b): Levanta-se aqui o problema da forma da “transferéncia” do usufruto, a que o art. 1444 chama, com alguma impropriedade, trespasse. No fmbito da compra e venda de imévcis impde 0 art. 875 que 0 contrato s6 6 valido quando feito por escritura piblica; a mesma exigéncia ¢ imposta pelo art. 947 quanto a doagao de coisas iméveis. A questo que se coloca & a de saber se esta exiggncia deve ser alargada & transmissdo de outros direitos reais, Embora 0 CC nada nos diga sobre o assunto, 0 art. 80 do Cédigo do Registo do Notariado contempla expressamente essa exigéncia, ‘Questiio do eterno retomo: nfo se aplica aos direitos reais, Apesar de B er transmitido validamente o direito para C, este extingue-se com a morte daquele. Quando o B transmitiu o usufruto em 2011, restam ainda 35 anos, pelo que duragao do usufruto ‘ransmitido a C seria, a partida, por este periodo. No entanto, trata-se de um contrato aleatério, uma ‘vez. que esta sujeito a um facto incerto quanto a0 momento em que terd lugar: a morte do usufrutuério ‘ransmitente, Carlos Fernandes ~ 2005/2006 | 50 Direitas Reais: VI — Fastos constitutivos do direite de propriedade [Hipétese n° 28] Alinea c): Poderfamos levantar aqui varias hipéteses de solugao: © Ousufiuto acaba e a propriedade deixa de estar por ele onerada (aquisigio derivada restt ): (ii) O usuffuto nao acaba ¢ regressa ao usufrutudrio primitive (B) — a admitir-se esta solugdo estaria a legitimar-se um enriquecimento sem causa, uma vez, que o B ja reccbera a contrapartida pela transmisstio do direito; ii) © usuftuto passa aos herdeiros de C. Apesar de o usufruto inicial niio ser passivel de transmissao Por sucesso (uma vex que se extingue com a morte do usufrutudrio), ontende-sc que essa restrigao no se aplica tendo havido trespasse (1444) e falecendo o trespassirio, desde que o “usufrutuaio primitivo se mantenha vivo ¢ o usufruto nao tenha caducado por termo do prazo, Esta ¢ a posigtio defendida por Oliveira Ascenso (") Alinea d): A morte do A nio afecta 0 direito do usufrutuario, continuando a propriedade por ele onerada. Alinea e): A venda do direito de propriedade também nio afecta o direito de usufruto: este é um direito real dotado da caracterfstica da ineréncia, pelo que persegue a coisa onde quer que cla va. ‘Nota: alineas d) e e) ni foram resolvidas na aula. ‘VI= Factos constitutivos de direito je propriedade Hipitese n228 i Aula de 04-04-2006 A, ao passear pelo campo, entrou no prédio de B e encontrou nele a passear um cio. abandonado, Gostando imediatamente do cio, A pegou no mesmo e levou-o consigo, passando a tratdélo como seu, Ao tomar conhecimento do local onde A pegara no cdo, B invoca ser 0 cio objecto de um direito de ‘Propriedade seu. Explique quem ¢ 0 proprietirio'do cdo fundamentando a resposta. ood A primeira ideia que vem & mente & que estaremos perante um caso de ocupagio, cujo regime se encontra consagrado nos arts. 1318 ¢ ss. Vejamos se esto preenchidos todos os requisitos de que a lei faz depender este facto constitutive da propriedade, ‘So requisitos da ocupagio os seguintes: 1. Um acto do apreensio material (apggsamento); 2, De uma coisa mével; 3. Que no tenha dono ou tenha sido abandonada. * Direito Civit— Reals, Coimbra Editoa, 5*d, 2000, pe. 474 Carlos Fernandes ~ 2005/2006 Diritos Reais: VI-— Factos consttutis do dirito de propriedade [Hipétese n° 29) Hé, ainda, quem exija um certo animus que ilunine essa apreensiio material da coisa, seja esse animus uma intengao de adquirir a propriedade, seja a mera vontade de colocar a coisa na propria esfera de ‘aceiio, Mas o que importa verdadeiramente € 0 acto de apossamento e que a coisa seja nulius. Estaremos perante um caso de ocupagiio? Bom, isso depende: = Se A sabia, ao apossar-se do animal, que este pertencia a outrem, poder, quando muito, configurar um caso de achamento. Este distingue-se da ocupacao pelo facto de aqui a coisa ter dono: simplesmente teré sido: perdida ou escondida. O achamento ngo funciona