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A POLITICA EM MAQUIAVEL Joao Vicente Hadich Ferreira’ I Maquiavélico Em plene aula de filosofa, onde o tena era Maquiavel, urn alune le- vanta-se e diz: - Professora, vou me retirar da sala, pois, recuiso-me assistir @ esta aula sobre Um sujeito que parece o deménio. J& ouvi aiversas quando alguém faz mal a outra pessoa é chamado de maauiavélica e que a gente pode fazer tudo aquilo que quiser, o que vale é a intengéo. Eungo concordlo cor nada disso. Diente desta atitude do aluno, a professora diz’ -E importante que vocé fique, pois me parece que precisamos estu- dar melhor este pensador pare dai podermos tirer algumas concluses. Maquiavel 6 conhecido por sua afimagao ‘os fins justiicam os meios’ Essa afimagao 6 realmente de Maquiavel? Ou apenas uma interpretagao que fizeram dele? Seré aue para atingir determinado fim, devemos langar mAo de todos os meios possiveis? Na poltica, por exernplo, quais meios dever ser utilzados para um police chegar ao poder? Quais meios S80 consideradios validos? 1 wa tundacao.g° 2.00 Au de tosafa Instto de Edveago Estadual de Lontna. Locking - PR PES 1 Mecpiavol (1469-1527. H Maquiavel e o Poder ‘ascido em Florenga, Itdlia, Maquiavel foi um dos grandes respon- is pela nogao moderna de poder, Em Maquiavel também encontra- mos uma renovagao do sentido e da relagao entre ética € politica. Des- ta forma, muito folclore se construiu em torno de seu nome e de sua pessoa, principalmente pela interpretagao precipitada que se fez mui tas vezes de seu pensamento. Conforme o texto de RUSSELL: “é costu- me sentir-se a gente chocada por ele, ¢ nao ha divida de que, as ve- zes, le é realmente chocante, Mas muitos outros homens também 0 seriam, se fOssem igualmente livres de hipocrisia” (RUSStLL, 1957.9, 20,, Ma quiavel foi compreendido como alguém imoral e desprovido de quais- quer valores, Por isso a perspectiva do termo “maquiavélico” é sempre pejorativa, Mas, seria Maquiavel digno desta fama? O que ele preten- dia? Vamos por partes. Maquiavel choca por fazer uma anilise do homem considerando- © a partir de uma de suas facetas, a do egoismo, Se para Aristételes € para o pensamento greco-cristio no geral o homem buscava a vida em sociedade, o bem viver como algo natural, para Maquiavel “os homens tendem /..,/ 2 divisdo ¢ & desunido.” PNZAML 2004, 0.19} Maquiavel era um homem do seu tempo, do Renascimento. Homem de idéias politicas, ele procurou entender a natureza ¢ 0s limites do po. der politico. Maquiavel contemplou uma realidade; a realidade da sua Italia, dividida, fragmentada em diversos principados ¢ ducados, Numa constante briga pelo poder e, inevitavelmente alterndncias constantes dos governantes, a Florenga de Maquiavel refletia 0 que ocorria tam- bém com as demais cidades italianas importantes do periodo. Para ele nao se apresentava logicamente 0 ideal cristo, mas sim algo que Ihe seria entendido como proprio do homem, a luta pelo poder. Por isso, os homens mentiam, matavam ¢ julgavam-se acima da moral Contudo, Maquiavel considera a necessidade de governantes bons € virtuosos, Para cle a diferenga esté em que a bondade € a virtude nao pertencem @ natureza humana do governante, mas sim resultam da sua compreensao ¢ atuago sobre o real, Sem preocupar-se em de- senvolver teorias, como fizeram outros pensadores, Maquiavel avalia a realidade e “interpreta os seus escritos como compéndios de conse- Ihos praticos ¢ de instrugdes para a agdo.” PNZAV, 2004, p,16) Por isso, “in: fluenciar a realidade, ¢ nao desenvolver teorias € 0 seu propésito.” (Ph. ZAM, 2004, p16 Ao contrario dos manuais que indicavam como devia agir um sobe- rano, obras comuns na idade Média e no Renascimento, o verdadeiro propésito de sua obra 0 Principe € a exortagao para se tomar a Itdlia € liberté-la das maos dos barbaros, como pode ser constatado no capi tulo final da mesma Suit Depo's de considerarmos tuido o que vimos equi, de ter reletido sobre se 0 Momento histérico ndo seria propicio