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Caminhos para o sustentavel Ignacy Sachs saramond c ele pect esi. ee ee Bree eect cass Neem neces Bok a foe e anaes erlcae ces) (ace gaet cos osc) Renee Ree es ecu e) Pemieercisccrccn Pele aese ein or fecetiseied cn 1 eueclonT= ga sro so MeN ores Caminhos para o desenvolvirnento sustentavel © Copyright 2002, lgnacy Sachs Diretes cedides para eta edigia & Editora Garamond Ltda Caixa Postal: 16,230 Cops 22.222.970 Rio de Jencire, Brevil Telefax: (21) 2224-9088 E-mail: garemond@garomond com be Oncantaagio Peale Youe Strob ‘Taaoucio Jovi Lint Albguergue Pio Revisho Téentca Jord Augusto Drumond ‘Martel Burry Penla Yone Sirob Cara Prajeto de Panlo Lana sobre tela de Ginceppe Arcinbolde Carauocagno wa ronrs 90 Danakranento Nacionas. 00 LivRo 4 Ignacy Sachs: caminhos pars 0 desenvolvimento sus: tentével / organiaagior Paula Yone Stroh, ~ Rio de jancio: Garamond, 2002, 96 pi 12521 em ISBN 85-86435-35- 1. Ignaey Sachs, 1927 ~ 2. Desenvolvimento sustensével 1. Stroh, Paula Yone, cpp 3637 Apresentagao © Centro de Desenvolvimento Sustentivel da Universidade de Brasilia - CDS/UnB cons- titai um esforgo de abrir a universidade aos imperativos de nosso tempo. Em que pese a tradigio de construgio cientifica de exceléncia da UnB nos varios campos do conhecimento, a realidade traz a exigéncia da institu- cionalizagio de um espago académico dedica- do 4 exploracio intelectual da complexidade imbricada nos problemas contemporaneos. ‘A busca de uma compreensio aberta aos crescentes desafios emanados de problemas essenciais da humanidade, como o das rela- Ges entre as sociedades humanas ¢ a nature- za, inspitow a criacio do CDS, em 1995. Um conjunto de profissionais de diferentes ori- gens e formagées uniu-se no propésito inici- al de criar um programa interdisciplinar de doutorado em Politica ¢ Gestio Ambiental Este projeto estendeu-se, posteriormente, para o Programa de Mestrado. Recentemen- te, mais um brago do projeto CDS abriu-se, Idéias Sustentiveis com a criagdo do Programa de Mestrado em Politica e Gestio de Ciéncia e Tecnologia. As linhas de pesquisa praticadas pelo CDS expressam as afinidades ¢ competéncias dos compos docente e discente e dos pesquisado- res associados, sobre o principio da busca de processos interativos de conhecimentos pro- duzidos por diferentes campos do saber cien- tifico. Nao sendo a interdisciplinaridade uma meta soma de saberes unidisciplinares fecha- dos entre si, 0 desafio académico do CDS consiste, exatamente, na continua ¢ sempre inacabada construgio de um espaco universi- tirio de convivéncia interativa de saberes especializados, confinados pela tradicio aca- démica ¢ cientifica, em favor da construgio do saber transdisciplinar, requerido para o enfrentamento dos grandes desafios contem- poriineos da humanidade. Dando continuidade & série Idéias Susten- taveis, este segundo volume tem a honra de apresentar tés artigos inéditos de Ignacy Sachs, que proferiu — na condicio de mentor maior do projeto de construgio do CDS ~ a aula magna do inicio do ano letivo de 1999. Por razGes de ordem técnica, essa conferén- cia nao pode ser editada; tendo em vista, porém, a importancia de registrar aquele even- Ignacy Sachs to, sio publicados neste volume trés artigos extremamente representativos de Ignacy Sachs, a quem o CDS agradece pela cessio dos textos. Os agradecimentos sio extensi- vos ao professor Cristovam Buarque, que prontamente respondeu ao convite para a ela- boracio do preficio deste volume. A organizadora Sumario Preficio / Cristovam Buargue.. Rumo a uma Moderna Civilizagio Baseada em Biomassa Pensando sobre o Desenvolvimento na Era do Meio Ambiente ...sncennnennieee AT Gestio Negociada e Contratual da " Biodiversidade ... 65 ANEXOS Critérios de Sustentabilidade .... 85 Biografia Sintética de Ignacy Sachs.. 89 Bibliografia ener 93 Prefacio Ignacy Sachs: o professor humanista para o século XI Cristovam Buarque™ Um dia o jornalista Gilberto Dimenstein fez uma enquete entre diversas pessoas per- guntando qual tinha sido o professor de sua vida, Fui incluido entre os consultados. Minha primeira lembranga foi a de um irmao Marista, no Gindsio Sao Luis, de Recife, 0 irmio Carlos. Gragas a ele, ainda no primario, adquiti pre- dilegio pela matemitica, especialmente pela ge- omettia. Devo a isso uma vistio do mundo que busca a harmonia ¢ © gosto pela beleza. Ele era também professor de religido e, na sua maneira * Doutor em Economia, professor titular e ex-teitor da Universidade de Brasilia, hoje atuando no Centro de Desenvolvimento Sustentivel, que ajudou a fundar. Foi governador do Distrito Federal entre 1995 e 1998. n Idi Sustentiveis pouco dogmatica, quarenta anos atrés, me trans- mitiu o sentimento da ética Sem o irmio Carlos eu provavelmente teria coutra formacio, tal como ocorreria sem o que ouvia em casa, as orientagdes ditias de meu pai, mie e amigos eu também nao seria o que sou. Viver jos. Sem as conversas com os é rodear-se de professores, aprendendo coisas todos os dias. ‘Mas a verdadeira formacio intelectual che- gana juventude e na primeira fase da vida adulta ¢, neste sentido, meus grandes profes- sores foram Josué de Castro, Celso Furtado, Darcy Ribeiro e Ignacy Sachs. Do primeiro, através de seus livros, especial- mente Geografia da Fome,' ¢ de uma convivén- cia de trés anos em Paris, devo o sentimento de que 0 desenvolvimento econémico, tanto em seu desenho como no modo de implantacio, no é capaz de atender as necessidades de to- dos. Com ele, percebi pela primeira vez que as pessoas no comem o que as inckistrias produ- zem. A idéia que prevalecia até Josué de Castro, que eu também defendia, era que a industri- alizagio gerava riqueza, a riqueza se espalhava € todos teriam dinheiro para comprat comida e tudo mais que fosse necessitio. O mérito de 12 Ignacy Sachs Josué nao se restringe em ter denunciado a fome, ‘mas em mostrar que a sua existéncia é sintoma do proprio tipo de desenvolvimento. Os textos marxistas ¢ socialistas diziam que o problema da fome estava na distribuicio, em decorréncia da propriedade privada dos meios de produ- Gio. Josué de Castro, aparentemente atris dos socialistas, mas na verdade bem a frente deles, criticou 0 proprio modelo de civilizagio € niio apenas o sistema capitalist, A Celso Furtado devo a compreensio da dinamica do proceso social brasileiro. A vida da gente se divide em antes e depois da leitu- ra de certos livros, mas alguns sio um divisor maior: Formagao Econémica do Brasil é um de- les? Ao ler este livro, ainda como aluno da Escola de Engenharia, vi que havia uma concatenacio de dinimicas na maneira como a sociedade muda, Nao se tratava de teorias, marxistas ou no, mas de uma descrigio da realidade mudando. De Darcy, tenho comigo mais do que lices de livros ou de aulas, mas uma ligio de vida Dele aprendi, além do profundo amor institucional pela UnB, a importincia da ousa- dia ¢ do inusitado, o gosto pelo surpreendente. Convivi com ele mais do que com Celso Furta- do ¢ Josué de Castro. Acompanhei seus tlti- 3 Idéias Sustentiveis mos tempos € aprendi, até a véspera de sua morte, uma aula de otimismo sobre o Brasil Este otimismo € 0 olhar para frente sio as melhores marcas de Darcy Ribeiro sobre mi- nha formagio. Mas Darcy também, tal como Celso Furtado, me absiu a percepgio do pro: cesso histérico, além de me trazer para a millitincia em prol da educagio. Talvez cu até tivesse chegado a isto por outros meios, mas sem a sua influéncia direta nfo teria me conso- lidado. Mas foi de Sachs que recebi a mais forte influéncia, Porque foi meu professor ditcto, meu orientador durante quase trés anos ¢, desde entio, por trinta anos, uma pessoa que me influencia em, pelo menos, doze aspectos: A Natureza O primeiro, ¢ certamente dos mais impor- tantes, € a descoberta do valor da Natureza. Quando cheguei a Paris, em outubro de 1970, eu era um engenheiro mecinico recém-gra- duado carregando a arrogincia do saber tecnolégico ¢, também, um nordestino crente no papel do desenvolvimento para transfor- mar a natureza. Para mim, ¢ para quase todos naquele tempo, a Natureza era a despensa — de onde tirarfamos, sem parciménia, © maxi- "4 Ignacy Sachs mo possivel — ¢ 0 depésito de lixo — onde podeslamos jogar todos os residuos do pro- cesso produtivo. Anos depois, em uma entre- vista com Sachs, lembrei-Ihe que ouvira a pa- lavra ecologia pela primeira vez durante o seu seminario de 1970, e destaquei a importincia decisiva de seus seminarios na divulgagio do conceito. Lembro de um Professor Vasconcelos, ain- da na Escola de Engenharia de Pernambuco, que j@ falava dos limites fisicos impostos a0 desenvolvimento na Zona da Mata e da im- porténcia do conservacionismo. Mas ainda era uma visio local. Nao passava o sentimento planetatio que Sachs nos trouxe, aos que tive- ram a sorte de serem seus alunos naquele final da década de 60. Gragas a Sachs, o tema eco- logico entrou nas minhas preocupagdes. Meu conhecimento de economia foi ditigido para tentar encontrar uma harmonia no processo produtivo, capaz de incorporar a natureza como valor. Mesmo minhas dedicagées tecnocraticas, como analista de projetos, passaram a incor- porar as inquietagdes € ligdes do Sachs. A Tecnologia Impossivel entender o valor da natureza sem entender o papel da tecnologia. Como enge- 15 dias Sustentiveis nheiro, com uma formagio econdmica sob o otimismo do socialismo marxista, era-me im- possivel ver qualquer defeito no avango técni- co ou qualquer restrigio 20 papel da tecnologia como elemento libertador da humanidade. Para 1nés, que viamos no proletariado o produto do avango técnico, mesmo os capitalistas, como Henry Ford, tinham papel mais importante na construgio da liberdade do que os humanistas, do que 0s libertadores politicos. Sachs fez ba- lancar estas crencas, Fez-nos ver os riscos do avango técnicoe trouxe o conceito de tecnologia adaptada em resposta is tecnologias desa- daptadas. Desde os primeiros seminarios de Sachs, perdi a crenga na positiva neutralidade do avango técnico. Passei a ver com desconfi- anga as conseqiiéncias de seu uso € a procurar encontrar formas de subordinar o avango téc- nico aos valores éticos e objetivos sociais. Era 0 contritio do que eu tinha aprendido até entio, quando via todo 0 processo de evolugio da humanidade subordinada ao avango técnico. A Heterodoxia A Natureza nfo entraria no nosso uni- verso de reflexio se Sachs nao representas- se uma heterodoxia, se nio fosse um critico de todas as linhas de pensamento, sem pre- 16 Ignacy Sachs conceito contra qualquer uma delas. Até Sachs, eu dividia o pensamento entre esquet- dae direita, marxistas ¢ cristéos, estrutura- listas ou monetaristas, Ele me mostrou ou- tra forma de entender as coisas, sem a prisio das formas do pensar. Lembro também que — muito tempo antes — Vamireh Chacon, entio professor da Faculdade de Direito de Pernambuco, escrevera um pequeno livro, Galileus Modernos, sobre 