como facto aquisitivo da propriedade em termos autométicos (como acontece com @ ocupagiio); nos termos do art. 1323/1, I* parte, so 0 0 achador souber quem é 0 dono da coisa € obrigado a entregar-Iha ou a avisé-lo do achado; se ignorar quem ele seja, & obrigado a publicitar o achado e, caso 0 dono aparega a reclamar a sua entrega, deve restituir a coisa (embora tenha direito a um prémio pelo achado). $6 adquitiré a proppriedade da coisa decorrido um ano a contar da data do antincio se o dono néo aparecer a reclamé-la, ~ A sabia que 0 cfio tinha sido abandonado: nesse caso hé verdadcira ocupagio, adquirindo no acto do apossamento quer a posse quer a propriedade do animal (1318), A pretensio do B, que se arroga proprietério pelo facto de o cdo ter sido encontrado no seu prédio, nfo fem razio de ser. Se fosse uma planta, ela considerar-se-ia parte integrante do prédio, mas ndo 0 animal que, apesar de ser uma coisa, se enquadra numa modalidade de coisa de alguma forma especial, a que Menezes Cordeiro chama semoventes. B poderia, quando muito, alegar violagao do seu direito de propriedade, mas isso é uma questo lateral que nfo & para aqui chamada. A imtengiio do A ¢ irrelevante para este efeito: desde que a sua conduta gere posse, d-se a ocupagiio desde que os demais requisitos (coisa mével sem dono ou abandonada) estejam preenchidos. Hipoiose n°29 ee Aula de 21-04-2006 A, proprietério do prédio ristico X, acedeu ao pedido de um amigo para o deixar acampar numa pequena porcdo do prédio, na parte Norte deste. Ausente no estrangeiro, A nido tomou conhecimento que B, excedendo a permissito dada, construiu uma cabana para habitacdo. Quando, um ano e meio depois, A vem a saber o que B fizera, pede-Ihe para sair. Mas B recusa-se a fecé-lo. Antes da construgéo da cabana, 0 prédio de A valia 200,000,00 euros € passou a valer 210,000,00 ‘euros apés essa construcdo. Esclarega os factos relevantes da hipétese ¢ diga a quem cabe a cabana caso B seja forgado a rrestituir a porctio do prédio em que se instalow I—Comegaremos por analisar 0 caso na perspectiva juridico-possesséria. Tendo B sido autorizado pelo proprictario do prédio a acampar numa parte deste, nfo chega a adquirir qualquer diteito real ou de erédito, uma vez. que a sua situago ndo passa de mera detengfio fundada num acto tolerfincia do titular do direito de propriedade (1253/b). Ao extravasar o Ambito da autorizagfo, passando a agit como um dominus daquela parte do prédio com oposiglio ao possuidor nos termos da propriedade, B inverte o titulo da posse, passando de Carlos Fernandes 20052008 [52 Dircitos Reais: VI. Factos constitutivos do direito de propriedade [Hipstese n° 29) detentor a verdadeiro possuidor nos termos da propriedade (1263/d ¢ 1265). A posse em questo & formal, no titulada (1259), de mé £6 (1260/1-2), pacifica (1261/1) e piiblica (1262), Mas, apesar da aquisio da posse por B, 0 anterior possuidor (A) néo perde de imediato a sua posse sobre essa parcela do prédio, apenas ocorrendo tal perda decorrido um ano desde a data em aquela se iniciou, dado ter sido tomada de forma piblica (”). Vimos que tal prazo jé foi ultrapassado, uma vez que a nova posse se constituiu h& um ano © meio, pelo que A deixou de ser possuidor da parcela em disputa. Tal facto afasta a possibilidade de recorrer a aogiio de restituigao da posse prevista no art. 1278, por um lado porque no the pode ser restituido o que j4 nfo tem, por outro porque a acedo do restituigio caducou um ano apés a constituigtio da nova posse (1282). IL— Importa agora responder a0 que nos é directamente porguntado, deslocando a discussio para 0 Ambito da acessio, cujo regime se encontra previsto nos arts. 1325 a 1343, De facto, a construgo da cabana no terreno alheio preenche claramente a nogdo de acessio que nos é dada no art. 1325: o B uniu a cabana, construida com materiais que lhe pertenciam, ao terreno do A. Estamos perante a modalidade de acessio industrial imobiliéria, por a unio