para termos um novo monarca na Ilia, se no seria agora a oportunidade para que um homem prudente © ca- paz introduzisse no pais uma nova forma de govemo, que honrasse ¢ bene- ficiasse © povo, parece-me que s4o muitas as circunstancias que concorrem para a suibida ao trono de um novo soberano; de fato, néo sei de nenhuma. ‘oulra época mais oportuna para tanto. /../& embora ja tenhamos tico algum vislumbre de esperanca, fazendo pensar que Deus teria enviado alguém pa- | A Hil arent ro Reas ra redimi-la, a sorte 0 demubou no ponto culminante da sua carreira; agora, | quase sem vida, a Itélia espera por quem Ihe possa curar as feridas e ponha fim & pilhagem na Lombardia, & capacidade e extorséo no reine de Napo- les ena Toscana, curando-as das chagas abertas ha tanto tempo. Pede a Deus que Ihe envie alguém capaz de liberté-la dessa insoléncia, dessa bar- bara cruekiade, Esta disposta a seguir uma bandeira, desde que alguém a ‘empunhe. (MAQUPVEL, 2006, p. 150-15") Z Detectando a tensao entre o desejo de dominar e de nao ser domi- nado que move o homem, Maquiavel constréi em sua obra uma refle- xo sobre o poder. O poder é entendido portanto, “como correlacao de forgas, fundada no antagonismo que se estabelece em fun¢ao dos desejos de comando e opressio, por um lado, ¢ liberdade, por outro, pelos quais se formam as relagdes sociais.” (SoH StNER 1286, 9.2) Estas rela- es implicam tanto na questao politica como na econdmica. De acor- do com LEFORT (1979), © objeto cle Maquiavel ndo 6 a técnica do poder mais do que a do co- mércio, Podemos certamente dizer que sua questéo recai essencialmente sobre a poltica, mas com a condigéo de entender este termo em sua mais ampla acepeao, isto 6, clissica, E a questao da forma das relagdes sociais ue ele coloca através da divistio grandes-povo. A reflexéio sobre 0 poder es- t& no centro de sua obra, mas pela razdo de que, a seus olhos, a sorte da di- \isdo social se decide em fungio do modo de diviséo do poder e da socie- dade civile que assim se determinam as condigdes gerais dos dversos tipos de sociedacie, (LEFORT, 1979, p. 144) Em pequenos grupos, discutir as questées abaixo 4. Como podemos entender 0 que é poder? O que significa poder para o gupo? 2. Hé diferengas entre as concepgdes de poder nos dias de hoje e de antigamente? O que tem a ver poder ¢ politica? 3. Quais meios os politicos atuais usam para chegarem ao poder? Eles s&o vélicios? Por qué? Apresentar as conolusdes a tuna. As regres para 0 debate encontrar-se na introdugéo deste Ivro. APoltica em Maquiavel (€3) @ Filosofia Politica It Etica e Politica Ao apresentar seus argumentos, Maquiavel busca demonstrar co mo seria possivel o estabelecimento deste Estado Italiano, a partir de um governante forte ¢ de um governo efetive, Secretério da Segunda Chancelaria de Florenga, cargo que recebeu em 1498, Maquiavel foi empossado num governo republicano que foi deposto em 1512 pela monarquia dos Médicis. Considerado traidor em 1513, foi afastado de suas fungdes publicas e exilado em San Casciano, regido proxima de Florenga. Neste periodo escreveu O Principe, provavelmente sua obra mais popular e, provavelmente, a mais complexa, Quando escreveu O Principe, Maquiavel interrompeu temporaria- mente outra obra, intitulada os Comentarios sobre a Primeira Década de Tito Livio, sua obra republicana. O que parece claro dos escritos de Maquiavel é que ele busca uma solucao politica para a sua Itdlia. Por is- so, endereca O Principe ao magnifico Lorenzo, filho de Piero de Médi- cis, governante de Florenca. Maquiavel sugere ao monarca que ele pode ser 0 principe que unificaria a Itélia, Na obra, Maquiavel fornece prati- camente as diretrizes seguras para que isto se realize, E dentro disto que discute e estabelece uma nova relagao entre ética ¢ politica. Como nos esclarece WEFFORT, “a politica tem uma ética e uma légica préprias. Maquiavel descortina um horizonte para se pensar e fazer politica que nao se enquadra no tradicional moralismo piedoso.” (WEFFO%, 