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Mário Quintana
Preparativos de Viagem
Introdução: Em 1919, foi colaborador na revista Hyloea, dos
alunos do colégio.
Mário Quintana é um importante poeta no cenário Em 1926 ganhou prêmio em concurso de contos do
cultural brasileiro. Soube capturar como ninguém a Jornal Diário de Notícias. No mesmo ano,
poesia do cotidiano e pô-la no papel. trabalhou na Livraria do Globo.
Seus poemas nos surpreendem e enternecem! Entre 1929 e 1932, foi redator do jornal O Estado
Organizei esse e-book que enviarei à meus amigos do Rio Grande. Na época, publicou poemas na
com as minhas poesias preferidas de Quintana Revista do Globo e no jornal Correio do Povo.
como forma de homenageá-lo! Nos anos seguintes, trabalhou como tradutor (de
Poeta! Deves estar no céu escrevendo poesias para 1936 a 55, traduziu para a Editora Globo ninguém
Deus e teus sapatos (na forma de tuas poesias) sabe quantos títulos.) e colaborador em periódicos.
seguem andando entre nós. Seu primeiro livro de poesia, A Rua dos
Lenise Marques – fevereiro de 2.007. Cataventos, foi publicado em 1940. Seguiram-se
Agradeço à preciosa assessoria do amigo Pierino Canções (1946), Sapato Florido (1948), O
Bonifazio sem a qual este e-book não estaria Batalhão das Letras (1948).
completo. Em 1966 recebeu o Prêmio Fernando Chinaglia de
Para perfeita visualização do e-book ajuste o zoom melhor livro do ano por Antologia Poética.
do Word para 75%. Destacam-se em sua obra poética os livros Pé de
Pilão (1975), Apontamentos de História
Breve Biografia: Sobrenatural (1976), Quintanares (1976), Baú de
Espantos (1986), Preparativos de Viagem (1987),
Mario Quintana (Alegrete RS, 1906 - Porto Alegre Velório sem Defunto (1990).
RS, 1994) estudou em colégio militar, em Porto Em 1981, recebeu o Prêmio Machado de Assis e,
Alegre, de 1919 a 1924. em 1981, o Prêmio Jabuti de Personalidade
Literária do Ano.
Pertencente à segunda geração do Modernismo,
Mário Quintana incorporou em sua poesia o bom-
Canção da Primavera
humor, o coloquialismo e a brevidade
(Para Érico Veríssimo)
característicos das vanguardas modernas.
De sua vida particular sabe-se pouco, foi sempre
Primavera cruza o rio
um solitário por opção e morou a maior parte de
Cruza o sonho que tu sonhas.
sua vida em pensões e hotéis. Morou durante
Na cidade adormecida
muitos anos no Hotel Magestic em Porto Alegre
Primavera vem chegando.
que foi transformado na Casa de Cultura Mário
Quintana. Para alegria do poeta, a Casa de Cultura
Cata-vento enlouqueceu,
foi inaugurada com Mário ainda vivo e presente na
Ficou girando, girando.
cerimônia de inauguração.
Em torno do cata-vento
Faleceu, em Porto Alegre, no dia 5 de maio de
Dancemos todos em bando.
1994, próximo aos seus 88 anos.
Dancemos todos, dancemos,
Amadas, Mortos, Amigos,
Dancemos todos até
Não mais saber-se o motivo...
Mário Quintana
Canções
Viver tão só de momentos
O POEMA Como estas nuvens do céu...
Mario Quintana
Canções
CANÇÃO DO DIA DE SEMPRE
(Para Norah Lawson)
Vago, solúvel no ar, fico sonhando... Só os meus passos...Mas tão leves são
E me transmuto... iriso-me... estremeço... Que até parecem, pela madrugada,
Nos leves dedos que me vão pintando! Os da minha futura assombração...
Quando meus olhos de manhã se abriram, O dia abriu seu pára-sol bordado
Fecharam-se de novo, deslumbrados: De nuvens e de verde ramaria.
Uns peixes, em reflexos doirados, E estava até um fumo, que subia,
Voavam na luz: dentro da luz sumiram-se... Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado.
Quase que eu saio voando céu em fora! Pus meus sapatos na janela alta,
Evitemos, Senhor, esse prodígio... Sobre o rebordo... Céu é que lhes falta
As famílias, que haviam de dizer? Pra suportarem a existência rude!
