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Quando precisouescother um tema para sua tese de doutoramento na Escola de Servico Social da UFR), Caos Frederico 8, Loureiro ‘optou pela anilise da atuagao da Assembleia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente no Rio de Janeiio — Apedeme-RJ, 3 luz do pensamento de es- querda. & diversidade entre as entidades (e seus lideres ligadas ao referido coletivo ‘organizado,ofereceu aoauter umtaoamplo painel de objetivose formas de luta que nao Seria absurdo dizer que, a0 concluir a tese dda qual este lvro é uma sintese, Loureiro produziu uma poderosa analise do mov ‘mento ambiertalista como umtodo. Ele comega por situar 0 que chama de “questo ambiental” e a avaiar o papel dos atores sociais envolvides ne promocio do pensamento ambientalsta, sugerindo que o discurso de que “estamos todos em uma mesma aeronave que deve ser salva" pode levarao esquecimenta de que esta aeronave "écomposta em sua base por desigualdades socioecanémicas profundas e intolersveis". Em saguida, define o que é e como surgiu ambientalsmo e discute suas contrbuicdes para a reflexdo sobre a sociedade. Mromente,questiona a "sustentabilidade” do desenvolvimento cue nao supée'a critica ’s Felagbes soca e de produgio tanto quanto a0 tipo de valor simbdtico e de uso cado 8 natureza’. Para repensara relacdo sociedade-natureza, recorre a0 méiodo dialéticoe historico, que, segundo ele, ‘possui uma indiscutivel con- tribuicdo ao debate ecoldgico, pelo sentido de uma unidade diolética sociedade natu reza, de entendimento do humano como rnatureza sem suprimir suas especifcidades, por peritiruma rflexdo contextualizaca fe consistente do discurso e da pratica am- bientalista’. Na_trajetéria passa. inexo- ravelmente pelo encontro ambienta- lismo/esquerda, discutindo sues. mitues aixa institucionalidade’ das onhecimento da trajetéria de andono plano da agao infor- ram forgas mediante agravi- dos publicamente, vor muitos pensadores, como jue buscam uma ago politi- ic brasileira com historia de uma cidadania passiva ¢ de s ambientalistas constituem- democratica na vida social a tualizados, postos entre seto- edesurticulados eum Estado ‘quicos esubmetido aos inte- 94). stas como a expresso do ca. initaristae lovatizado das or- restadoras de servigos, 0 que voliticas pablicas ena adogaio ute visivel e viével. Apenas 0 nento da urgéncia da proble- um contexto de iniciativas va, num misto de cidadnia in falarem nomede muitos © sapazes de estabelecer politi- sutural da sociedad, ‘ouico interesse e capacidade material ‘ede expago iso da cnt, tendo tengo de legitimidade ede conqusta sata pelo ndimero clevadode ONG 1 residéncia de um dos intezrantes de te possbilite uma vivénciados mem- ‘Me 60 registro do COC @ do eaastro ado outeos niveis de formalizagio OAMBIENTALISMO Oambientalismo ¢ aqui concebido como um projeio realista ¢ Ut6pico de miltiplas orientages, que se insereve nap dial, simultaneamente, como um posicionamento de apropriagao simbélica e material que vai desde proposigses civilizatérias, pas- ‘sando pelo questionamento da sociedade industrial capitalistae das ‘caracteristicas intrinsecas das leis de mercado, a iniciativas comportamentais ecologicamente corretas, tendo como eixo analt- fico o proceso de atuagdo humana no ambiente ¢ a discussdo acer- (da relagdo sociedade-natureza, visando a alcangar uma nova base civilizacional, Partindo desta definigio, evitamos usar terminologias ualistas do tipo ecologistas e ambientalistas, optando por um ter- momais genérico que evidencia as miltiplas compreensdes inseridas no campo da questdo ambiental. De posturas anti-humanistas, ecocentric concepgbes coletivisias e racionalistas, possibilitando a formagio de ccorrentes distintas — fundamentalistas, ecossocialistas, compatibilists, ~eristas, verdes radicais, dentre outres (Herculano, in: Goldenberg, 1992), os ambientalistas fazem criticas pertinentes e equivocada todas as linhas de pensamento representadas na modernidade, absor- vendo categorias que vio de marxistas (Marx, Gramsci, Gore, Goldsmith, Smith, O°Connor, Pepper, Marcuse, Baro, Dumont e outros) a pacfistas (Gandhi e Luther King), passando por humanistas (Schweitzere Dubos) ¢ anarquistas (Bookchin e Proughon), em uma atitude de negagio do modo de vida vigente (Simonnet, 1981). e i vidualistas, Carlos Fredenco B Loureiro Desde 1865, quando surgiu a primeira entidade com um ca- riter identificado como ambientalista, a Commons, Foot-paths, and Open Spaces Preservation Society, até 0s tempos contemporaneos, as formas associativas e as orientagdes politicas ¢ ideol6gicas se diversificaram, em uma mirfade que deve ser analisada como um todo dindmico que se movimenta na hist6ria (McCormick, 1992; Padua, 1997). Por esta razio, 0 que temos so ambienalismos di- ‘versos ¢ conflitantes € nao um ambientalismo monolitico ¢ i leali- zzado, dentro do qual todos os que se pretendem ambientalistas de- ‘vem se enquadrar para que possam se legitimar como tal. ‘Vejamos algumas classificagdes que se tornaram comuns na sociologia ambiental brasileira ao longo da déeada de noventa do século passado, que hoje apresentam nuances diferenciadas, mas que servem didaticamente para ilustrar e possibilitar uma anélise ais critica do significado deste movimento sociale hi ‘Seguindo uma reconhecidla classificagdo feita por Viola e Leis (1990, 1992 ¢ 1995), em sintese 0: ambientalismo brasileiro perpas- sa vérios grupos sociais (ambientalismo multissetorial), sendo com- posto por oito eixos no excludentes em suas interfaces ¢ funda- mentagio te6rica, Estio assim distribufdos: = Ambientalismo stricto sensu — organizagdes soci pos comunitirios ambientalistas de és tipos (profi semiprofissionais e amadores). ‘« Ambientalismo governamental — agéncias estatals de meio ambiente, nos nfveis federal, estadual ou municipal. * Socioambientalismo ~ organizagées: nio-governamentais, sindicatos e movimentos sociais que tém objetivos sociais precfpuos, mas incorporam a dimensio ambiental em sua atuago ediscurso. + Ambientalismo cientifico — pessoas, grupos. tuigdes, que desenvolvem pesquisas cientificas sobre a questo ambiental. + Ambientalismo empresarial -empresérios que vincalam sua produgio a certos critérios da sustentabilidade ambiental, destacadamente ao conceito de Qualidade Total cas normas ISO. 18 is e gru- ionais, ‘© MOVIMENTO AMBIENTALISTAE O PENSAMENTO CRITICO + Ambientalismo polftico-profissional ~ quadros partidarios, procuram estabelecer politicas especificas que vinculem a di- ambiental as politicas piblicas. ‘+ Ambientalismo religioso~ representantes de religides etra- espirituais, que retacionam a dimensio ambiental & consci- ia do divino e do sagrado. * Ambientalismo de educadores, profissionais de comunica- e arte —individuos, organizados coletivamente ou nao, preocu- ‘pados com o ambiente, que possuem grande capacidade de influir ‘na consciéncia das massas. ‘Ao ser um esquema que manifesta os diferentes setores so- “iais, nega os interesses diversos ¢ as determinagdes de classe que "08 permeiam e que esto presentes no ambientalismo, apresentan- “do-o de modo esquemsticoe representando-o a partir de segmen- 108 sociais que foram incorporando a temitica as suas questées ‘eentrais: anos cingienta, ambientalismo cientifico; anos sessenta, ambientalismo das organizagdes sociais; anos setenta, “ambientalismo politico-profissional ¢ governamental; e posteri- Ormente, os demas. Isto pode facilitar a definigio de grupos ana- Iiticos, mas impedir uma construgio de movimento, ou seja, de entendimento da dindmica e relagdes que constituem o ambientalismo no pais e suas tendéncias, principalmente no inte- rior de cada setor destacado. ‘H4 uma outra classificagiio comum que apresenta um sentido pragmético para o ambientalismo e que implica relativa desqualificagio das organizagGes que mantém uma pratica politica militante, comprometida com mudangas sist@micas. Nesta classifi- ‘cago, o tipo de entidade que esti afinada com a histéria ¢ a que busca a profissionalizago e a promogo do desenvolvimento sus- tentével, nos moldes compativeis com a l6gica de mercado. As de- mais esto fadadas A extingio’. ‘Ecemplo clssico desta posigi pode ser encontrada em publicagdo de Crespo (1995). 