4 possibilidade ¢ ne- cessidade de uma visio heterodoxa do mun- do. Mas eu ainda nao estava prepatado para a perda de todos os preconccitos. Em Paris, Sachs analisava as coisas do mundo elogi- ando o que via na China, depois de suas constantes viagens, com criticas 20 que se passava na Polénia, sua terra natal. Para ele, © importante nao era se o pais tinha ou nao governo socialista, mas quais resultados ele via no povo, na natureza local, na vida cul- tural, Para mim, seus semindrios eram uma sur- ptesa a cada dia; ouvir teflexdes sobre fatos € problemas sem pré-referéncias determinando as conclusées. Nunca mais voltei a ter precon- ceitos ¢, desde ento, passei a procurar as mi- nnhas prOprias formulacdes conceituais, usando © que aprendia de outros, sem repudiar nem 7 Idéias Sustentiveis, me submeter a predeterminagées. De todos 0s ensinamentos de Sachs, talvez seja este 0 que mais prezo hoje. O Surpreendente Gracas, sobretudo, & sua heterodoxia, Sachs era um ator surpreendente em seus seminéti- 0s. Olhando hoje para 0 passado, me parece que para cle uma boa aula no podia terminar sem alguma surpresa para seus alunos, como se ensinar fosse provocar, ¢ nio transmitir co- nhecimentos. As surpresas variavam: uma ci- tagio de um filésofo grego no meio de uma Pragmitica aula sobre a politica monetitia no México; a inclusio de uma noticia do jornal do dia ao falar sobre técnicas chinesas de cin- co mil anos de idade; as referéncias a Santo ‘Tomés de Aquino recheando as reflexdes so- bre Marx; os exemplos sobre a cultura judaica na Polénia quando falava da situacao da Zona da Mata de Pernambuco. O Rigor O isco dos tedricos heterodoxos € a falta de rigor nas anilises. Sachs nos ensinou que 0 rigor nio s6 era possivel, como absolutamen- te necessirio nas criticas. Lembro do seu cui- dado em usar as palavras, de sua busca em 18 Ignacy Sachs aprofundar um assunto a ponto de sentir ne- cessidade de criar palavras que traduzissem a profundidade do conceito em elaboragio. O compromisso com o tigor é uma das ligdes mais importantes de um professor a um alu- no. Mas nao se tratava do rigor de aprender 0 que ja estava escrito, Para ele, 0 verdadeito rigor estava em contestar as teorias existentes, desnudi-las. Os seminétios de Sachs eram stip- eases de idéias, com um procedimento que des- nudava o pensamento na nossa frente, desafi- ando-nos a vesti-lo, com novas roupas. O Cosmopolita Nada disso seria possivel se Sachs no ti- vesse a formacio cosmopolita que adquiriu ao longo de sua vida. 5 possivel dizer que a sua experiéncia tenha sido uma sorte, uma sofrida sorte. Emigrou pela primeira vez ain- da adolescente. Acompanhou o pai a0 Brasil, fugindo das perseguigdes anti-semitas do na- zismo na Polénia. Trouxe com ele a bagagem cultural da Europa do Leste ¢ as tradigdes ju- daicas, 20 lado de um pai com profunda for- magio humanista. Sachs podetia ter aqui ficado com milhares de outros imigrantes, inclusive sua propria fa- milia. Todavia, depois de formado em econo- 19 dias Sustentiveis fez uma ratissima e expressiva op voltou a Polénia, para colaborar com a cons- trugio do socialismo, La, teve a sorte € 0 pri- vilégio de estudar ¢ trabalhar sob orientacio de Lange! ¢ KaleckiSaprendendo a teoria socialista na pritica, identificando 0 papel ¢ os limites do Estado na economia. Nao contente coma versatilidade que j tinha, fez outra opcio radical ao decidir cursar seu doutorado na in- dia, onde completou sua formacio procuran- do entender com clareza e sem preconceitos 0 papel do Estado na economia. Depois retornou 4 Pol6nia, mas teve que sait novamente em 1968, escolhendo, dessa vez, a vida ¢ a ativida- de académica em Paris. Uma formagio mais cosmopolita do que esta, impossivel. E ainda complementada pelo estudo de todas as reas humanistas do co- nhecimento, sobretudo Histéria, sem descui- dar de uma s6lida formagio técnica, Este foi © professor que encontrei em Paris. Para mim, também forgado a sair do Brasil de modo tio sofrido, Paris nao poderia ter tido melhor com- pensacio, OCritico Raros emigrantes judeus-poloneses voltaram 4 Poldnia depois da Guerra. Sachs foi um deles 20 Ignacy Sachs porque ele era socialista. Mas, um socialista cri- tico. Isto para mim era novidade. Eu aprendera no Brasil que havia socialistas de diferentes cor- rentes, mas nao tinhamos socialistas criticos a0 proprio socialismo. Aprendi com Sachs que possivel ser uma coisa sendo, ao mesmo tempo que critico a cla, Sem mégoas ou radicalismos, ele falava do socialismo polonés, russo ou chi- nés com respeito, 20 mesmo tempo com pro- funda critica, Igualmente, passados tantos anos. e acontecimentos ~ 0 muro de Berlim derruba- do, a Pol6nia capitalista formada — ele hoje faz mais criticas ao que lé acontece do que no tem- po do socialism. Nao porque houvesse me- es para isso, mas porque a critica tem. (0 € ctitica, é apenas nos ra que ser em tempo real ou reflexio. O Local Diferente de outros cosmopolitas, Sachs tinha e tem um apego radical aos exemplos ¢ Para ele, falar como cosmopoli- ta nio é ser abstrato ¢ universalista nos con- ceitos, mas citar articuladamente, em uma mesma aula, detalhes de programas, costu- mes, fatos do Nordeste do Brasil, do Sudeste Indiano ou do Leste Europeu. Até hoje, con- versar com Sachs € receber informagoes de- casos loc: at Tdéias Sustentaveis talhadas sobre coisas concretas ¢ locais, ain- da que em linguagem cosmopolita universal, Como os grandes escritores que partem do local para se fazerem universais, Sachs sem- pre partiu do concreto e do local para for- mular teorias universais. Este apego ao local fez dele uma diferenga e uma referéncia. Se observarmos os seus discipulos no Brasil, podemos perceber em cada um, no Rio Gran- de do Sul, no Rio de Janeiro, em Brasilia, Alagoas, Santa Catarina ou Minas Gerais, um cuidado especial com os aspectos locais. To- dos temos preocupacées universais sem per- der a perspectiva do local. As teses que ori- entamos, os trabalhos que fazemos, os cen- tros de pesquisas que criamos ou ditigimos quase sempre tém 0 estudo de temas locais como principais objetivos. A Generosidade Ser aluno de Sachs era receber orientagdes em seu escritério, nos cafés préximos & sala de aula ou mesmo andando em direcio as estagdes do metr6. Por mais ocupado que estivesse, ele jamais recusava um tempo 20 aluno que o procurasse. Esta era uma de suas manifestagdes de generosidade. Mas nio a Sinica. Apoiou ¢ aceitou todos aqueles que, 22 Ignacy Sachs como eu, estivamos em Paris em busca de asilo politico, No comego dos anos setenta, a identidade comum de todos nés, seus alu- nos, era falta da Patria. Com seus alunos, 20 redor da mesa dos seminatios, era possivel fazer uma geografia das ditaduras: rapazes € mogas da Grécia, Turquia, dos paises do Leste Europeu, Ira, Brasil, Argentina, Uruguai, pouco depois também do Chile. Enquanto ‘os demais orientadores exigiam referéncias, cobravam curriculos, Sachs exigia trabalho. Mas accitava cada um que chegasse pedin- do-the um avis favorable para inscrever-se na Ecole Pratique des Hautes Etudes. Nem o professor, nem qualquer um de nés, conta- bilizou quantos exilados politicos evitaram a expulsio, ganharam bolsas de estudos e/ou receberam dircito ao asilo, gragas a0 apoio € a aceitagio de Sachs, Nunca negava carta de referéncia sincera para nos apoiar apés a con- clusio do doutorado. Quando fui convidado a trabalhar para o BID, em Washington, ele niio apenas me forneceu as referéncias ne- cessirias, como até me indicou um hotel ba- rato ¢ proximo ao BID para me hospedar du- rante os dias em que seria entrevistado. Mais que isso: me ensinou o percurso detalhado do aeroporto ao hotel. Idéias Sustentiveis O Pragmatismo Se Sachs era generoso em aceitar ¢ apoiar os seus alunos, foi ainda mais importante pelo pragmatismo como nos orientava. Nao fosse ele, muitos de nés ainda estariamos na Franca, tentando fazer uma tese impossivel. Lembro de meu primeiro encontro em sua sala, ele ain- da com 43 anos, entio com seu cachimbo, na pequena sala abarrotada de livros, em tantos idiomas ¢ sobre tantos assuntos, Perguntou-me sobre minha experiéncia ¢ ouviu com 0 maior respeito sobre a minha formagio em engenha- tia, sobre 0s meus créditos feitos no mestrado €m economia, sobre os meus trabalhos anteri- ores em um escritério de projetos para a SUDENE. Sem fazer qualquer comentario, per- guntou-me o que eu pretendia estudar em Pa- is; expus algo extremamente tedtico sobre co- mércio internacional. Ele ouviu em siléncio depois, rodando 0 brago com o cachimbo na mio, apontou para os livros ¢ disse-me que, ‘mesmo que eu passasse anos estudando 0 as- sunto, nio faria nada melhor do que jé estava em alguns dos volumes que ele tinha ali Minha primeira reaclo de jovem arrogante, candidato a reinventor do mundo e das idéias, foi de frustragio, perda de auto-estima. Mas ele continuou, dizendo: “Mas nenhum desses 24 Ignacy Sachs autores tem condigdes de escrever qualquer coisa sobre o Nordeste do Brasil, como vocé tem, com a sua experiéncia de vida”. E con- lui: “Se quer passar um bom tempo na Franga aprendendo teotias ¢ idéias, pode escolher qualquer tema, mas se quer concluir sua tese, concentre-se em refletit sobre sua experiéncia ‘e mostrar aos franceses como funciona a eco- nomia mista do Nordeste brasileiro”. Em menos de trés anos minha tese estava pronta. Foi dai que elaborei a frase que durante al- ‘gum tempo permaneceu estampada na minha sala da UnB: “A tinica tese realmente cuim é aquela que nao foi escrita”. Pensando bem, tudo o que escrevi desde entio, préxitho a um vigésimo livro, foi frato daquele conselho prag- mitico, Nenhum desses livros reinventou 0 mundo ou as idéias, mas foi o limite do meu possivel. Por isso foram escritos. AModéstia O pragmatismo e a generosidade s6 foram possiveis gragas a uma grande modéstia. Pou- cos pensadores da segunda metade do século XX poderiam ter contribuido teoricamente, tan- to quanto Sachs, ao grande desafio de entender a civilizagdo em suas relagdes sociais ¢ ecolégi- cas; 0 papel da ciéncia e da tecnologia, a critica 25 Idéias Sustentiveis as teorias ¢ ideologias prevalecentes. Mas cle ainda nio fez isto, em razio de sua generosida- de ao dedicar scu tempo a viagens, palestras, orientagées, ¢ pelo pragmatismo de estudar coi- sas concretas. Esta qualidade acaba deixando uma frustragio em seus discipulos, pois quer amos ter Sachs como um prémio Nobel de Eco- nomia, por ter estado 4 frente do seu tempo. O Humanismo ‘Todas as caracteristicas de Sachs se resumem em uma palavra: humanista, Este é um cariter raro entre economistas do século XX. Um humanista que nfo apenas nos ensinou ou nos transmitiu conhecimentos, como fazem os gran- des mestres, mas sim sua maneira de ser inte- lectual. Somos muitos os que Ihe devemos, no Brasil e no mundo inteiro, ¢ eu estou entre os seus maiores devedores. Imagino como teria sido diferente minha trajet6ria se, em vez do humanismo de Sachs, eu tivesse caido nas ma- Ihas de um professor tecnocrata. Talvez esti- vesse muito mais acomodado, mais rico, com melhores cargos na hierarquia butocritica, mas certamente nao teria razdes para esctever 0 que escrevi acima, Poder escrever isso, com orgu- Iho ¢ ao mesmo tempo afeto, me faz ser ainda mais devedor do Professor Ignacy Sachs. 