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Ao contrrio de muitos (talvez a maioria) dos latinistas, no me interessei pela lngua do Lcio,
instrumento precioso dos fillogos, chave da etimologia, manual dos eruditos. Queria mesmo
era estudar filosofia. Enquanto a maioria dos meus semelhantes saltava, vida, para o grego
tico (eu mesmo sofri essa tentao), tive a felicidade de perceber que, mais que da "lngua
original", era preciso participar da "tradio cultural" que levava filosofia. O templo de Apolo
no se abria aos mpios; antes os envolvia numa teia de iluses, guiando-os para o mais denso
da floresta, onde envelheciam delirantes, privados para sempre da luz do sol. A verdadeira
Sibila s respondia a quem se dirigisse a ela na linguagem correta: a lngua perptua da
humildade, da submisso aos ancestrais, da "pietas" impiedosa representada pelo Rei
Anquises, no mundo dos mortos, instruindo seu filho Eneias sobre a vontade dos deuses. No
o brilho, o chamariz, o Olimpo; sim as sombras, o reino desprezado ou temido, o inferno. Foi
este o caminho de Virglio; foi este o de Dante. o verdadeiro sentido dos versos de Pope:
"A little learning is a dang'rous thing;
Drink deep, or taste not the Pierian spring"
"Drink deep", e no "much". No se trata, aqui, de erudio, isto , do acmulo de estudos
sobre um autor ou uma poca, que poderamos chamar de estudo "horizontal". Ao contrrio,
preciso descobrir a significncia de cada elemento, o peso que adquiriram na histria e na
formao das maiores almas de todos os tempos e, consequentemente, da nossa civilizao
como um todo. Ironicamente, a lngua latina, que normalmente atrai inteligncias minimalistas,
"fault-finders" e normativistas ranzinzas, impressionou-me justamente pela elevao, pelo
desprendimento, pela transcendncia dos seus autores e da tradio que eles compunham.
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