19 Carlos Frederico B.Loureiro Destacamos também outra classificagZo bastante difundida feita por Leis (in: Rubio, 1992) a partir de visses de mundo € con- cepgses éiicas, separando-as em estigios: Alta, Beta, Gamae Omega, ‘Mesmo tendo uma conotagao esotérico-evolucionista em suas con- clusdes, a divisio busca evidenciar a pluralidade do ambientalismo. ‘Alfa se apresenta como o primeiro e rudimentar ecologismo. As preocupagGes se resumem & conservagiio de espécies ¢ a redu- ‘ga0 do crescimento demogrifico, E uma tendénciaem sintoniacom ‘08 valores ¢ interesses dominantes. Beta enfatiza o sentido comunitarista,rejeitando o individua- lismo e a l6gica de mercado. A critica atinge 0 capitalismo, a racionalidade instrumental e os sistemas hierarquizados, que esta- belecem desigualdades sociais. E, em sintese, a linha da Ecologia Social. Gama, além das crticas de Beta, apresenta perfil biocentrista, defendendo a igualdade de direitos entre homens ¢ animais. Perten- cem a esta corrente os partidatios da Deep Ecology e os ecofascistas, para os quais os problemas sociais sfio secundirios e, em casos extre- ‘mos, o grande problema do planeta é a propria existéncia humana. ‘Omega postula o ecocentrismoe a luta por um equilibrio nas relagies sociedade-natureza ¢ humanas, fundamentado em uma éti- ca de fraternidade e de solidariedade, associando pressupostos ci- entificos e espirituais. Contudo, a0 colocar o ambientalismo nesta perspectiva evolucionista, deixa implicito que hd um tipo ideal de militante, no caso, aquele que se pauta em valores cristios e numa ética da fraternidade e do sacrificio, igualitéria entre humanidade e demais seres da natureza. Isto é pouco defensével para efeito de anélise do processo de formago do ambientalismo, pois permite se dizer que toda tendéncia que nao siga este caminho, idealmente concebido, de Alfa para Omega, estard destinada ao fracasso. O sentido de cons- trugio de hegemonia em uma sociedade contraditéria, de unidade na diversidade, fica inviabilizado neste tipo de classificagio comum na literatura brasileira, 20 OMOVIMENTO AMBIENTALISTA E OPENSAMENTO.CRITICO Atendéncia teérica de colocar o ambiente como uma catego- tia universalizante e tnica, sobre a qual o conhecimento cientifico ‘positivo indica o caminho a ser seguido na solugdo dos problemas {dentificados, ignora a categoria ambiente como uma categoria so- cial, como um problema que se materializa & medida que grupos ‘especificos seus interesses diversos agem na sociedade, Em uma _perspectiva critica, consenso e contlito se dio no processo e ndo a Priori, portanto, 0 ideal cm termos ambientais é 0 resultado desta Mindmica social, nio podendo ser confundido com uma construgio ‘pteconcebida de ambiente por setores que falam genericamenteem nome da salvacdo do planeta. Desta constatagao decorrem trés aspectos importantes, as- ‘socindos & discussio ambiental, sistematizados na obra de Fuks (1997): (1) 0 sentido oficial que é dado a problemitica ambiental ‘secaracteriza como algo irrelevante para a maioria da populagio, {que no possui as condigdes materiais basicas para a sobreviven- ‘Gia; (2) ainda que o ambiente seja considerado como de interesse ‘para 0 conjunto da sociedade, os beneficios da protegio e o Onus da destruigdo nfo sao igualmente distribuidos; e (3) a universali- dade do ambiente expressa projetos de determinados blocos, no Sentido de buscar 0 domfnio © a hegemonia de scus valores, ne- ‘eessidades ¢ interesses. Deste modo, cabe considerar criticamente 0 discurso majori- tério de que “o movimento ecolégico € aquele responsivel pela melhoria da qualidade de vida da geragdo presente ¢ pela garantia desta paraas geragSes futuras” e afirmagdes reficadas que ignoram a dindmica social existenie na constituigio do ambiente, do tipo *Nao estou a favor ou contra ninguém, estou ao lado do meio amt eente.”, para trabalharmos 0 que uma minoria coloca: “O movimen- toecolégico ainda tem que quebrar esta estrutura utépica de que ele &o salvador do mundo. Tem contradigdes internas [...] quanto qual- ‘quer outra forga social. Ele no é formado de anjos!” : + Fala de anbienaistas que partipar ‘de uma de nessas pesquisa Carlos Frederico B.Loureiro Contribuigdes do ambientalismo a reflexao sobre asociedade Na literatura especializada disponivel, 0 movimento ambientalista, apesar de sua diversidade organizacional ¢ pol co-ideol6gico interna, desde seu primérdio, € apontado como um movimento hist6rico que traz quatro grandes categorias interconexas de discussio e reflexio fundamentais para a socie~ dade contempordinea. O primeiro cixo refere-se & critica A tradigio religiosa judai- co-erist ea0 seu processo de dominagao ¢ expansio (expansionismo religioso) sobre as demais formas de crengas espirituais. A concep- ‘¢io monoteista, que representa a negacio de outros deusese de ou- tras crengas, afirma a espécie humana como subjugadora das de mais ¢ & parteda natureza. A hierarquia do monotefsmo se express no Génesis bfblico, quando destaca que cabe ao homem, imagem € semelhanga de Deus-Criador, sebjugar/dominar os demais seres vik vos/natureza. Neste escopo, a relago com 2 natureza é profana: quanto mais préximo desta, mais imperfeito ¢ bruto. Para transcendé-1a, instituiu-se o primado da “razdo fria e calculista”. reforgando a 16- gica capitalista moderna, da rela¢Zo sujeito-objeto, da fragmenta- {0 do ambiente, inibindo-se o sensivel e © natural, Pars Lipietz (2000) esta construgta de conhorda natureza caracteriza a tradig’io religiosa judaico-cristi, que, juntamente com o iluminismo, mar- cam o pensamento ocidental. Autores vinculados a Teologia da Libertagao, destacadamente Leonardo Boff, procuram repensar o cristianismoem uma perspec- tivaambientalista, o que é de grande valor. Contudo, é fato a aceite cio popular de um paradigma religioso exciudente e dicotémico (humanidade-natureza). Esse fenomeno de reconstrugio da espiritualidade ocidental pOde ser observado na Rio-92, evento que reuniu porcentual significativo de tradigGes religiosas orienta, que particularmente influenciam com uma compreenso harmOnica & unitiriade planeta, a pratica espritualistaligada ao ambientalismo. 