resultar de facto humano (1326/1) a uma coisa imével (terreno) ter sido unida a cabana, coisa mével (°). O regime da modalidade de acessaio industrial imobiliéria esta definido nos arts. 1339 a 1343. Na figura da acessio industrial imobiliéria do Direito Romano vigorava um princfpio segundo o qual “a superficie cede a0 solo”, o que significa que qualquer coisa que fosse unida ao bem imével ficaria a pertencer ao dono deste, O regime portugués afastou-se de alguma forma deste principio, nfo 0 consagrando na sua plenitude. Aqui faz-se depender o resultado do valor relativo das coisas unidas e da boa ou ma f6 do autor da unio ou incorporagio. No nosso caso, néo restam quaisquer dividas de que o autor da acessio estava de mé fé, visto este ‘conceito a luz da norma insita no art. 1340/4. E nem sequer € necessirio, neste caso conereto, discutir se a concepeo de boa f6 inserita neste normativo é meramente psicolbgica ou se, pelo contririo, deverd ser seguida uma perspectiva ética: 0 B sabia, concreta e categoricamente, que o terreno era alheio, ‘Mas esta discussio assume especial releviincia e ¢ transversal a todas as situagdes em que, em Direitos Reais, se apela ao conceito de boa fé. A doutrine mais tradicional, fazendo finca-pé numa interpretago mais préxima da letra da lei, defende que o que releva é apenas 0 aspecto psicolégico: ou ‘© agente conhecia ou néo conhecia, pouco importando se deveria ou nfo deveria saber, Esta Posigiio ‘encontra reflexo, ainda hoje, na maioria da jurisprudéncia, Para Menezes Cordeiro e outros seguidores, modemos (entre os quais se conta o Prof, Vieira Coolho), pelo contririo, a coeréncia e a juricidade do sistema impéem que se adopte a concepyaio subjectiva ética de boa fé: ndo basta ao agente alegar — ¢ mesmo provar — que desconhecia que o terreno pertencia a terceiro; & necessério demonstrat, igualmente, que esse conhecimento the nao era exigido. Como refere Menezes Cordeiro, a propria praticabilidade do sistema oxige que soja esta e no a outra a concepgio a adoptar: isto porque nao é possivel saber 0 que vai na mente das pessoas e, logo, determinar se 0 agente conhecia ou nio certos factos; tudo 0 que ¢ possivel & saber que tinha o dever de conhecer. Nao é praticdvel um sistema que assento exclusivamente no que vai no foro intimo das pessoas; exige-se, pelo contrétio, que as solugies se fundem em manifestagdes exteriores que garantam um grau minimo de seguranga ¢ certoza & ‘Levanton-se slguma discussio quanto este ponto, relative & necessidade ou mo de dats conhecer a0 Droprietito/possuidor a oposigao que Ihe ¢ feta pelo detentor. © Prof, ensinou que a oposisd0 nto tem que ser comunicada 0 anterior possior, bastando que o comportamento de quem invert o titulo da posse seja ldo claramente como oposigto. FFiquei na dovida: € um facto que a posse é pblica se for “exercida de mod a poder ser conhecida pelos intecessados", So sendo necessirio um eonhecimento efectivo do anterior possuidor, no entanio, tormse dificil aceiter que a nova posse chegue a corstituirse sem que esteja preenchido o requisito da oposigio, E pera tal, como esereve Oliveirs Ascensto em Direito Civil ~ Reats, Coimbra Eaitora, 5* Ed, 2000, p. 92, *e oposigdo tem de ser extegérica, de modo a sobreporse & _aparécin que era representada pelo titulo” eo detentor ter de dar “a saber ao nropriiétio” 2. Estamos perante uma acesso industrial imobiliria quando a una cose ive for unis ou incorpora ura coisa mye serd mobiliria quando ambes as coisas unidas forem mOveis. Carlos Fernandes ~ 2005/2006 Direitos Reais: VI- Factos constitutivos do direito de propriedade [Hipotese n° 30 Juridica. No &, na maioria dos casos, possivel afirmar com seguranga que certa pessoa sabia que um determinado prédio pertencia a outrem; mas é perfeitamente cocrente afirmar que a tal pessoa devia cconhecer porque, atendendo so eritério do homem médio, Ihe era exigivel um minimo de diligéncia ‘para se assegurar, perante os registos piiblicos, se