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Pode ser titulada ou no titulada (1259/1): se o negéeio de compra e venda celebrado entre A cB, que constitui, em abstracto, modo legitimo de adquirir, respeitou a forma legal (escrit ica), seri titulada; caso contririo, sera nfo tiulada. Recorde-se que a invalidade substancial do negocio Juridico no afasta 2 qualificagéo Ya posse como titulada, o mesmo. sucedendo a falia_de Iegitimidade do alignante; mas ja ndo assim om se tratando dgfinvalidade. igmmal, ‘=H De mi £6 (1260/1-2): caso se trate de posse nfo titulada, o B tem contra si a Presungao prevista no 7 art, 1260/2, que poderia, no entanto, ilidir fazendo prova em contrério; independentemente disso, j no effafo,tratando-se ce um imével Sujeto a regsto predial, entonde-se que, numa conceptio de | boa fé subjectiva ética — que, apesar de nfo expressamente consagrada no 1260/1, € aquela que deve Ser tida em conta —o actual possuidor deveria ter-se asse; ido de que 0 alienante tinha a seu favor um registo predial onde constasse como titular do direito de que estava a dispor. Nao havenido esse Fegisto ~ como parece ser 0 caso ~ dif ‘poderd alegar estar de boa f8. A ‘mora consulta do registo permitir-Ihe-ia conhecér que estava a losar 0 diteito do outrem. 7 ® Piblica (1262): uma ver. que é exercida de modo a poder ser conhecida pelos interessados. ~-® Pacifica (1261/1-2): 86 ¢ considerada violenta a posse obtida por coaceio fisica ou moral sobre 0 Possuidor, A violéncia sobre a coisa.(ex. arrombamento da porta da fracgdo auténoma) nao releva para @ Caracterizago como violenta da posse). Neste caso néo houve violencia quer contra 0 possuidor — tnica relevante para este efeito — quer sobre a coisa. Para a classificagao da posse como violenta ou pacifica atende-se apenas ao momento da sua aquisiga ~~~] Nota: na resolugdio de qualquer caso sobre esta matéria deve fazer-se sempre a caracterizagio da posse / segundo todos estes eritérios { oa — 3 Note-se, no enfanto, que hé bastante jurispradéncia que accita como tal posse obtida com violéncia vontta as ooisas (nomeadamente através de arrombaniento de portas ou janelas,substinuigbo de fecheduras, cle.) : Caries Fernandes ~ 2005/2006 [33[oe ee — Dintitos Reais: IH —A Posse [Hipétese n° 16) +r | Hipétese n® 16 A furtow o veleula ¥, pr reine de Z, Dois meses mais tarde, por acordo verbai/A) jvenden.aBso ‘usufryto sobre 0 veleulol. Um ano depois, em Janeiro de 2005/ B descobre que( A hao & 0 proprietério do carro e comnica-the «que nao tenciona devolvé-lo no final do usufruto nem Vai permitir qualgier so do mesmo. @) Qualifique asituagao, juridtco-possessiria dos intervenientes: 4) Esclareca quem € o proprietério do veiculo e como se articula esse direito com as posses sobre 0 mesmo. 7 Alinegs): G76 proprietirio e possuidor, tendo sido privado do. “enna pelo furto Dai resulta a posse para o “autor do furto, por apossamento (1263/a), mas nio a perda imediata da posse do Z. sta s6 ocorre pela “posse dO“A Ou de outrem, contra a vontade do esbulhado, por um porfodo superior a um ano (A267/1,d), Este prazo conta-se, no presente caso, a partir da data em que Z tiver tomado conhecimento da posse do esbulhgdor, uma vez que foi tomada a ocultas (1267/2). Nao tem aplicagao parte final do art. 1267/2, por neste caso a posse nfo ter sido tomada com violéncia sobre 0 possuidor (ou entio nose pode ia falar do arto is so de. spuo) Esta posse & em principio, causal, 6 nfo efectiva, en principio ttulada (1259/1) e de boa £8 (1260/1- 2), pacifica U26L) e piiblica (1262). [Nao hé dados suficientes para apurar se ¢ originéria ou dorivada, () T—0 A adquire a posse, como se disse, através de um acto ilicito penal ~ o furto — pelo qual priva 0 anterior possuidor do controlo material efectivo sobre a coisa.(O facto aquisitivo.da posse de A é 0 apossamento, previsto-no art. 1263/a), ainda que se trate de um tinico acto (como jé se referiu Anieriormente, a expressdo “pratica 1a” deve ser interpretada no sentido de intensidade dessa pritica © nfo de um certo namero de repetigdes ou de sequéncia dos actos), Esta posse € efeetiva, formal, nfo titulada, de_mé f, pacfliea e_oculta (nfo ¢ suposto que os interessados, vg. o proprietaro, tenliam conhectnento da posse do autor do furto — apesar de o mesmo poder usar 0 veiculo em condigdes idénticas a um possuidor normal, tal_nio quer dizer que 0 roprietério tenha conhesimento quem ele ¢ ¢ onde se encontra), / 7 ufo _-&v IIL ~ 0B 6 possuidor nos termos do usufruto, mereé do contato de compra’ venda que celebrou com A. Adquire a posse por meio de tradigdo simbélica da coisa (1263/b) ede.modo.paciico. No entanto, o contrato qe compra e venda do usufruto é nulo por fata de legitimidade do alienante, nos termos do art, “892° pelo que o usufruto ndo chega a transmitir-se para a esfera juridica do comprador. Tal facto pode — ou nfo. — ter reflexos quanto a caracterizagdo da posse como caysal jou formal, como veremos de seguida. Basta posse &: Efectiva e formal: porque niio ha coincidéncia entre a titularidade do direito.e a posse que 0 GKterioriza: sendo o contrato nalo nada se transmitiu, pelo que B no é titular do direito de uusufruto nos fermos do qual exerce a posse, Titulada (1259/1): porque tem subjacente um modo legitimo de adquirir considerado em abstracto ™ Uma ver feita a qulificasto pormenorizada em casos enterirores com exaustiva explicaga0 dos critérios usados, julga-se desnocessirio estar a repetir tudo de novo... Carlos Fernandes — 2005/2006 |34<5 BM a ae Direios Reaie: I $A Posse] [Hipétese »° 16] ~ a compre ¢ venda é um contrato juridico idéneo a adquirir um diteito real, por forga do art 08/1 © 879/a do CC ~, apesar de, em concroto, essa eficdcia real nfo se ter verificado. E é em absiracto que a idoncidade ou inidoneidade do facto juridico de aquisigdo deve ser aferida, sendo irelevente Para a qualificagio como causal quer a falta de legitimidade do alienante quer a invalidade Substancial do modo de aquisigo. Quanto a uma possivel invalidade formal, pensamos que esta nil se verifica no presente caso por se tratar de negécio jurfdico consensual, em que vigora a liberdade de forma (219 CC). = ~ De mé fe (1260/1): apesar de haver uma presungdo de boa f& na posse titulada (1260/2), caso se ° audopte, como parece ser mais correcto, a concepgio de boa fé subjectiva ética, teremos de concluir pela qualificagio desta posse como de mé f8, uma vez que o comprador do usufruto podia ~ & devia — ter consultado os registos de propriedade-automével para se assegurar que o alicnante deste_direito tinha Tegifimidadé para-dele dispor| Se o tivesse feito estaria em condigdes do ‘conhecer que a sia posse Tesava 0s direitos do proprictério do automével, pelo que néo pode agora vir alegar boa f. : — cutia (1262): A posse 86 seria oes. fosse exercida de modo a que os interessados dela pudessem conhever — como sucederia com um uso normal do vefoulo nas vizinhangas do seu Proprictirio. Neste caso concreto, a posse é piblica relativamento a A ¢ oculta relativamente az.| > ~ Pacifica (1261/1): 0 comprador do usufruto recebeu a coisa sem ter agido com qualquer tipo de violéncia. IV — Releviincia juridico-possessoris way Recordemos os factos: -~& }°~ 0B 6 possuidor nos termos do“usufrutd ¢ detentor nos termos da propriedade, uma vex que “possui” em nome de outrem (0 proprio - 1253/b), > 2°~ A partir do momento em que descobre que 0 A furtou o veiculo, commica-the que no the iré devolver o carro nem permitir 0 seu uso (i.e. arrogn-se_a gual de. popitirio ose esse alidade 20 A, inipedindo-o de . —* 12 63) « 1LES wuss bay ee nea ee eee > O art consagra a lidade de “aquisi 2_posse por invers respectivo titulo, segundo o art. 1265, uma das formas de inversio do titulo da posse consiste na “oposigdo do detent do_diveito contra aguele em cujo nome possuia". Temos, assim, dois requisites de procnchinento ‘cumulativo para que a inversio do titulo da posse possa ocorrer: (i) que 0 novo ) possuidor seja detentor isa; € (li) que exista uma efectiva oposigiio do detentor contra aquele em nome de quem pou > 0 primeiro requisito esti, indubitavelmente, preenchido. Quanto ao segundo, diz-nos Oliveira Ascenso ("), “a_oposigo tem que ser categorica, de modo a sobrepor-se a cia que era ‘opresentada pelo titulo” ¢ em que dar “a saber ao propricitio a Sua oposigdo”. Foi isto o que suesteu 5d prosente caso, pelo que se considera ter havido inversio do tale-de posse nos lermos do art 1265, adquirindo 0 8 a posse nos termos da propriedade, para além da que jé tinha nos termos do usuftuiay —» Esta posse & otiginaria, formal, ng titulada (1259/1), de ma £8 (1260/1-2).¢ Pacffica (1261/1-2). B, ainda, piblica relativamente a0_A, ¢ ogulta relativamente ao 7, (1262). _—— V — Fo que avonteve & posse de 2? 