26 Notas 1 CASTRO, Josué. Geografia da Fome— O Dilema Brasileiro: pio on az. Brasiliense, 9% ed., S. Paulo, 1965. 2 FURTADO, Celso. Formagio Econimica do Brasil, Com- panhia Editora Nacional, 14" ed., S, Paulo, 1976. 3 CHACON, Vamireh. Galileus Modernos (Elogio da ‘eterodaxia) Rio de Jancieo: Ed. Tempo Brasileiro, 1965. 4 Oskar Lange (1904-1965), eminente economista po- Iitico polonés de orientagio marxista, foi membro da Academia Polonesa de Ciéncias, professor de Economia Politica na Universidade de Varsévia, vice-presidente do Conselho de Estado da Polénia, presidente da Comissio Parlamentar do Plano Eco- némico, Orcamento ¢ Finangas da Dieta Polonesa, primero embaixador da Polénia nos Estados Uni- dos apés a 2 Guerra, conselheiro econémico do governo da india entre 1956 e 1958. Autor de vasta cobra, da qual aqui se destaca o titulo publicado no Brasil, Moderna Economia Politica ~ principio eras, Rio itora Fundo de Cultura, 1963 ¢ 1967. de Janeiro: (Nota da Org) 5 Michal Kalecki (1899-1970), economista polonés, expoente do pensamento macroecondmico, anteci- [pou muitos principios creditados a teoria keynesiana, ‘Tendo inicialmente publicado os seus. trabalhos apenas em polonés ¢ francés, foi pouco divulgado ax€ 1935, quando comegou a publicar em inglés os 7 seus trabalhos sobre 0s ciclos econémicos do capi: talismo, Incorporando conceitos das teorias econé- ‘micas clissicas e marxista na construgio de seu pen- samento, influenciou decisivamente notiveis pen- sadotes da escola keynesiana de Cambridge, parti- cularmente Joan Robinson e Nicholas Kalder, como. também divetsos economistas norte-americanos pés- Keynes. Joan Robinson & John Eatwell, na clssica obra An Introduction to Madern Economics, afiemam, ne “Gunnar Myrdal, na Suécia; Michal Kalecki, nna Polénia, e Maynard Keynes, na Inglaterra, raba Ihando de modo independente entee si, formularam, um novo diagnéstico da instabilidade do capitalis mo”. Autor de-diversos livros, salientam-se alguns de seus titulos publieados no Brasil: Introducio & Teoria do Cressimento em Economia Socialite, Sto Paulo: Brasiliense, 1982; Teoria da Dinimica Econémica: en- sao sobre as mndancas cieicase a longo prago da economia ‘apitalista, So Paulo: Abril Culeural, 1983; Econonias em Desenvohimenta, So Paulo: Vértice, 1988. (Nota caorg) 1 Rumo a uma Moderna Civilizagao Baseada em Biomassa* “Uma nova forma de civilizagao, fundamenta- da no aproveitamento sustentével dos recursos renoudveis, ndo é apenas possivel, mas essencial.” Compartilho plenamente a opiniio do emi nente pensador indiano M. S. Swaminathan. De certo modo, todas as principais civiliza- Ges do passado foram civilizages fundamen- tadas na biomassa, uma vez que dependiam quase que exclusivamente de produtos da * Palestea proferida no Seminitio Internacional de Cincia ¢ Tecnologia Pata uma Moderna Civilizacio Baseada em Biomassa, onganizada pela COPPE/UFRJe pela ENERGE em cooperagio com 2 South-South Cooperation Programme on Environmentally Sound Socio-Economic Development in'the Humid Tropics (UNESCO-MAB, LUNU e TWAS) ~ por ocasiio da Conferéncia da Acade mia de Cigncias do Terceiro Mundo, Rio de Janeio, 8 de setembro de 1997 Tdéias Sustentiveis biomassa para sua vida material: alimentos ¢ racio animal (como € 0 caso até hoje), e tam- bém combustivel, fibras para vestimentas, ma- deira para a construgio de abrigos ¢ mobilié- rio, plantas curativas. Ainda hoje, milhdes de “pessoas dos ecossistemas”! — habitantes das florestas ¢ populagao rural — lutam por sua subsisténcia nos ecossistemas proximos, ge- ralmente de modo ctiativo, baseado em co- nhecimento profundo sobre as ocorréncias da natureza. Nosso problema nio é retroceder 20s modos ancestrais de vida, mas transformar © conhecimento dos povos dos ecossis- temas, decodificado recodificado pelas etnociéncias, como um ponto de partida para a invengdo? de uma moderna civilizarao de biomassa, posicionada em ponto completa- mente diferente da espiral de conhecimen- to € do progresso da humanidade. O argu- mento é que tal civilizagao conseguiré can- celar a enorme divida social’ acumulada com 0 passa dos anos, ao mesmo tempo que reduziré a divida ecolégica. Para isso, temos que utilizar ao maximo as ciéncias de ponta, com énfase especial em bio- logia ¢ biotécnicas, para explorar o paradigma do “B 20 cubo”: bio-bio-bio. O primeiro b re- 30 Ignacy Sachs presenta a biodiversidade, 0 segundo a biomassa ¢ 0 tetceiro as biotécnicas. Uma breve explicagio se faz necessétia aqui. O estudo da biodiversidade no deveria estar limitado a um inventirio das espécies ¢ genes, por dois motivos: primeiro, porque 0 conceito de biodiversidade envolve também os ecossistemas e as paisagens; segundo, porque a biodiversidade e a diversidade cultural estio entrelagadas no proceso histérico de co-evo- lugio? Figura 1: O Paradigma do “Biocubo” ‘BIODIVERSIDADE — sIoTECNOLOGIA Necessitamos, portanto, de uma aborda- gem holistica e interdisciplinar, na qual ci entistas naturais e sociais trabalhem juntos em favor do alcance de caminhos sébios paca © uso e aproveitamento dos recursos da 3t Tdéias Sustentiveis, natureza, respeitando a sua diversidade. Conservacio ¢ aproveitamento racional da natureza podem e devem andar juntos. O desafio é: como conservar escolbendonse estratigi- 4s corretas de desenvolvimento em vex, de simples- mente multiplicarem-se reservas supostamente invioliveis? Como plangjar a sustentabilidade mil. tipla da Terra e dos recursos renovéveis? Como desenbar uma estratégia diversificada de ocupagio da Terra, na qual as reservas restritas e as reser- vas da biosfera tenham sen lugar nas normas estabelecidas para o territério a ser utilizado para sos produtivos? O uso produtivo nao neces- sariamente precisa prejudicar o meio ambi- ente ou destruir a diversidade, se tivermos consciéncia de que todas as nossas ativida- des econémicas esto solidamente fincadas no ambiente natural Conforme foi mencionado, a biomassa co- letada ou produzida em terrae na agua pode ser utilizada para diferentes fins. Pego empres- tado o diagrama dos “5-F”, do Professor Jyoti Parikh, no qual os F representa alimento (food), suprimentos (feed), combustivel (fue), fertilizan- tes (ferlilizers) e tagio animal industrializada (feedstock), Os usos da biomassa seriam otimizados na escolha da combinacio certa dos “5-F”, em sis- 32 Ignacy Sachs temas integrados de alimento-energia adapta- dos as diferentes condigdes agroclimaticas € socioeconémicas. Este assunto tem sido exten- sivamente discutido no Brasil, na india ¢ em outros paises em desenvolvimento, no quadro do Programa Nexus de Alimento-Energia (Food- energy Nexus Programme) promovido pela Uni- versidade das Nacdes Unidas.’ O programa enfatiza 0 potencial dos sistemas produtivos artificiais, andlogos a ecossistemas naturais. Nosso sucesso na ctiagio de projetos sustenti- veis dependerd enormemente de nossa habili- dade em desenvolver tais sistemas de produgio ¢ em tornélos cada vez mais produtivos atra- | vés da aplicagio da ciéncia moderna. Figura 2: Otimizagio do Uso da Biomassa — bromassa ") Se ant comeustiver’ 'NOUSTRIALZAOA As biotecnologias terio um papel primor- dial neste esforco de alcangar ambas as extre- 33 Idéias Sustenciveis midades da cadeia de producio, propiciando, por um lado, um aumento na produtividade de biomass e, por outro lado, permitindo uma expansio na faixa de produtos dela derivados (ver Figura 1), Uma tarefa operacional primordial é a de disponibilizar a biotecnologia moderna para os pequenos fazendeiros, capacitando-os as- sim, a participarem da segunda revolugo verde (também denominada revolugio duplamente verde). Por mais dificil que possa parecer, essa tarefa nfo é impossivel. Exige, todavia, uma série de politicas complementares (acesso jus~ to a terra, 20 conhecimento, ao crédito ¢ ao mercado, bem como uma melhor educacio rural). Igualmente importante na busca de uma moderna civilizagio de biomassa setio os es- forcos direcionados em favor do deseavolvi- mento de uma guimica verde, como comple- mento ou até como substituto pleno da petroquimica, trocando a energia fossil por bio- combustiveis. Para os paises tropicais, esta oportunidade € particularmente desafiadora. O clima tro- pical, por muito tempo encarado como uma deficiéncia, desponta agora como uma dura- doura vantagem comparativa natural, por permitir produtividades maiores que as apre- 34 Ignacy Sachs sentadas nas zonas temperadas. Freqiien- temente, diz-se que os recursos naturais per- deram sua importéncia diante dos recursos humanos ¢ do conhecimento. Esta é uma verdade parcial. Uma boa combinagio de re- cursos naturais abundantes ¢ baratos, forca de trabalho qualificada ¢ conhecimento mo- derno resulta em uma vantagem comparati- va inigualével. ‘Obviamente, ha que se ter cuidado com os ecossistemas frigeis ¢ proteger as populagdes contra as doencas tropicais. Mas, hoje, sabe- mos como superar estes problemas, mesmo cientes que ainda ha um longo caminho para © sucesso desta tarefa. Portanto, os paises tropicais, de modo ge- ral, ¢ o Brasil, em particular, tém hoje uma chance de pular etapas* para chegar a uma mo- derna civilizagio de biomassa, alcangando uma endégena “vitéria tripld”, a0 atender simulta- neamente 0s critérios de relevancia social, pru- déncia ecoligica ¢ viabilidade econémica, os trés pilares do desenvolvimento sustentivel (ver Figura 3). Conforme nos lembra Sérgio Buarque de Holanda, ao iniciar a sua célebre publicacio,’ © Brasil nasceu de uma tentativa de se trans- 35 Idéias Sustentiveis, plantar a cultura européia para um extenso territério, dotado de condigdes naturais bem diferentes daquelas familiares a cultura do lo- cal de otigem. Outro intelectual brasileiro, Gilberto Freyre, antecipou o conceito de “tropicalismo”, Nao é preciso concordat com © que ele disse sobre a adaptagio do povo Portugués em terras tropicais (Iuso- tropicalismo) para reconhecer a sua visio pio- neira de uma civilizagio original dos trépicos, ainda por ser inventada."” Este € exatamente 0 assunto em pauta, Figura 3: Padroes de Crescimento Tmmpactos Evondmicos Socisis Heoligicos 1. Crescimento desordendo + 2.Crescimento social benigno + + 3.Crescimento ambientalmente sustentivel + + 4. Desenvolvimenta, + +e Um dos primeiros escritos de Gilberto Freyre sobre 0 tropicalismo abordow a regiio amaz6nica. Os atuais esforcos em andamen- to para criar a Agenda 21 para a Amazénia'! referem-se explicitamente a civilizagio da biomassa. No ordenamento de algumas pri- oridades em ciéncia e tecnologia necessirias 36 Ignacy Sachs a.uma estratégia de desenvolvimento