1283, 0,2 Ao fazer a andlise da realidade, Maquiavel distingue a moral indi- vidual da moral politica, A atitude do individuo nao é necessariamen- te a atitude do chefe de Estado, Se para um individuo a acdo moral é de decisio particular, para o monarca, por exemplo, € necessario pesar em que isto implicara para o Estado. Nao ha uma exclusao entre ética € politica, mas a primeira deve ser entendida a partir da segunda. Uma das implicagées disto é a de que “os valores morais sé possuem sen- tido a partir da vida social, apresentando-se como momentos de uma luta que esta na raiz do poder e Ihe da sentido” soHits=ve8, 1989, p. 10) Com isto Maquiavel esta afirmando que temos virtudes que podem ar ruinar um Estado e vicios que podem salvi-lo 0 que, na analise moral tradicional seria condenavel, mas na “ética politica” poderia ser plena- mente accitavel. Logicamente tais questées dependeriam das circuns- tancias e das forcas em luta (04 £55, 1889 9.191 Por isso, o que pode pa- recer inadmissivel, para Maquiavel faz parte da politica De onde se deve observar que, ao tomar um Estado, 0 conquistador deve praticar todas as necesséirias crueldades ao mesmo tempo, evitando ter de repet-las a cada dia; assim tranatillzaré o povo, sem fazer inovagées, seduzindo-o depois com beneficios. Quem agir dferentemente, por timiciez ‘ou maus conselhos, estaré obrigado a estar sempre de arma em punho, @ nunca poderé confiar em seus stidilos que, devido as continuas injrias, néo terGo confianga no govemante. (MAQUMVEL, 2005, . 63), Podemos perceber em Maquiavel a proposta de uma nova ética, com um novo conceito de virtude, voltada mais para a politica e nao para o ideal moral do pensamento medieval, E uma moral pratica, que olha para o bem do Estado € se apresenta inversa a perspectiva tradi- cional. Por isso, voltando 4 questio da virtude que pode ser “prejudi- cial” e do vicio que pode ser “bom”, podemos compreender que uma generosidade excessiva, por exemplo, poderia levar o Principe a ruina financeira ¢ os stiditos a sentirem-se oprimidos, o que suscitaria o dio. Por outro lado, a sobriedade, que seria identificavel com a avareza, tor nando a figura do Principe antipatica, possibilitaria gestos de grandeza © prodigalidade que, com certeza, seriam reconhecidos pelos stiditos sem que estes se sentissem oprimidos tio pouco descontentes. Por isso, para Maquiavel, ha uma distingao entre os espagos da mo- ral e da politica, Isto nao significa que se pode “fazer 0 que se quer”, de qualquer modo, sem sentido algum. A maxima segundo a qual “os fins justificam os meios” tem uma implicagao muito mais coerente & profunda. Ser acusado de crueldade nao deve ser o temor do Princi- pe, desde que tal atitude seja necessaria para unificar 0 povo ¢ man- ter a paz, Reunidos em grupo, discuta: 1. Oque 6 a virtude? Que conceito vooé tem do que seja @ vitude? Seus colegas concordam com vo- 087 Alguém apresentou um conceito diferente? Hé alguma relagdo com a moral? Explique. 2. Alguém do grupo seré responsdvel por apresenter a conclusdo para a sala, pera que se possa es- tabelecer os pontos comuns e os divergentes entre os grupos. As regres para 0 debate encontrarr-se ne introcuigéo deste Ivro. I Virtu e Fortuna Maquiavel tem uma visio do homem de como ele é € nao de co- mo deveria ser necessariamente, Para ele, certamente, devemos olhar para o real e nao para o ideal moral, Por isso Maquiavel trata da ques- Qo da virtit e da fortuna A virtit refere-se A capacidade de decidir diante de determinada si- tuacao, cuja necessidade deve-se a fortuna. O agir pressupde a com- preensao da natureza humana, assim entendida por Maquiavel: os ho- mens buscam quem thes proporcione vantagens, melhorias. Atribuem este papel ¢ responsabilidade ao governante, Esclarece num trecho da obra que “os homens mudam de governantes com grande facilida- de, esperando sempre uma melhoria”. )waauuti, 2008.32, © que impor- 1a, para os homens na sua maioria, so os beneficios e acreditar que é sm sswmeorr.org = Mina - Fort, APoltica em Maquiavel (€) PES matt Deusa da Vet, © principe quem pode proporciond-los. Contudo, 0 governante deve estar atento. A estabilidade politica é sempre precaria e “qualquer mu- danga pode desencadear um processo de transformagao dificil de con- ter.” ‘SEN 189, p. 3) Contrariando a concepsao crista de virtude, Maquiavel entende vir- tit como © que faz os grandes homens. Atingir os objetivos propos- tos implica em utilizar os meios necessirios para fazé-lo. Encontrar os meios necessaries para chegar aos fins é virtit cm Maquiavel, pois os fins sao construidos pelos meios. © homem virtuoso em Maquiavel é aquele capaz de conquistar a fortuna e manté-la. E aqui é importante entendermos 0 conceito de fortuna em Maquiavel © conceito de fortuna para o fil6sofo em questao, também é re- tomado dos antigos. Ele recorre & imagem da deusa fortuna, possivel aliada dos homens e cuja simpatia era importante atrair. Representava uma figura feminina que despejava riquezas de sua cornuc6pia aque les que sabiam conquisté-la. Para tanto, era necessario ser um homem de virtit, Como nos esclarece WEFFORT (1989), durante 0 periodo me- dievo, a figura da “boa deusa, disposta a ser seduzida, foi substituida por um ‘poder cego’, inabalavel, fechado a qualquer influéncia, que distribui seus bens de forma indiscriminada.” WeFFO5T 1929, 9.21) Contra riando o pensamento dos antigos, “a fortuna nao tem mais como sim- bolo a cornucépia, mas a roda do tempo, que gira indefinidamente sem que se possa descobrir 0 seu movimento.” oe9.9.21) Apre sentando uma perspectiva mais proxima a da Roda de Herédoto, que girava indiscriminadamente, esta visio considerava os bens valoriza- dos no perfodo classico como um nada, compreendendo que a felici dade nao se realizava no mundo terreno ¢ que o destino € uma fora da providéncia divina tendo © homem como sua vitima impotente. 037, 1989, 9.21) Em Maquiavel, 20 se indagar sobre a possibilidacie de se fazer uma alianga com a Fortuna, esta néo mais uma forga impiedosa, mas uma deusa boa, tal co- mo era simbolzada pelos antigos. Ela é mulher, deseja ser seduzida e es- *4 sempre pronta a entregar-se aos homens bravos, corajosos, aqueles que demonstram ter vir. WEFFORT, 1989, .22) Fortuna, portanto, nao esta relacionado A sorte ou predestinag’o, mas sim ao exercicio da virtit no mais alto grau. E aproveitar a ocasiio dada pelas circunstancias para amoldar as coisas como melhor aprou- Ver a0 virtuoso. (¥AQLINE, 2008 p.¢9) Esclarece-nos o proprio Maquiavel no seu texto: Creio que a sorte seja arbitro da metade dos nossos atos, mas que nos pennite o controle sobre a outra metade, aproximadamente, Comparo a sorte a um rio impetuoso que, quando enfurecido, inunda a planicie, der ruba casas @ editicios, remove terra de umn lugar para deposité-la em outro. ‘Todos foger diante da sua fla, tudo cede sem que se possa deté-le, Con- tudo, epesar de ter esta natuireza, quando as éguas correm auietamente & possivel construir defesas contra elas, diques © barragens, de modo que, quando vokem a crescer, sejam desviades por um canal, pare que seu im- peto seja menos selvagern e devastador. O mesmo se dé com a sorte, ue mostra toclo 0 seu pecier quando nao foi posto nenhum empenho para the resisti, dirgindo entéo sua ftria contra os pontos onde sabe que nao ha d= que ou barragem para deté-la. /.../ © que disse até aqui pode ser bastan- te no que abrange a resisténcia a sorte, de redo geral. /.../ © principe que bbaseia seu poder inteiramente na sorte se arrina quando esta muda, Acre- dito também que 6 prudente quem age de acordo com as circunstancias, © da mesma forma é infeliz quem age opondo-se 20 que 0 seu tempo exige. (WAQUHVEL, 2005, .145-147) © sucesso ou fracasso do Principe, para Maquiavel, nao depende da sorte, mas do modo como cle age nas circunstincias. Tendo méto- dos adequados ¢ caminhos seguros prevenindo-se para as possiveis intempéries, 0 homem dotado de virt pode conquistar a deusa. Para SCHLESENER (1989), (..) © que