4, Esta 86 se extingue decorrido um ano a contar da data em que tiver tomado conhecimenta da nova Go” Posse (1267/2). Esta solugSo insere uma desconformidade com 6 Teginis do ar [362: enquanto neste de Shasta, para que a posse seja caracterizada como piiblica, que esta possa ser conhecida pelos a inferessados, para o inicio da contagem do prazo de extingio da posse exige-se que seja efectivar * Direito Civil~ Reais, Coimbra Faltora,5* Ed, 2000, p. 92 Carlos Fernandes ~ 2005/2006 SeeDirvitos Reais: II - A Posse [Hipotese n° 17| conhecida, Note-se, no entanto, que a contradigo é apenas aparente: a norma do 1267/2 ndo se destina a caracterizar a posse como pUblica ou oculta — esse papel cabe ao art, 1262 ~ ela visa, tio 6, garantir a possibilidade de exereicio dos meios de tuela possesséria ~ 1282. ‘A posse do A também nfo se extingue automaticamente: da mesmna forma, s6 ocorre passado um ano, ‘Mas aqui o prazo conta-se desde o inicio da posse de B, uma vez, que esta é piiblica e conhecida do A. Isto significa que, pelo menos durante um ano, subsistem t185 posses sobre a mesma coisa, apesar de incompativeis entre si: a do Z, a do A ea do B. O art, 1278/2-3 estabelece regras quanto a esta matéria, que serd estudada mais tarde, Mica by): O proprietirio do vefculo continua a ser o-Z, porque quer o apossamento quer a inversio do titulo da posse (ou qualquer outro facto aquisitivo da posse) ndo implicam aquisigio da propriedade. Estas duas roalidades tm que sor mantidas estritamente separadas. ‘Assim como pode haver posse sem_propricdade, pode igualmente hayer propriedade sem_posse (recorde-se quo este principio é aplicdvel a qualquer outro direito real). fies __-® 0 proprictirio som posse pode reaver a coisa mediante uma acgo de zeivindicaydo (ZL), sendo esta acgiio impreseritivel, presente Nesta hipétese no chegou a haver perda da posse pelo Z, pelo que a acgfo adequada para reaver a coisa seria uma aceiio de restituigdo da posse, a que se refere o art. 1278/1 ("). Lae @ S09 a o~ we Fok 2s yley Hi Aé proprietirio do prédio ¥ que se encontra arrendado a B, 0 qual exerce 0 seu comércio no local carrendado. 7 ae Em 19-01-2005, A vendeu a propriedade a C, ndo entregando o prédio ao comprador. @) Esclaresa a situagdo juridico-possesséria dos trés intervenientes; 4) Suponha agora que 0 prédio ¥ nao se encontrava arrendado e que A néio efectuou a entrega do mesmo 4B no momento da compra e venda ou.em momento pasteriot. Adquiriu Ba.posse? _& ©) Diga qual é a regra geral de transmissaio da posse no Direito Portugués. it a fapretie ter eB Alineaa): pass => I—Situagao de B: A Jei portuguesa no trata o arrendamento como direito real, Coloca-se aqui o problema de saber se pode haver posse nos termos de um dircito de erédito. © Cédigo (1037/2) permite o uso dos meios de defesa possesséria pelo arrendatirio. Assim como 0 permite nos casos de parcoria pecuiria (1125/2), de comodato (1133/2) ¢ de depésito (1188/2). O que quer isto dizer’? Aparentemente, a Ici portuguesa permite apenas a posse no tocante 2 direitos reais de.gozp. Seré assim? © arrendatirio que recebe a coisa arrendada nio exterioriza o direito de propriedade; ele niio possui Como esta maria ainda ndo foi dada, nto seré aqui aprofundada, Carlos Fernandes ~ 2005/2006_}36Direitos Reais: UI — A Poste an [Hipstese n° 17) : wins om nome proprio, mas em nome do propritito’ do nos termos do direito de propriedade, Resta saber se a exteriorizagao de um dizeito proprio ~o dirsto da losatério— permite a posse. Para alguns, a faculdade de usar os meios de defesa da posse existe para defesn do dieito de detengio nfo de uma qualquer pretensa posse. Mas, segundo o que foi ensinalo na aul, isto nBo faz sentido, Porque a defensao ¢ um no-direito. A defesa da posse no pode sor explicada nestes termos, <= llveira Ascenso (¢ 0 Brof-segue.esta-posigio)entende que ha aqui uma posse a que chama passe interdital. A esta aplicar-se-ia apenas parte do regime possessério, como a tutela da posse, ¢ no todos 0s aspectos desta, A esta posse interdital nao seria aplicivel, por exemplo, o regime da usucapizo © dos fhutos. Jé os regimes da presungéo de titularidade, do direito de indemnizago © de tutela Possesséria teriam aplicago nestes casos ("*), Considera, assim, que B 6 possuidor (posse interdital) nos termos do arrendamento e detentor nos termos do direito de propriedade, Para o Prof, ls posse para além dos direitos reais de gozo... Baseis-se no raciovinio do Jhering de que hha posse sempre que alguém tem 0 corpus e apareea a exteriorizar 0 exercicio de um diteito, salvo se a lei degradar tal situago a mera detengo, ‘Nota: no interessa fazer a caracterizagio da posse interdital. (1253/e). Sendo assim, é um mero detentor I — Situagao de C: OC adquiriu a propriedade e a posse, esta através do consttuto possessério (1264/2), que & um facto translativo da posse (1263/c). eae 3,0 constitu possessrio supe: Yoh, BA) Umacto de transmisstio; css (ii) por parte do possudor; ‘ple: 9 (iii) que continua a doter a coisa on ape ne continua a deter a coisa on is SY ivy quo coisa sein del 1a conti Jo —}> Foi isto o que sucedeu no presente caso: por efeito do contrato de compra e venda celebrado entre A ¢ G, & propriedade transmit i -o.segundo no. proprio. momento da celebracio do sontrato (408/1_¢ 879/a); a posse transferiu-se também, independentemente do facto do a coisa finwar @ ser detida por terceiro, nos termos do art, 1264/2. = jesse yak > _Trala-se de uma transmissio juridioa da posse, que dispensa a entrega material ou simbblica da coisa, Cuja origem remonta ao Direito Romano. O constitute possessério representa, apesar disso, uma excepefo a regra goral de ransmissto da posse: a tradigfio material ou simbslica da coisa, A posse do C € causal, ttulada, de boa f6, pacifica e piblica, Alinea 6): Niio havendo arrendamento nom causa justificativa, para a nfo entrega da coisa no momento da celebrardo do contrato, no hé transmissio da posse. Niorh4 constituto possessério porque falta uma ‘causa justificativa para a nto entrega. | ~~ O C adquire, neste caso, a propriedade (408/1 ¢ 879/a), mas niio a posse, que continua com 0 A, fransformando-se de causal em formal. © novo proprietério (C) pode obter a entrega da coisa (6 ‘adquitir @ posse) através de uma ace8o de reivindicago da propriedade (1311) ou através de uma Nota: Oliveira Ascenso nfo diz nada sobre so no manual; verse hé bibliograta sobre a metre. Carlos Fernandes ~ 2005/2006:16 E11 36108 Direitos Reais: I — A Passe. [Hipétese n° 18) acgiio de cumprimento (87), mas nio através de uma acgfio de restituigéo da posse (278), uma vez ‘que nilo pode ser restituido naquilo que nunca teve, / _——® Hipéiese 0°18 a A, proprietério do prédio X, vendeu a B esse direito, convencionando simultaneamente as partes que A permanecerta como arrendatdrio durante seis meses. Nao houve entrega da coisa. arrend Nao houve entrega da coisa a) Esclareca a situagiio juridico-possessoria dos ervenientes. }) Suponka agora que A, proprietério do prédio, vendeu o mesmo.a B,-sem contudo, entregar a coisa ao comprador. Esclareca a situagdo juridico-possesséria de ambos. 1agdo juridico-possessoria do A. © A cra proprietirio ¢ possuidor do prédio antes da sua alicnagiio. Com a celebragio do contrato de compra ¢ venda a propriedade transfere-se pata.o B, por efeito do principio da consensualidade previsto no art. 408/1 e 879/a. Simultaneamente, por eedéncia (1267/1.c), perde a posse nos termos da propriedade, passando a mero detentor nos termos deste direito, uma ver. que “possui” em nome de ‘outrem (1253/e). ‘Segundo a doutrina do Prof. Oliveira Ascensio, seguida pelo Prof. Coelho Vieira, o A adquire a posse ‘nos termos do arrendamento, por considerar que a posse pode ter lugar para além dos direitos reais de gozo (1037/2). Trata-so daquilo a que chamam posse interdital ('*). Este interveniente passaria, assim, a ser detentor nos termos da propriedade e possuidor nos termos do atrendamento, sendo que a sua posse é interdital;-o-que significa que nfo beneficia de todos os aspectos do regime possessério e que no se toma necessério proceder sua caracterizagao. IL -Situagdo juridieo-possess6ria do B._ OB adquire, por forga do contrato de compra e venda, a propriedade do prédio (408/1 e 879/a). Relativamente & posse, niio tendo havido tradigo nem apossamento nem inversio do tftulo da posse, 1hé que verificar se esto reunidos os pressupostos do constituto possessério, nos termos do art, 1264/1. Os requisitos deste institut sfo os seyuintes: 1) Um acto translativo da propriedades > 2) Que o transmitente tivesse a posse da coisa > Una cause jurcion que jusique 0 fete d6-0 -iransmitente continuar com a coisa em seu ‘Vemos claramente que todos os requisitos cumulativos do constituto possessério estio preenchiidos: 0 ‘A era proprietério e possuidor, transmitiu a coisa por compra e venda e manteve a coisa em seu poder devido a um contrato de arrendamento celebrado com 0 adquirente. 7 Este instituto tem origem romana ¢ destinava-se a evitar certas exigéncias absurdas que resultariam do facto de contrato de compra ¢ venda entre eles no ter eficdecia real mas apenas obrigacional. Para que a propriedade se transmitisse era necessirio que a coisa fosse entregue, material ou simbolicamente, a0 adquirente. Mas seria absurdo que 0 disponente tivesse que entregar a coisa a0 adquirente para este a éntregar de novo ao primeiro, com quem deveria manter-se por forga do *© No explicou como & que 0 A adquiru esta posse: nko fi por apossumento, amémn no fol por tadiggo, no parece que ‘scjaros peante uma inversio do titulo da posse e no & de certeza um caso de constito posessrioa for do (6-0 sim ‘favor de B, mas ji iemos). Terk sido por taigao revi mar? Carlos Fernandes - 2005/2006 [38Direitos Reais: A Posse [Hipotese n° 19) contro de arrendamento, Foi por isto que se instituiu uma espévie de posse iuidica, para cuja aquisigao deixava de ser necesséria a tradigiio da coisa, + 0 iinterveniente B adquire, assim, uma posse meramente juridica, mesmo que a coisa nao the seja entregue, por forga da norma estabelecida no 1264/1. __-sAlinea b): A diferenca entre esa hipstse oa anterior ¢ que nesta nao hé contato de arrendamento nem qualquer Outra causa uridiea) que justifique que o alienante continue a exercer 0 controlo matorial ‘sobre # coisa. B isto quer dizer que, na falta deste requisito (causa), néio hi it sessorio, 0 que resulta numa situacdo em que o A ¢ possuidor sem propriedade (formal) ¢ o B proprietdrio sem posse. Nao chega 1 haver aqui qualquer tradigio da coisa (ainda que na modalidade de brevi mana), pelo que © primitivo possuidor (A) mantém a. Posse sobre a coisa, Para obter a entrega da coisa, 0 comprador poderia recorrer a uma acgiio de reivindicagéo da coisa (1311) ou a uma acgiio de: ‘cumprimento (817), uma vez, ‘que © contrato de compra e venda produz, para alm des efeitos reas de