susten- tavel na Regiio Amazénica, podemos usat como ponto de partida a divisio entre a flo- resta intacta ¢ a 4rea desflorestada. Na pri- meira categoria, devemos distinguir as flo- restas habitadas por grupos humanos das flo- restas vitgens, Na segunda categoria, deve- mos considerar separadamente as florestas secundatias (capoeiras) ¢ todas as demais ate. as. A Figura 4 ilustra algumas possiveis li- nhas de agio para um aproveitamento racio- nal da natureza na Regiio Amazénica. [A Figura 4: Possiveis Linhas de Ago paca um Aproveitamen- to Racional da Natureza na Regio Amazénica. FLORESTAS _| AREAS DESFLORESTADAS Vingens | Habitadas | Forests secundirias | Ours ia) By cl © o. | o L ® ® [A] = reservas nativas [B] = reservas extrativas ¢ da biosfera fe} © = familias agricolas ou silviculturais, em diversos niveis, adaptadas aos ecossistemas cidades e povoados a7 lias Sustentiveis, amaz6nicos ¢ seguindo atenciosamente a ar- quitetura da floresta © = florestas enriquecidas © = Areas plantadas @ = fireas de coleta de produtos florestais nao-madeirciros ¢ cortes seletivos de madei- ras, A linha pontilhada indica a falta de inte- resse das companhias madeireiras em explo- rar as florestas secundirias, consistindo as suas estratégias, principalmente, em primcito corte de florestas nativas © = outras produgées ecologicamente se- guras (com referéncia especial a do- mesticagio de espécies animais © vegetais locais) Com esses objetivos em vista, podemos, agora, voltar as prioridades de pesquisa. As dez sugestdes a seguir no so exaustivas em hipétese alguma, A sua finalidade & apenas ilustrativa. . Necessitamos, certamente, de melhor compreensio quanto ao funcionamento dos diversos ecossistemas da Regiio Amazéni- ca.!? A iniciativa da Large Biosphere-Atmosphere desponta como um passo importante nesta diregio.” 38 Ignacy Sachs 2. Bm paralelo com a pesquisa baseada em macrodados, ha que se prosseguir com a cria- Go de bancos de dados locais sobre a biodiversidade. Alguns trabalhos pioneiros, na india, demonstram a possibilidade de se alcan- gat esta meta, mantendo em mios nativas o controle desses bancos. 3. Por razées jé explicadas, o estudo da di- versidade biolégica ¢ cultusal deve ser condu- zido em conjunto por grupos de cientistas naturais ¢ sociais; € necessério um grande es- foro neste sentido, 4, O uso sustentivel da biodiversidade re~ quer, ao mesmo tempo, a capacidade de reali- zagio de pesquisa avancada no campo da eco- logia molecular, nos caminhos das linhas sugeridas pelo PROBEM/Amaz6nia em 1996 € pelo Instituto Butanti (Universidade de Sio Paulo). 5, O estudo de sistemas de produgio inte- grada, adaptados As condigdes locais, deve pros- seguir em diferentes escalas de producio, des- de a agricultura familiar aos grandes sistemas comerciais. Ambos tém lugar em uma estraté- gia de desenvolvimento sustentivel. 6. Um tema importante para pesquisa é a ctiagio de equipamentos para armazenamento, 39 Idéias Sustentiveis, transporte € processamento de produtos flo- restais, inclusive os meios de transportes nao- convencionais (zepelins) e unidades méveis de beneficiamento (Aluviais). 7. Diferentes sistemas locais de geracio de energia (baseados em biomassa, miniidre- Iétricaspedlicos e solat) devem ser projetados ¢ testados 8, Uma importante area de pesquisa mui to negligenciada é a da modernizagio das téc- nicas empregadas pela agricultura familiar de subsisténcia, A melhoria no funcionamento deste setor tem impacto direto sobre a vida das populagées envolvidas, pela conseqiien- te liberago de parte da mao-de-obra para atividades orientadas pelo mercado. 9. A modetnizagio dos sistemas de produ- io existentes pode assumir maior complexi- dade com o acoplamento sucessivo de novos médulos de produgio. Jé foi mencionada a possibilidade da domesticagio de espécies lo- cais como, por exemplo, a agregacao da pisci cultura & agricultura familiar. 10. O dimensionamento de sistemas de ser- vigos sociais em domicilio (educagio ¢ satide), adaptados As condigdes especificas da Ama- zénia rural com sua populacio dispersa a0 40 Tgnacy Sachs Jongo dos rios. Esta é uma priotidade de pes- quisa, considerando que um maior acesso a tais servigos é fundamental para 0 funciona mento mais eficiente dos sistemas de produ- io e para a melhoria das condigdes de vida. © mesmo vale para a comunicacio, tanto no acesso as amenidades culturais como as tio necessirias informagdes sobre as condigdes de mercado ete. AA lista acima apresenta um desafio grande, porém possivel. O importante é notar que ele atravessa muitos campos do conhecimento. A criagio de uma moderna civilizagao de massa nao deveria ser assunto apenas do pessoal de laboratdrio, ainda que esta contri- buigdo seja realmente decisiva. Felizmente, no estamos comecando a partir de rascunhos. Um trabalho consideriivel j4 foi executado sobre 0 assunto, no Brasil, {ndia e em outros paises, ¢ muito mais esta sendo conclufdo, © semina- rio do Rio de Janeiro foi preparado para pas- sar em revista a pesquisa brasileira sobre 0 uso da biomassa ¢ comparé-la com as experiénei- as da india" e de outros paises. A escolha da data € local é simbélica, O encontro ocorre simultaneamente 4 Conferéncia da Academia de Ciéncias do Terceiro Mundo e suas con- clusdes serio apresentadas a seus notérios re- 41 Idias Sustentiveis presentantes, na esperanga de que incentiva- tio ativamente a cooperacio da South-South em torno do tema da moderna civilizagio de biomassa. Finalizando, reafirmo minha forte crenga de que 0 progresso nesta direcio pode auxi- liar os paises em desenvolvimento na inven- io de seus padrdes endégenos de desenvol- vimento mais justos e, 20 mesmo tempo, com maior respeito pela natureza. O controle do potencial de biomassa nos trépicos da 20s cientistas do Terceiro Mundo a oportunida- de de pular etapas, na frente dos paises indus- trializados. E. ao praticarem o aproveitamen- to racional da natureza os paises tropicais es taro contribuindo para um gerenciamento global inteligente da biosfera. Como foi ex- posto em um relatério recente, o Brasil ¢ outros paises tropicais tém todas as condi- 6es de se tornarem exportadores da susten tabilidade,"* transformando 0 desafio ambiental em uma oportunidade. 42 Notas 1 Tomo emprestada a expressio usada no excelente livro de Madhav Gadgil e Ramachandra Guba, 1995, Ecology and Equity The use and abuse of ature in contemporary India, Nova Delhi: Penguin Books. Os autores contrastam os povos dos ecossistemas com 0s “omnivoros”, que tendem a desapropriar € ex- pulsar os primeiros, para satisfazer sua ansia consumista. Ver também, dos mesmos autores, 1993, This Fissured Land — An Ecological History of India Delhi: Oxford University Press. 2 Invengio & a palavra certa, por necessitarmos de no- vas solugdes e no de transposigio mimica de so- lugdes desenvolvidas para outros ambiences sociocultursis-naturais. Ver MENDES, Armando Dias, 1977, Invengdo da Amazénia. Manaus: Edito- ra da Universidade do Amazonas. A énfase no de- senvolvimento endégeno nao deveria ser confun- dida com a falta de interesse em se beneficiar da experiéncia de outros povos 3 A ecologia moderna assemetha-se cada ver. mais & Histdria Natural Para uma interpretagio interessante, ver Botkin, D. B, 1990, Discordant Harmonies: A New Ecology forthe 21st Century. Oxford University Press. ‘Também, Lattére Catherine & Larrére Raphaél, Du bon usage de la nature ~ pour une philosopbie de environnement. Pati: Aubier, 1997. 3 Tdéias Sustentiveis, 4 Conforme enfatizado por C. ¢ R. Larrére (op. cit), este aproveitamento € subsidiado pela ecologia € as técnicas nele empregadas sio reguladas por ptin. ipios éticos 5 Ver Sachs, I. (em colaboragio com D. Silk), 1990, Food and Energy: Strategies for Sustainable Development. ‘Téquio: United Nations University Press. 6 Ver Griffon, Me Weber, J, 1995, La résolution oublenent verte: économie et institutions, Seminixio URPA, Futuroscope de Poitier, 6 pigs., novembro de 1995. 7 A importancia de pular etapas seletivamente no pro- cesso de desenvolvimento tem sido corretamente enfatizada por José Goldemberg, 1996, Energy, Environment & Devlopment. Londees: Earthscan, que a define como a incorporagio precoce de tecnologias de alto nivel,por paises em desenvol- vimento. Goldemberg diz que... “apesar de sua atratividade, pulat etapas nao deveria ser considera- do como uma estratégia universal, porque algumas vezes 0s produtos ¢ tecnologias necessirios nio estio disponiveis nos paises em desenvolvimento, ou no sio exatamente adequados as suas necessi- dades” (p. 81). Eu proporia que 0 conccito de pular tapas seja expandido, de modo a incluir as inova- s6es originais obtidas pelos paises em desenvolvi- ‘mento antes que os paises industrializados, através da concentragio das pesquisas em t6picos selecio- rnados como os mais importantes. 4 Ignacy Sachs 8 Para uma discussio das solugSes com “vit6rias tri plas”, ver Sachs, 1, 1995, Searchingfor New Development Stratgies ~ The Challenges of Socal Summit, além dos demais artigos elaborados para o Encontro Mundi- al para o Desenvolvimento Social, em Copenha- gue, UNESCO, Paris, 6a 12 de margo de 1995. 9 Sérgio Buarque de Holanda, 1996, Raizes do Brasil. Sio Paulo: Companhia das Letras, p31: tiva de implantagio da cultura européia em extenso tertitério, dotado de condigdes Aaturais, se no ad- arent. vversas, largamente estranhas i sua tradigao milenar, é, nas otigens da sociedade brasileira, 0 fato domi- rnante ¢ mais rico em conseqiténcias... O certo € que todo o fruto de nosso trabalho ou de nossa preguica parece participar de um sistema de evolu- io proprio de outro clima ¢ de outra paisagem...” 10 Paca uma anilise interessante sobre o tropicalismo de Gilberto Freyre, ver 0 ensaio de Samuel Benchimol, 1996, “Borealismo Ecolégico ¢ Tropicalismo Ambiental”, in Clodovaldo Pavan (cootd.) Una Estratigi Latine-Americana paraa Ana ‘ginia, MMA/ Memorial; Sio Paulo: Ed. UNESP, p. 345-349, volume 2. Para uma avaliaco geral do tra- balho de Gilberto Freyre, ver Darcy Ribeiro, 1997. Gentidades, Porto Alegre: L&.PM, p. 7-89 11 Agenda 21 para a Amagénia ~ Base para Discusses, Ministério do Meio Ambiente, Recursos Hidricos ¢ Amazénia Legal, Secretaria de Coordenagio dos nia, Brasilia, margo de 1997. 45 eT 12.A Regio Amazénica engloba muitos ecossistemas. Aziz N. Ab’Saber esti certo em insisticna necessida de de se considerat os problemas emergentes de cada uma das 27 sub-tegides. Ver as suas contribuigbes em Brazilian Perspectives on Sustainable Development of the Amazon Region, editado por M. Chisener-Godt ¢ I. Sachs, UNESCO-Parthenon, Paris-Camnforth-Nova Torque, 1995. p. 287-303, e Uma Estratigia Latino-Ame- ‘cana para a Amarénia op. cit), volume 3, p. 56-105, 13 Large Seal Bisphere-Atmosfre Experinent in Amazonia (LBA) ~ Concise Experimental Plan, INPE, Cacho- ica Paulista (SP), abril de 1996. 