se tem, no fundo, 6 um elogio a racionaldade e liberdade do homem: dominar a fortuna, aginclo com autonorria significa aprender es re- lagdes conoretas e reconhecer 0 novo nas situagées e no movimento da vi da, © sucesso resulta da capacidace do homer de entender o seu tempo; mas a inteligéncia, sozinha, é limitada; vencer a sorte néo depende unica- mente do intelecto (compreender), mas tanbém do desejo (querer): é preci- 80 ser corajoso ¢ ousad, mais do aue prudente; é indispensavel ter aud cla, bravura, impetuosidade... /... / .. ou seja, 0 poder do homem esté em saber exercitar sua inteligdncia relacionada com sua intrepidez; ndo sé a ra- 280, mas também a imaginagao, o desejo, perpassarm a poltica e abrem es- Pago & criagdo do novo. (SCHLESENER, 1989p. 18) E este novo que Maquiavel traz com tanta intensidade e que envol- ve este confronto com a sorte. E © humano que se manifesta e se so- brepde ao determinismo. £ uma nova redefini¢ao do poder e da forca que o fundamenta, Isto implica em que “(...) nao se trata mais apenas 1 itps/geneloienetepect ww Lourenga 1(1492-15'9). APoltica em Macuiavel PES da forga bruta, da violéncia, mas da sabedoria no uso da forga, da uti- lizagao virtuosa da forca”. (WeFF0KI, 1989, 9.22) Para governar nao basta ser © mais forte, Este é capaz de conquistar 0 poder, mas nao de manté- lo. £ preciso, além de ser o mais forte, possuir a virt para manter 0 dominio € 0 respeito dos governados, mesmo que estes nao o amem. Wen, 1989 9,22) O sucesso do Principe esta atrelado & posse da virtt., Es- te sucesso implica numa medida politica: a manutengao da conquis- ta, Mostrando-se capaz de resistir aos inimigos e aos golpes da sorte, “o homem de virtit deve atrair os favores da cornuespia, conseguindo, assim, a fama, a honra e a gloria para si e a seguranca para seus gover nados.” (WE#08I, 1989 9.23 O que importa para o povo, apoiado num sen- so comum, é a estabilidade politica, que s6 pode ser dada pelo princi- pe virtuoso, independente dos meios que ele utilize. Virtit e fortuna em Maquiavel, portanto, estao intimamente liga- das. E ser honrado, para Maquiavel, nao implica numa questao de va~ lores morais, mas de justiga politica, onde o que importa sao os resul- tados obtidos, Responda as questées a seguir. 4. Explique a relagdo entre vitd e fortuna em Maquiavel, definindo 0 que vern a ser uma ¢ outra 2. Comente a seguinte afimagao de Maquiavel: Conclui-se, portanto, que como a sorte varia e os homens pernanecem fiéis a seus caminhos, 86 con- seguiem ter éxito na medida em que seus procedimentos sejam condizentes com as circunsténcias; quando se opdem a eles, o resutado & infelz. jaa) 1 Bataha Medieval @ Filosofia Politica HO Estado Para Maquiavel, o conflito que existe entre os homens é 0 que fun- damenta a acio politica. Tendo em vista a liberdade, exige-se a adminis- trago dos conflitos, de tal modo que nao se permita o crescimento do poder de um determinado grupo em detrimento de outro, o que levaria a perda da liberdade. Para Maquiavel os homens nao desejam a liberda- de do mesmo modo ¢ também a liberdade é objeto de uma paixao. Al- guns querem liberdade para estar seguros ¢ outros para dominar. Por is~ so, “tudo 0 que é capaz de unir os homens e de subtrai-los ao temor que cles se inspiram mutuamente é, portanto, um bem; a politica é sua prati- ca, pois se trata de uma arte cujo objetivo é garantir “para sempre a tran- qiillidade do Estado e a felicidade das pessoas.” S512, 2008p, 126 “Nada faz com que um principe seja mais estimado do que os gran- des empreendimentos ¢ os altos exemplos que a.” MAQUAVEL 2006, p. 130) Estes empreendimentos referem-se as grandes conquistas militares aos exemplos do seu poderio. Orienta ainda que “é muito util também para principe dar algum exemplo notavel de sua grandeza no cam- po da administracao interna”, (waduevtl, 2 Maquiavel alerta que “nenhum Estado deve crer que pode sempre seguir uma politica segura”, mas “ao contrario, deve pensar que todos os caminhos