o tal prédio tinha ou néo dono. B esté, portanto, de m4 fé, O que leva a subsungao dos factos na norma do art. 1341, que define as regras e consequéncias da acessio industrial imobiliaria de ma f6. © dono do terreno (A) tem 4 sua frente duas alternativas: (i) pode exigir que o prédio seja restitudo ao seu primitivo estado custa do autor da unio; ou (ii) pode ficar com a coisa unida ou incorporada (Cabana) pelo valor que for fixado segundo as regras do enriquecimento sem causa, nos fermos dos arts, 473 e ss. ‘Vimos que o entiquecimento do A em resultado da acesstio é de 10.000,00 euros, pelo que seri este o valor a pagar ao B, independentemente de a construgdo da cabana ter custado a este mais ou menor do que esse valor. III Ao contrério do que sucede nalguns casos de acessiio natural, no caso em aprego a aquisigio do dircito no 6 automética, A lei faz depender o resultado de uma eseolha por parte do proprietirio do terreno, que pode optar, como vimos, entre ficar com a coisa mediante o pagamento do valor com que se enriqueceu sem causa, ou exigir a restituigo do terreno ao estado em que se encontrava antes da unio, Sendo a primeira alternativa a escolhida, hé que realizar ainda a obrigagio de pagar o valor do enriquecimento sem causa; ¢ & s no momento em que este pagumento € realizado que o direito de propriedade sobre a coisa unida ou incorporada ocorre. Trata-se, assim, de uma aquisigio potestativa e no automética TV — Quais as vias do acgdo que se oferecem ao A, para garantir 0 seu direito? No presente caso, cle deveria intentar uma acg’o com dois pedidos cumulados: um primeiro a reivindicar a parcela do terreno que o B se recusa a entregar; o segundo a pedir a condenagao do Ba reconhecer o seu direito de propriedade sobre mediante 0 pagamento do valor do enriquecimento dela resultante, Hipaeen30 Aula de 2: 2006 O prédio X é propriedade de A, tendo B sobre ele um direito de usufruto. C constréi no prédio em causa um imével. Quid juris? 1—A primeira vista, a situagdio exposta parece configurar um caso de acess industrial imobilidria, cujo regime se encontra definido nos arts. 1339 ss, Saber qual o normative que, em conereto, rege 0 presente caso depende de saber se, por um lado, os materiais com que o C constr6i 0 imével no terreno alhcio pertencem ao proprio ou sao alheios e, por outro, de o mesmo ter agido de boa ou ma fe. A boa fé & aferida & Iuz do art. 1440/4; a interpretagdo desta norma deverd ser feita segundo a concepsao subjectiva ética de boa £8 ¢ ni, como a respectiva letra parece consagrar, segundo una porspectiva meramente psicoldgica. De facto, a eticidade do direito ¢ a propria coeréncia do sistema exigem que seja aquela ¢ ndo esta a concepgdio a adoptar. Nao basta, assim, que o autor da incorporagio ou unidio desconhecesse que o terreno era alheio; & necessério que esse desconhecimento seja niio culposo. Carlos Fernandes — 2005/2006 Direitos Reais: VI — Factos constitutions do direito de propriedade [Hépétese n° 30) Estando 0 autor da incorporago de boa f, e abstraindo, por agora, da existéncia do usuftuto, poderiam configurar-se as seguintes hipéteses (""): 8) Os materiais sao do C e a incorporacdo resulia num aumento do valor total do prédio maior do que 0 valor que o prédio tinha antes ("*); neste caso rege o art. 1340/1, que atribui a propriedade do prédio ao autor da incorporagio, desde que este pague 20 proprictirio do terreno o valor que este tinha antes, b) Os materiais sao do Ce 0 aumento do valor resultante da incorporacao é igual ao valor total que o prédio tinha antes: aplica-se 0 art. 1340/2, abrindo-se licitagao entre 0 proprietirio do terreno © o autor da incorporago segundo as regras do art. 1333/2, sendo a propriedade atribuida ao que oferecer maior valor; ©) Os materiais sto do C ¢ 0 aumento do valor resultante da incorporagéio € inferior ao valor otal que 0 prédio tinha antes: aplica-se 0 art. 1340/3, pertencendo a obra xo dono do terreno, devendo este