transmissio da propriedade, a obrigagéo de entropa da cosa (879/). Mss |a niio poderia recorrer @ uma acgo do restituigio da posse (e muito menos de manutengio), por nao se pode restituir © que nunca se teve (1278). Hipoiese n° 19 ae ae eS —— 4 ¢ proprietirio do awomével X e igualmente seu possuidor. No dia 01-01-2004, B furtou o automével de A, ignorando este quem o tinha furtado. Em 0: ‘005, B vem a doar 0 carro.a C, que ignora o furto do mesmo. Em 15-05-2005, A vem a saber por intermédio da Policia que C tem o carro. Perante a recusa de C em devolver 0 carro, diga 0 que pode A fazer, esclarecendo a situagéo jurldico-possesséria de todos 08 intervenientes e a caracterizagdo da posse de cada um deles. MOP a wi AG 1a7ay idico-possessdria de A. Como se disse no enunciado, A era proprictério possuidor do automével & dala em que foi furtado Por 3 ¢ continua a ser uma coisa e outra. Continua proprictirio, porque 0 furto nto é um medo legttimo de aquisigio da propriedide (1316-1317 a contrario); © continua possuidor porque a perda da Posse do anterior possuidor pela posse de outrein, ainda. que contra a sua vontade, s6 corre decorrido um ano a.contar da data em que teve conhecimento da nova posse (1267/I/d e2). ‘Ora, sendo a posse do B cculta, 0 prazo em questiio apenas comega a contar a partir de 15-05-2005, data em que o A ¢ informado pela Policia que o C esta a exercer a posse sobre o carro, Verifca-se, por conseguinte, que durante esse periodo hi duas posses inconciliiveis sobre a mesma coisa: a do A, que ¢ uma posse meramente juridica (uma vez que perdeu 0 corpus), ¢ ado B, esta uma posse de facto, A posse do A é causal, em principio titwlads, de boa fe, pacifica e piblica. I~ A situagio juridico-possesséria de B. 2.8 acquire a posse por apossamento, nos termos do art. 1263/8), contada da data em que praticou 0 furto. Como 0 furio ntio é modo legitimo de adquirir, a posse € niio titulada; sendo nfo titulada, presume-se do mé fé (1260/1-2), presungao esta que & confirmada pelo facto de neste caso set notérig gue 0 novo possuiidor conhecia perfeitamente, no momento da aquisigio da posse, que lesava 0 direito de outrem; trata-se de uma posse pacifia (1261), uma vez que nao hd coacgao fisca ou moral contac Cartos Fernandes ~ 2005/2006 [39Diretos Reais: II—A Posse [Hipstese n° 19) anterior possuidor (ou entdo tratar-se-ia de roubo ou violéncia depois da subtracgao e ndo de furto) © & ‘oculta, uma yez.que 0 A no tem idade de conhecer a posse do B. OB perde a posse por cedéncia a0 C em 05-02-2005 (1267/1/c), no momento em que ela ¢ adquirida por este ditimo. aa IIL ~ A situa juridico-possess6ria de C. © C adquire a posse por tradigo (1263/b), mediante o contrato de doagiio, independentemente da -validade ou invalidade substancial do negécio celebrado com B. © contrato de doagio em causa é substancialmente invélido, por o art. 956 ferir com a sangfio da nulidade a doago de bens alheios; e, como vimos, a propriedade do automével manteve-se com 0 A, por o furto praticado pelo B ndo ser um modo legitimo de aquisigo deste dirvito. ‘Sendo o contrato de doago nulo, o C nada adquire em termos de direito de propriedade: nao sendo 0 B titular deste direito nunca o poderia transmitir. ‘A posse do C tem, assim, um caricter formal, por ndo haver coincidéneia entre a posse € o direito que © seu exercicio exterioriza, A posse & contudo, titulada, pois se fundou em modo legitimo. de adquirir ~ a dosgio (1317-1318). Este modo legitimo de adquirir é considerado em abstracto, independentemente da sua validade ou invalidade substancial no caso concreto (1259), Apesar de este contrato de doagéo ser nule por invalidade substancial, tal nfio afecta o carécter titulado da posse que o C adquiriu, uma vez que o art. 1259 define como titulada a posse fundada em modo legitimo de adquirir, independentemente da validade ou invalidade substancial desse facto juridico com eficécia real de que a situaglio juridica retira o seu modo de ser. 0 que quer isto dizer? Quer dizer que a posse seri titulada ainda que o facto juridico com eficdcia real (contrato, acto juridico unilateral...) que constitui o modo legitimo de adquirir sea invalido por vieio ‘outro que no o formal. Tendo em conta que a doagio de coisa mével s6 esta sujeita a forma especial se ndo for realizada a entrega da coisa, e tendo neste caso o carro sido‘entregue ao C, no se verifica aqui qualquer vicio desta natureza (947/2). A posse titulada presume-se de boa fé, nos termos do art, 1260/2. Mas esta é uma presungao iuris tantum, pelo que pode ser ilidida por prova em contrério. E parece-nos que, neste caso, essa pfova Bode ser encontrada se considerarmos, no seguimento da doutrina de Oliveira Ascenso seguida pelo ‘nosso regente, que o art. 1260/1 consagra uma concepeiio subjectiva ética de boa fé. B que bastaria a0 C uma mera consulta aos registos da conservatdria do registo automével para se poder assegurar se quem Ihe doava a coisa era ou nfio 0 seu proprietirio. Consideramos, assim, que o C tem posse de mé f&. ‘A posse 6, no entanto, pacifica pelas mesmas raztes aduzidas quando caracterizimos a posse de B (1261). Quanto a publicidade, temos uma caracterizagio dualista: 2 posse 6 piblica relativamente ao B, que ‘tem conhecimento da posse de C, © oculta relativamente ao A, que nio tem possibilidade do a ‘conhecer (1262). TV ~0 gue pode o A fazer para reaver a coisa. © A pode, neste caso, intentar uma acgao de reivindicagdo da coisa (1311) ¢ obter, por intermédio desta, a restituigdo da coisa. Mas seri que poderia obter © mesmo efeito através dos meios de tutela possesséria, designadamente através de uma acgio de manuteng&o ou de restituigdo da posse nos termos do art. 12787 Quanto & primeira a resposta é negativa. Em primeiro lugar, porque a acgo de manutengio sé pode ter Carlos Fernandes ~ 2005/2006 |40Dinites Reais: I-A Posse _ _[Hlipétese n° 20) lugar naquelas situaydes em que, tendo-se verificado a perturbagllo do possuidor (nomeadamente através de tentativas de esbulho), este nunca tenha chegado a perder 0 controlo material da coisa, Hé ‘entativa de esbulho, mas este nio & concretizado. E quanto a acgao de restituigtio da posse? Bom, aqui depende. So quem fom aetuzlmente 0 poder de facto da coisa for um possuidor de boa f, entiio esta possibilidade astada, uma vez que o art. 1281/2 in fine s admite a acghio de restituigao da posse contra quando este.tenha conhecimento do esbuilho (""). Neste caso s6 Ihe testard a altemativa da acgaio de reivindicagao prevista no art. 1311 CC. / No presente caso concluimos que 0 C adquiriu a posse de mé fé, fundamentando tal qualificaggo nos | termos da concepeao subjectiva ética do conceito de boa f. E, assim sendo, 0 A poderia perfeitamente ( intentar uma acgio de restituigao da posse contra o C ('"), j Mas, atengdo: quer a aceo de tenedio.quer.a de restituic&o partem do pressuposto fundamental dé que da aego ainda tem a posse da coisa, ainda que meramente juridica. Se tiver pordido a Posse - nomeadamente pelo decurso do prazo definido no art. 1267/1/d e2 ~ jé nfo Iho serk possivel Tecorrer a este mecanismo de tutela juridica, devendo antes recorrer A acgdo de. reivindicagao do art 1311. CC, so? a OEE ye Dee Vee V— Posse vs. Direito de propriedade e outros direitos reais de goz0. Tevantou-se a questo de saber © que sueederia se 0 C, possuidor formal, opusesse a sua posse ao Jireito de propricdade de A, no ambito da acgo de reivindicagao que este Ihe move, Bom, segundo 0 que foi ensinado na aula, o sistema juridico esta estruturado de forma ‘coerente © nunca poderia permitir que o direito de propriedade, como direito real, fosse afastado quando Confrontado com a posse. Em qualquer confionio entre a posse formal e qualquer diteito reil de gozo (€ nto 86 0 direito de propriedade) sto estes que prevalecem, Wipes n° 20 if i ee A & Possuidor formal nos termos da propriedade do prédio X desde 01-01-2003. A sua posse 6 ttulada, de boa fé, piblica e pacifica Fm 05-05-2005, B instala-se no prédio de A e retira-lhe o controlo material sobre ele 9 Esclareca 0 que pode A fazer, explicando 0 desfecko de uma acedo possessiria de restituigao movida por A; 2) Suponha agora que na aceio possesséria de resttuicéo, B invoca e prova a titularidade do direito de propriedade. Qual seria o desfecho desta acgdo? Alinea a): I~ OB adquire a posse no titulada (1259), demi apassamento, nos termos do art. 12634a, Trata-se de uma posse formal (1260) e pithlica (1262), havendo divides quanto a sua Classificagao 2” Note-se ue aq lei diz, refirindo-s a teres, “yue tena conhecmsento do exbulho" nquanto que no a. 1250/1 aie expressamente quo “A posse diz~se de bos f, quando 0 possuidorignorava, ‘Pazece-nos que no se fla da mesma coiss: no art. 1260 releva para efeitos de Trantn da aqulsigso da posse (a posse adquirds de boa f8 manter-s-A de boa f& para sempre, mesmo sue pecs TUR I Gomberimento posteiormente que est & esr o dircito de ourom); aqui no art. 1281, exgee apne us 6 {reci tenha conhecimento do esbuiho, indepeadentemente do momento ein que esse conhecimento the tea chop, ¢,Na eslueo inci feta ma auaprtica nto se elevou ext spect teno-se considerado qua posse sre de bon com basoma presunpo do ar. 1260/2, resaltante de so ter consderady quo posse da Cera titel Cortes Fernandes —200sr006 [aiDireitos Reais: IV — A nsueqpido [Hipotese n° 21) ‘como pacifica ou violenta (1261), dado que o texto niio nos fornece elementos suficientes para esta caracterizagio. Apesar de se poderem admitir as duas hipéteses, consideramos, no entanto, que esta posse é violenta, uma vez que se diz no texto que B retira ao anterior possuidor o controlo material sobre 0 prédio, Note-se que, segundo a posiglo eiisinada nas aulas, so hé posse Violenta quando ‘a ccoaesio fisica ou moral se drige contra a pessoa do antiga passuidore-néa.contra as coisas.” I~ Apesar de B ter adquitido a posse logo que passa a exercer, com exelustio do anterior possuidor, 0 controlo material sobre a coisa, A no perde de imediato a sua posse. A lei exige para tal que a nova posse tenha durado mais de um ano. Este prazo conta-se desde o inicio da nova posse (lembre-se que a posse adquitida por apossamento & origina), se foi tomada publica ¢ pacificamente, Caso soja oculta e/ou violenta, 0 prazo s6 comeca & ccontar da data om que se tornou publica e/ou cessou a violéneia (1267/1 ‘Vimos que a posse do B era piblica, mas considerimo-la violenta, pelo que 0 prazo sé comeya a contar da cessagio desta violencia #” Ill - Segundo o texto, B apossou-se da coisa em 05-05-2005, pelo que nfo decorreu ainda um ano desde o inicio da‘nova posse. O A continua, assim, a ser possuidor da coisa, pelo que pode recorrer aos meios de defesa da posse, nomeadamente a acciio de.restituigo-da-posse-prevista no.art,1278. Mas nfo pode recorrer & acgo de reivindicagio prevista no art. |QLJ, uma vez que, sendo possuidor formal, nao é titular do dircito ios termos do qual exercia a posse. O desfecho da acgao possesséria de restituigéo depende de qual das duas ¢ a melhor posse. O artigo 1278 estabelece as regras a este respeito, considerando que ¢ melhor posse: 1. A que for titulada; 2. na falta de titulo, a mais antiga; e, 3. se tiverem igual antiguidade, a posse actual. Aplicando estas regras ao caso em anilise, vemos que a posse do A é titulada e a do B niio, pelo que a primeira & melhor posse. Alinea b): Caso tal prova fosse realizada, prevaleceria o direito de propriedade sobre a posse, pelo que a acgio intentada pelo A seria improcedente. Assim, face 20 disposto no art. 1278/1, A niio poderia ser restituido na posse. Note-se que a garantia de restitui¢ao proviséria da posse por esbulho violento, sem audiéncia previa do esbulhador, prevista no art. 1279, aplica-se sem prejuizo dos artigos anteriores, pelo que nio afecta a solugdo prevista no art. 1278/ TVA usueapiio: Hipitese n° 21 Aula de 21-02-2006 A vendeu a propriedade do prédio x a B em 12-01-1985. B sabia, porém, que 0 direito ndio pertencia a ‘A, mas sim a Z, Nao obstante, 4 figurava no regisio como adquirente da propriedade. B registou a sua aquisiciio dois dias depois (14-01-1985). Em 15-05-2002, B doa aC a propriedade do prédio x. Nessa mesma data, C recebe 0 prédio por entrega de B. Carls Femandes 2008/2006 [a2Direites Reais: IV —A usucapio __[Pipétese n° 23) Em 10-02-2006, Z, proprietario do prédio segundo acérddo do STJ de 10-01-2005, move uma acgdo de reivindicagdo contra C. Considerando que a decisdo judicial acima referida foi proferida em acedo movida por Z contra A e B, diga qual seré o resultado possivel da ac¢do de reivindicagdo tendo em conta os meias de defesa que C pode invocar. Na aniilise desta questi considere dois cendrios: 1. Cencirio em que 7 demonstra a propriedade na acgao de reivindicagéio; 2. Cendrio em que Z no demonstra a propriedade na acgiio de reivindicagdo, 2 faz prova da propriedade: ‘Nota: 0 acérdio judicial que declara Z proprietirio 6 emitido na sequéncia de uma acco interposta contra A e B, Consequentemente, nio faz caso julgado em relagdo @ C (que ¢ terceiro). Em suma, esta decisio nio pode ser invocada contra C— vale $6 para Z, Ao B. Considerando que a acgo nio faz. caso julgado contra C, Z tem que provar a titularidade do direito real, Analisando o enunciado do caso pratico temos: T— Um contrato de compra ¢ venda entre A ¢ B: este contrato é nulo por ilegitimidade do alienante, que assim fez uma venda de bens alheios (892); como tal, B nada adquire do ponto de vista substantivo. Todavia, adquire posse, uma vez que recebe a coisa. Esta posse ¢ formal, titulada, de mi £8, pacifica e piiblica, —~ I — Um contrato de doagio entre B e C: é E Por falta de legitimidade de B (956). Néo sendo proprietério, B nlo poderia validamente transmi Como tal, C nao adquire o direito real ~ Propriedade — mas adquire a posse por tradi sa (1263/b). A sua posse é formal, titulada (0 contrato de doagdo 6 um contrato com efieécia real, sendo um modo idéneo para 2 aquisigo de um dircito real ~ 1316), de boa fé, pacifica e piblica (sendo um imével, a posse s6 pode ser exercida em condiges de vir a ser conhecida pelos interessados, que-sabem.onde fica). Considerando que estamos perante 0 cendrio 1, em que Z prova a_titularidade do direito de ropriedade, © que C seria um mero possuidor, nos termos do art. 13] somos levados a concluir que nesta acedo prevalecoria o direito real contra a posse do réu. A nica forma de C ganhar a demanda era invocando a usucapiio. Hipsteve n? 23. Aula de 2: 2006 A, proprietério do prédio x e possuidor desde 05-01-1970, decide, em 10-02-1975, vender a B 0 direito de superficie para construgao de um armazém. A superficie foi constitulda por um prazo de SO anos. O prédio foi entregue a B na data da escritura de compra e venda. A partir de Janeiro de 1985, B declarow, por diversas vezes, a A que doravante se considerava 0 proprietirio do terreno e que ndo o entregaria no final do prazo contratual. A ainda tentou restabelecer o controlo material sobre o prédio, mas, foi sempre impedido de o fazer. Em 03-02-2000, B celebrou com C um contrata de compra e venda da propriedade por escrito articular, tendo nessa data entregue o prédio ao comprador. En 10-02-2006, A interpoe uma acgao de reivindicagdo contra C. Carlos Fernandes ~ 2005/2006 |43Direitos Reais: IV — A usucapiao [Hipdtese n° 22) Coloque-se na posigéo de advogado de C e esclareca todos os dados pressentes na hipdtese, considerando igualmente os meios de defesa ao alcance de C. 1 Situacdo juridico-possesséria de A. A. proprictirio e possuidor do prédio, cujo direito de superficie vendeu a B por um prazo de 50 anos a contar de 10-02-1975, Com a entrega da coisa ao comprador do direito de superticie, a posse nos termos deste direito transfere-se para B, mas a posse nos termos da propriedade permanece com 0 A. superficidrio é mero detentor nos termos da propriedade, uma vez que “possui” em nome de outrem (253i). ed II Situagao juridico-possess6ria de B. O contrato de compra e venda do direito de superficie tem eficdcia real, constituindo-se o direito por ‘mero efeito do contrato, atento o principio da consensualidade (408/1 e 879/a). O facto aquisitivo do direito de superficie esta sujeito a registo (art. 2° C. Reg. Predial). Tendo havido entrega da coisa, B adquire a posse 10s do direite de superficie por tradigfio (1263/b); nos termos do direito de propriedade & um mero detentor, uma vez que “possui” em nome do proprietério (1253/c). Esta posse de B ¢ causal, titulada, de boa f& pacifica.« piblica. A niio perde a posse nos termos da propriedade: passa a exercé-Ia por intermédio de B (1252/1). B, que era mero detentor nos termos da propriedade, comeca, em Janeiro de 1985, a arrogar-se a titularidade do direito de propriedade, opondo-se ao exercicio da posse nos termos deste direito por parte do anterior possuidor. Trata-se de uma oposigao firme, que é dada a conhecer a A por mais do que uma vez. Estio, assim, reunidos todos os requisitos de que a lei faz depender @ constituiglio da posse por inversio do titulo da posse (1263/4 ¢ 1265). B passa, a partir de entio, a possuidor nos termos da propriedade, sendo tal posse formal, nio titulada, de ma £6, pacffica e publica. Quanto a posse de A, esta manter-sc-A pelo prazo de um desde que tomou conhecimento da nova posse (1267/1, al. d) e 2).
La
O contrato de compra e venda celebrado entre B e C é qulo, cumulando um vicio substancial
(ilegitimidade do alienante para dispor do bem — 892) e outro formal (a compra ¢ venda de bens
iméveis_s6_pode ser feita_por_escritura-piiblica — 878, 220). Logo, C nada adquire em termos
substanciais no que ao dircito real de propriedade diz. respeito. Contudo, tendo havido entroga da
coisa, adquire a posse nos termos da propriedade por tradig&o (1263/b), perdendo-a do mesmo passo o
codente (1267,
LE, assim, desde 03-02-2000, possuidor formal, sendo a sua posse nfo tityleda (1259/1 a conirario),
‘ima vez que 0 vicio de forma, ao contrério da invalidade substancial e da ilegitimidade do alienante,
releva para esta caracterizagiio, presume-se.de_mé fé (1260/2) e a concepgiio subjectiva ética aponta
neste sentido — bastar-lhe-ia consultar os registos para ficar a saber que lesava o direito alheio, pacifica
(12641) © pation 1282),
IV ~ Meios de defesa de C contra a acgfo de reivindicagao interposia por 4.
A tinica defesa possivel contra uma acelo de reivindicagfio em que o reivindi
do direito de propriedade & a conferida pelo regime da ugucapio. Veremos, em seguida, se estiio
Curios Rernandes—2o0s/2006 [44Dirvitas Reais: TV — A usucapito (Hipatece n° 22)
reunidos todos os requisitos necessérios para que C possa invocé-la em sua defesa.
(1) Existéncia de um direito usucapivel ou usucapionsrio (direito real que nfo seja excluido da
‘usueapitio~ 1293); ee
(2) A existéncia de uma posse boa para usucapito (posse publica e pacifica— 1297);
(3) O decurso de um prazo (que varia consoante a coisa seja méyel ou imével © a posse seja
titulada ou no titulada, haja ou ndio registo do titulo da posse ¢ esta seja de boa ou ma fé)
@) A usucapiio tem que ser invocada judicial ou extrajudicialmente (303 ex vi 1292).
isto os dados do nosso caso © os requisitos exigidos para a usucapifio, vejamos se C poderia
defender-se por via de excepeio, invocando a usucapiao.
O direito de propriedade & um direito usucapivel e C era possuidor nos termos da propriedade e a sua
posse & piblica ¢ pacifica, pelo que estio jé preenchidos dois dos requisitos exigidos,
Quanto ao prazo de usucapiio, verificamos tratar-se de coisa imével © nao haver titulo nem registo,
Para além disso, a posse de C ¢ de mi fé, pelo que, tudo conjugado, o prazo para usueapito &.ds,20
_anos (1296).