sao duvidosos.” (AGWE, 2006, 9,124) Para bem administrar 0 Estado € preciso entender a natureza das coisas, 0 fato de que nao se consegue evitar uma dificuldade sem cair em outra. A prudéncia do principe consiste em saber reconhecer estas questoes e escolher entre © que é menos mau para a sociedade. Por fim, Maquiavel propde 0 apreco pelas virtudes e praticamen- te uma participagao popular de tempos em tempos, construindo assim a idéia de solidariedade e generosidade por parte do principe. Veja- Os principes devern demonstrar também aprego pelas virtudes, dar oportunidacle aos mais capa- zes e honrar os excelentes em cada arte, Devem, além disso, incentivar os cidadéos a praticar paciica- mente sua atividade - no comércio, na agricultura ou em qualquer outro ramo profissional. Assim, que ns no deixem de aumentar seu patriménio pelo temor de ue thes soja retirado 0 que possuem, © oU- ‘ros no deixem de iniciar um comércio, com medio dos tributos; devem os principes, ao contrério, insti- {uir prémios para quem é ativo e procurar de um modo ou de outro melhorer sua cidade ou Estado. Além disso, precisam manter © povo entretido com festas ¢ espetéculos, nas épocas convenientes; e como toda cidade se divide em corporagées ou em classes, devern dar atengo a todos esses grupos, reu- nirse com seus membros de tempos em tempos, dando-Ihes um exemplo da sua solidariedade @ mu- nificénola - guardando sempre, contudo, sua dignidace majestosa, aue néo deve fatar em nenhum mo- Mento. (MAQUAVEL, 2008, p. 134-135) Para o pensador italiano, Antonio Gramsci, quiavel mostra como deve ser Principe para levar um povo a fun dagao do novo Estado, ¢ o desenvolvimento € conduzido com rigor ldgico, com relevo cientifico”. (sRAMSCl 1991, p. 4) Maquiavel trata com se- riedade a politica ¢ sente-se parte do povo que ele supde constitui ra este novo Estado. Como esclarece Gramsci, “Maquiavel faz-se po- vo, confunde-se com 0 povo, mas nao com um povo ‘genericamente” entendido, mas com 0 povo que Maquiavel convenceu com 0 seu de- senvolvimento anterior, do qual ele se tora e se sente consciéncia e expressio, com o qual ele se sente identificado”, (SSA 199,n.4) Neste sentido, toda légica em Maquiavel parece atender a uma reflexio do povo, de “um raciocinio interior que se manifesta na consciéncia po- pular e acaba num grito apaixonado, imediato”, (asd) 1961,p.4) No pen samento gramsciano ha uma verdadeira perspectiva de “manifesto po- liico” na obra de Maquiavel. Nao é algo que vem de fora, de te6ricos, de tratados politicos, mas do préprio pensamento popular interpretado por Maquiavel. Ainda com Gramsci podemos entender que “a doutrina ‘em todo o livro, Ma- oro Gamscl (1891 ~1997) APoltica em Macuiavel de Maquiavel nao era, no seu tempo, uma coisa puramente ‘livresca’, um monopélio de pensadores isolados, um livro secreto que circula entre iniciados” (GRANSC) 101». 19, Escrevendo coisas aplicaveis, Maquia- vel pretende ensinar, educar, mas ndo a quem jé sabe, ou que estaria numa “elite dominante” necessariamente. Para Gramsci no parece es- te o intento de Maquiavel. O que ele propde vai além, tem propésito maior. Vejamos as palavras do proprio Antonio Gramsci Pode-se, portanto, supor aue Maquiavel tem em vista ‘quem néo sabe", que ele pretende educar po- litcamente “quer néo sabe". Educago poltica néo-negativa, dos que odelam tiranos, como poderia en- tender Foscolo, mas positva, cle quem deve reconhecer como necessérios deterrninados meios, mesmo se proprios dos tranos, porque deseja determinadlos fins. Quem nasceu na tradigéo dos homens de gover no, absorvendo todo 0 complexo da eduucagao no ambiente familar, no qual predominam os interesses i- nésticos ou patrmoniais, acdauire quase que automattcamente as caracteristicas do poltico realista. Quem, Portanto, “no sabe"? a classe revolucionéria da época, 0 “povo" @ a “nagdo" itelana, a demooracia urbana que se exprime através dos Savanarola e dos Pier Soderini endo dos Castruccio e dos Valentino, Pode-se deduzir