14 Além dos artigos preparados para este seminitio pelo Professor Shukla e por Vinicius Nobre Lages, 08 dois livros a seguir merecem atengio especial Ravindranath, N. H. ¢ Hall, D. ©, 1995, Biomass, Energy and Environment — A Developing Country Perspective from India. Oxford University Press, (Oxford-Nova lorque-Téquio, e Venkata Ramana, P. € Srinivas, S. N. (edit), 1997, Biomass Energy Systems — Anais da Conferéncia Internacional em 26-27 de fevereiro de 1996, Nova Delhi, Tata Energy Research Institut. 15 IPE.A, 1997, O Brasi'na Virada do Milinio~ Teoria do Crescinento« Desafos do Desenvolinenta Brasilia: [PEA, p. 156-158, julho de 1997. 2 Pensando sobre o Desenvolvimento na Era do Meio Ambiente Do aproveitamento racional da nature- za para a boa sociedade* Desenvolvimento e direitos humanos alcan- saram proeminéncia na metade do século, como duas idéias-forga destinadas a exorcizar as lembrangas da Grande Depressio e dos horrores da Segunda Guerra Mundial, forne- cer os fundamentos para o sistema das Na- des Unidas ¢ impulsionar os processos de descolonizacao. A onda da conscientizagio ambiental é ain- da mais recente — embora ela possa ser parcial- * Antigo preparado para 0 5* Encontro Bienal da Intemational Society for Ecological Economics: “Beyond Growth: Policies and Institutions for Sustainability”, San- tiago, Chile, 15 2 19 de novembro de 1998, 47 dias Sustentiveis mente atribuida a0 choque produzido pelo lan amento da bomba atomica em Hiroshima ¢ a descoberta de que a humanidade havia alcan- gado suficiente poder técnico para destruir even- tualmente toda a vida do nosso planeta, Para- doxalmente, foi a atertissagem na Lua - outro feito técnico e cientifico grandioso — que des- pertou a reflexio sobre a finitude do que entio era denominado Espaconave Terra, A opinitio publica tomnou-se cada vez mais consciente tanto da limitagio do capital da naturega quanto dos petigos decorrentes das agressdes 20 meio ambiente, usado como depésito. ‘A Conferéncia das Nagdes Unidas sobre © Ambiente Humano, de 1972, ocortida em Estocolmo, colocou a dimensio do meio am- biente na agenda internacional. Ela foi pre- cedida pelo encontro Founex, de 1971, implementado pelos organizadores da Con- feréncia de Estocolmo para discutir, pela pri- meira ver, as dependéncias entre o desenvol- vimento € 0 meio ambiente, e foi seguida de uma série de encontros ¢ relatérios internaci- onais que culminaram, vinte anos depois, com © Encontro da ‘Terra no Rio de Janeiro. A Revolucéo ambiental (Nicholson) teve con- seqiiéncias éticas e epistemolégicas de longo 48 Ignacy Sachs alcance, as quais influenciaram © pensamento sobre 0 desenvolvimento. A ética imperativa da solidariedade sincrénica com a geragio atual somou-se a solidatiedade diacténica com as geragées fu- turas e, para alguns, o postulado ético de res- ponsabilidade para com o futuro de todas as espécies vivas na Terra, Em outras palavras, 0 contrato social no qual se baseia a governabilidade de nossa sociedade deve ser complementado por um contrato natural (Michel Serres), As conseqiiéncias epistemolégicas so, tal- vez, ainda mais contundentes, Francisco Sagasti argumenta que 0 paradigma basico do pensa- mento cientifico, herdeito de Bacon e Descar- tes, chegou ao fim no que concerne 4 preten- sio de dominar a natureza.' Estamos também, cada vez mais, tendo outros pensamentos so- bre a barganha faustiniana, a crenga ilimitada nas virtudes do progresso técnico. A ecolegizagio do pensamento (Edgar Moin) nos forga a expandir nosso horizonte de tem- po. Enquanto os economistas estio habitua- dos a raciocinar em termos de anos, no méxi- mo em décadas, a escala de tempo da ecologia se amplia para séculos milénios, Simultane- 49 Idéias Sustentiveis, amente, é necessdtio observar como nossas ages afetam locais distantes de onde aconte- ‘com, em muitos casos implicando todo o pla- neta ou até mesmo a biosfera. ‘A ecologia moderna desistiu dos modelos de equilibrio, emprestados da economia, para se tornar uma historia natural que abatca cen- tenas de milhares de anos. ‘Toda a historia da humanidade, muito mais curta, deve conse- qiientemente ser reexaminada em termos da integtagio entre as duas, tendo 0 conceito de co-evolucio como categoria central, B iréni- co que, em um momento em que a seta do tempo atravessa todas as disciplinas cientifi- cas, a economia, cuja origem esti entrelagada com a hist6ria, vai em sentido contritio. Nao é de admirar que tenha se tornado uma cién- cia sombria. Para além do Crescimento Econémico Durante a preparagio da Conferéncia de Estocolmo, duas posigdes diametralmente ‘opostas foram assumidas, pelos que previam abundancia (the cornucopians) e pelos catastrofistas (doomsayer:). Os primeiros consideravam que as preocu- pages com o meio ambiente eram descabi- 50 Ignacy Sachs das, pois ateasai dos paises em desenvolvimento rumo & in- dustrializagio para alcangar os paises desen- volvidos. Em grande escala, o meio ambiente m e inibiriam os esforgos nfo era uma preocupagio de peso para as pessoas ricas ¢ ociosas. A prioridade deveria ser dada 4 aceleragio do crescimento. As externalidades negativas produzidas nesse tumo poderiam ser neutralizadas posterior- mente, quando os paises em desenvolvimento atingissem o nivel de renda per capita dos pai- ses desenvolvidos. O atinnitmo epistemoligico era popular entre politicos de direita ¢ de esquer- da: solugées técnicas sempre poderiam ser con- cebidas para garantir a continuidade do pro- gresso material das sociedades humanas. Do lado oposto, os pessimistas anuncia- vam 0 apocalipse para o dia seguinte, caso 0 ctescimento demogrifico ¢ econdmico ~ ou pelo menos o crescimento do consumo ~ no fossem imediatamente estagnados. Ao final do século, a humanidade poderia encarar a triste alternativa de ter que escolher entre o desapa- recimento em conseqiiéncia da exaustio dos recursos ou pelos efeitos cadticos da poluicao. Alguns desses pessimistas eram malthusianos. Para eles, a perturbagio do meio ambiente era conseqiéncia da explosio populacional, como 51 Tdias Sustenciveis se 0 numero de nao-consumidores — a maio- sia pobre — importasse mais do que o consu- mo excessivo da minoria abastada, No encontro de Founex e, mais tarde, na Conferéncia de Estocolmo, ambas as posigdes extremas foram descartadas. Uma alternativa média emergiu entre 0 economicismo arto- gante ¢ 0 fundamentalismo ecolégico. O cres- cimento econdmico ainda se fazia necessario. ‘Mas ele devetia ser socialmente receptivo € implementado pormétodos favoraveis 20 meio ambiente, em vez de favorecer a incorporagio predatéria do capital da natureza a0 PIB. [A rejeigio 4 opgio do cresimento zero foi ditada pot dbvias razdes sociais. Dadas as disparidades de reccitas entre as nades € no interior delas, a suspensio do crescimento es- tava fora de questio, pois isso deterioraria ain da mais a ja inaceitavel situagio da maioria pobre. Uma distribuicio diferente de proprie- dade ¢ renda era certamente necessaria. Esta era uma tarefa politicamente dificil, mesmo em condigdes de crescimento relativamente rapido, ¢ provavelmente impossivel em sua auséncia. Por outro lado, a conservagio da biodi- versidade nao pode ser equacionada com a 52 Ignacy Sachs opgio do ndo-uso dos recursos naturais ptecipuos. Por importante que seja, a institui- lo das reservas naturais é apenas um instru- mento das estratégias de conservagio. O con- ceito de reservas de biodiversidade da UNESCO- MAB nasceu da compreensio de que a conser- vagio da biodiversidade deve estar em har- monia com as necessidades dos povos do ecossistema (M.Gadgil, R. Guha). De modo geral, o objetivo deveria ser o do estabelecimento de um aproveitamento racio- nal ¢ ccologicamente sustentavel da natureza em beneficio das populagdes locais, levando- as a incorporar a preocupagio com a conser- vagio da biodiversidade aos seus proprios in- tetesses, como um componente de estratégia de desenvolvimento. Dai a necessidade de se adotar padrdes negociados ¢ contratuais de gestiio da biodiversidade.? O paradigma do caminho do meio, que emer- git: de Founex ¢ do encontro de Estocolmo, inspirou a Declaragio de Cocoyoc, em 1974, ¢ 0 influente relatério What Now, em 1975, Este trata de um oxtro desenvolvimento, endégeno (em oposigio a transposig¢io mimética de paradigmas alienigenas), auto-suficiente (em vez de dependente), orientado para as necessi- dades (em lugar de direcionado pelo merca- 53 Idéias Sustentiveis do), em harmonia com a natureza ¢ aberto as mudancas institucionais? Quer seja denominado ecodesenvolvinentoon. desenvolvimento sustentivel, a abordagem fundamentada na harmonizagio de objeti- vos sociais, ambientais e econdmicos nio se alterou desde 0 encontro de Estocolmo até as conferéncias do Rio de Janeiro, ¢ acredito que ainda é vilida, na recomendagio da uti- lizacio dos oito critérios distintos de sustentabilidade parcial apresentados no Anc- xo 1. A ctitica a0 crescimento selvagem € a ani- lise de seus custos sociais e ambientais esti- mularam uma extensa literatura ¢ a formula io de importantes conceitos, como throughput* ¢ perverse growth (crescimento perverso),’ como também a reinterpretagio do conceito mar- xxista de faws< frais (falsos custos) ou na concep- gio de George Bataille fa part mandite (ado maldito) (rendimento desperdigado e riqueza estéril). Mesmo aqueles dentre nds que considera que o crescimento, devidamente reformulado em relagio a modalidades € usos, é condigio necesséria para o desenvolvimento, aprende- ram a distinguir entre os padrdes de aprovei- 54 Ignacy Sachs tamento de recursos ¢ o crescimento que leva a0 verdadeiro desenvolvimento, 20 contritio daqueles que sustentam o mau desenvolvimen- to ou até mesmo, em casos extremos, 0 retro- cesso (ou involugio). De maior portincia, pelo lado positivo, foi a intensa reflexdo sobre as estratégias de economia de recursos (urbanos ¢ rurais) ¢ so- bre o potencial para a implementacio de ativi- dades direcionadas para a evvsfiénca e para a produtividade dos recursos (reciclagem, apro- veitamento de lixo, conservagio de energia, gua e recursos, manutengio de equipamen- tos, infra-estruturas e edificios visando & ex- tensio de seu ciclo de vida).