Embora a posse de C date apenas de 03-02-2000, pelo que dura apenas hé 6 anos, este poderia recorrer
a figura da acessio da posse (1256), juntando A sua a do anterior possuidor, uma vez que a sua foi
adquirida por tradigiio. Note-se que a acessio s6 opera quando estamos perante os modos de aquisigio
da posse (tradigao © constituto possessério) © nilo quando a posse se deve @ um acto constitutive
(apossamento ou inversio do titulo da posse), pois que, sendo esta uma posse originéria, no tem com
as anteriores qualquer tipo de ligaséo,
Assim, temos:
: inicia-se a posse deste nos termos da superficie;
1983 ~ B inverte.o titulo da posse: tomna-se possuidor nos termos da propriedade a partir de entio;
Fi 10 — B vende a C: este toma-se possuidor nos termos da propricdade
FEV 2006 data da aceiio de reivindicagto
[Vemos, assim, que B foi possuidor nos termos da propriedade entre 1983 ¢ 2000 (17 anos), 0 que
‘somado a posse de C (6,qnos) perfaz um total de 23 anos.
O art. 1256/2 estabelece, no entanto, que sendo as posses de diferente natureza, a acessiio se dar nos
limites da que tiver menor émbito. Importa, pois, comparar as posses de B eC:
Posse de B Posse de C
Format Formal
‘Nao titulada Nio titulada
Ma fé Ma fe
Pablica Pabtica
Pacifica Pacifica
Neste caso, vemos que os caracteres das duas posses so precisamente idénticos, pelo que no haveria
Problema. Mas, supondo que a posse de C era de boa fé e a do B era de ma fé, por exemplo, isso
significaria que C teria de so sujeitar aos prazos da mé f8. Ou se uma fosse titulada e a outra nfo
titolada, todo 0 periodo das duas posses contaria como ni titulada, etc.
Cortos Fernandes 2005/2006 [4sDireitos Reais: IV — A nsucapido [Hipétese n° 23]
Hipstese n° 23 woe pe eee
A, possuidor formal nos termos da propriedade, vendeu o direito a B, por escritura piiblica celebrada
‘em 10-01-1990. B, que recebeu as chaves do prédio nesse dia, registou a sua aquisicdo com dada de
01-02-1990. 72, tf
Em 05.02.2006, C intenta acgito de reivindicagao contra B pedindo a condenagdo judicial deste na
entrega da coisa, oe
4) Diga qual o desfecho da acgéo se C provar a propriedade;
8). Digas qual 0 desfecho da acgéo se C nao provar a propriedade;
Em cada uma destas alineas, pondere 6s meias de defesa de B.
a
Alinea 0)
1—A era possuidor formal nos termos da propriedade, o que significa que no era titular desse direito.
(Ora, se iio & titular do direito, nfo tem legitimidade para dole dispor. é
_-/ Assim, 0 contrato de compra ¢ venda celebrado entre Ae B é nulo, por falta de legitimidade do}
alienante, consubstanciando uma yenda de bens alheios (892). B no adquiriu a propriedade com base
neste negécio, por falta de causa legitima de adquirr.
II — Aposar de ndo adquirir a propriedade, B toma-se possuiidor por tradi¢o da coisa (1263/b), com
inicio em 10-01-1990, Trata-se de uma posse:
Formal: uma vez que ndo hé coincidéncia entre a titularidade do direito de propriedade e o
possuidor),
Titwlada (1259): porque fundada om modo legitimo de adquitr, considerado em abstracto — 0
contrato de‘compra ¢ venda ¢ modo legitimo de adquirir eff. 1316. Por outro lado, a forma foi
respeitada (escritura_piblica), no relevando a invalidade substancial para efeitos de qualificago
da posse como nfo titulada;
De boa fé (1260): sendo a posse titulada presume-se de boa fé (1260/2). Nao se vé como afastar a
presungtio de boa f€ no presente caso, a menos que niio houvesse registo prodial a favor do t
alienante, caso em que o comprador estaria obrigado a um dever de se informar previamente desse
facto (se 0 io fizesse considerar-sc-ia de ma f, desde que optemos por uma concepslo subjectiva
ética de boa fé), Apesar de esta possibilidade existir, nio nos parece que a escritura fosse feita sem |
esse registo, atento o dever de vigilincia que impende sobre os notirios por forga do art. 9 do C.
Rog. Predial (a menos que tal registo tivesse sido forjado).
{/)— Pacifica (1261) e Piblica (1262).
IIL Face a situagao descrita, verios que o B tinha titulo de aquisigdo (0 contrato de compra e venda -
e nfio a escritura, uma vez que esta no passa da forma do contrato) e registo deste, realizado em.01-
02-1990, i. é, hd cerca de 16 anos atris.
‘A.usucapitio 6 um efeito da posse que representa um facto aqusitivo de direitos reais de gozo, supondo
{que estejam reunidos trés requisitos:
— Que o adquirente tenha sobre a coisa uma posse pacifica e pliblica (1297);
Que tenba avido o decurso de um certo prazo (que varia consoante a coisa seja mével ou imével,
possuiidor tenha titulo e registo deste ou ndo, haja registo da mera posse ou nem sequer isso, € &
posse seja de boa ou ma fe),
— Que a usucapitio seja invocada (1292. 303).
Carlos Fernandes ~ 2005/2006 | 46Direitos Reais: V— Causas de ectino dos direitos reais [Hipétese n° 24)
‘No caso vertente, vimos que B tinha sobre o imével uma posse piblica, pacifica e de boa fé; que tinha
titulo de aquisigdo e registo deste; e que decorrera um prazo de_16 anos desde a data do registo.
Ora, diz-nos o art. 1294 que, havendo titulo ¢ registo deste a usucapiio tem Iugar, quando a posse é de
boa fé, decorrido o prazo de 10_anos, contado a partir da data de registo do titulo, Pelo que forgoso é
concluir que o B est em condigses de adquirir por usucapiio, bastando-lhe para tanto fazer a sua
jnvocagdo nos termos do art. 303 ex vi do art. 1292,
Esta invocagio pode ser feita tanto judicial como extrajudicialmente (303)
A defesa de B seria, assim, por excepefo, invocando a usucapifo. Para o efeito teria de alegar os factos
ue preenchem os requsitos de que a lei faz depender a usucapido, A eficdcia da usucapito retroage ao
inicio da posse (1288),
Por efeito da usucapito constituise na esfera juridica de B 0 direito de propriedade ex mgyo ou
Criginario, extinguindo-se, do mesmo passo, o dirieto de propriedade que existia na esfera juridica do
anterior proprietirio. A usucapido é um modo de aquisisao origindria do dieito de propriedade ou, por
utras palavras, & um facto juridico com eficdcia real constitutivo do direito de propriedade,
Hipotese n? 24 a ee
Aula de 21-02-2006
A vendeu a propriedade do prédio x a Bem 12-01-1985. B sabia porém que o direito ndo pertencia a
A mas sim a D, niio obstante A figurar no registo como adquirente da propriedade, B registou a sua
aquisigdo 2 dias depois.
Em 05-05-2002, B doa a propriedade do prédio x a C. Nessa mesma data, C recebe 0 prédio por
entrega de B.
Em 10-02-2006, D Propriettirio do prédio segundo acérdéo do STI de 10-01-2005, move uma aceéio
de reinvindicagdo contra C.
Considerando que a decisdo judicial acima referida foi proferida em acgdio movida por D contra Ae
B, diga qual seré o resultado. possivel da acgdo de reinvidicacdo, tendo em conta os meios de defesa
que C pode invocar.
Renato dixit
Passando & frente a venda de ben:
ilegitimidade bla bl4 bli, o c(h)
C podia invocar com sucesso @ usucapiéo!
ieios, a doagtio de bens alheios, a nulidade em causa, a
Diga como!!!
V = Calisas dé'extincio dos direitos reais’?
Hipotese n° 25 : i Vee
A ¢ proprietirio do prédio x, sendo igualmente possuidor do mesmo. B & superfickirio, com diretto
constituide por contrato de compra ¢ venda, com data de 02-01-1989. Quer A quer B tém registo a
seu fervor.
Em Outubro de 1991, A desapossou B ¢ nunca mais consentiu que este praticasse algum acto de
exercicio do seu direlto. B tampouco reagiu judicialmente
Carlos Femandes 200572006 [ayDireitos Reais
V— Casas de exctingtio dos direitos reais [Hipétese n° 25]
@ Suponha que B morre e ihe sucede C ¢ que este pretende exercer 0 direito de superficie que
hherdou.
3B) Suponha agora que Ando chegou a desapossar B, mas este nunca exerceu 0 seu direito até
hoje. Pode A impedir que B inicie o exercicio do seu direito?
Alinea a):
1—Fam primeiro lugar, importa proceder & caracterizagao da situagdo juridica dos varios intervenientes
no que toca A posse sobre a coisa. Assim,
‘A ~ jf era possuidor nos termos da propriedade (que exercia por intermédio do usufrutnario), nfo
adquire com 0 apossamento a posse nos termos da superficie: passa ¢ a ter uma posse nos termos da
propricdade desonerada.
B — era possuidor nos termos da superficie e detentor nos termos da propriedade. A sua posse mantém-
se pelo prazo de um ano a contar do inicio do apossamento da coisa pelo A (1267/1. e 2).
C~ sucede, por morte de B, no direito de superficie. Quanto a posse, tudo depende: se B tiver morrido
durante 0 ano subsequente & perda do controlo material da coisa, C adquire a posse por sucesso
(1255); caso contririo, a posse jd estava extinta, pelo que néo se poderia transmitir 20 sucessor.
TI-Quais sto os meios a que C pode recorrer para exercer 0 seu direito de superficie?
Os meios de tutela da posse referidos no art. 1278 esto fora de hipotese: mesmo que tivesse adquirido
1 posse por sucesso por morte de B (se esta morte tivesse ocorrido antes de Outubro de 1992), esta
ter-se-ia extingnido com 0 decurso do prazo de um ano a coniar da data do apossamento por A
(1267/1.d © 2), pelo que a acgiio de restituigtio j& no poderia ser intentada (1281/2).
Restar-he-ia intentar uma acgiio de reivindicagdo do direito de superficie (1311), visto esta acglo ser
imprescritivel. Note-se, no entanto, que o A poderia defender-se por excepydo caso 0 direito de
superficie se tivesse extinto por uma das causas de extingdo de direitos reais de gozo, nomeadamente
a definidas no art, 1536. Vejamos se & esse 0 caso.
TIT— As alineas a) ¢ b) do art. 1536 consubstanciam casos de extingfio do direito de superficie por no
‘uso, Segundo 0 art, 298/3, “Os direitos de propriedade, usufruto, uso e habitastio, enfiteuse, superficie
servidao no prescrevem, mas podem extinguir-se pelo nao uso nos casos especialmente previstos na
Iki, sendo aplicdveis nesses casos, na falta de disposigo em contrério, as regras da caducidade”,
© que deve entio entender-se por no uso? Bastard que o titular do direito nfo o exerga,
independentemente do. motivo, para que possamos falar de nfo uso? Ou seri nevessério que a
abstengdo resulte de uma resolugdo livre e voluntariamente assumid
Por outras palavras, o que se cura de saber é se releva apenas para cfeito de nilo uso a abstengao livre ¢
voluntiria do titular do dircito, ou se pode ainda falar-se nesta figura quando este foi impossibititado
de exercer 0 dirvito, como & o caso da hipétese.