que Maauiavel pretende persuadir estas forgas da necessidade de ter um “chefe” que saiba aqui- lo que quer 6 como obté-lo, ¢ de aceité-lo com enlusiasmo, mesmo se Sues ages possam ester ou pa- recer em contradigéo com a ideologia difundida na época: a relgido. (RAMS 1991, .11) Em Maquiavel, h4 uma construgdo da politica de forma auténoma, fundada na realidade, mas também na necessidade de mudar esta re- alidade para conseguir o intento maior: a unificagao da Italia ¢ a fun- dagao do Estado italiano. H Maquiavel e a Historia como Método 1m Poses ikpesiaorg 1 Mega da la A historia € aconchego para Maquiavel. Nos seus momentos de infor- tinio, quando de seu exilio em San Casciano, ele aprende com os classi- cos ¢ esquece seus sofrimentos, como relata em carta a um amigo: Chegando a noite, votto & minha casa e entro no meu gabinete de trabalho. Tiro as minhas roupas cobertas de sujeira e p6 e visto as minhas vestes dignas das cortes reais e pontiicias. Asin, conve- nientemente trajado, visito as cortes principescas dos gregos ¢ romanos antigos. Sou afetuosamente recebido por eles @ me nutro do Linico alimento a mim apropriado e para o aual nasci, Nao me acanho a0 falar-Ihes e pergunto das raz6es de suas agées; e eles com toda sua humanidade, me respondem, Entéo, durante 4 horas néo sinto sofrimentos, esquego todos os desgostos, néo me lembro da pobre- Za.e nem amorte me atemoriza /../. (CataaF. Vets, de 1/12/15°8. hx WEFFORT, 1989, p16) £ na histéria que Maquiavel orienta o governante a buscar as ligGes, aprendendo com as ages os propésitos dos grandes homens. Ma- quiavel esta exatamente no centro de um “turbilhao” de novas idéias que estdo surgindo, numa fase de transi¢ao entre 0 antigo € © novo, num reavaliar dos projetos politicos e ao mesmo tempo numa tentativa de manutengao, Est4o surgindo os Estados ¢ a monarquia esta perden- do sua legitimagao pela tradi¢o de sangue ou linhagem para fundar- e@ Filosofia Politica se nas capacidades pessoais do governante, De sua pratica, portanto, € do convivio com os classicos é que nasceram os textos de Maquia- vel (HEFFORT, 1989, 0.16) Maquiavel propée ao principe a observancia do passado, que apre- senta os modelos de herdis, a realidade humana e os meios para que © principe chegue ao poder € o mantenha. Bis sua orientagio. A firn de exercitar 0 espirto, 0 principe deve estudar a histéria e as agdes dos grandes homens; ver ‘como se conduziram na guerra, examinar as raz6es de suas vitérias e dorrotas, para imitar as primeiras e evitar as titimas. Acima de tudo, deve agir como elguns grandes homens do passado eo seguir um mo- delo que tenha sido muito elogiado e glorificado, ter sernpre em mente seus gestos e agdes. Assim se diz que fez Alexandre, © Grande, com relagao a Aquiles, César a Alexandre e Cipiéo a Cro. Quem ler a biografia de Ciro, escrita por Xenofonte, veré que a gléria de Cipiso deve-se 20 fato de ter imitado Ciro, repetindo suas qualidades de homem casto, afdvel, humanitario e liberal. (MAQUAVEL, 2006, p. 95) O objetivo é mostrar como as coisas so € o que se deve fazer com elas para se conseguir o que quer, ligdes estas que so encontradas nos antigos. Enquanto a religido exige um telos, um fim a ser atingido, uma recompensa, na concepgao maquiaveliana o que existe € uma condi- Ao ciclica, onde as experiéncias do passado se repetem © os homens trilham quase sempre 0 mesmo caminho. £ da natureza humana. Co- mo numa seqiiéncia interminavel, “a ordem sucede a desordem e es- ta, por sua vez, clama por uma nova ordem. Como, no entanto, é im- possivel extinguir as paixdes e os instintos humanos, o ciclo se repete.” £7087 1989,n.20) O tempo vai e volta e, no presente repetem-se as ligdes do passado. Quem for bom observador ver que as coisas jé ocorre- ram de outra forma, mas com o mesmo sentido. © método maquiaveliano apéia-se na historia © tem seus funda- mentos em Polibio, historiador romano. Podemos constatar isto no fragmento do préprio Polibio, apresentado por pinsky E préprio da