2 ‘© MOVIMENTO AMBIENTALISTAE O PENSAMENTO CRITIC ‘Um segundo eixo relaciona-se & Revolugio Cientifica, bem 10 consolidagao do paradigma cartesiano, que molda os valo- ‘culturais modernos ¢o projeto positivista de ciéncia ¢ tecnologia. Acmergéncia da ciéncia moderna positivista esté relaciona- com 0 contexto politico-econémico e cultural da época. Neste fodo, a cigncia expressa, a0 mesmo tempo, possibilidades \cipatorias extraordindrias, negando a natureza imutivel go- ‘vernada por desfgnio divino, e a racionalidade instrumental,” pré- _pria do novo modo de produgio que se consolida: 0 capitalismo (Harvey, 1996). ‘Aénfase na ciéncia analitica cartesiana conduz a fragmenta ‘glo ilimitada do objeto, perdendo-se a nogio do todo, ¢ ao entendi ‘mento do processo causa-efeito sem historicidade, ou seja, ao nosso ‘destigamento do ambiente. Cria-se entdo o primado do racionalismo instrumental, do reducionismo e domecanicismo (Japiassti, 1976). Esses dois fatores sustentam o terceiro cixo da erftica ‘amibientalista: a orientagao individualista-antropocéntrica, contra- fino humanismo ¢ As concepcdes ecocéntricas. A sensagao de po- er, seja de origem divina ou derivada do dominio cientifico ‘Nese sentido, € importante destacir queaentica oracionalismo nio pode ser gene m0 comments realizada poe grupos ambiewtalsias. Oambientalismo nfo pode nezar ‘hat, comparando-a 8 negnsio da emosto quaifcando-a, por isso, como aresponss- Yelpelo mado desuusivu de sevelavaniar com a naturcea por torn lum objeto passive ‘o/h, Negararazo-em sentido abscluo é negara espécie mana, wssim comoredaz-a Teogaigo € descoshecer 0 proprio funconamento da racionlidade, uma ver que esta tdecorte de um processo cerebral tiico¢ indissociivel que envalveaspectos cogitivos © ‘emocionais (Damasio, 1996), A andlise, para ser precisa, necessita remeter 0 {questionsmento 20 raeionalismo instrumental (8 Wgica prapatica e quanttatvita de fledcia¢ efiiéncia produtiva), que se sobrepbe, no modo de predugio capitaisa, & ‘ronalidade emanciparia, eque, portato, poenciliza. uso wisi edestutive dos ‘ecarsosnatuns. A racicnalidade instruments apoiada em um cientificismo mecanicisa Feforgae impée a dicotomi syeito (humanidade) x objeto (natureza), na qual a naturezt {ean valor defsido pola frgasde mercado governos quesusteatam tl lpia (Sheldake. 1943), Aqui cabe ressltar também que, ao adctarnos esta perspectia trea, no pode- ‘nos cairem daalistos que impliquem 8 cefesa de una racionalidade que exclu a dinen- lo ragmtica ede capacidade instrumental de atuaio. Ago conscienteetransformadora &teflexivae instrumental, e ambasas dimenstes serelacionam na pris politica, 23 Carlos Frederico 8, Loureiro potencializado pelo capitalismo, fundamenta nfo s6 anogio de que a humanidade pode ir além dos limites biol6gicos, mas numa ago ‘eminentemente individualista descolada dos determinantes sociais. E caracteristico do pensamento moderno liberal-burgués que os se~ res humanos nio dependem de adequagio a uma ordem transcen- dente a si proprio para se realizarem, posto que a dimensio ética fica reduzida & vida privada, sendo a naturez apenas © meio para satisfazer as necessidades humanas. A ética ¢ os comportamentos so ditados por valores intrinsecos ao individuo, favorecendo os valores egoisticos, fiteis ea cultura do deseartivel. Como diria Marx, *.aindividualidade abstrata representa aliberdade isolada domun- do, ndo a liberdade integrada no mundo”. A tiltima grande critica ambientalista é feita & sociedade in- dustrial e a0 uso tecnolégico como meio de dominagdo ¢ explori- gio. Nunca foi vista tamanha velocidade nas transformagdes do ambiente com conseqtiéncias pouco previsiveis. Esta constatagao, ao contrério do que é dito por alguns criti- cos do ambientalismo, ndo significa afirmar que a espécie humana 86 destr6i a partir do final do século XVIII. Segundo Dorst (1981), indimeras referéncias de civilizagGesentraram em colapso pelo uso ncorreto dos recursos naturais (khmeriana, indica ¢ maia) © pelo processo de aniquilamento da diversidade cultural, desde a expan- stio maritima européia. “Todo ser vivo, e especialmente os seres humanos, sempre atua- ram no ambiente em um movimento de transformagbes ¢ busca do equiltbrio em sentido dindmico. O que ocorre apss a Revolusio I ‘dustrial capitalista éum aumento da intensidade e velocidade éa agiio antropocéntrica,além da afirmagio de um sistema politico-econdmi co individualista mundial, pautado nareprodugio do capital, que, para {sto, precisa de erescente consumo de matéria ¢ energia. Marco inicial do ambientalismo Erelevante assinalar que desde 0 século XVII existiam rela- tos documentados de pensadores levantando preocupagves relacio- 24 OMOVIMENTO AMBIENTALISTA E O PENSAMENTO CRITICO, 5 Com a preservacio ambiental na Europa, nos Estados Unidos Brasil. Contudo, nao era possivel definir tais posicionamentos: um movimento amplo em termos sociais. Especificamente Brasil, pesquisadores de histria ambiental (Padua, 1987) citam ‘Vicente Salvador e sua obra Histéria do Brasil como precurso- ‘no sentido de que nesta consta a critica a0 nome de nosso pat *Pois o pau-brasil nio era uma drvore qualquer, mas sim 0 primeiro elemento da natureza brasileira, possivel de ser ex- plorado em largaescala, para beneficio do mercantilismo eu- ropeu" (Frei Vicente, in: Padua, op. cit., p. 28). So lembrados também os nomes de José Bonifécio de ‘Andirada e Silva e André Rebougas, no século XIX, que através de ‘Umm discurso positivista defendiam o uso racional da natureza; eno inicio do século XX, os nomes de Alberto Torres, Caio Prado Iinior Gilberto Freyre, que representam modelos alternativos de desen- “Yolvimento com consideragdes ambientais. Estas contribui igdes fo- “fam ignoradas com o impulso desenvolyimentista industrial, basea- ‘do na crenga da inesgotabilidade da natureza, na década de cin- _glienta, Somente na passagem dos anos setenta para os oitenta, a discussdo recebe novo impulso em nosso territ6rio, ja no contexto “dacritica mundial formulada pelo movimento ambientalista. U inicio do ambientatismo, enquanto movimenty hadécada de sessenta, decorreu dos primeiros movimentos pacifis- ‘tas, antinucleares, hippie e de contracultura, como resposta a0 ‘¢stablishment politico norte-americano, autoritério ¢ belicista, ¢ a ‘um estilo de vida pautado no consumo de supérfluos. Constituia-se ‘no ambientalismo de recusa, rechagando a participagio politica, a felicidade consumista, o trabalho alienante, 0 desenvolvimento produtivista e 0 progresso armado, Isso historicamente justifica a sit diversidade de perspectivas. Ainda nos anos sessenta, a descoberta dos efeitos nocivas «dos pesticidas ¢inseticidas quimicos, denunciados pela biéloga norte- 25 Carlos Frederico B. Loureiro americana Rachel Carson no seu famoso livro Primavera silencio- ‘sa, publicadoem 1962,’ amorte ea incapacitagao de varias pessoas por contato com merciirio, no acidente de Minamata (Japa) ¢ © inicio da crise do petréleacirram a eritica ao modelo de produgao. ‘Ainda neste contexto, Garrett Hardin, em seu livro de 1967, The tragedy of the commons, ¢ Paul Ehrlich, em seu livro de 1968, “The population bomb”,’ tecem severas eriticas & superpopulagio ¢ anecessidade de controlar o crescimento populacional humano, em uma perspectiva assumidamente neomalthusiana. Nos anos setenta, a critica se ampliou com andlises mais de- talhadas sobre 0 sentido da exisiéncia humana no planeta ¢ seus impactos, e de sus fragilidade enquanto ser biol6gico. Destaque para 1s cientistas James Lovelock e Lynn Margulis, formuladores da Hipstese Gaia, na qual, sinteticamente, se defende que o planeta é ‘um organismo vivo, auto-regulado pela dindmica dos fatores vives {bi6ticos) com os niio-vivos (abidticos), € nds somos apenas mais uma das espécies existentes dentro dessa regulagia (Lovelock, 1987; Lutzenberger, 1990;Thompson, 1990). Logo, da mesma forma que aparecemos, poderemos desaparecer da Terra. [apes de estlivon er sid primeire da stra, que anterirmeste hava publica dveuttosabordando 0 mst, e nemo primeiro nesta linha de denna do mado destutvo