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Formado em História pela Universidade Veiga de Almeida.
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1. INTRODUÇÃO
2
FOUCAULT, M. 2007. (p.7-8)
3
GINZBURG, C. 1998 (p. 3)
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“Microhistória”. Assim temos Burke por um lado tentando incluir Foucault entre
os que produziram uma “História Cultural”, por outro há Ginzburg que não
reconhece a produção foucaultiana como uma ”Microhistória”, e, ainda temos
outros com François Dossê4 que o classifica como um “Estruturalista”.
Caberia perguntar em que tipo de história poderíamos classificar a obra
de Foucault? Se é que seja possível estabelecer critérios claros sobre os
modelos de escrita da História. Todo projeto de análise crítica e histórica em
Foucault, segundo CHARTIER (2002, p.125), está baseado na “recusa
explicita” dos conceitos classicamente manipulados pela “História Tradicional
das Idéias”. Foucault defende a idéia de uma “História Efetiva”, esta deveria se
encarregar de “fazer ressurgir o acontecimento no que ele pode ter de agudo e
único”. 5
Para CHARTIER (2002, p.126), há um preço a pagar ao historiador que
busca “contornar” a história tradicional, já que a “abundância dos fatos, a
multiplicidade das intenções, o emaranhado das ações, não podem, pois, ser
referidos a um sistema de determinação capaz de fornecer uma interpretação
racional, isto é, enunciar sua significação e causa”. O preço neste caso, seria o
“abandono de qualquer pretensão ao universal”. Foucault propõe ser
necessário reconhecer os “acontecimentos da História, seus abalos, suas
surpresas, as vacilantes vitórias, as derrotas mal digeridas”.6
Esta “História Efetiva” se distingue daquela dos historiadores pelo fato
dela não se apoiar em nenhuma constância; “nada no homem”. Nem mesmo o
corpo é bastante fixo, o corpo é destroçado por ritmos de trabalho, repouso e
festa. É intoxicado por venenos, alimentos, hábitos e leis morais. Compreender
o sentido histórico em que vivemos como “sem referências” ou “coordenadas
seguras”, faz para Foucault o trabalho fundamental do historiador.
A “História Efetiva” lança seus olhares ao que está próximo ao corpo, ela
não “teme olhar embaixo”. A “História Efetiva” deve ser a “ciência dos
remédios”, isto é, ela não deve ser “serva da filosofia e narrar o nascimento da
verdade”, ela deve ao contrário fazer “conhecer o diferencial das energias e
desfalecimentos das alturas e desmoronamentos, dos venenos e dos
4
DOSSE, F. História do Estruturalismo. O Campo do Signo. Vol. I, SP: Edusc. 2004.
5
FOUCAULT, M. 1984. (p.19)
6
Ibid. (p.19)
4
2. A HISTÓRIA ARQUEOLÓGICA
que JAPIASSU faz a história arqueológica é que esta não consegue escapar a
episteme da representação, desta forma toda sua abordagem visa propor ao
leitor uma representação do saber.10
HABERMAS (2006, p.347), por sua vez descreve o método
arqueológico como uma “atitude que dirige o olhar sobre os fundamentos de
sentidos encobertos, sobre infra-estruturas, difíceis de por descobertas e que
ficam no interior dos discursos.” Como conseqüência a História congela-se sob
o “olhar estóico dos arqueólogos”, em um iceberg revestido das formas
cristalinas próprias das formas discursivas arbitrárias.11
A história arqueológica tem como primeiro objetivo nos diz DELEUZE
(2006, p.61), “descobrir uma verdadeira forma de expressão que não possa ser
confundida com nenhuma das unidades lingüísticas, sejam quais forem;
significante, palavra, frase, proposição, ato de linguagem”. Foucault inova na
concepção de uma expressão bem original: “o enunciado”. Os enunciados não
são palavras, frases, ou proposições, mas uma “operação diagonal”, uma
“função que cruza” diversas unidades significantes, rachando abrindo as
palavras, as frases e as proposições para extrair destas o “enunciado”. 12
Na História da Loucura, primeira obra arqueológica de Foucault, o foco
estava em analisar o discurso “filantropo”, que livrava os loucos de suas
correntes, sem esconder o outro acorrentamento mais eficaz. Os enunciados
do século XVIII inscrevem a loucura como grau extremo da “desrazão”, o asilo
ou o internamento insere-a num conjunto que unem loucos a vagabundos,
pobres, ociosos e toda espécie de depravados.13
Vemos um afastamento na História da Loucura da história das ciências,
já que Foucault não está preocupado em analisar o nascimento da psiquiatria.
Foge também a história das idéias, visto que não está investigando o discurso
do louco ou do médico, sua principal tese na obra é estabelecer as condições
históricas que possibilitaram os discursos e as práticas sobre a loucura como
doença mental. Roberto Machado, a partir de uma revisão desta obra, conclui
que Foucault não produz uma história da psiquiatria, ainda que a intervenção
médica em relação ao louco possa ser datada historicamente. Ao contrário
10
JAPIASSU, H. (p.128)
11
HABERMAS. (p. 355)
12
DELEUZE, G. (p. 61)
13
MACHADO, R. 2006 (p.58)
6
3. A HISTÓRIA GENEALÓGICA
18
FOUCAULT, M. 1984. (p.15)
19
Ibid. (p.7)
20
Ibid. (p.8)
21
Ibid. (p.172)
8
25
Ibid. (p.73)
26
DIEHL, A. A... (p.280)
10
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
27
Ibid. (p.281)
28
RAGO, M. (p. 80)
11
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todo saber que não se encontrava na “ordem do discurso.” Ele concluíra que
as condições econômicas e políticas de existência não são um “véu ou um
obstáculo para o sujeito do conhecimento”, mas aquilo através do que se
formam os sujeitos e, por conseguinte, as relações de verdade.30
Gostaríamos aqui dedicar (embora apenas parcialmente), certa atenção
a crítica feita a Foucault e aos que com ele seguiram a crítica ao sujeito
moderno (Derrida, De Certeau, Chartier). Perguntas do tipo: Até que ponto as
tentativas de desconstruir uma História científica, explicativa e que constitua
totalidades sociais como objeto tiveram êxito? Na opinião de CARDOSO
(1999), tiveram muito êxito. Isto:
“por conseqüência da derrota dos movimentos e dos
regimes que falavam em nome do marxismo, em nosso século,
a mais mobilizadoradas tentativas racionais de dar conta do
social com um todo e de sua possível (e desejável)
transformação.” (p.5)
5. BIBLIOGRAFIA
BURKE, Peter. O que é história cultural? RJ: Jorge Zahar editor. 2005.
CHARTIER, Roger. A Beira da Falésia, RS: UFRGS. 2002.
34
CHARTIER, R. 2002. (p. 150)
35
FOUCAULT, M. 2007. (p. 236)
36
FOUCAULT, M. 2007. (p. 235)
13
www.unicamp.br/~aulas/numero3.htm
CANDIOTTO, C. Foucault e a crítica do sujeito e da história. Revista Aulas,
Dossiê Foucault, N.3 – dezembro/2006 a março/2007. Org. Margareth Rago e
Adilton Martins.