histéria conhecer prineiramente a veracidade dos acontecimentos aue efetivamente ‘ocorreram e, em segundo lugar, descobrir a causa pela qual as palavras ou atos resuitam, finalmente em fracasso ou sucesso. Com efeito, um simples relato pode ser correto sem ter nenhuma utlidade; acres- cente-se-the em compensagéo, a exposigéo da causa, ¢ @ prética da histéria toma-se fecunda, Buscan- do as anelogias pera aplicé-les a nossos problemas atuais, encontramos meios e indicagées para pre- ver 0 futuro: 0 pasado nos protege, bem come nos fomece um modelo, permitindo-nos realizar nossas empresas sempre mais confiantes. POLBI in: PINSKY, 1988, p. 145) A semelhanga com a perspectiva maquiaveliana ¢ inevitavel. Poli- bio ja ensinava “que nao ha escola mais auténtica, nem exercicio me- Ihor para as questdes politicas que as ligdes da hist6ria, Nada nos ensina poder suportar dignamente as vicissitudes do acaso mais segu- ramente que a recordagao das desgracas de outrem!” Pol, «PINSKY 1989, 0.48) E por isso Maquiavel esti dando orientagdes ao Principe a partir do olhar hist6rico, da historia dos romanos ¢ da surpreendente capaci- dade destes de dominar e manter o poder, como ja atestava Polibio: rasan pt 70, hips wm Pulte (230 a. C.- 120.2. 6, APoltica em Macuiavel 3) PES Nesse sentido, seria perfeitarnente inconveniente repetir o que ja foi expresso, e bem, por muitos outros; no meu caso sobretudo, onde as novidades dos fatos que nos propomos relatar seré mais do que suficiente para atrair e provocar todo mundo a ler minha obra, tanto jovens como vehos. (..) Por outro lado, poderia existir homens téo loucamente curiosos a respeito de outta disciplina a ponto de nao sacrficar tudo em prol desse género de informagao histérice? (POLAR in PRSKY, *988, 145) Nao observar a historia seria uma falta do governante. E uma questio de prudéncia. Ao ob- servar os antigos, ele aprendera com os erros do passado e evitaré cometé-los no presente, Por outro lado, devera apropriar-se do que foi efetivo politicamente para que os grandes homens ou povos se mantivessem no poder por tanto tempo, como no caso do Império Romano. Pa- ra Maquiavel, (...) sdo esses os métodos que deve seguir um principe prudente, nunca permanecendo ocioso em tempos de paz, mas ao contrério, capitalizando experiéncia, de rede que qualquer mudanga da sor- te 0 encontre sempre preparado para resistir aos golpes da adversidade, impondo-se a ela, MAQUIVEL, 2008, p. 95) Maquiavel apresenta-se (20 atual quanto no momento em que escreve O Principe. Dentro desta atualidade do pensamento maquiaveliano, ¢ agora podemos afirmar nao maquiavélico, nao validamos uma politica despreocupada com valores, mas propée-se uma politica que seja cfetiva, que resolva os problemas ¢ construa valores priticos. Nao é validada a esperteza sem sentido algum e nem tampouco a bondade sem coeréncia e dominio de poder do governan- te, Nao basta um governante honesto, com uma excelente proposta politica, mas que escolhe mal seus ministros ¢ assessores. Neste sentido, tratar dos problemas politicos atuais & luz da lei- tura do pensamento de Maquiavel parece-nos uma indispensavel contribuigao para entender mos a politica de forma mais real, ou seja, como ela é, como se faz, como se costura em con- chavos € aliancas. Menos iludidos, mais realistas, podemos perceber a importancia da politica € dos nossos politicos, Com certeza também poderemos agir de forma esclarecida quanto aos nossos direitos ¢ deveres, principalmente no trato com 0 poder que delegamos aos nossos re- presentantes. Em pequenos grupos discutir e responder as questées abaixo. 4. Que relago pode ser estabelecida entre a histéria recente dos regimes totaltérios ¢ a flosofia de Maquiavel? 2. Discuta alimagdo "todo homem busca por natureza o poder’ A partir das discuss6es e anotagdes realizadas cada grupo faré uma apresentacdo. As regres pera o debate encontrarr-se na introcuigéo deste ivro. ® Filosofia Politica

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