Ade utlzagio de eenelogias sis mescs utes, M. Bookchin havia pulicadoolvro Cur ‘Srueieenirnmer,pouco ho pr suacriica denusiadancitc ample Siler sr foi 0 que teve maior repecussi justo & porlaso e as Orgs govermamenas. Foi publicado em qunze pases evens, 36 nos EUA, mais de meio milnso de cipis no Prieiro ano Jelangarcio, Mesmo acolo deserimprecso ceneitaalment alarms: thao abordar os efitos sobre a sade, vou a uma série de estudos ofciais © 3 4m ae reat de disused publica sobre o ambiente, Aiwa nos anos sesenta, doze das subs- tncias citadasno linea foram proibidas nos BUA. Neate lint, Hardin defende que nio existe conscigncia capaz de fevar aum “ambiente uli" apenas coe, patclarmente a0 que se refere 20 amano da populate “hic, um suid alarmisa, vendeu com exe iro cera de ts milhes de exempta: lade de pedugio de alimentos bavia sido stingido © “frequatgnrtenativa de ampli resulta em degradaio ambient cabendo, portato, var donttleefetivo de mulalidade. Apesar de algumas munifesiagdes no meio cientifico aan ria a ex posto, o edo em cla agcrescimento populacional fi um dos gran- ‘escinosideokbgiccs de mobilizagSo de scores ambienaltas mais conservadors, 26 (© MOVIMENTO AMBIENTALISTAE O PENSAMENTO CRITICO No fmbito da paicontologia e da historia natural, a compro- “yagilo de que a espécic humana éresultado de um processo evolutive “obedecido por leis naturais,e nfo necessariamente a itima e mais ~ desenvolvida das espécies, desmoronou as tiltimas esperangas de “(im poder ilimitado (antropocentrismo-individualista). -_Layrargues (1996), situando esta discussio, apresenta uma esate metéfora religiosa de David Brower, um dos pioneiros “domovimento ambientalista norte-americano, expressando a busca “dearticalagio ciéncia-espiritualidade e eligiosidade ocidental-reli- _iosidade oriental: “Tomemos os seis dias do Génesis como imagem para re- presentar 0 que, de fato, se passou em quatro bilhdes e meio de anos. O nosso planeta nasceu numa segunda-feira a hora zero. A Terra formou-se na segunda, terga e quarta-feira até ‘o meio-dia. A vida comega quarta-feira ao meio-dia ¢ de- senvolve-se,em toda a sua beleza orginica, durante os qua- tro dias seguintes. Somente as quatro horas da tarde de do- mingo € que os grandes répieis desapareceram. O homem surge s6 A meia-noite menos trés minutos de domingo. A ‘um quarto de segundo antes da meia-noite, Cristo nasce. A um quadragésimo de segundo antes da meia-noite, inicia-se a Revolugio Industrial. E agora meia-noite de domingo, ¢ estamos rodeados de pessoas que acreditam que aquile que fazem hi um quadragésimo de segundo pode continuar definidamente.” (p. 52 € 53) Partindo do principio de que o ser humanoé um ser social, que vive e se define a partir das relagSes sociais, a nossa esséncia natural existe paraa realizagdo social, Assim, a sociedade constitui a unidade ‘substancial da humanidade e da natureza, a realizagio do naturalis- ‘mo do ser humano e do humanismo da natureza (Meszaros, 1981). Desse modo, a grande contribuigio das tendéncias criticas do. movimento ambientalista est nfo s6 no que foi construido pelas 7 Catlos Frederico 8. Loureiro linhas do pensamento até aqui mencionados eque si parte viva do movimento, mas principalmente na eri ical a0 sistema socioecondmico e ao padrao civilizacional, jé presente em diferentes autores ¢ tendéncias desde a sua formagdo. Uma organi- zagio social e econdmica que oprimee promove # alienagio, mate- rializada na subjugagio pelo capital e coisificagao de tudo e de to- dos, estabelece a dicotomia na relagdo sociedade-natureza. O proceso de desdobramento do capitalismo mundial, cuja base se assenta na produgdo de mercadorias para sua reprodugiio © nfo para satisfagaio das necessidades materiais basicas socialmen- te definidas, conduziu ao dpice de nossa hist6ria de rompimento € de degradagio da qualidade de vida ¢ do ambiente. Por isso, a agio profunda e ra ambientalista, sem adevida capecidade critica e politica, perde seu feito transformador, por mais ricas que sejam as propostas filo: fi ¢ priticas. ‘O campo das forgas democriticas e ecolégicas conta com a obra de alguns expoemtes, que contribuem decisivamente para a cons- trugio de determinados eixospolitcos capazes de respaldarem a agio ambientalista critica e transformadora, em um universo de idias vi- goroso e plural gue compdem este movimento social (Dupuy, 1980). 0 universo da critica politica tem uma vertente pautada em Guattari e sua famosa publicagio no ambientalismo brasileiro, As res ecologias (1990), cm que defends aagio integrada entre eralo- gia mental (relagio do individuo consigo mesmo), ecologia social (relagdes sociais) ¢ ecologia natural (relagdocom a natureza, stricto sensu). Passa por Bahro (1979), com suas propostas humanistas e de ‘uma economia voltada para saisfaglo das necessidades bisicas ba- seada em processos autogestiondrios, de considerdvel influéncia na origem dos Pariidos Verdes europeus. E tem como principais referéncias intelectuais: René Dumont, Herbert Marcuse, Jean-Pierre Dupuy, Alfred Schmidt ¢ Cornelius Castoriadis; dentre outros autores, como: André Gorz, E. Altvater, E. Goldsmith, A. Smith, D. Pepper, J. O’Connor ¢ M. Bookchin; & 28 (© MOVIMENTO AMBIENTALISTAE 0 PENSAMENTO CRITICO, ipo especifico da teoria social: A Giddens, D. Goldblatt e E, ‘Algumas passagens desses autores merecem citagio para um ‘entendimento do ambito politico de suas propostas ¢ do ientalismo cnquanto parte do movimento histérico transforma- sociedade capitalista. ‘Na Franga, 1972, ha uma importante colocagio de Marcuse, no debate “Ecologia e Revolugao”, que contou com a ipagao de diversos expoentes do pensamento ambientalista & fa (Morin, Bosquet, Goldsmith, Mansholt, entre outros), em, diferentes matrizes ¢ definigdes de uma sociedade alist, situando 0 problema no contexto das contradigdes ipitalismo: aluta ecol6gica esbarra nas leis que governam o sistema ‘capitalista: lei da acumulagdo crescente do capital, criagio ‘duma mais-valia adequada, do lucro, necessidade de perperu- ar 0 trabalho alienado, a exploragio... a légica ecolégica é a negacio purae simples da l6gica capitalista; nao se pode sal- ‘var a Terra dentro do quadro do capitalismo... € indispensa- vel mudar 0 modo de produgio ¢ de consumo, abandonar a indiistria da guerra, do desperdicio, e substitui-los pela pro- dugio de objetos e servigne necesséirios a uma vida de traba- ho reduzido, de trabalho criador, de gosto pela vida... Niose trata de converter a abominagdo em beleza, de esconder a tmiséria, de desodorizar o mau cheiro, de florir as prisbes, os bancos, as fabricas; nio se trata de purificara sociedade exis- tente, mas dea substituir... a verdadeira ecologia vai dar um combate militante por uma politica socialista” (Mansholt Marcuse, 1973;p. 51. 52). Apesar das criticas a que Marcuse se presta, principalmente ‘no que se refere a um profundo pessimismo sobre a dimensfio {ecnolégico-instrumental da sociedade industrial, que abre margem 29 Carlos Frederico B.Loureito para atitudes romdinticas, € inegivel o valor de sua obra cléssica homem unidimensional. 