O grilo
com as suas frágeis britadeiras de vidro
perfura
Pois que tem que a gente inclua Se cada um de vós, ó vós outros da televisão
No mesmo alastrante amor - vós que viajais inertes
Pessoa, animal ou cousa como defuntos num caixão-
Ou seja lá o que for, se cada um de vós abrisse um livro de poemas...
Só porque os banha o esplendor faria uma verdadeira viagem...
daquela a quem se ama tanto? Num livro de poemas se descobre de tudo, de tudo
E sendo dessa maneira, mesmo!
Não me culpeis, por favor, - Inclusive o amor e outras novidades.
Da chama que ardente abrasa
O nome de vossa rua, Mário Quintana
Vossa gente e vossa casa Baú de Espantos
Mario Quintana
Esconderijos do Tempo
(Como a vida é bela! como a vida é louca!)
Mario Quintana
A CANÇÃO DA VIDA Esconderijos do Tempo
A vida é louca
a vida é uma sarabanda POEMINHA SENTIMENTAL
é um corrupio...
A vida múltipla dá-se as mãos como um bando O meu amor, o meu amor, Maria
de raparigas em flor É como um fio telegráfico da estrada
e está cantando Aonde vêm pousar as andorinhas...
em torno a ti: De vez em quando chega uma
Como eu sou bela E canta
amor! (Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Entra em mim, como em uma tela Canta e vai-se embora
de Renoir Outra, nem isso,
enquanto é primavera, Mal chega, vai-se embora.
enquanto o mundo A última que passou
não poluir Limitou-se a fazer cocô
o azul do ar! No meu pobre fio de vida!
Não vás ficar No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
não vás ficar As andorinhas é que mudam.
aí...
como um salso chorando Mário Quintana
na beira do rio... Preparativos de Viagem
AS ESTRELAS
Mário Quintana
A Cor do Invisível
CARTA
Mário Quintana
Esconderijos do Tempo
Sonoro. Lento. Eu sonho
DE GRAMÁTICA E DE LINGUAGEM Com uma linguagem composta unicamente de
adjetivos
E havia uma gramática que dizia assim: Como decerto é a linguagem das plantas e dos
“Substantivo (concreto) é tudo quanto indica animais.
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá,caneta”. Ainda mais:
Eu gosto é das cousas. As cousas, sim!... Eu sonho com um poema
As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Cujas palavras sumarentas escorram
Multiplicam-se em excesso. Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem Um poema que te mate de amor
com ninguém. Antes mesmo que tu lhe saibas o misterioso
Uma pedra. Um armário. Um ovo. (Ovo, nem sentido:
sempre, Basta provares o seu gosto...
Ovo pode estar choco: é inquietante...)
As cousas vivem metidas com as suas cousas. Mário Quintana
E não exigem nada. Apontamentos de História Sobrenatural
Apenas que não as tirem do lugar onde estão.
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa
porta.
Para quê? não importa: João vem!
E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão,
Amigo ou adverso... João só será definitivo
Quando esticar a canela. Morre, João...
Mas o bom, mesmo, são os adjetivos,
Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso.
ESPERANÇA
Mário Quintana
Apontamentos de História Sobrenatural
POEMINHO DO CONTRA
Mário Quintana
Sapato Florido
(Só os cavalos conservam a natural nobreza).
CONFESSIONAL
Mário Quintana
Eu fui um menino por trás de uma vidraça — um A vaca e o hipogrifo
menino de aquário.
Via o mundo passar como numa tela
cinematográfica, mas que repetia sempre as
mesmas cenas, as mesmas personagens. Tudo tão
chato que o desenrolar da rua acabava me
parecendo apenas em preto e branco, como nos
filmes daquele tempo.
O colorido todo se refugiava, então, nas ilustrações
dos meus livros de histórias, com seus reis
hieráticos e belos como os das cartas de jogar.
E suas filhas nas torres altas — inacessíveis
princesas.
Com seus cavalos — uns verdadeiros príncipes na
elegância e na riqueza dos jaezes.
Seus bravos pagens (eu queria ser um deles...)
Porém, sobrevivi...
E aqui, do lado de fora, neste mundo em que vivo,
como tudo é diferente! Tudo, ó menino do aquário,
é muito diferente do teu sonho...