$ Para além do Mercado ‘A Histéria nos pregou uma pega cruel. O desenvolvimento sustentavel é, evidentemen- te, incompativel com o jogo sem restrigdes das forgas do mercado. Os mercados so por demais miopes para transcender os curtos pra- zos (Deepak Nayyar) ¢ cegos para quaisquer consideragdes que nao sejam luctos ¢ a efici- éncia smithiana de alocagio de recursos. Em um excelente livro sobre as virtudes ¢ limita- Ges dos mercados,’ Robert Kuttner demons- trou que a eficiéncia smithiana raramente anda 55 i i I) Hi Iaéias Sustentiveis junto com a eficiéncia keynesiana, direcionada para a plena utilizacio do potencial de produ- ‘do, ¢ a eficiéncia schumpeteriana relativa & inovagao tecnologica. Se agregarmos a cstas trés a ecoeficiéncia, a busca simultinea para ‘uma quarta solicitagio de extensiva regulamen- tagio do mercado iri requeter algum tipo de intervencio ¢ planejamento por parte do Es- tado. Ainda assim, a revolugio ambiental co- incidiu com a contra-revolugio neoliberal ¢ 0 ressurgimento do mito do laissez-faire. O livro de Kuttner é valioso porque mos: tra que nem tudo esta d venda, 20 mesmo tempo em que procura um equilfbrio entre 0 merca- do, o Estado e a sociedade civil, consideran- do as instituigdes externas ao mercado como necessirias para fiscalizar ¢ corrigit os seus excessos e deficiéncias. Creio que ele define as perspectivas cortetas para o re dimensionamento das economias mistas e, ‘20 mesmo tempo, para a reabilitagiio do pla- nejamento, uma ferramenta indispensivel para projetar e promover estratégias de de- senvolvimento sustentavel. Subsidios bem dimensionados podem ter ‘um importante papel na promogio de padroes de aproveitamento de recursos sustentiveis. No momento, entretanto, a maior parte dos 56 Ignaey Sachs subsidios esti mal direcionada. Os subsidios as combustiveis fésseis, energia nuclear, trans- porte rodoviatio e pesca tém um efeito per- verso devastador.* Os complexos assuntos referentes 4 ges- tio dos “bens internacionais” e outros itens do “patriménio comum da humanidade” merecem uma alta prioridade, Para muitos de nés, deve ser evitada a atribuigao de va- lores comerciais a esses recursos, assim como © escopo de res communis deve ser ampliado para incluir os grandes blocos do conheci- mento tecnoldgico. Os acordos recentes sobre propriedade intelectual tém caminha- do no sentido contratio, constituindo, con seqiientemente, severo retrocesso para os paises em desenvolvimento. Por outro lado, alguns neoliberais chegam ao ponto de pro- por aliberagio da mio invisivel do merca- do, privatizando todo o capital da natureza € dos servigos do ecossistema para entio usé-lo como garantia para a emissio de titu- los, numa espécie de curral global? Provavel- mente, essa loucura foi incentivada pela re- cente ¢ totalmente inverossimil tentativa de atribuir valor aos servigos do ecossistema mundial ¢ a0 capital da natureza." Espera- mos que isso no vingue. 57 Idi Sustenciveis Para além da separagao Norte-Sul O desenvolvimento sustentivel é um desa- fio planctirio. Ele requer estratégias comple- mentares entre o Norte ¢ 0 Sul." Evidente- mente, os padrdes de consumo do Norte abas- tado sio insustentaveis, O enverdecimento do Norte implica uma mudanga no estilo de vida, Jado a lado com a revitalizacio dos sistemas tecnolégicos. No Sul, a reprodugdo dos padrdes de con- sumo do Norte em beneficio de uma pequena minoria resultou em uma apartacio social. Na perspectiva de democratizagio do desenvolvi- ‘mento, o paradigma necessita ser complemente mudado. Por principio, o Sul poderia ter evita- do alguns dos problemas que estamos atra- vessando no Norte se tivesse pulado etapas em diregio a economia de recursos, orientada para os servigos e menos intensamente mate- tializados, em prol do meio ambiente e da ele- vagio do padrio de pobreza." No entanto, é improvavel que isso aconte- ga sem sinais claros de mudangas no Norte em relagio ao efeito demonstrative dos seus padrdes de consumo sobre a populagio do Sul, maximizados pelos processos de globalizagio em Ambito cultural. 58. Ignacy Sachs ‘Além disso, 0 Norte deveria assumir 0s es- forcos para a provisio dos recursos necessiti- 0s a0 financiamento da transi¢ao do planeta para um desenvolvimento sustentavel, princi- palmente porque o total de recursos envolvi- dos é relativamente limitado. Seria suficiente que os paises industrializados transferissem, por meio de assisténcia social, 0,7% de seu PIB. Apesar de esta modesta meta ter sido re- afirmada na Cipula da Terra, o IDH tem cai do, desde entio, a um nivel sem precedentes. A Conferéncia Rio+5 nao teve sucesso em reverter esta tendéncia adversa. A separagio. Norte-Sul é to enorme como sempre ¢ as perspectivas sio sombrias. ‘A ONU tem tido um sucesso proeminente na promogio da conscientizagio ambiental, incorporando-a ao conceito de desenvolvimen- to multidimensional. Nos 20 anos decorridos entre as conferéncias de Estocolmo ea do Rio, alcangou-se um substancial progresso em ter- mos da institucionalizagio do interesse pelo meio ambiente, com o lanamento do Progra- ma do Meio Ambiente da ONU e com o avan- 0 na protecio do meio ambiente global por uma série de tratados internacionais. Como tentei mostrar, o pensamento sobre o desen- volvimento tem sido totalmente transforma- 59 Idéias Sustentiveis do. Ainda assim, o process chegou a parar ¢ até a se reverter, em um momento em que seria necessério um grande passo A frente para dar configuragdes concretas Agenda 21. Che- gou 0 momento de retomar estes temas ¢ in- serir novamente na agenda de separacio Nor- te-Sul. Ao mesmo tempo, pode valer a pena ias-forca menciona: das no inicio deste artigo, reconceitualizando- colocar juntas as duas id se 0 desenvolvimento como apropriagio efe- tiva de todos os direitos humanos, politicos, sociais, econdmicos ¢ culturais, incluindo-se af o direito coletivo a0 meio ambiente. Para além da economia ecolégica Para concluir, faz-se necessatio algumas pa- lavras sobre a ciéncia sombria. Mais do que nunca, precisamos retornar A economia politica, que é diferente da economia, e a um planeja- mento flexivel negociado ¢ contratual, simul- taneamente aberto para as preocupagées ambientais ¢ sociais. E necessaria uma combi nacdo vidvel entre economia e ecologia, pois as ciéncias naturais podem descrever o que € preciso para um mundo sustentavel, mas com- pete as ciéncias sociais a articulagio das estra- tégias de transi¢ao rumo a este caminho.” As- sim, confesso que tive algumas dificuldades 60 Ignacy Sachs com a economia ecolégica, em razio da au- séncia de simetria entre as dimensdes ecologi- cas € sociais, ainda que muitos economistas ecolégicos tenham uma agenda social mais ou menos explicita, William Kapp, cujo trabalho pioneiro sobre custos sociais e ambientais de empresas privadas tem sido a maior fonte de inspiragio para muitos de és, estava prova- velmente certo a0 postular o nascimento de uma nova disciplina: a eo-sévio-economia, or Notas 1 Sagasti, F, 1997, The Thilight of the Baconian Age ‘Agenda Peru: Lima 2 Ver Laréde, C. R., 1997, Du bon nsage de la nature. Paris: Aubier; Singh, S., 1998, “Biodiversity Conservation Through Ecodevelopment. Planning and Implementation: Lessons feom India” in Aragon, L.E.¢ Cliisener-Godt, M. (edit), Resertas da Biosfera ¢ Reservas Extrativisas: Conservacio da Biodiversidade ¢ Exo-Desenvolimento, Belém: UNAMAZ-UNESCO, p. 21- 90; Sachs, 1, Negocated and Contractual Management of Biodiversity, artigo apresentado na Segunda Confe- réncia Internacional da European Society for Ecological Economics, Genebra, 3-4 de marco, 1998. 3 Ver IVhat Now, 1975, relatério de Dag Hammarskjéld sobre desenvolvimento e Development Dialga, ni mero 1-2, Uppsala, 4 Ver oimportante livro de Ayses, R. U, 1998, Turning Point ~ The Ennd to the Growth Paradigm. Londres: Earthscan Publications, 5 Tenho utilizado este termo em referéncia a0 cresci- ‘mento que nao leva a0 desenvolvimento sustenti vel, com uma conotagio um pouco diferente do termo uneconomic growth ( crescimento nio-econd- ico) usado por Herman Daly. 6 Ver: Ayres, R. U. (0p. ait) , Von Weizsicker, E., Lovins, E. B, 1997, Factor FourDouhng Wealt, Haling 62 Ignacy Sachs Resource Use, The New Report to the Club of Rome, Londres: Barthscan; Sachs, W., Loske, R., Linz, M., 1998, Greening the North — A Post-Industrial Blueprint ‘for Ecology and Equity, Londtes e Nova lorque, Zed Books. Tenho mostrado, em outros lugares, que es- sas atividades correspondem ao conceito de M, Kalecki de norrinvestment sources of growth (Fontes de crescimento sem investimentos) ~ a redugio da taxa de depreciagao real e uma melhor utilizaco da capacidade produtiva existente, Muitas dessas ativi- dades sio autofinancidveis em termos macto- econdmicos geacas a economia de recursos. Ver Sachs, IL, 1999, “L’économie politique du développement des economies mixtes selon Kalecki: croissance titée par lemploi”, in Mondes en Développement 0 prelo). 7 Kutiner, R., 1997, Everything for Sale ~ The Virtues and Limits 0 Markets. Nova Torque: Alfted Knopf. 8 Myers, N,, 1998, “Lifting the Veil on Perverse Sub- sidies”, in Nature, vol. 392, 26 de marco de 1998. 9 Ver Chichitnisky, G. e Heak, G., 1998, “Economies returns from the biosfere”, ix Nature, vol. 391, p. 629-630, 12 de fevereiro de 1998, 10 Costanza, R. ef af, 1998, “The value of the world’s ecosystem services and natural capital”, x Bcolgical Economies, n° 25, p. 3-15. 11 Pata maiores detalhes, ver Sachs, I., 1993, L Ecodéveloppeoent— Stratis de Transition pour k XXVT Silck. Patis: Syros, Publicado no Brasil in BURSZTYN, 63 Marcel (org), 1993, Para Pensaro Desenvoliimento Sas tentével Sto Paulo: Ed. Brasiliense. 12 Vide UNPD, 1998, Huma Development Report. Nova Torque. 13 Ver o interessante dossié Brindging “Economics and ecology”, in Natur, vol. 395, edigio 6701, p-415 € 426-434, 1° de outubro de 1998. 3 Gestaéo Negociada e Contratual da Biodiversidade’ Os povos tém prioridade maxima, como diria Michael Cernea (1986), ou, nos termos de John Friedmann (1996), os direitos dos povos a vida tém prioridade maxima, ‘A centralidade do meu argumento bascia- se no entendimento que o desenvolvimento €0 processo histérico de apropriagio uni- versal pelos povos da totalidade dos direi- tos humanos, individuais ¢ coletivos, nega- tivos (liberdade contra) e positives (liberda- + Bxcesido de Sachs, 1, Sava! Satanabiliy ad Whole Deveipmen, artigo preparado para a UNISCO.NOST, no projeto Sustainable Development as s Coneepe for the Social Sciences, do Institut fir Sozial-Okologische Forschung GmbH, Frankfurt, noverbro de 1996, Este projeto faz parte do Programme on Management of Social Transformations, da UNESCO, Idéias Sustentiveis, de a favor), significando trés geragdes de direitos: politicos, civicos e civis; sociais, eco- némicos € culturais; ¢ os direitos coletivos 20 desenvolvimento, ao meio ambiente ¢ a cidade (Bobbio, M., 1990 e Lafer, C., 1994). O decélogo de direito a vida, de Friedmana,’ passa por vitios direitos individuais e coleti- vos, fornecendo as bases para um novo con- trato so de dar atengio a outras reivindicagdes. Assim, nesta perspectiva, “.., 0 crescimento econémi- 0 no é mais tido como a procura cega de crescimento por si mesmo, mas como uma expansio das forgas produtivas da sociedade com 0 objetivo de alcangar os direitos plenos de cidadania para toda a populacio.” que o Estado deveria honrar antes, Isto concerne nio s6 as pessoas que nos sio contemporaneas, com as quais viajamos juntos na Nave-Terra, como também a todas as geragdes futuras (Rajni Kothari, 1998). A ecologizagio do pensamento, proposta por Edgar Morin, exige a expansio dos horizon- tes geogrificos, para englobar todo o planeta, sendo o universo, ¢ efetivamente refletir sobre © proceso de longa duragio do proceso glo- bal de co-evolucio de nossa espécie eo plane- ta em que vivemos, A ecologia moderna é em grande extensfo, uma andlise da interagio da 66 Ignacy Sachs histria natural com a histéria da humanida- de, como pode ser visto em Discordant Harmonies, de Botkin (1990). Estamos, portanto, na fronteira de um du- plo imperativo ético: a solidariedade sincrénica coma geracio atual e a solidariedade diacrOnica ‘coms geragdes futuras. Alguns, como Kothari, adicionam uma terceira preocupagio ética: 0 respeito pela inviolabilidade da natureza: “O respeito a diversidade da natureza e a responsa- bilidade de conservar essa diversidade definem © desenvolvimento sustentivel como um ideal ético. A partir da ética do respeito A diversidade do fluxo da natureza, emana o respeito a diver- sidade de culturas e de sustentagio da vida, base no apenas da sustentabilidade, mas também da igualdade e justiga” (Kothari, 1995:285). A conservacio da biodiversidade entra em cena a partir de uma longa e ampla reflexio sobre o futuro da humanidade. A biodi- versidade necesita ser protegida para garantir 0 direitos das futuras geragdes. Todavia, isso nio quer dizer que a protecio deva se concretizar exclusivamente em santué- tios invioliveis, mesmo sabendo-se que ha a necessidade de uma rede de éreas protegidas como parte imanente da gestio territorial, 67 dias Sustentiveis +A natureza selvagem, ow seja, a natureza sem pessoas, € um conceito muito presente no pensamento conservacionista americano. De qualquer modo, na maior parte do mun- do, é um mito, uma idealizagio das pessoas € povos da floresta (Diegues, A. C, 1996). O que acreditamos ser floresta virgem é uma realidade que tem sido profundamente altera- da e, por vezes, enriquecida pela presenca do homem, conforme documenta a pesquisa at- queoldgica na Regio Amazénica. Também devemos lembrar que vivem na india mais de 60 milhdes de pessoas em condicdes tribais. * A multiplicagdo de reservas sem os mei- os necessarios para a sua protecio efetiva é uma politica autoderrotada. As pessoas retira- das das reservas ou impedidas de nelas entra- rem para coletar os produtos florestais de que sempre dependeram consideram isso uma vi- olagio do seu direito a vida, Reagem invadin do essas reservas, que, deste modo, tornam-se em todos os sentidos Areas de livre acesso, res nulls presa facil da pilhagem. Tomando distancia do otimismo episte- molégico e da crenga ilimitada nas solugées tecnolégicas condensadas no escrito de Julian Simon, fico com Hubert Reeves, que diz que as pessoas sio “os produtos mais 68 Ignacy Sachs complexos ¢ de maior atuagio da natureza” (Reeves, 1990:147). A palavra atuagio de- nota, aqui, a capacidade de alterar significa- tivamente o meio ambiente para melhor ou para pior. Como espécie inteligente ¢ com notivel capacidade de adaptagio, deveria- mos ser capazes de criar uma economia de per- ‘manincia, como propdc J. C. Kumarappa, dis- cipulo de Gandhi, Na economia de perma- néncia, a satisfagio das genuinas necessida- des humanas, autolimitadas por principios que evitam a ganncia, caminha junto com 4 conservacio da biodiversidade. Uma simbiose entre 0 homem ¢ a natureza é, entio, alcancada (Michel Serres, 1990). Du- rante milénios, aprendemos a transformar ecossistemas naturais em campos ¢ jardins auto-sustentiveis quando geridos conveni entemente. Com a contribuicao da ciéncia contemporinea, podemos pensar em uma nova forma de civilizacio, fundamentada no uso sustentivel dos recursos renovaveis. Para © notavel cientista indiano M. S. Swaminathan, isto ndo apenas é possivel, mas essencial. A economia de permanéncia deveria estat afirinada na perenidade dos recursos, isto é, na habilidade de transformar os elementos 69 Idéias Sustentiveis do meio ambiente em recursos sem destruir © capital da natureza. O conceito de recurso cultural e histérico. E 0 conhecimento, pela sociedade, do potencial do seu meio ambien. te. O que hoje é recurso, ontem nao o era, ¢ alguns dos recursos dos quais somos depen- dentes hoje, sero descartados amanhij as- sim caminha o progresso técnico. Deveriamos confiar © maximo possivel no fluxo de renovagio dos recursos, Entretanto, capacidade de renovacio dos recursos — signi- ficando este termo o suporte basico da vida, ‘gua, solo e clima ~ requer uma gestio ecol6gi- ca prudente, pois no se trata de um atributo concedido de uma tinica vez, para sempre Em outras palavras, precisamos aprender como fazer um aproveitamento sensato da nature- zapara construirmos uma boa sociedade(Larréde C. & Larréde R,, 1997). A conservacao da biodiversidade € condigio necessitia do de- senvolvimento sustentivel, jé reconhecida pela “Rio-92” € inscrita na Convengio da Biodiversidade. E, reciprocamente, como ve- remos a seguir, o ecodesenvolvimento profes. sa.um caminho apropriado de conservacio da biodiversidade, provavelmente o mais apro- ptiado, 20 assumir a harmonizagao dos obje- tivos sociais ¢ ecolégicos. 70 Ignacy Sachs Algumas palavras sobre a sustentabilidade cabem aqui. Muitas vezes, 0 termo é utilizado para expressar a sustentabilidade ambiental. Creio, no entanto, que este conceito tem di- versas outras dimensdes. Deixem-me enu- meri-las, brevemente: ~ a sustentabilidade social vem na frente, por se destacar como a prdpria finalidade do desenvolvimento, sem coniar com a probabi- lidade de que um colapso social ocorra antes da catistrofe ambiental; —um corolitio: a sustentabilidade cultural; a sustentabilidade do meio ambiente ver em decorréncia; = outro corolirio: distribuigio territorial equilibrada de assentamentos humanos ¢ ati- vidades; ~ a sustentabilidade econdmica aparece como uma necessidade, mas em hipétese al- guma é condi¢ao prévia para as anteriores, uma ‘vez que um transtorno econémico traz consi- 0 0 transtorno social, que, por seu lado, obs- trui a sustentabilidade ambiental; = 0 mesmo pode ser dito quanto a falta de governabilidade politica, e por esta razio & berana a importincia da sustentabilidade poli- a] Idéias Sustentiveis tica na pilotagem do processo de reconcilia gio do desenvolvimento com a conservacio da biodiversidade; — novamente um corolério se introdu: sustentabilidade do sistema internacional para manter a paz — as guerras modernas sio no apenas genocidas, mas também ecocidas ~ ¢ pata o estabelecimento de um sistema de ad- ministracio para o patriménio comum da hu- manidade? a Passo, agora, 4 conservacao da biodi- versidade pelo ecodesenvolvimento. Sob esse nome, a india esté implementando diversos projetos em torno de reservas de ti: gres © em parques nacionais, com suporte ati vo do Global Environmental Fund — GER. Nesses projetos, o ecodesenvolvimento é de- finido como “uma estratégia para a protecio de Areas ecologicamente valiosas (éreas prote- gidas), em face de pressdes insustentaveis, ou inaceitiveis, resultantes das necessidades e ati- vidades dos povos que vivem nelas ou no seu entorno” (Singh, S., 1997:48). Este esforgo é feito em trés sentidos: — identificando, criando e desenvolvendo alternativas sustentaveis de recursos de biomassa ¢ renda; 72 Igoacy Sachs — envolvendo as pessoas que vivem no en- tomo das areas protegidas, nos planos de con- servagio ¢ na gestio da area; — cultivando a conscientizagéo da comuni- dade local quanto ao valor € & necessidade de protegio da frea, assim como aos padrées de sustentabilidade de um crescimento local apro- priado. © ecodesenvolvimento:requer, dessa ma- neira, 0 planejamento local e participative, no nivel micro, das autoridades locais, comuni- dades e associagdes de cidadios envolvidas na protecio da area. Para alguns autores mais tadicais, é necessario também o reconhecimen- to dos direitos legitimos aos recursos ¢ as ne- cessidades das comunidades locais, dando a estas um papel central no planejamento da pro- tecio e do monitoramento das areas protegi- das, permitindo uma interagio saudavel entre o conhecimento tradicional e a ciéncia moder- nna (Kothari ef al, 1995). ‘Também poderia citar as experiéncias pio- neiras em Madagascar € as pesquisas la conduzidas por Jacques Weber ¢ 0 grupo de pesquisa GREEN/CIRAD (Weber, J. 1994; Sachs, 1. & Weber, J, 1997), assim como o South- South Cooperation Programme on 73 Idéias Sustentiveis Environmentally Sound Socio-Economic Development in the Humid Tropics - UNESCO/MAB-UNU-TWAS-UNAMAZ. Este tltimo corresponde a trabalhos de ecodesenvolvimento das “zonas tampio”e das zonas de transi¢io das chamadas reservas da biosfera, onde sio admitidas atividades hu- ‘manas controladas. O que lé € vilido, aplica se a fortiori em situagGes nas quais as restrigdes ambientais sio menos rigidas. Além disso, a0 juntar pessoas que traba- Ihem em paises diferentes, onde prevalecem condigdes ecossistémicas similares, a vatii- vel meio ambiente pode, por assim dizer, ser colocada fora desses parénteses. O que per- manece dentro de parénteses é a diversidade cultural, Desse modo, as pesquisas sobre biodiversidade ¢ sobre diversidade cultural aptesentam-se intimamente articuladas. E de se esperar que tal programa possa ser repro: duzido em outros ecossistemas, algum dia, de modo a explorar mais sistematicamente a matriz ecossistemas/culturas. Lida hotizon. talmente, essa mattiz mostra a diversidade cultural nas respostas a desafios ambientais similares. Lida verticalmente, fornece-nos um insight da adaptabilidade de uma cultura a di- ferentes condigdes naturais. 74 Ignacy Sachs Muitos outros exemplos poderiam ser ci- tados, particularmente na india. O planeja~ ‘mento participativo tem sido experimentado em uma escala sem precedentes no Estado de Kerala, pioneiro em experiéncias de regis- tro de dados de biodiversidade do Panchayat, que iniciou-se em Karnathaka ¢ se estende por outros estados. Uma experiéncia comum é que o ecodesenvolvimento pode ser mais facilmen- te aleancado com o aproveitamento dos siste- mas tradicionais de gesto dos recursos, como também com a organizagio de um processo participativo de identificagao das necessida- des, dos recursos potenciais ¢ das maneiras de aproveitamento da biodiversidade como ca- minho para a melhoria do nivel de vida dos povos. Esse processo exige, obviamente, a ptesenga de advocacy planners de algum tipo, que atuem como facilitadores do processo de ne- gociagio entre os stakebolders (atores envolvi dos) — populagio local e autoridades ~ subsi diado por cientistas, associagSes civis, agentes econémicos pablicos e privados. Geralmente, essas negociagdes so dolorosas devido aos interesses antagdnicos, como demonstra um recente estudo sobre os desafios 20 desenvol- vimento sustentivel de base comunitaria, De 75 Idéias Sustentiveis, qualquer modo, elas representam um bem-vin- do ponto de partida para o despertat de abor. dagens sobre a gestio ambiental (Leach, M. ef af, 1997). O Sxito est, todavia, na necesséria trans- formacio dos resultados da negociagio em tum contrato entre os stakeholders, Podemos falar, entio, em uma gestio negociada e contratual dos recursos, pedra fundamental para qualquer de- senvolvimento sustentavel? Uma condigio importante é garantir que, ¢fetivamente, a populagao local receba uma fatia dos beneficios resultantes do aprovei- tamento de seus saberes ¢ dos recursos ge- néticos por ela coletados, que devem set pro- tegidos da biopirataria, Esta é uma condi- io de alta relevincia. A evolugio de todo debate sobre a propriedade intelectual tem, como sabemos, pendido para o lado errado. Esta questio influenciara muito na implementagio da Convengio da Biodi- versidade. A abordagem negociada ¢ participativa é crucialmente importante em areas sensivcis, como as florestas tropicais, Mas pode, tam- bém, ser frutiferamente aplicada no contexto das economias desenvolvidas. 