40 padrio de vida aleangado nas reas mais desenvalvidas ‘iio constitui modelo epropriado de desenvolvimento se 0 pro- posito é a pacificagio. Em vista do que esse padrao fez 10 homem € & Natureza, deve ser novamente perguntado se ele vale 0s sucrificios e as vitimas feitas em sua defesa. A per- gunta deixoude ser irrespondivel desde que a sociedade aflu- fente se tornou uma sociedade de mobilizagio permanente contra 0 risco de aniquilamento ¢ desde que @ venda de suas mercadorias se fez acompanhar de imbecilizagZo, de perpe- tuagio da labata e da promoca0 da frusiragio” (Marcuse, 1967, p. 223). Em 1976, o livro Ecologia e politica, de André Gor?" , pro- “0 objetivo realista, e atual, deixou de ser trabalhar © pro- duzir, mas sim trabalhar e produzir menos, vivendo melhor ede outro modo, que implicard a eliminagdo de desperdfci- ‘os... aexclusdio do mercado de bens e servigos bisicos ne~ ‘cessarios a todos. Conversio do aparelho € dos metodos produtivos, conversio do modelo de consumo ¢ de vida—o. socialismo, pois € afinal disso que se trata — & uma exigén- cin para hoje, endo sermos marginalizados esacrificados 2 crise” (Gorz, 1976, p. 27). Na verdad Jen 196, Goz evant as contrauiges do capitalism, ocasionads pela depend eersos (nar econmics) pra omen coasuno€ 2 Bera9 tees sanérfuos como necatismodereroduso do ssa, = stopode ser serio bern que cresce date do aumento de rquerss grads, eapitimo, em Tsar rep desta forma, alm dacxplra no proceso produtv, ous pla degradsso do agente er que se vive Fram conseragdesprcininares qu sear ampamente dese aa rrr av obras poneriores o sr. O ive em que Gore nunc suaperspctiva eco Yen GORZ,A Eutmtgie openiia neocapllisma, Ro de See, Za, 1968 30 ‘O MOVIMENTO AMBIENTALISTAE O PENSAMENTO CRITICO, - Bsta nogiio de Gorz se repete ao longo de sua obra, entenden- Jambientalismo como um novo padrao civilizacional, Seguindo $40 marxista, considera que hé uma contradigio entre o capi- yo em sta necessidade de produgdo de bens além do necessi- I ‘os limites da natureza (Bowring, 1995). Temos asfntese de seu amento na palestra feita no debate “Ecologia e Revolugo”, ente mencionado. ““Bsta visio duma sociedade pés-industrial e pOs-capitalista 6,0 fim do cabo, a nica compativel com a gestio e a atri- bbuigZo racionais dos recursos globais, com a revolugao eco- -pémica, que supée a ‘revolucionarizagiio’ das relagdes entre ohomem e anatureza, reclamada pelos ecologistas. E que & ‘ecologia, por causa dos noves pardmetros que introduz no ‘ileulo econémico é, virtualmente, uma disciplina fundamen- talmente anticapitalista e subversiva” (Mansholt e Marcuse, 1973, p. 32). Para Gorz o socialismo (mundo da liberdade e da emancipa- o significaria necessariamente a supressio absoluta do mer- fo, mas de sua l6gica pautada na apropriagdo privada dos benefi- ialmente produzidos, no livre mercado gerador de acumula- privada € no praginatisiiy cientifice ¢ politico. & mais, portan- j,do que um sistema burocraticamente concebido e determinado ‘um aparato estatal autoritirio e planificador, é a consciéncia tica de aboligao do modo capitalista de organizagao em um pro- 0 continuo de construcdo de bases sustentiveis para a vida. René Dumont, em um clissico de 1980, Ecologia socialista, “La ecologia socialista va pues mucho mds lejos que todos los programas comunes de la derecha ¢ incluso de los de la izquierda... Exige mucho mis de nosotros, uma revolucién interna de nuestras concepciones, de nuestra mentalidad, de 31 Carlos Frederico B Loureiro nuestras relaciones. Nos oblija a intentar ser mds, no a tener mais” (p.225). Em um outro livro, Dumont coloca: “_aatividade econémica aproxima-se de um nivel em que crescimento ulterior desse produto mundial bruto custard mais do que render, Nao: © mundo nfo pode, sem grancles peri- gos, continuar no caminho atual, aquele em que domina 0 liberalismo descontrolado” (Dumont, 1989, p. 58). Em 1979, em palestras proferidas nas universidades brasilei- ras ¢ que estio apresentadas no livro Iatroducdo @critica da ecolo- gia politica, Dupuy (1980), lembrando a capacidade de tema de se adequar is dificuldades que se expressam a partir desuas contra- digdes internas, observa: “A ecologia do capitalismo € a integrago dos constrangi- mentos ecolégicos na ldgica capitalista. Essa integragao € possivel e esté em via de conceptualizagae, programagio ¢ implantagao. Em resultado, 0 capitalismo seré sem divida fortemente transformado. mesmo se, a um nivel suficiente- mente profundo, houver sempre a possibilidade de detectar sua Igica destrutiva.” (p. 16). Em 1980, Castoriadis, no debate “Luta Antinuclear, Ecolo- gia e Politica”, realizadoem Louvain-a-Hova (Bélgica), comenta: “0 que o movimento ecoldgico pos em questi, de seu lado, foi outra dimensZo: o esquema e a esirutura das necessida- des, o modo de vida. E isto constitui uma superagio capital daquilo que pode ser visto como o carter unilateral dos mo- ‘vimentos anteriores. O que esté em jogo no movimento eco~ Jégico 6 toda a concepeZo, toda a posigdo das relagbes entre 32 (OMOVIMENTO AMBIENTALISTA E 0 PENSAMENTO CRITICO humanidade ¢ 0 mundo ¢ finalmente, a questo centrale eter- 0 que € a vida humana? Vivemos para fazer 0 qué?” {Castoriadis e Cohn-Bendict, 1981, p. 24) Em Castoriadis (1982), a heteronomia existente, ou seja, a in- passiva de cada vida individual em uma ordem preexistente © te, & possivel de ser superada pela autonomia, através da ceriticae pela constituicgio de espagos piblicos de atuagio € izagio humana, O autor destaca também que o caminho para a apo se pauta em um elevado nivel de articulagdo destas ccontrérias ao sentido de dominagdo inerente ao capitalismo. Neste mesmo campo reflexivo e erftico, Guattari (1990) se defendendo a transformago em trés niveis para a realiza- do projeto societirio ambientalista autGnomo e libertério: no mental (a relagao do individuo consigo mesmo), no plano al (a relago com o outro, a familia e os sujeitos coletivos) € no ambiental stricto sensu (a relagio individuo-natureza ¢ socie~ matureza), Esta proposta obteve grande repercussio, exatamente por seu iter radical, capaz. de instituir uma nova ética, a ecolégica, em a valoriza¢ao da vida, da solidariedadee de uma sociedade jus 1 ser omaior objetivo dos movimentos sociais. Sua propos /procura ser uma sintese da ecologia politics com a ecologt do ndividuo. Para autor, o capitlismo, enquanto fenémeno histérico, deu “ofigem a diferentes formas de repressio ¢ de controle, que resulta fam na opressio dos desejos mais legitimos e na neutralizagiio dos movimentos sociais tradicionais. Logo, a estratégia a ser adotada para transformagio social no pode restringir-se 3 conquista dos fparelhos de Estado, mas deve parti da acto cotidiana individual e ¢oletiva, tingindo e questionandotodas as engrenagens da vida em sociedade. A isto denomina de revolugdo molecular (Guattari, 1981). ‘Segundo seu panto de vista, a revolugdo socialista fracassou porque ficou restita ao controle dos meios de produgio. Partindo 3 CorlosFredeticoB. Loureiro desse pressuposto, ele defende a tese de que, para ser bem-sucedi- do, osocialismo deve articular as lutas elissicas aos movimentos do dia-a-dia, as lutas moleculares as macroestratégicas, atravessando 0 sistema em todos 0s niveis; do contrario, ela ndo se fara realizar" ‘Assim, concluindo, podemos definir 0 campo analitico da ecologia politica e do ambientalismo critico como a sintese de cin- co principios (Alphandéry e Dupont, 1992): ~ Enquanto cultura global e prética politica radical, concerne 20 conjunto das atividades em sociedade, & relagao sociedade-natu- rezae aos problemas existentes no modelo de organizagio social. ‘Visto que 0 projeto de dominagao do hiomem pelo homem & 0 mes- ‘mo de dominagao destrutiva da natureza (modernidade capitalista), ‘ambientalismo niiopode ser identificado unicamente com a busca por resolver problemas ambientais naturais, mas com 0 