pagar ao autor dela o valor que ela tiver ao tempo da incorporaciio. Se 0 C estiver de ma fé, a solugiio seria uma das seguintes: @) Os materiais sao do C: aplica-se 0 art. 1341, que confere ao proprietério do terreno um direito potestativo que se resolve em alternativa: ou opta por exigir que o terreno sgja restituido, a ‘expensas do autor da incorporasdo, a0 estado primitivo; ou faz sua a obra pagando ao autor dela o valor que resultar da aplicagio das regras do enriquecimento sem causa (significa que ‘do serd obrigado a pagar de acordo com o custo da obra, mas segundo o enriquecimento que dela para si resultou — ver arts. 473 ¢ss.); 3) Sao alheios quer o terreno quer os materiais ¢ o dono destes tem culpa: aplica-se 0 regime do art, 1342/2-2* parte ¢ 1341, sendo solidariamente responsdveis 0 autor da incorporagao e dono dos materiais pelos prejuizos a que a incorporasio tiver dado causa, Por tiltimo, se os materiais forem alhsios © o dono deste nao tiver culpa, independentemente de o autor estar de boa ou ma fé, cabem aquele os direitos conferidos ao autor pelo art. 1340. ‘Vemos, assim, que sem dados adicionais ndo & possivel fazer o enquadramento adequado ¢ determinar, com objectividade, quem seria 0 benoficidrio da acessio caso 0 usuttuto nto existisse. Il — Fizemos a andlise da hipétese abstraindo da existéncia do usufruto de B. Este levanta, contudo, alguns problemas concretos, a saber: 1. Poderé o titular de um direito real menor beneficiar da acessiio? 2. No caso de a resposta ser positiva, qual o direito passivel de ser adquirido? ‘Vamos tentar responder a uma ¢ outra 1. Da possibilidade de o titular de um direito real menor beneficiar da acessio ‘Tradicionalmente, considerava-se que a acessio beneficiava o proprietirio, uma vez que se trata de um facto aquisitivo do dircito de propriedade, No entanto, 0 Prof. Menezes Cordeiro trouxe a discussio luma nova perspectiva, no questionar se néo serd de atribuir o beneficio ao titular do diteito real menor que onera a propriedade. Tal s6 pode ser aferido a luz do direito real que estiver coneretamente * Omite-se @ hipétese de o terreno ser do C ¢ 0§ materia alheios, situapio regida pelo at. 1339, uma vez que quanto & propriedade do tereno o enunciado no deixa divides, 2 Note-se que no basta, para que esta condigto sea preenchida que o valor actual do préio sea superior ao que ele tina antes da incorporesio: ¢ necessério que o aumento do valor resultante da incorporapio seja, cle proprio, suporior ao valor Anterior do prédio (ex. o prédio vali 10,000.00 passou a valer21,000,00: o aumento de valor etisdo & de 11:000,00, loge, superior ap que o peéaio tina anes) Carlos Fernandes ~ 2005/2006. | 55 Direitos Reais: VI-— Fastos constitutivos do direto de propriedade [Hipétese n° 30) constituldo sobre a coisa. No caso do usufruto, depende de saber, por exemplo, se este inelui o direito de nele construir um prédio, Note-se que ha direitos reais menores que admitem 0 poder de ‘ransformagio e, logo, o direito de construgdo, sementeira, etc. Para o Prof. Menezes Cordeiro, usufrutuério pode beneficiar da acessiio desde que o direito de que é ‘titular permita tal aproveitamento da coisa; tanto o Prof, Oliveira Ascenstio, como 0s Profs. Carvalho Fernandes e Coelho Vieira seguem esta mesma posigdo. Se 0 beneficiario tem direito & acessio € ele que exeree e nao o proprietério; a lei consagra a indemnizagdo ao proprietirio por perda da acessio, A acessdo tem que ser registada para que o beneficiério a possa transmitir. O registo € feito por recurso ao tribunal ou através de escritura notarial de justificagto, seguindo este 0 modelo da usucapito, Segundo o Prof, aplicam-se analogicamente as normas do Cédigo do Notariado relativas & uusucapivo, A lei portuguesa s6 permite o funcionamento da acessdo se 0 beneficiério dela pagar 0 valor correspondente ou a indemnizagfo devida. A aquisigéo nfo 6, assim, de funcionamento automatico, ‘mas antes um direito potestativo. Depende de uma declaragdo de vontade do beneficiério © do pagamento do valor da coisa ou da indemnizagiio que ao caso couber. ‘Segundo o Prof., numa leitura literal do art. 1317/d CC, 0 momento da transmissto do direito de propriedade por efeito da acessio seria aquele em que se tivesse prativado o facto que origina a unio ou incorporagio; no entanto, deve entender-se antes que o facto que desencadeia verdadeiramente essa ‘transmissdo é 0 pagamento do valor ou da indemnizagéo.. 