76 Ignacy Sachs Um exemplo interessante é dado pelos 33 Parques Naturais Repionais da Franca, os quais cobrem aproximadamente dez por cento do territétio nacional e contam com uma populacio superior a meio milhio de habi- tantes, distribuida em 2.700 comunidades. Este nome é enganoso, de certa forma, visto serem microrregides com ecossistemas fra- geis e/ou com importante heranga natural ou histérica cujos habitantes negociaram entre sium acordo definindo os objetivos do de- senvolvimento ¢ as modalidades de implan- tagio. Os acordos sio negociados, por peri- odos de dez anos, entre os representantes das comunidades, departamentos ¢ regides, com a participagio das organizagées de cidadaos. Um érgio misto formado pelas comunida- des interessadas no parque é incumbido da sua gestio. No ano passado, esses parques celebraram 30 anos de existéncia. Podem ser vistos como os predecessores do ecodesen- volvimento,’ se considerarmos o importante papel assumido neles pelas organizagées de cidadios. A questio agora é como lucrar com a experiéncia acumulada na administragio contratual participativa, em Areas nfo reco- nhecidas como parques nacionais. Um passo nessa dire¢io pode ser dado mediante con- 77 Idéias Sustentiveis, tratos co-assinados por diversas comunida- des. Para concluir, a abordagem negociada contratual vai além da gestio da biodiversidade. Argumentei, em outras situagdes, que ela pode vir a ser a pedra fundamental de um caminho do meio dos regimes democriticos, como res- posta criativa para a atual crise de paradigmas = 0 colapso do socialismo real, o enfraqueci- mento do Estado do bem-estar (welfare states) ¢ © nfio-cumprimento das promessas da contra- revolugio neoliberal (Sachs, I., 1998). Mas isso a € outra histér 78 Notas 1 Parto ausiliado profissionalmente, um espaso segu- 0 de vida, uma dieta adequada, atendimento mé co acessivel, educagio boa pritica, participagio politica, uma vida economicamente produtiva, se- ‘guro contra desemprego, uma velhice digna, um funeral decente (iedmann, J p.169, 1996) 2 Os critétios de sustentabilidade estio descritos no. Anexo 1 3 Estou de pleno acordo com M. Jollivet ¢ a, 1997, no que foi escrito em um editorial intitulado Toward ‘a negociated Development?: “.. A era da passagem forcada da decisio do poder politico em nome do progresso pela técnica esti terminada, Pode haver desenvolvimento se as vias no estio consentidas? Pode haver consentimento se no ha dislogo, e dia logo se nao ha compromisso? Estamos indo para 0 fim da soberania implicita (no sentido literal, ou seia, politico, do termo) da técnica, que a associa, de fato, as formas de autoritarismo politico desem- penhados no quadro da democracia? Um desen- volvimento sustentivel nao é fundamentalmente um desenvolvimento ‘negociado’ 4 Ver, particularmente, o seu manifesto Pares Naterelt Rigionarcx, 997, apresentado em junho de 1997 por casio das festividades do seu trigésimo aniver- 79 Referéncias bibliogréficas BOBBIO, N. 1990, 1-E1é det Dirt, Trim: Giulio Bina Editor. BOTKIN, DB, 1990, Dinondont Harmonies: A New Exolagy Jor the 20° Carter. Oxford: Ontord University Pres. CERNEA, MM, 9* ed), 1986, “Putting People First Sociological Vaviables”. 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Ecolégica: ~ pteservacio do potencial do capital natu reza na sua produgio de recursos renovaveis; - limitar 0 uso dos recursos nio-renovaveis; 4, Ambiental: - respeitar ¢ realcar a capacidade de autodepuracio dos ecossistemas naturais; Territorial: — configuracdes urbanas e rurais balancea- das (climinagao das inclinagdes urbanas nas alocagdes do investimento piiblico); —melhoria do ambiente urbano; —superagio das disparidades inter-regionais; —estratégias de desenvolvimento ambiental- mente seguras para areas ecologicamente frdgeis (conservacio da biodiversidade pelo ecodesenvolvimento). 6. Econémico: = desenvolvimento econdmico intersetorial equilibrado; = seguranga alimentar; — capacidade de modernizacio continua 86 Ignacy Sachs dos intrumentos de produsio; razoavel nivel de autonomia na pesquisa cientifica € tecnolégica; — insergio soberana na economia interna- cional. Politica (nacional): — democracia definida em termos de apro- priagio universal dos direitos humanos; — desenvolvimento da capacidade do Estado para implementar 0 projeto nacional, em parceria com todos os empreendedores; — um nivel razoavel de coesio social. Politica (internacional). ~ eficicia do sistema de prevengio de guer- ras da ONU, na garantia da paz e na pro- mogio da cooperacio internacional; — um pacote Norte-Sul de co-desenvolvi- mento, baseado no principio de igualda- de (regras do jogo e compartilhamento da responsabilidade de favorecimento do parceiro mais fraco); — controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro e de negécios; — controle institucional efetivo da aplicagio do Principio da Precaugio na gestio do 87 meio ambiente ¢ dos recursos naturais; prevengio das mudancas globais negati- vas; protegio da diversidade biolégica (¢ cultural); e gestio do patriménio global, como heranga comum da humanidade; —sistema efetivo de cooperacio cientificae tecnolégica internacional e eliminacio par- ial do carater de commodity da ciéncia e tecnologia, também como propriedade da heranga comum da humanidade. Anexo 2 Biografia Sintética de Ignacy Sachs Ignacy Sachs nasceu em Varsévia, Polonia, em 1927 e desde 1971 cidadio francés. Vi- veu parte de sua juventude no Brasil, onde realizou seus estudos secundirio no Lycée Pasteur, em Sao Paulo, e universitérios na Fa- culdade de Ciéncias Politicas e Econémicas do Rio de Janeiro, Entre 1954 ¢ 1957 foi pes- quisador do Instituto Polonés de Assuntos Internacionais e professor da Escola Central de Planejamento ¢ Estatistica e da Universida- de de Varsévia. Viveu na India entre 1957 e 1960, onde doutorou-se em economia pela Universidade de Delhi, em 1961, Retornando 4 Polonia, foi professor na Escola Central de Planejamento Estatistica de Varsdvia e dire- tor do Centro de Pesquisas em Economias Subdesenvolvidas, na mesma cidade, até 1968. Desde entio, é diretor de pesquisa da Ecole 89 aes Idéias Sustentiveis des Hautes Ftudes en Sciences Sociales, em Paris, ocupando a catedra de pesquisas interdisciplinares sobre o planejamento do de- seavolvimento, Entre 1973 € 1985 foi diretor doCIRED— Centre International de Recherche sur "Environnement et le Développement. De 1985 a 1996, foi diretor do CRBC ~ Centre de Recherches sur le Brésil Contemporain, como tesponsavel pelo doutorado em Pesquisas Comparativas sobre 0 Desenvolvimento na ‘Maison des Sciences de l'Homme ¢ editor do Cahiers du Brésil Contemporain, Atualmente é diretor de pesquisa emérito da Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales ¢ co-dire- tor do CRBC. Bimpossivel arrolar todos os acontecimen- tos envolvidos na vida de Ignacy Sachs, na sua determinagio de fazer progredir 0 debate in- tetnacional do desenvolvimento sustentavel — que, aliis, esta intimamente atado a influéncia dos seus ensinamentos, desde 0 seminatio in- ternacional de Téquio sobre os Desafios das Ciéncias Sociais em Face do Meio Ambiente, em 1970, Em rapidas pinceladas, Ignacy Sachs foi assessor chefe do secretariado geral da ‘Nagées Unidas nos preparativos da Confe- réncia de Estocolmo, em 1972, ¢ deste mesmo. lugar participou das conferéncias de Founex ¢ 90 Ignacy Sachs Cocoyoe, assim como das diversas conferén- cias regionais sobre meio ambiente ¢ desen- volvimento. Neste processo, ditigiu, em 1972, a missio CEPAL/PNUD pata elaboragio de um plano de desenvolvimento de longo prazo do tertitério amazOnico no Peru, Em 1973 parti- cipou da organizagio da unidade de meio ambiente da CEPAL. Entre 1974 ¢ 1976 cola- borou para a implantacio do Centro de Ecodesenvolvimento do México. Em 1976 re- digi 0 capitulo sobre meio ambiente para 0 telatorio Reshaping the International Onder, apte- sentado no Clube de Roma. E de sua autoria (1977) 0 documento de base apresentado na Conferéncia sobre Ecodesenvolvimento, or- ganizado pela Agéncia Canadense para 0 De- senvolvimento Internacional. Desde 1977 vem colaborando incansavelmente com diversos organismos encarregados da protegio ao meio idades brasileiras. ambiente € com univer Entre 1983 ¢ 1987 foi diretor de programa das Interfaces alimentasdo-energia, da Universida- de das Nagdes Unidas e ali organizou confe- réncias internacionais realizadas em Brasilia, 1984, e Nova Delhi, 1986, como também di- versos coléquios na América Latina, Africa ¢ Asia. Desde 1990 é assessor da UNESCO no Programa de Coooperacio Sul-Sul para o mn ecodesenvolvimento dos trépicos imidos. En. tre 1991 ¢ 1992, participou ativamente da pre- Paracio da “Rio-92” como assessor especial do Secretariado Geral da ONU para o Meio Ambiente Desenvolvimento, Na condigio de assessor da Secretaria da Amazénia Legal do Ministério do Meio Ambiente brasileiro, é co-autor da Amazinia: Agenda 21, publicada em margo de 1997, Ignacy Sachs integra © conselho editorial de revistas especializadas em diversas partes do mundo e jé atuou como professor convi- dado de um grande nimero de universidades ‘a Inglaterra (notadamente Cambridge), Bél- gica, Paises-Baixos, Suica, Itélia (notadamente Roma, Padua ¢ Bolonha), Polénia, Portugal, Canada, Estados Unidos (notadamente UCLA, MIT ¢ Harvard), México, Colémbia, Venezuela, Peru, Chile, Argentina, Senegal, Nigéria, TanzAnia, Ira, India, China e Japio, além do Brasil. Atualmente, na Franca, é in- tegrante do Grupo Interministerial de Avalia- $40 Ambiental, tendo participado da clabora- Gio de diversos estudos ¢ grupos de trabalho. Desde 1996, € membro da Comissio para 0 Desenvolvimento Sustentivel do Ministério de Meio Ambiente francés, além de patticipar de importantes entidades civis correlatas ao tema, Anexo 3 Bibliografia Ignacy Sachs é autor de ium imenso acervo de trabalhos publicados em livros, artigos, an- tologias e comunicagdes em diversas partes do mundo. Registra-se, aqui, apenas uma amostra de seus livros e capitulos de livros publicados no Brasil. Livros Capitalismo de Estado ¢ Subdesenvolvimento: Pa-

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