repensar dos campos econdmicos, simbélicos e politicos dz humanidade que determinam, em tiltima instancia, tais problemas. + Busca reconstruir desejos e necessidades, a partir do reco- hecimento da existéncia de limites planetirios, definidos em de- terminados contextos historicos. + Supde a mudanga radical dos valores individualistas, consumistas ¢ produtivistas. - -stimula a vida comunitiria, processos autogestionarios & descentralizados de produgao, e uma nova dindmica entre global- local e sociedade-comunidade. ‘Mesino sendo objdo de quesionaments por sua énfse na ao focal interessante estacar o quant ests perspectiva cotrbuiu para uma feflexao acerca do modo como os ‘grupos revoluciondros atuaram na décaa de sesenta, Dent desta perspectv ia da satsfagdo, do lazer com alegra,jusiicdvel pelo quadro de reressSo © fo ifscae simbolica, também condiziu ao dstanciamento para com a ropulagio em ‘perale ao fracasso das agies revolucionéras, E evidente que isto io fo o determinarte, mas de qualquer forma, esta dscussio se mostra perinemts urna vez.que « mudanga ds ociedade se estabelee dialeticamente com mudingas no plano individual, Esta frequente ‘oniadigio ene buscar um mundo radcalmente diferente ¢ se manter com valores © Stitudes conservadoras constte-se em un dos interesantes objets de disetssio no ambientalsmo, Ver: Unger, 191. 34 ‘© MOVIMENTO AMBIENTALISTA EO PENSAMENTO CRITICO, * Visad democratizagio do Estado, a cidadania plena, a cons- de condigdes materiais para a satisfagio das necessidades ¢ formacado de uma “governanga planetdria”” . Desenvolvimento: sustentavel para quem? No plano governamental, no cerne das discussées iniciadas Ambientalistas, a questio dos limites da humanidade e suas vas foi materializada com a realizagao da Confertncia das Unidas sobre o Ambiente Humano, em 1972, Estocolmo. _ A rientagio do encontro pautou-se nas conclusdes do Clube i, presentes na obra Limites do crescimento (Meadows, ), Oestudo, iniciado em 1968 ¢ apresentado em (972, afirma S qualquer que sejaa associagio feita entre os cinco fatores bisi- nantes do crescimento (populagdo, produedo agricola naturais, produgio industrial e poluigio), os resultado: J sempre assustadores, com uma profunda desestabilizago da jidade até 0 ano de 2100. E fato a orientacdo positivista do compo de cientistas envolvi- ‘tom 0 Clube de Roma, contudo, a gravidade do quadro apre- Imereceu a atengo de pessoas das diferentes posigdes polf- © ideoldgicas, posto que a ameaga, agora, era entendida € «almente vista como real. A crise energética (particularmente ~ailo petréleo), a superpopulagio e a poluigao atmosférica nos pai- ‘ses do norte, que comprometeriam o processo de producio industrial, ‘Auinbém serviram como motivadores da Conferéncia, em fungao de Miileresses dos paises centrais, os maiores poluidores. A Declaragio de Estocolmo, documento final, assinado por {los os paises membros da ONU, apresentou como solugio um THO tenn comegs ser utrado amphiment por ambientatsta sem, 10 entinto, pre ‘ear iteraturaespeciica uma concetuagi cla Aqui referino-nos a urea tettiva de eonstiiyio de un corpo insituional internacional, com pods deliberativos file pressio moral, composto por sujitos diversos: Estios-Nagio, organizagies Winienacionais ¢rutilterais afinadas eatculadas com as entidadeslocais. Nao entra- 1 n0 mério dos quesionamentas fens a0 conceito que teveorigem na estatégia de *winimizagéo” dos Estados por parte de Banco Mundial. Ver-Osmont (2001) 35 Carles Frederico B.Loureio ‘modelo de desenvolvimento que conseguisse minimizar os efeitos de alguns processos degenerativos do ambiente. A resposta foi pau- tada em uma pretensa neutralidade ideolégica e em alternativas tecnolégicas limpas, expressas em vintee seis princfpios. Ques cestruturais no foram abordadas. Essa opeiio ideol6gica por um discurso aparentemente nito- ideol6gicoe neutro, centrado cm um espirito solidario, em uma, nogio de valores homogéneos que orientam ahumanidade, e em solugdes: teenolégicas e gerenciais de um ambiente reificado, se ampliou, ganhou em complexidade e culminow no relatrio “Nosso Fururo ‘Comum”,da Comissdo Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvol- ‘vimento, instituida em 1983 na sesso 38 da Assembléia Geral da ‘ONU, inicialmente com vintee trés membros, coordenada por Gro Harlen Brudtland, primeira-ministra da Noruega. O referido relats= rio foi aprovado sem restrigdes na sessio 42 das Nagdes Unidas, no ano de 1987, formalizando 0 con oficial de Desenvolvimento Sustentavel! (CMMAD, 1991). ‘Seu caréter genérico ¢ conciliador, norteado por uma pers: pectiva humanitéria baseada na cooperagdo mutua de boa.fée me zgestdo racional ¢ ética dos recursos naturais como safda para a sal- ‘vagdo planetéria, permite que ambientalistas oentendam comouma hlucdo paras desigualdades sociais, preservagdo derecursos ¢ da diversidade cultural e daintegridade ecologica. ‘So profundamente simpaticasas preocupagBes expostis por diferentes cientistas ¢ liderangas politicas mundiais: ‘envolvidos com a proposta. A possbilidide de pensar um modelo conciliatério ex ee TTyidaiferemes formas de e define desenvolvimento dustetivl, Notexto,0 cone 2 que onli reaivo a dc propel ofiment pela ONU raid pes ee pnocriembres ds Nas Unis. O movimento amblenalisa se orien este eS ruagbes hegemonic ls conceis qu, frau euro cater 99 WaT aay apeno “voted usteave. ove uliza do termo palo explieande-d “Juatnadaeent claficando a osido teria eideoligicn Cones simdares amin ff tram emprezndo, com nuances conetuais importantes, mas quent ONE 8 se po avulgasio igual a desenvolvimento ustenve Dent ees destacamos ode Scodesemolvinena, que € anterior eque ot formulato per Sachs (1786). 36 (© MOVIMENTO AMBIENTALISTA EO PENSAMENTOCRITICO pparte dos pensadores ¢ militantes ambientalistas. O que ha de fem se sonhar com um mundo harmdnico e agradavel? Um sem contradigdes e ideologias? Porém, analisando 0 documento, observa-se um contetdo mador das praticas econdmicas, associando desenvolvimento Jimento 2 expansio do mercado, desde que este se paute princfpios solidérios idealmente concebidos, garantindo hi- vente a compatibilidade entre preservagio da natureza & social, Isto é vazio de sentido te6rico, uma vez que nao ha elagdo anal tica consistente que indique a possibilidade de jus- octal e natural no marco de uma légica capitalista historica- ‘evidenciada como excludente e desigual (Acselrad, 1999). A tibilizagao desejada fica pautada no plano moral e nao no |,como seo problema determinante dependesse unicamente, ser resolvido, da superagio individual de uma abstrata falta de ede consciéncia ambiental. Hi, no relatorio, uma énfase na pobreza como geradora de pobreza e destruigao da natureza. Eumpensamento tautoldgico, justifica o crescimento econdmico pautado em tecrologias lim- ‘na mensuragio dos recursos disponiveis ¢ utilizados e na ges- “ambiental como elemento capaz. de rompé-la e trazer padres de sobrevivéncia para todes. ‘A historia caciplifica ¢ atesta essa tendéncia conservadora outros, os apologistas e propagadores dosentido hegemdnico desenvolvimento sustentével so os empresirios membros da “Thusiness Charter for Sustainable Development, conselho de exce- “incia e apoio 2 ONU, ¢ governos vinculados aos paises centrai “fim relagio & Comissio de Desenvolvimento Sustentavel da ONU. segundo anélise de seus documentos de 1994 ¢ 1995, feita por ‘Acselrad e Comerford (1999), dentre as mattizes discursivas en- ‘eontradas, destaca-se a auséncia de um