Para Prof. Coelho Vieira, esta hipétese nunca configuraria uma situagio de no uso, visto que 0
titular do diteito foi impossibilitado, contra sa vontade, de o exercer; ¢ nfo da relevancia, sequer, a0
facto de o titular nada ter feito durante todos estes anos para por fim & oposigo do A ao exercicio do
seu direito,
0 Prof. Oliveira Ascensto define nfo uso como “uma causa de extingao de direitos reais como mera
consequéncia de um no exercicio prolongado” e considera que a sua mais desenvolvida coneretizagao
se encontra no art. 1569/1-b, a propésito da servidiio — mas que considera generalizével a qualquer
direito real. Arrimando-se & parte final desta norma (“qualquer que seja © motivo”), considera que os
Carlos Fernandes — 2005/2006 _}48Dinvites Reais: V~ Causas de extingio dos dircitns reais [Hlipétese n° 25]
motivos do nao uso séo absolutamente itrelevantes ("”),
TV ~ Adiitindo que nao tenha aplicagdo a causa do extingo de nio uso, que outras causas poderia A
invocar?
Trata-se claramente de uma situago enquadravel na figura da usucapio libertatis, de que trata o art.
1574. Apesar de esta causa de extingo de direitos reais de gozo estar prevista expressamente para as
servid6es prediais, a doutrina considera que ela deve ser vista como regra geral e, portanto, aplicdvel a
extingdo de qualquer outro dos direitos reais menores.
A usucapio libertatis opera a desoncracio do direito real maior quando o titular deste se opée durante
um determinado perfodo de tempo, calculado segundo as regras da usucapifi, ao exereicio do direito
real menor que 0 onerava, Esse periodo ¢ varidvel, consoante haja on nfo titulo e registo, O titulo
espectivo registo relevante para o nosso caso é 0 que se refere ao direito de propriedade, uma vez que
A possuia nos termos deste direito.
‘Néio nos devemos deixar enganar pelo termo “usucapitio” aqui utilizado: néo é de verdadeita
uusucapitio que aqui se trata. O titular do direito de propriedade onerado pelo direito de superficie nfo
adquire este Giltimo direito por usucapigo (ou entio resultaria, daqui, a extingio do dizeito real menor
por confusio, através da reuniio numa s6 pessoa do direito de propriedade e do direito menor que a
onerava); do que se trata é duma causa de extingo do direito real menor que tem lugar quando esteja,
reenchida, para além das condigSes de que a lei faz depender a aquisisto do direito real por
‘usucapido, 0 requisito especifico deste regime: que se tenha verificado, por parte do proprictirio (...),
‘oposigio a0 exercicio da servidio.
Note-se, por outro lado, que a usucapio ~ tal como a usucapiio — precisa de ser invocada (303 ex vi
1292), sendo a sua eficécia oxtintiva.
O requisito especifico da oposigao ao exereicio do direito real menor por parte do titular do direito real
maior est claramente preenchido no caso sub judice. ‘Vejamos se estéio reunidas as condigdes para que
a usucapifio possa ser invocada.
Nao havendo titulo nem registo, & aplicdvel 0 prazo de usucapidio previsto no art. 1296, pelo que se
torna necessirio © decurso de um periodo de 20 anos contados desde 0 inicio da oposigiio ao exercicio
do direito de superficie. Como s6 decorreram 15 anos desde entio, nio estava preenchido este
requisito da usucapio, pelo que esta niio podia ser invocada (*).
Alinea b)
Nido uso significa 0 nfo exercicio esponténeo do direito por parte do scu titular (¢ niio quando é
impossibilitado de o fazer): no releva apenas 0 niio aproveitamento das utilidades da coisa, mas
também 0 néio exercicio juridico ~ repare-se que 0 titular do direito pode nao aproveitar de facto a
coisa, mas ainda assim exercer juridicamente o seu direito (arrendando a coisa, por exemplo),
O titular no esté obrigado a exercer todos os poderes inerentes ao direito; mas nao pode suceder 0
inverso, isto é, no exercer absolutamente nenhum deles. Isto significard nfo uso do diteito.
O nfo uso s6 conduz a extinglio do direito real nos casos previstos na lei (298/3). No que se refere a
extingio do direito de superficie, esta previsto nas alineas a) ¢ b) do art. 1536/1
O superficiério nao actuon o seu direito durante 17 anos; logo, esti preenchida a previsio da alinea a)
do ja citado 1536/1,
Contrariamente ao que se passa com a prescrigdo, a caducidade ~ cujo regime o art. 298/3 manda
aplicar ao nfo uso — permite 0 seu conhecimento oficioso pelo tribunal, nfo precisando de ser
® Direito Civil ~ Reais, Coimbra Editora, 3" Bd, 2000, pg. 410
Esclarecer este ponto: no enunciado diz-se quo tanto A como B tm registo a seu favor.
Cortos Fernandes 2o0sc006 [asDireitos Reais: V— Causas de exctingao dos direitos reais [Hipérese n° 26)
invocada (333/1).
Hipstese n’ 26
dula de 21 006
Responda ds seguintes questbes:
1. Diga se o proprietirio de um imével pode renunciar ao seu direito para evitar 0 pagamento dar
contribuiedio autérquica.
2. Esclarega se a resposia que deu ao pardgrafo anterior € igual no que toca a reniincia &
propriedade sobre coisa mével.
3. Distinga rentincia abdicativa e rentincia liberatéria e ainda rentincia de abandono,
one
Aula de 31-03-2006
O Sp. A constituiu gratuitamente usufruto sobre um prédio a favor de B por 40 anos.
@) B morre passados 10 anos.
5) Passados 5 anos, B transmite por venda o usufruto a C ¢ morre 10 anos depois.
©) Passados 5 anos, B transmite por venda o usufruto a Ce desta vez & C quem morre 20 anos
depois,
@ Passados 5 anos, B transmite por venda o usufruto aC e agora quem morre 6 0 A.
©) A vende o prédio aD.
Alinea a):
usufruto extingue-se por morte do usufrutudrio (1476/1-a ¢ 1443).
Allinea b):
Levanta-se aqui o problema da forma da “transferéncia” do usufruto, a que o art. 1444 chama, com
alguma impropriedade, trespasse. No fmbito da compra e venda de imévcis impde 0 art. 875 que 0
contrato s6 6 valido quando feito por escritura piblica; a mesma exigéncia ¢ imposta pelo art. 947
quanto a doagao de coisas iméveis.
A questo que se coloca & a de saber se esta exiggncia deve ser alargada & transmissdo de outros
direitos reais, Embora 0 CC nada nos diga sobre o assunto, 0 art. 80 do Cédigo do Registo do
Notariado contempla expressamente essa exigéncia,
‘Questiio do eterno retomo: nfo se aplica aos direitos reais,
Apesar de B er transmitido validamente o direito para C, este extingue-se com a morte daquele.
Quando o B transmitiu o usufruto em 2011, restam ainda 35 anos, pelo que duragao do usufruto
‘ransmitido a C seria, a partida, por este periodo. No entanto, trata-se de um contrato aleatério, uma
‘vez. que esta sujeito a um facto incerto quanto a0 momento em que terd lugar: a morte do usufrutuério
‘ransmitente,
Carlos Fernandes ~ 2005/2006 | 50Direitas Reais: VI — Fastos constitutivos do direite de propriedade [Hipétese n° 28]
Alinea c):
Poderfamos levantar aqui varias hipéteses de solugao:
© Ousufiuto acaba e a propriedade deixa de estar por ele onerada (aquisigio derivada restt
):
(ii) O usuffuto nao acaba ¢ regressa ao usufrutudrio primitive (B) — a admitir-se esta solugdo estaria
a legitimar-se um enriquecimento sem causa, uma vez, que o B ja reccbera a contrapartida pela
transmisstio do direito;
ii) © usuftuto passa aos herdeiros de C. Apesar de o usufruto inicial niio ser passivel de transmissao
Por sucesso (uma vex que se extingue com a morte do usufrutudrio), ontende-sc que essa
restrigao no se aplica tendo havido trespasse (1444) e falecendo o trespassirio, desde que o
“usufrutuaio primitivo se mantenha vivo ¢ o usufruto nao tenha caducado por termo do prazo,
Esta ¢ a posigtio defendida por Oliveira Ascenso (")
Alinea d):
A morte do A nio afecta 0 direito do usufrutuario, continuando a propriedade por ele onerada.
Alinea e):
A venda do direito de propriedade também nio afecta o direito de usufruto: este é um direito real
dotado da caracterfstica da ineréncia, pelo que persegue a coisa onde quer que cla va.
‘Nota: alineas d) e e) ni foram resolvidas na aula.
‘VI= Factos constitutivos de direito je propriedade
Hipitese n228 i
Aula de 04-04-2006
A, ao passear pelo campo, entrou no prédio de B e encontrou nele a passear um cio. abandonado,
Gostando imediatamente do cio, A pegou no mesmo e levou-o consigo, passando a tratdélo como seu,
Ao tomar conhecimento do local onde A pegara no cdo, B invoca ser 0 cio objecto de um direito de
‘Propriedade seu.
Explique quem ¢ 0 proprietirio'do cdo fundamentando a resposta.
ood
A primeira ideia que vem & mente & que estaremos perante um caso de ocupagio, cujo regime se
encontra consagrado nos arts. 1318 ¢ ss. Vejamos se esto preenchidos todos os requisitos de que a lei
faz depender este facto constitutive da propriedade,
‘So requisitos da ocupagio os seguintes:
1. Um acto do apreensio material (apggsamento);
2, De uma coisa mével;
3. Que no tenha dono ou tenha sido abandonada.
* Direito Civit— Reals, Coimbra Editoa, 5*d, 2000, pe. 474
Carlos Fernandes ~ 2005/2006Diritos Reais: VI-— Factos consttutis do dirito de propriedade [Hipétese n° 29)
Hé, ainda, quem exija um certo animus que ilunine essa apreensiio material da coisa, seja esse animus
uma intengao de adquirir a propriedade, seja a mera vontade de colocar a coisa na propria esfera de
‘aceiio, Mas o que importa verdadeiramente € 0 acto de apossamento e que a coisa seja nulius.