2. Do tipo de direito adquirido pelo titular do direito real menor Para Menezes Cordeiro ¢ Oliveira Ascenso, o direito adquirido pelo usuftutuério é o usufruto; para 0 Prof, Coclho Vioira, o titular do direito real menor adquire 0 proprio direito de propriedade, j4 que a acessio é um facto aquisitivo deste direito ¢ é cle quem paga a indemnizagao devida. Bo que € que acontece depois, quando 0 usuftuto se extinguir? Neste caso, extinto o usufruto, a coisa tem que ser devolvida ao proprietério. Se nessa altura a coisa tiver tido melhoramentos através de benfeitorias realizadas pelo usufrutuério, elas passam a pertencer ao proprietério do terreno, mas este & obrigado a indemnizar 0 autor delas ~ 1450, © prof, Coelho Vieira defende que as lacunas verificadas no regime da avessdo das coisas iméveis pode ser integrada pelo regime das coisas méveis. Assim, o B ter direito & acessto € uma forma de resolugdo do conflito entre proprietirio ¢ usufrutudrio e respeita o regime do usutruto, uma vez que 0 proprictario esté onerado por este direito enquanto este se mantiver em vigor. Findo o usufruto, o usufrutudrio perde a obra para o proprietério, uma vez que esta esté incorporada numa coisa que nfio era sua, Enquanto este durar, no entanto, a propriedade da coisa incorporada é do usufrutuatio e nfo do proprietirio do terreno. Matéria para o 3° teste: — Factos constitutivos, translativos e modificativos dos direitos reais; — Em especial: ocupagto, achamento e agessio; — Nao hé perguntaS teéricas; — A rmatéria da posse e da usucapido jé foi avaliada: mas pode vir a “talhe de foice” Carlos Fernandes - 2005/2006 _|56 Direitos Reais: VIL — Direito de propriedade é [Hipétese n° 37) ‘VII Direito de propriedade eS Hipsiese 31° PS eit ee Aula de 04-05-2006 (compropriedade) Por contrato de compra e venda, A vendeu a Be C 0 direito de propriedade sobre o prédio X. No Contrato nada se estipulou sobre as quotas de B e C, sendo que B pagou 70% do prego e Co restente. pds entrega do prédio, B impossibilitou C de usar a coisa, alegando poder decidir sobre a administragdo da coisa, Inconformado, C constitulu usufruto a favor de D, que tem por objecto 30% dda rea do prédio, que C considera sera sua parte da coisa, @ Esclareca qual a posicio que B e C tém quanto ao prédio: 4). Analise a ticitude do comportamemo de B; ©) Diga qual o valor jurtdico do contrato celebrado entre Ce D. Antes de iniciar a resolugo da hipétese, importa tecer algumas consideragdes acerca da ‘compropriedade, jé que & disso que 0 caso se ocupa (compropriedade constituida por contrato de ‘compra e venda). Nos termos do art. 1403, existe compropriedade quando duas ou mais pessoas so simultancamente titulares DO direito de propricdade sobre a mesma coisa. Esta é uma forma de explicar a compropriedade. Para o Prof. Coelho Vieira, no entanto, do que se trata nio & de um s6 dizeito de propriodade de que sejam titulares duas ou mais pessoas, mas sim de tantos direitos de propriedade quantos os comproprietirios, direitos estes que incidem sobre uma 86 e mesma coisa. A compropriedade & uma propriedade e, como tal, o comproprietirio tem 0 mesmo contetido do direito que tem o proprietério singular, i, é, aquele que ¢ definido pelo art.1305 CC: os poderes de uso, fruigdo © disposigio. No artigo1403/2 refere-se que os direitos dos comproprietérios sao AP Duragao: 60 minutos Cotagées: 1 9 valores;2 9 valores; Redaccio e sistematizagio 2 valores,

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