conceito claroe delimitado pra desenvolvimento sustentavel e sustentabitidade, algo que ¢ lpresentado como dado, ico e legitimo em si mesmo por seus ob- Jetivos sociais, mas sem referéncia ao madus operandis do merce: 7 Carles Frederico 8 Loureiro do. No Brasil, o documento oficial para a Rio-92 (CIMA, 1991 € 1992), bem como o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentivel e seus documentos, evidenciam que a légica é a de inte- grarcritérios ecoldgicos & préticaecondmica mercantile liberal para aceleraro desenvolvimento. Em simpésio preparativo para a Rio-92, realizado coma pre- senga de seiscentos empresarios, promovido pelo Conselho Empre- sarial para o Desenvolvimento Sustentavel, o presidente do BCSD, Stephan Schmidheimy, resumiu nos seguintes pontos 0 modelo de sustentabilidade a ser respeitado por governos e liderangas econd- micas (Fortes, 1992); Promover uma economia de oportunidades para que as empresas tenham acesso aos mercadas e tecnologias; diminuir a influéncia dos Estados no mercado; integrar valores ambientais as priticas comerciais; agregar valor aos recursos natu- rais utilizados no processo produtivo.e estabelecer maior eficiéncia no processo econdmico ¢ no emprego de recursos naturais (gestio ambiental e tecnologia limpa).'* ‘Acquestioambiental, tal como é posta no discurso hegem@nico da sustentabilidade, indica que asolugaoa ser adotada pelo conjun- to da sociedade ¢ integrar os ciclos da natureza a légica de acumu- ago capitalista ~ a propriedade privada assegura melhor a prote- 40.0 meioambiente, ondea palavra chave € eficiéncia do proces- So produtivo. Légico que isto nao é desprezivel, ¢ imperativa a ade- quacao do modelo produtivo as necessidades ambientais. Mas a0 centrar atengdes no cidadiio consumidor, ignorando aspectosestra- turais do modelo econdmico vigente, entre outros problemas que daf derivam, excluem-se os que esto fora do mercado, que passam aa ser duplamente exclufdos: social e ambientalmente. Kovel (1999), ao analisra perspestiva do presidente da BCSD, lembra que €ingéruo _supor que haverdinvestimento em teenolepias pa. inclusive para empresas tenores. ‘exclidas da glebalizago do mercado, apenas por corscincia ambiental (podendo ocoe- fet por interessescompetiivos),bem como€ vaso de fundamento © de consatagio his rica sfirmar que quallade efiiénci no rocesso prdutivo so inerenes ao capitalism © 20 mereado lteralizado, 38 (© MOVIMENTO AMBIENTAUISTAE © PENSAMENTO cAITICO No ano de 1992, um dos documentos oficiais ¢ principais da 4 Agenda 21 (Governo Federal/PNUD, 1992), teve a assi- de chefes de Estado de cento e setenta e nove paises. Este se jem uma metodologia de implementagio do desenvolvi- Sustentivel nas seguintes bases: preservagio da bio- ‘manejo dos recursos naturais, justiga econdmica e so- pparticipagio dos diferentes segmeentos sociais, cabendo a cada instituir uma agenda nacional e agendas locais em estados € A proposia desta Agenda ao mesmo tempo em que pretende ingir mudangas na estrutura de consumo, via ional, alterando 0 quadro daciio ambiental e miséria social e de falta de exercicio da , Feforga o mercado de alguma forma regulado e subordi- ) @ uma ética planetdria de salvagao da espécie € a busca de €8 via gestio tecnolégica. A Agenda 21 tem 0 mérito de re- aresponsabilidade das nagOes industrializadas na crise al, mas pauta suas metas na redugdo de consumo de matéria it € no na mudanca de modelo de produgdo, distribuigaio € imo (Acselrad e Leroy, 1999). Assim, aAgenda21 se acopla perfeitamente ao fluxo da his- fa (das classes dominantes). As politicas econdmicas entendidas jomno saudhiveis so aquelas que ampliem a livre circulagio de capi- de investimentos e de comércio. Os setores sociais sio chamna- | intervir sempre de modo marginal, uma vez que 0 niicleo duro i) sistema ndo é discutido: a economia ¢ 0 mercado. Isto 6 fa Wente observado ao se verificar que as Agendas 21 constituidas ‘ilo possuem ou pouco possuem mecanismos diretos de delibera- | glo acerca da destinagZo dos recursos em politicas sociais ou de {nlervengo na politica econdmica. Nos modelos oficiais conhecidos de sustentabilidade em pai- sos industrializados, s20 estabelecidos critérios econémicos e quan- litativos para justificar a redug%o no uso de recursos naturais e na produgio de energia e matéria, ignorando os processos sociais de 39. Carlos Frederico B. Lour significagdo e apropriagio dos mate: (1999), ...ndo basta perguntar quanto dos recursos se esta utilizan- do se no se pergunta também ‘para que’ e ‘para quem” (p. 16). Enquanto principio de intengdes genéricas e idealizadas"*e metodologia de implementagio de programas governamentais apoia- dos na sociedade civil, em parceria e visando ao desenvolvimento sustentavel, a Agenda 21 é um documento que merece atencio, Contudo, alguns pontos justificam maior reflexio para que seja apro- priada de modo a facilitar procedimentos democratticos e substanti- vamente participativos. ‘Ter por pressuposto a ctenga na boa-fé dos interesses do capi- tal privado para resolver os problemas socioambientais é no mini ‘mo, ignorar a l6gica do capitalismo e sua necessidade crescente de acumulacdo e apropriagao privada dos recursos naturais, compro- vada em fatos e dados. Além disso, teoricamente a sua base para a cooperagio esti pautada na conquista de consensos a priori ¢ ga- rantidos através da participagio social, Sé que estes consensos pre- viamente construidos 2 luz do conhecimento cientifice como eque- Te capaz de definir problemas e sua gravidade de forma “neutra”, derivam de diélogos e elementos comuns obtidos entre interesses _diversos, existindo, neste ponto, um erro de perspectiva analitica, | visto que ndo se constroem consensos efetivos apenas tomando por \ base of interesses diversos e desconsiderando as desigualdades es- | traturais que geram necessidades e niveis de participagio cidada diferenciados. A questio nio se restringe a ter predisposigio para se sentar 4 mesa com membros representantes de outras classes s0- ciais, em aprender a ouvir o outro, que agede modo equivecado por rio compreender o que os demais precisam. O didlogo precisa le- A Agenda 21 est esvonrady des Torna para que poss ser utlzada enquanto sreidologia por qualquer govern insu, independentemente dopo pltic, des de que seus principossejan respetads. O problema & que ao ser posto desta form Invert o seatido Bgicode un procedimente metodolégico, Em verde ser ums orientago ( motodolgica a ser anaisada e ue visa paticiagio, podendo assim ser apropriada ¢ ) reesrturad em fungi de cada realdatesovil, rete ser um guia aeito como een ‘camensecoretoeneuso sob 0 qual ead context social deve se alu 40 ‘O MOVIMENTO ANBIENTALISTA FO PENSAMENTO CRITICO enciados de consciéncia, mas de entender que existem bases is que situam historicamente os atores sociais individuais & 0s, A medida que isto seja colocado, os consensos passam a leticamente pensados junto & dimensdo do conffito inerente a ica contraditéria da sociedade e como a resultante de proces Memocriticos. Politicamente e pensando em termos da tradieao brasileira ritica de poder governamental — esta subordinada aos interes- ie elites politicas e econdmicas ~, a perspectiva de construgao ppiiblicos de decisio de projetos a longo prazo (perspec- (de futuro) vira retorica. Com uma sociedade civil em certo sen- O fragmentada © desmobilizada, com setores sociais ignorudos, fiormalmente j4 so exclufdas e que pouco participam de pro- coletivos de decisao politica, e sob