Estaremos perante um caso de ocupagiio? Bom, isso depende:
= Se A sabia, ao apossar-se do animal, que este pertencia a outrem, poder, quando muito,
configurar um caso de achamento. Este distingue-se da ocupacao pelo facto de aqui a coisa ter
dono: simplesmente teré sido: perdida ou escondida. O achamento ngo funciona como facto
aquisitivo da propriedade em termos autométicos (como acontece com @ ocupagiio); nos
termos do art. 1323/1, I* parte, so 0 0 achador souber quem é 0 dono da coisa € obrigado a
entregar-Iha ou a avisé-lo do achado; se ignorar quem ele seja, & obrigado a publicitar o
achado e, caso 0 dono aparega a reclamar a sua entrega, deve restituir a coisa (embora tenha
direito a um prémio pelo achado). $6 adquitiré a proppriedade da coisa decorrido um ano a
contar da data do antincio se o dono néo aparecer a reclamé-la,
~ A sabia que 0 cfio tinha sido abandonado: nesse caso hé verdadcira ocupagio, adquirindo no
acto do apossamento quer a posse quer a propriedade do animal (1318),
A pretensio do B, que se arroga proprietério pelo facto de o cdo ter sido encontrado no seu prédio, nfo
fem razio de ser. Se fosse uma planta, ela considerar-se-ia parte integrante do prédio, mas ndo 0
animal que, apesar de ser uma coisa, se enquadra numa modalidade de coisa de alguma forma
especial, a que Menezes Cordeiro chama semoventes.
B poderia, quando muito, alegar violagao do seu direito de propriedade, mas isso é uma questo lateral
que nfo & para aqui chamada.
A imtengiio do A ¢ irrelevante para este efeito: desde que a sua conduta gere posse, d-se a ocupagiio
desde que os demais requisitos (coisa mével sem dono ou abandonada) estejam preenchidos.
Hipoiose n°29 ee
Aula de 21-04-2006
A, proprietério do prédio ristico X, acedeu ao pedido de um amigo para o deixar acampar numa
pequena porcdo do prédio, na parte Norte deste.
Ausente no estrangeiro, A nido tomou conhecimento que B, excedendo a permissito dada, construiu
uma cabana para habitacdo.
Quando, um ano e meio depois, A vem a saber o que B fizera, pede-Ihe para sair. Mas B recusa-se a
fecé-lo.
Antes da construgéo da cabana, 0 prédio de A valia 200,000,00 euros € passou a valer 210,000,00
‘euros apés essa construcdo.
Esclarega os factos relevantes da hipétese ¢ diga a quem cabe a cabana caso B seja forgado a
rrestituir a porctio do prédio em que se instalow
I—Comegaremos por analisar 0 caso na perspectiva juridico-possesséria.
Tendo B sido autorizado pelo proprictario do prédio a acampar numa parte deste, nfo chega a adquirir
qualquer diteito real ou de erédito, uma vez. que a sua situago ndo passa de mera detengfio fundada
num acto tolerfincia do titular do direito de propriedade (1253/b).
Ao extravasar o Ambito da autorizagfo, passando a agit como um dominus daquela parte do prédio
com oposiglio ao possuidor nos termos da propriedade, B inverte o titulo da posse, passando de
Carlos Fernandes 20052008 [52Dircitos Reais: VI. Factos constitutivos do direito de propriedade [Hipstese n° 29)
detentor a verdadeiro possuidor nos termos da propriedade (1263/d ¢ 1265).
A posse em questo & formal, no titulada (1259), de mé £6 (1260/1-2), pacifica (1261/1) e piiblica
(1262), Mas, apesar da aquisio da posse por B, 0 anterior possuidor (A) néo perde de imediato a sua
posse sobre essa parcela do prédio, apenas ocorrendo tal perda decorrido um ano desde a data em
aquela se iniciou, dado ter sido tomada de forma piblica (”). Vimos que tal prazo jé foi ultrapassado,
uma vez que a nova posse se constituiu h& um ano © meio, pelo que A deixou de ser possuidor da
parcela em disputa. Tal facto afasta a possibilidade de recorrer a aogiio de restituigao da posse prevista
no art. 1278, por um lado porque no the pode ser restituido o que j4 nfo tem, por outro porque a
acedo do restituigio caducou um ano apés a constituigtio da nova posse (1282).
IL— Importa agora responder a0 que nos é directamente porguntado, deslocando a discussio para 0
Ambito da acessio, cujo regime se encontra previsto nos arts. 1325 a 1343,
De facto, a construgo da cabana no terreno alheio preenche claramente a nogdo de acessio que nos é
dada no art. 1325: o B uniu a cabana, construida com materiais que lhe pertenciam, ao terreno do A.
Estamos perante a modalidade de acessio industrial imobiliéria, por a unio resultar de facto humano
(1326/1) a uma coisa imével (terreno) ter sido unida a cabana, coisa mével (°). O regime da
modalidade de acessaio industrial imobiliéria esta definido nos arts. 1339 a 1343.
Na figura da acessio industrial imobiliéria do Direito Romano vigorava um princfpio segundo o qual
“a superficie cede a0 solo”, o que significa que qualquer coisa que fosse unida ao bem imével ficaria a
pertencer ao dono deste, O regime portugués afastou-se de alguma forma deste principio, nfo 0
consagrando na sua plenitude. Aqui faz-se depender o resultado do valor relativo das coisas unidas e
da boa ou ma f6 do autor da unio ou incorporagio.
No nosso caso, néo restam quaisquer dividas de que o autor da acessio estava de mé fé, visto este
‘conceito a luz da norma insita no art. 1340/4. E nem sequer € necessirio, neste caso conereto, discutir
se a concepeo de boa f6 inserita neste normativo é meramente psicolbgica ou se, pelo contririo,
deverd ser seguida uma perspectiva ética: 0 B sabia, concreta e categoricamente, que o terreno era
alheio,
‘Mas esta discussio assume especial releviincia e ¢ transversal a todas as situagdes em que, em Direitos
Reais, se apela ao conceito de boa fé. A doutrine mais tradicional, fazendo finca-pé numa
interpretago mais préxima da letra da lei, defende que o que releva é apenas 0 aspecto psicolégico: ou
‘© agente conhecia ou néo conhecia, pouco importando se deveria ou nfo deveria saber, Esta Posigiio
‘encontra reflexo, ainda hoje, na maioria da jurisprudéncia, Para Menezes Cordeiro e outros seguidores,
modemos (entre os quais se conta o Prof, Vieira Coolho), pelo contririo, a coeréncia e a juricidade do
sistema impéem que se adopte a concepyaio subjectiva ética de boa fé: ndo basta ao agente alegar — ¢
mesmo provar — que desconhecia que o terreno pertencia a terceiro; & necessério demonstrat,
igualmente, que esse conhecimento the nao era exigido. Como refere Menezes Cordeiro, a propria
praticabilidade do sistema oxige que soja esta e no a outra a concepgio a adoptar: isto porque nao é
possivel saber 0 que vai na mente das pessoas e, logo, determinar se 0 agente conhecia ou nio certos
factos; tudo 0 que ¢ possivel & saber que tinha o dever de conhecer. Nao é praticdvel um sistema que
assento exclusivamente no que vai no foro intimo das pessoas; exige-se, pelo contrétio, que as
solugies se fundem em manifestagdes exteriores que garantam um grau minimo de seguranga ¢ certoza
& ‘Levanton-se slguma discussio quanto este ponto, relative & necessidade ou mo de dats conhecer a0
Droprietito/possuidor a oposigao que Ihe ¢ feta pelo detentor. © Prof, ensinou que a oposisd0 nto tem que ser comunicada
0 anterior possior, bastando que o comportamento de quem invert o titulo da posse seja ldo claramente como oposigto.
FFiquei na dovida: € um facto que a posse é pblica se for “exercida de mod a poder ser conhecida pelos intecessados", So
sendo necessirio um eonhecimento efectivo do anterior possuidor, no entanio, tormse dificil aceiter que a nova posse
chegue a corstituirse sem que esteja preenchido o requisito da oposigio, E pera tal, como esereve Oliveirs Ascensto em
Direito Civil ~ Reats, Coimbra Eaitora, 5* Ed, 2000, p. 92, *e oposigdo tem de ser extegérica, de modo a sobreporse &
_aparécin que era representada pelo titulo” eo detentor ter de dar “a saber ao nropriiétio”
2. Estamos perante uma acesso industrial imobiliria quando a una cose ive for unis ou incorpora ura coisa mye
serd mobiliria quando ambes as coisas unidas forem mOveis.
Carlos Fernandes ~ 2005/2006Direitos Reais: VI- Factos constitutivos do direito de propriedade [Hipotese n° 30
Juridica. No &, na maioria dos casos, possivel afirmar com seguranga que certa pessoa sabia que um
determinado prédio pertencia a outrem; mas é perfeitamente cocrente afirmar que a tal pessoa devia
cconhecer porque, atendendo so eritério do homem médio, Ihe era exigivel um minimo de diligéncia
‘para se assegurar, perante os registos piiblicos, se o tal prédio tinha ou néo dono.
B esté, portanto, de m4 fé, O que leva a subsungao dos factos na norma do art. 1341, que define as
regras e consequéncias da acessio industrial imobiliaria de ma f6.
© dono do terreno (A) tem 4 sua frente duas alternativas: (i) pode exigir que o prédio seja restitudo ao
seu primitivo estado custa do autor da unio; ou (ii) pode ficar com a coisa unida ou incorporada
(Cabana) pelo valor que for fixado segundo as regras do enriquecimento sem causa, nos fermos dos
arts, 473 e ss.
‘Vimos que o entiquecimento do A em resultado da acesstio é de 10.000,00 euros, pelo que seri este o
valor a pagar ao B, independentemente de a construgdo da cabana ter custado a este mais ou menor do
que esse valor.
III Ao contrério do que sucede nalguns casos de acessiio natural, no caso em aprego a aquisigio do
dircito no 6 automética, A lei faz depender o resultado de uma eseolha por parte do proprietirio do
terreno, que pode optar, como vimos, entre ficar com a coisa mediante o pagamento do valor com que
se enriqueceu sem causa, ou exigir a restituigo do terreno ao estado em que se encontrava antes da
unio, Sendo a primeira alternativa a escolhida, hé que realizar ainda a obrigagio de pagar o valor do
enriquecimento sem causa; ¢ & s no momento em que este pagumento € realizado que o direito de
propriedade sobre a coisa unida ou incorporada ocorre. Trata-se, assim, de uma aquisigio potestativa e
no automética
TV — Quais as vias do acgdo que se oferecem ao A, para garantir 0 seu direito?
No presente caso, cle deveria intentar uma acg’o com dois pedidos cumulados: um primeiro a
reivindicar a parcela do terreno que o B se recusa a entregar; o segundo a pedir a condenagao do Ba
reconhecer o seu direito de propriedade sobre mediante 0 pagamento do valor do enriquecimento dela
resultante,
Hipaeen30
Aula de 2: 2006
O prédio X é propriedade de A, tendo B sobre ele um direito de usufruto. C constréi no prédio em
causa um imével.