uma légica eleitoral liberal, fica dificil supor a viabi (0, para atuar no sentido da partici- glo. e da democracia, que sejam estahelecidos processos efetivos }inelustio, de reforgo da sociedade civil, de transparéncia :6es de compartilhamento de poder. ApOs estas reflexOes e comu conclusao prelinninar av siguifi- do de sustentabilidade, podemos assim redefini-ta: “{ é | 0 pro- 0 pelo qual as sociedades administram as condigSes mate Wipe, © que observa € win conjamo de principios meiodlégicns que esto Wpeiados da reaidde socal obeivae que sdoutizads ivemonte cm ca context WW ordo com os intresses dos stores soins que esto 3 fene do proceso. Assim, Horse apoprian de sategorias como coopeagae pacino, consenso, sidered, Ie fee pss de consent era wus egieads de modo prove absolut Tad scab se tomando ums estetgia de despltizagéo da sociclae, pis ease una Isr conrreetsao de quctads pose osmesmosinsrumeniose mel pasa melhor ‘Wis condigtes de vida, quando na verdiae, possuem compreensdes distintas eantagénicas A que vera serprocesos demociticnse piciatves, sereletindo nay distinas expe UMibsls de Agen 21 Local Carloe Frederico B.Loureiro de sua reprodugao, redefinindo os prineipios éticos e sociopoliticos que orientam a distribuigaio de seus recursos: ambientais” (Acselrad ¢ Leroy, 1999, p. 28 ¢ 29). Desse modo, tiramos 0 conceito de sustentabilidade do campo hegeménico discursivo da neutralidade 0 colocamos no campo das lutas sociais, espagos sociais privilegia- dos para a produgao e reprodugao de sentidos. ‘Agora, contextualizemos esta discussio acerca do desenvol- vimento sustentavel em termos de alguns dados disponiveis, Estudo do Ibase (1997) sobre problemas ambientais no Bra- sil demonstrou que em um universo de duzentos € setenta e tres agresses ambieniais visfveis, ou seja, que ganharam espago na im- prensa, no ano 1993, 50% correspondiam ao capital privado; 27% ‘a0 Estado, normalmente movido por interesses de elites econdmi- cas; ¢ 0s 23% restantes ocasionados pela ago de pescadores, caga- dores, garimpeiras, trabalhadores rurais ¢ outros setores da popula: {gio que, em grande medida, geram esse impacto pela propria marginalizagio da qual sio vitimas. Segundo dados publicados no boletim ONU em Foco (set. 1996), a pattir de resultados obtidos pelo PNUMA, apesar da pro} feragdo de organismos de defesa ambiental (trinta mil jdentificados pelo programa) e dos documentos internecionais assinados apés a Rio-92, a qualidade de vida vem piorando. Dentre outras informa- gBes graves: cerca de 20% das especies animals e vegetais stv em proceso de extingdo pela intervengio direta da humanidade; 40% da populago mundial ndo possui égua potivel; a qualidade do ar piorou nas megal6poles; as florestas esto desaparecendo.em ritmo superior a 50% além da velocidade de dez anos aris; ¢ doengas como a tuberculose matam mais na década de noventa do que no doséculo passedo, Outro dado alarmante refere-se ao ritmo de cextingdio de espécies: segundo Wilenius (1998), hicéleulos que indi- cama perda de trinta mil espécies por ano, com danos incalculiveis’ biodiversidade planetiria. Dados todos corroborados ourecentemente agravados, segundo 0 que se pode observar no relatério Estado do Mundo 2000, do Worldwatch Institute (Marzagao, 2000), a2 (0 MOVIMENTO AMBIENTALISTA E 0 PENSAMENTO CRITICO Algo preocupante apontado nos dados disponibilizados pela refere-se ao risco de guerra mundial ocasionada pela escassez (Rainho, 1999). Vintee um paises sofrem de falta de recursos, devendo este ntimero chegar acingiientae cinco nasegunda do sécalo vinte e um; a disponibilidade de dgua foi reduzida has Gltimas cinco décadas; hd registros de setenta eonflitos {0s por controle de recursos hidricos em diversas partes do pla- ‘Ho Brasil 40% de gua é desperdigado e percentual elevado do doméstico no pais nao tem qualquer tipo de tratamento, Este € um quadro que assusta e aflige, mesmo quando com- shidemos de modo dialético a realidade e negamos o entendi: Jinear da realidade, pois evidencia uma dindmica contempo- gy destrutiva e beligerante, de elevado risco para a sociedade, Enquanto metodologia de implementagao de projetos susten- ‘no Brasil, 0 Ministério do Meio Ambiente - MMA — publi- documento com as cem experiéncias bem-sucedidas no pafs 1997), em que sdo observadas a ampla participagao e apar dos setores da sociedade, alcangando, sem divida alguna, ntes resultados pontuais em éreascomo: agiio social (dezesseis); pempresarial (sete); Agenda local (onze); Siguas (sete), ar (ois) inicagbes/redes (cinco); educagio ambiental (nove); enet 0); fauna (quatro); florestas'unidades de conservagao (doze), {novey; poltticas publicas (Uez); © satide (quatro), Contudo, sem nenhum demérito dos trabalhos desenvolvidos buscar analisar os critérios utilizados para considerar deter- ‘experincias bem-sucedidas em detrimento de outras, sem- ficam indagagdes: até que ponto essas experiéncias sero capa de se reproduzirem em larga escala? Até que ponto o mundo do ipltal vai colaborar? Até que ponto essas agBes politicas serio ‘uupizes de provocar rupturas no padro econdmico-estrutural? E ‘Anda, até que ponto isto é significativo em um panorama politico governamental que desvaloriza agdes interministeriais com a pre~ fenga do MMA e que corta as verbas de investimento na drea estri- jumente ambiental? O fato é que estas experiéncias se caracterizam a3 Carlos Frederico B.Loureiro pela excepcionalidadc e pela impossibilidade de se constituirem em Politicas piblicas e programas governamentais que lancem asocie- dade no caminho de padrées sustentiveis, Concluindo, 0 conceito de sustentabilidade oficial e hhegemonico, em uma perspectiva critica, ¢ ideolégico e estimulador da subordinagio dos sujeitos sociais a logicacconémica c competi- tiva, sob o discurso do consenso eda: cooperacao. A sustentabilidade ambientalista eritica pressupde o inverso: que a cidadania seja a base do desenvolvimento, que 0 econdmico se subordine aos sujei- is distintos, em estratégias lovalizadas inseridas em um sen- tido de globalizagio que concretize a interdependéncia sem depen- déncia e submissio, TEORIA SOCIAL CRITICA EA QUESTAO AMBIENTAL “A humanidade socializada, em alianga com uma natureza P mediatizada, transforma o mundo em lar.” Emst Bloch fundando e retomando uma discussie iniciada em outra iho!” discorreremos sobre a tradigdo teérico-eritica em seu Dimals lato, onde se incluem marxistas ortodoxos, heterodo- oMmarxistas, frankfurtianos, dentre outros. Com isso, estamos lente fazendo uma opeao eclética, porém, coerente e e paira repensar a relacio sociedade-natureza a partir do Uialético ¢ hist6rico. Em nosso entendimento, este método uma indiscutfvel contribuigao a0 debate ecol6gico, pelo sen- le unidade dialética sociedade natureza, de entendimento do W0 COMO natureza sem suprimir suas especificidades, ¢ por itir uma reflexdo contextualizada e consistente do discursoe ict ambientalista. Desse modo, nos inspiramos em conceitos ids nesta complexa c ampla tradigdo teérica, que iluminam a flo acerca da relagio Teoria Social e Questiio Ambiental, sem jpredcupacio direta em demonstrar os pontos discordantes exis- les enire as indmeras linhas de pensamento que ai se inscrevem. Para ilustrar este aspecto da diversidade de entendimentos no Mletior da tradigzo critica, verificamos diferentes formas de se en- HT Awpesiosinichis acerca da tridigao tesrico-rica foram comentados em Lauri, pe Layrargves (000).

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