Quid juris?
1—A primeira vista, a situagdio exposta parece configurar um caso de acess industrial imobilidria,
cujo regime se encontra definido nos arts. 1339 ss, Saber qual o normative que, em conereto, rege 0
presente caso depende de saber se, por um lado, os materiais com que o C constr6i 0 imével no terreno
alhcio pertencem ao proprio ou sao alheios e, por outro, de o mesmo ter agido de boa ou ma fe.
A boa fé & aferida & Iuz do art. 1440/4; a interpretagdo desta norma deverd ser feita segundo a
concepsao subjectiva ética de boa £8 ¢ ni, como a respectiva letra parece consagrar, segundo una
porspectiva meramente psicoldgica. De facto, a eticidade do direito ¢ a propria coeréncia do sistema
exigem que seja aquela ¢ ndo esta a concepgdio a adoptar. Nao basta, assim, que o autor da
incorporagio ou unidio desconhecesse que o terreno era alheio; & necessério que esse desconhecimento
seja niio culposo.
Carlos Fernandes — 2005/2006Direitos Reais: VI — Factos constitutions do direito de propriedade [Hépétese n° 30)
Estando 0 autor da incorporago de boa f, e abstraindo, por agora, da existéncia do usuftuto,
poderiam configurar-se as seguintes hipéteses (""):
8) Os materiais sao do C e a incorporacdo resulia num aumento do valor total do prédio maior
do que 0 valor que o prédio tinha antes ("*); neste caso rege o art. 1340/1, que atribui a
propriedade do prédio ao autor da incorporagio, desde que este pague 20 proprictirio do
terreno o valor que este tinha antes,
b) Os materiais sao do Ce 0 aumento do valor resultante da incorporacao é igual ao valor total
que o prédio tinha antes: aplica-se 0 art. 1340/2, abrindo-se licitagao entre 0 proprietirio do
terreno © o autor da incorporago segundo as regras do art. 1333/2, sendo a propriedade
atribuida ao que oferecer maior valor;
©) Os materiais sto do C ¢ 0 aumento do valor resultante da incorporagéio € inferior ao valor
otal que 0 prédio tinha antes: aplica-se 0 art. 1340/3, pertencendo a obra xo dono do terreno,
devendo este pagar ao autor dela o valor que ela tiver ao tempo da incorporaciio.
Se 0 C estiver de ma fé, a solugiio seria uma das seguintes:
@) Os materiais sao do C: aplica-se 0 art. 1341, que confere ao proprietério do terreno um direito
potestativo que se resolve em alternativa: ou opta por exigir que o terreno sgja restituido, a
‘expensas do autor da incorporasdo, a0 estado primitivo; ou faz sua a obra pagando ao autor
dela o valor que resultar da aplicagio das regras do enriquecimento sem causa (significa que
‘do serd obrigado a pagar de acordo com o custo da obra, mas segundo o enriquecimento que
dela para si resultou — ver arts. 473 ¢ss.);
3) Sao alheios quer o terreno quer os materiais ¢ o dono destes tem culpa: aplica-se 0 regime do
art, 1342/2-2* parte ¢ 1341, sendo solidariamente responsdveis 0 autor da incorporagao e
dono dos materiais pelos prejuizos a que a incorporasio tiver dado causa,
Por tiltimo, se os materiais forem alhsios © o dono deste nao tiver culpa, independentemente de o autor
estar de boa ou ma fé, cabem aquele os direitos conferidos ao autor pelo art. 1340.
‘Vemos, assim, que sem dados adicionais ndo & possivel fazer o enquadramento adequado ¢
determinar, com objectividade, quem seria 0 benoficidrio da acessio caso 0 usuttuto nto existisse.
Il — Fizemos a andlise da hipétese abstraindo da existéncia do usufruto de B. Este levanta, contudo,
alguns problemas concretos, a saber:
1. Poderé o titular de um direito real menor beneficiar da acessiio?
2. No caso de a resposta ser positiva, qual o direito passivel de ser adquirido?
‘Vamos tentar responder a uma ¢ outra
1. Da possibilidade de o titular de um direito real menor beneficiar da acessio
‘Tradicionalmente, considerava-se que a acessio beneficiava o proprietirio, uma vez que se trata de um
facto aquisitivo do dircito de propriedade, No entanto, 0 Prof. Menezes Cordeiro trouxe a discussio
luma nova perspectiva, no questionar se néo serd de atribuir o beneficio ao titular do diteito real menor
que onera a propriedade. Tal s6 pode ser aferido a luz do direito real que estiver coneretamente
* Omite-se @ hipétese de o terreno ser do C ¢ 0§ materia alheios, situapio regida pelo at. 1339, uma vez que quanto &
propriedade do tereno o enunciado no deixa divides,
2 Note-se que no basta, para que esta condigto sea preenchida que o valor actual do préio sea superior ao que ele tina
antes da incorporesio: ¢ necessério que o aumento do valor resultante da incorporapio seja, cle proprio, suporior ao valor
Anterior do prédio (ex. o prédio vali 10,000.00 passou a valer21,000,00: o aumento de valor etisdo & de 11:000,00, loge,
superior ap que o peéaio tina anes)
Carlos Fernandes ~ 2005/2006. | 55Direitos Reais: VI-— Fastos constitutivos do direto de propriedade [Hipétese n° 30)
constituldo sobre a coisa. No caso do usufruto, depende de saber, por exemplo, se este inelui o direito
de nele construir um prédio, Note-se que ha direitos reais menores que admitem 0 poder de
‘ransformagio e, logo, o direito de construgdo, sementeira, etc.
Para o Prof. Menezes Cordeiro, usufrutuério pode beneficiar da acessiio desde que o direito de que é
‘titular permita tal aproveitamento da coisa; tanto o Prof, Oliveira Ascenstio, como 0s Profs. Carvalho
Fernandes e Coelho Vieira seguem esta mesma posigdo. Se 0 beneficiario tem direito & acessio € ele
que exeree e nao o proprietério; a lei consagra a indemnizagdo ao proprietirio por perda da acessio,
A acessdo tem que ser registada para que o beneficiério a possa transmitir. O registo € feito por
recurso ao tribunal ou através de escritura notarial de justificagto, seguindo este 0 modelo da
usucapito, Segundo o Prof, aplicam-se analogicamente as normas do Cédigo do Notariado relativas &
uusucapivo,
A lei portuguesa s6 permite o funcionamento da acessdo se 0 beneficiério dela pagar 0 valor
correspondente ou a indemnizagfo devida. A aquisigéo nfo 6, assim, de funcionamento automatico,
‘mas antes um direito potestativo. Depende de uma declaragdo de vontade do beneficiério © do
pagamento do valor da coisa ou da indemnizagiio que ao caso couber.
‘Segundo o Prof., numa leitura literal do art. 1317/d CC, 0 momento da transmissto do direito de
propriedade por efeito da acessio seria aquele em que se tivesse prativado o facto que origina a unio
ou incorporagio; no entanto, deve entender-se antes que o facto que desencadeia verdadeiramente essa
‘transmissdo é 0 pagamento do valor ou da indemnizagéo..
2. Do tipo de direito adquirido pelo titular do direito real menor
Para Menezes Cordeiro ¢ Oliveira Ascenso, o direito adquirido pelo usuftutuério é o usufruto; para 0
Prof, Coclho Vioira, o titular do direito real menor adquire 0 proprio direito de propriedade, j4 que a
acessio é um facto aquisitivo deste direito ¢ é cle quem paga a indemnizagao devida.
Bo que € que acontece depois, quando 0 usuftuto se extinguir? Neste caso, extinto o usufruto, a coisa
tem que ser devolvida ao proprietério. Se nessa altura a coisa tiver tido melhoramentos através de
benfeitorias realizadas pelo usufrutuério, elas passam a pertencer ao proprietério do terreno, mas este &
obrigado a indemnizar 0 autor delas ~ 1450,
© prof, Coelho Vieira defende que as lacunas verificadas no regime da avessdo das coisas iméveis
pode ser integrada pelo regime das coisas méveis. Assim, o B ter direito & acessto € uma forma de
resolugdo do conflito entre proprietirio ¢ usufrutudrio e respeita o regime do usutruto, uma vez que 0
proprictario esté onerado por este direito enquanto este se mantiver em vigor. Findo o usufruto, o
usufrutudrio perde a obra para o proprietério, uma vez que esta esté incorporada numa coisa que nfio
era sua, Enquanto este durar, no entanto, a propriedade da coisa incorporada é do usufrutuatio e nfo do
proprietirio do terreno.
Matéria para o 3° teste:
— Factos constitutivos, translativos e modificativos dos direitos reais;
— Em especial: ocupagto, achamento e agessio;
— Nao hé perguntaS teéricas;
— A rmatéria da posse e da usucapido jé foi avaliada: mas pode vir a “talhe de foice”
Carlos Fernandes - 2005/2006 _|56Direitos Reais: VIL — Direito de propriedade é [Hipétese n° 37)
‘VII Direito de propriedade eS
Hipsiese 31° PS eit ee
Aula de 04-05-2006 (compropriedade)
Por contrato de compra e venda, A vendeu a Be C 0 direito de propriedade sobre o prédio X. No
Contrato nada se estipulou sobre as quotas de B e C, sendo que B pagou 70% do prego e Co restente.
pds entrega do prédio, B impossibilitou C de usar a coisa, alegando poder decidir sobre a
administragdo da coisa, Inconformado, C constitulu usufruto a favor de D, que tem por objecto 30%
dda rea do prédio, que C considera sera sua parte da coisa,
@ Esclareca qual a posicio que B e C tém quanto ao prédio:
4). Analise a ticitude do comportamemo de B;
©) Diga qual o valor jurtdico do contrato celebrado entre Ce D.
Antes de iniciar a resolugo da hipétese, importa tecer algumas consideragdes acerca da
‘compropriedade, jé que & disso que 0 caso se ocupa (compropriedade constituida por contrato de
‘compra e venda).
Nos termos do art. 1403, existe compropriedade quando duas ou mais pessoas so simultancamente
titulares DO direito de propricdade sobre a mesma coisa. Esta é uma forma de explicar a
compropriedade.
Para o Prof. Coelho Vieira, no entanto, do que se trata nio & de um s6 dizeito de propriodade de que
sejam titulares duas ou mais pessoas, mas sim de tantos direitos de propriedade quantos os
comproprietirios, direitos estes que incidem sobre uma 86 e mesma coisa.
A compropriedade & uma propriedade e, como tal, o comproprietirio tem 0 mesmo contetido do direito
que tem o proprietério singular, i, é, aquele que ¢ definido pelo art.1305 CC: os poderes de uso,
fruigdo © disposigio. No artigo1403/2 refere-se que os direitos dos comproprietérios sao